Histórias e lendas do
Bar Jacob no Bom Retiro
editoriaL
02
CARO LEITOR
Você tem em mãos o Boletim do AHJB no qual historiadores, pesquisadores, articulistas, fotógrafos, estudiosos e interessados em geral, se envolvem para
contar a história do Brasil e dos judeus vindos para cá,
ou os já brasileiros há várias gerações.
O tema inicial deste número é um artigo leve, agradável, que trata do lado alegre da vida. Refiro-me ao
“Bar Jacob no Bom Retiro”, que foi inicialmente o
ponto de encontro dos ashkenazitas aqui chegados
nos anos vinte e trinta.
Há também o artigo de um estudante de História Social da Unicamp, Marcio Mendes da Luz, que já há
meses pesquisa nos acervos do AHJB colhendo material e preparando sua dissertação de mestrado.
Recebemos de Eva Lieblich Fernandes uma breve biografia de seu pai, Karl Lieblich, que entre outras coisas
foi jurista, jornalista, poeta etc. Um típico intelectual
europeu, dedicado e discreto.
A seguir temos Abrahão Gitelman, colaborador do
Arquivo há muitos anos, aborda uma personagem
pouco conhecida, como ele mesmo diz, mas muito
interessante.
Neste número, temos - e teremos sempre nesta publicação - um mostruário do excelente material fotográfico de nossa Fototeca. São tesouros. Para este número, escolhemos fotos registrando as relações entre
Brasil e Israel: autoridades de Israel nos anos sessenta
desfilando no Bom Retiro, Golda Meir em encontro
com a liderança comunitária, entre outras.
O Núcleo de Genealogia do AHJB recebe muitas consultas do público leitor e teremos sempre em nossas páginas uma matéria ou notícia sobre o tema. O historiador Paulo Valadares, co-editor desta publicação, aborda
neste número a figura de Benjamim Nathan Cardozo.
Você encontrará muito mais... e nos resta então só
lhes desejar
boa leitura!
Sema Petragnani, Editora
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do AHJB
CAPA: O Senhor Jacob à frente de sua equipe de trabalho (1XXX)
ÍNDICE
02
EDITORIAL E ÍNDICE
03
PALAVRA DO PRESIDENTE
04
CARTAS
05
NOTÍCIAS
08
NÚCLEO DE HISTÓRIA ORAL
09
HISTÓRIAS E LENDAS DO BAR JACOB
NO BOM RETIRO
13
DA INTEGRAÇÃO À INTOLERÂNCIA: CRISTÃOS, JUDEUS E MUÇULMANOS NA PENÍNSULA IBÉRICA
15
SONIA, A DOCE CELINA
18
KARL LIEBLICH
20
ETALE, A ÚLTIMA IMIGRANTE
21
INSTITUIÇÕES E FORMAÇÃO DA
COMUNIDADE JUDAICA PAULISTANA
25
OS VELHOS MARRANOS E A
“JUDEIDADE” DOS BRASILEIROS
28
CAVALEIRO THALBERG E SUAS ANDANÇAS
31
BENJAMIN NATHAN CARDOZO
35
J. L. CARDOZO DE BETHENCOURT
(1861- 1938), O BIBLIOTECÁRIO REAL
E SUA ASCENDÊNCIA E DESCENDÊNCIA
37
DOAÇÕES
38
PESQUISADORES
42
FOTOTECA
O BOLETIM DO AHJB, PUBLICADO DESDE 1996,
é enviado gratuitamente aos sócios, a instituições culturais do Brasil
e do exterior, e é também distribuído aos visitantes e consulentes
que o solicitam.
Lembramos aos colaboradores que este boletim possui ISSN (International Standard Serial number), que é o número internacional
normatizado para publicações seriadas. Os artigos inéditos podem
ser enviados à Redação pelo e-mail [email protected]
DIRETORIA:
PRESIDENTE
Serebrenic
VICE-presidente
diretores
de núcleos: Roney
biblioteca
e documentação
Cytrynowicz
Presidente
Mauricio
SerebrinicJayme
Vice
Presidente
Carlos R. deBettina
MelloLenci
Kertész
Vice Presidente
Cytrynovicz
Diretores: Roney
Biblioteca
E Documentação Roney Cytrynowicz
Comunicação Sema Petragnani Cultura Idish Samuel Belk Divulgação Sonia Schneider Educação Anna Rosa Campagnano Exposições Miriam Landa Financeiro Jayme
Serebrenic Genealogia Guilherme Faiguenboim HistÓria Oral Marilia Freidenson Música E Discoteca Lea Vinocur Freitag Patrimônio Simão Frost Pesquisa E Acervos Especiais
Abrahão Gitelman Relações Institucionais Paulina Faiguenboim Seções Carlos R. De Mello Kertész Secretária Geral Myriam Chansky
ADMINISTRAÇÃO Mireille Barki BIBLIOTECA Theodora da C. F. Barbosa DOCUMENTAÇÃO Mireille Barki FOTOTECA Arnaldo Lev PESQUISA E PROJETO Lucia Chermont INFORMAÇÃO E
TECNOLOGIA Ingo Bekman SERVIÇOS GERAIS José Messias Ribeiro Santos REDAÇÃO: EDITORA Sema Petragnani CO-EDITOR Paulo Valadares REVISORAS Flora Martinelli e Sueli Pfeferman
PROJETO GRÁFICO Ciro Girard/satelitesmg.com.br DIAGRAMAÇÃO Alexandra Marchesini IMPRESSÃO Northgraph Gráfica CONTATOS [email protected] ou pelo telefone 11 2157.4129
03
PALAVRA DO PRESIDENTE
PALAVRA DO PRESIDENTE
Desejo a todos os nossos sócios, colaboradores, membros e amigos da diretoria um SHANÁ TOVÁ repleto de
saúde e de realizações.
A eleição da nova Diretoria do AHJB foi realizada nos
dias 30 de setembro e 1º de outubro. Se fizermos uma
avaliação da chapa que se apresentou para a eleição,
veremos que a maioria dos seus componentes continua praticamente a mesma,
apesar dos apelos para que novos voluntários se juntem a nós.
Buscamos participantes que possam engrossar as nossas fileiras, pois é sempre
oportuno e desejável haver renovação. Espero que isso venha a acontecer em breve.
Gostaria de informar que, na última gestão que presidi, houve um intenso trabalho no que se refere ao arquivo documental, à biblioteca, à discoteca, à hemeroteca e à administração.
Recentemente, realizamos em nossa sede o lançamento do livro “Soldados que
Vieram de Longe – os 42 Heróis Brasileiros-Judeus da 2ª Guerra Mundial”, de
autoria do Prof. Israel Blajberg, amigo e colaborador do Arquivo. Este livro conta
histórias interessantes e comoventes dos participantes da Força Expedicionária
Brasileira na Segunda Guerra Mundial.
O comparecimento de representantes das Forças Armadas foi muito significativo
e comoveu todos nós. Contamos com a presença de vários veteranos, entre os
quais dois brasileiros judeus, Boris Schnaiderman e Jacob Gorender.
A presença modesta de representantes de entidades de nossa coletividade foi
lamentável. Por outro lado, a presença de representantes da Fisesp, Icib e Câmara
de Comércio Brasil-Israel ressaltou a importância do evento.
Ao fim de meu mandato como presidente e em nome de toda a Diretoria, desejo
prestar homenagem aos irmãos Bettina Lenci e Thomas Scheier que, no ano de
2006, doaram ao Arquivo o acervo de seu pai, o fotógrafo Peter Scheier, o qual foi
cuidado com muito carinho e eficiência até agora.
Neste ano de 2009, o Instituto Moreira Sales mostrou-se interessado em adquirir
este acervo e todos nós acreditamos que o IMS seria o local mais adequado para
o mesmo. Os irmãos Scheier sugeriram então que ele fosse vendido e o resultado
dessa operação veio em beneficio do nosso Arquivo.
Com esse recurso, e atendendo ao pedido dos doadores, estamos já modernizando o nosso Acervo e adequando-o às normas arquivísticas internacionais.
Até breve,
Jayme Serebrenic
CARTAS
04
CARTAS
We have received the following issue: nº 38.
Our library has ordered on subscription/or continuation.
Bibliothekssystem der Universität Frankfurt
Solicitamos informações sobre a situação do periódico editado por V.Sas. para que o processo de permuta não seja
interrompido.
PUC - Campinas - Serviço de Publicações, Divulgação e
Intercâmbio SBI e SPDI – Maria do Carmo Moreira Jacon
É com satisfação que a Biblioteca Central Blanche Knopf, da
Diretoria de Documentação, desta Fundação, vem agradecer
a doação da publicação.
Fundação Joaquim Nabuco, Recife, PE - Sara Cavalcanti e
Maria Aparecida F. de Morais Alves – Coordenadora Geral
da Biblioteca Blanche Knopf
Agradeço o envio do exemplar do Boletim do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro. Este exemplar será incorporado ao
acervo de Sergio Buarque de Hollanda. Muito obrigada.
Biblioteca Central César Lattes (UNICAMP), Campinas,
SP - Tereza Cristina Oliveira Nonatto de Carvalho, Diretoria de Coleções Especiais e Obras Raras
Agradeço o Boletim nº 40 que gentilmente me mandaram...
Poderiam mandar-me os números de 34 a 39 do Boletim,
particularmente o nº 39 me interessa.
Com admiração e gratidão pelo seu trabalho,
Eva Lieblich Fernandes – São Paulo
Através da presente, apresentamos nossos agradecimentos pela
gentileza do envio do Boletim Informativo do Arquivo Histórico
Judaico Brasileiro e, nesta oportunidade, cumprimentar esta entidade pelo conteúdo e qualidade gráfica da publicação.
Arthur Rotenberg – Presidente da Hebraica – São Paulo
A homenagem In Memoriam da historiadora Frieda Wolff
(1911-2008), escrita pelo Prof. Dr. Nachman Falbel na edição
nº 40 do Boletim AHJB, foi certamente uma bela e tocante lembrança do meticuloso trabalho realizado pelo saudoso casal.
Prof. Dr. Luiz Benyosef
Presidente do Memorial Judaico de Vassouras
O ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO
BRASILEIRO É UMA ENTIDADE DE
UTILIDADE PÚBLICA DA COLETIVIDADE
Colabore doando fotos, livros, jornais, documentos
pessoais (passaportes, certidões) e objetos litúrgicos
para a preservação da memória judaica no Brasil
ENDEREÇO:
Rua Estela Sezefreda, 76 - Pinheiros
Tel: 3088-0879 e 3082-3854
www.ahjb.com.br
Estacionamento conveniado:
Park Land, Rua Mateus Grou, 109 (a 50 metros do Arquivo)
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05
notícias
NOVA DIRETORIA ELEITA EM 30/09 E 01/10/2009
COM VIGÊNCIA DE OUTUBRO DE 2009 A SETEMBRO DE 2011
PRESIDENTE MAURICIO SEREBRINIC
VICE PRESIDENTE CARLOS R. DE MELLO KERTÉSZ
VICE PRESIDENTE RONEY CYTRYNOWICZ
DIRETORES
BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO RONEY CYTRYNOWICZ
COMUNICAÇÃO SEMA PETRAGNANI
CULTURA IÍDISH SAMUEL BELK
DIVULGAÇÃO SONIA SCHNEIDER
EDUCAÇÃO ANNA ROSA CAMPAGNANO
EXPOSIÇÕES MIRIAM LANDA
FINANCEIRO JAYME SEREBRENIC
GENEALOGIA GUILHERME FAIGUENBOIM
HISTÓRIA ORAL MARILIA FREIDENSON
MÚSICA E DISCOTECA LEA VINOCUR FREITAG
PATRIMÔ NIO SIMÃO FROST
PESQUISA E ACERVOS ESPECIAIS ABRAHÃO GITELMAN
RELAÇÕES INSTITUCIONAIS PAULINA FAIGUENBOIM
SEÇÕES CARLOS R. DE MELLO KERTÉSZ
SECRETÁRIA GERAL MYRIAM CHANSKY
ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO REALIZA
V ENCONTRO NACIONAL
O AHJB vai promover nos dias 27, 28 e 29 de novembro próximo, na sede da Hebraica de São Paulo,
seu V Encontro Nacional, quando reunirá acadêmicos, estudiosos, pesquisadores e membros das seções
estaduais e de entidades coligadas, para promover o intercâmbio cultural e de experiências ligadas ao
tema judaísmo em seus múltiplos aspectos no Brasil.
Nesse Encontro, será comemorado o sesquicentenário de nascimento do escritor Scholem Aleichem,
com leituras dramatizadas de seu teatro e venda de seus livros traduzidos para o português.
As informações e inscrições podem ser obtidas NOS ENDEREÇOS abaixo:
site: www.ahjb.org.br
e-mail da Comissão Organizadora: [email protected]
telefone: 11 3088-0879 e no endereço Rua Estela Sezefreda, 76
Pinheiros - CEP 05415-070 - São Paulo - SP
NOTÍCIAS
06
Exposição conta história do Bom Retiro
O bairro do Bom Retiro, na região central da capital paulista, recebeu homenagem do Museu da Energia de São Paulo
e da Fundação Energia e Saneamento, com a inauguração,
em 10 de agosto último, da exposição “Bom Retiro, uma
Costura de Povos”. A mostra, que ficará aberta ao público
até janeiro de 2010, apresenta as diversas faces de um bairro cujo traço principal é a convivência de diferentes culturas, resultado do processo de acolhimento de imigrantes de
várias partes do mundo.
Ao retratar a vida das pessoas que moram e trabalham ali, o
Museu da Energia identifica e exibe um dos mais importantes patrimônios da cidade: o modo como os seres humanos
constroem suas histórias e dão sentido a tudo que está ao
seu redor. Neste caso específico, fazendo com que a mistura
de povos trouxesse diferentes culturas, costumes e sonhos,
que acabaram fazendo do bairro um lugar tão especial.
A exposição leva o visitante a mergulhar em uma colcha de
retalhos cultural, tecida sob a influência de diferentes nacionalidades e retrata o último quarto do século 19, quando
imigrantes se estabeleceram no bairro, motivados pelo desejo de construir uma vida nova, até os dias de hoje com
o comércio da região dominado pela confecção de roupas.
É possível também perceber o quanto a localização do
bairro era privilegiada pelo fato de estar entre os rios Tamanduateí e Tietê, e pela estrada de ferro inglesa São Pau-
lo Railway construída entre os anos de 1860 e 1867. Assim
como ter o panorama da mesclagem cultural proporcionada pelos diferentes idiomas, pela variedade culinária e por
fisionomias e vestimentas tão diversificadas.
Além da linguagem histórica, a exposição apresenta obras
realizados por artistas plásticos que fizeram uso de linhas,
lãs e barbantes para criar desenhos e novos olhares sobre
o Bom Retiro. A fotógrafa Cássia Xavier expõe seu trabalho
com imagens atuais do cotidiano do Bom Retiro.
A mostra reuniu acervos particulares e de diversas instituições como Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, Associação
Brasileira de Coreanos, Associação Brasileira de Preservação
Ferroviária, Iphan, Memorial do Imigrante, Museu da Pessoa e da própria Fundação.
Exposição “Bom Retiro,
uma costura de povos”
Museu da Energia de São Paulo
VISITAÇÃO GRATUITA
seg a sexta das 10:00h as 17:00h
sábados selecionados das 10:00h as 15:00h
Outubro 03 e 17, Novembro 07 e 28
Endereço: Alameda Cleveland, 601, Campos Elíseos
Informações: www.museudaenergia.org.br
IN MEMORIAM DE SIMON WIESENTHAL
Em 20 de setembro de 2005, Simon Wiesenthal faleceu. Relembrá-lo por ocasião do quarto aniversário de sua morte
constitui um comovente dever. Por ocasião de sua morte, o jornal francês LE MONDE escreveu:
“Ele estava muito fatigado. Ele ainda ia todos os dias, por cerca de uma hora, a seu
escritório no centro de Viena, no antigo bairro judeu. Em 2003, numa entrevista
concedida ao jornal austríaco FORMAT, ele disse: “Meu trabalho está feito, os
assassinos de massa que eu procurei, eu os encontrei todos e sobrevivi a todos eles.”
Embora restassem ainda criminosos de guerra nazistas com vida, Wiesenthal considerou que seriam tão velhos que
dificilmente poderiam ser levados perante um tribunal.
Wiesenthal foi chamado “o caçador de nazistas”. Ele considerava ter ajudado a fazer justiça e, certamente, a fez!
Em 1941, com a idade de 32 anos, durante a ocupação alemã da Tchecoslováquia, ele foi detido e sobreviveu a 12
campos de concentração até ser libertado pelas tropas americanas no campo de Mauthausen. Ele anotou os nomes
de cada um dos criminosos nazistas que participavam do genocídio e, depois de libertado, ocupou-se exclusivamente
de sua busca. Ao longo de sua vida, conseguiu levar à Justiça mais de 1.100 criminosos de guerra e autores de crimes
contra a humanidade. Wiesenthal fundou, em 1947, o Centro Judaico de Documentação que deu origem ao Documentationszentrum de Viena, que leva o seu nome.
07
NOTÍCIAS
LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE A
PARTICIPAÇÃO DOS JUDEUS NA FEB
O Livro do Prof. Israel Blajberg, “Soldados
Que Vieram de Longe - os 42 Heróis Brasileiros Judeus da 2ª Guerra Mundial”, foi
lançado em São Paulo, no dia 26 de agosto,
na sede do AHJB. É uma grande homenagem ao Exército Brasileiro, na semana que
comemora o Dia do Soldado, e aos ex-combatentes brasileiros de todas as fés.
