A influência da temperatura na vida útil do fluido para transmissão automática (ATF) Nesta matéria, iremos conhecer um pouco mais sobre o fluido de transmissão automática, mais conhecido como ATF, que desempenha um papel vital no funcionamento deste dispositivo, e entender como executar uma manutenção adequada em uma transmissão, dando mais atenção à este item. FUNÇÕES DO ATF A tendência mais recente da tecnologia das transmissões automáticas é a redução de tamanho delas, e as companhias automobilísticas estão agora tentando desenvolver unidades automáticas que não necessitam de troca do fluido ATF. Assim sendo, as condições de utilização e requisitos de qualidade estão se tornando mais severos. As funções do ATF e seus requisitos estão descritos a seguir. (1) Funções do ATF • Transmissão de força no conversor de torque • Lubrificação dos componentes internos da transmissão • Geração de força para aplicação das embreagens e freios • Geração de movimento para as válvulas no corpo de válvulas • Vedação interna dos elementos da transmissão • Remoção do calor gerado pelo trabalho de seus componentes, especialmente pelo conversor de torque. (2) Requisitos para o ATF a) Coeficiente de atrito correto A embreagem multidiscos atuada hidraulicamente é um item interno da transmissão, e o ATF é usado quando de sua aplicação ou desaplicação. Desde que o ATF contém substâncias que geram atrito, ele também contribui para prolongar a vida útil dos discos revestidos da embreagem da transmissão automática. Assim sendo, uma atenção especial é dada às características de atrito nos testes de certificação de qualidade do ATF. É necessário que as características de atrito do ATF devam ser contrabalançadas com a devida oleosidade. Também, os coeficientes de atrito estático e dinâmico deverão estar corretamente balanceados entre si. Por exemplo, se o coeficiente de atrito dinâmico for muito pequeno, haverá tendência de ocorrer patinação quando a embreagem for aplicada e isto causará um tempo de mudança mais longo. Se o coeficiente de atrito estático for muito grande, uma mudança drástica de torque poderá ocorrer no final da seqüência de aplicação da embreagem produzindo um choque na mudança (tranco), fazendo com que o motorista sinta uma sensação extremamente desagradável durante as mudanças. Conforme mencionado acima, o ATF executa um papel importante na operação da transmissão automática. Também, ele afeta diretamente o material de atrito dos discos de embreagem. Perceba, portanto, que um cuidado especial deve ser tomado quando você selecionar um ATF para uso em um câmbio automático. Não é somente o custo do litro de ATF que tem ser levado em conta na hora da reposição, mas também os efeitos adversos que um fluido mais barato e não recomendado poderá causar se for utilizado sem critério. Por isso se recomenda utilizar o fluido ATF recomendado pelo fabricante do veiculo ou da transmissão, que fez os devidos testes e sabe destes efeitos muito bem. b) Não possuir tendência de produzir bolhas ou espuma (antiespumante). Se houver produção de bolhas ou espuma no ATF, a sucção da bomba de óleo será reduzida e também haverá uma diminuição na pressão do sistema devido à intrusão de ar no fluido. Quando ocorre deterioração das condições de trabalho do circuito hidráulico, a aplicação e desaplicação das cintas e embreagens da transmissão não ocorrem suavemente e haverá patinação das embreagens. Quando a viscosidade do ATF é alta, poderá haver a ocorrência de bolhas. Para evitar este efeito adverso, um ATF com menor índice de viscosidade é utilizado nas transmissões automáticas. c) Fluidez excelente a baixas temperaturas Se a viscosidade do ATF for alta a baixas temperaturas, o desempenho do circuito hidráulico será muito baixo. Em particular, se o desempenho da bomba de óleo diminui, a pressão hidráulica gerada por ela irá diminuir também nas válvulas de controle causando patinação das embreagens, queimando as mesmas. Por isso se exige que a viscosidade do ATF não aumente mesmo à baixas temperaturas. d) Poucas alterações no índice de viscosidade A viscosidade do ATF deverá se alterar muito pouco entre a mais baixa e a mais alta