Secretaria de Educação de
Mata de São João
1º. Curso de Formação de Candidatos
à Direção Escolar
Sessão 1
Gestão de Sistemas de Ensino
e de Escolas como ambientes de
aprendizagem
A organização da escola como um ambiente de
aprendizagem
Índice de assuntos da sessão:
i) O problema fundamental da educação básica no país
ii) Mais além das conjecturas: os ensinamentos de três
pesquisas sobre escola e aprendizagem
iii) Sobre padrões de desempenho e avaliações
A organização da escola como um
ambiente de aprendizagem
i) O problema é:
Qual é o problema?
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
EVIDÊNCIAS DO PROBLEMA
FUNDAMENTAL DA EDUCAÇÃO
BÁSICA REGULAR NO BRASIL, HOJE
Por que os alunos avaliados nos anos de terminalidade
(5o. e 9o. do ensino fundamental e o 3o. ano do ensino
médio) pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica – SAEB e pela Prova Brasil, no País, reiteradamente vêm demonstrando desempenhos acadêmicos
críticos? Ou, por outras palavras, por que não aprendem
o que precisam aprender e saber fazer ao longo da
escolaridade, segundo padrões de desempenho (descritores curriculares) definidos por área e por ano?
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
Resultados da Prova Brasil - 2007
PROVA BRASIL – 5o. Ano do Ensino Fundamental
Língua Portuguesa
Ano: 2007
Até o Nível 1
[< 125 a 150]
Nível 2
[> 150 a 175]
Nível 3
[> 175 a 200]
Nível 4
[> 200 a 225]
Nível 5
[> 225 a 250]
Muito Crítico
Crítico
Básico ou
Intermediário
Suficiente ou
Adequado
Avançado
Nível 6
[> 250 a 275]
Média
Nível 6
[> 250 a 275]
Média
Brasil
Bahia
Mata S. João
Desempenho
dos alunos
PROVA BRASIL – 5o. Ano do Ensino Fundamental
Matemática
Ano: 2007
Até o Nível 1
[< 125 a 150]
Nível 2
[> 150 a 175]
Nível 3
[> 175 a 200]
Nível 4
[> 200 a 225]
Nível 5
[> 225 a 250]
Muito Crítico
Crítico
Básico ou
Intermediário
Suficiente ou
Adequado
Avançado
Brasil
Bahia
Mata S. João
Desempenho
dos alunos
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
Resultados da Prova Brasil - 2007
PROVA BRASIL – 9o. Ano do Ensino Fundamental
Língua Portuguesa
Ano: 2007
Até o Nível 5
[… até 250]
Nível 6
[250 a 275]
Nível 7
[275 a 300]
Nível 8
[300 a 325]
Nível 9
[325 a 350]
Muito Crítico
Crítico
Básico ou
Intermediário
Suficiente ou
Adequado
Avançado
Nível 10
[350 a 375]
Média
Nível 10
[350 a 375]
Média
Brasil
Bahia
Mata S.
João
Desempenho
dos alunos
PROVA BRASIL – 9o. Ano do Ensino Fundamental
Matemática
Ano: 2007
Até o Nível 5
[… até 250]
Nível 6
[250 a 275]
Nível 7
[275 a 300]
Nível 8
[300 a 325]
Nível 9
[325 a 350]
Muito Crítico
Crítico
Básico ou
Intermediário
Suficiente ou
Adequado
Avançado
Brasil
Bahia
Mata S.
João
Desempenho
dos alunos
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
____________________________________________________________________________________________________
IDEB, Brasil: Resultados e Metas
IDEB 2005, 2007 e Projeções para o Brasil
Nível ou
Segmento do
Ensino
Anos Iniciais do
Ensino Fundamental
(1o. ao 5o. Ano)
Anos Finais do
Ensino Fundamental
(6o. ao 9o. Ano)
Ensino Médio
IDEB
Situação
Observado
Metas
Observado
Metas
Observado
Metas
Ano
2005
2007
2007
2021
2005
2007
2007
2021
2005
2007
2007
2021
TOTAL
3,8
4,2
3,9
6,0
3,5
3,8
3,5
5,5
3,4
3,5
3,4
5,2
Dependência Administrativa
.
