VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 Processo de difusão das Unidades de Atendimento Integrado: o caso do Serviço de Atendimento ao Cidadão Emilia Maria Gonçalves Julho 2003 1. Introdução O progresso tecnológico aliado à competitividade alterou o sistema de produção na maioria das empresas, tendo grandes reflexos nos modelos e práticas organizacionais. As máquinas e sistemas automatizados tenderam a substituir a mão-de-obra que realizava tarefas rotineiras e repetitivas, mudando o perfil dos dirigentes e funcionários. Antes, eram requisitos básicos: habilidade manual e energia muscular; hoje, o processo produtivo exige dos empregados inteligência, criatividade e preparação cultural. Esses movimentos vêm estimulando alterações que resultam nas mais diferentes estruturas organizacionais e formas de gerenciamento. De acordo com Lipnack e Stamp (1994), a velocidade da mudança constitui uma poderosa realidade no cotidiano das empresas, que precisam ser capazes de se ajustar com rapidez e flexibilidade, abandonando antigos comandos e controles para competir num mercado cada vez mais exigente e globalizado. Assim como o setor privado, o setor público brasileiro tem envidado esforços para atualizar suas estruturas, visando à melhoria dos serviços prestados. Desde 1991, este segmento vem, mobilizando organizações, servidores e cidadãos para implantação de novos métodos que conduzam a melhores resultados. Nesse ambiente favorável à criação de novas práticas de trabalho, o governo do Estado da Bahia implantou em 1995, o Serviço de Atendimento ao Cidadão – SAC, um sistema integrado de serviços públicos que atende ao cidadão com presteza, comodidade e eficiência superando as expectativas dos cidadãos. O SAC trouxe para o setor público um novo conceito de prestação de serviços ao cidadão, servindo de modelo para outros estados e países. É oportuna portanto, uma reflexão sobre esse projeto, sob o ponto de vista da difusão e adoção de inovações. As novidades precisam ser testadas, ajustadas e aprovadas para que possam ser adotadas ou rejeitadas pelo seus criadores ou usuários. O objetivo deste artigo é analisar sob o ponto de vista teórico, como se dá o processo de difusão de inovações, e como certas práticas organizacionais são adotadas visando a melhoria do desempenho, fazendo um comparativo com a disseminação e aceitação do SAC. 2. Adoção de modelos e práticas organizacionais para melhoria do desempenho Encontrar alternativas para enfrentar as pressões econômicas e sociais para mudar tem sido uma preocupação constante das organizações que vêm, progressivamente, investindo esforços para continuarem ou tornarem-se competitivas no mercado local e internacional com o foco voltado para custos, qualidade e customização. Nessa mudança estão envolvidos os segmentos de manufaturas, serviços privados e públicos que procuram ajustar os seus modelos e práticas organizacionais com o objetivo de melhorar cada vez mais o seu desempenho. Entende-se por práticas organizacionais as novas formas de trabalho e políticas de VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 recursos humanos implementadas para maior satisfação dos empregados, visando o aumento de produtividade e qualidade (Katz, Kochan, e Gobeille, 1983). Dentre as práticas adotadas Kling,(1995) e Ichniowski et al (1996) e outros destacam: a maior participação e envolvimento dos empregados na tomada de decisões e resolução de conflitos; trabalho em equipe; participação dos empregados nos resultados financeiros; flexibilidade e ampla definição para tarefas de trabalho; política de segurança no emprego; política de compensação e reconhecimento; treinamento intensivo para desenvolvimento de habilidades. É possível verificar portanto, que não há apenas uma única “melhor forma” de realizar as atividades organizacionais, como declarava Taylor nos primórdios do séc. XX. Atualmente, existem várias opções de métodos e caminhos para produção de bens ou serviços, que contribuem para melhorar o desempenho das organizações. Conforme relatam Appelbaum e Batt (1994), qualquer alternativa apresenta pontos positivos e negativos além de sofrerem interferência do ponto de vista dos principais responsáveis pelas organizações, os stakeholders. A questão não é mais se ocorrerá alguma mudança nas organizações, mas quais as mudanças que acontecerão e quem dentre os vários stakeholders serão mais beneficiados. Os novos modelos de gestão tiveram sua origem no sistema sociotécnico da Suécia, nas práticas de produção enxuta do Japão, na especialização flexível da Itália e na qualidade diversificada da Alemanha que se difundiram e foram reinventados por organizações de diversos países especialmente os Estados Unidos. O sistema sociotécnico da Suécia baseou-se no trabalho de Tavistock em 1950 na Inglaterra, mas foi nos anos 70 que ocorreram as reorganizações com foco em grupos autônomos de trabalho. Esses grupos visavam atender à demanda dos trabalhadores por mais humanização no trabalho, e assim aumentar a satisfação dos empregados e ao mesmo tempo reduzir turnover e absenteísmo. Os grupos autônomos foram formalmente constituídos e os membros da equipe estavam comprometidos com várias atividades. O reconhecimento dos trabalhadores era efetivado de acordo com a performance da equipe que tinha autonomia para melhoria dos processos e resolução de problemas. O estado regulava as demissões e o fechamento de plantas e garantia o pleno emprego até a recessão dos anos 90. A vantagem desse modelo é a alta qualidade e a melhoria contínua e a sua limitação fica por conta do alto custo e pouca flexibilidade. O sistema japonês de produção enxuta começou com o reconhecimento da dificuldade para manter um fluxo tranqüilo de materiais. Na produção enxuta os engenheiros adotaram os princípios do gerenciamento pela qualidade desenvolvidos por Deming (1984), Juran (1988) e Ishikawa (1985) que consistem em melhoria contínua, qualidade conforme as especificações técnicas e ciclos de controle da qualidade (CCQ) - pequenos grupos para resolução de problemas de qualidade liderados por um supervisor que, apesar do envolvimento dos empregados nas decisões, não tinham autonomia e poder para tomá-las. É também característica do modelo japonês a