temperatura. Quer dizer, é necessário que se use o ATF possuindo um alto índice de viscosidade (e não uma alta viscosidade) – Quanto maior o índice de viscosidade, menor as mudanças de viscosidade em função da temperatura. A viscosidade do ATF deverá ser baixa à baixas temperaturas conforme mencionado antes, e também não poderá variar significativamente quando a temperatura aumenta. De outro modo, um efeito adverso será sentido na lubrificação das diversas peças internas da transmissão. e) Não possuir tendência de produzir borra Desde que o ATF é aquecido à altas temperaturas durante sua operação, é necessário que seja minimizada a produção de borra. Se houver depósitos de borra nas embreagens multi discos de uma transmissão automática, haverá tendência à patinação das embreagens e cintas. Também, a borra no corpo das válvulas de controle causará mal funcionamento do inteiro sistema. Para prevenir este tipo de problema, é necessário se utilizar ATFs que possuam em sua formulação um aditivo que elimine a formação de borra. f) Não atacar os materiais de vedação Uma grande variedade de materiais de vedação é utilizada numa transmissão automática. Se estes materiais de borracha endurecerem, deformarem ou encolherem, haverá problemas de funcionamento na transmissão. Por exemplo, se um anel de borracha no conjunto do pistão de uma embreagem estiver danificado, será impossível andar com o veículo. Se qualquer outra peça de vedação estiver estragada, o ATF poderá vazar. Para prevenir tais problemas, é necessário que o ATF não ataque os materiais de vedação feitos de borracha. PADRÕES INDUSTRIAIS PARA O ATF Na industria automobilística, existem dois padrões representativos para o ATF. Aquele especificado pela General Motors e o especificado pela FORD. O ATF utilizado nos veículos GM é chamado DEXRON, e os utilizados em veículos FORD são chamados TIPO F ou MERCON. Muitos tipos de ATF oferecidos pelos fabricantes de lubrificantes são produtos que fora aprovados pela GM ou pela FORD. Nos anos mais recentes, contudo, cada fabricante de automóveis estão se voltando para a utilização de seu próprio ATF ao invés de utilizarem ATFs aprovados por estas duas montadoras. A figura 1 mostra o progresso no desenvolvimento do ATF pela GM e pela FORD apenas como referência. Ano GM 1949 tipo A 1957 Tipo A, sufixo A 1959 1961 1967 DEXRON 1972 DEXRON 1973 DEXRON II 1975 1988 FORD M2C33A/B M2C33C/D M2C33E/F M2C33 G M2C138CJ DEXRON III Figura 1 – Progressos no desenvolvimento do ATF Também, como referência, as características de atrito dos ATFs da GM e FORD são comparadas abaixo, na figura 2. Figura 2 – Comparação entre características de atrito dos fluidos FORD e GM. Tendências Recentes Veículos equipados com transmissão automática estão ganhando cada vez mais popularidade no mercado. Em particular, avanços recentes na eletrônica possibilitaram incorporar mais circuitos eletrônicos de controle de mudanças nos veículos automáticos. Desde que o tamanho dos câmbios automáticos está se tornando cada vez menor, a quantidade de ATF utilizado para sua operação é menor, resultando em pronto aumento de sua temperatura. Também, para a implementação do controle eletrônico, a variação na viscosidade e características de atrito do ATF deve ser minimizada. Assim sendo, os requisitos de qualidade para o ATF estão se tornando mais severos. (3) Diferenças na lubrificação entre óleo de motor e óleo para transmissões automáticas. Óleo de motor No motor, o cárter de óleo é utilizado para armazenar óleo utilizado pelo mesmo. O óleo é sugado pela bomba de óleo, e partículas sólidas (partículas abrasivas) contidas nele são retidas pelo peneira do pescador que faz parte do circuito de lubrificação. Adicionalmente, após o óleo ser pressurizado pela bomba de óleo, ele é filtrado através do elemento filtrante e então distribuído à cada peça móvel para lubrificação. Se o elemento filtrante entupir (por não ter sido substituído há muito tempo), uma válvula de desvio garante a lubrificação do sistema diretamente às peças móveis, ainda que sem filtrar. ATF Na transmissão automática, o ATF armazenado no cárter de óleo é filtrado através do filtro da mesma maneira que