O DESAFIO DE CRIAÇÃO DE UM PROJETO EDITORIAL PARA CALÇADOS
BARTH LTDA.
Preparado por Mariana Viana Ruschel, formada em design na ESPM/RS e pela profa. Dra. Ani Mari Hartz
Born da ESPM/RS.
Recomendado para as disciplinas de: Projeto III – Editorial (Design), Mód. Ativ. - Gráfica Tipografia (Design),
Projeto VI B (Design)
Este caso foi escrito inteiramente a partir de informações cedidas pela empresa e outras fontes mencionadas
no tópico "Referências". Não é intenção do autor avaliar ou julgar o movimento estratégico da empresa em
questão. Este texto é destinado exclusivamente ao estudo e à discussão acadêmica, sendo vedada a sua
utilização ou reprodução em qualquer outra forma. A violação aos direitos autorais sujeitará o infrator às
penalidades da Lei. Direitos Reservados ESPM.
MARÇO 2011
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Resumo
As empresas produzem material editorial para se comunicar diretamente com seus clientes,
colaboradores e parceiros, e o utilizam para reforçar e sedimentar sua imagem junto ao
mercado. Portanto, este caso revela o passo a passo na construção de um livro comemorativo
para os 20 anos da marca Barth Shoes, localizada em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.
O objetivo do projeto editorial é mostrar àqueles que pouco conhecem a marca, pontos-chave
de seus 20 anos de história no mercado de calçados; aumentando o desempenho da empresa
em nível nacional. Para tanto, foi preciso entender a empresa e o mercado, estudando tanto os
aspectos mercadológicos, quanto os gráficos.
Palavras-chave
Design editorial. Diagramação. Calçados. Barth Shoes.
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Abstract
Companies produce editorial material to communicate directly with customers, employees and
partners, and use it to strengthen and solidify its image in the market. Therefore, this case
reveals the step by step in building a commemorative book to mark the 20th anniversary of the
brand Barth Shoes, located in Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul The intention of the editorial
project is to show those who know little of the brand, points key of its 20 year history in the
footwear market, increasing the company's performance nationally. For this, we must understand the company and the market, considering both aspects of marketing, as the graphics.
Keywords
Editorial design. Layout. Shoes. Barth Shoes.
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ENTENDENDO A BARTH SHOES
Rodrigo Barth aprendeu a produzir sapatos com seu pai, Antônio, dono de uma
sapataria em Porto Alegre. Após fazer alguns pares de botas para seus amigos, percebeu a
aceitação dos modelos por parte deles e, assim, iniciou uma pequena produção em 1988:
fábrica recebeu o nome Calçados Barth LTDA, também em Porto Alegre.
Paralelamente, Marcelo Chagas trabalhava com seu pai, Sebastião, que era
representante comercial de algumas fábricas do Vale dos Sinos. Marcelo lembra: “A Barth foi a
primeira fábrica que conquistei para representação e ela me fascinou por causa da conquista
de bons compradores, e por ter liberdade de alterar os modelos e personalizá-los de acordo
com o cliente”. Então, em 1991, Rodrigo e Marcelo se tornaram sócios e fundaram a Calçados
Barth Ltda. Na figura 1, primeira marca da Barth, que data dessa mesma época.
Figura 1 – Marca da empresa no ano 1991.
Fonte: Fornecida pelo gestor da empresa Marcelo Chagas.
Para isso, Marcelo vendeu seu carro, que era seu único patrimônio e instalaram a
fábrica em uma casa da família dele em Porto Alegre. “Fabricar na capital era um desafio, pois
não havia mão-de-obra – era necessário treinar todos os funcionários – e materiais para
produzir, tinha somente em Novo Hamburgo”, revela Rodrigo. Na figura 2, sede da empresa em
1991 à esquerda, e fotografia dos sócios nessa mesma época à direita.
Figura 2 - À esquerda, sede da empresa no ano 1991; à direita, os dois sócios da Barth Calçados Ltda:
Rodrigo e Marcelo, na ordem que aparecem.
Fonte: Fornecida pelo gestor da empresa Marcelo Chagas.
Nessa época, a Barth trabalhava com oito funcionários e produzia um modelo no verão e
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outro no inverno. A produção diária de calçados era 20 pares/dia. Na figura 3, fotos da
produção dessa época.
Figura 3 - Produção da empresa no ano 1991.
Fonte: Fornecida pelo gestor da empresa Marcelo Chagas.
A característica, desde o princípio, era a ousadia para criar modelos diferenciados, com
aparência arrojada. Na época, um exemplo de inovação, era o bico quadrado do calçado. Com
o passar do tempo, a Barth Shoes obteve destaque em boutiques formadoras de opinião, como
Druska e Boutikão.
Em 1998, Rodrigo lembra que se tornou inviável continuar a produção em Porto Alegre,
pois havia aumentado o número de clientes, e, consequentemente, o número de modelos. Foi
então que a fábrica mudou-se para Novo Hamburgo, o maior pólo calçadista da América Latina,
assumindo uma nova marca.
Em 1999 começaram a produzir para terceiros, como a Mormaii e a Cravo&Canela, o
que ocupava até 90% da capacidade de produção da fábrica. Dessa época, os sócios contam
que aprenderam muito sobre desenvolvimento e produção. Além disso, aprenderam sobre a
importância da qualidade, já que a cobrança por parte dessas marcas era bastante alta.
Guardam como herança da época, a cultura de revisão e os calces diários, que garantem – até
hoje – o controle de qualidade dos calçados Barth Shoes.
Em 2003, os sócios sentiram necessidade de investir mais na marca própria. Junto a
isso, perceberam a carência do mercado surfwear, em ter uma marca feminina de calçados
(as marcas que existiam eram focadas para o público masculino). Nessa época, re-estilizaram
o símbolo da marca, trocaram a equipe comercial e investiram nesse mercado específico.
Superando os desafios iniciais, a Barth cresceu neste mercado, aumentou a produção e
começou a fabricar somente a marca própria. Se antes, eram oito funcionários, hoje já somam
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sessenta e cinco. Se antes produziam 20 pares/dia, hoje produzem 500 pares/dia. Do modelo
único para cada estação do ano, agora são cem modelos por coleção: inverno e verão. Em
2008, a marca passou por um novo redesign, para acompanhar o novo posicionamento da
marca, que mudou seu público, e definiu um estilo. Esse posicionamento ainda hoje é o que
guia a Barth Shoes, porém a marca novamente sofreu alterações. Na figura 4, quadro
comparativo da evolução da marca.
Figura 4 - Evolução da marca.
Fonte: A autora.
