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PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL COM VISÃO
PSICOPEDAGOGICA ATENUA O DITO:
“FRACASSO ESCOLAR”
Por: Rita de Cássia Sanches Rangel
Orientador: Professor Cereja
Rio de janeiro
2006
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PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL COM VISÃO
PSICOPEDAGOGICA ATENUA O DITO:
“FRACASSO ESCOLAR”
Apresentação da monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para
à conclusão do Curso de Pós Graduação
”Lato-Sensu” especialização em Psicopedagogia.
Rio de janeiro
2006
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AGRADECIMENTOS
Aos meus mestres e colegas que me concederam
trocas inesquecíveis de diferentes aprendizados,
mudando o meu foco de agir e pensar em
educação, tendo em vista, o olhar psicopedagógico.
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DEDICATÓRIA
Primeiramente à Deus, por me permitir estar viva,
minha mãe que auxiliou-me nos custeios, meus
filhos como incentivo, motivação e perseverança
na busca do conhecimento e ao meu amigo e
companheiro pela paciência e compreensão....!
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EPÍGRAFE
“ ....Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe
tudo. Todos nós sabemos alguma coisa.
Todos nós ignoramos alguma coisa. Por
isso aprendemos sempre ...”
(Paulo Freire)
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RESUMO
A presente monografia tem como objetivo trazer uma reflexão sobre a
importância do Educador conhecer e ter um olhar psicopedagógico em sua
atuação profissional.
Percebe-se que existe uma impotência por falta de conhecimentos e
habilidades ao lidar
com as dificuldades de aprendizagem, diante de alguns
casos que seriam facilmente entendido e resolvido, se o profissional de educação
soubesse lidar com a criação de vínculos, afetividade e intervenções
psicopedagógicas possibilitando entender melhor o processo da aprendizagem e
praticar ações eficazes para acabar com o dito “fracasso escolar”.
A relação dos professores com os saberes que ensinam é a principal
atividade docente que fundamenta a configuração da identidade profissional e
que não tem sido valorizada de forma necessária e eficaz. É necessário buscar
resolver as grandes questões educacionais começando pela própria formação do
educador, que não tem merecido a atenção e nem investimentos necessários
voltados para as áreas
de pesquisas,
que contemple uma
formação de
qualidade e que vise solucionar as questões relacionadas à aprendizagem, aos
aspectos culturais, sociais e políticos envolvidos e especificidade de cada
profissional na construção do seu saber.
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Cabe a cada setor que compõe a estrutura organizacional da
Educação romper com as velhas posturas e estruturas como alternativa futura em
conceber posições que os levem a um aprendizado de forma consciente e
decisiva no resgate do profissional de educação e de seus educandos, buscando
construir de forma solidária, um saber independente, consciente e autônomo.
O reconhecimento e inserção da formação psicopedagógica é uma
proposta ousada e polêmica, mas promissora para o avanço na compreensão dos
processos educativos, possibilitando o rompimento de barreiras e limites postos
por paradigmas transpostos do campo científico.
Que a Psicopedagogia faça parte do currículo do professor, como prérequesito,
em
psicopedagógico,
sua
o
formação,
professor
ou
re-qualificação,
atuará
com
mais
pois
com
habilidade,
este
olhar
capacidade,
flexibilidade e principalmente, com recursos necessários nas intervenções
psicopedagógicas no trato, com a aprendizagem e no crescimento de sua
atuação.
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SUMÁRIO
Introdução
09
Capítulo I
13
O Papel da Psicopedagogia na Instituição Educacional.
Capítulo II
20
Os obstáculos encontrados para melhorar o ensino brasileiro.
Capítulo III
31
Gestão de aprendizagem numa visão psicopedagógica.
Capítulo IV
38
Professor com visão psicopedagógica será sempre sujeito em situação de
aprendizagem.
Conclusão
45
Referências Bibliográficas
50
Índice
51
Anexos
52
Folha de Avaliação
54
9
INTRODUÇÃO
Professor, figura imponente, amado, odiado, mas com toda certeza,
inesquecível! Quem não teve em sua vida um(a) professor(a) que deixasse a sua
marca para sempre? “ Ao mestre com carinho......”! Uma professora Maluquinha”!
Com o passar dos anos, as telas desbotaram, as luzes apagaram-se e este “ser”
esquecido
e
desvalorizado
pela
massificação
sócio-político-cultural,
tem
reproduzido esta conjuntura, sem muitas oportunidades, de alterar o rumo de sua
história e de seu papel, enquanto, agente modificador.
Tem legislação que garanta a este profissional o direito de qualificarse e re-qualificar-se, mas ainda está longe de vermos na prática este processo
acontecer, de forma sistematizada e que contemple a necessidade do nosso
professor.
As relações dos professores com os saberes epistemológicos
constituem a principal
base da atividade docente, para a configuração da
identidade profissional e que não tem sido valorizada de forma necessária e
eficaz buscando resolver as grandes questões educacionais, começando pela
própria formação do educador
que não
tem merecido a atenção
e nem
investimentos adequados voltados para as áreas de pesquisas, que contemple
uma formação de qualidade, que vise solucionar as questões relacionadas à
aprendizagem, aos aspectos culturais, sociais e políticos envolvidos e
a
especificidade de cada profissional, na construção do seu saber.
Os nossos educadores ficam cada vez mais distanciados das
transformações
ocorridas
em
nossa
sociedade,
sendo
impedidos
de
movimentarem-se em buscas de soluções, que atenda de forma plena o novo
perfil de nosso alunado e também de seu próprio perfil.
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Faltam-lhes conhecimentos mais atualizados e contextualizados. É
notório o caos pelo qual, passa a educação de massa, quando se trata de
oferecer um ensino de qualidade, com teor de igualdade e que recupere
socialmente, todos aqueles que foram a sua procura, para tentar resgatar através
do processo educativo a inserção social.
Compreende ser necessário ter coragem para re-significar os
caminhos da Educação Contemporânea e procurar traçar os principais dilemas,
desafios e tensões presentes na formação do profissional de educação, a falta de
profissionais, as condições precárias e sucateadas das unidades escolares, e a
demanda por vagas, que extrapolou os limites de atendimentos. A partir, desta
discussão sobre os processos de autorias de pensamentos e ações com
alternativas, a tal questão, reforça a necessidade de pesquisas e práxis
permanentes, no agir e pensar cotidiano, com objetivos de colaborar para que
novas e significativas aprendências e ensinagens, que surgem no cenário da
formação do professor. A possibilidade de inserir uma visão psicopedagógica, em
sua formação ou qualificação objetivará em novos rumos para o regaste da
clientela e do profissional de educação, que não tem nenhum subsídio e auxílio
para resolverem questões essenciais e complementares que lhes oportunize uma
aprendizagem qualitativa e de prosseguimento.
A Educação, principalmente a dita ”popular” encontra-se deteriorizada
pela massificação e manipulação do poder sócio-político-cultural, que vem
comprometendo ao longo de nossa história a qualidade de nosso profissional, do
nosso ensino e a estrutura relacional de trocas de saberes.
Em busca de outros valores podemos ver que o Campo da
psicopedagogia humaniza as relações, possibilitando um encontro prazeroso
entre o desejo de aprender e o ato de ensinar.
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Essa abordagem é importante porque, muitos de nós, professores,
encontramos nesse ofício de ensinar, uma forma de auto-realização, sentido para
própria existência, uma re-significação de nossa condição social e principalmente
vivermos a maior das tarefas, que é de manter esta cadeia de aprendizagens em
movimentação. Subvertermos a ordem do funcionalismo dos cursos de formação
docentes, para o cultivo de uma formação que tenha a preocupação com a
construção pessoal do indivíduo, com a ética, com a moral, para que sua
representação seja mais significativa, valorizada e socialmente mais humanizada.
Atualmente estamos vivendo num tempo de precariedade de nossas
incertezas, não há receitas, não há formas padronizadas. E isso, não deixa de ser
produtivo. Exercita nossa criatividade, nossa imaginação. Coloca-nos frente a
decisões urgentes e emergentes. Para tanto, precisamos no mínimo, ter a certeza
de nossa complexidade como indivíduos. A complexidade do ato de aprender,
que une dimensões tão distintas (orgânicas, cognitivas, afetivas e inconscientes,
sócio-culturais) precisam ser reconhecidas e mobilizadas como facilitadoras de
um aprendizado mais comprometido com a identidade do ser humano.
Passando para o lado das teorias sobre o fracasso escolar que
apontam o aluno como o destinatário de todos os males, devemos nos apropriar
dos conceitos da Psicopedagogia que contribuem para desvelar o mito do fracasso
escolar. Quando apresentam o aluno com a queixa de “ele tem dificuldades de
aprendizagem”. Costuma-se considerar o fracasso escolar como uma muleta para
explicar os grandes males da educação. Com a formação/visão psicopedagógica,
estes
conceitos
são
tratados
sob
outros
olhares,
resolvendo
questões
anteriormente impossíveis de serem tratadas, por falta de conhecimentos e
habilidades.
