PRÁTICAS ALIMENTARES DE PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO
II A PARTIR DO DIAGNÓSTICO
Adriane Lenice Genari Picinini1; Eliani Faust Frizon
RESUMO
Este trabalho consiste na apresentação dos resultados da pesquisa realizada na cidade de
Toledo-PR em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Europa/ América com um
grupo de diabéticos da localidade, o qual teve como objetivo principal analisar as práticas
alimentares de pacientes com diabetes mellitus tipo II, após receber o diagnóstico. Trata-se
de um estudo transversal de abordagem qualitativa, que utilizou como instrumento de
coleta de dados o formulário com perguntas abertas e fechadas no qual o próprio
pesquisador fez a coleta de dados individualmente. A amostra consistiu de 23 portadores
de Diabetes Mellitus tipo II (DMII), sendo 22 (95,65 %) do gênero feminino e 1 (4,34 %)
masculino. Os principais resultados obtidos mostram que 22 (95,65%) dos pesquisados
controlam a doença com medicamento e alimentação e 1 (4,35%)
somente com
alimentação. Quanto as informações alimentares recebidas pelos pesquisados 16 (69,57 %)
relatavam ser “Evitar doces, massas e gorduras”, 5 (21,74%) “Evitar açúcar, mel e melado,
1 (4,35 %) "Dieta equilibrada", e 1 (4,35 %) “Ingerir frutas, verduras, pão integral e
adoçante”, cabe salientar que nenhuma destas orientações foi realizada pelo profissional
nutricionista. Ao término do trabalho pode-se concluir que ainda hoje o tratamento do
diabético é realizado com ênfase para o medicamento em detrimento da dieta, sendo
evidente a necessidade de se inserir o profissional nutricionista no trabalho da UBS, o qual
tem melhores condições de fornecer dieta adequada e equilibrada ao indivíduo conforme
sua idade, sexo e estilo de vida, sendo esta necessária para melhorar
seus níveis
glicêmicos, retardar as complicações e melhorar a qualidade de vida
Palavras chaves: hiperglicemia, alimentação, nutricionista.
INTRODUÇÃO
1
Profissional liberal. Graduada em Nutrição. Rua Senhor dos Passos, 1527, Toledo/Pr. (045)277-3566.
[email protected]
O Diabetes mellitus tipo
II é uma doença crônica que apresenta como característica
principal a hiperglicemia, sendo um achado comum nestes pacientes o desenvolvimento de
dois fatores, que podem atuar de forma isolada ou combinada: 1) diminuição na secreção de
insulina devido ao defeito da células β das Ilhotas de Langerhans no pâncreas; e 2)
diminuição dos receptores de insulina devido ao excesso de peso.
Os sintomas mais comuns desta síndrome são a hiperglicemia, polidipsia, poliúria,
polifagia, emagrecimento e dores nos membros inferiores. As complicações podem ser
agudas ou crônicas estando entre elas o infarto agudo do miocárdio, problemas micro e
macrovasculares, nefropatias, perda da acuidade visual e retinopatia.
Como a prevalência da doença está a cada dia aumentando chegando a 7,6 % na população
adulta pressupõe que equipes multiprofissionais possam auxiliar os portadores de DM II no
controle dos níveis glicêmicos, retardando as complicações futuras. Por isso acreditamos
que o campo está aberto ao profissional nutricionista, o qual está habilitado a fornecer dieta
adequada e equilibrada individualmente. Priorizando sempre a melhora dos hábitos
alimentares e qualidade de vida.
No dia-a-dia torna-se constante a observação de diferentes práticas alimentares de
pacientes diabéticos, cada qual com sua própria dieta, elaborada por ele mesmo, segundo as
“orientações do médico”. Entre estas estão a exclusão de alimentos e preparações, e número
reduzido de refeições acarretando dificuldade no controle da glicemia e deficiência de
nutrientes.
As diferentes orientações nutricionais, geralmente não adequadas ao paciente, fazem com
que este não valorize a dieta, enfatizando, então, o uso de medicamento. Este fato contribui
para o aparecimento das complicações após algum tempo. Uma ingestão adequada e
individualizada, segundo o estilo de vida de cada um, de alimentos diversificados é capaz
de fornecer todos os nutrientes necessários ao organismo e juntamente com o uso de
medicamento mais exercício físico é possível fornecer qualidade de vida ao paciente
diabético.
OBJETIVOS
GERAL
•
Analisar as práticas alimentares de pacientes com Diabetes Mellitus tipo II,
após receber o diagnóstico.