O evento contou com a presença de público
expressivo e de autoridades civis e militares,
entre as quais:
Cel. Edison Luiz da Rosa, representando o Gen
Antonio Gabriel Esper, Comandante Militar do
Sudeste; Major Magnus Copetti Weber, Subcomandante, acompanhado de uma representação do CPOR/SP; Cap. Ten. representante
do Vice Almirante Arnaldo de Mesquita Bittencourt Filho, Comandante do 8° Distrito Naval;
Tenente Aniz Buissa, Maurício Serebrinic, Major Weber, Jayme Serebrenic, Israel Blajberg e Tenente Malhada
Presidente da ABORE - Associação Brasileira
dos Oficiais da Reserva do Exército, Ten. R/2 Aniz Buissa; Prof.
de São Paulo; Alberto Milkewitz, repreBoris Schnaiderman, 3° Sgt. de Artilharia da FEB; Prof. Jacob
sentando a FISESP; Marina Sendacz,
Gorender, fSoldado do 1°. Regimento de Infantaria, Regimento
Presidente do ICIB; Sergio Tomchinsky,
Sampaio; Vet. Isaac Plut, foi Soldado do CRP da FEB na Vila
Diretor-Executivo da Câmara BrasilMilitar – RJ; Cel. Jairo Junqueira da Silva, Presidente da AssociaIsrael de Comércio e Indústria; Leib
ção dos Ex-combatentes do Brasil, Seção de São Paulo; Veterano
Berenstein, Presidente do Conselho
Antonio Cruchaki, Presidente da ANVFEB de São Bernardo do
Judaico da Zona Norte; Prof. Dr. César
Campo; Cap Gonzalez, do Museu da Associação dos Ex-ComCampiani Maximiano, historiador da
Jacob Gorender
batentes do Brasil, Seção de São Paulo; Veterano da Marinha
FEB, entre outros.
Francesa André Akiba Levi; Vereador Gilberto Natalini (PSDB) e
A Mesa Diretora estava composta pelo Dr. Jayme Serebrenic,
Luciana Feldman, Assessora Parlamentar da Câmara Municipal
Presidente do AHJB, Dr. Mauricio Serebrinic, Vice-Presidente
do AHJB, Cel. Edison Luiz da Rosa, Assistente do Comandante Militar do Sudeste, e pelo autor Israel Blajberg.
O evento iniciou-se com a saudação do Dr. Jayme Serebrenic.
A seguir o autor falou sobre sua obra, fazendo um breve resumo sobre o trabalho. O Cel. Edison Luiz da Rosa, maior autoridade militar presente, fez uso da palavra, recordando ser ele
mesmo também um descendente de imigrantes portugueses.
A Banda de Música do 2° Batalhão de Policia do Exército
executou o Hino Nacional Brasileiro e, a seguir, foi executado o Toque de Presença de Ex-Combatente.
Encerrada a sessão, o autor autografou exemplares do livro
para os presentes, em animado coquetel.
Na sede do Arquivo, foi montada uma exposição alusiva à
temática do livro, com peças originais da 2ª Guerra Mundial,
cedidas pela Associação dos Ex-Combatentes do Brasil – Seção SP, e do acervo pessoal do autor.
NUCLEO DE HISTÓRIA ORAL
08
15º Congresso Mundial de Estudos Judaicos
O Núcleo de História Oral do Arquivo Histórico Judaico
Brasileiro, representado por Marília Freidenson, Diretora
de História Oral do AHJB, apresentou uma palestra sobre
o nosso trabalho no 15° Congresso Mundial de Estudos
Judaicos, realizado de 2 a 6 de agosto no campus da
Universidade Hebraica de Jerusalém em Monte Scopus.
A participação do Núcleo de
História Oral neste importante evento partiu de convite feito pela Diretora desta
disciplina na Universidade,
Profª. Margalith Bejarano.
O Congresso Mundial de Estudos Judaicos, criado há
mais de 60 anos por iniciativa
de pesquisadores em estudos judaicos da Universidade
Hebraica de Jerusalém, é o
maior e o mais importante
neste campo e o principal fórum para a apresentação de
descobertas e inovações em
Estudos Judaicos.
Na ocasião da abertura do
Congresso, o Presidente da
Universidade Hebraica de Jerusalém, Prof. Menahem BenSasson, saudou as centenas
de pessoas de Israel e de todo o mundo presentes. A
Profª. Sara Japhet, da Universidade Hebraica e Presidente
do Congresso, proferiu a palestra de abertura sobre o
tema da luta pela identidade durante o período de regresso a Sião, seus resultados e consequências.
Durante os cinco dias do Congresso, cerca de 1.400 palestras foram apresentadas em 380 sessões, cobrindo áreas
que dizem respeito aos diferentes aspectos da história judaica e estudos judaicos, incluindo a vida, a literatura e a
cultura através dos tempos. O Congresso também dedicou sessões a questões atuais, temas que focam laicismo e
religião, o centenário da cidade de Tel Aviv e do kibutz, os
judeus da Europa Oriental, a comunidade haredi, o papel da mulher
no judaísmo e a ligação entre o jornalismo judaico e a história judaica.
A palestra de Marília Freidenson
versou sobre o trabalho desenvolvido pelo Núcleo sobre a imigração judaica em São Paulo, e como
este trabalho surgiu em 1992, a
partir da preocupação urgente em
registrar as histórias de vida dos
imigrantes de primeira geração.
Hoje, temos mais de 400 entrevistas, catalogadas e digitalizadas, de
imigrantes oriundos de 57 países.
De acordo com o Prof. José Carlos
Sebe Bom Meihy, da Universidade
de São Paulo, o nosso projeto é “o
mais importante projeto comunitário realizado fora do cenário
acadêmico no Brasil”.
Marília também falou sobre a nossa participação no projeto “Shoah”
do diretor Steven Spielberg, quando realizamos mais de quinhentas entrevistas, gravadas
em vídeo, com sobreviventes do Holocausto residentes em
várias cidades do Brasil. Recentemente, assinamos uma
parceria com o Instituto LEER da USP, coordenado pela
Prof. Maria Luiza Tucci Carneiro, para disponibilizar nossas
entrevistas de refugiados e sobreviventes do Holocausto
para o projeto Arqshoah (Arquivo Virtual do Holocausto).
PROGRAMA SHALOM BRASIL
Dia 25 de setembro, o programa Shalom Brasil apresentou aos seus telespectadores uma matéria sobre o AHJB. Nosso presidente, o diretor de acervos especiais, funcionários, voluntários e um pesquisador foram todos entrevistados.
Assim, vários acervos puderam ser mostrados, tais como, acervo documental, fototeca e biblioteca em iídiche, entre
outros. Esta foi uma grande oportunidade para o nosso arquivo expor ao público a importância de nossa existência e a
seriedade com que preservamos a memória e a história da imigração e da permanência judaica no Brasil. Para aqueles
que não tiveram a oportunidade de assistir ao programa, gostaríamos de informar que temos uma cópia do mesmo
em DVD para empréstimo.
09
HISTÓRIA
Histórias e lendas
do Bar Jacob
no Bom Retiro
ILDA KLAJMAN *
P
or volta de 1916, querendo escapar do
Exército Polonês e da estagnação econômica, Jacob Givertz, então com 18 anos,
nascido na Polônia, tentou desembarcar
nos EUA. Como estava com uma inflamação nos olhos, as autoridades portuárias confundiram
com tracoma que, na época, era uma epidemia; assim,
ele seguiu para Buenos Aires.
Seu primeiro emprego na capital portenha foi o de garçom, em uma das cervejarias à beira do Rio da Prata, cuja
façanha, contava ele, era segurar cinco pratos no braço
Fany Rabinovitch (avó),
Jacob Givertz, Rebeca, Olga
e Aida - Jardim da Luz - 1924
(Acervo AHJB)
esticado. Tempos depois, conheceu Anna Rabinovich, uma
jovem de 15 anos, vinda em 1913 de Odessa, na Rússia,
com a sua mãe e a irmã mais velha chamada Anna que era
socialista, deixando a Rússia por questão de segurança.
Anna e Jacob ficaram grandes companheiros e, juntos, iam
às feiras e mercados e vendiam sabão. Em 1917, casaramse. As duas primeiras filhas, Rebeca e Olga, nasceram em
Buenos Aires. Já no Brasil, nasceram as outras duas, Aida
e Carlota pelas mãos de Olinda, parteira do Bom Retiro.
Por volta de 1924, nascia o “Bar e Restaurante Jacob”,
na Rua José Paulino, quase esquina com a Rua Silva Pin-
HISTÓRIA
10
Anna Givertz, com seu avô - Odessa, Russia (Acervo AHJB)
Buffet Jacob (Acervo AHJB)
to, onde também havia um empório, que vendia vinhos,
licores e arenques importados, que vinham em grandes
barris, além de pão preto, pepinos em conserva, carnes
defumadas, salames, estre outros. Em Pessach (Páscoa),
vendiam a matzá (pão ázimo).
Ali era um ponto de reunião dos imigrantes que buscavam amparo em outro judeu; e lá estava o Sr. Jacob, com
sua simpatia e gravata borboleta, para ajudá-los. Ao seu
lado, estava sempre a “sua” Anna.
Além da comida judaica, havia a grande boa vontade do
Sr. Jacob que, devido à falta de recursos dos imigrantes,
sempre deixava para “pagar depois”. Ele os orientava no
trabalho de klientelchiques, (ele era fiador pois estava
estabelecido), e autorizava a fixação de afiches de propaganda do teatro iídiche na porta e, lá mesmo, vendiam
ingressos para os espetáculos.
As cartas dos familiares dos imigrantes (os homens vinham antes e posteriormente traziam as famílias) eram
endereçadas ao Bar Jacob, onde se reuniam por volta das
quatro horas da tarde para tomar um chá e pegar as cartas. Este foi considerado o primeiro pletzl (pracinha no
sentido de local de encontro). Havia, no rádio, o programa “Hora Israelita”, posteriormente o programa “Mosai-
co”, em que o locutor Salomão Esper dizia: Smaltz hering, quer comprar? Vai lá no Bar Jacob.”
A filha mais nova, ainda bebê, ficava dentro de uma caixa de maçãs que a mãe forrava, e as outras quatro filhas,
já desde pequenas, ajudavam os pais, sentadinhas atrás
do balcão. Elas estudavam nas escolas das redondezas:
Grupo Escolar João Kopke, Alexandre Manzoni, que mais
tarde viria chamar-se Escola Tiradentes.
Quando terminavam as sessões de teatro iídiche, atores
como Gutovitch e empresários como Lubeltchic iam lá
tomar seu chá.
Sua filha Carlota conta que o Sr. Jacob colaborava com
todos que lhe pediam ajuda. Numa ocasião em que dois
homens chegaram pedindo auxílio para alguma noiva
pobre da colônia, uma de suas filhas retrucou: “Mas
pai, você conhece esses homens? De onde eles são?”
Ele respondeu como sempre dizia: “Se alguém pede
ajuda, não se pode negar; fiz a minha parte, a deles
ficam em suas consciências.”
Ele fazia as compras para o restaurante no Mercado
Municipal, único lugar na época capacitado para fornecer quantidades maiores; e de lá voltava, com a carroça
cheia, sentado ao lado do cocheiro.
11
Casamento de Vinik Kotler, realizado pelo Buffet Jacob, no Clube Homs - 1954 (Acervo AHJB)
Jacob Givertz e sua equipe, no Buffet Jacob (Acervo AHJB)
HISTÓRIA
HISTÓRIA
12
ficarem postados quando a noiva entrasse no salão.
Pela manhã, bem cedo, a Companhia Antártica, que fiNo cardápio, entre outros itens, era servido um frango de
cava no fim da Rua José Paulino, deixava na porta do
leite para cada pessoa, e o serviço era à francesa. O peixe
bar blocos de gelo. Estes eram apanhados com sacos de
entrava triunfalmente em bandejas, na altura dos ombros
estopa e colocados no balcão-geladeira de madeira, cujo
dos garçons enfileirados embalados pelo som da música
interior era forrado com folhas de flandres que conserRussen-Kale Mazel Tov (noivo e noiva, parabéns). Sobre
vavam a baixa temperatura. Debaixo destas, ficava uma
pranchas e cavaletes forrados com toalhas da Ilha da Mabacia para recolher o gelo derretido.
deira, era servido o delicioso ponche em duas enormes
Os casamentos eram realizados no salão, que ficava no
poncheiras prateadas “importadas” do Automóvel Club
sub-solo da sinagoga da Rua Newton Prado. Na época, as
Paulista, adquiridas nos anos 50.
maçãs eram importadas e caras e, no fim das festas, estas
Os pagamentos de algumas festas eram feitos em suaves
eram servidas em bandejas que vinham do fundo do salão;
prestações mensais que, às vezes, completavam um ano.
quando chegavam na metade do caminho, já não havia
Havia festas em que o número de pessoas que chegava
mais nenhuma na bandeja. Os doces eram feitos por Iuge,
era maior do que o combinado e o Sr. Jacob comentava:
polonesa judia que morava em uma vila na Rua da Graça.
“Tem mais turres (traseiros) que cadeiras.” Isto nunca era
Por volta de 1949, em um sobrado na Rua José Paulino, o
problema, pois sempre havia mesas e cadeiras em quanSr. Jacob, com a ajuda do genro Leopoldo, casado com sua
tidade suficiente para resolver o problema, sendo que o
filha Olga, abriu o salão “Salão Israel”, de tamanho médio,
preço continuava o combinado.
para começar a organizar festas. Além dessas, parte da
Eu, como neta do Sr. Jacob, quando encontro senhores ou
comunidade para lá se dirigia para ouvir piadas iídiches,
senhoras daquela época, eles me identificam quando digo
contadas pelo cômico Antfuss e sua mulher Basza Ajs (hoje
que sou neta do “Bar Jacob”. Começam, então, para meu
conhecida como Berta Loran).
grande deleite, a contar histórias pitorescas de meus avós...
Domingo pela manhã, no rádio, havia o programa “Mosaico” de Francisco Gotthilf, que, por ocasião de
algum casamento ou noivado, transmitia as felicitações dos familiares (bagrissing).
Depois da José Paulino, por volta dos anos 50, foi
aberta a “Mercearia e Buffet Jacob”, na Rua Prates
121, em frente ao Jardim da Luz, onde trabalhavam
o Sr. Jacob, o genro Leopoldo e a filha Olga. Vendiam
comestíveis judaicos e outros em geral, pois não havia supermercados na época. Um funcionário levava
as compras em sacolas de lona, caminhando ao lado
dos fregueses.
Em frente à sinagoga da Newton Prado havia a casa
do Buffet, com uma cozinha bem grande equipada com fogão a lenha. Os quartos eram o depósito
dos cavaletes e das pranchas para montar as mesas.
Quando se fazia o guefilte fish para uma festa de
quinhentas pessoas ou mais, as cozinheiras batiam
o peixe com o facão quadrado (haberbek).
As festas eram realizadas em vários salões: Maison Suisse, Palácio Mauá, Clube Homs e também
nas casas dos clientes. A parte musical das festas
ficava por conta de “Samuel e Sua Orquestra”,
que durante o dia era barbeiro e, nas festas, violinista. O mesmo acontecia com o que tocava acordeão: trabalhava na mesma barbearia e, além
disso, eletricista. Existia também a orquestra do
“William Forneau”. Houve um casamento da colônia com mil pessoas, em que o dono da festa
contratou os “Dragões da Independência” para Fany Rabinovitch, sua filha Ana (Givertz de casada) Odessa/ Russia - Acervo AHJB
13
ARTIGO
DA INTEGRAÇÃO À INTOLERÂNCIA: CRISTÃOS,
JUDEUS E MUÇULMANOS NA PENÍNSULA IBÉRICA
Rachel Mizrahi (*)
A
s Grandes Invasões Bárbarogermânicas
deram início a um conturbado período culminado em 476, com a queda de
Roma, então capital do Império Romano
do Ocidente. As conversões ao cristianismo dos grupos bárbaros e as conquistas árabes-muçulmanas, conhecidas como Guerras Santas, caracterizaram
o período medieval (século 5 ao 15) como o da Idade da
Fé. Cristianizados, os visigodos, no norte da Península
Ibéria, passaram a discriminar os judeus, procedentes de
Sefarad, instalados na região em tempos mais antigos. A
opressão visigótica cessou, quando os árabes, em nome
de Alá, conquistaram toda a península, sedimentando o
poderio muçulmano no Mediterrâneo, principal eixo das
ligações comerciais da Idade Média.
O respeito árabe aos Povos do Livro – judeus e cristãos havia permitido sua presença nos domínios muçulmanos
sem se converterem, desde que efetuassem o pagamento de certas taxas impostas pelos Estatutos das Minorias - Dhimmis. A tolerância institucionalizada conduziu a
uma relativa integração cultural entre os três grupos religiosos na Ibéria. Junto aos precavidos cristãos, eminentes judeus foram convidados a fazer parte do poder e das
finanças árabes, como Hasdai Ibn Shaprout de Córdoba
que, além de representar sua comunidade, exerceu funções diplomáticas ao Califa Abd al-Rahman (912-961).
Nos domínios muçulmanos ibéricos, o ensino do Alcorão
e da Torá contribuiu para a difusão de conhecimentos
em período conhecido como áureo, pois, além dos estudos religiosos, expressivo número de judeus passou a dedicar-se à filosofia, às ciências, à medicina, à astronomia
e à poesia, produzindo magníficas obras, entre as quais,
a de Samuel Ibn Gabirol (1021-1080) de Granada, autor
da obra Mekor Haim – Fonte da Vida, escrita em árabe. A
integrativa sociedade ibérica contrastava com a produzida na Europa Medieval Cristã onde, os judeus excluídos
da posse da terra, viviam em comunidades fechadas. O
enquadramento de alguns no serviço da coleta de taxas
e impostos - função desprezada pela população geral ampliou a discriminação e o antissemitismo medieval.
Considerado a própria encarnação do mal e do pecado, o
judeu transformara-se em objeto de infindáveis suspeitas
e frequentes castigos.
A Reconquista cristã da Península Ibérica impediu a continuidade do processo integrativo e o geral respeito árabe pelas diferenças religiosas. A tomada de Toledo em
1085 permitiu aos almoravis, fanáticos muçulmanos do
Norte da África, invadir a região, gerando inseguranças
e a mobilização de algumas famílias judias, como a de
Moshé Ben Maimon (1135-1204); ao exílio em terras do
Nordeste da África. Este eminente racionalista, conhecido como Maimônides, ao buscar conciliar a teologia com
a filosofia judaica, escreveu o “Guia dos Perplexos”, obra
que atingiu expressividade medieval.
O exílio não foi regra. Diante das novas diretrizes muçulmanas, algumas famílias judias buscaram proteção nos
reinos de Castela, Aragão e Navarra que, fortalecidos nas
lutas da Reconquista, se interessaram por expressivos
signatários judeus à ocupação de cargos nas finanças e
na administração de seus reinos. Se o domínio do árabe – idioma da ciência, da administração e dos negócios
– transformara os judeus em agentes importantes nos
contatos com o sul peninsular ainda a reconquistar; o
forte apoio estatal cristão proporcionou aos sefaraditas
a segurança sempre desejada. A aliança entre a realeza
espanhola e a elite judaica atingiu seu auge, quando Samuel Halevi foi designado para Primeiro Tesoureiro de D.