o óleo do motor. Note, contudo, que este filtro é diferente em principio daquele utilizado no motor. O filtro utilizado na transmissão automática consiste de um elemento de tela muito fina ou feltro. Desde que ele está habilitado a filtrar partículas muito pequenas e pó com alta eficiência, é muito mais propenso a ficar obstruído. Se o filtro entupir, se torna impossível sugar fluido o ATF pela bomba desde que uma válvula de desvio, que existe no motor, não existe no câmbio automático. Assim sendo, a obstrução do filtro fará com que a pressão do sistema diminua. Também, neste caso, as embreagens multi discos e as cintas patinarão causando um efeito adverso na operação da transmissão. No motor, se ocorrer uma lubrificação anormal, o interruptor de pressão de óleo do motor detectará esta condição e acende a lâmpada indicadora de baixa pressão de óleo no painel, alertando o motorista. Em contraste, mesmo se ocorrer uma lubrificação anormal na transmissão automática, este tipo de aviso não é dado ao motorista. Uma vez que o filtro da transmissão fique obstruído, ele não poderá ser recuperado com a simples troca do ATF. Causas de obstrução na transmissão automática. Diferente do motor, a transmissão automática utiliza força de atrito para transmissão de potência. Assim sendo, a embreagem multidiscos realiza a mudança de marchas, e a cinta de freio trava as engrenagens do conjunto. Materiais de atrito são utilizados nestes componentes. É normal que partículas (pó de disco ou da cinta) provenientes destes materiais sejam produzidas durante o trabalho deles. Também, desde que o contato destes materiais é realizado com discos ou tambor de metal, pó metálico também é liberado durante o trabalho. Quer dizer, estas partículas ficam em suspensão no ATF que circula pelo câmbio. Para a remoção deste pó metálico (pó gerado pelo desgaste), a transmissão automática é equipada com um ou vários ímãs que coletam este material. (4) Características de Atrito do ATF Na transmissão automática, a embreagem multidiscos úmida é utilizada para conectar / desconectar o torque proveniente do motor. O ATF fornece lubrificação e arrefecimento para as embreagens. E, a característica de atrito do ATF tem efeito considerável no desempenho das mudanças de marcha no momento da aplicação das marchas e durabilidade das peças. Analisemos como a embreagem multidiscos opera. Quando a pressão do ATF é exercida no pistão, dentro da carcaça da embreagem, o pistão se move para a frente. Assim, a pressão da embreagem é usada para aplicar o disco revestido no disco de metal. Em geral, onde se tem quatro discos revestidos, tem-se também cinco discos metálicos (placas). À medida que se aumenta o numero de discos que compõem uma embreagem, uma força maior é obtida e transmitida. No caso em que os discos revestidos estejam do lado motriz, a placa metálica ou disco estará do lado movido. A força é assim transmitida pelo caminho a seguir: Disco de embreagem → placa metálica → carcaça da embreagem → engrenagem. Na transmissão de força, umA força de atrito é produzida entre a superfície do disco de embreagem (material de fricção) e a superfície do disco metálico. Sob esta condição, o ATF executa um papel importante na operação. O ATF age como meio de prolongar a durabilidade das peças e reduzir o choque nas mudanças de marchas. É altamente desejável numa transmissão automática que a aplicação da embreagem seja realizada no menor tempo possível. Em geral, um tempo de 0,5 segundo é recomendado como tempo de duração da mudança. Se ele se tornar maior do que 1 segundo, a embreagem patinará, causando um efeito danoso aos discos. Mesmo se um ATF de alta qualidade, compatível com a transmissão for utilizado, a deformação do disco revestido ou do disco metálico diminuirá a força de atrito, pela diminuição da superfície de trabalho. Neste caso poderá ocorrer patinação da embreagem. Por ocasião da reforma, se torna necessário verificar os discos e placas metálicas cuidadosamente. Se em dúvida, substitua as peças afetadas sempre que possível. Conforme pode ser depreendido do acima, é necessário que os discos revestidos e as cintas sejam imersos em ATF por ocasião da