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É de extrema importância, que o nosso Educador encontre entre métodos,
metodologias e o espaço de sua atuação, uma significância para o desempenho de
sua função.
Que ele, possa adquirir e assegurar a sua identidade pessoal,
profissional e social.
Que seja autor de sua história, busque através de qualificações uma
postura e um saber condizente com seu papel. Isto o tornará, um profissional bem
sucedido e com certeza, os resultados serão eficazes, em termos de qualidade e
quantidade de aprendizados para dar significância ao seu viver.
Antes, de pensar no ensino de qualidade, precisa-se pensar em um
profissional qualificado,capaz de atuar sem medo e com auto – estima. Que seja
um construtor de sua própria cidadania, responsável pela autonomia de seus
desejos e resultados e que espera alcançar no desempenho de sua atuação
profissional o seu melhor papel.
13
Capítulo I
O Papel da Psicopedagogia na Instituição Educacional
A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor
compreensão do processo de aprendizagem e assim estar resolvendo algumas
entraves que acontecem entre os ensinantes e os aprendentes. Através dela
podemos compreender a forma de como se dá aquisição do conhecimento e
tentar resolver algumas distorções pedagógicas objetivando melhorias das
condições tanto para os ensinantes quanto para os aprendentes. O processo se
dá através de intervenções psicopedagógicas estratégicas de caráter preventivo
ou corretivo.
Devido ao papel que a escola exerce sobre as camadas sociais na
tentativa de ser agente transformador, não podemos nos omitir das dificuldades
emergentes pelo qual a instituição vem passando com o decorrer dos anos.
Contextualizá-la em sua função, oferecer oportunidades para repensar suas
práticas são papéis fundamentais, norteadores para sanar as primeiras
dificuldades encontradas dentro da própria instituição.
A Psicopedagogia Educacional tem como objetivo, fazer com que os
professores, diretores e coordenadores e outros profissionais educacionais
repensem o papel da escola frente às dificuldades de aprendizagem do “aluno”.
Por outro lado, mesmo que a escola passe a se preocupar com os problemas de
aprendizagem, nunca conseguiria abraçá-los em sua totalidade. “Alunos” com
problemas
escolares
comprometido
e
apresentam
necessitam
especializado em clínicas.
de
um
um
padrão
de
atendimento
comportamento
mais
psicopedagógico
mais
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Sendo assim, surge a necessidade de diferentes modalidades de atuação
psicopedagógica; uma mais preventiva com o objetivo de estar atenuando ou
evitando os problemas de aprendizagem dentro da escola e outra a clínicoterapêutica, onde seriam encaminhadas apenas os “alunos” com maiores
comprometimentos, que não pudessem ser resolvidos na escola.
O Psicopedagogo atuando dentro da instituição escolar oferece
conhecimentos e suportes para os demais profissionais. Provavelmente, estará
atuado na prevenção ou atenuação dos problemas de aprendizagem, fazendo
com que menos alunos sejam encaminhados para as clínicas, além de uma
melhoria no rendimento escolar em geral. Esta demanda já aparece na nova Lei
de Diretrizes e Bases, de 1996, quando faz alterações substanciais na forma de
entender o ensino no Brasil, tornando-se mais acentuada através das Diretrizes
Curriculares Nacionais de 1999, que sugere que para melhorar o ensino há a
necessidade de capacitar o professor e os que estão no sistema educacional.
No caso dos problemas já instalados é tarefa do psicopedagogo
escolar tentar saná-los dentro da escola, antes do encaminhamento para a
clínica. O encaminhamento para a clínica deverá sempre ser feito com muito
critério, sempre levando em conta as necessidades específicas daquele aluno.
Para um encaminhamento adequado é necessário que o profissional conheça
muito bem não só o”aluno”, como também a instituição, que ele freqüenta.
1.1 A aprendizagem na constituição do “Ser humano”
É importante lembrar que a aprendizagem humana é marcada de
forma indelével pela história de seus relacionamentos, não é o instinto do qual o
sujeito se prevalece desde o seu nascimento que ensina o que é ser homem ou
mulher, até mesmo, porque desde o nascimento, o bebe é recebido num mundo
de cultura e linguagem e a aprendizagem, que tem papel fundamental na
constituição do sujeito, se dá pela intermediação de um outro, inicialmente da
mãe e posteriormente pelos demais representantes da cultura.
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O segundo momento do processo de socialização vai nos remeter ao
momento em que a criança já internalizou o mundo dos seus pais ou dos adultos
significativos, como o mundo possível e a partir daí generalizam para outras
realidades. A criança tem um modo de se aproximar do objeto de conhecimento
que é resultante da forma que ela aprendeu e foi ensinado, o que se pode chamar
de modalidade de aprendizagem, a qual se perpetua até a idade adulta e,
portanto, sofre influências de todos os aspectos constituintes do sujeito, ou seja, o
orgânico, cognitivo, familiar, social e histórico.
É apenas na relação com o outro, e na sua presença/ausência, que
acontece a descoberta, a aprendizagem. Fernandez (2001) afirma que não há
como alguém afirmar que “é” e “bastar em si próprio”. Só é possível que o sujeito
aprenda a se conhecer realmente numa relação com o outro e com a natureza. A
partir desse ínterim ao sujeito, o qual o seu psiquismo constitui a objetividade,
subjetividade e a capacidade de produção simbólica, é conferida a este a
possibilidade de aprender reproduzindo, copiando, construindo, modelando,
transformando, analisando, interrogando, questionando, enfim, de ampliar seus
conhecimentos face ao que presencia no ambiente em que está inserido.
É preciso olhar o sujeito inserido em um espaço objetivo e subjetivo
de construção de autorias de pensamento e olhares ensinantes e aprendentes
com suas capacidades conscientes, suas afetividades, seus imaginários e sua
sexualidade. Sendo assim, há sempre uma interação entre o novo e o velho, entre
o tradicional e o moderno, entre o que é comum e peculiar entre um sexo e outro,
ressaltando que existem diferenças incontestáveis nas questões de gênero que
se devem às diferenças geneticamente constituídas em meninos e meninas e as
contestáveis, que são as socialmente impostas como masculinas e femininas.
Dentro desse contexto, pode-se sinalizar que as influências sociais
constroem identidades sociais diferenciadas segundo o gênero e segundo as
fases do desenvolvimento. Portanto, a Psicopedagogia, por muitos vista como
uma ciência integradora e facilitadora da aprendizagem, cabe o olhar clínico em
face desse desenvolvimento.
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As diferenças, a mediação clínica e teórica faz – se necessária
quando possível, uma vez que essa transição de gerações e padrões, ao mesmo
tempo em que gera conflitos, viabiliza a circulação do conhecimento e dá ao
sujeito condições para a autoria do seu pensamento.
Segundo, Freire (2006:24):
“Quando vivemos a autenticidade exigida pela
prática
de ensinar – aprender participamos de uma experiência
total,
diretiva,
política,
ideologia,
gnosiolósicas
pedagógica, estética e ética,em que a boniteza deve
achar-se de mãos dadas com a
decência e com a
seriedade.”
Mais do que entender as diferentes significâncias entre: O homem e
a mulher, o velho e o novo, o ético e estético é necessário à movimentação de
uma afetividade que move o indivíduo ao encontro de si mesmo. Não basta olhar
a criança, que está a nossa volta em busca de conhecimento, enquanto não
reconhecermos que sempre existirá dentro de nós, ma criança com desejo de
aprender,
que aclama
por sede
de afeto e harmonização. As nossas
experiências de vida vão ao longo dos anos lapidando e retocando as
deformidades, pelos quais os nossos corpos vão sofrendo com o contexto de
nossas histórias e que a pratica exige neste viver autentico e com seriedade, mas
jamais deixaremos de buscar este caminho como princípio de dignidade básica
dentro de nossos valores morais e éticos construídos socialmente.
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1.2 Educação exercício de cidadania
Educação é um direito garantido a todos na Constituição Federal.
Por si só, este fato faz com que a educação e os direitos humanos estejam
intrinsecamente ligados. Porém, esta relação tem muitos outros aspectos. “A Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, em consonância com princípios dos Direitos
Humanos, determina textualmente que educar para os direitos humanos é
estimular uma prática educativa inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais
de solidariedade humana, com a finalidade do pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho”.
A Educação é por si mesma
um direito fundamental que deve ser
garantido a toda e qualquer pessoa. É, ao mesmo tempo, um meio para a
realização de outros direitos fundamentais. Neste sentido, entendemos a
Educação como um processo que deve estimular o pleno desenvolvimento da
pessoa, de suas potencialidades, de valores e atitudes em favor de uma
sociedade justa para todas as pessoas e não tão desigual, como a que ainda
temos. Enquanto tivermos índices de inserção na escola, de permanência e de
desempenho desiguais, principalmente atingindo grupos específicos de pessoas,
estaremos violando esse direito humano básico, que é o direito à educação.
A escola tem sido apontada principalmente pela mídia como um
espaço de conflitos (que em muitos casos têm culminado em violência física). De
fato, a escola por ser um lugar que reúne pessoas que pensam, agem de modos
distintos, é um espaço de expressão das diferenças e das desigualdades. Por
outro lado, a escola é também um lugar privilegiado para a aprendizagem e
gestão de conflitos.
