GRÁFICO 1 · Participação das Despesas com as Funções Defesa Nacional e Segurança Pública sobre o Total das Despesas Realizadas Unidades da Federação – 1995-2005 Distrito Federal Distrito Federal Rondônia Minas Gerais Rio de Janeiro Rondônia Santa Catarina Distrito Federal 2005 Maranhão 2000 Amapá 1995 montante de gastos que têm sido destinados a essa área específica. Através da construção de séries históricas, é possível observar o comportamento da destinação percentual dos gastos em segurança em relação ao total de gastos por Estado, ao longo dos últimos anos. Pode-se também, comparar as unidades federativas entre si, observando quais têm dotado maiores recursos percentuais para seus respectivos aparatos. O cruzamento entre essas informações e aquelas referentes ao comportamento dos indicadores de violência por Estado não deve ser encarado como conclusivo, mas pode sugerir algum indício sobre possíveis conexões entre volume de investimentos públicos e índices de violência. A despeito da relevância desse tipo de análise, as limitações impostas pela forma como as informações estão disponíveis não devem ser desconsideradas. As planilhas orçamentárias de responsabilidade dos órgãos públicos apresentam grau de agregação muito elevado. As áreas de despesas são agregadas em funções e cada uma delas é decomposta em algumas subfunções, que representam o único detalhamento sobre a natureza dos gastos a que se tem acesso. No caso dos gastos executados pelas unidades federativas entre os anos de 1995 e 2001, a função segurança pública aparece agregada à defesa nacional. Apenas em 2002 que essas funções foram separadas. Por outro lado, somente a partir de 2004, a função segurança pública é desagregada, mesmo assim em apenas quatro subfunções, sejam elas: policiamento, inteligência, defesa civil e outras despesas. A agregação segurança pública e defesa nacional não compromete significativamente a construção de uma série histórica, já que a segunda (defesa nacional) é uma atribuição pre- 15 análise do que foi executado nos orçamentos é uma importante ferramenta para a identificação de estratégias e ordens de prioridade de investimentos nas mais variadas áreas de atuação do poder público. Isso vale, sobretudo, para aqueles setores em que o montante dos recursos não está predefinido por imperativo constitucional. Esse é o caso da segurança pública. Como se sabe, a segurança pública é uma atribuição constitucional predominante dos poderes Executivos estaduais. A magnitude alcançada pelo problema da segurança, no entanto, levou o governo federal a assumir uma postura diversa da omissão, escudada no texto constitucional, que lhe caracterizou durante décadas. Desde 2000, o governo federal tem sido chamado a participar mais efetivamente dos investimentos no setor, auxiliando os Estados com recursos financeiros e técnicos. Iniciativas como o fortalecimento da Secretaria Nacional de Segurança Pública, a celebração de convênios com prefeituras e governos estaduais para investimento no setor, a criação do Fundo Nacional de Segurança Pública, em 2001, e outras medidas correlatas traduziram esse movimento. Existem, ainda em fase de implantação e consolidação, importantes iniciativas de monitoramento e controle dos investimentos e de parcerias do poder federal com as unidades federativas, em diferentes áreas concernentes à segurança pública. A análise que se segue é um exercício exploratório dos gastos dos Estados e do Distrito Federal em segurança pública e, portanto, restringe-se às planilhas orçamentárias produzidas pelas unidades federativas. Julgou-se que é pela verificação desses documentos que se encontram as informações mais importantes sobre o 10 A em qualquer análise baseada nos gastos orçamentários tal como esta aqui apresentada. O que se fará, a seguir, é uma análise exploratória sobre os gastos com segurança pública pelas unidades federativas, com base nas planilhas de gastos dos orçamentos dos anos de 1995, 2000 e 2005. Como apenas a partir de 2004 a função segurança pública foi desagregada de defesa nacional, optou-se por reagregá-las para o ano 2005, com o intuito de viabilizar a comparação. Como os gastos com defesa nacional por parte dos Estados e DF são quase ou literalmente nulos, tal operação não compromete a análise. Como se pode observar, houve um aumento médio de 2% nos orçamentos do total das unidades federativas para a área de segurança, entre 