A QUALIDADE DOS PLANOS DE DISCIPLINAS AUTORES Dr. Sérgio baptista Zacarelli Antônio Joaquim Andrietta Eduardo de Camargo Oliva Joaquim Celo Freire Silva José Tunibio de Oliveira Dr. Laércio Baptista da Silva Dr. Mauro Neves Garcia INSTITUIÇÃO Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul - IMES Avenida Goiás, 3.400 Bairro Barcelona 09550-051 São Caetano do Sul (SP) Fone (011) 741-3206 ou 741-3200 Ramal 206 Contato com Prof. Dr. Sérgio Baptista Zacarelli Coordenador do Curso de Administração INTRODUÇÃO O presente trabalho foi fruto do esforço do IMES em avaliar seus cursos em relação às exigências e tendências do mercado, visando formar profissionais que possam estar preparados para desempenharem, com sucesso, seus respectivos papéis no mercado de trabalho. Durante mais de dois anos foram efetuadas pesquisas que, coordenadas pelas chefias dos departamentos vinculados a um dos cursos, tinham por objetivo a avaliação de cada curso oferecido pelo IMES, visando com isso identificar a linha dos cursos e os conteúdos necessários à sua obtenção. Valendo-se da opinião de profissionais liberais e de organizações, professores, alunos e ex-alunos, a pesquisa efetuada acabou por definir os fatores apontados como fundamentais para cada curso, permitindo definir o tipo de enfoque a ser seguido e os conteúdos que seriam necessários para forma os profissionais de cada curso oferecido pelo IMES. O modelo de avaliação que mede a qualidade dos planos de disciplinas, apresentado a seguir, pautou-se nessas pesquisas para desenvolver um instrumental que pudesse operacionalizar, através de fatores ou indicadores, o que seja qualidade. O presente trabalho desenvolverá, num primeiro momento, as bases metodológicas e, num segundo, apresentará a montagem do modelo aplicado ao curso de Gestão Empresarial e Negócios, apontando os fatores que serão utilizados para medir a qualidade dos planos de disciplinas desse curso. A QUESTÃO DA QUALIDADE DO ENSINO Recentemente tem sido usada a expressão "Qualidade do Ensino". Qualidade Total está na moda, mas o nosso interesse aqui é colocar uma parte do problema de ensino, que é o plano da disciplina. Qualidade do Ensino é um tenro amplo demais e por isso muito difícil de ser transformado em algo pragmático que o IMES possa usar para atingir seus objetivos. Para simplificar iremos deixar de lado, propositalmente, todos os demais aspectos do ensino como: - didática e aspectos correlatos, - estrutura curricular e carga horária por disciplina, - assuntos ensinados repetidarnente em duas disciplinas diferentes, - assuntos importantes não ensinados em nenhuma disciplina, para nos concentrarmos apenas nos planos de disciplina. Essa escolha não foi ocasional. Julgamos que, no momento, ela oferece maior potencial de melhorias para o ensino do que os outros aspectos. Tradicionalmente, os administradores do ensino superior dão pouca atenção aos planos de disciplina. A prática usual é deixar cada professor, ou grupo de professores, preparar o seu plano de disciplina. A aprovação do conteúdo desses planos freqüentemente é pró-forma. Tem prevalecido a liberdade acadêmica que tem vantagens e deve ser enaltecida. Mas certamente será bom para o IMES se essa liberdade for norteada por um critério de qualidade, critério esse também discutido pelos professores. O CONCEITO DE QUALIDADE DO PLANO DE DISCIPLINA Qualidade tem muitas definições. Alguns até a consideram um conceito básico que não necessita ser explicado, para as pessoas saberem julgar se uma coisa tem qualidade. Entretanto isso não seria administrável, no nosso caso, por ser uma avaliação sujeita a grande variabilidade de resultados de uma pessoa para outra. Necessitamos fixar qualidade como "adequação ao uso" e definir exatamente o que seja essa adequação no caso dos planos de disciplina. Não é fácil definir o que seja qualidade (adequação ao uso) no seu todo, isto é, de uma só vez. O mais pragmático é subdividir a qualidade em falares (ou componentes) da qualidade e definir esses falares de forma tal que permita uma escala de mensuração. Esses fatores tem que ser suficientemente simples e a mensuração deles restrita a uma escala de zero a cinco. É o conjunto dos fatores, em um mix de mensurações convenientes, que forma a alta qualidade como adequação ao uso. Para ficar claro convém salientar que: a) o que importa é a qualidade do curso, isto é, do conjunto de disciplinas que o constitui; b) o que podemos fazer para alterar a qualidade do curso é alterar a qualidade de disciplinas. Para isso temos que usar os fatores de qualidade do curso para avaliar a qualidade das disciplinas. O curso deve ser adequado ao mercado e o conjunto das disciplinas deve ser adequado ao curso. Essa seqüência só fica analisável se os fatores (ou componentes) da qualidade do curso forem usados também como