Hoje, a Barth produz calçados e bolsas que usam diversos materiais alternativos, como:
madeiras, tecidos, cortiças, entre outros. O uso desses materiais no início foi por causa dos
limitadores de produção, como verba e equipe reduzida. São lançadas duas linhas de produtos
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ao ano: uma outono-inverno e outra primavera-verão e o foco são as jovens mulheres de
classes A e B, que tenham entre 15 e 22 anos. Os modelos vêm sempre com criatividade, estilo
e charme, sem descuidar das tendências. As sandálias recebem nomes como: escova, brinco,
tatoo, pulseira, carta, mochila, colégio, bolsa, paquera, beijo, entre outros, que sempre
remetem ao universo do público-alvo e da campanha referente. Como exemplo, a campanha
de inverno 2010, que tem como tema o filme Alice no País das Maravilhas. Os sapatos foram
batizados de: Copas, Ouro, Chapeleiro, Hora, Rei, Baralho, entre outros que remetem ao
universo do filme.
Daniella Pinheiro e Melissa Lucchini são figuras centrais no design dos produtos.
Constantemente pesquisam moda para roupas e calçados, além de buscar novos materiais que
possam ser utilizados como forma de inovação da marca, adicionando cada vez mais valor ao
produto.
Por princípio, produtos Barth são ricos em detalhes, todos muito bem planejados e
pensados. São fivelas, botões, etiquetas: até cheiro personalizado a palmilha já teve. Todos os
calçados, tanto de inverno quanto de verão são produzidos na fábrica, mas Rodrigo observa
que algumas partes do processo são terceirizadas, como, por exemplo, as palmilhas e algumas
costuras, por falta de capacidade de espaço/pessoal atual. As bolsas são produzidas em outra
fábrica, com base no modelo passado pela Barth. Assim como os calçados, elas também são
confeccionadas com cuidado, carinho e atenção nos detalhes.
A empresa conta com representantes nos seguintes estados: Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Rodrigo e Marcelo planejam aumentar sua
atuação no mercado brasileiro, atingindo outros estados. A forma que pretendem iniciar é
através da venda de calçados de coleções passadas através da internet. Não venderão as
coleções atuais, que estão nas lojas, porque o objetivo não é competir com os
estabelecimentos em que os calçados da marca Barth Shoes são vendidos, mas reduzir as
sobras de produção de coleções anteriores e atingir outros locais do Brasil. Marcelo relata que
monitora as entradas dos visitantes no site da empresa, então conhece as origens dos
acessos. Com isso, percebeu que alguns muitos dos acessos são de regiões onde ainda não
há representantes. Na figura 5, fotos da fábrica, dos funcionários e dos calçados atuais.
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Figura 5 - Fábrica, funcionários e calçados atuais.
Fonte: Fornecida pelo gestor da empresa Marcelo Chagas
A Barth busca associar todos os cinco sentidos à marca. Atrai a visão através de
modelos modernos, com estilo, e bem acabados; o tato, porque todos os produtos utilizam
materiais variados em um mesmo modelo, por exemplo: madeira, tecido, tachinhas, presilhas,
botões; a audição fica por conta dos jingles produzidos; para o paladar, tem-se o Sorvete da
Barth como exemplo; e, por fim, já foram associadas fragrâncias a marca: era colocado
perfume nas palmilhas.
Rodrigo destaca que a empresa trabalha bastante os materiais de ponto-de-venda,
confeccionam catálogos conceituais e de produtos, mantém o site atualizado e vinculado a
campanha da estação, e trabalham com ações que possam ser percebidas como simpáticas
pelo consumidor, que, dessa forma, conhece melhor a marca e associa a bons momentos.
A equipe de vendas da Barth Calçados monitora as lojas para ver como está sendo
usado o material produzido para exposição dos produtos. Além disso, auxilia os vendedores
para que esses tenham mais informações sobre a Barth e seus diferenciais, e, assim, vendam
mais produtos da marca.
A empresa ainda faz ações promocionais que tem por objetivo divulgar a marca junto aos
consumidores em lojas que vendem os produtos Barth Shoes. Dentre as ações, destaca-se:
ação Move On Trópico, Musa do Internacional na Barth, Gincana Rosário 2009, Ação Inverno
Sunset, Ação Inverno Callohã, Planeta Barra Shopping e Barth Backdoor Iguatemi. Além disso,
como forma de estar alinhada com um dos seus valores: o compromisso com desenvolvimento
do surf, a empresa patrocina a surfista Thiara Mandelli, que ocupa atualmente a quinta
colocação no ranking nacional e a vice-liderança no Circuito Paranaense.
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Além disso, os gestores investem 4% do faturamento da empresa em comunicação, mas
percebem que ainda falta um material de comunicação que divulgue a trajetória da empresa e
dê visibilidade nacional para a marca. Sendo assim, Rodrigo e Marcelo contrataram uma
designer para a criação de um material gráfico mais elaborado, “uma espécie de síntese da
Barth”, como afirma Marcelo. A designer capturou imediatamente a ideia dos gestores e propôs
o projeto de um livro comemorativo da Barth, uma vez que em 2011 a empresa completará 20
anos. Os gestores fecharam o negócio com a designer, sem solicitar outras propostas, pois se
sentiram muito seguros em relação ao que havia sido apresentado.
INICIANDO A CONSTRUÇÃO DO MATERIAL GRÁFICO
Depois de entender em profundidade sobre a Barth Shoes, inclusive analisando a
evolução da marca e dos materiais gráficos da empresa (análise diacrônica), a designer partiu
para uma análise sincrônica, orientada por Bonsiepe (1983). Sendo assim, ela dissecou sobre
os concorrentes diretos da Barth, a Goofy e a Lui Lui e os indiretos, a Azaléia, a Melissa e a
Bottero. Em síntese, a designer formulou um quadro comparativo e conclusivo das análises
diacrônica e sincrônica, salientando pontos positivos e pontos negativos, que podem ser
acompanhados no quadro 1.