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O desafio está em rever o modo de gestão que as escolas de um
modo geral adotam; o modelo de gestão é ainda extremamente marcado por uma
postura autoritária e hierárquica e isso se reflete na própria sala de aula. A escola
deveria ser um espaço de confiança, um lugar para a liberdade, para a alegria e
para o prazer da produção de conhecimento.
Os alunos muitas vezes não são reconhecidos como sujeitos
políticos, não sendo levados a refletir sobre as suas ações e a tomarem decisões.
Em geral, a escola não percebe que o conflito pode ser extremamente
pedagógico se considerarmos que as relações provocam, reações positivas, que
podem levar as pessoas a buscarem soluções para as crises. Isso exige,
obviamente, uma postura dialógica, requer disponibilidade para ouvir, para
negociar, para mediar, para rever posições, buscar consenso.
Segundo, Unberhaum (Jornal Folha dirigida-15/10/2006)
“ Os alunos muitas vezes não são reconhecidos como
sujeitos políticos,não sendo levados a refletir sobre as
suas tomarem decisões. Em geral, a escola não
percebem que o conflito pode ser extremamente
pedagógico se considerarmos a perplexidade que
provoca, gerando reações positivas”.
É importante que todos os alunos tenham conhecimento de seu
papel e de sua importância enquanto pessoa capaz de opinar, optar e decidir
sobre os seus conhecimentos tornando-os autônomos de seus saberes e
conseqüentemente aptos a tornarem melhores cidadãos no exercício de suas
funções. Não cabe a escola decidir a vida e o destino de cada educando, segundo
seus critérios e apontamentos tendo em vista o desempenho puramente
pedagógico.
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Os maiores equívocos nas políticas educacionais é a desarticulação
das ações que visam à melhoria do ensino. Temos que investir ao mesmo tempo
em todos os níveis educacionais, pois todos estão interligados. É preciso,
urgentemente, valorizar a educação infantil e as primeiras séries do ensino
fundamental, pois é nessa fase que decidimos o futuro dos indivíduos. Se eles
começam a fracassar nesta etapa, todo o percurso escolar será acidentado e se
tornará difícil resgatá-los, entretanto, os professores que lecionam nesses níveis
são os mais mal pagos e mal preparados, o que é um contra-senso. A Lei de
Diretrizes e Bases do Ensino e o Plano Nacional de Educação já deram o
diagnóstico e a receita, mas, as ações governamentais não correspondem às
expectativas geradas pela LDB ou pelo PNE, que não dão continuidade a um
projeto educacional já aprovado por toda a sociedade. Esse é o grande equívoco
que o governo tem cometido.
20
Capítulo II
Os obstáculos encontrados para melhorar o ensino
brasileiro
Falta um projeto em curto, médio e longo prazo, em primeiro lugar.
Temos um Plano Nacional de Educação que deveríamos seguir e, como
signatários de tratados internacionais, temos metas a alcançar. Mas a prática se
torna difícil, porque agimos sem planejamento. O governo atual, como os
anteriores, na maioria das vezes, só faz tapar buracos, liberar recursos
emergenciais para este ou aquele nível de ensino e, desse modo, continua
andando em círculos. Deveríamos obedecer a um planejamento, com estimativas
de crescimento de demanda, previsão de gastos, mas isso não ocorre. Claro que
há estudos extensos sobre isso etc. Contudo, eles parecem ser ignorados na hora
em que se formulam as políticas educacionais.
Um outro problema é a miopia dos órgãos responsáveis pela
educação, que não percebem que a educação é um processo, num todo, no qual
não cabem ações fragmentadas, pois elas só fazem resolver problemas pontuais
que ressurgem adiante. Isto porque todos os níveis de ensino estão estreitamente
ligados. Uma hora, fala-se na educação infantil, e no quanto ela é importante para
melhorar o desempenho dos alunos no ensino fundamental. Logo depois, o
assunto é esquecido e as atenções são centradas no ensino superior. Quando se
constata o baixo nível cultural dos alunos que estão entrando nas universidades,
o governo se volta então para as mazelas do ensino médio, esquecendo, que ele
apenas reflete a situação dramática do ensino fundamental. Enquanto agir desta
forma descoordenada, não chegará a lugar nenhum.
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Segundo, Freire (2006:126):
...”Sabemos que há algo metido na penumbra,
mas não o divisamos bem. A própria “Miopia” que nos
acomete dificulta a percepção mais clara, mais nítida
da sombra. Mais séria ainda é a possibilidade que
temos de docilmente aceitar que o que vemos e
ouvimos é o que na verdade é, e não a verdade
distorcida. A capacidade de penumbrar a realidade,
de “miopizar”, de nos ensurdecer que tem a ideologia
faz, por exemplo, a muitos de nós aceitar docilmente
o discurso cinicamente fatalista.”
Entende-se que a educação deveria constar de um projeto de Nação
e estar acima dos governos. Deveria ser um compromisso real com o povo e o
destino mais promissor para este país, mas o que vemos são os poderes públicos
articulados por uma minoria que tem apenas um único objetivo: manter
aprisionado entre o saber e o poder de ascensão uma grandeza que não permita
a evolução e nem a autonomia de um povo, pois enquanto se tem um povo
incapacitado, se terá um objeto manipulado.
A Educação é um tema que está na berlinda, cada governo quer
deixar sua marca. Há, por exemplo, prefeitos e governadores que preferem gastar
o dinheiro público erguendo monumentos inúteis ao invés de consertar redes de
esgoto e melhorar o abastecimento de água, porque os encanamentos não são
visíveis. No entanto, o saneamento é essencial para a saúde da população. Com
a Educação ocorre o mesmo. É preciso, urgentemente, democratizar o acesso a
educação, ampliando o número de escolas públicas, fortalecendo a formação,
qualificação do educador e valorização do magistério e mantendo um quadro de
profissionais para atender a demanda.
22
2.1
Uma Escola de qualidade
Há muitos profissionais bons trabalhando por uma escola eficaz.
Tornou evidente que, sem boas escolas, bons professores e mais recursos
disponíveis a aqueles que procuram por uma escola de qualidade, não há
inclusão. Precisamos combater a evasão, adaptar nosso fazer pedagógico à dura
realidade das novas clientelas, estabelecer turnos integrais, possibilitar que os
professores se dediquem exclusivamente a um estabelecimento, valorizar o
magistério, dotar as escolas com os mais modernos recursos didáticos. É uma
questão de interesse governamental
para
direcionar investimentos e
prioridades, de boa vontade política. Infelizmente, estamos caminhando
morosamente nesta direção.
Somente os profissionais da educação conhecem a fundo os
problemas de cada localidade, de cada comunidade, de cada “aluno”. Somente
eles poderão garantir o sucesso das reformas do ensino, pois sabem o “como e
quando fazer”. Muitas vezes, os professores são criticados por resistirem a
mudanças. De fato, muitos precisam abrir suas mentes às inovações, modernizar
seu modo de operação. No entanto, até a estes devemos dar ouvidos e procurar
saber porque agem desta ou daquela forma. Veremos que sempre há um fundo
de razão em suas queixas e que, na verdade, precisamos ajudá-los, e não
combatê-los. Os professores são a peça-chave do processo educacional, a chave
para a melhoria do ensino. Devem ser tratados, como tal e ter seus pontos de
vista levados em conta, sempre.
23
Segundo, o INEP, entre as reivindicações mais ouvidas entre os pais
pertencentes a toda as classes sociais, estão: Mais envolvimento dos alunos com
a escola, aumento da jornada diária e atividades extra-classes. O Plano Nacional
de Educação prevê o aumento da jornada da carga horária, mas o MEC não deu
sinais de que a meta será cumprida. Fala-se apenas em esticar o ensino
fundamental para nove anos. Não é isso, porém, que os pais ouvidos, pedem,
mas sim, que a escola acolha os alunos durante o dia e invista em atividades
culturais, intelectuais e físicas, para que se torne o espaço de formação plena da
criança, do jovem e mesmo dos adultos. Como determina a LDB e querem os
cidadãos.
De acordo, com Freire (2006:111):
“De modo geral, a consciência dominada, não só
popular, que não captou ainda a “situação-limite” em
sua
globalidade,
fica
na
apreensaão
de
suas
manifestações periféricas às quais empresta a forca
inibidora que cabe,contudo, à “situação-limite.”
O anseio da classe popular por uma qualidade de ensino deixa
claro, que não basta as suas vontades e anseios. Pois, mesmo diante de uma
Legislação que provém de forma relativa os seus desejos, existe um descaso na
vontade política de cumprir as determinações. Os cidadãos acabam calando-se e
ficando sempre na expectativas de novas possibilidades.