coexistência com a organização burocrática e autoridade hierárquica. O grande sucesso do modelo japonês da redução de custos, alta produtividade, motivação e auto desenvolvimento resulta em produtos de baixo custo e alta qualidade. O sistema de just in time tem também origem no Japão e exige que os trabalhadores sejam multiqualificados. O modelo de especialização flexível da Itália enfatiza a produção em pequena escala; ampla variedade de bens e alta qualidade; possui uma forte rede de pequenos produtores que atingem eficiência através da especialização e consegue flexibilidade através da colaboração; os representantes dos interesses dos 2 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 trabalhadores através dos sindicatos, barganham salários compatíveis com os níveis nacionais e, o governo municipal provê bens e serviços coletivos que contribuem para a redução de custos e encoraja a cooperação. Como resultado as pequenas firmas em rede inovam mais rápido e juntas, podem competir no mercado internacional e escapar do excesso de capacidade. O sistema alemão de qualidade diversificada exige recursos humanos altamente qualificados e o uso intensivo de tecnologia da informação e da microeletrônica, uma vez que optaram por um segmento do mercado de alto desempenho e de desenhos customizados capazes de comandar altos preços. Essa estratégia de alto valor agregado permite a sobrevivência de firmas com altos salários. Os estudos de Appelbaum e Batt (1994), revelam que as organizações americanas sentiram necessidade de reestruturar a produção em massa, visando implementar um sistema de alto desempenho para que os Estados Unidos continuem competindo no mercado internacional. Esse movimento direcionou a escolha por dois diferentes modelos. Alguns preferiram a produção enxuta com base no modelo japonês, e outros escolheram o princípio da produção em equipe desenvolvida pelos suecos. As referências acima demonstram que ambos utilizam aplicações da tecnologia da informação e ferramentas da qualidade similares, diferindo no entanto na forma como a força de trabalho é mobilizada e como são valorizados e reconhecidos os recursos humanos. Os resultados obtidos são bastante semelhantes nos dois modelos do ponto de vista dos empregadores, mas para os empregados os resultados podem ser diferentes. Os benefícios do envolvimento dos empregados, treinamentos e outras práticas de trabalho de alto desempenho, tendem a ser mais importantes quando novos métodos são adotados como parte integrante de um todo do que de uma forma isolada, como afirma Kling (1995). O mundo competitivo tem como premissas a qualidade do produto, a flexibilidade e a rapidez para adaptar-se às mudanças. Os estudos de Ichiowski, et al, (1996), comentam que as práticas tradicionais de trabalho caracterizadas por tarefas rigorosamente definidas com base no valor do salário; separação clara entre direitos e deveres dos empregados e supervisores; poder de decisão centralizado nos dirigentes e a obediência à estrutura hierárquica para a solução de conflitos vão, pouco a pouco, sendo substituídas pelas novas práticas voltadas para o alto desempenho que requer flexibilidade na organização do trabalho; cooperação entre trabalho e gerenciamento; participação dos trabalhadores nas decisões e nos resultados financeiros alcançados e treinamento intensivo. As pesquisas de Ichiowski, et al, (1996) realizadas em empresas manufatureiras dos Estados Unidos revelaram os seguintes resultados: 1. Inovações nas práticas de administração de recursos humanos podem melhorar a produtividade das empresas, principalmente se atreladas a práticas de trabalho que aumentam a participação do trabalhador, propiciam flexibilidade e descentralizam os objetivos e responsabilidades gerenciais. 2. A adoção de uma única prática de trabalho não melhora a produtividade e, em alguns casos pode até haver um declínio. 3. A maioria das empresas contemporâneas dos EEUU têm adotado algumas práticas de trabalho inovadoras, objetivando aumentar a participação dos empregados. Contudo, somente um pequeno percentual de empresas têm adotado um completo sistema dessas práticas. Isto indica que as empresas devem adotar um sistema de inovações adequado às suas condições para que possam atingir um nível mais alto de produtividade e desempenho. Os custos de implantação dessas práticas devem ser avaliados para verificar a probabilidade de sucesso e determinar os riscos. Para uma melhor compreensão do processo de difusão e adoção de modelos e práticas organizacionais 3 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 convêm refletir sobre inovações, como esses processos ocorrem e quais os elementos que estão envolvidos. 3. Processo de difusão e adoção de inovações Segundo Rogers, (1995), difusão é o processo pelo qual uma inovação é comunicada aos membros de um sistema social, através de determinados canais de comunicação num determinado tempo. Esse processo está diretamente relacionado à comunicação e disseminação de novas idéias. As novidades, segundo Rogers, trazem um certo grau de incerteza envolvendo o processo de difusão que é minimizado pela incorporação de informações adicionais. Quando novas idéias são implantadas, difundidas, adotadas ou rejeitadas, elas terão impactos no sistema social afetando de forma positiva ou negativa os seus membros. Na concepção de outros autores a difusão pode ser entendida como algo que ocorre espontaneamente, sem intenção determinada de difundir a novidade, e utilizam o conceito de disseminação quando se referem a difusões que são intencionalmente planejadas e gerenciadas. Voltando ao conceito de Rogers, o processo de difusão envolve quatro elementos fundamentais: inovação, canais de comunicação, tempo e sistema social. Esses elementos estão presentes em todas as pesquisas realizadas e em todas as campanhas ou programas de difusão. Sendo assim é pertinente relatar a concepção de Rogers sobre cada um desses elementos. Inovação – é uma idéia, uma prática ou um objeto percebido como novidade por um indivíduo ou um grupo que tem interesse em adotá-la. Ao tomar conhecimento de uma inovação os indivíduos ou grupos podem reagir de várias maneiras, desenvolvendo uma atitude favorável ou desfavorável que implica na