fatores de qualidade das disciplinas. Em termos práticos, devemos identificar as fatores da qualidade do curso e usarmos esses fatores para avaliar a qualidade das disciplinas que compõem o curso. Essa metodologia não é aplicável para avaliar a qualidade de disciplinas que são totalmente pré-requisitos de outras disciplinas. A qualidade da disciplina pré-requisito deve ser medida, não pela adequação ao uso no mercado, mas pelo uso que as disciplinas subseqüentes farão dela. Isso será considerado posteriormente. A IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES (OU COMPONENTES) DE QUALIDADE DO CURSO. È a tarefa crucial. Será diferenciado de um curso para outra. Envolve interpretar o mercado. Pode haver fatores incompatíveis entre si. Ser bem avaliado em um determinado fator implica em ser mal avaliado em outro fator incompatível. Sendo uma interpretação, pode haver diferenças de pontos de vista entre pessoas. Par isso o ideal é formar um consenso, mas é conveniente sempre manter a possibilidade de acréscimos ou revisões nos fatores. O PLANO DE DISCIPLINA IDEAL Evidentemente, numa visão míope, o Plano de Disciplina seria tanto melhor quanto maiores fossem as avaliações dos fatores. Mais o que importa é a qualidade do conjunto das disciplinas. Por isso, se quisermos olhar uma disciplina isoladamente, o critério para julga-la será a forma como ela se compõe com as demais disciplinas. Uma disciplina bem avaliada em apenas um fator "x", será muito conveniente se as demais disciplinas tiverem situação inversa, isto é, serem sofríveis no falar "x" e boas em todos os outros. Assim não devemos nos preocupar se um determinado plano de disciplina tiver avaliação baixa na maior parte dos falares. Na prática, o normal será cantar com disciplinas cada uma bem avaliada em apenas um fator. Pode até ser impassível ter avaliação máxima em todos os fatores. No conjunto sempre deveremos ter algumas disciplinas com boa avaliação em cada fator. O USO DAS ESCALAS DE MEDIDA DOS FATORES DE QUALIDADE Método: 1° - Tira-se do programa da disciplina, um mínimo de l0 e um máximo de 30 subtítulos. 2° - A cada subtítulo, o(s) professor(es) avalia(m) cada um dos fatores. 3° - A média geral não terá significado, portanto, não vale a pena ser calculada. 4° - A melhora da qualidade de um plano de disciplina envolve melhorar a avaliação, se possível, nos diversos fatores. No entanto, temos que atender a um requisito do conjunto. Se no conjunto resultar uma baixa avaliação em um determinado fator, fica prioritário ter formas de elevar a avaliação de qualquer plano de disciplina naquele fator. A organização dos trabalhos pode ser feita usando o formulário utilizado para o curso de Gestão Empresarial e Negócios. Cada um pode ter preferências na forma de preencher o formulário. Nos pareceu mais fácil avaliar todo o conteúdo no fator 1. Depois novamente todos no fator 2, e assim sucessivamente. Também parece preciso, procurar para o primeiro fator, quais os itens do conteúdo programático que mereceu a grau 5, depois quais merecem o grau 4, e assim sucessivamente até sobrar os que merecem o grau zero. Nas disciplinas que tem mais de um professor, convém haver alguma forma de consenso nas avaliações. INSTRUMENTAL PARA O CURSO DE GESTÃO EMPRESARIAL E NEGÓCIOS FATORES DA QUALIDADE DOS PLANOS DE DISCIPLINA Identificar os fatores da qualidade não é fácil. A primeira dificuldade é saber quantos são os fatores. Identificamos cinco, porém, devem existir outros que podem ser anexados ao procedimento a qualquer momento. A outra dificuldade é separar os meios dos fins. Por exemplo, é frequentemente dito que no ensino de administração, "deve-se valorizar o aspecto humano". Mas valorizar o humano é um meio para algum fim a ser identificado. Felizmente, no IMES, foi desenvolvida uma pesquisa com o objetivo de conseguir subsídios para a reformulação da estrutura curricular do curso de Administração. Essa pesquisa, opinião geral, foi muito bem feita e bem relatada no Relatório da Comissão de Reformulação do Currículo, assinado pelos professores Mauro Neves Garcia, Joaquim Celso Freire Silva, José Turíbio de Oliveira e Antonio Joaquim Andrietta. Do Relatório pudemos retirar alguns fatores que podem medir a adequação ao uso de cada plano de pesquisa. Os fatores que detectamos são os seguintes: a) Aplicabilidade estável nas empresas; b) Aplicabilidade crescente nas empresas; c) Entendimento do funcionamento da empresa para se integrar como participante; d) Entendimento do funcionamento da empresa, para ser um transformador (agente de mudança) ou para ser um modelador de comportamentos (chefe, coordenador de equipes, Gestor de Recursos Humanos, líder informal); e) Visão holística (compreender de uma forma ampla). Estamos convencidos que os fatores a, b, c, d, e, mencionados acima, podem ser a base para medir a qualidade de um plano de disciplina da forma simples e impessoal. Com isso temos uma forma administrável de avaliar a qualidade de cada plano de disciplina e, conseqüentemente, de julgar a conveniência de qualquer proposta de mudança para elevar a qualidade. Segue-se a definição de cada fator. 