Saquarema
A Princesinha da Costa do Sol
Entre a serra e o mar, logo ali após a ponte, ela está. Trajada de formosa beleza que a todos
encanta.
Em 1841, conquistou sua emancipação e a partir de então tornou-se mais confiante e
independente, no entanto jamais perdeu seu encanto e esse jeito de “gente” que só quem é do
interior entende...gente simples, humilde, que se conhece, que se vê e se sente, que luta, que vive a
correria e acompanha o ritmo frenético da mudança, mas que ainda arruma tempo para o mais
importante: ser gente.
Na nossa cidade, nas nossas ruas, todos se conhecem, preocupam-se, alegram-se ou sofrem com
os acontecimentos na vida do outro, e acima de tudo, desejam-se sempre o melhor.
Não bastando a rara e perfeita beleza natural da nossa Saquarema, ela ainda é presenteada por
pessoas de bem, que buscam de maneira correta “educar” os jovens, com a certeza de que um
mundo melhor começa com uma educação de qualidade, que se oferece nas escolas, mas que se
inicia em casa, nas ruas. E sabem que através dessa educação podemos levar nossa “gente”, das
ruas simples para faculdades, fábricas, multinacionais, câmaras legislativas, enfim, onde os sonhos e
a capacidade de lutar por eles forem capazes de nos levar.
Agradeço a essa iniciativa, onde coube espaço a minha amada terrinha, mas agradeço ainda mais
a Deus, por me permitir ser cidadã Saquaremense e viver nessa cidade querida, para onde sei que
posso sempre voltar, mesmo que meus sonhos me levem longe, esticando o olhar para depois da
ponte verei minha terrinha a “princesinha”...
Ana Paula Pires Giri Fortunato
Secretária de Educação e Cultura de Saquarema
Terra Abençoada
O dia começa a despedir-se. Sento-me na areia da praia e mais uma vez fico maravilhada
com o espetáculo incomum. Olho o mar, a linha do horizonte e as cores brilhantes, quentes,
invadindo o azul celeste, deixando as montanhas sinuosas serem vistas apenas em silhueta.
É o pôr do sol em Saquarema!
Esta obra de Deus ninguém destruirá; tampouco, as lembranças do passado conservadas na
minha memória.
Com os olhos voltados para o lugar onde o sol desaparecera, começo a perceber o céu
sendo tomado por vários pontos luminosos. São as estrelas. Elas têm o poder de tornar
reais as recordações guardadas dentro de mim. Reporto-me ao ano de 1948. Minha mãe
sentada no portal de acesso à cozinha da casa humilde, meu irmão e eu, observados por
ela, no quintal banhado pelo luar, contando as estrelas. Não conhecíamos a luz elétrica.
-Vão ficar com verrugas nos dedos!
Superstição? Não. Do mesmo modo que as lendas, isto também faz parte da história;
principalmente, das pequenas cidades. Para os filhos as mães são sábias. Ali mesmo,
deixando de apontar as estrelas a fim de não criarmos verrugas, pedimos que ela nos
contasse uma história. Olhou-nos carinhosamente! Em seguida, direcionou o olhar para a
lua dizendo não existir nada mais belo, que a claridade vinda do céu era abençoada e
mágica iluminando todos os cantos e fazendo as águas de Saquarema brilhar como se
fossem feitas de diamantes.
- História interessante para mim, disse ela, é a nossa, da nossa cidade. Há séculos atrás,
apenas os índios Tamoios aqui moravam podendo usufruir da pureza e da majestosa beleza
desta terra sempre abraçada pelo mar e a serena lagoa. Não esquecendo as matas, os rios,
cachoeiras e restingas. Depois ... vieram os portugueses, os padres jesuítas, os franceses,
os holandeses, os negros e as primeiras moradias. Na sua linguagem simples explicou que
em 1755, nossa cidade era conhecida por Freguesia. A vida rural foi se desenvolvendo com
o plantio do café e da cana de açúcar, alcançando em 1839, o seu ciclo de ouro. Foi quando
surgiram as grandes fazendas e, os fazendeiros, receberam títulos de nobreza concedidos
pelo Imperador
D. Pedro II; entretanto, a pesca também era uma bênção. Os peixes em
quantidade pareciam verdadeiras jóias de prata enriquecendo a lagoa, as canoas dos
pescadores e as várias redes arremessadas ou fincadas às águas.
Em 1841, o Presidente da Província do Rio de Janeiro, Visconde de Baependy, pela Lei n.