1995 e 2005 (Tabela 46), sendo que boa parte dos Estados ficou próxima dessa média. Cabe destacar os casos do Acre, Amapá, Amazônia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Roraima, em que o crescimento foi bem maior do que a média nacional. Por outro lado, alguns Estados 5 João Trajano Sento-Sé | Eduardo Ribeiro 0 Despesas orçamentárias das unidades federativas: exploração preliminar ferencial da União. Desse modo, os gastos das unidades federativas nesse setor tende a ser nulo. A inexistência de maiores informações sobre a natureza dos gastos até 2003 e seu reduzido detalhamento para 2004 e 2005, contudo, impõem limites inquestionáveis à análise. A subfunção demais gastos, por concentrar um percentual expressivo dos gastos, poderia ser desagregada. O mesmo vale para a subfunção policiamento. Mesmo o item inteligência, dado mais importante e eloqüente de que se dispõe, é amplo demais. Os reduzidos gastos percentuais aí observados talvez justifiquem a não desagregação, mas vale antecipar que tal comportamento atesta o pouco investimento dos estados e Distrito Federal num setor, hoje, tido como prioritário por especialistas e gestores em segurança. Outra limitação dos dados diz respeito a uma tendência, mais intuída do que garantida empiricamente, de aumento de investimentos em outras áreas sociais concebidas como iniciativas de prevenção à violência. Distribuídas em funções diversas, elas não são contempladas Fontes Ministério da Fazenda/Secretaria do Tesouro Nacional – STN; Ministério da Justiça; Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 121 como Paraná, Pernambuco, Piauí e Rondônia, diversamente da tendência dominante, apresentaram redução, no período. O Gráfico 1 apresenta a participação percentual das despesas com as funções de defesa nacional e segurança pública sobre o total das despesas realizadas, ilustrando a elevação geral do peso dado pelos Estados para essa função. Tomando o ano de 2005 como referência, as maiores participações ocorrem em Rondônia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Alagoas. O Distrito Federal, onde a média das despesas nessas funções orçamentárias ficava em torno de 10%, entre 1995 e 2005, é um caso curioso: registrou os maiores valores em 1995 e 2000 e diminuiu para apenas 1,7%, em 2005. Os Estados com menor participação, entre 1995 e 2005, foram Paraíba, Ceará, Amapá e Roraima, com uma média inferior a 5%. Ainda com o intuito de acompanhar a evolução dos gastos na área por Estado, foram calculados os custos despendidos per capita. Também aqui a tendência média é de aumento significativo. Na média nacional, esses gastos quase quadruplicaram. Destaca-se que três unidades federativas (Acre, Amapá e Rio de Janeiro) chegaram, em 2005, a gastar mais de R$ 200,00 per capita em segurança pública. Vale também registrar que, mesmo para aqueles Estados em que o percentual em 2005 foi inferior ao de dez anos antes, houve um aumento significativo do volume de gastos por habitante (Tabela 47). Com o intuito de verificar, ainda que de maneira apenas tentativa, possíveis correlações entre aumento percentual dos gastos e índices de criminalidade, elaborou-se a Tabela 50. Nesse caso, contudo, trabalhou-se apenas com os percentuais orçamentários de 2004 e 2005. Como se pode observar, os Estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, Alagoas e Amapá apresentaram taxas de homicídios por 100 mil habitantes muito superiores à média nacional. Segundo os dados da Tabela 46, Amapá e Rio de Janeiro registraram crescimento dos gastos em 120 GRÁFICO 2 · Taxas de Homicídios (1) e Participação das Despesas com as Funções Defesa Nacional e Segurança Pública sobre o Total de Despesas Realizadas Unidades da Federação – 2004 100 Rio de Janeiro 80 Amapá Alagoas 60 Distrito Federal Rondônia São Paulo Paraná Goiás 40 Roraima Rio Grande do Sul 0 20 Ceará Amazonas Mato Grosso do Sul Mato Grosso Pará Bahia Tocantins Piauí Minas Gerais Acre Paraíba Rio Grande do Norte Maranhão 12,5 10,0 7,5 5,0 2,5 0 Santa Catarina Fontes Ministério da Fazenda/Secretaria do Tesouro Nacional – STN; Ministério da Justiça; Fórum Brasileiro de Segurança Pública. (1) Por 100 mil habitantes. 