Visita de Obama a África: Porquê agora?
Por Solomon Appiah
12 de junho de 2013 – De acordo com a Casa Branca, o Presidente dos Estados Unidos da
América e respetiva mulher marcaram uma viagem de uma semana a África, mais especificamente ao
Senegal, África do Sul e Tanzânia, de 26 de junho a 3 de julho. Esta será a viagem individual mais
longa da presidência de Obama, de acordo com o Caucus, o blogue de Política do New York Times. A
pergunta é a seguinte: por que vai Obama visitar África e porquê agora? Antes desta viagem a África,
Obama reuniu-se com Xi Jinping, Presidente da China, nos dias 7 e 8 de junho numa cimeira no sul da
Califórnia. Ao que parece, o USA Today acertou quando afirmou antecipadamente que “O Presidente
Obama está a planear importantes iniciativas diplomáticas com a China e África...”.
Os assuntos internacionais têm sempre a ver com interesses estratégicos. Por que motivo Obama se
reuniu com Xi Jinping? Entre outros motivos, pode ter algo a ver com a crescente importância
económica da China no planeta, para além do facto de a China deter a maior percentagem da dívida
americana. E quanto a África? Qual é o interesse estratégico dos EUA em África? Esta é a pergunta
que vale ouro. Se os líderes africanos soubessem a resposta a esta pergunta, começariam a pensar
de forma diferente, a liderar com responsabilidade e a tirar proveito das mudanças que estão a ter
lugar em todo o mundo para benefício dos seus povos. África tem a oportunidade, se conseguir gerir
bem os interesses concorrentes da sua política económica, de retirar milhões de pessoas da pobreza,
proporcionando-lhes em simultâneo melhores níveis de vida.
O que tem África de tão especial?
Oficialmente, o comunicado de imprensa da Casa Branca declara que a viagem “irá reforçar a
importância que os Estados Unidos atribuem aos seus profundos e crescentes laços com os países da
África Subsariana…”.
Para descodificar esta declaração, há que recuar até às afirmações proferidas há algum tempo pelo
Secretário de Estado John Kerry, quando o público ainda não tinha conhecimento desta viagem.
Estas declarações foram captadas num vídeo da C-SPAN e no Politico. Eis as declarações de John
Kerry no que se refere à viagem de Obama a África:
“Temos de estar profundamente envolvidos em África e é isso que tencionamos fazer. E o presidente
irá fazer uma viagem até lá. Temos muito que fazer”, respondeu John Kerry às perguntas da
deputada Karen Bass (representante democrata da Califórnia). Conforme prosseguiu John Kerry,
“seis dos 10 ou 12 países de crescimento mais rápido do mundo encontram-se em África”,
acrescentando: “Todos estamos preocupados com o nosso futuro económico. A China está a investir
mais em África do que nós e isto não tem de ser um jogo de vencedores e vencidos. Temos de
reconhecer onde podem estar os nossos futuros interesses económicos e capacidades”.
O Presidente dos EUA vai visitar África porque os EUA consideram o continente importante para o
seu futuro económico. A viagem do Presidente Obama prende-se com a salvaguarda do futuro
económico da América, bem como dos seus interesses económicos, tendo em mente onde poderão
residir as suas futuras capacidades. É isto que diz o comunicado de imprensa, vagamente formulado
como tendo a intenção de “discutir as nossas parcerias estratégicas em questões bilaterais e
globais…” ao mesmo tempo que “…alarga e aprofunda a cooperação entre os Estados Unidos e os
povos da África Subsariana”. África é a nova fronteira económica e os EUA não querem ficar de fora
enquanto a China capitaliza sobre as suas parcerias africanas.