adoção ou rejeição da nova idéia. A adoção é portanto, na visão de Van de Vem, (1995) “um processo através do qual os usuários selecionam e implementam uma inovação”. Num primeiro momento é necessário obter mais informações para diminuir o grau de incerteza que está presente na adoção de novas idéias. As inovações que são mais facilmente percebidas e adotadas pelos indivíduos ou grupos são aquelas que, de modo geral, têm um baixo grau de complexidade, são compatíveis com a realidade, já foram experimentadas pelos seus criadores, os resultados podem ser observados e apresentam um certo grau de vantagem. Estas cinco qualidade são importantes para explicar a taxa de adesão das inovações. Uma inovação muitas vezes necessita de ajustes e adaptações para que possa ser implementada e adotada pelos os usuários. Esse processo de adequação às necessidades dos usuários é denominado de re-invenção. Há invenções que são mais flexíveis do que outras. As práticas organizacionais japonesas, suecas e italianas adotadas pelas firmas americanas no meado do séc. XX foram, certamente, ajustadas às características culturais e organizacionais dos EEUU. Comunicação – a difusão de novas idéias depende também do processo de comunicação. Rogers (1995), entende por comunicação o processo pelo qual os participantes criam e compartilham informações uns com os outros, visando um entendimento mútuo. A troca de informações é portanto, a essência do processo de difusão onde um indivíduo comunica a nova idéia para um ou vários outros. O canal de comunicação é o meio pelo qual as mensagens chegam de um indivíduo para o outro. Além dos canais de comunicação de massa como rádio, televisão, jornal etc, os canais interpessoais, onde há o envolvimento face a face, são os mais eficientes na persuasão de indivíduos para aceitar novas idéias, 4 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 principalmente, se os indivíduos possuem afinidades. O grau de interação entre os indivíduos ou grupos está diretamente ligado à maior ou menor similaridade dos seus atributos. Aqueles que pertencem ao mesmo grupo passam pelas mesmas dificuldades, comungam os mesmos pensamentos e hábitos e pertencem à mesma classe sócio-econômica, e entre eles a comunicação se dá de forma mais efetiva do que quando os participantes são mais heterogêneos. Nesse caso a comunicação se torna mais difícil dificultando o processo de difusão de novas idéias. Tempo – o terceiro elemento no processo de difusão estudado por Rogers, é o tempo. Ë importante dimensionar o tempo decorrido entre a concepção e a difusão das novidades. Esse tempo pode ser medido entre o momento em que o indivíduo ou grupo tomou conhecimento da inovação, até o momento em que decidiu adotá-la ou rejeitá-la. Uma outra possibilidade é comparar quanto tempo os indivíduos ou grupos mais afeitos às inovações e os mais aversos levaram para implementar as novas idéias, e finalmente é possível medir quantos indivíduos ou grupos adotaram a novidade num determinado período. Rogers relata que o processo de decisão para adotar uma inovação abrange cinco passos principais: 1. Conhecimento – ocorre quando um indivíduo ou grupo começa a entender como a inovação funciona. 2. Persuasão – acontece quando um indivíduo ou grupo forma uma atitude favorável ou não para com a novidade. 3. Decisão – quando um indivíduo ou grupo se dedica às atividade que a levam à escolha de adotar ou rejeitar a inovação. 4. Implementação – ocorre quando um indivíduo ou grupo faz com que a inovação entre em funcionamento. Neste estágio reinvenções provavelmente acontecem visando ajustar as novas idéias às características locais e individuais. 5. Confirmação – nesse momento o indivíduo ou grupo procura reforçar a decisão que já foi tomada. O processo decisório para adotar uma inovação num sistema organizacional é, certamente, mais demorado uma vez que envolve um maior número de indivíduos e grupos e outras variáveis contigenciais. É possível também classificar os indivíduos ou grupos em categorias de acordo com sua maior ou menor predisposição para adotar novas idéias. Sendo assim, Rogers identifica aqueles que são inovadores, os que primeiro aderem às novas idéias, os atrasados e os retardatários. Assim como os indivíduos, as organizações também podem ser reconhecidas conforme sua maior ou menor predisposição a inovar ou adotar novas práticas, só que com o grau de competitividade atual do mercado interno e externo não há mais espaço para as retardatários. Paul David, (1989) também já havia identificado as seguintes razões que afetam a demora no processo de difusão de novas idéias: inicialmente não é vantajoso substituir as velhas tecnologias; é necessário que o processo de difusão esteja bem adiantado para que haja um impacto significativo na produtividade; as novas tecnologias necessitam de um período de aprendizagem para que possam ser amplamente utilizadas; há necessidade de mudanças organizacionais para que as novas tecnologias possam impactar na produtividade e existe uma certa inércia na evolução das organizações para adotarem novas formas de produção intensiva em informação. Sistema Social – este é o quarto elemento envolvido no processo de difusão. Na visão de Rogers, o sistema social corresponde ao conjunto de unidades interrelacionadas que estão ocupadas na resolução 5 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 de problemas para alcançarem um objetivo comum. Um sistema social tem uma estrutura definida de parcerias e acordos das unidades integrantes desse sistema, que dá estabilidade e regulamenta o comportamento do sistema. A estrutura social e de comunicação facilitam ou impedem a difusão de inovações em um sistema. Essa complexa teia inclui indivíduos, grupos informais e organizações que contribuem e influenciam de forma individual, coletiva, autoritária e contingencial quanto à adoção ou rejeição de novas idéias. As inovações, por outro lado, também trazem conseqüências para o sistema social que dependem do funcionamento ou não dos efeitos da inovação no sistema social: 1. Desejáveis ou indesejáveis, isto é, que dependem se os efeitos da inovação funcionam ou não no sistema social. 