CONCLUSÃO
PONTOS POSITIVOS
PONTOS NEGATIVOS
Barth
- Uso de texturas
- Uso de sobreposições
- Elementos surfwear
- Acabamento em Prolan
- Excesso de elementos
Goofy
- Paleta de cores leves, mas intensas
- Uso de estampa
- Elementos surfwear
- Fonte sem serifa
- Mistura de fotos e ilustrações
- Recorte irregular das modelos, sobrando uma
borda branca, como se elas tivessem sido
coladas ali
- Uso de espaços vazios para descansar o olhar
(respiros)
- Formato horizontal
- Excesso de estampa
- Fonte não-serifada
- Falta de caracterização direta
com o público-alvo feminino,
devido ao uso de elementos
masculinos
- Elementos textuais com
sombra e blur
Lui Lui
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Azaléia
- Mostrar o contexto histórico do Brasil de cada
fase (a cada dez anos)
- Uso de marca d’água
- Alinhamento justificado
- Material para impressão de
baixa gramatura
- Fotos sem tratamento
- Fontes serifadas e
manuscritas
- Paleta de cores restrita
- Diagramação dura, como
trabalho acadêmico
- Margem pequena
- Legenda nas imagens
- Marcador de página dentro de
um símbolo da marca
Melissa
- Clara diferença entre página de texto e página
de imagem
- Grid bem organizado
- Tipografia limpa
- Uso de materiais diferentes para criar efeitos
de transparência e sobreposições
- Poucos elementos para
compor cada página
- Linguagem jovem, alegre, divertida e urbana
- Marcadores de páginas discretos
- Excesso de elementos, que
não seguem necessariamente
um mesmo padrão. Mistura
rendas, manchas de tinta,
texturas, degradês
- Grid não é claro, nem bem
estruturado
- Alinhamento em contorno
- Formato vertical
Bottero
Quadro 01 - Quadro comparativo dos resultados.
Fonte: A autora.
Após esta etapa, a designer partiu para uma pesquisa qualitativa com o objetivo de
direcionar o caminho a seguir no projeto. Esta pesquisa foi composta por quinze pessoas (um
sócio, um fornecedor e treze consumidoras), buscando as respostas para perguntas como, por
exemplo: o que você espera de um livro que contará os 20 anos da história da Barth?; cite três
coisas/elementos que não podem faltar nele; é importante mostrar a evolução do produto? E da
marca?; é relevante o uso de texturas e estampas?; é mais importante ler a história ou
entendê-la visualmente?; como sintetizar? Linha do tempo? Trechos da história ao longo dos
capítulos?; você prefere livros em formatos tradicionais ou diferenciados?
A designer revela a importância dessa etapa: “pode-se perceber certas tendências de
pensamento a respeito do que se esperava desse projeto.” Ela conta que quanto ao conteúdo,
na opinião dos pesquisados, o livro deveria abordar o surgimento da empresa, sua história
desde os seus primórdios; o caminho para chegar até os dias de hoje. A forma de contar a
história deveria ser leve, de modo que a leitura não ficasse pesada ou cansativa. Alguns
assuntos que foram citados pelos entrevistados: como surgiu a ideia de criar a Barth, como foi
o começo (se foi fácil ou difícil), como foi o crescimento, qual a situação atual. Para
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complementar, e adicionar um tom emocional ao livro, poderia ter um relato dos sócios, ou um
agradecimento a todos os envolvidos nesses 20 anos. Aliada às informações que o texto
passa, como forma de mesclar o conteúdo, deveriam ser utilizadas imagens que associassem
as características visuais relacionadas à marca e seu posicionamento. Quanto à estética, a
designer percebeu que poderia fazer uso de elementos, como as texturas dos materiais, e
estampas que são utilizados na produção dos calçados. Além disso, poderia contar com o
auxílio de variadas cores, e com um visual moderno (como os calçados da Barth) – isso sem
deixar de lado as características artesanais (referentes à produção dos calçados). Ainda foram
citados os elementos: flores, praia, e madeira. Os calçados e as marcas de cada época
também deveriam ser mostrados, como forma de resumir o visual de cada momento, e
também, para mostrar a evolução que ocorreu em cada momento da trajetória. Quanto ao
formato, se tradicional ou diferenciado, as respostas ficaram divididas.
A ETAPA DE CRIATIVIDADE
Após a coleta de dados, a designer partiu para a criação do projeto e das escolhas de
estilos, formatos, fontes, imagens, e diagramação. A análise de dados (diacrônica, sincrônica e
pesquisa com segmento-alvo da marca, sócios e fornecedores) mostrou caminhos que
permitiram o desenvolvimento criativo.
Com a análise diacrônica, a designer percebeu a importância de associar à marca ao
uso de texturas e de estampas. Além disso, “os materiais analisados mostraram um claro
cuidado com os detalhes, pensando em cada momento, através da sobreposição de elementos
que geraram volume, luz e sombra. “A estética apresentada pela Barth ao longo desses 20
anos não é minimalista: precisa usar muitos elementos juntos para para reforçar sua
identidade”, revela a designer.
A análise sincrônica mostrou algumas outras possibilidades, comenta a designer. As
concorrentes diretas da marca (Goofy e Lui Lui) apresentam elementos relacionados ao
surfwear, com um estilo de vida mais livre fora da cidade, sem rotina ou compromissos. A
Azaleia usa elementos gráficos hoje já ultrapassados, como a marca d’água (que talvez fosse
comum na época em que o livro dos seus 40 anos foi produzido), mas apresenta como ponto
positivo a contextualização do Brasil a partir dos anos 60. A Melissa, por sua vez, já mostra
uma estética muito mais clean em seu livro que registra o evento de 30 anos da marca, e o
conteúdo é sobre as instalações do evento que, por sua vez, mostravam sua trajetória. Já a
revista da Bottero usa muitos elementos juntos, o que a deixa poluída.
A pesquisa qualitativa, em suma, mostrou para ela que o caminho mais interessante a
seguir seria o que usasse texturas, estampas e elementos relacionados ao universo do
produto. Quanto ao texto do livro, que fosse leve e não caracterizasse uma leitura densa.
Conhecendo essas informações, a designer buscou mais algumas referências estéticas no blog
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próprio da Barth. Sendo o conteúdo adicionado principalmente por Daniella Pinheiro e Melissa
Lucchini, designers responsáveis pela criação dos calçados, os materiais vistos foram
considerados relevantes para construir a identidade do livro. Outra fonte de referências visuais
sobre o universo da marca foram as fotos registradas pela designer em visita à fábrica. Na
figura 6, quadro das referências retiradas do blog da Barth; na figura 7, fotos feitas na fábrica.
Figura 6 - Referências de imagens encontradas no blog da marca.
Fonte: A autora.
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Figura 7 - Fotografias feitas em visita à fábrica.
Fonte: A autora.
A designer revela que duas dessas imagens (figura 35) foram determinantes para
direcionar a criação: “a dos balões na beira da praia que, quando sobrepostos, adquiriam um
efeito interessante de transparência; e uma cópia dos rafes manuais da estilista, que usavam
canetas hidrocores de vários tipos para fazer a pintura. Para mim, essas duas imagens
sintetizam muito do que as pesquisas mostraram”, revela a profissional de design.
Figura 8 – Imagens determinantes para definir a linha criativa.
Fonte: Blog da Barth Shoes.
