ANÁLISE DAS RESPOSTAS OBTIDAS DA APLICAÇÃO DA BERG BALANCE SCALE (BBS) EM IDOSOS KARINA TANIMOTO CARLOS KAZUO TAGUCHI RAPHAELLA RIBEIRO MARTINS PEREIRA ANASTACIA APARECIDA CRUZ Palavras-chave: equilíbrio corporal humano; qualidade de vida, quedas, serviços de saúde para idosos. Introdução O envelhecimento acarreta alterações no equilíbrio corporal causando redução na propriocepção das superfícies de apoio de carga, fraqueza muscular, rigidez, má nutrição nos tecidos e alterações degenerativas nos canais semicirculares do sistema vestibular (Piercy et al., 1994). A possibilidade de manutenção do equilíbrio corpóreo é decorrente da organização neurofuncional das informações vindas do sistema vestibular, sistema visual e de informações proprioceptivas (Kerber et al. 1998; Ganança et al. 2000). Distúrbios de equilíbrio em idosos têm como principal complicação a queda, decorrente de alterações fisiológicas do processo de envelhecimento. (Cordeiro, 2001) As avaliações que englobam o estudo do equilíbrio e que reproduzem com mais fidelidade as situações reais do cotidiano são as que priorizam as atividades funcionais, sendo a Berg Balance Scale (BBS) uma dessas possibilidades com aplicação sistemática. Esta escala foi desenvolvida por Berg et al. (1992), e adaptada por Miyamoto (2003) para a língua portuguesa do Brasil, tendo se demonstrado fortemente preditiva em relação ao não risco de quedas em idosos para um ponto de corte de 45, com especificidade de 90% e sensibilidade de 64% (Riddle; Stratford, 1999). Limitações funcionais, como a perda do equilíbrio, são fatores de risco que levam ao declínio da habilidade de executar as atividades de vida diária e prática (Guralnik et al., 1995), cuja melhora pode ser alcançada por meio de um programa de reabilitação. Porém, são necessários instrumentos de avaliação confiáveis para mensurar a real situação de riscos de desequilíbrios e quedas, e indicar os caminhos efetivos de intervenção. Santos (2006), estudando as características de idosos ativos, verificou que algumas características de manutenção do equilíbrio estão relacionadas ao tipo de tarefa a ser executada, ao sexo e à idade, sendo que as quedas foram predominantes no sexo feminino. O autor não encontrou diferença estatisticamente significante entre os intervalos estabelecidos para faixa etária, e houve um aumento da incidência de quedas múltiplas na medida do avanço da idade. Objetivo Analisar os resultados obtidos a partir da aplicação da BBS em idosos do ambulatório do Hospital Geriátrico e de Convalescentes D. Pedro II de São Paulo. Casuística e Método Trata-se de uma pesquisa clínica, qualitativa e descritiva aprovada pelo parecer de número 024/07 e contemplado como projeto de Iniciação Científica pela FAPESP sob o parecer de número 2007/05443-7. Trinta pacientes asilares com idade superior a 65 anos do Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II foram submetidos à BBS. Pacientes impossibilitados de permanecer em pé independentemente; pacientes portadores de próteses nos membros inferiores e pacientes com amputação nos membros inferiores foram excluídos. A BBS, versão adaptada por Miyamoto (2003), foi efetuada por meio de uma única avaliação, sempre pelo mesmo aplicador. Nesta situação, os resultados cada paciente foi pontuado por três observadores cegos, que foram submetidos a treinamento prévio de observação e avaliação. Todos foram instruídos de abster-se de comentários entre si, bem como estabelecer contato verbal entre eles, com o avaliado e o aplicador. Assim, a casuística (N) de 30 pacientes foi multiplicada por três (número de observadores) o que resultou um total de 90 respostas. Como nota de corte, adotamos neste estudo as normas indicadas por Berg et al. (1989), no qual uma pontuação inferior ou igual a 45 resumiria a possibilidade para quedas futuras. Conforme preconizado pela aplicação desta escala, utilizamos um cronômetro digital, uma régua de 30 centímetros, um banquinho de 20 centímetros de altura, uma cadeira com encosto e sem apoio de braço de 42 centímetros de altura e uma cadeira com encosto e com apoio de braço de 72 centímetros de altura para realização