Pedro de Castela (1350-1369), rei que edificou a famosa
sinagoga toledana do Trânsito, em 1367.
Conquanto houvesse confluência de interesses, as relações políticas entre judeus e espanhóis foram deteriorando-se, sobretudo pelo esforço missionário católico em
incrementar o ódio a um povo de uma religião desprezada. A crise econômica de 1380 fortaleceu as tensões
sociais condutoras das hostilidades da população aos judeus, em especial, quando as acusações de profanação
da hóstia se tornaram frequentes. Diante das ameaças
e, em clima de terror, judeus de prestígio foram obrigados a se converter ao catolicismo. Em 1391, populares,
conduzidos pelo inflamado clérigo Vicente Ferrer, foram
ARTIGO
14
levados aos violentos massacres dos judeus de Sevilha.
O casamento de Fernão de Aragão e Isabel de Castela
permitiu que as conturbadas relações sociais fossem
controladas pelo Tribunal da Inquisição de Sevilha, sob
a direção de Tomás de Torquemada, confessor da rainha.
Em 1492, ao conquistar Granada - último reduto militar
mouro, os reis católicos, não conseguindo superar os impasses de uma sociedade dividida entre cristãos velhos,
conversos e judeus e, imbuídos da mítica idéia de “um
reino cristão para súditos cristãos”, decidiram expulsar
de seus domínios não somente os mouros, mas os judeus. Com este ato, a Espanha, politicamente unificada,
resolvia seu impasse social. A grande maioria dos expulsos judeus dividiu-se, de imediato, entre as possessões
muçulmanas do Norte da África e de Portugal, reino vizinho, juntando-se às comunidades judaicas locais.
No período e de forma diferente, os judeus de Portugal
ainda preservavam a antiga independência, inclusive no
direito à posse de quintas e outras propriedades. A comum proximidade e a convivência entre judeus e cristãos
se mantinham, impedindo que as discriminantes ordens
papais, como a da distinção social pela forma e cor dos
trajes, fossem regularmente seguidas. Em comunidades
abertas, onde se preservavam costumes e tradições, os
judeus eram, na justiça civil e criminal, geridos por seus
próprios juízes. O Arabi-Mor, nomeado pelo rei, continuava como máximo representante comunitário, supremo
magistrado e, indicado para Ministro da Fazenda Real.
Frente ao Atlântico, Portugal, ao priorizar o desenvolvimento da ciência náutica, favoreceu o crescimento de
uma classe urbana, predominantemente judaica. A política lusa, conduzida pela Dinastia de Aviz (1385-1582) e
apoiada pela burguesia, não deixou de ser influenciada
pelos dramáticos acontecimentos dos reinos vizinhos. Os
massacres em Sevilha de 1391 levaram D. João II a autorizar a entrada de importantes famílias judias em seu reino,
favorecendo empreendimentos da política expansionista
portuguesa. A expulsão de 1492 levou cerca de 100.000
judeus a se posicionarem em Portugal, por ordem de D.
Manoel, sobrinho e sucessor de D. João II. Conhecido nos
documentos como “o Venturoso”, “Rei da Pimenta” e “Rei
dos Judeus” (pela presença de numerosos judeus nas caravelas), D. Manoel I serviu-se dos préstimos do famoso
astrólogo e cronista Abrão Zakuto, cujos trabalhos possibilitaram ao navegador Vasco da Gama chegar às pro-
curadas e verdadeiras Índias. Negócios comerciais foram
incrementados, decorrentes dos descobrimentos de novas
terras e exploração das especiarias e mais riquezas, ansiosamente procuradas. Pode-se dizer que o desbravamento, a exploração e a colonização costeira dos continentes
africano, asiático e americano puderam ser concretizados
pelo apoio da burguesia portuguesa, de origem judaica.
A favorável conjuntura em relação aos judeus portugueses
quebrou-se, quando D. Manoel casou-se com Isabel, viúva
do infante português, que, assistira ao ato de expulsão
dos mouros e judeus por seus pais. Ao casar-se, pediu a
inclusão de uma cláusula no contrato de casamento, exigindo a expulsão dos judeus de Portugal. Em 1497, D. Manoel, ao cumprir a determinação contratual, ao invés da
expulsão, impôs a Conversão Forçada de todos os judeus
de Portugal. Com este ato, a harmonia social prevalecente
teve fim, revelada pelo massacre de 2.000 cristãos novos
ou conversos em Lisboa, no ano de 1506.
O crime de apostasia generalizou-se: o cristão novo praticava formal e clandestinamente a religião e os costumes
de seus antepassados, esquecendo ou negligenciando os
preceitos da religião católica. Subordinados à Igreja, de
forma voluntária ou não, os novos cristãos deveriam seguir as determinações do catolicismo, aceitando os dogmas, assistindo às missas e praticando seus rituais. Rivalidades e embates entre cristãos velhos e cristãos novos
tiveram fim, quando o papa Paulo III autorizou o funcionamento da Inquisição, com pronto assentimento de D.
João III, sucessor de D.Manoel. Instalado em 1536, o Tribunal do Santo Ofício, verdadeiro instrumento de poder,
passou a atuar em Portugal e na Espanha, na ferrenha
busca pela ortodoxia da fé católica.
Os 40.000 processos existentes nos arquivos portugueses
revelam uma maioria de cristãos novos originários do reino e das possessões ultramarinas, entre as quais, o Brasil.
Fiscalizados por Visitadores do Santo Ofício e denunciados pelos “familiares do Santo Ofício”, mais de um milhar
de cristãos novos lusobrasileiros foram encaminhados ao
Tribunal da Inquisição de Lisboa, dando início a um longo
período de intolerância e desrespeito humano, somente
amenizados quando os ideais da liberdade, gerados pela
Revolução Francesa, ecoaram nas terras ibéricas pelas
tropas invasoras de Napoleão Bonaparte.
* Rachel Mizrahi é professora, doutora em História Social
(USP) e autora de vários livros.
15 MEMÓRIA
SONIA, A DOCE CELINA
Memórias de uma jovem nos anos 30 (1915-2009)
Léa Vinocur Freitag
D
uas vezes por dia eu costumava ir
ao hospital, atravessando a pé um
caminho arborizado e tranquilo.
Esse trajeto me sugeria sempre a
canção de Fauré, Le plus doux chemin: “A meus passos o caminho mais doce conduz
à porta da amada. E mesmo que seja cruel, espero
passar outra vez amanhã.”
Não tinha idéia de como seria o dia seguinte –
melhor ou pior. Sonia completou 94 anos em 23 de
março. No dia 25 faleceu e passei a rememorar tantas coisas que ela havia contado, como testemunha
de muitas décadas vividas intensamente, no contato
com uma colônia judaica ainda pequena e fechada.
Esther Sonia Rosenberg Vinocur era chamada
por vários nomes: Sonia, na família do marido;
Celina, entre as primas; D. Esther, nas fichas médicas. Minha mãe deixou uma imagem de vivacidade e alegria – sempre uma boa palavra e um
sorriso acolhedor. Sua vida era dinâmica: fazia
ginástica, estudava piano, francês, lia, ouvia música e acompanhava o noticiário. Supunha-se que
seria eterna, invulnerável à armadilha da morte.
As pesquisadoras do Núcleo de História Oral do
nosso Arquivo, Suely Epstein e Paulina Firer, já haviam gravado o depoimento de Sonia, em entrevista sobre a vida dos judeus em São Paulo, em diversas épocas que ela havia presenciado. As palavras
que escrevo sobre ela não pretendem atingir um Sônia na infância
O pai de Sonia casou-se novamente com Clara Gorensrigor histórico. Como observava Saint-Exupéry, “só se vê
tein e dessa união nasceu Perel (Pérola), que foi educabem com o coração, o essencial é invisível para os olhos”.
da numa escola tradicional do Rio de Janeiro. Pérola era
Sonia nasceu em Recife, em 1915 e estudou no Colégio
combativa, inteligente e sensível, tornou-se uma grande
Pritaneu. Como tantos outros imigrantes, seu pai vendia a
atacadista de jóias e vinha periodicamente a São Paulo,
prestação, e era conhecido como “Moishe do Pires”, por
o que estreitou a nossa amizade. Sua filha Tanha, casada
morar na Rua Gervásio Pires, reduto de judeus na época.
com Raul, estudou Filosofia e dedicou-se ao magistério no
Nessa cidade está enterrado, no velho Cemitério do Barro.
Rio. Por coincidência, são velhos amigos da nossa colega
A mãe, Elisa, de quem tenho o nome, faleceu quando
do Arquivo, Miriam Landa (o mundo judaico é pequeno)!
Sonia tinha cinco anos. Ela sofria com essa lembrança
Voltando à infância de Sonia, seu pai veio a falecer
distante e evitava relembrar tanta dor. A avó, Miriam
quando
ela tinha onze anos. A tia Olga, irmã da mãe,
Spector (Bobe Mirl), era respeitada por sua bondade. Seu
mandou buscá-la em Recife e assim, ela se tornou a catúmulo, sempre visitado, é o segundo do Cemitério de
çula da família de Olga e Isaac Tabacow. Na cerimônia
Vila Mariana, em São Paulo.
MEMÓRIA
16
Os tios: Olga e Isaac Tabacow
de Shiva a prima Lúcia Felmanas Akerman, filha de Fanny
Tabacow Felmanas, com palavras comovidas, sintetizou
essa relação fraterna na família:
“Querida prima Celina
Você, com o seu jeito tímido e discreto, nos ajudou
a superar muitas e muitas adversidades. Seu sorriso
sempre presente, sua discrição, interesse pelas outras pessoas e, sobretudo, a meiguice, fizeram com
que nós, da família, sempre quiséssemos você por
perto, em qualquer ocasião – festas ou acontecimentos tristes.
Depositária do nosso passado, sempre recorríamos
a você para perguntar algo daquele São Paulo antigo. Ao mesmo tempo, você sempre foi atualizada,
moderna, corajosa, estudiosa e elegante, de acordo
com a evolução dos tempos.
Celina querida, chegou a hora do seu descanso.
O seu brilho iluminará a eternidade e o seu exemplo, as nossas vidas. Obrigada por tudo o que
você nos deu.”
As palavras de outra prima, Lisca (Elisa Kantor), que
também tem o nome da mãe de Sonia, acrescentaram
mais um ângulo: “Celina transmitia alegria. Nunca
pronunciou uma palavra menos generosa a respeito
de alguém.”
A vida na família de Olga e Isaac Tabacow era alegre e
acolhedora nos diversos locais em que moraram- Consolação, Helvetia e Alameda Lorena (nesse último endereço tenho recordações de infância). Celina cresceu feliz,
na companhia de Fanny (Felmanas), Lula (Rachel Bacaleinik), Elisa (Kauffmann), Sara (Bedricow) e José Taba-
cow. Estudou na Escola Americana
e no Mackenzie e sempre cultivou a
amizade das antigas colegas, como
Yvonne Prado de Alencar, que ainda
se lembra da casa de D. Olga, cheia
de jovens, e do casamento de Sonia,
no ritual judaico tradicional.
Fazia parte da família a empregada
de confiança, Maria Augusta Pereira, cujo apelido era Mô, portuguesa
forte e rosada, com longas tranças
presas num coque. Criou várias gerações e muitos anos depois, foi trabalhar com a minha mãe. Com ela,
aprendi a fazer tricô e me orgulhava
do meu ponto todo igual e caprichado. Mô estava sempre cuidando do
jardim e das rosas e hoje moro nessa casa, que sempre amei. As rosas continuam viçosas, e
Luiz, meu marido, está sempre atento à época de chamar
o jardineiro. A história de Maria Augusta Pereira documenta uma época antiga de São Paulo. Para escolher uma
empregada doméstica, D. Olga Tabacow foi ao Largo de
São Bento, onde encontrou a Mô, que deveria ter treze
anos, acompanhada pela mãe. Serviu a família durante a
vida inteira, tratada com amizade e carinho, prestigiada
nas festas e nos casamentos. Ganhou sua própria casa,
mas apreciava o convívio com a nossa família.
Um lance triste atingiu a vida afetiva da Mô. Quando jovem, se apaixonou por um padeiro do bairro, que prometeu casamento. Um dia, porém, o dono da padaria procurou
Isaac Tabacow e confidenciou que o rapaz era casado em Portugal e pretendia trazer a esposa, como
era costume. Com muito
jeito, ele conversou com
a Mô, que se mostrou
desesperada e revoltada
– nunca mais quis saber
de uma relação amorosa.
As moças da casa se casaram, foram formando
suas famílias e a Mô permaneceu sozinha, apenas
acompanhando
novas
crianças, filhos e netos,
que não eram seus, apeCasamento de Sônia e Paschoal Vinocur
sar do afeto.
17 MEMÓRIA
As lembranças de Sonia podem reconstituir
momentos significativos da história dos judeus
em São Paulo, como o apoio a imigrantes e
necessitados, auxiliados por Olga Tabacow. A
Unibes, por exemplo, já se chamou Ofidas e,
anteriormente, Sociedade das Damas Israelitas.
Celina ajudava D. Olga a fazer fichas das pessoas
ajudadas, que recebiam dinheiro, roupas e indicações para trabalho. Não havia nenhuma organização ou burocracia, apenas solidariedade e
vontade de colaborar.
Outra tia, irmã da mãe, Tante Etel, era uma figura emblemática no velho Bom Retiro, sempre
visitada por Celina. D. Anita praticava mitzvá e
tzedaká (caridade): ajudava noivas pobres, conseguia um vestido melhor para a moça que precisava de um emprego, providenciava ingredientes inacessíveis às famílias mais pobres para as
festas judaicas. Ficava no terraço de sua casa na
Rua Prates, em frente ao Jardim da Luz, saudada
por tantos amigos que passavam.
A Revolução Constitucionalista de 32 foi heroica para São Paulo, mas deixou marcas de luto
e tristeza nas famílias que perderam tantos jovens. Nessa época, as moças se reuniam perto
do Mackenzie e confeccionavam agasalhos para
os combatentes. Sonia colaborou muito e recordava o drama de 32, com as colegas de luto,
pela perda de noivos e irmãos.
Mas houve momentos de alegria e glória – Celina foi coroada “Rainha Ester”, a moça mais bonita no baile do Círculo Israelita. E havia em alguns
Elisa (Spector) Rosenberg, mãe de Sônia
domingos as audições de piano na casa do grande mestre Cantu, frequentadas por Celina, e pelas primas. Rio, onde Paschoal iniciou a carreira, após se formar na
Todas estudavam no velho piano Blüthner e Elisa dedicou- Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, em 1935 – um
se mais à música e à pintura. Tenho lindos quadros que dos primeiros médicos judeus. O noivo foi bem recebido
ela me oferecia, estimulando o meu interesse pelas artes. na família – falava e escrevia em iídish, o que encantou D.
Assistiam aos recitais dos melhores intérpretes, como Brai- Olga Tabacow.
lowsky e Gulda, e Celina não perdia essas apresentações.
Pude constatar o que significa a mãe na cultura judaica.
Até os últimos tempos da sua vida ouvia música e estudava Nunca imaginei que a minha perda fosse sensibilizar tão
piano com Regina Martins, excelente pianista, esposa de intensamente os amigos do Arquivo, do Presidente Jayme
José Eduardo e cunhada de João Carlos Martins.
Serebrenic aos funcionários. Pude compreender melhor o
Ótima aluna no Secretariado do Mackenzie, que na sentido da canção “Iz bitter ven a mame felt” (É amargo
época equivalia a uma pós-graduação, pelo alto nível do quando falta a mãe).
ensino, Celina logo foi convidada para os melhores cargos, encaminhada pelo diretor do Mackenzie, Mister Anderson à Rádio Educadora e à Anderson Clayton.
* A autora é professora titular em Sociologia da Arte (ECA-USP),
De acordo com os costumes da época, Sonia parou de autora de “Momentos de música brasileira” (1985), diretora de
trabalhar após o casamento. Passou um curto período no Música e Discoteca do AHJB.
MEMÓRIA
18
KARL LIEBLICH
JUDEU, JURISTA, JORNALISTA, POETA, PENSADOR, HOMEM DE NEGÓCIOS E EXILADO
EVA LIEBLICH FERNANDES
Nasceu em 1º de agosto de 1895 em
Stuttgart (capital do Estado de Württemberg, Alemanha); viveu de 1937 a 1958 no
Brasil, como refugiado do nazismo. Faleceu
em 1º de março de 1984, em Stuttgart – eis
os dados sucintos do destino de um escritor
judeu alemão, por muito tempo esquecido
(weitgehend in Vergessenheit geraten).
Seus pais, oriundos da Galícia (província
do antigo Império Áustro-Húngaro), haviam
emigrado para a Alemanha em 1891, onde
o pai, Mauricio, se estabeleceu com uma
firma importadora de ovos, fundando, em
1913, o “Primeiro Frigorífico e Fábrica de Gelo do Estado
de Württemberg”. O casal teve três filhos, Karl, Gisela e
Dora, quatorze e dezesseis anos mais velhas que Karl. Ambas se casaram cedo, foram morar longe, e o rapaz cresceu
praticamente como filho único. A Galícia continuou presente na vida da família nas viagens de férias, mas não era
ambiente do agrado do jovem Karl. Em 1927, ele escreveu
ao filósofo-teólogo Martin Buber: “(...)a Galícia causoume uma antipatia geral contra tudo o que fosse do Leste. Aconchegava-me em minha origem alemã, escondia a
minha descendência, meus sentimentos eram estritamente
alemães – pelo menos, acreditava fosse assim.” Como ele
mesmo insinua, a assimilação alemã revelou-se traiçoeira;
o judaísmo viria marcar fortemente sua vida.
Em 1913, formou-se no Karlsgymnasium em Stuttgart,
sem se ter distinguido como aluno brilhante. Em uma
autobiografia sucinta, escrita para o jornal Schwaebische
Bilderblatt no ano de 1917, ele relata: “Cedo revelei grande empenho em assuntos que nada tinham a ver com o
ginásio.” Em 1912, por exemplo, editou o “Guarda Noturno da Suábia - Órgão Oficial da União dos Abstêmios
das Escolas Alemães, da Província Suábia da Germânia”,
sendo ele editor, redator-chefe, compositor tipográfico,
impressor e expedidor.
