D U A S FICHAS Fernando NOVAS Ga lhano EM A R T E e Gardy Arriaga por B R A Z B 0 R 1 T Y . U MAS trás das outras, s e m folga, sem pausa, sem d e s c a n s o , s e m compasso e sem desencab a r , s e m conta, s e m peso e s e m medida, a s exposições de Boas e Malas-Artes no Salão Silva Porto, como a s asneiras que puebam asneiras e a s cerejas que se escar o ç a m umas à s outras, engrenam-se em coleante e v a r i e g a d a bicha de coisas péssimas e de coisas boas, de coisas más, muitas vezes, e, quando, r a r o , calha, de coisas óptimas, em altos e baixos de ricas peças e reles porcarias, em trancos e b a r r a n c o s de talento e c r i t nismo, em esguichos de valor e repuchos de subalternaria, p o r montes e vales de Arte e de L i x o , de B u g i g a n g a s , Pacotilhas e P r e ciosidades, entre os dois poios artísticos do Belo e do Pilha, do Bom e do Mau, com guinadas imprevistas para o «antes assim que peor> e tropeços crónicos p a r a o •nem lá vou nem faço minga» — que a a u r o r a i trempe eudurisica, olhando p a r a aquilo, como boi p a r a palácio, a tudo mete no mesmo s a c o de intruja e no mesmo núm e r o de linhas de prosa migada, de tudo dizendo, pelas mesmíssimas p a l a v r a s de pasmaceira, as m e s m a s parvoiçadas e as mesmas ternezas, e m anzol à contribuição consuetodinária das ofertas de F i m da F e i r a e o perene vigário a o leitor da (Olha, que s a bendo de c o r a chapa que lhe impingem, v i r a o disco e a c a b a por os m a n d a r bugiar aos artistas mail-a Santíssima T r i n d a d e . — O r a , sendo assim as exposições tripeiras do Salão Silva Porto, e m Cedofeita, invento industrial c o m patente e m a r c a registada, c o m e ç a m a d e g e n e r a r e m hábito citadino, e, sucedendo-se umas à s outras, em lluxo semanal e e n c a d e a d o corropio, vêm-lhe poisar n a s lonas, e m compita e concorrência à s boas pratas da casa e a o s doirados pechisbeques de E n t r e - m u r o s , todos os moços e moças, todos os novos e velhos, que, do norte a o sul, do poente a o nascente, de todos os recantos de P o r t n g a l e suas adjacências, de todas a s luras desta bemdita t e r r a em que todos, mais ou menos, pintam a manta e todos se pintam e repintam p a r a e s g a d a n h a r a Vida e m oífeios leves e a r t e s g a gas. E todos, do primeiro ao último, t o m a r a m o vêso de luzirem, periodicamente, suas prendas e suas manhas, seus trabalhos e obras, seus crimes e delitos, suas culpas e feitos, naquela hospitaleira <F.stalagem das Malas-Artes', que é, no Porto, p a r a todos os artistas de Portugal, o que e r a — e nao sei se ainda é — e m Lisboa, a 'Estalagem dos Camilos» p a r a a s lavadeiras de C a n e ç a s — e onde, o bom do Alberto Silva, de rabo pelado e falinhas mansas, em Cónego R e g r a n t e da Academia Silva P o r t o e Senhor Reitor d a s suas Pupilas, e mestre bodegueiro destes turismos de a r t e s manuais, a todos r e c e b e , sorridente e acolhedor, a preços fixos e percentagens módicas sobre os problemáticos imprevistos das vendas, dando-lhes a r r u m o e estadia pelos 8 dias da p r a x e , sem e x t r a s pela concomitante r a ç ã o de celebridade, n a s mangedoiras do Janeiro, do Comércio e do Mjí/rias.com adjectivos em bom uso e retratos sem semelhança nas três (Olhas, e — como na E s t a l a g e m dos Camilos — com acomadaçOes próprias p a r a todas a s trouxas, todas a s roupas lavadas e todas as roupas sujas e com argolas privativas p a r a toda a casta de b u r r i c a d a s que lhe passam pela porta, / O r a , na turba-multa dos que por lá tem passado nestes últimos tempos, sem deixarem rasto que os e n x e r g u e na m a g n a - c a t e r v a dos pintos