FQE0001 Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Tecnológicas – CCT Departamento de Química - DQM Físico-Química Experimental Exp. 04 Destilação Fracionada e Misturas Azeotrópicas 1. Introdução O ponto de ebulição normal de uma mistura binária líquida é a temperatura na qual a pressão de vapor total da mistura é igual a 1 atm. Ou seja, ao aquecer uma amostra de benzeno puro, sob pressão constante de 1 atm, ela começaria a ferver a 80,1 °C; se a amostra fosse de tolueno, ferveria a 110,6 °C. Uma mistura formada por benzeno e tolueno, portanto, ferve numa temperatura entre 80,1 °C e 110,6 °C, quando a pressão de vapor da mistura se iguala à pressão atmosférica, neste caso, 1 atm. Desta forma torna-se evidente que, para conhecer o comportamento de ebulição de uma mistura, é necessário conhecer como a pressão de vapor da mistura varia com sua composição. Segundo a Lei de Raoult, a pressão de vapor de um solvente é proporcional à sua fração molar em solução: . Soluções que obedecem a essa relação em qualquer faixa de concentração são chamadas de soluções ideais. Quando a solução é formada por uma mistura binária de dois líquidos voláteis, A e B, cada componente tem a pressão de vapor dada pela Lei de Raoult: e Por outro lado, a Lei de Dalton das pressões parciais afirma que a pressão total do vapor é a soma das pressões parciais: Pela expressão acima, nota-se que o vapor da mistura é mais rico no componente mais volátil (componente com maior pressão de vapor) que o líquido. Assim, na mistura benzeno / tolueno, espera-se que o vapor em equilíbrio com a mistura líquida seja mais rico em benzeno que o líquido. Com o aumento da temperatura, espera-se ainda, que a composição do vapor fique cada vez mais rica no componente com maior pressão de vapor. A representação da variação da composição das fases líquida e vapor com a temperatura numa mistura binária é chamada diagrama de temperatura – composição, e é apresentada na Figura 1. Figura 1: Diagrama de temperatura-composição de uma solução ideal. (Fig 6.14, cap6, Atkins8) De acordo com a Figura 1, quando um líquido com a composição a1 é aquecido, a ebulição se inicia ao atingir a temperatura T2. Neste ponto, o líquido tem a composição a2 FQE0001 Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Tecnológicas – CCT Departamento de Química - DQM Físico-Química Experimental Exp. 04 (igual a a1) e o vapor formado tem a composição a´2 (obtido pela linha de amarração). Quando este vapor é condensado, o líquido obtido tem a composição a3. Se este líquido for reaquecido, entrará em ebulição na temperatura T3, formando um vapor com a composição a´3 que, ao ser resfriado, resultará no líquido de composição a4, com composição muito próxima a 1, ou seja, o líquido A puro. O parágrafo acima é uma descrição do processo de destilação fracionada. Nesta técnica, ilustrada na Figura 2, o ciclo de ebulição e condensação é repetido sucessivamente, e é utilizada para separar misturas de líquidos voláteis (quando a diferença entre os pontos de ebulição dos componentes da mistura é menor que 80 °C). A mistura é aquecida e o vapor passa por uma coluna empacotada com material que tem alta área superficial. O vapor começa a condensar na parte inferior da coluna, mas conforme o aquecimento continua, o condensado (agora mais rico no componente mais volátil) evapora novamente e condensa um pouco mais acima na coluna. Desta maneira, o vapor que sobe a coluna fica progressivamente mais rico no componente com menor ponto de ebulição. Ao chegar ao condensador, o líquido condensado é praticamente puro. Figura 2: Esquema de montagem para destilação fracionada. Uma boa separação dos componentes de uma mistura através da destilação fracionada requer uma baixa velocidade de destilação, mantendo-se assim uma alta razão de refluxo. O objetivo principal das colunas de fracionamento eficientes é reduzir a proporção das frações intermediárias a um mínimo. Os fatores mais importantes que influenciam a separação de misturas em frações bem delineadas são: isolamento térmico, razão de refluxo, enchimento e tempo de destilação Quando misturas de dois líquidos têm comportamento muito afastado da idealidade, as curvas dos diagramas de temperatura – composição podem ter um aspecto semelhante ao apresentado na Figura 3. O ponto comum das duas curvas é chamado ponto azeotrópico e a composição correspondente, composição azeotrópica. O ponto azeotrópico pode ser de máximo ou de mínimo. Uma mistura de composição azeotrópica entra em ebulição como um composto puro, isto é, a temperatura mantém-se constante durante a mudança de estado. Quando a composição azeotrópica é atingida, a destilação não pode separar os dois líquidos, pois o condensado tem a mesma composição que o vapor azeótropo. Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Tecnológicas – CCT Departamento de Química - DQM Físico-Química Experimental FQE0001 Exp. 04 70 65 65 64,7 Vapor L L V V 60 56,4 55 50 61,2 60 55 Líquido 20 50 40 60 80 100 % fração molar de clorofórmio Figura 3: Diagrama temperatura-composição da mistura clorofórmio / acetona. 2. Objetivos Construir o diagrama líquido-vapor de uma mistura de acetona e clorofórmio determinando-se a composição do resíduo e do destilado obtidos por destilação fracionada. Utilizar um parâmetro que seja função da concentração, como é o caso do índice de refração, para determinar a composição de misturas binárias. 3. Procedimento Experimental 3.1 - Materiais utilizados Equipamento para destilação fracionada, conforme a Figura 2 10 tubos de ensaio com rolha Termômetro 2 pipetas graduadas de 2,0 mL 3 pipetas graduadas de 5,0 mL 2 provetas de 50 mL Refratômetro Algodão Acetona Clorofórmio 3.2 - Procedimento Monte o aparelho de destilação conforme mostra a Figura 2. Adicione 100 mL de acetona pura no balão e determine o seu ponto de ebulição (Tacetona). Deixe esfriar um pouco. Recolha 2 mL de destilado e guarde-os para determinar seu índice de refração. Adicione uma mistura de acetona e clorofórmio preparada segundo a Tabela 1. Aqueça o sistema até que a temperatura de ebulição se mantenha constante e anote Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Tecnológicas – CCT Departamento de Química - DQM Físico-Química Experimental FQE0001 Exp. 04 esta temperatura (T1). Rejeite os primeiros 2 mL destilados e recolha os próximos 2 mL em um tubo de ensaio com rolha. Na medida do possível, evite a evaporação durante a coleta. Repita o processo com todas as misturas da Tabela 1. Anote as respectivas temperaturas de ebulição das amostras (T2, T3, T4, T5 e T6). Determine o índice de refração das amostras de destilado. Coloque os dados na Tabela 2. Tabela 1: Quantidades de clorofórmio adicionada em cada amostra estudada, Amostra no. Clorofórmio (mL) Acetona (mL) 1 2 3 4 5 6 0 10 25 50 75 90 100 90 75 50 25 10 4. Discussão dos Resultados Determine a concentração (porcentagem de cada componente) de cada amostra, por meio de uma curva-padrão com os índices de refração de diferentes misturas de acetona e clorofórmio. Utilize a Tabela 2 para organizar seus resultados. Faça diagrama de Teb vs. percentagem molar de clorofórmio. Para cada temperatura há dois valores da percentagem molar, um para o líquido (mistura que não evaporou) e outro para o vapor (destilado), portanto é importante distingui-los com símbolos diferentes. Tabela 2: Porcentagem molar de clorofórmio no resíduo e no destilado. Amostra Teb Índice de refração Destilado % do clorofórmio Resíduo Destilado (Líquido) (Vapor) 1 2 3 4 5 6 7 5. Questões 1. No gráfico construído, indique o estado do sistema em cada uma de suas regiões. 2. Qual a percentagem do clorofórmio no ponto azeotrópico? 3. Quais os possíveis tipos de interações que levam um par de líquidos a formarem azeótropo de máximo? E de mínimo? FQE0001 Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Tecnológicas – CCT Departamento de Química - DQM Físico-Química Experimental Exp. 04 6. Referências Bibliográficas 1. Atkins, P; de Paula, J.; Físico-Química. Vols. 1-2. Nona Edição. Rio de Janeiro : LTC. 2012. 2. Rangel, R. N. Práticas de Físico-Química. 3ª ed. São Paulo : Edgard Blücher, 2006. 3. Atkins, P.; Jones, L.; Princípios de Química – Questionando a vida moderna e o meio ambiente. 3ª ed. Porto Alegre : Bookman, 2006. 4. Bastos, A. C. L. M.; Rodrigues, E. M. S.; de Souza, J. P. U.; Físico-Química Experimental. Belém : UFPA, 2011. Disponível em: http://www2.ufpa.br/quimdist/livros_bloco_6/livros2011/LIVRO%20FQ%20EXP.pdf, acessado em 06/08/2013.