2. Diretas ou indiretas a depender da responsabilidade pela inovação. Se as mudanças – para o indivíduo ou para o sistema social – ocorrer sob a responsabilidade imediata da inovação ou como um resultado secundário da conseqüência da inovação. 3. Previstas ou inesperadas que dependem das mudanças serem ou não reconhecidas e desejadas pelos membros integrantes do sistema social. Os estudos de Rogers ajudam a compreender as barreiras e obstáculos que são enfrentados pelas diversas organizações quando analisam as diversas alternativas disponíveis para melhorar o desempenho e enfrentar os desafios da competição nacional e internacional. Após essas reflexões sobre práticas organizacionais e difusão, convém analisar como a prática da gestão pela qualidade também contagiou e foi ajustada ao serviço público, mais especificamente, o serviço público brasileiro. 4. Gestão pela qualidade no serviço público O movimento da gestão pela qualidade teve início nos primeiros anos do século XX, quando as organizações atribuíram a determinados funcionários a função de inspecionar os produtos para verificar se os mesmos estariam de acordo com as especificações originais. Essa inspeção consistia no registro dos defeitos detectados após a conclusão do processo produtivo, não sendo possível corrigir as irregularidades. À medida que as organizações foram se tornando mais complexas, em função do seu crescimento, das relações com os seus empregados, da diversificação e inovações no processo produtivo e das exigências dos clientes, foi necessário implementar medidas que pudessem assegurar o padrão dos produtos ou serviços, além de identificar o grau de satisfação do cliente. A tendência foi a busca de uma metodologia que estabelecesse parâmetros capazes de sinalizar os índices de defeitos apresentados evitando sua ocorrência. A engenharia da qualidade e a administração foram as áreas que mais se empenharam em pesquisar métodos e práticas que contribuíssem para a avaliação e melhoria da qualidade, embora sob pontos de vista diferentes. A engenharia da qualidade define qualidade como sendo “conformidade com as especificações técnicas” LIRA (1997). Para ela, verificar se os produtos fabricados estão de acordo com as 6 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 especificações técnicas estabelecidas é fazer controle de qualidade. Para a administração, qualidade é o “atributo dado pelo cliente ao produto ou serviço que satisfaz suas necessidades e expectativas” (ibid.). Essa abordagem é bastante subjetiva, pois para cada cliente pode haver um aspecto do produto que é mais relevante do que o outro. O fabricante ou prestador de serviço precisa conhecer e ouvir as opiniões dos clientes para comprovar se o seu produto é considerado de boa qualidade, pois são estes que atestam e aprovam a sua produção. Embora a preocupação com a qualidade tenha começado nas fábricas, atualmente permeia também as organizações prestadoras de serviços, o governo, e as organizações não-governamentais. No que diz respeito ao setor público, o governo brasileiro, de acordo com a retrospectiva elaborada pelo Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (2000), vem desde 1991, envidando esforços para inserir a administração pública brasileira no contexto da gestão pela qualidade através do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade – PBQP. Embora sem grandes adeptos no início, o PBQP conseguiu semear alguns métodos e técnicas da Gestão pela Qualidade, que serviram para sensibilizar as organizações públicas e seus servidores na transformação da prestação de serviços. Em 1995, o PBQP alinhou suas ações para atender às políticas do Plano Diretor da Reforma do Estado, que elegeu a Qualidade como principal instrumento de mudança da cultura burocrática para uma cultura gerencial, orientada para resultados e foco no cidadão. As ações do PBQP na área pública ficaram assim subordinadas às diretrizes e orientações da Câmara da Reforma do Estado e seriam coordenadas pelo extinto Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado – MARE, cujas competências foram transferidas para o atual Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. A reorientação das ações de governo estimulou a criação em 1995 do Programa da Qualidade e Participação na Administração Pública – QPAP, e em 2000 foi instituído o Programa de Melhoria da Qualidade do Serviço Prestado ao Cidadão, no Plano Plurianual Avança Brasil – PPA, 2000/2003. Conforme o seu Termo de Referência, a implantação da Gestão pela Qualidade na Administração Pública Brasileira deve levar em consideração as particularidades da natureza da atividade pública, que difere dos propósitos e natureza do setor privado, explicitados no Quadro 1. 7 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 Quadro 1- Diferenças entre Setor Público e Privado Setor Público Prestar serviços à sociedade. Setor Privado FINALIDADE Finalidade principal é o lucro que lhe dá capacidade de sobrevivência em um ambiente de alta competitividade. Satisfazer o cliente na obrigação do Estado. PREOCUPAÇÃO Satisfazer o cliente baseado no interesse da empresa. Remunera indiretamente (via impostos) sem ter nenhuma simetria entre quantidade ou qualidade do serviço recebido. CLIENTE ATENTIDO Remunera diretamente a organização pelo serviço prestado ou produto adquirido. A busca da excelência no atendimento a todos os cidadãos ao menor custo possível. METAS São traçadas visando à manutenção e expansão de mercado, tendo por base a competitividade. Fonte: Elaboração própria com base no Termo de Referência do Ministério do Planejamento (2000) O quadro 1 evidencia que, embora o setor privado e o setor público tenham como foco a preocupação em satisfazer o cliente, eles diferem quanto à amplitude de suas metas e ações, e o perfil de seus clientes. Todavia, como já foi dito, o setor público imita as práticas das empresas privadas, visando ao aumento da sua competência técnica e política. É, portanto nesse contexto aliado ao empenho dos dirigentes do Governo do Estado da Bahia em buscar alternativas para melhorar os serviços públicos que, foi concebido em 1995, um sistema integrado de serviços projetado para atender o cidadão com presteza, conforto e resolutividade. 