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A partir de então, a designer afirma que ficaram duas linhas de pensamento definidas. O
conceito da imagem dos balões estaria ligado ao espírito surfwear: ir à praia, viajar com os
amigos,aproveitar a natureza, ver o pôr-do-sol na beira do mar. O conceito da imagem dos
rafes da estilista se relacionaria com a característica artesanal da produção dos calçados, o
“feito à mão” com carinho e cuidado. Sendo assim, a profissional de design elaborou a partir
destes conceitos algumas páginas para verificar a validade do conceito, junto aos recursos
gráficos. O resultado está apresentado na figura 9.
Figura 9 - Possibilidades da linha inspirada nos balões.
Fonte: A autora.
“Nesta opção, os elementos seriam usados de forma simplificada e sutil, buscando
páginas limpas. O elemento fundamental nesse caso é o círculo utilizado em quantidade, com
cores variadas, sobrepostos com efeitos de transparência. As cores utilizadas foram
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diretamente inspiradas na figura de referência. As sensações que deveriam ser passadas eram:
tranquilidade, férias, descanso e diversão”, conta a designer.
Já o conceito relacionado aos rafes da estilista se relacionaria com a característica
artesanal da produção dos calçados, o “feito à mão” com carinho e cuidado, principalmente nos
detalhes, revela a profissional. Então, assim como na situação anterior, ela elaborou algumas
páginas para verificar a validade desse conceito, junto aos recursos gráficos que poderiam
estar disponíveis (figura 10).
Figura 10 - Possibilidades da linha inspirada nos rafes da estilista.
Fonte: A autora.
Neste segundo caminho, a designer percebeu um uso mais denso de elementos, pois
utilizou texturas como madeiras e papéis para compor os quadros que contariam a história.
“Busquei alguma referência no estilo scrapbook, mas trabalhei os elementos de maneira que
se tornassem atemporal, que não tivesse uma ligação tão direta com o estilo. A beira da praia
estaria ligada diretamente ao universo surfwear, sendo o numeral escrito na areia e a faixa de
tecido complementos para a necessidade de mostrar texturas e recursos visuais que
mostrassem variações de camadas, luz e sombra. A parede de madeira com quadrinhos
pendurados teria a função de trazer uma sensação de aconchego e, portanto, de sentir-se
confortável – sensações que a produção artesanal passa”, explica a profissional de design. A
partir dessas primeiras páginas, ela desenvolveu alguns rafes manuais que buscavam outras
maneiras de explorar as texturas dos materiais dos calçados, assim como a riqueza de
detalhes representadas nos próprios sapatos, a fim de comprovar realmente a viabilidade da
ideia, como mostra a figura 11.
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Figura 11 - Rafes das possibilidades da linha inspirada nos desenhos da estilista.
Fonte: A autora.
Assim, essa segunda linha foi considerada pela designer como a mais adequada às
definições que surgiram a partir da análise de dados, por possuir maior possibilidade de variar
os recursos de apresentação. “Ela se mostrou mais rica visualmente, e mais de acordo com os
caminhos visuais que a Barth vinha apresentando ao longo das coleções e das campanhas”,
afirma a profissional. Após essa conclusão, ela fez mais rafes manuais até que a ideia que
pretendia passar estivesse mais definida.
Com esses rafes em mãos, a designer teve certeza da viabilidade da produção das
páginas a partir desse conceito, e que esse era o mais adequado para ilustrar os 20 anos da
Barth Shoes. Por isso, ela construiu um espelho (figura 12), para melhor entender como o livro
se comportaria ao longo de suas páginas.
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Figura 12 - Espelho.
Fonte: A autora.
Segundo a designer, o conceito principal retratado nesse espelho foi a importância que
uma parede e um porta-retrato com foto ganham quando expostos juntos por alguém. “Eles
adquirem um valor muito maior do que se fossem expostos individualmente. Uma parede é só
uma parede, se não for usada com outro intuito além do de dividir as peças de um ambiente.
Da mesma forma, um porta-retrato é apenas uma “moldurinha” quando vazio” destaca a
designer. Porém, a profissional de design acredita que com o simples ato de colocar uma foto
em um porta-retrato e de pendurar o conjunto formado em uma parede, o que antes era sem
importância recebe um imenso valor. “As pessoas só expõem em sua casa as fotos que
consideram especiais, retratos de momentos que marcaram uma fase ou época, e que não se
quer esquecer. Esses momentos não precisam ser apenas aqueles que envolvem cerimônias e
grandes preparações (casamentos e formaturas, por exemplo), também podem ser de um dia
qualquer, porém com pessoas de quem se gosta, e se quer sempre lembrar”, justifica e
defende a profissional.
Lembranças é o conteúdo do livro. Um livro comemorativo de 20 anos de uma empresa
de calçados relembra situações que marcaram o seu desenvolvimento, e que permitiram que
ela crescesse. “No livro da Barth, eu queria mostrar os momentos importantes para a empresa
e que, por representarem uma mudança, receberam novas marcas. Então, os dividi em quatro
fases referentes aos anos dos acontecimentos marcantes, para formar os capítulos: 1991,
1998, 2003 e 2008”, conta a designer.
As imagens desses momentos apareceram inseridas em molduras preferencialmente
com aparência dos materiais utilizados na produção dos calçados (madeira, cortiça, corda,
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principalmente), mas também soltas, conforme revela a designer. Ela ainda comenta que, neste
segundo caso, as fotos sempre receberam algum frame diferenciado: bordas de fotos antigas,
bordas brancas, marcações de fotos tipo polaroide, cantoneiras, entre outros elementos. Essas
diferentes maneiras de apresentá-las trouxeram maior dinâmica ao livro, que, assim, fez uso de
diferentes recursos de exposição. Além disso, para remeter a característica artesanal dos
calçados e o cuidado nos detalhes, foram usados elementos decorativos: laços, botões,
flores, conchas da praia, estrela-do-mar, fitas adesivas, entre outros.
Entretanto, apesar dessa mobilidade, o miolo do livro seguiu um padrão. As fotos com
molduras penduradas nas paredes aparecem apenas no fim de cada capítulo. Para as outras
páginas de imagem (que aparecem intercaladas com páginas de texto), usou-se o recurso dos
frames, buscando maneiras diferenciadas de apresentá-las em cada parte do livro.
O índice do livro se relaciona diretamente com as aberturas de capítulo, quando se
aproveita dos mesmos elementos: ilustração do calçado referente à fase do capítulo (inspirada
nos rafes da estilista), cores e elementos decorativos. Por fim, o fechamento do sentido do
livro, foi feito com o uso dos mesmos elementos utilizados nas páginas do início, na página de
encerramento. Quanto ao formato do miolo, ficou previamente decidido que não seria de
grandes proporções, nem teria faca especial. Sua forma seria um retângulo com base
levemente maior do que a altura, porque se considerou essa uma forma mais confortável,
aconchegante e familiar (assim como os porta-retratos e paredes da nossa casa). Sensações
também passadas pela característica artesanal da produção dos calçados. Porém, outra
decisão foi tomada ao mesmo tempo: a capa deveria ser diferenciada o suficiente para gerar
interesse pelo livro, e valorizar o cuidado nos detalhes. Ou seja, “as pessoas que o receberão
(fornecedores, representantes e outros parceiros) deverão folheá-lo, e não apenas recebê-lo
para deixar em cima de uma estante, junto a tantos outros produtos sem diferencial estético,
sem importância”, a designer explica.