montagem. MANUTENÇÃO DO ATF (1) Possíveis causas da deterioração do ATF Listadas abaixo estão as três maiores possíveis causas da deterioração do ATF: a) Um aumento na temperatura do fluido devido a superaquecimento do motor ou uso severo da transmissão. b) Patinação dos conjuntos de embreagens multidiscos da transmissão automática. c) Degradação do ATF devido à utilização prolongada sem troca. A deterioração do ATF (falha na transmissão automática) pode ocorrer devido à estas possíveis causas em muitos casos. Danos na embreagem por ela mesma muitas vezes são causados por um problema esporádico. É amplamente conhecido que as características de atrito do ATF é degradada significativamente pelo aumento da temperatura do ATF. Se o veiculo funciona em regime de tráfego intenso no anda-e-para da cidade e congestionamentos por um longo tempo ou em um circuito de corridas, a temperatura do ATF aumenta grandemente. No caso de um congestionamento pesado de tráfego, a temperatura do ATF pode aumentar para mais de 120º C, promovendo a oxidação do ATF. Quando o ATF é assim oxidado, depósitos de borra ou goma são gerados e aderem aos discos e cintas, causando patinação. É muito difícil determinar a freqüência com que o ATF deve ser substituído (pela distância percorrida). Desta maneira, o ATF deve ser verificado quanto à oxidação (deterioração) freqüentemente. Nesta verificação, pode-se julgar sua coloração. Ou, para manter o ATF em boas condições, substituí-lo periodicamente. É muito difícil de entender como alguns fabricantes de transmissões automáticas dizem que suas unidades não necessitam de substituição do ATF. Em termos de características de atrito do ATF, sempre será uma boa estratégia substituí-lo periodicamente. (2) Circuito de arrefecimento do ATF O ATF é alimentado desde a saída da bomba até o conversor de torque, que é utilizado como importante meio de transmissão de potência. Desde que o trabalho do conversor de torque gera muito calor por atrito, a temperatura do ATF aumenta inevitavelmente. Assim, é necessário fazer com que o ATF saia do conversor de torque para ser arrefecido. Normalmente, o ATF é forçado para fora do conversor através de uma tubulação metálica até o radiador do ATF, que pode ou não ser construído junto com o radiador de arrefecimento do motor. Após o ATF ter sua temperatura reduzida, ele volta a circular pela linha de retorno até a transmissão para cumprir sua missão de lubrificação nas peças internas. Conforme pode ser aprendido do acima, a limpeza das linhas de arrefecimento e do radiador é um dos itens principais na manutenção do ATF. (3) Durabilidade (vida útil) do ATF Conforme mencionado antes, o ATF desempenha um papel chave na transmissão automática. Não é exagero afirmar que a maior prioridade a ser dada na manutenção do câmbio automático é a preocupação com o ATF. Os pontos a seguir descrevem bem como lidar com a manutenção do ATF de maneira correta. Mudança na coloração do ATF Para se julgar se o ATF está ou não está bom, é uma prática comum verificar sua coloração. Muitos tipos de ATFs utilizados hoje em dia possuem cor vermelha transparente, e assim é fácil distinguir o ATF de outros lubrificantes do veículo. Para efeito de comparação, é aconselhável colocar um vasilhame transparente com ATF novo ou algo semelhante. Utilizando sua cor como referência, examine o ATF retirado da transmissão sob teste. A cor do ATF muda com a condição de uso. Verificando a cor do ATF, você conseguirá saber o grau de deterioração do mesmo bem a como a condição dos discos e cintas internos da transmissão, se estão danificados ou não. Nas transmissões automáticas convencionais, buchas e peças de latão são utilizadas. Note que as peças feitas de latão são passíveis de reagirem quimicamente com o ATF causando deterioração. Em muitos tipos de transmissões automáticas mais recentes, peças e buchas de latão estão sendo substituídas por peças e buchas de liga de alumínio com o propósito de evitar a deterioração do ATF. Assim, algumas pessoas dizem que não é necessário substituir o ATF. Contudo, se o ATF for utilizado sob condições severas, sofrerá aquecimento até altas temperaturas