mortos na c a s c a e dos pintos chocos pelos Brasis, neste velho sestro e mau vêso de arpoar valores, pondo a s coisas nos seus lugares, desarrumando-as, a s mais das vezes, dos sítios e m que elas se põem — v á de pendurar neste simpático ficheiro de gentes novas que me dizem ser o Sol Nascente, as fichas inéditas e reveladoras do F e r n a n d o Galhano e da G a r d y A r r i a g a — um a t r a g a l h a d a n ç a d o e escanzelado moço, de boa cepa, que eu h á muito trazia de olho, e uma gentillssima e risonha r a p a r i g a , toda osso e nervos, que nem de vista conhecia — e que, ambos, m a r c a m , c o m frescura e leveza, com talento e vigor, um lindo e prometedor r e a l c e e destaque ent r e a s gentes m o ç a s , que, começando hoje, c o m os olhos no amanha e s e m r e n e g a r e m de ontem, se nâo t o r p e ç a r e m no caminho e náo m e t e r e m p o r atalhos, virão a ser gente — e gente que se veja, gente c o m que se conte — entre a s gentes, que, e m A r t e , se contam e se vêem, entre a boa gente portuguesa — que, quando lhe dá p a r a ser vista e contada, náo pede m e ç a s a ninguém e náo deixa, por seus feitos e obras, os seus méritos por mãos alheias. •• / F e r n a n d o Galhano, que já marc a v a a desenhar entre a discipulagem do velho A r t u r L o u r e i r o — o g r a n d e mestre de Desenho — e que, no rebanho da a l u n a r a d a do Alberto Silva, c o m e ç a a a t i r a r pedras a o P a s t o r — trouxe à s lonas de Cedofeita uma dúzia de trabalhos que revelam e luzem um tenacíssimo temperamento de artista, que procura a v a n ç a r e progredir, c o m personalidade e com a r r e g a n h o , pelos Íngremes e árduos trilhos que o bom do A r tur L o u r e i r o lhe marcou como r o teiro p a r a atingir e m A r t e , senão o berrante triunfo dos qne, num pulo, querem topar o Céu com a s pernas e à s cambalhotas metem os pés pelas mãos, mas, a s e g u r a e vitoriosa estabilidade, na Grande Pintura, dos que, caminhando a direito pelo seu pé, bebendo pelo seu copo, trabalhando sempre, desenhando cada vez mais, sem atabalhoamentos e s e m pressas, sem virtuosíssimas habilidades e fogos de vista, amando e servindo a A r t e , a m a m e sentem a Natureza, procurando d a r na tela, a t r a v é s do seu temperamento, a luz, o a r , a s linhas e a c ô r , que, bailando-lhes na retina, cantando-lhes na alma, lhes vibra nos pincéis e lhes estua e vive n a paleta. Há muito mais a r t e , muito mais talento, muito mais s e g u r a n ç a e, infinitamente, muito mais desenho, neste Interior do F e r n a n d o Galhano — aluno de Alberto Silva e expondo de cambulhada, n a exposição escolar d a s suas condiscípulas de aula — pintando c o m calma, com firmeza, c o m segur a n ç a , c o m t e r n u r a e c o m probidade um r e c a n t o da c a s a paterna — uma mesa de torcidos, uma fig u r a velada de r a p a r i g a a costur a r por trás dos estores da janela, à laia dos «interiores» famosos de Amélia d e Sousa — do que e m tudo que pintam, t ê m pintado e hão-de pintar os r a p a z e s da g e r a ç ã o e d a igualha de F e r n a n d o Galhano, que, p o r aí, andam na berra de modernistas e moderneiros, apregoados como apóstolos e corifeus, levitas, s a c e r d o s e profetas das A r t e s N o r a s , virgens, m á r t i r e s e confessores de Novos Credos e que tendo esquecido os v a g o s rudimentos do desenho linear que se aprende nas escolas primárias, por aí, a r m a m , com todos os ferros d a Publicidade, e m capelinhas de moinantes e ritos invertidos, todas a s E s c o l a s de «Istas» e «Ismos» — com portas p a r a a e s c a d a de Rilhafoles, nos incuráveis, e poucas permanências nas esquadras da Celebri-