John Kerry aludiu ao facto de que algumas das economias de crescimento mais rápido se encontram
na África Subsariana. Esta informação está correta, de acordo com o Africa’s Pulse, Volume 7, do
Banco Mundial, publicado em abril de 2013, e também com o seu antecessor do ano precedente. As
economias da África Subsariana mantiveram uma sólida e regular expansão ao longo de uma década
até ao momento em que deflagrou a recessão global. O relatório Perspetivas Económicas Mundiais
de abril de 2013 do Fundo Monetário Internacional (p. 67) previa tendências de crescimento
semelhantes às do Banco Mundial para a África Subsariana. A Figura 2 do Africa’s Pulse do Banco
Mundial constitui um gráfico brilhante que ilustra a forma como sete países da África Subsariana
ultrapassaram a China no ano passado e dez superaram a Índia. Este é um momento histórico e
África poderá perdê-lo se não estiver desperta e concentrada no que está a acontecer na mesa das
nações. África necessita desesperadamente de tirar partido dos seus pontos fortes e explorar as
oportunidades agora disponíveis de forma a poder gerar melhores dividendos do Desenvolvimento
Humano para a sua população, que se prevê duplicar em apenas 37 anos, de acordo com a Divisão de
Estatística das Nações Unidas. Deixaremos os motivos na base deste fenomenal crescimento para
discutir mais tarde, mas analisemos as principais fontes de crescimento.
Qual é a fonte deste crescimento?
Para entender corretamente este aspeto, há que consultar o fantástico Relatório do Progresso em
África lançado pelo Africa Progress Panel, presidido por Kofi Annan, à margem do Fórum Económico
Mundial sobre África na Cidade do Cabo. Como explica o relatório, “De acordo com uma estimativa,
as indústrias extrativas representaram cerca de um terço do crescimento do PIB da região ao longo
da última década, ou seja, mais do que os transportes, as telecomunicações e a produção em
conjunto”. Esclarece ainda que os 20 países que o FMI identificou no seu relatório Perspetivas
Económicas Regionais para a África Subsariana de abril de 2012 como intensivos em recursos na
África Subsariana representam cerca de 56% da população da região e a surpreendente proporção de
aproximadamente 80% do seu PIB. O aspeto positivo é que o fenómeno do crescimento não se limita
aos países intensivos em recursos. Este crescimento estende-se a grande parte da África Subsariana,
de acordo com a Figura 2.15 do relatório Perspetivas Económicas Mundiais de abril de 2013 do FMI.
Naturalmente que a China é uma grande responsável pelo crescimento da atividade económica nesta
região. Por isso, faz todo o sentido que a presidência dos EUA dedique a sua viagem individual mais
longa deste verão à política em África.
Uma oportunidade fantástica para África: Perspicácia precisa-se
Já é tempo de África se aperceber das mudanças que estão a ter lugar no planeta e das
oportunidades únicas que representam para África. Os líderes africanos, a sociedade civil e o grande
número de jovens que constituem a maioria da população da África Subsariana devem “aperceber-se
do que está em jogo” e “abrir os olhos”, utilizando uma expressão coloquial da Nigéria. Poderá ser
possível alcançar um futuro melhor no espaço de menos de uma geração se os líderes da África
Subsariana continuarem a melhorar a capacidade do Estado, a promover a boa governação,
transparência, responsabilização e políticas públicas de longo prazo destinadas a fomentar a
industrialização, a reduzir a pobreza, a criar empregos, a eliminar o analfabetismo, etc. Todos estes
fatores e muitos outros são esclarecidos no Relatório do Progresso em África de 2013, que defende a
equidade nas indústrias extrativas. Resumindo e concluindo, se a riqueza gerada com base numa
expansão sólida não for equitativamente redistribuída para benefício de todos, o desenvolvimento
permanecerá, na melhor das hipóteses, uma mera miragem, o que seria uma enorme vergonha pela
qual as gerações futuras responsabilizariam a atual. Não deixe de refletir sobre as palavras do
Secretário de Estado dos EUA: “Temos de reconhecer onde podem estar os nossos futuros interesses
económicos e capacidades”. O que interessa reter é que tudo se resume a interesses. Tal como os
EUA ponderam os seus interesses, o que é perfeitamente legítimo, também os líderes africanos
devem ponderar os interesses dos seus povos e negociar numa base de igualdade.
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Presidido por Kofi Annan, ex-Secretário-Geral das Nações Unidas, o Africa Progress Panel (o
Painel) inclui individualidades eminentes dos setores privado e público que promovem a
defesa de questões globais importantes para África e para o mundo.
Para mais informações, contactar
Edward Harris - [email protected]
(telemóvel) +41 79 87 38 322 e (trabalho) +41 22 919 7536
www.africaprogresspanel.org e www.facebook.com/africaprogresspanel
@africaprogress e #APR2013
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