Pública
3,6
4,0
3,6
5,8
3,2
3,5
3,3
5,2
3,1
3,2
3,1
4,9
Federal
6,4
6,2
6,4
7,8
6,3
6,1
6,3
7,6
5,6
5,7
5,6
7,0
Estadual
3,9
4,3
4,0
6,1
3,3
3,6
3,3
5,3
3,0
3,2
3,1
4,9
Municipal
3,4
4,0
3,5
5,7
3,1
3,4
3,1
5,1
2,9
3,2
3,0
4,8
Privada
5,9
6,0
6,0
7,5
5,8
5,8
5,8
7,3
5,6
5,6
5,6
7,0
Fonte: SAEB e Censo Escolar.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
____________________________________________________________________________________________________
IDEB, Bahia: Resultados e Metas
IDEB 2005, 2007 e Projeções para a Bahia e Mata S. João
Nível ou
Segmento do
Ensino
Anos Iniciais do
Ensino
Fundamental
(1o. ao 5o. Ano)
Anos Finais do
Ensino
Fundamental
(6o. ao 9o. Ano)
IDEB
Observado
IDEB
Metas Projetadas
2005
2007
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2019
2021
2,6
2,6
2,7
3,0
3,4
3,7
4,0
4,3
4,6
4,9
2,6
2,7
2,7
2,8
3,1
3,5
3,9
4,2
4,4
4,7
2,7
2,8
2,7
2,8
3,0
3,3
3,6
4,1
4,3
4,5
Ensino Médio
Resultados e Metas: Mata de São João
.
Anos Iniciais
2,5
3,0
2,5
2,9
3,3
3,6
3,9
4,2
4,5
4,8
Anos Finais
1,6
2,4
1,8
2,1
2,6
3,2
3,7
4,0
4,2
4,5
Fonte: SAEB, Prova Brasil e Censo Escolar.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
Tabela 1: Brasil fica em 126o. no ranking de repetência escolar
Taxa de repetência de 1a. a 4a. série por país ou território em 2004
Os 20 piores
Gabão
Mianmar
Madagascar
Burundi
Comores
Camarões
São Tomé e Príncipe
Congo
Chade
Togo
Guiné Equatorial
Benin
Anguilla
Nepal
Eritréia
BRASIL
Moçambique
Laos
Mali
Ruanda
Os 20 melhores
34,4%
33,5%
30,0%
29,1%
27,1%
25,1%
24,6%
24,5%
24,2%
23,8%
23,5%
23,1%
21,8%
21,7%
21,3%
20,6%
20,6%
19,9%
19,0%
18,8%
Ucrânia
Quirguistão
Cazaquistão
Bielorússia
Armênia
Coréia do Sul
Macedônia
Tadjiquistão
Territórios Palestinos
Itália
Chipre
China
Geórgia
Azerbaijão
Finlândia
Moldávia
Croácia
Eslovênia
Polônia
Mongólia
0,1%
0,1%
0,1%
0,1%
0,1%
0,2%
0,2%
0,2%
0,2%
0,3%
0,3%
0,3%
0,3%
0,3%
0,4%
0,4%
0,4%
0,5%
0,6%
0,6%
Fonte: “Professores e Educação de Qualidade: Monitorando as Necessidades Globais para 2015”. Unesco – Organização das Nações Unidas para
Educação, Ciência e Cultura. Nova York, 25 de abril de 2006. In: O Globo. Edição de 26/04/2006. Pág. 13.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
ii) MAIS ALÉM DAS OPINIÕES:
AS CONCLUSÕES DE TRÊS
IMPORTANTES PESQUISAS SOBRE A
ESCOLA E A APRENDIZAGEM
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
1. O relatório da consultoria McKinsey (2007):
Existem grandes variações nos padrões educacionais dos países.
Elas foram avaliadas e reavaliadas pelo Pisa (Programa de
Avaliação Internacional de Estudantes), da OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), e isso serviu
para estabelecer, primeiro, que os países de desempenho mais
forte se saem muito melhor do que os piores e, segundo, que os
mesmos países lideram essas avaliações, a cada vez que são
realizadas: Finlândia, Canadá, Japão, Cingapura e Coréia do Sul.
O que os países de maior sucesso têm em comum?
Realizam maior investimento em educação?
Asseguram aos alunos períodos mais longos de estudo?
Reduzem os tamanhos das turmas escolares?
Pagam salários superiores à média aos seus professores?
Segundo a McKinsey, uma organização que vem de fora do setor
de educação – assessora empresas e governos -, em “How the
world’s best performing schools systems come out on top” [como
os melhores sistemas escolares do mundo chegam ao topo],
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
as escolas precisam fazer três coisas:
i) obter os melhores professores;
ii) extrair o máximo deles; e
iii) intervir quando os alunos começam a ficar para trás.