Ainda durante o seu tempo de ginásio,
começou a escrever poemas inspirados pela
poética de Heinrich Heine, publicados em
1914, sob o título de Trautelse, pela editora Xenia, de Leipzig. Nos anos 60, o poeta
referiu-se àqueles primeiros testemunhos de
seu talento literário, falando de si mesmo na
terceira pessoa:
“Lieblich escreveu esses poemas aos 16,
17 anos, debaixo da carteira na classe, sem
se importar com o que acontecia ao seu redor. Tinha convicção da qualidade de seus
poemas, assim como da própria vida. Brotavam de seu coração; logo, haviam de falar aos corações.”
Em sua maioria, são poemas de amor. No poema “O
que tudo ultrapassa”, por exemplo, diz:
Não há montanha alta, fria e branca,
Nem campo espinhoso, escarpado e quente,
Não há torrente larga, nem mata cerrada,
Que impeça o coração de se ligar ao coração.
Em uma de suas primeiras críticas para o jornal Augsburger Nachrichten, Bertolt Brecht (ainda sob o pseudônimo de Bertolt Eugen) escreveu: “Mediante tais versos,
de grande força de construção contemplativa, é lícito
prever que Lieblich um dia será famoso. O poema “Noite
de Primavera” foi elaborado como canção pelo compositor F. Jerosch. Apesar desses sucessos, anos mais tarde,
Lieblich via aquelas suas primeiras tentativas literárias sob
uma luz mais crítica. No início dos anos vinte, o autor, um
pouco mais amadurecido, mandou destruir o restante da
edição. Todavia, Lieblich não parou de escrever poemas
que ocasionalmente publicava, utilizando frequentemente o pseudônimo Ark Schillbeil.
Após breves incursões nos estudos de Medicina e Filosofia, resolveu, “resignadamente”, como ele mesmo
relata, estudar Jurisprudência, sendo logo interrompido
pela eclosão da 1ª Guerra em 1914, da qual participou
19
como voluntário. De modo juvenil e “naif”, como muitos
de seus contemporâneos, estava pronto a morrer pela pátria. Em 1915, compôs estes versos:
E quando chegar a hora do destino
Parto com o olhar altivo
Da vida que tanto amei;
Não foi em vão que morri,
Honra e glória alcancei
A mais bela meta a atingir!
Essa disposição a favor da guerra, entretanto, logo haveria de ceder à desilusão. Já em 1916, Lieblich escreveu:
Oh povos, deixai dos dados
Não continuai a jogar!
Quem ganha é a morte
A ela cabe a última palavra
Durum, durum.
Ela passa o olhar sobre os vastos campos
Desertos e ressequidos
E reconhece, satisfeita:
É o meu recorde universal
Na época, esse poema foi proibido pela censura. Foi publicado somente depois da Guerra, em 1919, na Tribüene,
revista bimensal “para o entendimento social”, editada por
Lieblich conjuntamente com Gustav Seeger, sindicalista e
tipógrafo, na cidade universitária de Tübingen, onde cursava Direito. Publicou na revista, além de poemas, aforismos e também um conto. A revista seguia um programa
de altos ideais, mas teve de encerrar suas atividades depois
do sexto número, por razões financeiras.
Em 1920, Lieblich terminou o curso de Direito com um
trabalho de doutoramento e, em 1923, abriu seu escritório de advocacia na rua principal de Stuttgart. Além disso,
escrevia sobre a vida cultural da capital de Württemberg
para o Münchner Neueste Nachrichten, jornal importante
de Munique.
Ainda em 1920, casou-se com Olga Lieblich, sua prima.
Construiu uma bela casa num bairro residencial. Do casamento nasceram quatro filhas. Enquanto Karl não se
ligava ao judaísmo, Olga era uma judia consciente e ativa.
Pertencera ao movimento juvenil sionista de sua cidade
natal, Estrasburgo, e continuou a manter certas tradições
religiosas no lar.
Depois da Guerra, ao lado da vida familiar e profissional, Karl Lieblich continuou a escrever e a publicar. Em
1918, a novela “O reencontro” saiu como livrinho da edito-
MEMÓRIA
ra Reclam. Escrevia contos, poemas e ensaios para diversos
jornais alemães importantes. O conto “A peste em Stuttgart” foi incluído no Deutsche Knabenbuch (O Livro dos
Rapazes), de 1921. Suas obras foram apresentadas e lidas
no rádio, por ele mesmo. Também oferecia conferências.
Em 1923, a editora Diederich publicou Die Traumfahrer (Os
Viajantes dos Sonhos), contendo duas novelas de fundo
histórico. Um ano mais tarde, pela mesma editora, foi lançado Die Welt erbraust (“O mundo treme”), seis novelas;
e, em 1926, sua grande novela, Das proletarische Brautpaar (Os noivos proletários). Recebeu críticas favoráveis
e foi apresentado juntamente com escritores judeus como
Franz Werfel, Jakob Wassermann, Stefan Zweig, Hugo Von
Hofmannsthal e Else Lasker-Schueler.
Paulatinamente, Karl Lieblich começou a voltar-se para
temas judaicos e a novela Rausch und Finsternis (Embriaguez e Escuridão), que trata dos pogroms ocorridos em
1918-1919 na Ucrânia, escrita entre 1927-1928, é prova
disso. Nos anos de 1928, 1929 e 1930, deu diversas conferências sobre a temática do judaísmo, conferências essas que foram reunidas, em 1931, em um livro intitulado
Wir Junge Juden (Nós, Jovens Judeus).
Com correligionários, fundou a Bund für Neues Judentum (União para um Novo Judaísmo) e para propagar as
idéias da corrente, deu conferências em várias cidades.
Publicou essas conferências em seu segundo livro sobre
problemas judaicos Was geschicht mit den Juden? Oeffentliche Frage an Adolf Hitler (O que sucederá com os
judeus? Pergunta pública a Adolf Hitler).
Na época, às vésperas da ascensão do nacional-socialismo ao poder, a novela sobre os pogroms na Ucrânia
não encontrou editor. Foi publicada em 2005 pela editora
Gardez (a autora doou o livro ao Arquivo Histórico Judaico em março de 2009 - nota da redação).
Em 1933, a Reichsschriftkammer proibiu-lhe qualquer
atividade literária e, um ano mais tarde, veio a interdição
do exercício da advocacia.
Durante a sua estada no Brasil, embora se dedicasse ao
sustento da família, Karl Lieblich não abandonou o trabalho intelectual. Escreveu vários contos com temática paulistana que foram publicados na Alemanha depois que retornou a Stuttgart: “30 contos, uma história brasileira”, “O
casamento da cozinheira”, “Monumento ao brasileiro Antonio Coutinho que não era mendigo”, “Veneta” e outros.
Depois da volta à Alemanha, publicou mais um livro,
baseado em uma conferência, Os Segredos de Maimônides, no qual discutiu preceitos religiosos judaicos.
HISTÓRIA 20
Etale, a última imigrante
Israel Blajberg (*)
Era o que contava Abram Blajberg, o primeiro dos 10 irmãos que abandonou a Polônia gelada. Com apenas 19 anos, desembarcou, em 1929, na Ilha das Flores, hoje
Base dos Fuzileiros Navais em frente ao Carrefour na Niterói-Manilha.
Esta fantástica história ficou por isso mesmo, até que veio a internet. Abram já tinha partido, mas era verdade. Estava lá no Google: Bad Bleiberg, aprazível estância
turística, hotéis luxuosos, rodovias de primeira classe serpenteando pelas escarpas
montanhosas. E a mina...
Durante séculos, extraíram chumbo, zinco, cobre, até que
os depósitos minerais se exauriram. A mina virou spa, com
águas termais sendo canalizadas para os banhos, sempre
tão procurados pelos turistas hospedados nos muitos hoteis, passeando nas montanhas, visitando a antiga mina
desativada e os parques do entorno. Abram, que gostava
muito de Poços de Caldas, sem saber, frequentava a Bad
Bleiberg brasileira...
Etale, diminutivo carinhoso em iídiche para Ada, nasceu
em 1918, ao término da 1ª Guerra Mundial. Em 1933, imigrou para a então Palestina do Mandato Britânico, onde
conheceu um jovem soldado britânico, Ovadia Gotlieb,
que fumava cachimbo, e que veio a ser seu marido. O jovem casal viu nascer o Estado de Israel, viveu os rigores das
guerras, tendo dois filhos, netos e bisnetos.
Durante 50 anos, os irmãos em Israel não viram o irmão
do Brasil, até que Abram os visitou em 1980. O encontro
saiu no principal jornal, Maariv.
O tempo passou, os irmãos foram partindo, até que, no
dia 13 de agosto de 2009, aos 91anos, o Divino chamou a
si a última dos Blajberg, ainda nascida na Polônia.
No Jardim do Éden reuniu-se aos pais Shlomo e Hana desaparecidos em Treblinka al kidush haShem, quando da
liquidação do gueto de Ostrowiec em 1942, aos 2 irmãos
falecidos ainda crianças, 2 desaparecidos no Holocausto, 3
que foram para Israel, 1 de San Diego e 1 do Rio.
Embora todas as mães sejam iguais, uma espécie de
lenda se formou em torno das mães judias, criando a
imagem de mãe extremosa, a super-mãe. Etale certamente era uma delas, com o seu carinho e ternura maternal
que se transferia com a mesma força também para netos,
bisnetos, sobrinhos, filhos dos sobrinhos, sem exceção,
todos fãs da sua culinária fantástica, aprendida ainda na
Polônia com a mãe Hana.
As visitas a Tel Aviv começavam e terminavam na cozi-
Etale, no centro da foto, em pé
nha de Etale, até que o peso dos anos determinou a sua
ida há 2 ou 3 anos para uma instituição, onde poderia
receber melhores atenções e cuidados médicos.
Hoje, o celular tocou. Um número estranho apareceu
na tela. Ao ouvir a voz de Shlomit, a prima de Tel Aviv,
logo pressenti o que ela tinha a dizer. Na véspera, havia
sonhado com Etale.
Abram Blajberg, seu irmão, era um Levi. O pai assim lhe
confiara a origem, recebida por tradição oral a ser passada para os filhos, netos, e assim por diante, enquanto
houvesse descendentes homens.
Muito antes de Ostrowiec, um antepassado não aceitou
unir-se aos demais hebreus que adoravam o bezerro de
ouro no deserto. A firmeza demonstrada determinou a consagração da tribo de Levi como a guardiã do Tabernáculo.
Até hoje somos assim, algo desconfiados, conservamos
as tradições. Etale era desse jeito; gostava de recordar
nossas origens, nossa luta, nossa vida.
Esta é uma história muito parecida com as de tantas
famílias judaicas. No entanto, nunca é demais repeti-las.
Por isso estamos aqui, decorridos tantos séculos e, apesar
do nome, tão brasileiros quanto qualquer brasileiro.
(*) [email protected]. Tel Aviv, Rechov Arlozorov 119 - 27, maio 2006
21
DOCUMENTAÇÃO
Instituições e formação da
comunidade judaica paulistana
Márcio Mendes da Luz (*)
O artigo que segue tem por objetivo fazer uma breve análise da imigração JUDAICA para São
Paulo, assim como sua inserção social e como as instituições agiram na formação e consolidação da comunidade na capital paulista.
Imigração
Optamos por dividir a imigração judaica para São Paulo em três etapas: a primeira, a maior, foi de 1900-1930,
composta majoritariamente por judeus da Europa Oriental1
(ashkenazim2) e por judeus do Oriente Médio (Sefaradim e
Mizrahim). Tanto os judeus da Europa Oriental como os do
Oriente Médio sofriam pressões econômicas e políticas de
seus governantes. Esses sofreram dilemas como opressão
política de druzos e mulçumanos, esfacelamento econômico e o desagrado de servir ao exército turco.
Os judeus ashkenazim sofriam constantes ataques (pogrom) de turbas enfurecidas, incentivadas pelas autoridades locais, principalmente os que estavam sob o jugo russo e eram obrigados a viver em uma região denominada
Zona de Residência (Pale Settlement), que se localizava no
que seria posteriormente o oeste da Ucrânia e a república
da Moldávia. Os judeus russos dessa região3 passaram
a sofrer constantes pogroms, principalmente após 1881,
quando ocorreu a morte do Czar Alexander II, devido a
um atentado provocado por um grupo paramilitar urbano
no qual participavam judeus.
Acredita-se que, entre 1900 e 1930, tenham imigrado
para o Brasil 40.185 judeus, 22.296 somente no período
entre 1925 e 1930, quando os Estados Unidos e a Argentina passaram a restringir a imigração para os seus territórios. Metade desse contingente se estabeleceu em São
Paulo. Com exceção aos sefaraditas e mizrahim, o judeu
que imigrava para o Brasil nesse período não tinha, em
geral, a aspiração de retornar a sua terra natal, e exercia
pequenos ofícios artesanais como alfaiates, sapateiros,
marceneiros e açougueiros nos pequenos vilarejos da Europa Oriental chamados de shetl, ou nos centros urbanos
do Império Otomano.
O segundo momento dessa imigração foi entre 1933 e
1940, composto majoritariamente por judeus da Europa
Ocidental que fugiam do crescente nazi-fascismo que assolava países como Alemanha, Itália, Hungria, Romênia,
Polônia e França de Vichy. Ao contrário dos que imigraram anteriormente, esses eram em sua maioria profissionais liberais ou industriais e sofreram restrições para
se estabelecerem em solo brasileiro, por serem considerados súditos dos países do Eixo. Todavia, apesar da política de restrição adotada pelo governo Vargas, o Decol
contabilizou a entrada de 29.675 judeus no Brasil nessa
época, sendo oito mil judeus alemães; segundo Kleiner5,
desses quase a totalidade se estabeleceu em São Paulo.
O terceiro período foi de 1945 a 1960, composto por imigrantes do norte da África e do Oriente Médio, que passaram a sofrer perseguições em seus países após a criação do
Estado de Israel, assim como por judeus da Hungria, que
fugiam da invasão soviética de 1956. Calculou-se que entre 1940 e 1959, tenham entrado no Brasil 23.755 judeus.
Assim como os da segunda etapa. Estes eram profissionais
liberais e industriais nem tampouco tinham tinham o menor interesse de voltar para o país de origem.
Inserção Social e Identidade
Para fazer tal análise, recorro a Poutignat & Streiff-Fenart7, que definem que os grupos imigrantes, ao se instalarem em uma sociedade, passam por quatro etapas de
inserção: adaptação, competição, conflito e assimilação.
Das quatro etapas, passarei pelas três primeiras, que são
as etapas que melhor definem a inserção social, econômica e política do grupo em São Paulo.
A imigração judaica para São Paulo é em sua maioria
urbana e concentrada na capital. Os judeus ashkenazim,
a maioria dos judeus imigrantes em São Paulo, ocuparam o bairro do Bom Retiro, já os judeus sefaradim e
mizrachim montaram as suas comunidades nos bairros
da Mooca e Alto da Bela Vista.
Assim como outros imigrantes de maioria urbana, como
sírios e armênios, os judeus sofreram com barreiras impostas pela sociedade local ao seu estabelecimento. Muitas dessas barreiras vinham do projeto imigracionista bra-
DOCUMENTAÇÃO
22
sileiro, pautado na vinda de mão-de-obra branca européia
para a lavoura, e o imigrante judeu não se encaixava nesse
quesito. Ao lermos o termo branco, proponho não ficarmos presos à questão racial e sim à questão cultural, pois
senão como explicar a vinda de imigrantes japoneses para
o Brasil em detrimento da vinda de chineses, sendo ambos
considerados racialmente amarelos?
A resposta pode estar no livro de Jeffrey Lesser8. Durante a leitura, notei que, para o governo brasileiro, ser branco teria o mesmo significado que o de ter costumes ocidentais: os japoneses já tinham contato com o ocidente, e
já estavam acostumados com o modo ocidental de viver;
ao contrário, os chineses, quando o emissário do governo
de Pequim veio ao Brasil e se vestiu de modo tradicional
chinês (não ocidental), causou má impressão aos fazendeiros, impossibilitando a imigração de chineses. Creio
que, para os cafeicultores, não importava a cor da pele
de seus empregados, desde que fossem ocidentalizados.
E me arrisco a dizer que a procura pela ocidentalização do
Brasil fez os fazendeiros recusarem a mão de obra negra
livre, por associarem a imagem do negro à África, um lugar hostil não civilizado, não ocidentalizado.
O judeu que imigrou para o Brasil no início do século
20 era pobre, artesão e tinha vivido recluso no shtetl. Não
estava acostumado ao modo ocidental de vida; portanto, não fazia parte do projeto imigracionista do governo
brasileiro. Tanto que foram comuns alguns conflitos entre esses e a sociedade local, como exemplifica Eva Blay9
em seu trabalho ao se referir à seguinte notícia de jornal:
“O Sr. Samuel Shoichet foi preso!”. Segundo a autora,
a polícia o prendeu pois o Sr. Samuel Shoichet andava
pelas ruas vestido com um “estranho capote negro, cabeça coberta por chapéu ou solidéu”, à maneira do traje
costumeiro do shtetl da Europa Oriental. O mesmo não
ocorreu com os judeus que vieram na segunda e terceira
etapas da imigração, pois já eram mais assimilados ao
modo ocidental de vida, sendo a maioria composta por
profissionais liberais ou industriais, o que facilitou a sua
inserção na sociedade brasileira.
Apesar de a sociedade nativa resistir em aceitar o elemen-
23
to imigrante, esse adototu maneiras e estratégias para se
inserir na sociedade paulistana, seja se tornando vizinho
dos Álvares Penteado ou mesmo realizando grandes festas
em clubes, que eram tão ou mais vistosos que os da elite
quatrocentona. Assim, construíram sua própria sociedade
com seus costumes e valores.
Conforme iam progredindo economicamente, os imigrantes iam deixando de viver nos bairros centrais da cidade, e preferindo moradias nos bairros mais nobres. Os
judeus que progrediram procuraram os bairros de Higienópolis10 e Jardins. Ao migrarem para as regiões mais nobres da capital paulista, os judeus encontraram uma das
barreiras da sociedade brasileira, ou seja, a inserção na
alta sociedade. Clubes como o Paulistano nos Jardins, que
era frequentado pela elite quatrocentona11 paulistana,
não aceitava imigrantes como seus sócios, por mais ricos
que fossem. Então, esses não viam alternativa a não ser a
de constituir seus próprios clubes e instituições. Para os
judeus, essas instituições ocupavam um espaço não preenchido pela ausência de um Estado Nacional.
Até 1948, os judeus não tinham um Estado Nacional
DOCUMENTAÇÃO
que os representasse; então, as instituições, religiosas
ou laicas, preencheram esse vazio. Segundo Helena
Lewin12, as instituições judaicas criaram seu landsmanschaft como células de convivência e sociabilidade entre aqueles que provinham do mesmo local de origem.