122 segurança na série de dez anos, enquanto Pernambuco apresentou decréscimo, em direção oposta à tendência nacional. Também Amapá e Rio de Janeiro, conforme a Tabela 47, estão entre as unidades federativas com maior volume de gastos per capita. Nenhum dos quatro, contudo, está entre aqueles com maior crescimento dos gastos em segurança, entre 2004 e 2005. O caso do Piauí deve ser encarado com reservas, pois o aumento é extremamente pronunciado, levando à hipótese de ocorrência de algum problema no preenchimento dos dados. Tomando-se por base o ano de 2004, o Gráfico 2 mostra a distribuição dos Estados por taxa de homicídios e despesas realizadas. Cabe destacar os casos do Rio de Janeiro, com altos percentuais de gastos em segurança e a maior taxa de homicídios do país, e de Santa Catarina, com um dos mais elevados percentuais com gastos e a menor taxa de homicídios do Brasil. Nos últimos anos, tem se constituído um aparente consenso sobre a urgência de investimentos na área de inteligência como recurso indispensável para a redução de alguns dos principais tipos de criminalidade violenta, mas essa tendência não se revelou nos dados disponíveis. Como já foi mencionado, apenas em 2004 a função segurança pública foi desagregada de defesa nacional, quando esta última também passou a ser desagregada com quatro subfunções. O investimento em inteligência é uma das novas subfunções disponíveis nas planilhas de gastos das unidades federativas. Na Tabela 48, verifica-se ausência sistemática de investimentos nessa subfunção e decréscimo de investimentos em várias unidades federativas. Cabe destacar, por outro lado, o crescimento bastante expressivo no Pará e em São Paulo e um aumento acentuado em Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Roraima. Ainda que seja possível supor que os dados disponíveis não retratem exatamente o que se tem feito na área de inteligência, os números observados não dão razão para otimismo de qualquer espécie. Finalmente, apresentam-se os dados sobre gastos no sistema prisional, registrados na subfunção custódia e reintegração social, que faz parte da função direitos da cidadania (Tabela 49). Cabe assinalar que dois estados (Santa Catarina e Rondônia) não declararam gastos na função direitos humanos e cidadania. Vários outros não registraram gastos na subfunção custódia e reintegração social, enquanto alguns mostraram percentuais bastante altos nessa subfunção. A elaboração dessa tabela, portanto, justifica-se muito mais pelo que instiga a pensar do que propriamente pelas informações. Assim como no caso da segurança pública, seria desejável que os gastos com o sistema prisional se tornassem uma subfunção. Feito isso, seria fundamental um detalhamento da natureza dos gastos feitos nesse setor. Tal como disponível hoje, pouco se pode saber. Aquelas unidades federativas que concentram os gastos da função atual no sistema prisional empreenderam esforços na melhoria do mesmo ou reduziram seus investimentos em direitos da cidadania na manutenção de presídios? Nos Estados que não declararam seus gastos, onde poder-se-ia localizar o volume de investimentos no setor? Certamente eles existem. Seria importante, por exemplo, avaliar os gastos à luz da população carcerária de cada unidade. Hoje, contudo, não há como fazê-lo com o mínimo de rigor que uma análise cuidadosa exigiria. Finalizando esse exercício, reforça-se a importância de um maior detalhamento das planilhas dos gastos no que se refere à área de segurança pública e afins, como a que trata do sistema prisional. É possível e desejável que alterações sejam feitas e acredita-se que nesse aspecto a Senasp pode desempenhar papel de indutor para que os procedimentos legais necessários para essas alterações sejam seguidos com a maior brevidade. Com as planilhas orçamentárias dos Estados e DF mais próximas do detalhamento que o sistema de informações que a Senasp vem buscando para o monitoramento dos gastos federais, ter-seiam, a médio prazo, condições favoráveis para estabelecer conexões entre os gastos e as condições de funcionamento do setor de segurança e avaliar a eficácia das escolhas feitas, criando mecanismos que orientem de forma mais eficaz as políticas de investimento no setor. Como exemplo, a Tabela 53 demonstra a importância desse detalhamento ao indicar que, desde a criação do Fundo Nacional de Segurança Pública – FNSP, em 2000, cerca de 30% dos quase 1,6 bilhões de reais repassados aos Estados e Distrito Federal foram gastos com equipamentos de transportes, em especial viaturas (carros), 4,3% com cursos de capacitação profissional e 0,6% com a compra de fardamentos. 123