24
2.2
Caminhando com os “próprios pés”
Inspirando-nos em Pichon, um dos que se preocupou com a
questão "GRUPO", verificaremos a importância de se trabalhar a Instituição
Educacional: "A aprendizagem é uma apropriação instrumental da realidade para
transformar-se e transformá-la. Essa apropriação possibilita uma intervenção que
gera mudanças em si, e no contexto em que se dá. Caracteriza-se também, por
ser uma adaptação ativa, constante na realidade. Implica, portanto, em
estruturação, desestruturação e reestruturação. Isso gera tensão a qual necessita
não apenas ser descarregada, mas revitalizada, renovada, enriquecida.
O trabalho do psicopedagogo se dá numa situação de relação entre
pessoas. Não é uma relação qualquer, mas um encontro entre educador e
educando, em que o psicopedagogo precisa assumir sua função de educador,
numa postura que se traduz em interesse pessoal e humano, que permite o
desabrochar das energias criadoras, trazendo de dentro do educando
capacidades e possibilidades muitas vezes desconhecidas dele mesmo e
incentivando-o a procurar seu próprio caminho e a caminhar com seus próprios
pés.
Cabe ao professor do ensino fundamental e outros querer conhecer
e aprender a lidar com estas questões. O seu olhar fará a diferença na hora de
agir. Os saberes da experiência surgem a partir da articulação, reorganização dos
demais. Alguns educadores afirmam que "os saberes da experiência não são
saberes como os demais, eles são, ao contrário, formados de todos os demais”.
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O papel do professor tem sido discutido em muitos trabalhos
científicos. A formação docente está nas mesas de conferências, simpósios e
congressos com o objetivo de mostrar ao professor o que ele deve fazer para
trabalhar com o cidadão que a nova sociedade está exigindo. Uma pessoa capaz
de
pensar
suas
tarefas
e
não
simplesmente
executá-las,
As
leis,
operacionalizadas nos estatutos e regimentos das escolas, atribuem aos
professores do ensino fundamental verdadeiras listas de competências a serem
cumpridas. Simples pensar que, saber listas de competências, faz deste
profissional um bom professor. Papéis e funções sociais não mudam a cada nova
abordagem do ensino, mesmo que venham acompanhadas de resoluções e/ou
determinações de ordens superiores do ensino.
Institucionalmente, o psicopedagogo pode trabalhar prestando
assessoria aos educadores e demais profissionais de educação para que estes
possam melhorar a qualidade de sua atuação, através de reflexões sobre
questões e ações pedagógicas, de novas alternativas de trabalho, propiciando a
análise de como acontece o processo de ensino-aprendizagem, frizando sempre
a importância dos fatores orgânicos, cognitivos, afetivos/sociais e pedagógicos,
na construção do conhecimento pelos indivíduos cognoscentes. Além disso, a sua
função também perpassa a instalação de um clima de cooperatividade, entre
todos os profissionais da escola, possibilitando a participação destes, na
construção do Projeto Político Pedagógico, em discussões sobre situações e
casos especiais ocorridos com os alunos.
A atuação do psicopedagogo na escola, configura-se também, no
atendimento aos alunos com problemas de aprendizagem já instalados
bem
como, na prevenção dos mesmos, buscando realizar um trabalho global junto aos
alunos e professores, através do desenvolvimento de abordagens que auxiliam
na identificação do problema, soluções e finalmente, o resgate da auto-estima, a
fim de despertar o prazer e a vontade de aprender, em uma ação conjunta. Afinal,
ninguém só aprende e ninguém só ensina.Todos aprendemos sempre.....!
26
Embora a década de 80, segundo Antonio Nóvoa (1995), marca
uma virada na pesquisa educacional em todo o mundo, trazendo os professores
para dentro da investigação e dos debates educativos, isto é, propondo mudanças
para formação docente.
Há um cenário traçado pelas políticas públicas, para a formação
docente, que se transforma em caos, após cada projeto, cada programa. Nas
brechas das tentativas de mudanças, encontra-se o professor temeroso,
desarticulado e impotente. Os indícios de sua presença escapam aos olhos
acostumados a obedecer às leis e às regras impostas. A forma como eles se
vêem no processo de reflexão do seu saber, por meio de suas práticas
pedagógicas, continua oculta. As propostas de mudanças continuam distanciadas
do sujeito real, ainda são frutos de determinações legais, automatizadas pela
força inquestionável de decretos e resoluções.
A gênese e o desenvolvimento desse sujeito e o perceber-se
professor
e
não
permitir-se
ficar
as
margens
dos
grandes
projetos
governamentais. No entanto, o professor é um dos sujeitos do processo ensinoaprendizagem e, nesta relação, discutir o seu saber e a sua necessidade de
formação e informação necessárias para o desempenho de sua tarefa. Ele não é
um depositário de resoluções a serem cumpridas, de projetos com objetivos de
resgate da auto-estima do “aluno”. Ele também está em busca da tão sonhada
auto-estima, esmagada em projetos milagrosos. Como educador ele também é
um sujeito construindo meu aprendizado, direito de autoria e não só o dever de
cumprir as determinações de projetos que não leva e nem o eleva, enquanto
pessoa, em consideração. Aprender supõe um sujeito que se historia, assim ele
não se perde no tempo, enquanto registra sua presença e a torna significativa.
27
Para aprender necessitam-se de dois personagens: ensinante e
aprendente e um vínculo entre ambos alternando as modalidades de
aprender/ensinar de cada um, com a atuação mediadora do professor.
É preciso contar que a aprendizagem que o professor adquire neste
tramite vincular associada ao conhecimento espistemológico de sua formação é
relevante em sua atuação. Os cursos de formação docente, preocupados com os
estágios supervisionados, deixam de pensar na construção subjetiva do professor
e do aluno e na trama que se estabelece entre as questões da ordem objetiva e
subjetiva nos processos de aprender, para isso, é necessário que se trabalhe a
formação do professor como sujeito aprendente durante todo o processo.
O campo do saber da psicopedagogia oferece subsídios para a
postura do professor reconhecer sua modalidade de aprender. Não podemos
esquecer a pessoa do professor pela ilusão da racionalidade técnica. Segundo
Scoz (2000) a apropriação das técnicas de trabalho é tão grande nas escolas, que
extrapola a existência da pessoa em sua subjetividade e esquece que os projetos
pessoais e profissionais se cruzam inexoravelmente. Não é possível fazer isto
sem uma adequada formação docente, e ela deve ser: técnica, política, dialógica
e pedagógica.
Tem-se lido e acompanhado trabalhos com idéias exaustivas sobre
as formações das competências técnicas e pedagógicas. O que escapa, quase
sempre, é a competência dialógica do professor. Esta envolve um aprendizado
que rompe com a formação autoritária, que faz o professor desvestir-se da camisa
que lhe delegou poderes inquestionáveis. A competência dialógica aproxima o
professor para uma conversa com o seu “aluno”, o que faz, com que ele corra o
risco de fragilizar-se em sua formação de “poder”, imponência adquirida em sua
formação profissional.
28
Os educadores correm o risco de repassar informações e fabricar
cidadãos subalternos que agem como massa de manobra nas mãos de
detentores do poder, quando não se trabalha a formação docente com este
caráter dialógico. No entanto, esta formação, se trabalhada, é condição para
riscos menores no processo educativo.
Desprovida desse caráter, a educação fica à mercê de um saber puramente
teórico, sem a beleza do cotidiano dos próprios sujeitos no processo-ensinoaprendizagem. O professor António Nóvoa (1996) ressalta que a formação dos
educadores é a chave para renovação pedagógica. Esta formação deve permitir
que o professor deixe de ser porta-voz e torne-se a própria voz.
No campo da Psicopedagogia, os educadores se resgatam como autores
que estrategicamente ensinam, não amordaçam o pensar e nem aprisionar as
múltiplas inteligências. Um professor que tem como norteador a informação
psicopedagógica,
tem
um
trabalho
cooperativo,
direcionado,específico
diferenciado e não autoritário.
A sala de aula é um espaço, por excelência, saudável onde o
perguntar é valorizado e o eleger é possível, como ensina Alícia Fernandez em
muitas de suas palestras. Este é o ambiente da aprendizagem, na relação
professor-aluno, este é o contexto social que influencia o desenvolvimento do
pensar. Um ambiente aberto ao questionamento, ao diálogo, encoraja os alunos,
ao contrário do ambiente autoritário cuja ênfase recai sobre a memorização. A
atitude do aprender deixa de ser uma mera atividade porque recebe a influência
do ambiente.
Neste contexto, do aprender, a Psicopedagogia diz que seu objeto
de estudo é o sujeito em situação de aprendizagem. Veja a importância de se
considerar o espaço, como momento de aprendizagem. “Ensina-se aprendendo e
aprenda ensinando”. As práticas pedagógicas, os valores, os saberes, os rituais
que constituem o contexto escolar vão sendo elaborados num lento aprendizado
que se confunde com a construção profissional/pessoal de cada professor.