1. APLICABILIDADE ESTÁVEL EM EMPRESAS Refere-se ao conhecimento cuja aplicabilidade no mercado de trabalho existe de forma estável. Isto é, não está caindo em desuso e também não tem uso significativamente crescente, que passaria a ser de outra fator. Na nota de grau de aplicabilidade estável deve ser levada em consideração se o aluno fica capacitado a fazer a tarefa do começo ao fim, ou se tem apenas a informação da utilidade sem dominar como fazer. Também deve ser considerado o grau de orientação que necessitará receber de superior hierárquico. O grau máximo (5) deve corresponder a fazer a aplicação do conhecimento, para o trabalho completo sem orientação ou controle de ninguém. Também quanto mais fácil for conseguir a competência sem cursar Administração de Empresas (ou outro curso superior), mais próxima da mínima (zero) deverá ser a nota. Será freqüente que assuntos tenham zero em aplicabilidade, não devendo causar qualquer estranheza. 2. APLICABILIDADE CRESCENTE. Diferencia-se do fator aplicabilidade estável, apenas pela modernidade do conhecimento. O conhecimento correspondente deve ser novo, ou ter pelo menos um uso nova. Ex: Internet. 3. ENTENDIMENTO DO FUNCIONAMENTO PARA SE INTEGRAR. Esse fator leva em canta que antes de um ex-aluno vir a ter trabalho plenamente produtivo, ele deve entender o ambiente do trabalho e, consequentemente, adequar seu comportamento produtivo às restrições ambientais que não serão modificadas. Ex: - entender a cultura da empresa para se integrar. - entender porque um certo trabalho está sendo priorizado (ou postergado) - etc. Deve ser considerado como nota baixa, o entendimento que a pessoa pode desenvolver, por experiência ou instrução e sem curso superior. Ex. linguagem corporal que, até um certo ponto, as pessoas aprendem sem estudo. A linguagem corporal mais sofisticada, pode receber até nota alta. 4. ENTENDIMENTO DO FUNCIONAMENTO DA EMPRESA PARA SER UM TRANSFORMADOR OU MODELADOR DE COMPORTAMENTOS. É na verdade um nível mais profundo de entendimento. Envolve entender as causas que se alteradas mudam o funcionamento da empresa. È o conhecimento típico dos agentes de mudanças organizacionais ou comportamentais. Além de entender, o conhecimento pode incluir técnicas ou modelos alternativos para alterar o funcionamento. A nota a ser dada a um certo titulo do programa deve levar em conta a dificuldade da transformação ou modelação de comportamentos. Nota baixa para coisas transformáveis com meios fáceis e nota alta para uso simultâneo de muitos meios ou meios complexos. 5. VISÃO HOLÍSTICA A visão holística facilmente pode ser posta em relação a níveis de sistemas hierarquizados: (1)cargo, (2)conjunto de cargos ou unidade administrativa, (3)empresa, (4)ambiente das empresas, (5)ambiente sócioeconômico. O nível da visão holística mais baixo (nível 1) corresponde a ter visão de tudo que envolve o trabalho de uma pessoa (um cargo). Ai vai ficando progressivamente mais abrangente por se referir a uma unidade administrativa (conjunto de cargos) ainda mais no nível da empresa (conjunto de unidades administrativas e mais na visão do ambiente das empresas (conjunto de empresas) e, finalmente, na visão do ambiente sócio-econômico (nota máxima). EXEMPLO DE APLICAÇÃO À DISCIPLINA ADMINISTRAÇÃO (1° ANO) 1. APLICABILIDADE ESTÁVEL DISCIPLINA: ADMINISTRAÇÃO ANO: 1° CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 2. APLICABILIDADE CRESCENTE 3. ENTENDIMENTO PARTICIPANTE 4. ENTEN- 5. VISÃO DIMENTO HOLÍSTITRANSCA FORMADOR E MODELADOR 1. A administração e o papel do administrador: a) O que é a administração. b) o que faz o administrador. c) As funções do administrador. d) Os objetivos da empresa. e) Responsabilidade social da empresa. f) Administração ética. g) Níveis de administração. h) habilidades gerenciais. i) Formação do conhecimento administr. j) Administração: arte ou ciência. l) A administração e suas perspectivas. 2. Noções de Organização: a) A organização e o ambiente. b) Funcionamento e elementos organização. estruturais da 3. As grandes áreas da empresa: a) Produção. b) Finanças. c) Marketing. d) Recursos Humanos. O IMPACTO NAS APLICAÇÕES O modelo apresentado foi amplamente discutido e já está sendo aplicado. O efeito tem sido notável. Ele muda a ótica de analisar o ensino que passa a ficar centrado pragmaticamente na “adequação ao uso”, e com isso operacionalizando até uma forma de medir qualidade. Assim, constitui uma poderosa ferramenta de crítica construtiva das idéias que se mantinham só por serem tradicionais.