Isso talvez não pareça uma recomendação “sem precedentes”: as
escolas com certeza já devem agir dessa maneira! Mas a verdade é
que não o fazem.
O primeiro passo é contratar os melhores, pois “a qualidade de
um sistema educacional não pode superar a qualidade de seus
professores”.
Com efeito, estudos feitos no Tennessee e em Dallas mostraram
que, se alunos de capacitação média forem entregues a
professores que estão entre os 20% mais competentes de sua
profissão, terminam se posicionando entre os 10% de estudantes
com melhor desempenho; caso os professores que os ensinam
venham dos 20% menos competentes, os alunos terminam entre
os 10% de pior desempenho. Logo, a qualidade dos professores
exerce a maior influência sobre o desempenho dos alunos.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
Mas a maioria dos sistemas escolares não se esforça demais para
selecionar os melhores. A predisposição contra os melhores surge
em parte pela falta de dinheiro (os governos temem que não terão
verba para contratá-los).
A McKinsey argumenta que os sistemas de educação que
apresentam melhor desempenho mesmo assim conseguem atrair
os melhores profissionais:
Na Finlândia, todos os novos professores precisam ter mestrado; a
Coréia do Sul contrata professores de ensino básico entre os 5%
de formandos com melhor desempenho, Cingapura e Hong Kong
entre os 30% de melhor desempenho.
E esses países o fazem de maneira surpreendente, pois na prática,
os países com melhor desempenho pagam salários não superiores
à média.
Se o dinheiro fosse tão importante, então os países com os
melhores salários para os professores – Alemanha, espanha e
Suíca – teriam presumivelmente sistemas de ensino posicionados
entre os melhores. E isso não procede.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
E eles tampouco tentam atrair um grande quadro de interessados
para selecionar entre eles os mais bem sucedidos. Quase que o
contrário. Cingapura avalia os candidatos rigorosamente antes de
admití-los aos cursos de formação de professores e aceita apenas
o número de candidatos suficiente para cobrir as vagas nos
quadros da educaçao. A Finlândia também limita a oferta de
cursos de formação de professores à demanda. Em ambos os
países, o ensino é uma profissão de status elevado (porque é
altamente competitiva), e os fundos destinados a cada professor
em treinamento são generosos (porque o número deles é baixo).
A Coréia do Sul demonstra como os dois sistemas produzem
resultados diferentes. Seus professores de ensino fundamental
(básico) têm de obter um diploma de graduação em uma de
apenas 12 universidades. A admissão requer notas altas; o número
de vagas é racionado de acordo com o número de postos de
ensino aberto. Em contraste, os professores de escolas de ensino
médio podem obter seus diplomas em qualquer uma das 350
faculdades do país, e os critérios de seleção são mais frouxos.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
Isso gera um enorme excedente de professores. Como resultado, o
ensino médio é uma profissão com menos status na Coréia do Sul,
onde todo mundo prefere trabalhar no ensino fundamental.
A lição parece ser a de que a admissão aos sistemas de formação
de professores precisa ser difícil, e não fácil.
Além disso, os países de maior sucesso em educação investem na
formação continuada: Cingapura provê cem horas de formação
aos seus professores a cada ano e aponta professores veteranos
para supervisionar o desenvolvimento profissional em cada escola;
no Japão e na Finlândia, grupos de professores visitam as classes
de colegas e planejam aulas juntos. Na Finlândia, professores têm
uma tarde de folga semanal com esse objetivo. Em Boston, cidade
cujo sistema educacional demonstra um dos melhores ritmos de
progresso nos EUA, os cronogramas de aulas são organizados de
forma a permitir que os professores das mesmas disciplinas
tenham períodos de folga coincidentes, para que possam planejar
juntos. Isso ajuda a difundir as melhores idéias.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
Quanto à avaliação, a pesquisa da McKinsey é neutra quantoà
utilidade do método, apontando que, embora Boston teste todos
os alunos anualmente, a Finlândia em larga medida abriu mão de
exames nacionais (não tem processo formal de revisão e mantém
sigilo sobre os resultados de suas avaliações informais).
Mas existe um padrão quanto ao que os países fazem quando os
alunos e as escolas começam a falhar. Os países de melhor
desempenho não hesitam em intervir, e o mais cedo possível. A
Finlândia dispõe de mais professores de educação especial
encarregados de ensinar os alunos retardatários do que qualquer
outro país – em certas escolas, chega a ser um em cada sete.