Eram mais que instituições, eram também espaços de
memória onde mantinham sua identidade judaica. Era
o contato social entre seus pares que lhes possibilitava
promover, coletivamente, a catarse da saudade e manter
os vínculos simbólicos com as suas raízes, que, embora
longínquas, continuavam sendo, nos primeiros tempos,
o seu referencial de vida judaica. Quem pesquisa as antigas instituições da comunidade encontra nomes como
Securoner Farain, Wolliner Farain ou Polisher Farain (ligadas aos ashkenazim), CIP (judeus alemães), CIBAT (judeus sefaradim). São sociedades de caráter regional. Até
as décadas de 1940 e 1950 essas sociedades ainda mantinham esse caráter regionalista.
Contudo, além de ocupar o lugar não preenchido por
um Estado Nacional ausente, essas instituições também
tinham o caráter de afirmar o status dos líderes dentro
DOCUMENTAÇÃO
24
da comunidade, bem como o da comunidade perante a
sociedade nativa e mantenedores da identidade intra-comunitária. Financiar clubes e instituições de beneficência
dava grande prestígio aos seus beneméritos dentro da comunidade. Esses filântropos se esforçavam em financiar
mais obras de caridade e, assim, tornar-se o Rosh HaGadol13 da comunidade. Possuir clubes suntuosos também
reforçava o status da comunidade perante a sociedade
nativa e outros grupos imigrantes, consolidando, então,
a imagem de serem bem sucedidos que cresceram sozinhos. Além de ser um grande centro mantenedor de uma
identidade étnica, revigorando os casamentos dentro da
comunidade, os bailes dos clubes eram os melhores locais
para “encontrar noivas e noivos judeus”.
Mesmo após a criação do Estado de Israel em 1948, as
instituições judaicas ainda mantiveram um lugar de destaque no seio da comunidade, assim como os seus mantenedores e, a partir de 1950, elas deixaram de ter caráter regional para ganhar um caráter integrador. O maior
exemplo desse novo caráter é a Hebraica, que congrega
todos os segmentos da comunidade. Ao contrário do que
se via antes, no entanto, passaram do papel de preencher
o vazio do Estado ausente, ao papel de representantes
desse Estado. A partir da década de 1970, já não havia instituições de caráter regionalista no seio da comunidade. É
o momento que considero que a comunidade judaica ganha características paulistanas formadas e consolidadas.
NOTAS:
1. Judeus com sobrenomes hispânicos são descendentes dos judeus que foram expulsos da Espanha em 1492 e de Portugal em
1506, estabelecidos em diversas colônias ao longo do mediterrâneo, Holanda e Inglaterra.
2. Judeus do Oriente Médio de sobrenome árabe.
3. 95% dos judeus do Império Russo moravam na Zona de Residência.
4. DECOL, René, Migrações Urbanas para o Brasil: o caso dos judeus, tese
de doutorado em demografia, Unicamp, Campinas, Dezembro de 1999.
5. KLEINER, Alberto. Inmigracion judia a Brasil, Instituto Hebreo de
Ciências, Buenos Aires, 1943.
6. DECOL, René, Judeus brasileiros: um panorama demográfico. In:
Cadernos de Língua e Literatura Hebraica, Humanitas, São Paulo,
2001, pp. 53-68.
7. POUTIGNAT, Philippe & STREIF-FENART, Jocelyne. Teorias da Etnicidade. Seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik
Barth, São Paulo: Ed. da Unesp. 1998.
8. LESSER. Jeffrey. A Negociação da Identidade Nacional: imigrantes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil, tradução: Patrícia de
Queiroz Carvalho Zimbre, São Paulo, Unesp, 2001.
9. 2002 BLAY, Eva Alterman; Sinagoga: Oração e Ação. ARQUIVO
HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO. BOLETIM INFORMATIVO AHJB.
nº26 ANO IV- 3º E 4º TRIMESTRES.
10. O Bom Retiro, no século 19, era o bairro da elite quatrocentona
paulistana, mas, a vinda de imigrantes que passaram a ocupar esse
bairro fez com que a elite passasse a rejeitá-lo. Ele ficara imundo, com
o surgimento de cortiços, assim criaram, Higienópolis, a cidade da
higiene. Um bairro ficou o oposto do outro e a troca do bairro central
pelo bairro nobre significava ascensão social.
11. Famílias paulistanas tradicionais.
12. LEWIN, Helena, DOPS: O Instrumento da repressão política, In: Cadernos de Língua e Literatura Hebraica, Humanitas, São Paulo, 2001.
13. Líder, em hebraico.
Marcio Mendes da Luz, orientando do Dr. MacDonald Michael
hall No curso de pós-graduação da Unicamp.
GENEALOGIA
O AVÔ DOS MOREIRA SALLES, VILELLA, PAULA MACHADO, ENTRE OUTROS
Na década de quarenta, um genealogista publicou a genealogia parcial da dinastia de pastores presbiterianos
Cerqueira Leite, quando, ouvindo a história da família,
traçou o perfil biográfico do tronco familiar, que era:
“(...) um judeu português por nome Richion (da Costa
Lima?), vindo para o Brasil já como “cristão-novo” (final do
século 18), aqui morrendo desgostoso por ter perdido o
seu barco mercante numa tempestade. Dizem que terminou seus dias vagueando sem rumo pelas praias desertas,
como se esperasse vislumbrar no horizonte interminável,
a qualquer momento, a embarcação que nunca mais che-
garia (...)” (TEIXEIRA, Fausto. “A família Cerqueira Leite”,
Revista Genealógica Brasileira nº 13, primeiro semestre de
1946, pp. 111-124).
Muitos anos depois, este personagem nebuloso foi plenamente identificado. Trata-se do português Francisco da Costa Pereira Requião (1743-1791), que adotara
como sobrenome a sua aldeia natal de São Silvestre de
Requião, Braga, negociante, que viveu em São Paulo e
morreu em Santana do Sapucaí (MG).
É possível que ele fosse de origem cristã-nova. Os ramos
mais ligados a ele afirmam isto. Quando foi possível
romper com o catolicismo, alguns de seus descendentes tornaram-se presbiterianos e geraram uma série de
Esther, Raquel, Samuel, dentre outros nomes bíblicos.
Porém, o melhor é ver os seus descendentes mais proeminentes: os banqueiros WALTER MOREIRA SALLES
(1912-2001, UNIBANCO), EUDORO VILELLA (19072001, ITAÚ), alguns PAULA MACHADO da nova geração
(EX-BOAVISTA) e surpreendentemente, FREI BETO.
25
BIBLIOTECA
OS VELHOS MARRANOS
E A “JUDEIDADE”
DOS BRASILEIROS
Gilberto de Abreu Sodré Carvalho (*)
Durante anos, estudei a genealogia dos meus antepassados Abreu Sodré. Simultaneamente, pesquisei sobre a formação da poderosa comunidade marrana, que se formou no Rio de Janeiro durante o século 17, e sua posterior destruição,
pela Inquisição, durante o século seguinte. Certa vez, indaguei-me quanto à razão de o Judaísmo pleno, que queria
emergir entre os marranos fluminenses nos primórdios coloniais, não voltasse em nova floração; talvez no Império, junto ao prestígio judaico dos Rothschilds, por exemplo. Por que a ação da Inquisição teria tido efeitos tão permanentes?
A resposta está no que segue. Em 25 de maio de 1773, o rei Dom José I (reinou 1750-1777), por obra de seu primeiroministro, o Marquês de Pombal, terminou com todas as restrições aos descendentes de judeus, que se tinham desen-
O governador Roberto de Abreu Sodré (1917-1999) inaugura, com a filha do homenageado, Dora Silvia da Cunha Bueno, o Bosque Cunha Bueno em Israel.
BIBLIOTECA
26
volvido no curso de muitos anos; fazendo parecer hipocritamente (como
se pode ler do texto ao lado) que a
Coroa não tivesse dado todo suporte
à Inquisição durante mais de cento e
cinquenta anos. Bem como não fosse
Dom Manuel I (reinou 1495-1521) um
opressor dos judeus, os quais converteu à força para entregá-los ao domínio da Igreja Católica; no tempo, uma
“instituição total” (como a classificaria
o sociólogo Erving Goffman), com poder de modelar a mente e submeter
por inteiro os que fossem seus membros formais, por via do Santo Ofício
da Inquisição. Com essa lei, não houve
mais perseguição aos marranos em
Portugal ou no Brasil, mesmo que a
Inquisição portuguesa perdurasse –
para maldades menores - até o início
do século 19. Dentro da ótica individual de cada marrano, a cessação da
discriminação foi positiva. Em termos
da permanência dos marranos como
comunidade, a “bondade” pombalina
foi o golpe final ao retorno ao Judaísmo pelos brasileiros descendentes de
israelitas que ainda estivessem resistindo à assimilação católica.
Após Pombal, o que ficou dos marranos foi simplesmente a presença
notável do elemento judaico no corpo e na alma dos brasileiros. Esse é
fato em si relevante, uma vez que
os brasileiros, fôssemos informados
pelos livros na escola, poderíamos
remeter a uma matriz israelita, tanto quanto à ancestralidade africana,
à origem européia ou ao passado
ameríndio. Não cogito em conversões. Seria o caso de simplesmente
construir um justo carinho e respeito
pelo povo judeu, em honra aos an-
tepassados dos brasileiros de hoje,
bem como entender que Israel, como
estado soberano e permanente, deva
ser necessariamente preservado na
comunidade das nações e protegido.
Eu sou um exemplo do DNA judaico tão distribuído em nosso tecido
social. A diferença que apresento é
a de saber disso e perceber esse fato
com gosto afetivo.
Penso que a frustrada volta dos
marranos brasileiros, a partir da célula fluminense ao povo de Israel, foi
resultado de três fatores que merecem pesquisa detida: a ação perversa
da Inquisição, no século 18, trazendo o medo, a discórdia e a perda dos
(...) construir um justo
carinho e respeito pelo
povo judeu em honra
aos antepassados dos
brasileiros de hoje,
bem como entender
que Israel, como
estado soberano e
permanente, deva
ser necessariamente
preservado na
comunidade das
nações e protegido.
meios econômicos da comunidade
em busca do Judaísmo; a ausência
de apoio externo para a guarda da
memória e da referência, como o faz
hoje o Estado de Israel frente aos
judeus da diáspora; e a “bondade”
do Marquês de Pombal, favorecendo
individualmente, mas eliminando as
possibilidades de restauração pelo
fato da assimilação.
O desaparecimento das restrições
relativas aos cristãos-novos, em seguida a 1773, fez com que as diferenças culturais e de convicção em
matéria religiosa, entre os marranos
e os cristãos típicos, sumissem dando lugar a um leque de possibilidades sociais de vida supostamente
cristã. Passou a existir no Brasil como
que uma liberação para se ser cristão de todo modo, inclusive do jeito
“marranizado” (em suas variadas nuanças e densidades, como diria Anita Novinsky), uma vez que o poder
da Igreja Católica, como “instituição
total”, tinha sido cassado. Por certo,
os atos de Pombal - que devem ser
vistos em linha com sua política de
desprestígio da alta nobreza pela elevação social da burguesia - forçaram
a coesão dos portugueses e da gente
das colônias pela assimilação recíproca dos diferentes. No entanto, na História dos Judeus - e no pensamento
dos que respeitam e lutam pela proteção da diversidade e da liberdade significou a dissolução, induzida pelo
alívio, do segmento social que tinha
memória judaica, o que poderia ensejar um retorno do ramo cortado ao
seu tronco. Tão definitivamente isso
ocorreu, que o Brasil contemporâneo
não sabe ou sabe muito pouco, com
as devidas cores, da sua judeidade.
A seguir, transcreve-se, em grafia e
pontuação atuais, texto abreviado e
da Lei de 25 de maio de 1773, do rei
Dom José I de Portugal:
Dom José, por graça de Deus, Rei
27
de Portugal e dos Algarves (...) Mando que a lei do Senhor Rei Dom Manuel, expedida no 1º de março de
1507, e a outra lei do Senhor Rei
Dom João o III, dada em 16 de dezembro de 1524, em que proibiram
a sediciosa e ímpia distinção de cristãos novos e cristãos velhos, sejam
logo extraídas do meu Real Arquivo
da Torre do Tombo e, de novo, publicadas e impressas com esta; para
fazerem parte dela, como se nela
fossem inteiramente incorporadas.
II. Mando que as mesmas duas saudáveis leis não só fiquem por esta
reintegradas na sobredita forma,
mas também que sejam inteiramente restituídas, contra o dolo com
que foram suprimidas na última
compilação das Ordenações, como
se nela houvessem sido incorporadas (...). III. Mando que as sobreditas duas leis e as que à semelhança delas tenho mandado publicar,
sobre as outras inabilidades que
nestes reinos se maquinaram e introduziram com os mesmos sinistros
objetos de sedições e de discórdias,
fiquem constituindo, desde o dia
em que esta passar pela Chancelaria
em diante, as únicas regras da ingenuidade ou inabilidade de todos os
meus vassalos, de qualquer estado e
condição que sejam; para se terem
por inábeis e infames os que desgraçadamente incorrerem nos abomináveis crimes de lesa majestade,
divina, ou humana e por eles forem
sentenciados e condenados nas penas estabelecidas pelas Ordenações
do Livro Quinto, Título Primeiro, e
Título Sexto, com os filhos e netos,
que deles procederem; sem que
contudo a referida infâmia haja de
influir de alguma sorte nem nos bisnetos; nem nos que deles procederem: E para se terem, por ingênuos
e hábeis, todos e quaisquer dos outros vassalos naturais dos meus reinos e seus domínios, cujos avós não
houverem sido sentenciados pelos
sobreditos abomináveis crimes. IV.
Mando que, restituindo-se todas as
habilitações e inquirições ao feliz e
devido estado em que (com tanto
benefício da paz da Igreja lusitana,
do sossego público e da honra e
reputação dos povos destes reinos
e seus domínios) estiveram por todos os séculos, que precederam às
sobreditas sediciosas maquinações,
não haja para os habilitandos daqui
em diante outros interrogatórios,
que não sejam os que se dirigem às
provas da vida, e costumes, quando
os habilitandos ou nas suas próprias
pessoas; ou nas de seus pais e avós
não tiverem inabilidade ou infâmia
de direito; servindo para as mesmas
inquirições e habilitações de regras
invariáveis os mesmos interrogatórios, que se continham nas constituições anteriores aos referidos breves
chamados De Puritate (...). V. Mando
que todos os alvarás, cartas, ordens
e mais disposições, maquinadas e
introduzidas para separar, desunir,
e armar os estados, e vassalos destes reinos, uns contra os outros em
sucessivas, e perpétuas discórdias,
com o pernicioso fomento da sobredita distinção de cristãos novos
e cristãos velhos, fiquem desde a
publicação desta abolidos e extintos, como se nunca houvessem existido, e que os registros deles sejam
BIBLIOTECA
trancados, cancelados e riscados em
forma, que mais não possam ler-se;
para que assim fique inteiramente
abolida até a memória de um atentado cometido contra o espírito e
cânones da Igreja Universal; de todas as Igrejas particulares e contra
as leis e louváveis costumes destes
meus reinos; oprimidos com tantos,
tão funestos e tão deploráveis estragos por mais de século e meio pelas
sobreditas maquinações maliciosas.
VI. Mando que todas as pessoas de
qualquer estado, qualidade, ou condição que sejam, que depois do dia
da publicação desta minha carta de
lei, de constituição geral e édito perpétuo, ou usarem da dita reprovada
distinção, seja de palavra, ou seja,
por escrito, ou a favor dela fizerem
e sustentarem discursos em conversações, ou argumentos: sendo eclesiásticas, sejam desnaturalizadas e perpetuamente exterminadas dos meus
reinos e domínios, como revoltosas
e perturbadoras do sossego público,
para neles não mais poderem entrar;
sendo seculares nobres, percam pelo
mesmo fato (contra eles provado) todos os graus da nobreza que tiverem,
e todos os empregos, ofícios e bens
da minha Coroa e ordens de que forem providos, sem remissão alguma.
E, sendo peões, sejam publicamente
açoitados e degradados para o reino
de Angola por toda a sua vida. (...)”
Fonte:
www.arlindo-correia.com/200908.html
* O autor é advogado e escritor, escreveu
A Inquisição no Rio de Janeiro no Começo do Século XVIII, Imago, 2008.
HISTÓRIA
28
O CAVALEIRO THALBERG
E SUAS ANDANÇAS
Abrahão Gitelman (*)
O nome de Sigismond Thalberg nos remete ao fim de
uma época, em que os virtuoses se exibiam nos palácios
e igrejas, e ao começo de outra, que os pôs nos teatros,
face a face com o grande público. Havia sido uma longa
evolução. No Brasil, no Segundo Império, havia a realeza e
a recém-criada nobreza circundante. Thalberg esteve por
duas vezes nesta nossa pequena imitação das cortes européias. Entretanto, já estava nascendo do lado de cá, o interesse pela Música. Entre 1816 e 1821, andou por aqui, um
outro Sigismond, (Neukomm, que fora aluno de Haydn),
professor e descobridor da obra do padre José Maurício.
Em 1847, foi fundado o “Conservatório Imperial” por
Francisco Manuel da Silva, o autor do Hino Nacional.
Vejamos o que diz a respeito de Thalberg, um musicólogo brasileiro, Vasco Mariz (1):
“Thalberg, Sigismond (Genebra, Suíça 1812- Posilipo,
Itália 1871). Compositor e pianista. Filho da nobreza, estava destinado à carreira diplomática. Aluno de Hummel,
Sechter e Mittag, estreou como pianista aos 14 anos. A
partir de 1835, realizou diversas turnês, logrando impor-se
como um dos maiores pianistas da época. Possuía prodigioso legato (2) elogiado por Liszt. Autor de duas óperas
que falharam e de peças pianísticas de mérito. Sua passagem pelo Rio de Janeiro, em 1855, causou sensação. Deu
vários concertos e foi condecorado por D. Pedro II.”