ESPECÍFICOS
•
Identificar as diferentes práticas alimentares nos pacientes com Diabetes
Mellitus tipo II.
•
Evidenciar o uso de medicamento e alimentos para controlar a doença.
•
Conhecer as diferentes orientações nutricionais fornecidas aos pacientes
portadores de DM tipo II.
•
Identificar os profissionais que orientam os pacientes portadores de diabetes
e analisar suas condutas.
METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido em duas fases. Na primeira realizou-se uma pesquisa
bibliográfica através de consultas em livros científicos, artigos científicos publicados em
revistas e na internet para aprofundar o conhecimento sobre o tema.
No segundo momento foi realizada a pesquisa de campo com pessoas portadoras de
Diabetes Mellitus tipo II na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Jardim Europa – bairro
situado na periferia – da cidade de Toledo – Pr.
A pesquisa foi um estudo transversal qualitativo que através de entrevista individual
forneceu os dados sobre a patologia, as práticas alimentares, o tratamento e uso de
medicamentos. O estudo realizou-se no período dos meses de junho e julho de 2002,
durante o estágio supervisionado em Saúde Coletiva.
Os indivíduos entrevistados são, na totalidade, residentes do bairro Jardim Europa,
periferia do município de Toledo, sendo acompanhados pela UBS e participantes do grupo
de diabéticos e hipertensos da localidade.
O próprio pesquisador realizou a entrevista, na qual o formulário aplicado apresentava
perguntas abertas e fechadas. Após a tabulação dos dados, algumas perguntas foram
excluídas devido ao fato de não expressarem dados referentes aos objetivos do trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A população avaliada, 23 pacientes portadores de DM 2II, era constituída de 22 (95,65%)
indivíduos do gênero feminino e 1 (4,35%) masculino. A faixa etária, destes, ficou entre 35
a 75 anos. Quanto ao tempo do diagnóstico da doença no Gráfico nº 1 obteve-se que dos 23
pacientes: 1 (4,35%) sabia há menos de 1 ano, 5 (21,74%) entre 1 a 2 anos, 1 (4,35%) entre
2 a 4 anos, 6 (26,08) entre 4 a 6 anos, 4 (17,35%) entre 6 a 10 anos e 5 pacientes (21,74%)
sabiam há mais de 10 anos. Nenhum paciente relatou ser portador da doença desde a
infância. Com isso confirma-se que a população pesquisada foi de portadores de DM II.
Gráfico nº 1:Tempo do Diagnóstico da Doença
21,74%
8,70%
menos 1 ano
21,74%
1 a 2 anos
2 a 4 anos
4 a 6 anos
17,04%
4,35%
26,08%
6 a 10 anos
mais 10 anos
Segundo SHERWIN (1997), o Diabetes tipo II surge geralmente depois dos 40 anos de
idade, possui alta taxa de penetrância genética não relacionada aos genes HLA e está
associado com obesidade.
No que tange à prescrição medicamentosa logo após o diagnóstico, na população avaliada,
15 (65,22%) receberam medicamento e apenas 8 (34,78%) não receberam. Desta população
4 (26,66%) utilizavam a insulina, 2 (33,33%) glibenclamida e 9 (60%) não lembram do
medicamento utilizado no diagnóstico da doença.
Na atualidade, 22 (95,65%) pacientes controlam a doença com o uso de medicamento e
apenas 1 (4,65%) com alimentação. O Gráfico nº 2 mostra que destes 22 pacientes, 9
(40,9%) não lembram do medicamento que utilizam, 7 (31,82%) utilizam glibenclamida, 2
(9,09%) glibenclamida + insulina, 2 ( 9,09 %) insulina, 1 (4,54%) metformina +
clorpramida e 1 (4,54%) clorpramida. Somente um único caso utiliza a insulina desde o
diagnóstico da doença (+ de 10 anos). Verifica-se assim, que a grande parte da população
não sabe o nome do medicamento usado e se quer a indicação. Porém todos os
medicamentos encontrados e pesquisados indicam o uso adequado de uma dieta equilibrada
para obter resultados satisfatórios e melhor controle. Em relação a glibenclamida, utilizada
pela maioria, é prescrita para pacientes diabéticos tipo II com o objetivo de diminuir a
glicemia, mas necessita de controle periódico da glicose sangüínea e da urina. (DEF 99/00).