29
Neste movimento de construção, neste processo de articulação, o
educador se avalia continuamente. E o lugar que ocupa nessa profissão
estrutura-se
e (re) estrutura sempre. Beatriz Scoz (2000:19) escreve: “Só
podemos trabalhar com o outro e conseguir que nossa tarefa seja eficaz, se
pudermos simbolizar nossas próprias dificuldades”. O processo ensinoaprendizagem, ao colocar em jogo o corpo, o organismo, a inteligência e o desejo,
desnuda-se o nosso conhecimento e liberta-nos de nossas próprias inibições. É
nesse jogo simbólico do processo ensino-aprendizagem, que se busca energia e
refaz sempre o pensar.
É nos embates e nas contradições que se encontra a dinâmica e a
diversidades vividas, nas situações cotidianas e imediatas da sala de aula. É no
jogo da aprendizagem que ele se vê por inteiro e portanto, não corre o risco de
ficar às margens do aprendizado.
A participação do professor, por inteiro, (corpo, organismo,
inteligência e desejo) nessa relação, na sala de aula, no processo ensinoaprendizagem demanda a participação dos alunos também por inteiro. É um
processo de intercomplementaridade, isto é, não é produzido nem só pelo
professor e nem só pelo aluno. É uma atividade de inter-relação entre os dois
sujeitos criando uma identidade que se concretiza a cada ação. São atores e
protagonistas de suas histórias. Encarnam personagens que se transformam na
medida em que vivenciam as situações do vivido. O professor, no seu papel de
ensinante/aprendente, vai se ressignificando e se transformando... Trabalhando a
identidade do professor nos cursos de formação docente.
30
Segundo, Alves (2006:52):
“Toda experiência de aprendizagem se inicia com
uma experiência afetiva É a fome que põe em
funcionamento o aparelho pensador.Fome é afeto.
O Pensamento nasce do afeto, da fome.O afeto
é o movimento da alma na busca do objeto da
fome”.......
Como define Rubens Alves, não confundir afeto com beijinhos,
carinhos. Afeto, do latim affecare, que quer dizer “ir atrás”. É urgente que A
educação se afete na busca da identidade do professor. Que ele possa ter
autonomia de afetar-se e
efetivamente afetar os seus educandos, acima de
qualquer estrutura educacional. Não acredito no processo de desarticular a
formação docente da perspectiva de formação da identidade do professor, pois
isto é distanciá-lo de situações problemáticas que requerem decisões emergentes
num campo singular, complexo e cheio de conflitos e de valores que é a sala de
aula, espaço de interação com os alunos. E são os alunos que nos contam que
educadores temos sido, ou que educadores somos. É através deles que nos
vemos. Os alunos são os espelhos de nós professores. É com esta visão de
cunho psicopedagógico, que crescemos em nossos conhecimentos, relações e
nos propomos a manter uma relação afetiva por completo com aqueles que se
dizem ser apenas aprendentes, mas fatidamente nos ensinam o tempo todo.
31
Capítulo III
Gestão de aprendizagem numa visão psicopedagógica
A escola de hoje deve estar, em primeiro lugar, comprometida com a
aprendizagem dos saberes produzidos historicamente, simultaneamente com o
desenvolvimento de competências cognitivas. A escola continua indispensável
como lugar da sistematização de conhecimentos, de desenvolvimento do
pensamento teórico, de formação moral, de preparação para a cidadania e para o
trabalho.
Em segundo lugar, a escola é lugar de construção e fortalecimento
da subjetividade. Quer-se dizer que, junto com a formação de conceitos e o
desenvolvimento das competências do pensar, é preciso uma atenção prioritária
aos aspectos sócio-culturais e afetivos. Em terceiro lugar, a escola precisa ser
lugar de desenvolver práticas de cidadania, para o exercício da democracia social
e política. Ela não pode eximir-se de discutir e implantar formas muito concretas
de vivência democrática e prática de valores humanos. Tais práticas precisam
assentar-se num imperativo do aprender a compartilhar, que é aprender - pela
convivência coletiva, pelo diálogo e pela reflexão crítica - a construir significados e
entendimentos a partir do respeito às diferenças, considerando-se marcos
universais de convivência humana.”
Hoje já se sabe que a informação não é conhecimento A função da
escola é favorecer o desenvolvimento de todas as reestruturações mentais que
permitem a criança, jovem e adulto interagir com o conhecimento. Esse é o
desafio da escola moderna.
O que ainda
encontramos é uma
escola
conteúdista, onde o professor repassa os conteúdos de forma descontextualizada.
O aluno fica sem saber para que está aprendendo tanta coisa. É preciso
evidenciar, como a ciência ajuda a pensar o mundo? A partir dessas informações,
e com base no pensamento pessoal, o aluno poderá desenvolver sua concepção
de mundo.”
32
É preciso que a escola se recupere ou corre o risco de perder
espaço. “Ela não está conseguindo atingir os seus objetivos. Não está cumprindo
o seu papel. As competências para a vida não estão sendo desenvolvidas. Temos
que enfrentar essa triste realidade. O acesso à educação de qualidade é que
transforma a vida das pessoas. Como disse Piaget, a educação deve ser uma
aventura do espírito humano.”
Os professores, às vezes, sãos os únicos espelhos para os seus
alunos. A única chance para que os alunos tem de perceber que vale alguma
coisa nesta sociedade tão discriminatória . Mas, se o professor não buscar , não
procurar meios para caminhar com um olhar psicopedagógico e não acreditar
em sua capacidade, na do seu semelhante , na possibilidade de uma eterna
mudança, ele não vai passar essa esperança para os seus alunos e também não
terá sua auto-estima desenvolvida para atuar melhor em sua profissão.
A ferramenta pedagógica não substitui o envolvimento humano e a
afetividade indispensáveis ao desenvolvimento da sociabilidade. A educação
brasileira está se adaptando às necessidades desta sociedade, e o principal
desafio é a adaptação às grandes modificações sociais, culturais e econômicas
criadas pela explosão das novas tecnologias. Nesse sentido, inovar é
indispensável, e urgente, mas não se trata de adaptar a educação às
tecnologias, e sim iniciar um novo momento de aprendizado específico de nosso
povo e não simplesmente comprar modelos de educação, de sucesso
internacional.
A
frieza
das
altas
tecnologias
impõe
uma
33
contrapartida
indispensável de calor humano: quanto mais tecnológica tem uma sociedade,
mais necessita de compensações ao nível dos valores humanos e da afetividade.
E aqui que se situa a função-chave de uma escola reinventada: dar estrutura a
um mundo de diversidade, fornecer os contextos e saberes de base para uma
autonomia de sucesso nesse mundo, e fornecer as respostas humanas
compensatórias de que a escola dos nossos dias, está se distanciando e de
forma
perigosa, pois não está
crescimento
social
positivo
trazendo resultados satisfatórios , como o
do
cidadão
e
sua
inserção
social.
O computador, a TV ou qualquer outra tecnologia não irá substituir
o
professor.
Em
contrapartida,
ele,
como
capital
humano,
buscará
instrumentalizar-se apoiado por uma base compensatória. O “produto” que dele
sai: o aluno efetivamente alfabetizado, informado, politizado, conscientizado do
seu valor e da sua responsabilidade no mundo moderno é a mola mestra para
impulsionar a capacidade da aventura do professor por saberes diversificados.
Para que o educador possa construir progressivamente a sua
competência profissional, é necessário que tematize sua prática, produzindo
conhecimentos pedagógicos, enquanto planeja, pesquisa, avalia e articula
experiências com seus parceiros, criando intervenções que favoreçam o
desenvolvimento do aluno:
•
Proporcionar aos participantes conhecimentos de diferentes formas de
abordagem do processo ensino-aprendizagem.
•
Contribuir para a melhoria das condições do desempenho de educadores
na compreensão e trato de processos psicopedagógicos.
•
Proporcionar aos profissionais uma melhor qualificação através da
instrumentalização de competências psicopedagógicas, embasadas e
fundamentadas em teorias e técnicas contextualizadas, em uma sociedade
referenciada em valores humanos
intelectual.
informações e na gestão do capital
34
A psicopedagogia pode contribuir bastante para o desenvolvimento
da percepção de docentes e facilitando as organizações do processo de ensino e
aprendizagem. Atualmente, tem-se discutido, fomentado, comentado e escrito
sobre esta intrigante área da educação que se coloca entre a pedagogia e a
psicologia.
A
psicopedagogia,
busca
ocupar-se
dos
problemas
de
aprendizagem e as suas diferentes formas de atuação preventiva e terapêutica no
âmbito de salas de aula. A compreensão e o conhecimento da psicologia
associado com a competência técnica didática resultam no processo ensinoaprendizagem singular à "psicoandragogia".
A psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, os fatores
externos e internos que o influenciam positivamente ou negativamente, buscando
englobar eqüitativamente os aspectos cognitivos, afetivos e sociais. Então, o seu
objeto de estudo se estrutura em torno do processo de aprendizagem humana.
Este objeto de estudo deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e
terapêutico. No primeiro enfoque, o seu objeto de estudo é o indivíduo a ser
formado e seus processos de desenvolvimento no sentido amplo, envolvendo os
aspectos familiares, institucionais e sociais. Já no segundo, enfoca o objeto de
estudo que é o processo de diagnóstico e intervenção das dificuldades de
aprendizagem. Neste sentido, o campo de atuação do psicopedagogo relacionase com três vertentes distintas:
1.