5. Serviço de Atendimento ao Cidadão – SAC As informações e dados relativos ao SAC aqui apresentados são fruto do conhecimento explícito da organização e do conhecimento da autora, que foi integrante da equipe que concebeu e implantou esse projeto, e atualmente ocupa a função de direção operacional desses postos. O projeto SAC surgiu no momento em que o Governo do Estado da Bahia estava buscando alternativas para mudar a imagem da administração pública, caracterizada por: excesso de formalismo; unidades sem capacidade para atender a demanda de serviços; instalações físicas precárias e desconfortáveis; atendimento por privilégio; e servidores desinteressados e desmotivados. Observando iniciativas como o Núcleo de Apoio às Pequenas e Médias Empresas – NAE, implantado em 1992 pela Secretaria de Indústria e Comércio, e as Feiras de Informática, os dirigentes da Secretaria da Administração do Estado da Bahia - SAEB, refletiram sobre algumas opções para melhorar a qualidade da prestação dos serviços públicos. O fator relevante no NAE foi facilitar o registro de empresas para os interessados, reunindo num mesmo espaço físico órgãos da esfera municipal, estadual e federal envolvidos nesse processo e nas Feiras de Informática, organizadas pelo Estado onde eram apresentados projetos e montados stands 8 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 para prestar os seguintes serviços: emissão de Carteira de Identidade e de Carteira de Trabalho, extrato de multas de veículos e outras consultas relativas ao Departamento Estadual de Trânsito. O sucesso do NAE, a crescente demanda por serviços e a constatação da satisfação e elogios do público sinalizaram a viabilidade de transformar o que era temporário em permanente. Esse fato evidencia que a concepção do SAC foi uma reinvenção de experiências anteriores devidamente comprovadas como aborda Rogers (1995). O projeto SAC foi concebido em março de 1995, tendo a SAEB como órgão articulador e condutor do processo. Para tanto foi composta uma equipe multidisciplinar – um arquiteto, dois analistas de sistemas, dois administradores - responsável por efetuar o levantamento de recursos técnicos, humanos e financeiros necessários e disponíveis, e estabeleceu-se uma parceria com as demais secretarias e órgãos do governo estadual e federal que se interessaram em participar do projeto. À luz dos estudos de Rogers (1995), o sistema social era, portanto integrado por indivíduos, grupos e organizações que regidos pelas limitações administrativas e legislativas do serviço público, tinham o desafio de conceber um modelo organizacional que melhorasse a prestação dos serviços público e atendesse às expectativas dos cidadãos e dos governantes. O empenho e o compromisso da alta administração foram fundamentais para realizar as mudanças propostas. O projeto contou com o apoio do governador Dr. Paulo Souto, que tinha como uma das metas para o seu governo a busca da excelência na prestação de serviços públicos à população. Para atingir essa meta de excelência, o modelo proposto teve como fundamento a qualidade centrada no cliente, o comprometimento da alta direção e foco nos resultados como estabelece os critérios do Prêmio Nacional de Qualidade - PNQ (1999). O primeiro posto SAC foi inaugurado em 1º de setembro de 1995, no prédio do Instituto do Cacau no Comércio, ocupando uma área de 1340m², com capacidade para receber 2000 cidadãos por dia, e contava com a parceira de 15 entidades entre secretarias de estado, empresas públicas e alguns órgãos federais. A demanda da população superou as expectativas e, em pouco tempo, outros postos tiveram que ser implantados, enquanto as antigas unidades de atendimento ao cidadão que não apresentavam a mesma qualidade foram desativadas. O SAC ficou também conhecido como Shopping de Serviços Públicos principalmente depois que algumas unidades foram implantas em shopping centers quebrando o paradigma de que o serviço público é incapaz de funcionar nos padrões oferecidos pelos serviços privados. Essa metáfora possibilitou a adoção de práticas que ainda não tinham sido exercitadas no serviço público. A princípio, para coordenar a manutenção e implantar novas unidades, foi criada uma Coordenação Executiva dos Serviços de Atendimento ao Cidadão – Cesac (Lei n. 6.974 de 24.07.1996), órgão em regime especial, vinculado à Secretaria da Administração, com a finalidade de coordenar, planejar, acompanhar, promover, avaliar e supervisionar as atividades necessárias à manutenção e ampliação dos postos do Serviço de Atendimento ao Cidadão – SAC (BAHIA, 1996). A implantação de novos postos e aprovação desse serviço pelos usuários repercutiram em outros serviços públicos, que começaram a solicitar a colaboração técnica da Cesac para melhorar o funcionamento das suas unidades, a exemplo de delegacias, hospitais e postos do trabalhador. Para atender a essa demanda, a Cesac passou por dois processos de reestruturação organizacional que 9 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 resultaram na criação da atual Superintendência de Desenvolvimento do Serviço Público e Atendimento ao Cidadão – Sesac (Decreto n. 7.615 de 22.06.1999), que tem por finalidade: planejar, promover, coordenar, acompanhar, avaliar e supervisionar a prestação de serviços públicos estaduais, bem como realizar as atividades necessárias à manutenção e ampliação dos Postos de Serviços de Atendimento ao Cidadão. A estrutura organizacional da Sesac segue o modelo de departamentalização funcional, com três Diretorias finalísticas (Decreto n. 8.008 de 31.06.2001) - Diretoria de Operações do SAC, Diretoria de Avaliação da Gestão dos Serviços Públicos e Diretoria de Desenvolvimento dos Serviços Públicos e uma Coordenação Administrativa Financeira subordinadas a um Superintendente. Existe também um Comitê Consultivo formado por representantes de cada um dos órgãos/entidades que prestam serviços nos postos SAC, que tem como competência acompanhar e avaliar as atividades desenvolvidas nos postos, em consonância com as diretrizes estabelecidas pela Sesac. A estrutura tradicional, burocrática e hierárquica da Sesac dá suporte a uma formação flexível que congrega todos os parceiros envolvidos, preservando a sua heterogeneidade e influenciando positivamente na melhoria da prestação de serviços. A convivência com a diversidade dos parceiros e a