ESTUDOS DE CAPA
A designer ao estabelecer que o livro teria um formato pequeno, buscou soluções para
valorizá-lo não pela imponência do tamanho, mas pelo diferencial da capa. A capa que
representa o conceito do projeto, segundo a designer, conta com o auxílio de uma embalagem
especial que remete a uma moldura por causa de sua forma. Essa embalagem, assim como o
livro e sua capa, também é retangular com a base levemente maior do que a altura, contando
com janela para visualização do livro contido e alça para o transporte, “ou para pendurá-lo
como um quadro em uma parede, remetendo por esses aspectos ao universo lúdico, além de
reforçar o conceito”, destaca a designer. Na figura 13, rafes da embalagem do livro.
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Figura 13 - Rafes da embalagem.
Fonte: A autora.
Com a definição de que a embalagem faz parte do projeto, a designer partiu para o
desenvolvimento do leiaute da capa do livro, assim como da lombada e da contracapa.
Sabendo que, quando o livro está dentro da caixa, a capa perde alguns centímetros da
visualização por causa da moldura, ela buscou destacar o centro do espaço visualizável pela
janela. Assim, iniciou-se o processo de rafeamento digital.
O primeiro passo foi testar quais fontes poderiam ser utilizadas na linha de apoio, para
formar junto com a marca na versão em contorno, o lettering referente ao nome do livro. Foi
testada a sem-serifa Frutiger (mesma definida para o miolo) e a manuscrita Hand of Sean
(também utilizada em alguns detalhes de textos inseridos nas imagens que compõem as
páginas). Na figura 14, teste do lettering para capa.
Figura 14 - Testes do lettering para capa.
Fonte: A autora.
Dentre as duas opções destacadas, a designer escolheu a opção dois para uso na capa
do livro. A marca da Barth em sua versão com contorno, junto à linha de apoio com a fonte
Hand of Sean, forma uma relação de pesos considerada por ela adequada. A segunda opção
foi escolhida por causa de sua característica manuscrita, que remete à característica da
produção artesanal dos calçados, e a um público mais jovem, como o consumidor final da
marca.
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Figura 15 - Lettering escolhido para a capa.
Fonte: A autora.
A designer percebeu que essa fonte passa uma sensação de conforto e aconchego,
sensações presentes nas fotos que marcam de alguma forma os bons momentos das pessoas.
Em sua opinião, a opção um se mostra muito séria em relação ao conceito que guia o projeto.
“Não tem emoção”, destaca a designer e, por isso, foi descartada para uso na capa, sendo
utilizada apenas no miolo como será visto na sequência.
Com o principal elemento da capa definido, ela passou para a escolha de cores e demais
elementos gráficos que participaram da composição. Primeiramente, realizou um teste de cor
com base naquelas que ela havia escolhido para paleta cromática do miolo, levando em
consideração o contraste com a cor preta (presente no lettering já decidido) e possível cor da
embalagem.
Figura 16 - Testes de cor.
Fonte: A autora.
Analisando as cores testadas, a designer notou que a cor rosa era mais adequada,
porque esse tom, além de fornecer um bom contraste, remete diretamente ao público feminino,
comprador de calçados Barth.
O próximo passo foi testar quais recursos e técnicas poderiam ser adicionados aos
elementos já definidos anteriormente. Então ela fez um teste com fundo de cor chapada e
fundo com estampa de palavras (20 anos) em duas situações: fundo de cor chapada, e fundo
com uma leve variação do tom rosa (figura 17).
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Figura 17 - De cima para baixo: cor chapada; estampa de palavras com fundo chapado; estampa de
palavras com variação de tom no fundo.
Fonte: A autora.
Dentre estas, a profissional de design escolheu a opção fundo com estampa de palavras e
fundo com variação tonal. Com alguns ajustes de proporções, ela chegou ao resultado final da
capa.
Figura 18 - Capa, solução final.
Fonte: A autora.
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Segundo a designer, a lombada foi considerada um elemento importante e decisivo para
o projeto, porque é a primeira visão que se tem ao abrir a embalagem. Para resolver a questão
da abertura da caixa ser pelo lado direito e a lombada do livro ser no lado esquerdo, ela optou
por uma capa com lombada dupla, que é formada por uma dobra, que se sobrepõe a
contracapa. Assim, ela aplicou a capa já definida e partiu para estudos de lombada e
contracapa. Para lombada, escolheu trabalhar com tons de rosa, branco e preto (como na
capa).
Figura 19 - Lombada, solução final.
Fonte: A autora.
A designer ainda conta que para contracapa e para dobra foi necessário decidir a melhor
maneira de complementar as decisões tomadas.
Figura 20 - Capa e lombada, solução final.
Fonte: A autora.
Para um estudo, ela considerou o uso dos mesmos elementos do fundo da capa, e a cor
preta chapada.
Figura 21 - Estudos de contracapa e dobra.
Fonte: A autora.
A partir deles, a profissional de design concluiu que a melhor opção era a em cor preta,
porque melhor complementava o detalhe na mesma cor na lombada, e também, porque ao se
abrir o livro, e posicionar a dobra sobre o verso da capa, o contraste obtido é melhor em
relação às páginas do miolo.
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Figura 22 - Simulação do livro com as definições finais. Em um, vista pelo lado da lombada esquerda,
tradicional. Em dois, vista pelo lado da lombada direita, formada pela dobra. Em três, vista com a dobra
aberta.
Fonte: A autora.
Para a embalagem, a designer definiu uma caixa preta, com uma janela para
visualização do conteúdo, e alça.
Figura 23 - Embalagem e livro em três momentos: embalagem fechada; embalagem aberta com
visualização da lombada; e livro sendo tirado da embalagem.
Fonte: A autora.
Após esta etapa, partiu-se para a definição dos grids, das cores e da tipografia que
formaram o miolo do livro.
ESTUDO DE GRID, CORES E TIPOGRAFIA
Após observar o espelho desenvolvido, ela entendeu como mais eficaz para adequação
ao conceito do projeto, o uso de mais de um tipo de estrutura. Isso porque ficou bem clara a
identificação de duas zonas diferentes de trabalho: as zonas de imagem e as zonas de texto.