Preventiva,
podendo
desempenhar
uma
prática
docente
direcionada à formação de profissionais, com intuito de subsidiá-los
com técnicas e conteúdos relevantes às suas práxis;
35
2. Terapêutica, onde atuará realizando diagnóstico de dificuldades
e problemas de aprendizagem;
3.
Clínica, onde além de realizar diagnósticos, conduzirá também
uma intervenção, onde o diálogo com outras áreas do conhecimento
será indispensável para o sucesso deste processo.
Assim, a função primordial do psicopedagogo é de facilitar e
promover a realização da aprendizagem, favorecendo a reestruturação do modelo
de aprender a aprender, e estabelecendo vínculos que colaborarão com o
desenvolvimento do aprendente. Na verificação do potencial de aprendizagem,
este profissional considera como fatores intervenientes na sua análise: a
ansiedade, o medo e a frustração e as possíveis dificuldades diante de problemas
orgânicos do aprendente frente à aprendizagem. Nesta função, o psicopedagogo
encontra muitos desafios, onde o conhecimento de si mesmo, de suas
necessidades e potencialidades, será o seu primeiro suporte "técnico".
Encontra - se
na formação psicopedagógica, subsídios para a
dinamização da sala de aula, para entendimento e suporte ao professor e, por
conseguinte,
aprendentes.
para
intervenção
nas
dificuldades
de
aprendizagem
dos
36
3.1 Nível de conhecimento dos docentes sobre a psicopedagogia
A maioria dos docentes
apresentam idéias estereotipadas sobre
qual o seu objetivo de estudo e qual a sua funcionalidade no âmbito educacional.
Os comentários, que muitos fizeram, reduziram os estudos psicopedagógicos à
relação de problemas de aprendizagem e a distúrbios de aprendizagem. Nesse
aspecto, percebem a psicopedagogia unicamente no âmbito terapêutico, omitindo
a sua melhor funcionalidade quando é usada a nível preventivo.
Vale ressaltar, conforme Goguelin, que em geral, o pedagogo prático
(ensinador/educador) está preocupado em transmitir os seus conhecimentos, aos
seus alunos, cujo critério é o da eficácia e cuja habilidade está ligada a
metodologias específicas. No entanto, o profissional, seja este pedagogo,
psicopedagogo, psicossociólogo, etc
devido à sua formação experimental
buscam na investigação metodológica, perspectivas possíveis para melhorar
técnicas de ensino e aprendizagem.
3.2. A importância da Psicopedagogia
Percebe-se uma contradição entre as informações. Apesar de
demonstrarem pouco embasamento em estudos psicopedagógicos, a maioria dos
docentes
afirmaram que os estudos psicopedagógicos são importantes para
gestão de sala de aula.
É possível concluir que apesar de saberem da
importância das investigações psicopedagógicas sobre a aprendizagem para seus
ofícios,
os
educadores
muitas
vezes
colocam
em
segundo
plano,
o
aprofundamento desta temática. Provavelmente, por auto-defesa, pois podem
encarar os seus limites enquanto professores e aprendentes ou também
próprio desconhecimento do assunto, que não
profissional ou de estudos de aprimoramentos.
faz parte de
o
sua formação
37
Sobre o assunto afirma Goguelin(1973:20):
"Deste modo o pedagogo fica em posição de
defesa e nós entramos num autêntico problema de
formação: o psicólogo (a psicologia) informou o
pedagogo a cerca do resultado dos seus trabalhos,
e, informando-o, instruiu. Por isso, o pedagogo, ser
lógico, deveria aplicar sem reticências; mas não é
isso o que sucede; a informação coloca o
pedagogo em desequilíbrio psicológico apesar de
todas afirmações tranqüilizadoras que lhe fazem e
talvez mesmo por causa dessas afirmações.
Informaram-no, mas não o formaram, visto que não
integrou a informação na sua conduta, nos seus
comportamentos, nos seus atos."
O tratamento e a valorização necessária do educador dado a
psicopedagogia seria diferente, se ele pudesse ir ao encontro desta abordagem
através do contato direto, com o conhecimento, de um saber docente, que ela
propicia e os resultados positivos que são produzidos, a partir desta informação
ou formação. Hoje, o professor fica numa posição de defesa estratégica, como
meio de ludibriar algo que não faz parte de seu contexto. Infelizmente, as políticas
vigentes, ainda não inseriram na formação
e re-qualificação do educador, a
psicopedagogia, como elemento de sua formação. Com certeza, ao contato com
esta disciplina, o professor terá em suas mãos, uma ferramenta a mais para
auxilia-lo em suas atividades e verá com outro olhar a função e a pertinência
deste assunto, até então, sem muitas significâncias.
38
Capítulo IV
Professor, com visão psicopedagógica será sempre
sujeito em situação de aprendizagem
A necessidade de elevação da qualidade do ensino e melhoria da
escola, a exigência da valorização do trabalho docente e a perspectiva de
profissionalização têm contribuído para trazer, cada vez mais, para o centro do
debate educacional, a formação dos/as professores/as. Junta-se a essas razões,
a repercussão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96,
principalmente o seu título VI, que trata dos profissionais da Educação e que deu
origem a um aparato legal, que vem traçando novos rumos para a formação dos
professores e, em decorrência, para o exercício da profissão. ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
A formação dos/as professores/as vem sendo um objeto de reflexão,
de reivindicação e de pesquisas, a partir de diferentes focos e níveis. Discute-se e
estuda-se a formação na perspectiva das políticas públicas e educacionais, das
propostas para a formação, dos modelos e processos de formação profissional ou
da repercussão da formação no exercício profissional. Um traço comum, no
entanto, tem sido revelado pelo debate educacional: seja qual for o enfoque
adotado, a formação tem como referencial para a análise a EducaçãonBásica.
A formação continuada é uma exigência da natureza humana, é um
direito do profissional, é um critério para a profissionalização e para o exercício
profissional. É a Escola e o trabalho que ela desenvolve, ou deve desenvolver, um
parâmetro para o trato da formação continuada. A natureza inconclusa do ser
humano, os limites da formação inicial e a complexidade do trabalho docente
para o exercício profissional torna a formação continuada um direito e uma
necessidade.------------------
39
---------------------------------------------------
A formação representa um dos critérios essenciais para o processo
de profissionalização e permite a passagem do exercício profissional baseado na
intuição a um processo pautado na racionalidade. Isso supõe dotar o profissional
docente de meios que possibilitem o aprofundamento do conhecimento sobre as
atividades pedagógicas e didáticas, sua organização, coordenação, revisão e
adequação às condições existentes. É um critério essencial em toda a política de
organização da Escola, de melhoria e transformação das práticas de ensino e de
aprendizagem.
É compreendida, num quadro teórico, como um processo
constituído por saberes teóricos, saberes da prática e de atitudes. Entendida,
como uma necessidade, a formação continuada inscreve-se no campo da
Epistemologia e da prática pedagógica, consistindo em esforço de aproximação
dos processos de produção do conhecimento e de gestão de problemas escolares
e de ensino produzidoszpelaszpráticaszpedagógicas.,,,,,,,,
Um outro modo de se entender a formação é tomá-la como um
direito do docente. A Lei nº 9.394/96 define que “os sistemas de ensino
promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes,
inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público,
aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico
remunerado para esse fim, se for o caso”.
Quando falamos em formação, estamos tratando, na verdade, das
duas dimensões que produzem o processo: à formação inicial e a formação
continuada. No que se refere a formação inicial, ela é indispensável para o acesso
ao campo profissional, mas não é suficiente para responder à dinâmica da
produção do conhecimento e da carreira. Há coisas que somente se aprendem
em situação escolar ou de sala de aula, na interação com profissionais
experientes, que justificam a necessidade da formação continuada. Nesse
sentido, há um reconhecimento, por parte da categoria, de que a formação
também ocorre com a experiência direta.
40
É na comparação, no apoio e nas trocas com os/as colegas de
profissão, no ato do conhecimento sobre o que sucede na relação docente–
discente, docente–docente, docente – famílias, etc. Que pode ser construído um
repertório de saberes necessários à formação continuada e à prática educativa.
Na verdade, há hoje o entendimento de que a formação se prolonga
por toda a carreira. É requisito do processo de profissionalização, e, como tal, é
uma estratégia de desenvolvimento profissional que se estende por toda a
carreira como inserção de renovação profissional enquanto responsabilidade
individual e coletiva.
Entretanto, nem sempre as iniciativas de formação continuada
correspondem a programas e nem
respondem às necessidades geradas no
cotidiano da escola ou às inovações do campo do conhecimento. O caráter de
evento ou as respostas imediatas, às vezes de natureza burocrática, quando
muito, respondem as lacunas da formação inicial.
Resumindo, a formação
continuada é parte de uma Política Pública e de um programa institucional, tanto
em
nível
nacional
como
local.
É
um
empreendimento
institucional,zdezresponsabilidadezindividualzezcoletiva.