teia complexa de relações que se estabelece para manter funcionando a contento, esses postos de atendimento, faz com que o SAC seja o precursor de um modelo de rede interorganizacional no setor público. As redes são novas formas de vida organizacional que vêm sendo constituídas em todos os níveis de organização para enfrentar os desafios da atualidade, uma vez que os modelos tradicionais, fundamentados na hierarquia e na burocracia, não estão sendo suficientes para superá-las. As redes reúnem várias modalidades de organização com um propósito unificado, visando obter benefícios tangíveis. (Lipnack; Stamp, 1994). Esse modelo favorece o gerenciamento dos serviços, a correção de falhas e a implantação de melhorias, desde que todos os integrantes estejam comprometidos com a qualidade e os resultados. Mesmo que estejam vinculados a uma estrutura organizacional formal, existe um ambiente favorável que tende a permitir aos parceiros adaptarem-se às exigências internas e externas, compartilhando suas dificuldades e soluções, o que faz lembrar o modelo italiano de especialização flexível Appelbaum e Batt (1996). “Hierarquia, burocracia e redes combinam-se para administrar organizações de grande e pequeno porte para diferentes necessidades” (Lipnack; Stamp, ibid. p.41). O modelo SAC rompe também com o princípio administrativo da unidade de comando – cada subordinado presta conta apenas a um chefe – defendido por Fayol e que caracteriza as organizações burocráticas, de acordo com Prestes Motta e Bresser Pereira (1988), uma vez que as equipes de atendimento de cada unidade estão duplamente subordinadas. Tecnicamente estão ligadas a suas hierarquias verticalizadas de origem, representadas localmente pelo supervisor de cada unidade e operacionalmente articuladas e alinhadas à administração horizontalizada dos postos SAC. Essa sobreposição de dois tipos de hierarquia confere ao Posto SAC a forma matricial de gestão que altera as relações entre chefes e subordinados, demandando de ambos um conhecimento das normas administrativas dos postos e das normas específicas para a execução dos serviços. Os gerentes precisam portanto, de preparo e flexibilidade para lidar com situações diversas e os funcionários, disposição para trabalhar em equipe com foco nos resultados. Os postos SAC contam hoje com 29 parceiros entre entidades públicas das esferas federal, estadual e 10 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 municipal, e entidades privadas que oferecem uma gama de serviços de interesse dos cidadãos. Todos que instalaram unidades de serviço nos postos da capital e do interior, adequando-se ao padrão de atendimento exigido na gestão dos SAC, sem abrir mão dos valores e crenças das suas culturas originais. Os postos SAC têm como princípios básicos o foco no cidadão e a excelência no atendimento que podem ser traduzidos como: atender bem, isto é, ser atencioso e fornecer corretamente as informações solicitadas; minimizar o tempo de espera; oferecer resolutividade na prestação dos serviços. Além dos órgãos da esfera federal, estadual e municipal, a SAEB/Sesac estabeleceu parceria com setor privado mediante a terceirização de serviços que dão suporte ao funcionamento do SAC. Dentre esses destacam-se: treinamento voltado para atendimento; telemarketing; caminhões onde funcionam as unidades móveis; foto, fotocópia e transporte para funcionários das unidades móveis. Hoje existem em funcionamento no Estado da Bahia 22 postos fixos, sendo oito postos em Salvador e quatorze no interior, além de duas unidades móveis que percorrem todo o estado e participam de feiras e eventos voltados para o cidadão. O sucesso do serviço móvel incentivou a Secretaria da Administração a propor uma parceria com a Secretaria da Saúde para implementação de um SAC Saúde Móvel para prestar atendimento médico a população carente nas especialidades de clínica geral, ginecologia, oftalmologia e odontologia. Esse serviço foi implantado em fevereiro de 2000 e quinzenalmente saem 9 caminhões para atender aos municípios mais carentes do estado. Além de postos fixos e móveis, o cidadão tem a opção do SACNET que oferece informações sobre serviços públicos e a possibilidade de efetuar alguns desses via Internet. 6. Difusão do modelo O Governo do Estado da Bahia tem sido solicitado a assessorar outros estados e países na implantação de serviço similar, recebendo freqüentes visitas técnicas com o objetivo de conhecer essa inovação, reconhecida pela Organização das Nações Unidas - ONU como um modelo de referência para o serviço público (Karaborni; Andrade; Gonçalves, 1999). O Quadro 2 revela que no período de 1997 a julho de 2003 a Bahia recebeu cerca de 22 delegações estrangeiras interessadas em conhecer a experiência do SAC. Entretanto, como relata Rogers, o processo decisório para adotar uma inovação abrange cinco passos: Conhecimento, Persuasão, Decisão, Implementação e Confirmação. Em geral todos tiveram uma atitude favorável para com a novidade mas, face a diversas variáveis peculiares a cada um dos países, apenas Portugal e Colômbia (Bogotá) passaram por todas as etapas do processo decisório. 11 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 Quadro 2 – Missões estrangeiras que visitaram o SAC Ano Visitas 1997 Portugal (março, junho) Portugal (fevereiro) EUA (março) Cabo Verde (maio) El Salvador (junho) São Tomé e Príncipe (outubro) PALOPS - Encontro de Países de Língua Portuguesa (Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde) (novembro) Bélgica (novembro) 1999 Bélgica El Salvador (agosto/setembro) Cuba (agosto/setembro) Marrocos (agosto/setembro) Filipinas (agosto/setembro) Trindad e Tobago (agosto/setembro) 2000 China (setembro) Costa Rica (setembro) 2001 Cabo Verde (janeiro) Colômbia Nicarágua El Salvador 2002 El Salvador (janeiro) Grupo de empresários da Nigéria (janeiro) 2003 Argentina (março) Chile (março) Honduras (março) Nicarágua (abril) Nigéria (maio) Moçambique (junho) 1998 Fonte: Sesac 2003 Ao analisarmos a disseminação do modelo SAC no âmbito nacional, podemos verificar que praticamente todos os estados da federação no período de 1997 a julho de 2003 implantaram serviço similar, como explicita o Quadro 3. Quadro 3 - Unidades de Atendimento Integrado a partir do modelo