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Com o espelho para auxiliar na questão de quais elementos precisariam ser coloridos,
iniciou-se a definição da paleta de cores. Os tons a serem utilizados foram definidos a partir de
dois momentos: no primeiro foram usadas fotos da fábrica para buscar matizes existentes no
dia a dia da marca; no segundo, calibrou-se de maneira que o brilho e a saturação agregassem
maior unidade ao projeto.
Figura 24 – Processo de escolha da paleta de cores.
Fonte: A autora.
Conforme a profissional de design, o resultado do processo foi uma paleta de cores
bastante rica, com uso de tons mais claros ou escuros. Além disso, foram adicionadas cores
como beges e marrons (presentes nas texturas usadas – madeira, cortiça, corda), para
harmonizar todas as outras quinze cores, e garantir a unidade tonal do projeto.
Quanto à fonte, a designer defendeu a necessidade de ser escolhida uma fonte sem
serifa, “para não disputar a atenção com os tantos outros elementos do livro”, destaca. Além
disso, ela complementa que foi uma maneira de gerar um espaço de descanso para os olhos, e
tornar a leitura mais agradável, menos cansativa. Com essa definição em mente, ela procurou
uma fonte que fosse adequada.
Devido à quantidade de fontes existentes atualmente, ela buscou a solução na seleção
de tipos básicos propostos por Pereira (2004). “O autor compõe esse grupo usando tipos
clássicos e famosos, mesclados com outros menos consagrados”, explica a designer. Sua
sugestão para tipos básicos: Trajan, Bembo, Garamond, Caslon, Bodoni, Memphis Palatino,
Franklin Gothic, Futura, Times New Roman, Optima, Helvetica, Frutiger e Lucida Sans. Dessas,
a designer excluiu aquelas que apresentavam serifas, restando para testes: Franklin Gothic,
Futura, Helvetica, Frutiger e Lucida Sans. A designer também considerou a fonte de apoio que
consta no manual da marca: a Dax.
Outro motivo para analisar essas já citadas, a designer explica, foi porque em geral são
fontes completas em relação à quantidade de caracteres; e possuem mais de uma versão:
Light, Regular, Medium, Bold, Heavy e Black – com itálicas e condensadas. “Esse fator foi
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considerado bem importante para um projeto editorial: ter inúmeras possibilidades de explorar
os textos”, afirma a designer.
Após essa pré-seleção, ela partiu para uma análise mais específica, analisando a forma
própria da composição do tipo. As primeiras a serem descartadas foram: Dax, Lucida Sans e
Futura, pois “são fontes com muita personalidade, e, portanto, as chances de chamarem mais
atenção por seu desenho individual, e não por comporem o projeto como o todo, são maiores”,
confessa a designer. Então, a partir das restantes (Helvetica, Franklin Gothic e Frutiger) ela fez
uma análise mais específica, levando em consideração características de sua anatomia,
apoiada por Rocha (2004). As três opções apresentam como características comuns os
vértices retos. “A Helvetica passou a percepção de ser muito geométrica para o projeto, por
causa de suas terminações paralelas, ângulos retos, vértices retos e pingos quadrados, e
também porque a largura das hastes, braços e outras partes são sempre constantes”, aponta a
designer. A Franklin Gothic foi considerada pela designer muito pesada por causa das
características: “apresenta terminações inclinadas, com ângulos e larguras diferentes e
diagonais, não sendo a largura de suas partes fixas; os pingos são retangulares horizontais”. A
Frutiger, segundo a designer, “passa a sensação de maior delicadeza. Os traços são mais
sutis, com terminações em pequenas angulações, arcos abertos, caudas com terminações em
curva, acentos mais sutis, e pingos retangulares verticais.” Sendo assim, a designer, embasada
em Perrota (2005), optou pela Frutiger, de Adrian Frutiger. Após mais alguns testes para decidir
qual a versão seria mais adequada, ela decidiu pelo uso da Frutiger Light, por causa de sua
capacidade de proporcionar mais “respiro” nas páginas. A figura 25 ilustra o uso da fonte
escolhida nas páginas de texto.
Figura 25 - Uso da Frutiger Light nas páginas de texto do projeto.
Fonte: A autora.
Para organização das informações, a designer escolheu dois tipos de grids: um
retangular para organização das imagens, e um de três colunas (com uso de apenas duas)
para as páginas de texto. Entretanto, esses gris não aparecem de forma rígida no livro,
aparecendo algumas vezes variações destes. Na figura 26, a estrutura básica.
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Figura 26 – Grid retangular e grid de três colunas.
Fonte: A autora.
PROCESSO DE DIAGRAMAÇÃO
Após todas essas definições de projeto, a designer iniciou o processo de diagramação
do livro. Sobre a capa, ela comenta: “para o lettering da capa, optei pelo uso da marca Barth
em contorno com uma linha de apoio em fonte manuscrita, por remeter a produção artesanal e
ao público jovem, assim como ao conforto e ao aconchego. A cor rosa foi escolhida por remeter
ao público feminino, e o formato por ser mais confortável e aconchegante. A textura dos 20
anos no fundo e a variação de tom demonstram o cuidado em todos os detalhes: para Barth
sempre tem mais algum detalhe que ainda não foi encontrado. Para concluir a capa, foi
adicionada uma moldura preta para remeter a lembranças, além de fornecer contraste e
complementar a marca”. Entretanto, a designer ainda se deparou com outro problema: “como a
abertura da embalagem é pela direita, e a lombada no livro fica na esquerda, optei pela
lombada dupla, para valorizar o livro no momento de tirá-lo da caixa”. Na figura 27, resultado
final da capa; na figura 28, da lombada; na figura 29, visão geral dos elementos da capa.
Figura 27 - Resultado do processo de diagramação da capa.
Fonte: A autora.
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Figura 28 - Resultado do processo de diagramação da lombada.
Fonte: A autora.
Figura 29 - Visão geral dos elementos escolhidos para capa, lombada, contracapa e dobra da capa.
Fonte: A autora.
O miolo se apresentou com texturas, cores e muitos elementos. A designer comenta: “O
livro começa contando como os sócios se conheceram: eram amigos, surfavam juntos e hoje
são sócios nesse negócio. O texto foi escrito à mão e escaneado para remeter mais ao
conceito de aconchego, conforto, uma proximidade com quem está lendo, além de contribuir
para a produção artesanal, conceito também que eu desejava ilustrar. As figuras 30 e 31
mostram a abertura do livro.
Figura 30 - Resultado do processo de diagramação da primeira página de agradecimento dos sócios.
Fonte: A autora.
Figura 31 - Resultado do processo de diagramação da segunda página de agradecimento dos sócios.
Fonte: A autora.
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Essas mesmas características se repetiram na carta de agradecimento dos sócios, que
trouxeram as ilustrações inseridas em molduras tipo polaróide e as marcas antigas, remetendo
também aos conceitos (figura 32).