O abalizado “Grove´s” (3) complementa (e contradiz,
em parte), estas informações. Thalberg seria austríaco,
filho natural do Conde Dietrichstein e da Baronesa von
Wetzlar. Como intérprete, é colocado próximo ao nível
de Liszt (considerado o maior pianista do seu século). Em
1834, foi nomeado Kammervirtuos (4) pelo Imperador
da Áustria, (o velho Francisco I). Convém não esquecer
que, na época, Viena era considerada a capital mundial
da Música. Thalberg passa, a partir daí, metade do seu
tempo em Viena, e realiza excursões por toda a Europa,
da Espanha à Rússia. Compõe, principalmente, pequenas peças para piano; no mais das vezes, variações de conhecidas árias das óperas de Bellini, Donizetti, Meyerbeer
e outros que alcançavam o sucesso.
Façamos o rastreamento de alguns de seus passos a
partir de então. Em 1836, ei-lo realizando um duelo público de interpretação com Liszt. Embora considerado
vencedor da competição, Liszt elegantemente não poupa
elogios ao rival, dizendo inclusive que Thalberg é o único pianista do mundo a conseguir tirar “sons de violino”
do teclado. Mendelssohn e Schumann também têm em
alta consideração a sua habilidade técnica. Ele chega a
desenvolver uma forma de usar os polegares de modo a
simular “uma terceira mão”. Algumas de suas composições para piano solo, utilizando este efeito, são escritas
em três pautas.
Em 1843, Thalberg casa-se com uma filha de um bemconhecido tenor de óperas franco-italiano, Luigi Lablache, que mantinha uma residência em Nápoles. Daí, o
forte vínculo de Thalberg com esta cidade. No começo
dos anos de 1850, escreve duas óperas que são encenadas, respectivamente, em Londres e Viena, sem muito
êxito. Uma delas é sobre a inquieta e sensível rainha Cristina da Suécia, que no seu tempo - século 17 - foi uma
patronesse das ciências e das artes (a personagem histórica não teve sorte daquela vez, mas ficaria imortalizada
80 anos mais tarde por Greta Garbo...)
Em 1855, atravessa pela primeira vez o Atlântico para
apresentar-se no Rio de Janeiro. Vamos tentar entender
as razões do convite e da aceitação. Naquela época, o
continente americano ainda estava fora do roteiro dos
grandes músicos. Para viagens tão longas, as estadias
deviam, proporcionalmente, estender-se ao máximo. Haveria público para muitos concertos? D. Pedro II era um
entusiasta das artes e não media esforços para que o Brasil começasse a aparecer no cenário musical. O nome do
nosso imperador tinha um bom trânsito entre a realeza
européia. Era um descendente dos Habsburgo (por ser
filho de D. Leopoldina). Assim, Francisco I havia sido seu
avô materno. O sucessor do trono da Áustria, Francisco José, era seu primo-irmão. Por sua vez, a imperatriz
29
D.Thereza Christina era napolitana e nada menos que
irmã do rei Ferdinando II, do reino de Nápoles e Sicília
(também chamado de reino das Duas Sicílias). Thalberg
deve ter sentido-se bem seguro quanto às recompensas.
Pelo que sabemos, a receptividade brasileira aos seus
concertos foi apoteótica. Sua Majestade concedeu-lhe a
Ordem Imperial do Cruzeiro (5), no grau de Cavaleiro,
na própria noite da estréia, 25 de Julho daquele ano de
1855. A apresentação deu-se no Teatro Lyrico Fluminense (6). Exatamente dois meses depois, Thalberg realizou
outra afamada récita beneficente em prol do “Hospício
de Santa Thereza”, que era um hospital tutelado pela imperatriz. Tudo leva a crer que, durante a sua longa permanência, Thalberg foi hóspede da própria Família Imperial.
No ano seguinte, fez uma vitoriosa excursão pela América do Norte, acompanhado pelo violinista belga Henri Vieuxtemps (pois Paganini, o Liszt do violino, abriu o
campo também para os virtuoses deste instrumento). E
em termos de público, a Costa Leste dos Estados Unidos já era considerada pelos empresários como um rico
filão. Em 1858, adquiriu uma enorme herdade em Posilipo, nas cercanias de Nápoles. Contudo, tempos difíceis
viriam pela frente. A reunificação da Itália - o Risorgimento - provocou anos de instabilidade na região, incluindo guerras contra a Áustria. Sendo cidadão austríaco, as
suas oportunidades de se apresentar publicamente fica-
HISTÓRIA
ram bastante prejudicadas. Em 1863, pretendia fazer outra excursão à América, mas, devido à Guerra da Secessão que estava em curso, Thalberg aceita o convite para
realizar outro tour ao Brasil. E foi aqui que praticamente
encerrou a sua carreira. Em 1864, aposenta-se e torna-se
um produtor de uvas e vinho.
Em nenhuma composição de Thalberg, há a mais remota referência às suas temporadas brasileiras. Convenhamos entretanto, estávamos ainda muito longe da
alvorada do nosso nacionalismo musical. Ficaria para outro virtuose estrangeiro, o americano Louis Gottschalk,
poucos anos mais tarde, com sua Fantasia sobre o Hino
Nacional, inaugurar a série de composições sobre temas
brasileiros ou pelo menos, evocativos do país. No entanto, a disposição do nosso Imperador de prestigiar as artes
frutificou já em 1870, com o triunfo operístico de seu
protegido, Carlos Gomes, em Milão.
Finalmente vem a a questão. Thalberg era realmente o
nobre austríaco que dizia ser? Apesar dele sempre ter insistido na sua própria versão (e que foi aceita por quase
um século) a descoberta dos registros de seu nascimento
dirimiu as dúvidas. Thalberg nasceu nas cercanias de Genebra em 1812, filho legítimo de Joseph Thalberg e de Fortunée Stein, ambos judeus originários de Frankfurt sobre o
Meno, Alemanha (7).
Procuremos lembrar que o início do século 19 foi um
Ilustração: anverso e reverso da medalha (cunhadas na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, algumas em prata, outras em cobre ou chumbo; diâmetro: 60 mm; gravador: Quintino José de Faria; exemplar pertencente à coleção do autor)
ARTIGO
30
tempo de grande turbulência para os judeus da Alemanha. Por um lado, os ventos do Iluminismo os impelia a
atravessar os muros dos guetos, ajudados pelo sopro liberalizante resultante da influência napoleônica. Por outro,
havia a reação de setores da sociedade alemã contra essa
assim chamada “emancipação”. Desta forma, muitos cruzaram não só muros, como também fronteiras, no sentido
real e no figurado (a conversão ao cristianismo). E é evidente que para o sucesso de uma carreira artística, como
a de Thalberg, passada em grande parte em ante-câmaras
palacianas, a condição de plebeu acrescida ainda mais a
uma origem judaica, teria de ceder facilmente seu lugar, à
fantasia de uma pseudo ascendência aristocrática.
Bibliografia e Notas
(1) Dicionário Biográfico Musical - Vasco Mariz, Villa
Rica - Belo Horizonte - Rio de Janeiro-1991
(2) Legato: palavra italiana que, na Música, significa ligadura: notas suavemente ligadas, para que a entoação
não seja interrompida.
(3) Grove’s Dictionary of Music and Musicians. MacMillan - Londres, 1954.
(4) Kammervirtuos: título que pode ter uma dupla co-
O MEMORIAL
DO IMIGRANTE
E O AHJB
notação. Em primeiro lugar, era um emprego palaciano
remunerado, de “Virtuose da Corte”. E, nos meios musicais, outorgava dístinção ao seu portador
(5) Ordem Imperial do Cruzeiro: a mais antiga condecoração genuinamente brasileira, criada em 1822 por D.
Pedro I. Substituída, no período republicano, pela Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.
(6) Passou a se chamar assim em 1854, mas era o antigo
Teatro Provisório construído em 1851. Tinha 248 assentos
de primeira classe, 443 de segunda e 147 “gerais”. Havia também 120 camarotes classificados em 4 “ordens”,
(as 30 da primeira “ordem” estavam destinadas, naturalmente, à Família Imperial e aos que estavam próximos a
ela). Apesar da construção precária, funcionou por mais
de 20 anos, sendo demolido em 1875. Localizava-se no
“Campo da Acclamação”, entre as ruas dos Ciganos e do
Hospício, (que corresponde atualmente à Praça da República, entre as ruas da Constituição e Buenos Aires.)
(7)-Encyclopaedia Judaica - MacmillanKetel ~Jerusalem - 1971.
(*) O autor, engenheiro, pertence ao Arquivo Histórico
Judaico Brasileiro
O Memorial do Imigrante, da Secretaria de Estado da Cultura do Governo de São Paulo, estará inaugurando em 14
de novembro próximo, uma exposição intitulada A Palavra Imigrante – a Imprensa Imigrante em São Paulo.
O objetivo da exposição é mostrar quem fez e quem faz
e se ocupa dessa imprensa desde os primeiros periódicos que apareceram no Brasil até os maiores e mais
influentes jornais e revistas de comunidades imigrantes
que hoje circulam no mercado nacional.
O AHJB possui um rico acervo de periódicos da Imprensa Judaica em sua Hemeroteca e parte desse material
estará exposto na mostra do Memorial do Imigrante,
Rua Visconde de Parnaíba 1316 (próximo à Estação
Bresser do metrô Mooca - Centro - tel (11) 2692-1866.
31
ARTIGO
Benjamin Nathan Cardozo:
O ROMANCE DE UMA LINHAGEM CRISTÃ-NOVA
PAULO VALADARES (*)
Entre os cargos mais importantes do establishment político americano está o de Juiz da
Suprema Corte do país, estabelecida em 1789. São dez juízes
escolhidos pelo Presidente da
República e referendados pelo
Senado, com mandato até aos
setenta anos. São escolhidos entre os mais destacados operadores do Direito e que tenham uma
vida ilibada. Eles interpretam e
decidem quanto às leis federais
e podem até retirar o Presidente
do seu exercício. A composição
da Suprema Corte reflete a força
dos homens WASP (White AngloSaxon and Protestant) na vida Benjamin Nathan Cardozo
americana, pois, somente no século XX, é que se incorporam a ela, o primeiro judeu, Brandeis, em 1916; o primeiro afro-americano, Marshall, em 1967; a primeira mulher,
O´Connor, em 1981, e a primeira hispânica, Sotomayor,
em 2009. Dos 110 juízes que a compuseram, apenas sete
são de origem judaica: Louis D. Brandeis (1856-1941), Stephen Breyer (1938), Cardozo, Abe Fortas (1910-1982), Felix Frankfurter (1882-1965), Ruth Bader Ginsburg (1933)
e Arthur Goldberg (1908-1990). Escolhi contar a história
de B. N. Cardozo, porque ela é quase desconhecida e, só
depois de algumas décadas de pesquisas, é que eu consegui fazer as ligações entre a sua família enquanto judeus e
parentesco com os cristãos novos em Portugal, conforme
árvore genealógica colocada adiante.
Cardozo, um homem honesto
Benjamin Nathan Cardozo nasceu em Nova York, em 24
de maio de 1870. Era filho do juiz Albert Jacob Cardozo,
vice-presidente e trustee da Congregação Shearith Israel
(primeira congregação judaica nos EUA) e Rebecca Washington Nathan, tia da poeta Ema Lazarus (1849-1887),
esta, autora do poema “The New Colossus” afixado na
Estátua da Liberdade. O casal Albert e Rebecca teve seis
filhos; destes, apenas uma, de nome Emily Natalie Cardozo (1870-1922), irmã gêmea de Benjamin, casou-se,
mas não teve filhos. Benjamin
foi um discreto, mas, brilhante
aluno. Ele entrou na Universidade
de Columbia aos quinze anos. Os
seus títulos acadêmicos se foram
somando com o passar dos anos:
B. A. Columbia, 1889; M.A. 1890;
LL.D., 1915; honoris causa, Yale,
1921; New York University, 1922;
Michigan, 1923; Harvard, 1927; St.
John´s College, 1928; St. Lawrence, Williams, Princeton e Pennsylvania, 1932; Brown e Chicago,
1933, Londres, 1936; L.H.D., Yeshiva University, 1935.
Ele coroou esta carreira acadêmica ao ser escolhido para ocupar
uma posição na Suprema Corte
americana, depois de ter sido juiz na Suprema Corte de
Nova York e Chief Judge da Corte de Apelações de Nova
York. Ele foi indicado pelo Presidente Herbert Hoover
(1874-1964) para substituir o Justice Oliver Wendell Holmes (1841-1935) em 15 de fevereiro de 1932. A sua indicação foi confirmada no Senado por unanimidade. Naquela
corte, desenvolveu um trabalho tão original através de decisões com profundo humanismo e alta qualidade literária,
que se tornou referência para os operadores do Direito. Foi
o segundo judeu a chegar a tal função honrosa. Junto com
Brandeis e Stone formou o grupo “Três Mosqueteiros”, de
minoria liberal. O maior elogio popular ao seu trabalho
está no romance Gold vale Ouro (1999), de Joseph Heller,
em que um personagem pessimista indaga quanto à presença de judeus no establishment americano:
“Aponte-me um só judeu que tenha trabalhado no governo e feito coisa que prestasse - Brandeis e Cardozo - foram
os melhores nomes de que se lembrou - e Felix Frankfurter”.
Curiosamente, os três foram juízes na Suprema Corte
americana.
B. N. Cardozo pertencia ao patriciado judaico-americano chamado pelo escritor Stephen Birmingham de os
“Grandes”, mas também ao que é menos conhecido, a
importantes famílias de cristãos-novos portugueses que
viveram por mais de dois séculos sob o terror inquisito-
ARTIGO
32
“Aponte-me um só judeu que tenha
trabalhado no governo e feito coisa que
prestasse - Brandeis e Cardozo - foram
os melhores nomes de que se lembrou e Felix Frankfurter”.
rial. A sua genealogia é uma súmula desta história de
perseguições e a luta para fugir delas, através das poucas opções oferecidas a eles. Nesta história familiar está a
conversão forçada, o enfrentamento silencioso a Inqusição e as difíceis fugas para um país tolerante aos judeus.
O mais antigo ancestral documentado
O mais antigo ancestral documentado de Justice B. N.
Cardozo é uma figura controversa na história sefaradit,
trata-se do Rabino Abraham Senior, natural de Segóvia
(1412-1493), ABD (Chefe da Corte Rabínica) de Segóvia,
Conselheiro da Rainha Isabel a Católica, Encarregado das
Finanças do Reino e último Grão-Rabino de Castela. Não
se sabe se, para manter a posição na Corte ou porque
já era um homem idoso, ele não acompanhou os judeus
que foram expulsos do país em 1492, inclusive o seu sócio, Dom Isaac Abravanel (1437-1508) que rumou para
Napóles. O certo é que ele converteu-se ao Catolicismo,
sendo batizado junto com a família neste mesmo ano,
no Monastério de Guadalupe, tendo como padrinhos
os chamados “Reis Católicos”, de quem, ele e um genro
adotaram o prenome Fernando, mais o sobrenome Coronel, que era extinto no país. A família manteve as suas
posições na Corte por muitos anos. Século e meio mais
tarde desta conversão, uma descendente sua, Sóror Maria de Agreda (1602-1665), era conselheira do rei Felipe
IV e, mesmo no Brasil, outra descendente, a Condessa de
Barral (1816-1891) foi confidente de D. Pedro II.
Nem todos os descendentes do Rabino Abraham Se-
Dr. António Nunes Ribeiro Sanches
nior, ou melhor Fernán Pérez Coronel, adotaram o Catolicismo verdadeiramente. Alguns deles foram denunciados como cristãos-novos judaizantes e penalizados pelos
tribunais do Santo Ofício, perdendo os seus bens e até
deportados para o Brasil. Outros fugiram para terras mais
tolerantes aos judeus, como o amarantino Duarte Saraiva
(nascido em 1572), que fugiu para a Holanda onde adotou o nome de David Senior Coronel, veio para o Brasil e
era considerado o homem mais rico do Brasil-holandês. O
livro “Conciliador” (1641) do Rabino Menasseh Ben Israel (1604-1657) foi dedicado a ele. Os seus descendentes
estão espalhados pelo mundo; tanto há gente em Israel,
quanto no sertão do Ceará.
Benjamin Nathan Cardozo descende dele pelo lado
paterno, ascendência que lhe vem por sua quarta-avó,
a portuguesa Teresa Eugénia da Veiga. Nos EUA, esta tomou o nome de Esther Nunez, filha de um médico foragido da Inquisição.
O médico foragido
Sepultura dos Cardozo no Cemitério Beth Olam, NYC.
Segundo algumas informações familiares, o Dr. Diogo
Nunes Ribeiro (1668-1744) foi médico do InquisidorGeral em Lisboa; porém, ele pertencia a uma família de
judaizantes radicada na Beira em Portugal. O destaque
deste grupo familiar foi o grande número de médicos
e farmacêuticos que ele produziu. A figura maior deste
33
clã foi o Dr. António Nunes Ribeiro Sanches (1699-1783),
um médico e escritor português radicado na França,
mas que chegou a viver como médico militar na Rússia
czarista. Conforme o historiador russo Rashid Kaplanov
(1949-2008), ele foi “the first Jewish intellectual in Russia”. Outro médico importante desta família foi o Dr. José
Henriques Ferreira (1740-1792), fundador da primeira
instituição científica brasileira - a Academia Fluviense,
Médica, Cirúrgica, Botânica e Farmacêutica (Sociedade de
História Natural), em 1772.
Denunciado à Inquisição como judaizante e condenado
a “cárcere e hábito perpétuo” em 1704, ele e a família
resolveram fugir para Londres, onde já se haviam refugiados vários membros da família. Sem muitos recursos,
resolveu imigrar, junto a família em 1730, para a colonização da Geórgia. Lá, com o nome de Dr. Samuel Nunez,
salvou a colônia de uma catástrofe, combatendo como
médico a febre amarela que grassava no local. A família
conseguiu inserir-se com sucesso na vida local, prosperando não só financeiramente, mas também intelectualmente. Eles fundaram a terceira congregação israelita
nos EUA, a Mikva Israel. Dentre os seus descendentes,
estão Mordecai Manuel Noah (1785-1851), considerado
como o judeu mais influente nos EUA (século XIX) e o Comodore Uriah Phillips Levy (1792-1862), que recusou um
Uriah
Phillips
Levy
ARTIGO
Mordecai
Manuel Noah
convite de D. Pedro I para integrar a Marinha brasileira.
O Dr. Samuel Nunez é um dos ancestrais paternos de
nosso biografado.