repetitivamente, promovendo assim sua deterioração. Considerando tal tipo de utilização, não é recomendável deixar o ATF sem substituição por longos períodos de tempo. Temperatura do ATF e vida útil em termos de distância percorrida (quilometragem). Um teste de durabilidade desenvolvido conjuntamente pelos Estados Unidos e Japão, indicou a relação entre a temperatura do ATF sob operação e sua vida útil em termos de distância percorrida acumulada (quilometragem). Por exemplo, se a temperatura do ATF que está sendo utilizado for de 80º C, o ATF permanecerá utilizável até uma distância percorrida de 84.000 quilômetros ou mais. Se a temperatura de trabalho dele for de 100º C, ele deverá ser substituído por um novo quando o veiculo tiver percorrido no máximo a distância de 80.000 quilômetros. Adicionalmente, se a temperatura do ATF sob operação for aumentada em aproximadamente 15º C, o ATF irá se deteriorar significativamente causando acumulo de verniz (ele mudará sua viscosidade para um liquido mais grosso semelhante ao verniz). Neste caso, o ATF deverá ser substituído quando o veículo atingir uma distância percorrida de somente 40.000 quilômetros. Também, se a temperatura do ATF subir em trabalho para 150º C, poderá haver tendência de patinação dos discos e cintas e o ATF deverá ser substituído após o veiculo percorrer uma distância acumulada de somente 6.400 quilômetros. Se a temperatura do ATF exceder 160º C, a embreagem multidiscos será destruída pela queima e o ATF será carbonizado, danificando os vedadores da transmissão. Estes são os resultados deste teste desenvolvido nos Estados Unidos e Japão. Toda limpeza do sistema deverá também compreender a limpeza da tubulação, do radiador e do conversor de torque, pois sabemos que qualquer quantidade de fluido oxidado, se deixado no sistema, rapidamente influenciará a oxidação do fluido novo substituído, apressando o processo de deterioração do fluido novo. Conforme aprendemos do exposto acima, um aumento ainda que pequeno na temperatura do ATF certamente resultará em sua deterioração mais rápida. O resultado da deterioração do ATF aparecerá como descoloração. Nos serviços de manutenção, certifique-se de verificar a cor do ATF meticulosamente. (4) Como verificar a coloração do ATF Para a verificação da cor do ATF, remova o tampão de dreno e extraia uma amostra de ATF num reservatório transparente. Então, observe-a cuidadosamente. Se houver qualquer indicio de problema na transmissão automática, você achará pó metálico ou partículas de desgaste (limalhas) contidas no ATF. Assim, torna-se possível localizar uma peça danificada ou gasta e identificar também sua condição. Cor vermelha e estado normal Quando o ATF está normal, ele possui uma cor vermelha ou amarela altamente transparente. Utilize a cor do óleo novo como referência. Coloração marrom Se o ATF demonstrar uma coloração marrom, significa que ele foi utilizado em condições severas. Desde que o ATF foi exposto à altas temperaturas por longo tempo, sua deterioração causou descoloração. Neste estado, ele possui um ligeiro cheiro de queimado e baixa viscosidade mostrando similaridade com o thinner. Este estado deteriorado do fluido ATF (cor marrom, cheiro de queimado, baixa viscosidade) pode ser identificado facilmente. Embora seja difícil expressar sutis diferenças de coloração acuradamente em palavras, a coloração marrom devido à deterioração pode ser expressa como um vermelho descorado. Se o ATF for utilizado por um longo tempo (sem substituição), sua cor poderá mudar para marrom carregado também. Em tais casos, substitua o ATF por um novo imediatamente. Transparência diminuída, coloração preta Se a cor original vermelha ou amarela se tornar preta (a transparência diminuiu ou ficou totalmente opaca), ele pode estar contaminado com pó de discos de embreagens queimados da transmissão. Ou poderá ter sido contaminado com pó metálico proveniente das buchas ou engrenagens. Em particular, a cor do ATF se torna preta rapidamente quando pó proveniente de desgaste das buchas de alumínio estiver misturado com ele. Se o veiculo for conduzido continuamente nestas condições, poderá ocorrer ruído anormal e patinação das embreagens