Figura 32 - Resultado do processo de diagramação da terceira página de agradecimento dos sócios.
Fonte: A autora.
A página de introdução explica o porquê do livro. “Traz o 20 escrito e marcado na areia,
que se relaciona diretamente ao surfwear e aos 20 anos da Barth”, explica a designer. O
resultado pode ser conferido na figura 33.
Figura 33 - Resultado do processo de diagramação da página dupla de introdução.
Fonte: A autora.
As páginas de apresentação e norteadores estratégicos trazem paredes e molduras de
madeira, remetendo ao rústico. A moldura de apresentação traz pranchas coloridas e a areia
(figura 34). Os norteadores estratégicos estão dispostos em molduras para que sejam
eternizados (figura 35).
Figura 34 - Resultado do processo de diagramação da página dupla de introdução.
Fonte: A autora.
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Figura 35 - Resultado do processo de diagramação da página dupla de norteadores estratégicos.
Fonte: A autora.
O índice dividiu o livro em quatro partes, assim como foi anteriormente identificado na
análise diacrônica. “Trouxe ilustrações dos calçados inspirados nos rafes da estilista,
remetendo à produção artesanal e ao cuidados nos detalhes, assim como a características
scrapbook”, comenta a designer. O resultado pode ser visto na figura 36.
Figura 36 - Resultado do processo de diagramação do índice do livro.
Fonte: A autora.
As ilustrações apareceram também nas aberturas dos capítulos, junto à marca e ao ano
correspondente. “Na página da esquerda, optei por trabalhar com uma textura característica
dos calçados da época”, explica a designer. Abertura do capítulo de 1991, na figura 37.
Figura 37 - Resultado do processo de diagramação da abertura do capítulo referente a 1991.
Fonte: A autora.
As páginas de texto sempre apareceram acompanhadas de página de imagem. “Essa
página de imagem tem fundo colorido chapado e traz fotos com molduras e outros elementos
decorativos. As páginas de texto funcionam nas duas colunas previamente definidas, com
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alinhamento do texto pela esquerda e alinhamento pelo topo, buscando sempre que possível
uma boa diferença na altura das colunas, gerando um desalinhamento proposital”, revela a
designer. Na figura 38, exemplo dessa situação.
Figura 38 - Resultado do processo de diagramação das páginas do primeiro capítulo: primeira página
dupla.
Fonte: A autora.
No final de cada capítulo tem uma página dupla de imagens com fotos da época em
quadros pendurados em paredes. Entretanto, o capítulo de 2003 tem uma dobra-janela que
revela outras fotos: “essa quebra no ritmo da publicação é para marcar a mudança de
posicionamento que a marca passou nessa época”, justifica a designer”. Nas figuras 39 e 40,
imagens do capítulo de 2003.
Figura 39 - Resultado do processo de diagramação da página dupla de imagens que, no caso, se abrem
em uma dobra-janela.
Fonte: A autora.
Figura 40 - Resultado do processo de diagramação do que é revelado, quando aberta a dobra-janela.
Fonte: A autora.
Para encerrar o livro, foram utilizados os mesmos elementos das páginas de introdução.
“O livro precisava de uma página de encerramento, ao contrário, ele não faria tanto sentido,
não terminaria “redondinho”, como gosto de falar. Foi então que imediatamente pensei em usar
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os elementos das páginas iniciais, para resolver esse problema: eles auxiliariam a fechar o
sentido daquela historinha escrita a mão no início”, a designer justifica. Na figura 41, o
resultado.
Figura 41 - Resultado do processo de diagramação das páginas de encerramento do livro.
Fonte: A autora
MATERIAIS E TECNOLOGIA
Para a produção do livro, a designer escolheu trabalhar com materiais que valorizassem
o projeto gráfico desenvolvido. Para o miolo, escolheu o couché fosco, com gramatura de
170g/m², porque “é um papel de alta alvura, capaz de receber uma boa impressão e mostrar os
detalhes gráficos do projeto em uma relação custo-benefício alta” revela a designer.
Para imprimir o projeto, a escolha foi a impressão offset. Os acabamentos diferenciados
ficaram por conta de uma página do miolo especial, com duas abas, uma para cada lado, o que
caracteriza uma dobra-janela. Com o objetivo de evitar o desgaste do produto final, todas as
páginas receberam Prolan fosco, já que o livro trabalha com muitas cores, conforme a
designer. A encadernação será em capa-dura, com lombada quadrada e dobra. Para a
embalagem foi escolhido o papel cartão 400g/m², sendo a janela de acetato, e a alça de fita.
EXPERIMENTAÇÃO E MODELO
Nesta etapa do projeto, após a definição do leiaute das páginas já apresentadas, a
designer realizou provas digitais em uma gráfica expressa para revisão final, onde cores, textos
e imagens foram analisados. Devido aos materiais e tecnologias disponíveis para pronta
entrega, o “boneco” não foi construído com os materiais considerados ideais para o projeto,
escolhidos anteriormente. Apesar disso o resultado foi considerado satisfatório. A embalagem
foi construída com papel cartão e a janela feita com lâminas transparentes para retroprojetor. A
alça foi feita a partir de uma fita mimosa com largura aproximada de 5mm. A colagem foi feita
com cola spray e fita dupla-face. Na figura 41, imagens do boneco.
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Figura 41 - Boneco utilizado na etapa verificativa – capa e embalagem.
Fonte: A autora.
VERIFICAÇÃO
Nesta etapa, a designer explica que foram feitas verificações para o projeto
desenvolvido, como forma de detectar possíveis erros ou falhas no que foi criado ou, então,
para verificar frente ao público a aceitabilidade da proposta. Para isso, ela criou um protótipo do
livro e da embalagem: “só assim os entrevistados teriam as reais dimensões e sensações do
projeto”, explica a designer. Foram avaliadas questões como conteúdo do livro, bem como a
divisão dos seus capítulos; os conceitos transmitidos pela proposta gráfica; a embalagem; a
capa; as dobras; entre outros.
O principal objetivo da pesquisa foi verificar se o livro passa os conceitos e o conteúdo a
que se propõe. Vinte pessoas (sócios, fornecedores, lojistas e consumidores finais)
responderam a 22 questões relacionadas ao projeto gráfico editorial desenvolvido ao longo
desse trabalho.
Além de observar o nível de envolvimento dos entrevistados com a marca, a designer
apresentou um trecho da defesa do conceito do livro: a parte em que fala que uma parede é só
uma parede até que se pendure um quadro nela, assim como um porta-retrato vazio também
não tem significado. O pensamento conclui que, quando unidos (parede, porta-retrato e foto
especial) o conjunto atinge um significado totalmente diferente. Todos os entrevistados
concordaram com essa linha de raciocínio e associaram os elementos utilizados na construção
do livro a lembranças, o que mostra que o objetivo foi alcançado. Quando questionados se
associavam os elementos gráficos a lembranças, todos responderam que sim.