A cada ano, um terço dos alunos recebe educação suplementar em
sessões individuais. Cingapura oferece aulas adicionais aos 20%
de alunos com desempenho mais fraco, e existe a expectativa de
que os professores fiquem na escola depois das aulas a fim de
ajudar os alunos.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
Nada disso é muito complexo. Mas são práticas que contrariam
algumas das suposições silenciosas da política educacional, como
por exemplo a de que é impossível obter os melhores professores
sem pagar salários altos.
As conclusões da McKinsey são: obter bons professores depende
de como você os seleciona e faz a formação continuada; lecionar
pode se tornar uma carreira para os melhores formandos mesmo
que não sejam oferecidos salários muito elevados; e, com as
políticas corretas as escolas e os alunos não estão condenados ao
atraso.
(In: Folha de São Paulo, 28/10/2007, C 12. Traduzido do The
Economist por Paulo Migliacci.)
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
2. O que ensinam diferentes estudos comparados internacionais
sobre as características das escolas eficazes:
i: Os docentes trabalham como uma equipe e permanecem
juntos, na mesma escola, pelo menos por cinco anos.
ii: O esforço dos alunos é valorizado por todos.
iii: Os docentes se sentem responsáveis pelo desempenho dos
alunos.
iv: Os dirigentes e os docentes fazem escolhas e trabalham com
parâmetros curriculares e de avaliações (padrões de desempenho), e com metas.
v: Os docentes fazem escolhas mas têm planos de curso alinhados com o padrão de desempenho da escola.
vi: O currículo ensinado é igual ao currículo prometido.
vii:
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
3. O que ensina a pesquisa nacional do SAEB/INEP/MEC,
realizada em 2001, sobre o chamado “efeito-escola”:
i: O tipo de abordagem pedagógica importa em muito para o
sucesso escolar:
a) escolas que se organizam como ambientes de apren-dizagem;
b) professores presentes e colaborativos e responsabi-lidade
coletiva dos docentes pelos alunos e seus resultados escolares;
c) conteúdo desenvolvido;
d) passar e corrigir dever de casa.
ii: Infra-estrutura simples, mas adequada, existência de recursos
pedagógicos e dinheiro para a escola também fazem diferença.
iii: Escolas que contam com professores bem-formados e em
constante processo de atualização fazem diferença.
iv: Famílias que cobram o desempenho escolar de seus filhos e
que cobram a lição de casa, ajudam a fazer diferença.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
v: No Brasil, a escola faz diferença. O contexto sociodemográfico
condiciona mas não determina os desempenhos. A escola tem escolhas possíveis.
A PESQUISA DO SAEB/2001 SOBRE ESCOLAS EFICAZES:
O EFEITO-ESCOLA
A investigação do efeito das variáveis intra e extra-escolares
[site: www.inep.gov.br/saeb]
A PESQUISA DO SAEB/2001 SOBRE ESCOLAS EFICAZES:
O EFEITO-ESCOLA
A investigação do efeito das variáveis relacionadas com a escola
[site: www.inep.gov.br/saeb]
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
O que se pode inferir da pesquisa sobre o efeito-escola?
Exemplificando com o caso da 4a. série do ensino fundamental,
em Língua Portuguesa, infere-se dos resultados dos dois quadros
precedentes que:
i) o aluno que forma o hábito e adquire o gosto pelo estudo
(avança 11 pontos), faz o para casa e o para casa é corrigido
diariamente em sala de aula (avança 23 pontos), poderá progredir
até 34 pontos a mais;
ii) em escola que tem diretor bem formado (11 pontos a mais),
aonde o professor dispõe de oportunidades de formação
continuada (10 pontos a mais) e realiza em sala de aula o
currículo prometido (9 pontos a mais), o aluno poderá progredir
mais 30 pontos;
iii) portanto, nessa escola o aluno poderá progredir mais 64
pontos, cumulativamente, segundo a escala de proficiência do
SAEB (ver: capítulo 5).