SAC ESTADOS/PAÍSES POSTOS Santa Catarina SACI – Serviço de Atendimento ao Cidadão 09/91 Rio Grande do Norte Central do Cidadão 07/97 Minas Gerais PSIU 09/97 São Paulo Poupa Tempo 10/97 Pará SACI – Serviço de Atendimento ao Cidadão 08/98 Ceará Casa do cidadão 01/98 Maranhão Shopping do Cidadão 02/98 Amazonas PAC – Pronto Atendimento ao Cidadão 03/98 Pernambuco Expresso Cidadão 06/98 Rio Grande do Sul Central de Serviços ao Cidadão 06/98 Portugal Loja do Cidadão 04/99 Goiás Vapt-Vupt - Serviço Integrado de Atendimento ao Cidadão 10/99 Mato Grosso do Sul Central da Cidadania 11/99 Alagoas JÁ – Central de Atendimento ao Cidadão 12/00 Paraíba Casa da Cidadania 03/01 Rondônia Shopping do Cidadão 05/01 INAUGURAÇÃO 12 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 Paraná Centro de Administração Regional 05/01 Sergipe CEAC – Centro de Atendimento ao Cidadão 07/01 Rio de Janeiro Rio Simples 10/01 Amapá CAP – Central de Atendimento Popular Distrito Federal Na Hora 06/02 Piauí Vida Nova Cidadão 05/02 Mato Grosso Ganha Tempo 04/03 Vitória /ES Casa do Cidadão 07/03 Colômbia/Bogotá SUPERCADE – Centro de Atenção Distrital Especializados ½ Previsto 2003 Fonte: Sesac/DOS A análise do Quadro 3 constata que, a partir da consolidação do modelo, dos 26 estados brasileiros 22, mais o Distrito Federal já implantaram Unidades de Atendimento Integrado. A flexibilidade do modelo permitiu que os interessados em adotá-lo realizassem os ajustes necessários para adequa-lo à realidade local. Os canais de comunicação foram de grande importância para a difusão da tecnologia SAC. A ONU, o Banco Mundial, o governo federal e os usuários foram os responsáveis pela disseminação e aprovação desse modelo em tão curto espaço de tempo, conforme demonstra o Quadro 4. O governo federal através do Ministério de Orçamento e Gestão criou em 1998 o Programa de Atendimento Integrado para viabilizar, com recursos do PENUD, financiamento de móveis, equipamentos, softwares e treinamento destinados aos estados interessados em implantar unidades similares ao SAC. Quadro 4 - Divulgação do Modelo SAC Data Principais Eventos 02/07/1995 Apresentação do projeto SAC pelo Secretário de Administração no Rio Grande do Norte no fórum sobre Reforma do Estado e Avaliação do Desempenho no Setor Público 16/12/1995 Ministro Bresser Pereira visita o SAC e aprova o modelo 07/02/1996 Secretário da Administração faz palestra sobre o SAC na Escola Nacional de Administração Pública em Brasília 26/10/1996 Governo federal, através do MARE, inicia a difusão em todos os estados da Federação da idéia do Serviço de Atendimento ao Cidadão -SAC. 30/10/1996 Missão do BID conhece SAC da Bahia; Banco Internacional estuda proposta para financiar a instalação do serviço nos Estados. 27/09/1997 Exposição sobre SAC nos EUA, seminário A Tecnologia da Informação na Administração Pública, realizado na cidade de Palm Beach na Flórida. 12/12/1997 Nações Unidas recomendam o uso do SAC em nível internacional, estimulando países de todos continentes a aplicar a idéia baiana. 20/03/1998 Governador da Bahia, Paulo Souto, viaja para os EUA, onde assina acordo com as Nações Unidas para internacionalizar o SAC. 15/05/1998 SAC lançado em nível federal, e a ministra da Reforma, Cláudia Costin, se propõe a destinar verbas para que outros Estados implantem o serviço SAC BRASIL, depois passou a ser o Programa de Atendimento Integrado. 13 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 02/07/1998 Secretário geral das Nações Unidas , Koffi Anan, conheceu o SAC na sua primeira visita oficial ao Brasil. 11/10/1998 Modelo do SAC adotado pela Previdência Social. 07/2001 SAC é divulgado no encontro de Governo Eletrônico para Países em Desenvolvimento promovido pelo Banco Mundial, em Washington D.C. 10/2002 SAC é divulgado no VII Congresso Internacional do CLAD, Lisboa Portugal, com a apresentação "Modelo Organizacional para Melhoria na Prestação de Serviço Público". Fonte: Sesac/DOS A tecnologia SAC foi adotada também na concepção da reestruturação das Agências do Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS, Sala do Cidadão do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, Delegacias de Polícia e dentro em breve no SAC Empresarial. Em recente pesquisa realizada com 10 dos 23 estados que implantaram o modelo. e a Loja do Cidadão em Portugal, quase todos agregaram novas idéias ao modelo original, confirmando mais uma vez a reinvenção no processo de difusão a que se refere Rogers. O Quadro 4 resume as principais inovações implementadas por esses estados. Quadro – 4 Inovações implementadas a partir do modelo SAC ESTADOS RE-INOVAÇÕES Bahia – SAC SAC Móvel Documentos e Sac Saúde Móvel Amazonas – PAC Circuito interno de TV, disponibiliza informações e assessoria para os municípios interessados em implantar modelo similar. Goiás – Vapt-Vupt Aferição de desempenho individual e coletivo estabelecendo sistema de gratificação variável. Mato Grosso do Sul Disponibiliza informações e assessoria para os municípios interessados em implantar modelo similar. – Central da Cidadania Maranhão – Viva Cidadão Forma de gerenciamento. Uso intensivo do atendimento com hora marcada. Pará – SACI Barco do Cidadão, levando cidadania à população ribeirinha do estado. Rio Grande do Norte Adoção de uma equipe de supervisão de atendimento e uma consultoria de ética e qualidade no atendimento. - Central do Cidadão Rio de Janeiro - Rio Simples São Paulo - Poupa Tempo Serviço de auto-atendimento com orientadores. Serviço móvel com links via satélite utilizandose da banda KU. Implantação de cursos de informática e cidadania. Central de cartas com encaminhamento para alfabetização. Implantação de um banco de dados chamado de Guia sobre Serviços Públicos, que serve de base para o atendimento telefônico (Disk-Poupa Tempo). Implantação, em parceria com os Correios, do "Escreve Cartas" para auxiliar a população analfabeta a comunicar-se por escrito com parentes, amigos, etc à custo zero. Santa Catarina – SACI Constituição de um condomínio de serviços públicos. O Projeto SACI é uma sociedade sem fins lucrativos regido pelas disposições legais, aplicáveis a esta forma de administração. Portugal Implantação de unidades menores denominadas PAC- Posto de Atendimento ao Cidadão, vinculadas a uma determinada loja. Os PACs possuem apenas um ou dois funcionários com um computador para prestar informações, orientações e dar entrada em solicitações. - Loja do Cidadão Fonte: SESAC/DOS Com base em pesquisa realizada em jul/2003. 