Outra questão foi se, de fato, o livro parecia pertencer à marca Barth. Todos
concordaram que sim, que esse livro, objeto da pesquisa, realmente se relacionava com a
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marca por causa de suas escolhas gráficas.
As respostas foram variadas, em relação ao que chamou atenção na leitura. Essa
variação pode ser justificada pelo fato de que nem todos os entrevistados de fato leram o livro.
Ela percebeu por meio de observação que aqueles que leram o livro comentaram sobre como a
empresa e os calçados evoluíram nesses 20 anos. Os que passaram os “olhos por cima”,
comentaram sobre as cores e as imagens, principalmente. Sobre as principais características
ou sensações que o livro é capaz de transmitir, várias foram citadas: curiosidade, interesse,
beleza, organização, evolução, feminilidade, sofisticação, clima de praia, conforto, férias,
saudades do passado, conforto, aconchego, nostalgia. A sensação de sentir-se em casa, de
estar confortável e aconchegado também foi comentada, assim como a relação com a
linguagem scrapbook.
Todos os entrevistados concordaram que a história foi transmitida de forma leve, muito
em parte por causa do auxílio das imagens em passar a mensagem, concluindo-se que elas
foram fundamentais para o entendimento. A divisão dos capítulos foi considerada adequada por
todos os entrevistados. Quando foi solicitado para atribuírem notas de um a dez para leveza do
conteúdo.
Outro aspecto que os entrevistados concordaram foi em relação ao uso e percepção do
conceito surfwear no livro: todos disseram que o livro remete a esse universo. Elementos
citados que provavelmente contribuíram para essa percepção foram: a beira da praia, as
pranchas e as conchas. Quanto às notas atribuídas, sendo um a mínima e dez a máxima para
o uso e percepção desse conceito no livro. A grande maioria dos entrevistados respondeu dez
para essa questão. Sobre a impressão geral do projeto, a grande maioria dos entrevistados
elogiou o projeto, alguns dizendo que gostariam de uma cópia do livro para si. Como pontos
positivos do projeto, foram citados: formato diferenciado, elementos visuais que compõem a
imagem, a linguagem scrapbook adaptada para ser atemporal, as cores do livro, o conteúdo do
produto, a diagramação, o posicionamento da marca bem representado no projeto.
Como aspecto negativo, apareceu sobre a fragilidade do modelo – que também pode ser
observada quando as pessoas que ainda não conheciam o projeto tinham o primeiro contato.
Observando os entrevistados interagirem com o livro, percebeu-se certa dificuldade em
entender como o livro abria e como se devia folheá-lo. Então, a designer considerou necessária
a modificação na maneira de abrir a capa: “só assim esse problema se resolveria, eliminando o
aspecto causador da confusão e da dificuldade dos leitores ao abrir o livro, tornando-o mais
ergonômico.
Bom, finalmente era o momento de apresentar o projeto finalizado aos gestores. Marcelo
e Rodrigo se mostraram visivelmente satisfeitos com o livro. Após assistir a defesa do projeto
realizada pela designer, Marcelo comentou que, para ele, aquilo que mais chamou atenção foi
como o conceito foi objetivamente representado, e como ele se adéqua perfeitamente à história
da Barth, por ilustrações, fotos, e outros registros dos momentos.
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O gestor ainda destacou os detalhes visuais de todo o projeto gráfico: “são incríveis e
fixam a atenção”. Para ele, abrir a embalagem, pegar o livro, abrir a capa, descobrir suas
dobras: todo esse processo de acesso ao conteúdo foi um grande momento, que a cada
página aumentava a nostalgia. Sobre as sensações, ele, com os olhos cheios de lágrimas,
falou: “sem dúvidas, foi uma grande emoção ver o resultado final, já que eu não tinha nem ideia
de qual seria o resultado do trabalho”. Tamanha emoção se justificava pelo fato de o livro não
contar apenas a história de uma marca, mas também daquelas pessoas que a construíram
durante esses 20 anos, ou seja, a história de Marcelo com Rodrigo principalmente.
Sendo assim, a designer considerou o resultado do trabalho plenamente satisfatório,
indo de encontro a todos os aspectos que foram analisados e decididos na construção desse
conceito para o projeto. A designer ainda revela que “observá-lo desbravando os detalhes de
cada página e a surpresa com que o fazia foi determinante para comprovar a aceitação do
projeto”. Além disso, ela comenta sobre a promessa da implementação desse projeto para
março de 2011, quando os gestores entregarão em mãos a todos aqueles que ajudaram a
Barth nesses 20 anos de história.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO
1. Você considera adequado o processo criativo da designer? O que faria diferente? Justifique
sua resposta.
2. A partir do processo criativo a designer percebeu duas linhas criativas que poderia seguir para
criar o projeto, mas optou pela linha de número dois. Você concorda com a escolha? Buscaria
uma terceira opção? Por quê?
3. Para você, aquilo que foi defendido como conceito criativo aparece claramente no resultado
final do projeto? Justifique.
4. Você identifica nas cores e na tipografia escolhida o posicionamento da Barth? Tem mais
algum elemento que auxilia nessa percepção? Justifique.
5. O projeto do livro prevê uma capa diferenciada, além de uma embalagem. Você vê esses
componentes como elementos que agregaram valor ao projeto, ou pensa que poderiam ser
dispensados sem danos para o projeto? Justifique.
REFERÊNCIAS
BARTH SHOES. Disponível em: <http://www.barthshoes.com.br>. Acesso em: 04 abr. 2010.
BLOG DA EMPRESA BARTH SHOES, 2010. Disponível em: <http://barthshoes.blogspot.com/>.
Acesso em: 14 mar. 2010.
BONSIEPE, Gui. A tecnologia da tecnologia. São Paulo: Edgard Blücher, 1983.
GOOFY. Disponível em: <http://goofy.com.br/womencollection/>. Acesso em: 28 ago. 2010.
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LUI LUI. Disponível em: <http://www.luilui.com.br/>. Acesso em: 05 set. 2010.
MUNARI, Bruno. Das coisas nascem coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
PEREIRA, Aldemar A. Tipos: desenho e utilização de letras no projeto gráfico. Rio de Janeiro:
Quartet, 2004.
PERROTTA, Isabella. Tipos e grafias. Rio de Janeiro: Viana & Mosley, 2005.
ROCHA, Claudio. Projeto tipográfico: análise e produção de fontes digitais. São Paulo: Rosari,
2002.
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1 o desafio de criação de um projeto editorial para calçados