e cintas. Neste caso, a transmissão automática deverá ser reformada imediatamente. Caso contrário, os componentes internos da transmissão sofrerão danos consideráveis, resultando num aumento dos custos de reparo. Também, mesmo se o veiculo for conduzido normalmente, as peças internas do câmbio sofrerão desgaste acentuado devido ao fluido ATF apresentar partículas sólidas e/ou metálicas em suspensão. Como medida temporária, retire o cárter de fluido e remova o pó metálico ou pó dos discos de dentro dele. Limpe ou troque o filtro de óleo, e substitua o ATF por um novo. Verifique então se a transmissão opera normalmente ou não. Se ocorrer ruído anormal ou patinação das embreagens, será necessário reformar completamente a transmissão imediatamente. Fluido muito denso como xarope, fluidez de verniz Se o ATF for exposto à temperaturas extremamente altas por um longo período de tempo e a alteração de coloração e estado do fluido estiver como acima descrito, o ATF se tornará altamente viscoso, como um verniz. Neste estado, as peças que utilizam os discos de embreagem e cintas já estão desgastadas e danificadas extensamente. É inútil substituir o fluido ATF por um novo neste caso. O ATF possui cheiro de embreagem queimada das embreagens multidiscos e cintas. Se a transmissão automática for utilizada continuamente sob estas condições, ocorrerá travamento no corpo de válvulas de controle ou o conversor de torque poderá ser danificado significativamente. Coloração Opalescente O ATF se torna opalescente se houver água misturada com ele assim como no óleo do motor. Isto ocorrerá quando o radiador do ATF, que utiliza água do sistema de arrefecimento do veículo estiver quebrado ou danificado. Neste caso, deve-se reparar o radiador e substituir completamente o ATF por um novo. Deverá ser tomado cuidado especial na limpeza de toda a linha de arrefecimento e do conversor de torque. Observamos que o liquido de arrefecimento reage com o ATF causando deterioração do fluido ATF, resultando em trancos na aplicação e desaplicação das marchas. Por ocasião da reforma da transmissão, deve-se proceder à total limpeza das peças internas e da carcaça. Se a transmissão for remontada com resíduos de umidade e depósitos estranhos (resultantes da reação com o liquido de arrefecimento e o ATF), o ATF se deteriorará rapidamente causando danos à transmissão em pouquíssimo tempo e gerando a necessidade de reformá-la novamente com baixíssima quilometragem. Para evitar isto, limpe as peças cuidadosamente antes da reforma. Não esqueça de limpar o conversor de torque. (5) Procedimento para verificação do ATF Como medir o nível do ATF corretamente: a) Estacione o veiculo em uma superfície plana. b) Aqueça o veiculo até a temperatura normal de funcionamento (em torno de 70 a 80ºC) c) Mantenha o motor funcionando em marcha lenta d) Posicione a alavanca seletora de marchas em cada posição por pelo menos 30 segundos (para encher de ATF cada componente interno). Posicione a então a alavanca em “P” (na maioria das transmissões). e) Retire a vareta medidora, limpe-a e insira-a novamente, medindo então o nível. Ele deverá estar entre as marcas “MIN” e “MAX” da vareta. No procedimento acima, está descrito o procedimento de verificação do nível do ATF. Tenha em mente que: Verifique o nível somente após o aquecimento do fluido da transmissão. Quando a transmissão está funcionando, a temperatura do ATF aumenta causando expansão térmica do ATF. Por exemplo, se o nível do ATF for verificado enquanto a transmissão estiver fria, a leitura do ATF indicará nível baixo. Suponha que o nível seja completado nesta ocasião. Então, quando a transmissão aquecer, o volume do ATF estará acima do máximo devido à expansão térmica. Assim, o ATF entrará em contato com as partes giratórias da transmissão causando espuma no fluido. Se a espuma (ar diluído no óleo) for aspirada pela bomba, isto causará cavitação e conseqüente baixa pressão do sistema, queimando os componentes internos da transmissão. Além do mais, a espuma causará aumento de fricção e patinação, gerando mais calor, que por sua vez causa a deterioração do ATF. Excesso de ATF pode ser espirrado para fora da