O lado materno
Rebecca Washington Nathan, mãe de Benjamin Nathan
Cardozo, também descendia de famílias oriundas de
Portugal, porém acrescentem-se a estas, famílias vindas
de outras plagas. Um destes ancestrais é Benjamin Levy,
nascido em Schwelm, conhecido como “el viejo asquazy”, mas que viveu em Amsterdã, Recife e Londres. Ele
foi chazan (cantor), shochet (açougueiro), bodek (inspetor de carnes) e um dos fundadores da Comunidade
Pernambucana (sua assinatura é a de nº 110), durante o
período holandês. É o pai de Asser Levy, o primeiro judeu
considerado como cidadão nos EUA e de Rachel Levy, sua
quarta-avó paterna e materna.
Outro ancestral notável de Rebecca é o português
“Abraham” Mendez Seixas - não se sabe o seu prenome
em Portugal. Os Mendes Seixas são aparentados a dois
grandes clãs cristãos-novos beirões, os Nunes Ribeiro (de
seu marido) e os Campos. Com “Abraham”, aconteceu
a mesma situação de outros cristãos-novos judaizantes.
Acossado pela Inquisição, percebendo que seria preso,
pagou a um criado que o colocou num cesto de roupas
e o levou para um navio inglês que ia para Barbados e,
dalí, para os EUA. Lá, tornou-se o grande patriarca da
elite judaica americana.
A genealogia de B. N. Cardozo
Uma genealogia pode ser descrita de várias formas.
Uma delas é a Sosa-Stradonitz. Nela, para se conhecer
os pais de uma determinada personagem, pega-se o seu
número, que é multiplicado por dois, encontrando assim
o pai e este número, somado a um, revela a mãe. Exemplo: os pais do nº 14 são 28 e 29. Aqui estão apenas os
ancestrais de Justice B. N. Cardozo já identificados.
ARTIGO
34
1. BENJAMIN NATHAN CARDOZO (1870-1938).
PAIS:
2. ALBERT JACOB CARDOZO (1828-1886). Juiz.
3. REBECCA WASHINGTON NATHAN (1879-1979).
AVÓS
4. MICHAEL HART CARDOZO (1800-1865).
5. ELLEN HART (1802-1865)
6. ISAAC MENDEZ SEIXAS NATHAN (1785-1852)
7. SARAH MENDEZ SEIXAS (1791-1834)
BISAVÓS
8. ISAAC NUNES CARDOZO (1751-1852). Alfaiate e soldado na
Revolução Americana.
9. SARAH HART (1763-1823)
10. ABRAHAM HART (1766-1849).
12. SIMON NATHAN (1746-1822). Comerciante. Dirigente da
Congregação Shearith Israel.
13. GRACE MENDEZ SEIXAS
14. BENJAMIN MENDEZ SEIXAS (1748-1817). Fundador da Bolsa
de Valores (NYC).
15. ZIPPORAH LEVY (1760-1832)
OUTROS ASCENDENTES...
16. AARON NUNES CARDOZO. Comerciante em Londres. Chegou
aos EUA em 1752.
17. SARAH NUNES NAVARRO
18/20. MEYER HART DE SHIRA (era um português chamado Teixeira).
19/21. RACHEL DE LYON (1734-1792)
24. JUDAH NATHAN.
26/28. ISAAC MENDES SEIXAS (1708-1780)
27/29. RACHEL LEVY
30. HAYMAN LEVY
31. SLOE MYERS
32. JACOB NUNES CARDOZO
33. SARA NUNES NAVARRO
34. ISAAC NUNES NAVARRO
35. REBECCA CARDOZO
38/42. “ABRAHAM” DE LEÃO. Introdutor da viticultura nos EUA.
39/43.TERESA EUGÉNIA DA VEIGA (ESTHER NUNEZ).
52/56. ABRAHAM MENDES SEIXAS.
54/58. MOSES LEVY (1665-1728)
55/59. RICHEA ASHER.
64. ISAAC NUNEZ CARDOZO
65. JUDITH RODRIGUEZ LEON
66/68. JACOB NUNEZ NAVARRO
78/86. DR. DIOGO NUNES RIBEIRO (SAMUEL NUNEZ, 16681744). Médico.
79/87. GRACIA CAETANA DA VEIGA (REBECCA NUNEZ)
110/118. RACHEL LEVY
128. DAVID NUNEZ CARDOZO
130. ISAAC RODRIGUEZ LEON
156/172. MANUEL HENRIQUES LUCENA
157/173. MARIA NUNES RIBEIRO.
158/174. ANDRÉ DE SEQUEIRA
159/175. ISABEL MARIA DA VEIGA
220/236. BENJAMIN LEVY (? - 1693). Chazan, shochet e bodek
em Recife.
312/344. DIOGO GOMES HENRIQUES
313/345. ISABEL HENRIQUES
314/346. DR. LUIS LOPES
315/347. MARIA NUNES RIBEIRO
316/348. GASPAR VAZ DE SEQUEIRA
317/349. MONICA NOGUEIRA.
318/350. DR. ANDRÉ SOARES DE SEQUEIRA. Médico.
319/351. GRACIA DA VEIGA
624/688. DIOGO VAZ
625/689. CLARA GOMES
626/690. DIOGO DE LUCENA
627/691. BRANCA RODRIGUES
630/694. ANTONIO RODRIGUES
631/695. ANA NUNES RIBEIRO
632/696/636/700. DR. RODRIGO DE SEQUEIRA. Médico.
633/697/637/701. BRANCA SOARES
638/702. DR. RUI LOPES DA VEIGA. Juiz.
639. INÊS GOMES CHUMACEIRA
1254/1382. GONÇALO VAZ
1255/1383. JOANA RODRIGUES
1264/1392/1272/1400. FRANCISCO DE SEQUEIRA
1265/1393/1273/1401. BRITES SOARES
1266/1394/1274/1402. GASPAR VAZ PEREIRA
1267/1395/1275/1403. BRITES SOARES
1276/1404. DR.TOMÁS RODRIGUES DA VEIGA (1513-1571). Médico.
2552/2808. MESTRE RODRIGO DA VEIGA. Médico do rei D. Manuel I de Portugal.
5104/5616. MESTRE TOMÁS DA VEIGA. Médico do “Reis Católicos”.
5105/5617. CONSTANÇA CORONEL
20420/22468. RABINO ABRAHAM SENIOR (FERNÁN PÉREZ CORONEL, 1412-1493). ABD Segovia e Grão-Rabino de Castela.
Conclusão
Benjamin Nathan Cardozo teve um ataque do coração em
1937 e faleceu em 9 de julho de 1938, sendo sepultado no
cemitério Beth Olam no Brooklyn. Era celibatário, muito ligado à irmã Nellie (Ellen Ida Cardozo, 1859-1929), que substituira sua mãe quando esta morrera e ele tinha nove anos.
Não deixou filhos. Escreveu muitos livros e decisões jurídicas
que ainda são lidas e não foram superadas. Ele foi descrito
por seu sucessor na Suprema Corte, Felix Frankfurter (18821965), como “modesto, discreto e sensível”. Participando no
sistema judiciário americano, contribuiu para ampliar as fronteiras da justiça e do conhecimento humano.
BIBLIOGRAFIA
ROLÃO, Manuel Estevan Martinho da Silva. Famílias da Beira
Baixa. Raízes e ramos. Lisboa: edição do autor, 2007 (três volumes).
STERN, Malcolm H. First American Jewish Families. 600 Genealogies. 1654-1988. Baltimore, Ottenheimer, 1991.
VALADARES, Paulo. A presença oculta. Genealogia, identidade e cultura cristã-nova brasileira nos séculos XIX e XX.
Fortaleza, Fundação Ana Lima, 2007.
* Paulo Valadares, Núcleo de Genealogia AHJB
35
GENEALOGIA
O judeu francês J. L. Cardozo de Bethencourt é uma figura importante e misteriosa na história dos judeus
portugueses. Há pouca coisa escrita sobre ele. Um destes raros documentos biográficos é o verbete da
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (vol. 4, p. 618). Ali está o que se sabe dele, filiação, a “origem hebraica” e principalmente os seus trabalhos de investigação. Nada mais. Interessado em recuperar
esta figura para a história judaica, procuramos informações em todos os lugares possíveis e apenas conseguimos levantar o seu atestado de óbito. Uma década depois, encontramos a Srª Ana Pinto de Abreu
casada na família Cardozo de Bethencourt, que, num trabalho de fôlego, conseguiu não só identificar
os descendentes, mas também os seus ascendentes portugueses (Núcleo de Genealogia do AHJB).
J. L. CARDOZO DE BETHENCOURT (1861-1938),
O BIBLIOTECÁRIO REAL, SUA ASCENDÊNCIA E DESCENDÊNCIA
Ana Izabel Ferraz de Oliveira Pinto de Abreu, Portugal.
I – JEAN LEON CARDOZO DE BETHENCOURT nasceu em
Nantes e morreu em Bordéus (15 de dezembro de 1861
– 7 de dezembro de 1938). Filho de João (Jean) Cardozo
de Bethencourt, natural de S. Pedro, Funchal, e de Petra
Léonie Castrillo (ou Castelo) de Velasco, espanhola. Neto
paterno de outro João Cardozo de Bethencourt e Isabel
Matilde de Gouveia. Bisneto paterno de Manuel José (Lopes) Cardozo Guimarães, natural de Urges, e de Maria Felícia Rosa Bittencourt. Ele foi contratado pelo rei D. Carlos
I (1863-1908) para o Catálogo dos Manuscritos do Palácio da Ajuda. Nomeado 1º Oficial Bibliógrafo da Biblioteca da Academia de Ciências de Lisboa. Exonerado a seu
pedido, quando da proclamação da República. Autor de
várias obras sobre a ação dos judeus portugueses. Destacam-se, entre elas, Inscriptions Hébraiques de Portugal
(Notes d´Histoire et d´Epigraphie), Lettres de Menasseh
ben Israel a Isaac Vossins (1651-1655) – Traduction et Notes e L´auto da Fé de Lisbonne – 15 Dec. 1647.
Atestado de óbito: “Le sept décembre mil neuf cent
trente huit, à quatorze heures trente, est décédé, rue
Paul Bert, 4, Jean Léon CARDOZO de BETHENCOURT, NE
à Nantes (Loire-Ingérieure), le quinze décembre mil huit
cent doixante et un, ancien Bibliothécaire de l`Acadèmie
de Sciences de Lisbonne, veuf de Magdalena RIEDL, fils
de feu Jean CARDOZO de BETHENCOURT, et de Petra
Leona Castrilla VALASCA. – Dressé le neuf décembre mil
neuf cent trente huit, à diz heures, sur la déclaration
de Eugène TOULZE, cinquante cinq ans, employé rue de
Belfort, 11, qui, lecaure faite a sigé avec NOUS. ASSINATURAS: TOULZE e Joseph BENZACAR, Chevr de La Legión d`Hon, Adjount au Maire”.
GENEALOGIA
36
J.L. Cardozo de Bethencourt foi casado com a cientista
austríaca Magdalena Riedl. Eles são os pais de:
1 (II) – Jean Manuel Jorge Cardozo de Bethencourt, que
segue.
2(II) – Jean Guillaume Miguel Cardozo de Bethencourt.
3 (II) – Elsa Cardozo de Bethencourt.
4 (II) – Léone Cardozo de Bethencourt.
5 (II) – Berta Cardozo de Bethencourt.
6 (II) – Eva Cardozo de Bethencourt.
II – JEAN MANUEL JORGE CARDOZO DE BETHENCOURT
nasceu em Paris e morreu em Lisboa (21 de abril de 1899
- ?). Casado com Lucy Yolande de Carvalho (Paris, 1900Lisboa, 1992), filha de Francisco Xavier de Carvalho e
Blanche Alphonsine Emmanuelle d´Aout. São os pais de:
1 (III) – Madelene Blanche Therese Cardozo de Bethencourt (Paris, 1930 – Lisboa, 2002).
2 (III) – Françoise Léone Hélène Cardozo de Bethencourt,
que segue.
3 (III) – Nicole Lucy Cardozo de Bethencourt (Lisboa,
1939). Casada com o Engenheiro Carlos Eugenio Pimentel de Sousa e Menezes (1936). Com geração.
III – FRANÇOISE LÉONE HÉLÈNE CARDOZO DE BETHENCOURT, nasceu em Lisboa (5 de maio de 1938). Casada com António Manuel Arnao Metelo da Silva Pinto de
Abreu (Cinfães, 1929 – Lisboa, 1992), filho do Dr. Luís
Gonzaga da Silva Pinto de Abreu e Maria da Assunção
Arnao Taveira Metelo. São os pais de:
1 (IV) – Salvador Luís de Bethencourt Pinto de Abreu
(Lisboa, 1961), professor e engenheiro, casado com a
professora Irene Pimenta Rodrigues (Lisboa, 1962), com
geração.
2 (IV) – Pedro Jorge de Bethencourt Pinto de Abreu (Lisboa, 1962), solteiro.
3 (IV) – Francisco Xavier de Bethencourt Pinto de Abreu
(Lisboa, 1963), casado com Ana Isabel Ferraz de Oliveira
(autora desta genealogia, Lisboa, 1962), filha do arquiteto Carlos Manuel Monteiro de Oliveira e Maria Fernanda Correia Franco Ferraz. Com geração.
4 (IV) – Bernardo Manuel de Bethencourt Pinto de Abreu
(Lisboa, 1969), solteiro.
5 (IV) – Marta de Bethencourt Pinto de Abreu (Bruxelas,
1974), solteira.
SABER MAIS SOBRE SEU
PASSADO SIGNIFICA TER
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QUE LHE INTERESSAM.
37
DOAÇÕES
DOAÇÕES RECEBIDAS DE SETEMBRO 2008 A OUTUBRO 2009
Adão Voloch
Rascunhos dos livros “O Colono Judeu Açu”, “O Colunista”, “Praça Onze” e “Enchente”. “Bem Ami”, “O Arquipélago maldito”. Contos sobre a JCA. Prefácio de “Os
desgarrados de Nona”.
Adriana Jacobsberg
Discos, livros, periódicos, gravuras desenhadas por Dan
Bar Shay de 1973, 13 exemplares da Revista Época em
Italiano sobre a 2ª Guerra Mundial. Jornal de São Paulo
1945, Folha da noite 1944, Charge da2ª Guerra Mundial.
Agostinho Rosenblatt. Vários livros em iídiche.
Alain Bigio
Livro: “Exodus” com dedicatória do autor
Alma Heiman
Livro “Raízes de família” de sua autoria
Anna Rosa Bigazzi
Vários diplomas outorgados a Raffaele Meier: De Mérito
1952, do Instituto Cultural Brasil - Mônaco ao Benemérito de 1958, Croix de Grand Officier -1954,Título de Cav. di
Gran Croce de 1950, Conselho da medalha Prince Albert
1959, de Comendatore 1950, Medalha de Mérito e Cultural
“Benito Juarez” de 1962, Honorífico no grau de Cav. Grã
Cruz de 1956. Instituto Brasil Honduras de 1958, Membro
efetivo da Primeira Jornada do serviço de saúde da aeronáutica de 1951. Medalha Marechal Souza Aguiar de 1955.
Cópia da Comunita Ebraica de Trieste do Certificado de nascimento (1894), Exemplar da revista Gerações Brasil com a
biografia de Raffaele Mayer. Parte da revista O Hebreu de
setembro 2001 com a história de George Langman. Foto
com 5 mães com seus filhos, únicos bebês sobreviventes
dos Campos. Sendo que um deles é George Langman.
Aron Glinder
10 fitas cassetes de música iídiche
Associação Cemitério Israelita de São Paulo
Livro comemorativo dos 85 anos de existência da Associação.
Augusto Rosenblatt
Livros em iídiche
Benno Joffe
Discos em hebraico e espanhol.
Bettina Lenci
Diploma de Bat Mitzva de Tova Lorch, Livro: “Aprendizagem de hebraico” pertencente a Thomas Scheier, Livro:
“Juedische Geschichte” de 1931. Vários documentos pertencentes a Gertrudes e Peter Scheier.
B´nai B´rith
Apostila: Solução para a paz entendendo o Oriente Médio
Clara Black
Vídeo “A wedding in Shtetl”, certificado de conclusão de
curso “Seminário de Liderança” do Centro de Estudos Judaicos. Anotações manuscritas sobre o curso. Livro em
hebraico de 1916.
Daniela S. Guertzenstein
Tese “O uso do Computador e da Internet pela Comunidade Judaica Ortodoxa Paulistana”.
Dominique Frischer
4 fotos da família do Barão Hirsch.
Dora Silvia Cunha Bueno
Jornal do Emigrante de abril 1993 “Israel da Paz” sobre a
Operação Salomão;
Dorothy Soihet Bortz
Vários discos em iídiche
Eleusa M.Polakiewicz
DVD de genealogia da família de Marina Sulam Chusyd
Eliana Rosa Langer
Vários discos em iídiche
Estefania Shlzleacher
11 volumes em alemão da coleção de Oscar Wilde, “Berlin in the twenties” e “Fur Unsere Jugend” de 1916.
Família Siegel
3 Diários contando as viagens de Miguel e Sophia Siegel
de 1942 a 1962. Cartas datilografadas e encadernadas
de 1924 a 1931. Cartas datilografadas e taquigrafadas
encadernadas com a inscrição Mackenzie College por
Sophia Cuschnir. Livro sobre Vincent Van Gogh. 4 Passaporte brasileiros: Ida Siegel de 1917, Sophie e Miguel
Siegel de 1937,1949 e de 1950 e Passaporte Rumeno de
1911. Cartas manuscritas pessoais de 1945. Retratos de
3 pinturas do Lazar Segall que foram vendidos. Livrinho
Brasil e Rússia de 1922 escrito por Oscar Siegel. Certidão
de casamento de 1950. Tradução de uma certidão de casamento do russo de Oscar e Ita Siegel de 1927. Fotos.
Flavio Chamis
Jornal “A voz Sionista” de 1954.
Flavio Bitelman
Mapa “From Adam to Jesus”, “Pré historic Man”- Rolo
em hebraico datado de 1948. Foto: Sub-comitê russo de
socorro às vítimas de Guerra 1944 - com os nomes das
pessoas, Secretário Moises Bitelman
Francisco Gotthilf
Livro “Senhor Mosaico”
Frederico Eigner
Tradução e comentário do Eclesiastes Kohelet do Rei Salomão em húngaro e redigido pelo Sr. Isidoro e datilografado
pelo Sr. Frederico. 75 cartões postais sobre Israel. 5 Calendários em húngaro de 1934 até 1938. Cartão da CIP do “Grupo Consolação” de 1950, livro de oração para as almas de
1953 até 1999. Diploma de relojoeiro do Sr.Izidoro de 1933.