238, criou o município de Saquarema que pertencia à Capitania de Cabo Frio.
De repente, uma onda mais forte molhou meus pés fazendo-me sair do torpor em que me
encontrava. Percebi, então, meu rosto também molhado pelas lágrimas. Recordava a
infância, a lagoa despoluída, os peixes, o sabor ainda tão presente dos frutos das restingas,
atualmente extintas, e os acordes dos violões nas serenatas.
Minha querida terra, até hoje você é a nossa “Vila dos Pescadores”.
Num borbulhar de emoções comecei a lembrar dos grandes nomes, filhos de Saquarema,
que fizeram sua história. Muitos, ilustres! Outros, simples! Todos, importantes!
A parteira que me trouxe ao mundo, Dona Pepita de Oliveira Bravo; os rezadores Dona
Arcanja, Dona Pedrina e Seu Guilherme; o farmacêutico Alcides Ferreira da Silva; o médico,
filho de um varredor de rua, Doutor Luiz Januário que transformou sua profissão em
verdadeiro sacerdócio. Era chamado “Médico dos Pobres” porque após a consulta deixava
pequena quantia debaixo dos travesseiros dos pacientes, sem que esses percebessem. O
príncipe dos poetas brasileiros, Alberto de Oliveira (membro da ABL); o grande sociólogo
Oliveira Viana; os músicos e maestros Tenente Costa Guedes, Macário Duarte (pai do
grande Maestro Chiquinho da Rádio Nacional), Amaro Corrêa de Souza e o respeitável Nery;
Doutor Oscar de Macêdo Soares, portador de vários títulos, dentre eles, o de criminalista de
valor e grande orador; o Barão de Saquarema (José Pereira dos Santos) que ofereceu ao
Governo prédios próprios, para reuniões da Câmara e audiências jurídicas, amigo do
Imperador D. Pedro II, espírito nobre e generoso deixou, após sua morte, a fazenda e todos
os seus bens para os escravos. A festa do “Divino Espírito Santo”, ainda hoje existente, foi
introduzida pelo Padre Antonio Moreira e o coreto denominado “Império”, para abrigar o
Menino Imperador, foi construído pelo fazendeiro Tomaz Cotrim, em 1769; infelizmente, o
prédio está precariamente conservado. Mestre André criou a Folia de Reis (ainda
preservada); o Carnaval teve por fundador Fructuoso Alcanforado de Oliveira que, junto a
outras abnegadas pessoas, fundou também o time “Saquarema Futebol Clube”. Foi ele,
ainda, o organizador da grande festa oferecida ao Rei Alberto, da Bélgica, em visita a
Saquarema.
Já não sei mais separar o passado do presente. A emoção é muito forte quando lembro do
meu querido pai Antenor de Oliveira, grande artista plástico, também fazendo parte da
história com sua poesia, sua oratória, sua presença marcante no esporte, no carnaval... O
inesquecível poeta José Bandeira, O senhor Casimiro Vignoli, Madre Maria das Neves e
muitos outros nomes guardados com ternura, embora não sejam aqui citados.
De repente, as recordações começam a emitir sons. Ouço um apito de trem! A estrada de
ferro vai desaparecendo e o progresso vem surgindo nas estradas e ruas asfaltadas, nas
várias escolas inauguradas, no hospital superlotado, na iluminação sofisticada, nas praças e
prédios modernos.
Sei que a história será perpetuada e contada de geração à geração porque a terra é fértil e
as sementes plantadas continuarão a germinar talentos, fazendo surgir mais escritores,
cantores, músicos, poetas, pintores, artesãos, bailarinos, atletas e ... os que guardam
lembranças. Com orgulho, penso no menino Kayane, saquaremense de apenas 11 anos, já
campeão do SURF Estadual e no artista plástico Nelson Santos, ensinando sua arte e
defendendo com garra a preservação do nosso patrimônio histórico-cultural.
Percebendo estar sendo iluminada pelo luar e beijada pelo vento, teimando em brincar ao
mesmo tempo com meus cabelos, caminho pela espuma rendada espalhada sobre a areia,
enquanto meus olhos pousam numa outra direção. Abro os braços e caio de joelhos para
receber do alto do morro impotente, as bênçãos da Virgem de Nazareth. A igreja ali erguida
tornou-se o símbolo maior, a identidade desta terra mágica.
Saquarema, seus encantos serão eternos!
Autora: Maria José de Oliveira Pinheiro
(nascida em Saquarema)
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