transmissão, girando risco de incêndio. Para evitar todos estes problemas, somente verifique o nível do ATF com a transmissão na temperatura normal de trabalho. Se por outro lado o nível do ATF estiver muito baixo, em curvas ele poderá faltar na linha de sucção da bomba, causando patinação e vazio nas marchas, queimando os conjuntos de embreagem. Ocorrerá patinação dos conjuntos pela manhã, quando o veiculo estiver frio, mas após seu aquecimento, ele funcionará normalmente. Se o veiculo funcionar continuamente nestas condições, as peças internas sofrerão desgaste muito alto causando patinação constante e outros problemas. Nunca utilize estopa ou panos que liberem fiapos para limpar a vareta medidora de fluido da transmissão. Ao limpar a vareta medidora, de preferência à panos de nylon pois os fiapos poderão penetrar no fluido, causando entupimento do filtro ou interrupção do movimento das válvulas no corpo de válvulas. Ou utilize uma pistola de ar comprimido para isto. Verifique o nível do ATF com o motor em funcionamento É necessário que o fluido esteja em cada peça da transmissão. Note que o nível do ATF varia de acordo com o funcionamento do motor. Por exemplo, mesmo se o nível do ATF verificado na transmissão parecer estar OK com o motor parado (dentro das marcas), ele poderá descer muito abaixo do mínimo com o motor funcionando, em virtude do enchimento do conversor e de outras peças internas da transmissão, causando falta de fluido e problemas com a transmissão ao longo do tempo. Meça o ATF algumas vezes com o veículo em uma superfície plana. Sempre estacione o veiculo no plano, para evitar falso resultado na medição do ATF. Meça-o algumas vezes. Com o motor funcionando, pingos de ATF caem das engrenagens causando flutuação na superfície do ATF. Se o volume do ATF for insuficiente, certifique-se de inspecionar a transmissão também quanto a vazamentos. (6) COMO SUBSTITUIR CORRETAMENTE O ATF Descarregue o ATF soltando o bujão de dreno Para remoção do ATF desde o carter, solte o bujão de dreno. A simples substituição do fluido contido no cárter não garante a troca total do fluido da transmissão, mas é suficientemente efetivo para assegurar uma operação normal da transmissão automática. O ATF remanescente no conversor de torque não poderá ser substituído somente soltando-se o bujão do cárter. Quando o motor funciona após descarregar o ATF presente no cárter, o ATF do conversor não retorna ao cárter. Quando não houver ATF no cárter, a bomba somente sugará ar e não aplicará pressão ao ATF do conversor. Abastecendo o cárter com fluido ATF novo, a bomba conseguirá empurrar o fluido velho gerando pressão nesta ocasião, e só então ele voltará para o cárter. Note que o ATF que estava no conversor de torque não poderá ser removido somente retirando-se o fluido velho do cárter. Substituição através da mangueira de retorno no radiador do ATF Em muitas transmissões automáticas modernas, é utilizado o método de arrefecimento através da água do radiador. O ATF que retorna do conversor de torque vai diretamente ao radiador através da tubulação própria. A conexão desta mangueira poderá ser utilizada para esvaziar o ATF velho do sistema pelo novo. Remova o tubo de retorno do ATF que sai do radiador e entra na transmissão, e conecte um dispositivo trocador de fluido nela. Posicione uma bacia limpa de alumínio debaixo do veiculo e funcione o motor. O ATF velho irá ser recolhido pelo reservatório. Utilizando o trocador de fluido, alimente com ATF novo seu reservatório de acordo com o volume de ATF descarregado. Quando um certo volume de ATF for descarregado, pare o motor. Monte então a mangueira de volta, desconectando o trocador de fluido, tomando cuidado para não deixar nada vazando, e complete o nível do ATF na transmissão. Esperamos aqui ter esclarecido algumas dúvidas comuns com respeito ao ATF e seu procedimento de troca, bem como fornecido informações pertinentes aos técnicos reparadores para executar um melhor serviço aos usuários de veículos automáticos no Brasil. Até a próxima. Redação: APTTA Brasil – Associação de Profissionais Técnicos em Transmissão Automática e-mail: [email protected] www.apttabrasil.com