2 mapas turisticos de Israel, Artigo sobre Portugal de 1974.
Fundação Ana Lima
Livros “O Legado do Rabino Abraham Senior” e “Branca
DOAÇÕES
38
Dias” sobre genealogia
Geny Zlochevsky
Livro “Sefer Kalutchin” sobre a cidade de Kalutchin.
Gilberto de Abreu Sodré
Livro: “A Inquisição no Rio de Janeiro no começo do século XVIII.
Habonim Dror
Vários livretos editados pelo Keren Hayessod, Israel jovem nação milenar, Los Fedayines, La minoria judia frente
a la justicia soviética de 1974. Estudos teatrais de 1958.
História do Sionismo.
Hélcio Muller
Vários DVDs, Partituras em hebraico, vários livros, Livro
em iídiche com carimbo da Escola Israelita do Cambuci.
Henrietta Braun
Livro : “Fragmentos de uma vida“, de sua autoria
Henryk e Rebeca Bleich
Coleção de livros em iídiche
Isaac Plut
Fotocópia de um certificado de Reservista da 1ª. Categoria da Classe de 1924. Incluído no Estado efetivo em
25-1-1945 e excluído em 15-10-1945.
Ilda Klajman
Livro: “A Guerra de Yom Kippur”. DVD: Documentário realizado por André Klotzel, patrocinado pela Secretaria de
Educação e Cultura municipal sobre o Bom Retiro
Ingrid Boerschmann
Tese em alemão sobre anti-semitsmo no Brasil na Era
Vargas. A pesquisadora usou fontes e livros do AHJB para
elaborar sua tese.
Instituto Morashá
Cartão de Dachau de 1945 atestando que Fiszel Kraushorn
foi prisoneiro desde 1944. Correspondência com o Instituto Morashá de 1999 até 2008. Breve depoimento seu
manuscrito.
Israel Wainstok
Depoimento “Memórias de um Pai” traduzido do iídiche
para o inglês e, depois, para o português de 1955.
Israel Blajberg
Depoimento de Israel Klabin sobre o Centro de Preparação de oficiais da Reserva. Convite e Cartaz do evento no
Rio de Janeiro do lançamento do Livro “Heróis Brasileiros
Judeus da Segunda Guerra”. Livro “Heróis Brasileiros “
Mapa do Roteiro da FEB na Campanha da Itália.
Jacques Chocron
Livros “Um poeta esquecido” e “ O 11º mandamento”, calendário do Comitê Israelita de Amazonas, e vários artigos.
Jeffrey Lesser
Livros: “O Anti-Semitismo nas Américas”, “Kasato Maru”,
“A Negociação da identidade Nacional”, “A História e
seus Territórios”, “Uma diáspora descontente”.
Joel Kulikovsky
5 fotos de eventos entre 1968 e 1969.
Jorge Bastos Furman
Envelopes com selos do Centenário do nascimento de
João Guimarães Rosa, cartões postais do Museu Casa
Guimarães Rosa, Carta Mensal da Assoc. de Cartofilia do
Rio de Janeiro. Artigos sobre a vereadora Teresa Bergher.
Folheto da exposição “A hora da Estrela” de 2008. Cópia
do projeto de lei dando o nome de Aristides Sousa Mendes a uma praça no Rio de Janeiro.
Carta Mensal da Associação de Cartofilia do Rio de Janeiro. Vários convites de exposições, fotocópia de uma foto
de L.L. Zamenhof, criador da língua Esperanto da Cooperativa Central dos Esperantistas do Rio de Janeiro. Fotocópia de artigo sobre o livro “Duas vozes de Wainer”, escrito
por Joelle Rouchou. Artigo sobre a primeira aventura de
Samuel Wainer, sobre o Holocausto e Inquisição. Livreto
sobre Alexandre de Gusmão, cartão dos Titãs.
Jornal Alef de Maio 2009, vários convites, fotocópia da
lista de sócios, fundadores e diretoria dos Amigos do Memorial Judaica de Vassouras, relatório e ata da diretoria
de 2009. Entrevista de Frieda Wolf a Sofia Débora Levy
para o Arquivo Maaravi do Núcleo de Estudos Judaicos da
UFMG publicado em 2007. CD Zamenhof, um cidadão do
mundo 2008. Várias fotocópias de artigos de jornais, cópia do cartaz “20 Encontro Estadual de Esperanto do Rio
de Janeiro”, cópia do convite da exposição “Frieda Wolff
Z.L.” Cópia do Boletim Especial da FIERJ reproduzindo o
“Anúncio Especial da Embaixada de Israel“, nomeando o
jornalista Osias Wurman Cônsul Honorário de Israel.
José Tavim
Livro “Romances de Alcácer Quibir” com CD. Tese “O Reino,
as Ilhas e o Mar Oceano de Lisboa 2007”, com artigo de
José Tavim: “De Gaspar da Gama aos Zumbis da Liberdade”.
Karl Lieblich
Livro: “Rausch und Finsteins” de sua autoria e biografia
do autor.
Keren Kayemet Leisrael
Fotos de Abreu Sodré, Cunha Bueno e da Família Lafer
Livraria Sefer
Livro “Assim nasceu Israel” de Jorge Garcia Granados
Liza Wajshot
30 discos em iídiche, 3 livros em idiche e 1 mapa de Israel.
Lisete Barlach
Imagem digital da Carteira de sócio do Clube “A Hebraica” do Sr.Oscar Barlach, N. 1811.
Lucia Chermont
10 imagens digitalizadas de Manaus e Nordeste do inicio
do século 20. Tese: Imigrantes judeus em São Paulo, a
reinvenção do cotidiano no Bom Retiro de Ana Claudia
Pinto Correa. Resumo da peça “O Dibuk” apresentada
pela Confraria de Teatro.
Marcelo Kutner
DVD com depoimentos de sua tia falando sobre o Bom
Retiro antigo e de Dina Sfat falando sobre sua viagem
39
para Sifat, terra dos seus ancestrais
Márcia S. Rosenberg
Livro raro “Gebete der Ifraeliten” de 1882.
Marilia Freidenson
Revistas: Aonde Vamos, Brasil Israel Morashá, Herança
Judaica, Comentário, Commentary, e vários livros.
Mauricio Asniss
Vários livros e correspondências, recibos da Comunidade
de Santos Caderno CERU N.18, de 2007, com artigo de
sua autoria.
Michael Pinkuss
Microfilme de casamentos e falecimentos feitos pelo Rabino
Pinkus, 1994. Caderneta de salvo conduto em nome de Lotte
e Fritz Pinkuss. Revistas com reportagens sobre ele,Cartas da
USP reconhecendo seu título de PhD, 1970, e da CIP congratulando. Diploma de Doctoris Phiosophiale de 1929.
Mendel Lustig
Partituras de canções iídiches e hebraicas editadas entre
1940 e 1950.
Milene Suzana de Almeida
Dissertação do Mestrado “Melodrama Bachalaresco, um
estudo estilístico da recepção do Caso Dreyfus no Brasil”.
Moises Nigri
Certidão de nascimento da “Communaute Israelite du
Caire” de Jeannette Levy, datados de outubro 1920 e assinados pelo Rabino do Egito.
Moises Clemente Eragus
2 fotos de 1949, certidão de casamento de 1928.
Moises Serebrenik
Quadro emoldurado com foto de Moises com um grupo de
pessoas do Jornal Novo Momento. Diploma de honra do Keren Hayessod por ocasião do 30º Aniversário de Israel. Diploma com a foto de Golda Meir dedicado a Moises Serebrenik.
Myriam Chansky
10 gravuras de Debret e de Rugendas. 2 Carteiras de
Identidade de Aron Hirsz Mindil de 1953 e de 1955.
Nachman Falbel
458 fotos variadas com identificação. Testemunho de um
sonho (Brasil, 1935-1948) de Nahum Mandel
Neusa Fernandes
Livro “História e Geografia Fluminense”, organizado por
Neusa Fernandes.
Paulo Valadares
DVD - Judeus em São Paulo. O encontro de diferentes
trajetórias de Eva Blay.
Programa Mosaico
Livro e DVD “Senhor Mosaico, meio século de história na TV”
Rabino Daniel M. Frour
O Ciclo do Ano Judaico Vol.II
Rachel Mizrahi
Livro “Do Mascate ao Empreendedor”, de sua autoria.
CD de imagens da família e parentes que foram utilizados em seu livro.
DOAÇÕES
Rachelle Z. Dollinger
Livro: “Homens de valor”, de sua autoria.
Rafael Goldenberg
Caixa de metal da Coop. de Crédito do Bom Retiro, 2
fotos da Cooperativa e uma foto da Pharmacia Luchs
do Rio Grande do Sul.
Raiza Cruz Lisboa
Tese de graduação sobre o anti-Semitismo no Brasil
na Era Vargas, baseados nos depoimentos do Núcleo
de História Oral.
Ricardo Eleazer Chut
Encadernações das Revistas “O Hebreu” de abril 1986
e abril 1996.
Robson G. Caldeira
Certidão de nascimento de Jankiel Gonczarawska,
nascido em Vilna (imagem digital)
Roney Cytrynowicz
Livro: Dez roteiros históricos a pé em São Paulo”,
“Memórias do Comércio”, “História da Federação do
Comércio do Estado de São Paulo (1938-2008)”.
Ruth Sporn
Livro sobre Arte
Samuel Belk
DVD da exposição do livro iídiche no CCJ, DVD Irmãos
de Navio, DVD Laughter Thru Tears, Jewish Luck, The
Big Winner, Die Kleine Mentshelah.
Sara Schulman
7 rolos de filmes, dos anos 1971 e 1972 sobre Israel
Sergio Feldman
Fitas de vídeo: Coluna de fogo I, V, VI e VII, Guerra de
Israel, Fragments of greatness, Hamaka, No espírito e na
matéria, Israel anos 50, Anti-Semitismo no Brasil, Israel
informa paz para Galileo, Los Congressos Sionistas I,II,III
e IV, Amud Haesh 1 e 2 partes, Civilization and the Jews
partes 5,6,e 7. Slides: 1ª Guerra Mundial, 3ª e 4ª. Alia,
Inicio da Colônia Judia do séc. 19 antes das aliot, Começo da 1ª Guerra Mundial, cemitérios
Sergio Grinberg
Livro “A arte de dizer Amên”, de sua autoria.
Sonia Maria Milani Gouveia
Tese: O homem, o edifício e a cidade por Peter Scheier,
de 2008.
Tânia Kaufmann
Livro: “Arte Cênica-Teatro Iídiche”
Thea Joffe
Certificado atestando que o Sr. Matuk Jeik foi preso
em Dachau, de 1944 à 1945.
Unibes
146 discos em iídiche
Vera Zveibil
Vários periódicos e vários discos.
Vera Sztejnhaus
Fotos de Abreu Sodré, Cunha Bueno e da Família Lafer
CONSULTA
40
pesquisadores de Setembro 2008 a agosto 2009
Adalberto G. Araújo Jr
Revisão de Dissertação
Adriana Netter
Revista Hineini
Alberto Kleinas
Mestrando Ciências Políticas / UFSC
Aline Mustafá F. Silva
Cásper Líbero
Ana Carolina Perottino
Graduanda Cinema / Fundação Armando Álvares Penteado
Andréa Cristina Assis da Silva
Graduanda História / UNIG
Andréa Jauquin
Pesquisa familiar
Bruno Rothschild I. Caldas
Estudante
Carolina Cruxen
Graduanda Letras / FFLCH/USP
Celso A. Araújo
Revista GOWHERE
David e Rosa Stiles
Pesquisa particular
Dominique Frischer
Socióloga e ensaísta França
Dymitri Kopelman
Kibutz lassuz – Israel
Edith Gross Hojda
Doutora FFLCH/USP
Eduardo Ainbinder
CJB/RJ
Eduardo Coelho M. Rezende
Yeshivá Lubavitch
Eliane Pedreira Rabinovovich
Pós-doutorado Psicologia / Universidade Católica de Salvador
Ernesto Wissmann
Pesquisa pessoal
Ethel Kauffman
UNICARIOCA
Fabiano dos Santos Silva
UFRJ
Fernanda I. Piochi
APAE SP
Gabriel Pinchas Szlejf
Pesquisa particular
Gabriela Bastos
ETEC Guaracy Silveira
Georg Korfmacher
Pesquisa pessoal
Giovana Guilhermino
EACH/USP
Heine Diete Heidemann
Dpto Geografia – FFLCH/USP
Igor S. Gak
Universidade Livre de Berlim
Joel Rechtman
Tribuna Judaica
Jorge Rodrigues de Oliveira
Pesquisa familiar
José Alberto Tavim
Doutor Universidade de Lisboa
Karine B. Queiros
Fundação de Energia e Saneamento
Kelly dos Santos, Gislene Pogetti e Marina Santos
Graduanda Biblioteconomia / FESP
Livio Romano Tragtenberg
Maestro e arranjador
Liziane Peres Mangili
Graduanda EESC/USP
Luana Souto
Graduanda História / UNESP
Luciana Amaral
Mestranda Ciência da Informação / ECA/USP
Luciana Araújo Marques
Editora Cosac Naify
Lucy Gabrielli Bonifácio da Silva
Mestranda História / PUC/SP
Luiz Benyosef
FIERJ
Luiz Henrique Soares
Editora Perspectiva
Luiz Sergio Steinecke
CONIB
Magali Marelli
COGEAE - PUC
Márcia Paterman
Mestre Comunicação Social / PUC/RJ
Marcio Mendes Luz
Mestrando História / UNICAMP
Marcos Rodrigues Pinchiari
Museu Histórico Nacional/Instituto Histórico
Maria Izabel Mercês
Mixer Produções Cinematográficas
Miriam Mermelstein
Graduação Pedagogia / PUC/SP
Molly C. Ball
Mestrado em História / UCLA/USA
41
Mônica Raisa Schpun
EHES Sorbonne
Natan Chehter
Chazit Hanoar
Neide Bibiano
Instituto Genealógico Brasileiro
Paulo Valadares
Mestre FFLCH/USP Editora Fraiha
Pérola M. G. Castro
PUC/MG
Raquel Mizrahi
Doutora FFLCH/USP
Roberto Koln
Livraria da Vila
Rosali B. Tessler
Na’amat Pioneiras
Samuel R. B. Grinspun
Pesquisa pessoal
Sérgio Gonçalves de Amorim
Doutor Ciência da Religião / PUC/SP
Stamatia Koulioumba
Pós-doutoranda FAU/USP
Sylvia Carolina C. de Matos
Mestrado em História / FFLCH/USP
Stamatia Koulioumba
Pós-doutorado Arquitetura / FAU/USP
Taís Rios Salomão de Souza
Suzano Papel e Celulose
Tamiris Fernandes da Silva
Universidade Federal de Pernambuco
Ulrico Strenger
Associação Janusz Korczak do Brasil
Uri Rosenheck
Doutorado História / EMORY University/ USA
Viviane Roberta dos Reis M. da Silva
Graduação História / UNIMES
Walter Faustino dos Santos
Pesquisa pessoal
Wilson Jecov
Professor história
Yoo Na Kim
Jornalista
Zsuzsanna Spiry
Mestranda FFLCH/USP
CONSULTA
Os assuntos mais
pesquisados foram:
• Imigração Judaica em São Paulo
• Influência Judaica em São Paulo
• Imprensa judaica no Brasil
• Presença dos judeus na Baixada Fluminense
• Bom Retiro de toda gente" para a exposição do
Museu de Energia e Saneamento de São Paulo
• Colônias Philipson e Quatro Irmãos
• A religião na Era Vargas
• Genealogia
• Imigração Judaica alemã
• História da Chazit (movimento juvenil)
• Cristãos-Novos
• História Oral: imigração russa.
Fotos vendidas no ano de 2009
Fundação Patrimônio Histórico de Energia e Saneamento
Fotos do Bom Retiro para exposição Bom Retiro: Uma Costura
de Povos
Yoo Na Kim
Cartões das lojas do Bom Retiro para o livro Na Moda: Um olhar
sobre o Brás e o Bom Retiro
Nachman Falbel
Fotos sobre o teatro Iídiche para o livro que será publicado de
sua autoria
Revista de História da Biblioteca Nacional
Fotos de judeus sefaradim
Stamatia Koulioumba
Fotos sobre o Bom Retiro para estudo de pós-doutorado
Marcos Rodrigues Pinchiari
Acervo do Rafael Mayer para publicação de livro
Mixer Produções Cinematográficas LTDA
Fotos para o documentário A Caixa Mágica produzido pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo para TVs públicas e
escolas da rede pública.
Andréa Jauquin
Fotos da Colônia de Quatro Irmãos, pesquisa familiar
Editora Fraiha
Fotos para livro sobre o Cemitério de Vila Mariana
FOTOTECA
42
Dentre as imagens que estão em nossa FOTOTECA, trazemos, para sua apreciação, uma série que mostra relações
governamentais entre Brasil e Israel. São imagens dos dirigentes israelenses no país.
Estas relações são antigas. D. Pedro II (1825-1891) visitou
a Terra de Israel em 1876. Ele foi o primeiro dirigente americano a visitar aquela região. A criação do Estado de Israel
passou pela ONU quando a votação foi dirigida por Oswaldo Aranha e teve o voto favorável do Brasil (29/11/1947).
Israel ingressou na ONU (29/11/1948) e foi reconhecido
pelo Brasil (07/02/1949).
O primeiro representante no Brasil, como Ministro Plenipotenciário e depois Embaixador, foi o general David Shaltiel
(1903-1969), descendente de uma velha família portuguesa
radicada em Hamburgo. Israel respeitou um critério cultural:
nomeava sefardim para os países ibéricos. Assim, o espanhol
Navon foi para o Uruguai e o português Shaltiel para o Brasil.
Nestas fotos: o poeta Zalman Shazar (1889-1974), Presidente de Israel, visitando o Bom Retiro, S. Paulo. Na
sequência: o general Shaltiel (de óculos) e a esposa Drª
Yehudit (de branco) numa recepção oficial. Depois, um
retrato da elite política nos anos sessenta: O ministro
José Maria de Alckmin, presidente Shazar, cônsul Malamud, deputado A.S. da Cunha Bueno, governador Viana
Filho e o senador Steinbruch. Finalmente, o governador
Adhemar de Barros apresenta o prefeito de Santos, Sílvio Fernandes Lopes a ministro Golda Meir.
43
FOTOTECA
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Histórias e lendas do Bar Jacob no Bom Retiro