1928 Discurso proferido por Adolpho Lutz em Natal Adolpho Lutz SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros BENCHIMOL, JL., and SÁ, MR., eds. and orgs. Adolpho Lutz: Viagens por terra de bichos e homens = Travels through Lands of Creatures and Men [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2007. 776p. Adolpho Lutz Obra Completa, v.3, book 3. ISBN 978-85-7541-122-3. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. voltar ao sumário VIAGENS POR TERRAS DE BICHOS E HOMENS 773 Discurso proferido por Adolpho Lutz em Natal Excelentíssimos senhores presidente do estado e prefeito do Rio Grande do Norte, caros colegas e amigos Tenho a maior satisfação em encontrar aqui reunidos os representantes do governo e da classe médica e oferecer os meus cordiais agradecimentos pelo convite que fizeste a um colega, pouco conhecido aos presentes, por morar em terra que até há pouco se julgava muito distante. É verdade que não é a primeira vez que piso esta terra hospitaleira porque já estive aqui, há uns doze anos, quando, com o Dr. Oswino Penna, pesquisava no norte do Brasil as infecções pelo Schistosomum mansoni e os hospedadores intermediários desse parasito. Mas naquela ocasião, encontrando pouco material para estudos, demorei-me pouco tempo, visitando principalmente a lagoa de Extremoz e Ceará-Mirim, e constatando a relativa raridade da infecção. A nossa condução era um troly da estrada de ferro varejado ou remado por trabalhadores da linha. Não me lembro de ter visto aqui um automóvel, mas fiz a minha primeira viagem maior neste veículo de Garanhuns para o salto de Paulo Afonso. Nossa viagem para cá foi muito demorada porque viajamos no menor e pior vapor da companhia Lloyd Brasileiro, único capaz de entrar na barra do Rio São Francisco para subir a Penedo. Com as demoras nos portos, levamos nove dias até Recife, de onde, depois de alguns dias, continuamos a viagem pela estrada de ferro. Para a volta não levamos tanto tempo, mas assim mesmo a viagem deve ter durado uma semana. De volta agora, não só notei o grande desenvolvimento geral e relativo à locomoção terrestre, mas tive também ensejo de apreciar o importante papel que Natal deve ocupar na navegação aérea, intracontinental e transcontinental, encontrando ainda aqui os aviadores italianos com o seu avião que venceu a distância de Roma ao Brasil sem parar, e em pouco mais de dois dias! A amabilidade de vosso digno presidente até me facilitou repetir a viagem aérea do Rio de Janeiro para cá que ele pouco antes tinha inaugurado. Sempre era um dos meus mais ardentes desejos de não morrer antes de ter completado uma viagem aérea maior, e não podia deixar de aceitar o amável convite de fazer uma visita a Natal nestas condições, [uma vez] que, devido a trabalhos urgentes, não podia ter feito em viagem mais demorada. As impressões desta viagem eram das mais gratas, faltando completamente o elemento emocionante que se costuma ligar a uma viagem aérea.1 Antes parecia uma lição de geografia em sessão prolongada de cinema. 1 Na outra versão: “faltando completamente a sensação de pouca segurança que [se] costuma ligar a uma viagem aérea”. [N.E.] voltar ao sumário 774 ADOLPHO LUTZ — OBRA COMPLETA z Vol. 3 — Livro 3 Posso dizer que durante toda a viagem não me afastei das janelas por encontrar sempre novos pontos de interesse. Antes de aterrissar, tivemos ainda uma vista panorâmica excelente que nos permitiu apreciar a extensão desta capital. Chegado aqui, encontramos uma recepção amabilíssima e fomos instalados com o maior conforto. Cheguei aqui preparado para colher material para estudos de patologia e zoologia desta zona. Embora afastado da clínica por quase vinte anos, desde que me mudei para o Rio de Janeiro, a fim de trabalhar no Instituto Oswaldo Cruz, continuo acompanhando os grandes problemas da patogenia indígena. Contudo, encontrei na capital as condições sanitárias tão boas que até agora me limitei a assuntos de zoologia, colecionando material precioso para esclarecer algumas questões ainda em estudo, e que estão em relação aos meus estudos anteriores sobre os esquistossomos e outros trematódeos. Espero visitar mais tarde algumas das regiões do interior, sendo, todavia, meu tempo disponível bastante limitado. Caros colegas, estou com a melhor vontade de colaborar em qualquer assunto de patologia e higiene regional, e desejo que a minha visita contribua a estreitar as relações de amizade entre a classe médica do norte e da capital, e falo aqui não somente individualmente, mas também como representante do Instituto Oswaldo Cruz. lL