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
4. A pesquisa GERES – Geração Escolar (UFMG, PUC-Rio,
Unicamp,UFBa, UFJF e UEMS. In: FSP, 03/04/2006, pág. C 1)
As primeiras evidências de uma extensa pesquisa que acompanha
uma mesma geração de 19 mil alunos, ano a ano, da 1a. à 4a. série
do ensino fundamental, que está sendo desenvolvida no Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Campinas, Salvador e Campo Grande,
batizada de Geres – Geração Escolar, são as seguintes:
i) Não é o método de alfabetizaçao que determina o sucesso ou o
fracasso escolar. Alunos de colégios construtivistas aprendem
tanto na 1a. série quanto os de unidades que priorizam o método
fônico, baseado na associação entre grafemas e fonemas.
ii) O problema parece estar menos nos anos iniciais da alfabetização e mais na consolidação desse processo ao longo dos anos.
A pesquisa tenta identificar as causas do baixo desempenho dos
estudantes brasileiros no Saeb. Em 2003, a avaliação mostrou que
apenas 4,8% dos alunos da 4a. série tinham desempenho adequado.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
Os defensores do método fônico, que prioriza a associação de letras e sons, dizem que países desenvolvidos têm adotado essa
abordagem porque seria mais eficaz. Já os construtivistas
afirmam que não se pode culpar o construtivismo pelos maus
resultados.
Com um questionário, os pesquisadores identificaram a abordagem usada em sala. Em alguns casos, houve acompanhamento
de uma aula para checar a informação.
Analisando só o desempenho no fim do ano letivo, os testes
indicaram inicialmente que a média dos alunos de escolas
construtivistas era maior que a dos alfabetizados com a
abordagem fônica.
Ao comparar o desempenho final com o do início do ano letivo,
porém, os pesquisadores perceberam que esse melhor resultado
do construtivismo acontecia só porque os alunos dessas turmas
entravam com nível superior.
Quando foi levado em conta também o desempenho inicial, os
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
dados mostraram que não houve diferença significativa no
aprendizado em escolas construtivistas ou fônicas. O melhor
resultado apareceu em turmas onde professores usavam as duas
abordagens. Mesmo assim, as variações ficaram dentro da
margem de erro.
“Os resultados não indicam a superioridade de um método sobre
os demais. Houve resultados bons e ruins em turmas com
abordagens construtivistas, fônicas ou híbridas. Não houve
diferença estatisticamente significativa. Os dados apontaram que
a abordagem híbrida pode apresentar alguma vantagem, mas isso
precisa ser bem analisado”.
Outra conclusão inicial da pesquisa é que a hipótese de que o
fracasso no Saeb começava desde cedo, com deficiência no
processo inicial de alfabetização, não se confirmou.
Para chegar a essa conclusão, a pesquisa classificou sete níveis de
interpretação de textos (de 1 a 7). No teste aplicado aos
estudantes no início do ano letivo, 53% dos alunos estavam nos
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
três níveis mais baixos de aprendizado (1, 2 e 3). No final do ano
letivo, esse percentual caiu para 21%.
Esse resultado sugere que o problema concentra-se mais na
consolidação do processo de alfabetização do que em seu início.
A hipótese, que precisará ser testada nos próximos exames, é que
a escola, em vez de consolidar um promissor processo de
alfabetização, dispersa as atividades com temas pouco relevantes
ligados à gramática.
Discutir o método de alfabetização mais adequado para ser usado
é essencial, mas esse não deve ser o ponto mais importante do
debate, e a discussão não deve se limitar a um confronto entre os
defensores – fônicos ou construtivistas - de um ou de outro
sistema, numa espécie de “guerra da alfabetização” que tem
produzido mais calor que luz.
O especialista em alfabetização e pesquisador Antônio Augusto
Gomes Batista (UFMG) afirma que “a questão do método foi
considerada a partir dos anos 80 como uma discussão de segundo
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
nível, quase desnecessária. Relatórios internacionais mais recentes, no entanto, têm mostrado que os resultados tendem a ser
melhores quando o professor explora essa abordagem fônica.
Não podemos ignorar essas pesquisas mas também não podemos
esquecer que elas abordam apenas um aspecto da aprendizagem”.
“Na Inglaterra, por exemplo, depois que adotaram o método
fônico, o governo investiu mais na formação do professor quando
percebeu que a simples mudança de metodologia não estava
sendo suficiente para que os bons resultados aparecessem”,
salienta o pesquisador.
“Se a complexidade de se apropriar de um sistema simbólico
fosse somente uma questão de método, uma simples mudança
resolveria o problema. No entanto, temos vários subsídios que
revelam que a questão é mais ampla, profunda e complexa”,
afirma a pesquisadora Elvira de Souza Lima.