das avaliações, bem como a folha de registro das respostas para cada uma das tarefas avaliadas. O tratamento estatístico baseou-se no teste de normalidade da amostra verificado pelo teste de Kolmogorov-Smirnof. Como os dados não foram aderentes à distribuição normal, apresentando uma significância menor que 0.05, a opção foi utilizar o teste não paramétrico de Mann- Whitney para correlacionar a pontuação das tarefas e da somatória de cada escala de Berg aplicada pelo observador 1 em cada um dos 30 sujeitos da amostra com as variáveis dependentes de gênero, relato de quedas no ano precedente e presença ou ausência de queixa de instabilidade do equilíbrio corporal. Em relação à idade utilizou-se o teste de Kruskall-Wallis. Resultados Pudemos verificar que ocorreu concordância entre os observadores, uma vez que a variação entre as notas atribuídas não foi significativa. Dezesseis (53,3%) idosos relataram eventos de queda, sendo cinco (31,3%) de sexo masculino e 11 (68,7%) do feminino, não ocorrendo diferença estatisticamente significante entre gêneros. Verificamos que com o avanço da idade o número de relato de quedas pregressas aumentou. A distribuição em números absolutos segundo idade, sexo, eventos de quedas encontra-se descrito na Tabela 1. Quinze (50,0%) sujeitos pontuaram abaixo de 45 ou mais na BBS, mostrando que a população avaliada apresentava tendência para quedas, corroborados pelos relatos registrados na Tabela 1 e Gráfico 1. Tabela 1-Distribuição absoluta segundo idade, sexo, eventos de queda e escores totais obtidos, São Paulo, 2008. TOTAL N IDADE SEXO Eventos de quedas 1 72 M 0 54 54 54 2 73 M 1 20 21 21 3 76 M 2 35 35 33 4 80 M 3 54 55 55 5 77 M 4 35 35 36 6 69 M 5 12 12 12 7 O1 O2 O3 89 M 6 30 30 31 8 86 M 7 24 21 22 9 69 M 8 51 51 52 10 83 M 9 44 44 43 11 71 M 10 44 43 44 12 73 M 11 55 55 55 13 67 M 12 48 48 48 14 81 F 13 47 49 47 15 80 F 14 46 45 46 16 92 F 15 29 29 30 17 88 F 16 42 42 40 18 84 F 17 26 25 25 19 65 F 18 42 39 40 20 81 F 19 52 53 52 21 71 F 20 40 41 41 22 87 F 21 50 50 50 23 86 F 22 42 40 40 24 79 F 23 51 48 50 25 70 F 24 52 49 51 26 65 F 25 52 51 53 27 79 F 26 48 51 52 28 74 F 27 45 47 46 29 69 F 28 37 36 37 30 73 F 29 41 41 42 Total=30 X=77,0 Legendas: F=Feminino, M=Masculino, e x=média. X=41,6 X=41,3 Legenda: M=masculino, F=Feminino e x=média. X=41,6 Gráfico 1-Distribuição percentual segundo os escores totais obtidos a partir da aplicação da BBS em idosos asilares 60% 40% 20% 50% 50% score >45 score <45 0% Conclusão: A partir da aplicação da BBS em pacientes asilares pudemos concluir que a tendência à quedas foi observada em um percentual expressivo desses sujeitos, sendo que as variáveis sexo e idade não influenciaram o baixo desempenho nas tarefas solicitadas. Referências Bibliográficas Cordeiro RC. Caracterização clínico-funcional do equilíbrio em idosos portadores de diabetes mellitus tipo 2. São Paulo, 2001.[Tese de mestrado- Universidade Federal de São Paulo/ Escola Paulista de Medicina]. Ganança FF, Ganança CF, Ganança MM, Caovilla HH. Como manejar o paciente com tontura por meio da reabilitação vestibular. São Paulo: Janssen Cilag, 2000. Guralnik JM, Ferruci L, Simonsick EM, Salive ME, Wallace RB - Lower extremity funtion in persons over age of 70 years as a predictor of subsequent disability. N Engl. J Méd, 1995; 332: 556-561. Kerber KA, Enrietto JA, Jacobson KM, Baloh RW. Disequilibrium in older people: A prospective study. Neurology, 1998; [S.I.] 51:574-80. Miyamoto ST. Escala de Equilíbrio Funcional - Versão brasileira e estudo da reprodutibilidade da Berg Balance Scale. São Paulo, 2003.[Tese de mestrado- Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina] Piercy J, Skinner AT. Atendimento aos idosos. In: Fisioterapia de Tidy, Editora Santos, 1994; p.408-416 Riddle DL and Stratford PW (1999): Interpreting validity descriptions of how they are performed and scored.indexes for diagnostic tests: An illustration using the Berg Balance Test. Physical Therapy 79: 939-948. Taguchi CK, Santos RD. Análise dos resultados da tendência a quedas (BBS) em idosos ativos, por meio da aplicação da Berg Balance Scale. Med. reabil, 2006; 26(2):10-13.