Em nível local, a formação continuada se constitui numa indagação
e numa resposta ao projeto político-pedagógico da escola como intenção,
compromisso e responsabilidade coletiva. Nesse caso, os conteúdos cognitivos,
culturais e simbólicos — como ponto de partida da atividade de ensino e que
permitem pôr em prática o processo de produção e socialização de
conhecimentos, competências, representações e valores — constituem os
elementos de um programa de formação continuada.
41
O que chamamos a atenção é para a importância de considerar o
trabalho e as relações escolares como lugar privilegiado para a busca dos objetos
para a formação continuada. Isso não quer dizer que as necessidades geradas na
Escola — projeto político-pedagógico — estejam restritas ao trabalho em uma
escola. Mas poderá vir a ser interessante se, à experiência de uma escola,
juntarem-se as de outras, compondo atividades em rede.
No cenário educacional as propostas para a formação docente
proliferam. No entanto, subjaz a esta formação aspectos curriculares e
disciplinares que fazem dos professores meros aplicadores de técnicas, normas,
diretrizes e decisões político-curriculares.
Essa reflexão é importante porque, muitos
de nós, professores,
encontramos nesse ofício de ensinar, uma forma de auto-realização, sentido para
própria existência e até mesmo uma re-significação de nossa condição social. É
tarefa nossa subverter a ordem do funcionalismo dos cursos de formação docente
para o cultivo de uma formação que se preocupe também com a construção
pessoal, com a ética solidária para que nossa representação social seja mais
significativa e valorizada.
Atualmente, estamos vivendo num tempo de precariedade de nossas
certezas, não há receitas, não há formas padronizadas. E isso não deixa de ser
produtivo. Exercita nossa criatividade, nossa imaginação. Coloca-nos frente a
decisões urgentes e emergentes. Para tanto precisamos, no mínimo, ter a certeza
de nossa complexidade como ser humano. A complexidade do ato de aprender,
que une dimensões tão distintas (orgânicas, cognitivas, afetivas e inconscientes,
sócio-culturais) precisa ser reconhecida e mobilizada como facilitadora de um
aprendizado mais comprometido com a identidade do ser humano.
42
Segundo, Freire (2006:94) ......”Me movo como educador, porque
primeiro me movo como gente....”
É com muito clareza, que o nosso Educador aponta como necessidade
fundamental, sermos ensinantes e aprendentes de nós mesmo, neste espaço, onde
se dão as trocas de conhecimentos, que vão modelando o aprendizado entre o ato
de educar e o de aprender, numa relação onde estas ações se fundem em único
contexto de constantes trocas e de diferentes aprendizados.
4.1 Inovação, qualidade e realidade
Muito se tem falado sobre “Qualidade”. Mais ainda, talvez, sobre
“Inovação. As Síndromes de carências afetivas, isolamentos e individualismos,
depressões e ausência de um sentido existencial convivem, lado a lado, com as
grandes conquistas humanas na área do conhecimento e da tecnologia.
A
dinâmica da vida nos surpreende a cada momento. As descobertas de hoje, não
garantem os desafios do amanhã. parece ainda distante a percepção de que
inovação e qualidade são conceitos que não podem ser referenciados,
exclusivamente, ao aspecto material e técnico da construção do conhecimento,
das descobertas científicas, das inovações tecnológicas.
Ainda está distante a percepção de que o ser humano em sua
riqueza e complexidade possui necessidades interpessoais que vão além das que
podem ser satisfeitas pelo desenvolvimento das ciências e pelo primor da
qualidade técnica de produtos e serviços. Acredita-se que uma instituição de
ensino é uma construção das pessoas que a compõem. Assim, seus resultados –
positivos ou negativos – são indissociáveis das qualidades e das limitações de
seus integrantes e dos esforços coletivos. Busca-se nesse processo, o abandono
de posições individualistas ou voluntaristas, ou ainda, aquelas que representam
os interesses estritamente particulares de segmentos do conjunto institucional .
43
Devem acreditar na dimensão ética e humana da educação, no
reconhecimento de cada profissional como cidadão sujeito do seu processo de
trabalho, o que implica na reorientação das relações de trabalho, no cuidado com
o ambiente e com a saúde do próprio
trabalhador, na sua possibilidade de
crescimento e desenvolvimento profissional e, sobretudo, na democratização dos
espaços decisórios institucionais. O desafio que está posto é o de formar
cidadãos educadores e educadores cidadãos.
Segundo
Rubens
Alves
citando;
Neruda:
”Sou
onívero
de
sentimentos, de seres, de livros, de sentimentos e lutas. Comeria toda a terra.
Beberia todo o mar”.
Podemos concluir que todos nós precisamos ser oníveros de nossos
conhecimentos, de nossa criação e principalmente de nossa autonomia.
4.2 Desafios
A formação continuada como direito, responsabilidade institucional e
individual e um dos critérios da profissionalização docente a serviço do
desenvolvimento profissional e melhoria da escola enfrentam grandes desafios.
Dentre eles, destacamos:
A necessidade da formação continuada deve se constituir num
programa global de formação, inter-institucional, articulado com as instituições de
ensino superior responsáveis pela formação de professores e os sistemas ou
redes de atuação profissional. Essa aproximação entre os campos de formação
profissional e o campo do exercício da profissão carrega a possibilidade de fazer
dialogar os saberes da formação e os saberes da profissão, permitindo às
instituições intercambiarem saberes e experiências úteis à formação inicial e
continuada dos educadores......................................................................................
44
A importância do programa de formação continuada deve ser
instituído como uma construção e como resposta proposta pelo projeto políticopedagógico da escola às questões e exigências epistemológicas, políticas,
culturais e pedagógicas, de modo que vá além da concepção de eventos, ou de
aulas - espetáculos, ou ainda de sessões de transferência de conhecimentos.
Mas tomada como um processo de escuta, de estudo, de discussão e de
socialização da prática pedagógica, com vistas a inaugurar ou aprofundar novos
modos de seleção, organização e construção do conhecimento. Encarar a Escola
como o lugar da programação, da formação, da avaliação e de afetivação.
De acordo com Freire(2006:41):
“Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é
propiciar as condições em que os educandos em suas relações
uns com os outros e todos com o professor ou professora
ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como
ser social e histórico, como ser pensante, comunicante,
transformador,
criador,
realizador
de
sonho,
capaz
de
reconhecer-se como sujeito porque é capaz de se reconhecer
como objeto”...
Pensando na escola, sob ótica dos aparelhos ideológicos pode
idealizar-se numa transformação objetivando, suscintar entre os indivíduos que a
compõem, questionamentos sobre as ideologias vigentes, promovendo assim, um
processo de questionamentos do papel social que a escola vem exercendo. Estes
questionamentos podem não solucionar definitivamente, os problemas vividos nas
escolas, mas permitirão reflexões mais amadurecidas e reais sobre os fatos
ocorridos dentro do universo escolar e na sociedade na qual, ela está inserida.
45
Conclusão
O ato de ensinar e aprender não são ações neutras, puramente
técnicas,
dissociadas
ou
desprovidas
de
ingenuidade
e
sem
vínculos
afetivos.Quando nos propomos a interagir nesta relação “Aprender e ensinar”,
construímos os nossos laços e manifestamos diversos sentimentos, que podem
vir de forma exacerbada com uma variedade de identificações e sinalizações,
sejam elas positivas ou negativas. Somos sujeitos interagindo com o outro
aprendendo e ensinando num mesmo espaço. Estamos presos a um
relacionamento que nos afeta diretamente codificando e modificando a nossa
maneira de agir e pensar diante das experiências pelas quais vamos vivenciando
nestas trocas. Sentimo-nos adormecidos e fatos esquecidos se misturam com as
vivencias e sentimentos presentes nos fazendo recriar um novo “Ser” dentro de
nós.
Freud afirma de forma sábia que o importante na relação mestre e
aluno não está e nem se resume em conteúdos e técnicas ensinadas e aplicadas,
mas num saber inconsciente produzido pelas relações e atitudes afetivas na
construção do conhecimento, que registraremos para sempre, porque estaremos
associando sempre, aquele momento afetivo.
É fato que ao lidarmos com os nossos alunos estaremos colocando
a tona toda a nossa realidade e abrindo uma porta para a realidade do outro, e a
nossa enquanto pessoa. Nossos traumas, dilemas, sucessos e insucessos
produzindo no caminhar dessa trajetória de vida. Quando nos abrirmos e nos
permitimos repensar no ato de ensinar deixarmos a porta aberta e tão necessária
para nos revelarmos enquanto pessoas e como aprendentes e ensinantes, nesta
relação amigável de trocas entre o meu “eu” e o “eu” do meu semelhante com
todas as subjetividades e diferenças.
46
A causa deste mal estar subjetivo, no ensino está no ato de
desvendar e desvelar os mais íntimos dos segredos que nos deixa, como
profissional impotente diante de todo nosso aprendizado que sempre valorizou o
professor competente na construção de um bom planejamento, uma boa técnica
de aplicação e uma excelente avaliação. Na verdade
somos pessoas que
falhamos, que odiamos, amamos e nem sempre estamos aptos nos entregar
nesta relação, talvez por que não conseguimos nos reconhecer, enquanto seres
com recalques, com tantos defeitos e desafetos, a serem lapidados e revistos.O
mesmo acontece com nosso aluno, sua história, sua vida. É neste confronto de
personagens é que vamos desvendando os mistérios que nos envolvem e
modelando os nossos seres.