“O desenvolvimento do cérebro é função da cultura. Este é um
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
fato primordial, esquecido muitas vezes pela argumentação que
usa o conhecimento da neurociência para justificar esta ou aquela
posição”, diz ela. Logo, para entender as causas da não
aprendizagem da leitura e da escrita, é preciso ter uma postura
interdisciplinar.
Conclui: “A apropriação da língua escrita, pela sua
complexidade, é objeto de várias áreas do conhecimento. O
método é do domínio da pedagogia. As outras áreas de
conhecimento aportam elementos, mas não definem métodos.
Este é um equívoco da atual polêmica”.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
iii) A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA
COMO UM AMBIENTE DE
APRENDIZAGEM:
PADRÕES DE DESEMPENHO E
AVALIAÇÕES
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
Gestão Escolar
O desempenho do dirigente escolar depende centralmente de
uma escolha que ele precisa fazer. A escola deverá:
i: ser tudo, para todos, o tempo inteiro?; ou,
ii: ter foco no aluno, e enfoque na aprendizagem?; ou,
iii: combinar equilibradamente “i” e “ii”?
Estudos e pesquisas comprovam que as escolas de sucesso são
organizadas como ambientes de aprendizagem, isto é, têm
Projeto Pedagógico e operam com padrões de desempenho
(descritores curriculares, currículo em ação e avaliações), tem um
Plano Anual de Metas (tipo um Compromisso de Gestão) e os
professores operam com planos anuais de curso e com portfólios
para o registro e a avaliação das aprendizagens dos alunos e de
suas práticas pedagógicas.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
1) Gestão Escolar: descritores curriculares e avaliação
Quem bem sabe o que avaliar, melhor sabe o que ensinar e o que
os alunos precisam conhecer e saber fazer ao longo da
escolaridade, por disciplina, série ou ciclo. Quem bem sabe o que
ensinar e avaliar, sabe bem trabalhar com padrões de
desempenho e de avaliações e verificar, em tempo real, o
progresso acadêmico dos seus alunos.
Um padrão é, ao mesmo tempo, um objetivo e um marco de
referência. Um objetivo responde à pergunta: O que precisa ser
feito? Um marco de referência responde à pergunta: Quão bem
precisa ser feito? Isto implica conhecer que desempenhos, em
educação, podem ser considerados avançados, satisfatórios,
intermediários ou inaceitáveis.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
Um padrão de desempenhos e de avaliações serve para:
i: definir que desempenhos básicos, que satisfaçam as necessidades básicas de aprendizagem, devem ser alcançados por todos os
alunos, que desempenhos são altos e desejáveis para todos, e que
desempenhos são avançados, para alunos avançados;
ii: sinalizar e formar altas expectativas de desempenhos entre os
docentes e os alunos;
iii: orientar e formar nos pais dos alunos altas expectativas de
desempenhos acadêmicos de seus filhos e uma referência do que
devem “cobrar” da escola;
iv: os professores comprometerem-se com os desempenhos de
todos os seus alunos e sentirem-se responsáveis por eles;
v: instigar e orientar os professores para trabalharem em sala de
aulas com habilidades ou desafios cognitivos de alta ordem, com
os seus alunos (a pesquisa do SAEB, em 2001, conclui que os
alunos aprendem mais quando os docentes sabem trabalhar com
habilidades de alta ordem);
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
vi: instigar os professores a trabalharem com plano anual de curso
e com planejamento de aulas, organizados sobre a base de
indicadores-descritores curriculares do que os alunos precisam
conhecer e saber fazer, ao longo da escolaridade;
vii: instigar os professores e os alunos a trabalharem com metas
de desempenhos, estabelecidas com base em indicadores-descritores curriculares;
viii: orientar os docentes e os supervisores sobre que conteúdos e
que habilidades precisam ser objeto de avaliações ao longo do
período letivo.
A organização da escola como um ambiente de aprendizagem
No Brasil, dispomos de padrões claros de desempenho e de
avaliações, como por exemplo:
i: Matrizes Curriculares do SAEB e da Prova Brasil e suas escalas de proficiência;
ii: Matrizes Curriculares dos sistemas estaduais de avaliação e
suas escalas de proficiência;
iii: Matrizes de Competências do Exame Nacional do Ensino
Médio – ENEM;
iv: Índice de Desenvolvimento da Educaçao Básica – IDEB, do
Ministério da Educação.
A organização da escola como um
ambiente de aprendizagem
AFINAL,
QUAL É O PROBLEMA?
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