14 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 Vale ressaltar que, embora não tenha sido realizada avaliação mais sistemática para medir os resultados do modelo, a não ser as pesquisas de satisfação dos usuários e as estatísticas de atendimento, todos concordam que para o cidadão houve uma melhoria na agilização dos serviços e na forma de atendimento, com a eliminação de intermediários, além da diminuição dos custos com locomoção até os órgãos públicos. Do ponto de vista dos servidores públicos houve uma melhoria na capacitação, auto-estima e na recuperação da imagem do servidor perante ao público. Esse modelo desencadeou também a necessidade do redesenho dos processos e adequação da retaguarda dos órgãos às novas demandas e trouxe também uma melhoria nas relações do governo com a sociedade. O projeto SAC tem, ao longo desses 07 anos, implementado melhorias constantes para atender às necessidade dos seus usuários que se tornam cada vez mais conscientes dos seus direitos e, consequentemente, mais exigentes. 7. Conclusões A análise da difusão do modelo organizacional do SAC permitiu identificar os quatro elementos principais que integram o processo de difusão a que se refere Rogers,(1995): inovação, comunicação, tempo e sistema social. O SAC é considerado uma inovação na prestação de serviços que chamou atenção dos organismos públicos brasileiros, dos cidadãos e de entidades estrangeiras desenvolveram-se entre eles de imediato, uma atitude favorável que resultou na adoção da nova idéia. Este fato pode ser atribuído à similaridade dos problemas enfrentados pelos serviços públicos, à disponibilidade de informações sobre o funcionamento do modelo e aos resultados obtidos, diminuindo assim o grau de incerteza para implementação da novidade. Acrescenta-se também a possibilidade de adequar o modelo às peculiaridades de cada estado ou país, permitindo re-invenções que vieram agregar valor ao projeto original. Os canais de comunicação foram e são de grande importância para a difusão do modelo principalmente, quando ocorre o envolvimento face a face, auxiliando no esclarecimento de dúvidas e sugestões. A troca de informações é a essência do processo de difusão onde um ou mais indivíduos compartilham suas idéias Rogers, (1995). O tempo decorrido entre a concepção e a difusão do projeto foi de aproximadamente um ano. Os dados e informações levantadas revelaram que após dois anos da inauguração do primeiro posto SAC, em 1997 portanto, três estados brasileiros implantaram unidades de atendimento integrado com base no projeto concebido pelo estado da Bahia: Rio Grande do Norte, Minas Gerais e São Paulo. Atualmente 22 estados dispõem de postos similares. Segundo Rogers (1995), o processo decisório para adoção de novas idéias passa por cinco etapas: conhecimento, persuasão, decisão, implementação e confirmação. Com base nos depoimentos de alguns estados, a etapa mais complexa foi a da decisão, em decorrência do tempo exigido para convencer os possíveis integrantes a respeito das vantagens de aderirem a essa novidade, e a superação de algumas variáveis contingenciais. O sistema social é definido por Rogers como o conjunto de unidades interrelacionadas que estão ocupadas em resolver problemas para atingir um objetivo. Embora não tenha sido realizada avaliação sistemática para aferir os impactos do modelo, há uma concordância geral sobre os benefícios na prestação dos serviços para o cidadão; na valorização do servidor e no resgate da sua imagem perante o público; e na adequação da retaguarda às novas demandas. Essas ações resultaram também na melhoria das relações do governo com a sociedade. Esses resultados positivos vieram responder aos anseios do 15 VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003 sistema social e as mudanças para o cidadão foram imediatamente creditadas a essa inovação. Para atingir a meta da excelência na prestação dos serviços públicos o modelo SAC fundamentou-se nos princípios da gestão pela qualidade, tendo como foco a satisfação dos seus clientes externos e internos, melhoria contínua dos processos, treinamento, uso intensivo de tecnologia e comprometimento com os resultados. Para garantir que as mudanças implantadas não venham a entrar em colapso, o modelo necessita ser monitorado, avaliado e aperfeiçoado especialmente nos seguintes aspectos: manutenção preventiva de equipamentos e instalações, gestão de recursos humanos, aperfeiçoamento dos processo e utilização de novas tecnologias. É preciso a cada dia re-inovar para atender e antecipar-se as expectativas dos cidadãos que encontram-se cada vez mais conscientes dos seus direitos. 8. Referências Bibliográficas APPELBAUM, E. E BATT, R. (1994), The New American Workplace Ithaca, New York: ILR Press. BAHIA. Secretaria de Administração. SAC – Serviço de Atendimento ao Cidadão. Projeto de criação e implantação de postos. Salvador, mai. 1995. BAHIA. Lei n° 6.974 de 24 de julho de 1996. 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Administradora e Mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia em 2001. Trabalha na Administração Pública Estadual desde 1978 e integrou a equipe de implantação do projeto SAC. Atualmente Diretora Operacional da Superintendência de Desenvolvimento do Serviço Público e Atendimento ao Cidadão - Sesac e leciona Organização Sistemas e Métodos e Administração de Recursos Humanos nas Faculdades Jorge Amado. Anteriormente Diretora de Gestão Organizacional do Centro de Desenvolvimento da Administração – CDA, da Secretaria da Administração do Estado da Bahia, Gerente de Organização e Métodos do CDA , Assessora de Programação da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. Secretaria da Administração Superintendência de Desenvolvimento do Serviço Público e Atendimento ao Cidadão –Sesac 2ª Avenida, 200 – 1º andar, sala 106 – Centro Administrativo da Bahia - CEP 41.750-300 Salvador, Bahia, BRASIL E-mail: [email protected] www.sac.ba.gov.br Tel.: (71) 370-3304/3122 Fax: (71) 370-3315 17