A psicanálise entende que não se trata de uma anomalia, mas de
um fenômeno oculto, uma razão profunda que permite desabrochar sob forma de
“fobia escolar”, “fantasia”, etc. As causas são diversas como
os sintomas
apresentados.
Como
o
nosso
Sistema
Educacional
enfatiza
sempre
o
planejamento, a metodologia e a avaliação como condutor de igualdade e
oportunidade caímos na “ilusão pedagógica”, que os tais procedimentos bem
estruturados possibilitem integralmente resultados satisfatórios e oportunidades
igualitárias ao nosso alunado. Esquecemos que existem mecanismos cognitivos
diferenciados e que não basta ao bom professor, uma boa técnica ou um bom
conhecimento do conteúdo a ser aplicado. Precisamos nos atentar para as
ciências neuro-cognitivas, que buscam entender os esquemas cognitivos de cada
sujeito. Com uma visão psicopedagógica,
esses conhecimentos possibilitarão
entender, de como se dá o domínio dos pensamentos, as racionalizações, as
emoções e conseqüentemente o ato de aprender e ensinar numa relação
intrínsica e com afetuosidade.
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As razões pelas quais, um indivíduo aprende ou não ainda estão
obscuras, pois não está somente focada, numa inteligência artificial. É preciso
compreender como se metaboliza o processo mental de cada indivíduo , que é
um ser único. Com isso, o educador só poderá fazê-lo mediante ao dito
anteriormente, através de critérios afetivos. Fato não muito claro pela pedagogia
em cursos de formação de professores. É com este olhar que a psicopedagogia
se faz necessária nos cursos de formação do educador, pois nela ele terá a
oportunidade de desvendar o mistério que cerca o psiquismo humano e as
questões e afetivas. Não existe fórmula que garanta um bom resultado, mas
existirá uma resistência menor naqueles que procurarem com menos hipocrisia
tentar se despir de preconceitos e verdadeiramente se abrir nesta relação do “seu
eu ’" com o "eu do outro”numa aproximação de contatos.
Surgem diversos sintomas e doenças de origem afetivas que nunca
são reveladas e consideradas como o mal que afeta-nos e ao Sistema
Educacional. Seria interessante, que essa discussão fizesse parte da rotina diária
de nosso trabalho, enquanto educador, nos centros de estudos ou mesmo nos
planejamentos e avaliações. Não podemos nos reter e nos remeter apenas as
questões pedagógicas e psicológicas do “outro” , como senão, tivéssemos um
lado emocional, que está o tempo todo em contato, afetando e sendo afetado com
ato de educar e todo o processo de aprendizagem.
Pelos estudos e pesquisas realizadas concluo, que há necessidade
dos docentes buscarem mais estudos e conhecimentos para entenderem melhor
o papel da Psicopedagogia e tentar excluir da prática docente muitos anseios
que apresentam frente a aprendizagem de seus aprendentes. Fica evidente que
profissionais com conhecimentos psicopedagógicos
apresentam um maior
domínio e compreensão do processo do ensino-aprendizagem, melhor atuação
diante das dificuldades encontradas de seus alunos, maior satisfação em seu
trabalho diário e autonomia para requerer diante da políticas vigentes qualidade
de formação, atuação, salário, e suporte de materiais necessários a sua atuação.
48
Assim, é possível concluir que a formação psicopedagógica conduz o
educador, a uma visão crítica da própria postura, como ensinante/aprendente na
sala de aula, pois o processo será guiado no sentido de atender as
individualidades existentes no processo com suas singularidades cognitivas,
afetivas e sociais.
A repercussão na aprendizagem com o ensino centrado no
aprendente e no ensinante serão o favorecimento da criação de um clima de
confiança, na qual, a curiosidade e o desejo natural de aprender podem ser
alimentados e incentivados. Os aprendentes e os ensinantes se engajarão
eqüitativamente numa relação única de trocas de aprendizados ativando
constantemente o processo de decisão, proporcionando a realização de uma
aprendizagem
significativa
e
efetiva.
Um
sentido
de
comunidade
será
desenvolvido, onde a competição destrutiva de hoje será substituída pela
cooperação, pelo respeito ao outro e pelo auxílio mútuo.
Os aprendentes pregarão a si mesmo e desenvolverão a autoconfiança e auto-estima. Surgirão também numa situação, onde os aprendentes e
ensinantes se descobrirão cada vez mais como fonte de valores, alcançando a
consciência do que o bom,que a vida provém do interior e não depende de
fontes externas. Assim, todos em ações de aprendentes irão encontrar satisfação
na descoberta intelectual e emocional, levando-os a se tornarem autênticos
aprendizes, vencendo todos os seus limites.
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É necessário que os docentes
conheçam os estudos sobre a
especificidade da aprendizagem sob olhar psicopedagógico, pois deste modo,
“aprendentes” e "ensinantes" conduzirão-se num único processo, onde a
experiência dos primeiros serão a fonte inspiradora do trabalho do segundo; onde
a aprendizagem tradicional dará lugar a uma aprendizagem contextualizada, por
sua vez, significativa; e também, onde a motivação de ambos serão a garantia da
realização das metas e objetivos a serem alcançados.
Assim, é possível concluir que a formação psicopedagógica conduz
o educador a uma visão crítica da própria postura, como ensinante na sala de
aula, na escola , pois o processo será guiado no sentido de atender as
individualidades existentes no processo com suas singularidades cognitivas,
afetivas e sociais.
Fica claro, que um professor com visão psicopedagógica fará
a
diferença na atuação de sua prática, com uma ação mais efetiva capaz de criar
condições para revertemos o quadro negativo do dito ”fracasso escolar”ou
“dificuldades
de
aprendizagem”,
buscando
encontrar
nas
informações
psicopedagogicas soluções viáveis para de entendimento, compreensão e
aplicabilidade de recursos para viabilizar o resultado esperado.
“...Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja
pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é
servida como sacramento, para que as crianças
aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a
escola, ela mesma,seja um fragmento do futuro...!”
(Rubens Alves)
É nas palavras do meu estimado educador, que nós professores,
aprendentes aguardamos por um futuro melhor, sem perdermos a iniciativa de
buscarmos outros caminhos, através do conhecimento, que nos levem a construir
uma sociedade mais justa, igualitária.
50
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à pratica
educativa.São Paulo: Paz e Terra, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
ALVES, Rubens. Ao professor com meu carinho. São Paulo: Verus, 2004.
ALVES, Rubens. Se eu pudesse viver minha vida novamente.São Paulo:
Verus,2006
ALVES, Rubens. Ao professor com carinho.São Paulo: Verus, 2004
PICHON-REVIERE, Enrique. Teoria do Vínculo, São Paulo: Martins Fontes, 1998.
NÓVOA, Antônio, Formação Contínua de Professores: Realidade e Perspectivas,
Aveiro, Univers. Aveiro,1991
SCOZ,Beatriz, Psicopedagogia e Realidade Escolar – Um Problema Escolar e de
Aprendizagem, Petrópolis,Ed.Vozes,1999
FRIGOTTO, G . A formação e profissionalização do educador frente a novos
desafios, Florianópolis: VIII Endipe, 1996.
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL. Lei nº 9394,
promulgada em 20/12/1996. São Paulo: Editora do Brasil, 1997.
Caderno Especial do Professor – Jornal Folha Dirigida, 15/10/2006.
SITES: http://www.abpp.com.br/artigos.htm
http://www.psicopedagogia.com.br/
http://www.rubemalves.com.br
http://www.projetospedagogicosdinamicos.kit.net
http://www.espacoacademico.com.br.
http://portal.mec.gov.br/
51
ÍNDICE
Folha de rosto
02
Agradecimento
03
Dedicatória
04
Epigrafe
05
Resumo
06
Sumário
08
Introdução
09
Capítulo I
13
O Papel da Psicopedagogia na Instituição Educacional.
Capítulo II
20
Os obstáculos encontrados para melhorar o ensino brasileiro.
Capítulo III
31
Gestão de aprendizagem numa visão psicopedagógica.
Capítulo IV
38
Professor com visão psicopedagógica será sempre sujeito em situação de
aprendizagem.
Conclusão
45
Referências Bibliográficas
50
Índice
51
Anexos
52
Folha de Avaliação
54
52
ANEXOS
53
54
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Título da Monografia: Professor do Ensino Fundamental com
visão psicopedagogica atenua fracasso Escolar
Autor: Rita de Cássia Sanches Rangel
Data da Entrega: 27/01/2007
Avaliado por:______________________________________
Conceito:______
Avaliado por: _____________________________________
Conceito:______
Avaliado por:_____________________________________
Conceito:______
Conceito Final:_____________________
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fracasso escolar - AVM Faculdade Integrada