Gráfico nº 2: Medicamentos Utilizados Atualmente,
Segundo Informação dos Pacientes
4,54%
metformina+clorpramida
40,90%
31,82%
glibenclamida
glibenclamida+insulina
insulina
4,54%
9,09%
9,09%
clorpramida
não lembra
Em estudo de ASSUNÇÃO, SANTOS e COSTA (2002), que trabalhou com 377 pacientes
diabéticos, 77%(289) utilizavam algum tipo de medicamento no tratamento da doença, e
destes, 14% utilizavam insulina e 86 % algum tipo de hipoglicemiante oral. Além disso,
76% das pessoas entrevistadas receberam orientações dietéticas, porém apenas a metade
seguiu as recomendações.
Em nosso estudo, quando questionados quanto à forma de controle da glicemia, 21
(91,30%) pacientes relataram que controlam a doença com o uso de medicamento e
alimentação, 1 (4,35%) somente com alimentação e 1 (4,35%) somente com medicamento.
Entretanto 22 (95,65%) afirmaram terem recebido orientação dietética no início do
diagnóstico e apenas 1 (4,35%) relatou que não recebeu orientação dietética. Outra questão
importante é que 22 (95,65%) dos pacientes informaram que o clínico geral prescreveu a
orientação dietética e apenas 1 (4,65%) informou que a orientação foi do endocrinologista
(Gráfico nº 3). Esse fato demonstra que o médico ainda exerce funções que são atribuídas
ao nutricionista, acarretando sobrecarga de responsabilidade e muitas vezes prescrevendo
orientação não individualizada ou adequada ao paciente. Isso demonstra a importância do
profissional nutricionista na área clínica.
G r á f ic o n º 3 : P r o f is s io n a l R e s p o n s á v e l
p e la O r ie n t a ç ã o D ie t é t ic a
4 ,3 5 %
9 5 ,6 5 %
e n d o c r in o lo g is ta
c lín ic o
g e r a l
Em pesquisa de GUIMARÃES e TAKAYNAGUI realizada em 2002, evidenciou-se que o
profissional responsável pela orientação dietética e medicamentosa em 96,5% dos casos foi
o médico,
somente 3,4% um profissional da área de enfermagem e nenhum dos
pesquisados foi orientado pelo nutricionista. Com isso observa-se que o nutricionista não
está integrando as equipes de controle do diabetes.
Em outro estudo, ASSUNÇÃO, SANTOS e GIGANTE (2001), relataram que dos 61
médicos entrevistados, 85% relataram prescrever a dieta no início do diagnóstico. No
mesmo estudo, também foram entrevistados 378 pacientes com DM tipo II, sendo que 10%
afirmaram não estar fazendo nenhum tipo de tratamento, e 27% usaram apenas
medicamento para tratar a doença, o que aponta uma baixa adesão à dieta e ao exercício.
Em nosso estudo observou-se que entre as recomendações fornecidas por profissional da
saúde, 16 (69,57%) pacientes relataram que deviam “Evitar doces, massas e gorduras”, 5
(21,74%) “Evitar somente açúcar, mel e melado”, 1 (4,35%) “Dieta equilibrada” e, 1
(4,35%) “Ingerir frutas, verduras, pão integral e adoçante”.“
Segundo SHERWIN (1997) “para a maioria dos pacientes com diabetes tipo II, as
mudanças no estilo de vida constituem o aspecto básico do tratamento. A intervenção
farmacológica representa uma estratégia secundária no tratamento de indivíduos incapazes
de efetuar mudanças no seu estilo de vida”. No estudo de GUIMARÃES e
TAKAYANAGUI (2002), dos 29 indivíduos entrevistados, quanto às orientações
fornecidas no momento do diagnóstico, 17,2% receberam orientações quanto à dieta, ao
exercício físico e a medicação. Nesse mesmo estudo, destaca-se que 70% das orientações
iniciais constituíam da utilização medicamentosa, 27% referiam-se para a mudança no
plano alimentar antes de iniciar a medicação e 3,4% da amostra relataram não ter recebido
qualquer tipo de orientação.
Outra questão importante em nosso estudo relaciona-se ao número de refeições realizadas
durante o dia, o Gráfico nº 4, evidenciou que 9 (39,13%) pacientes realizavam até 4
refeições diárias e que 6 (26,10%) faziam 3 refeições. Os outros 8 (34,8%) pacientes
realizavam menos de 3 refeições diárias, ou seja, um número muito inferior ao
recomendado por MANNARINO (1999), que afirma ser o fracionamento mais indicado o
que varia entre 4 e 6 refeições, considerando que quanto maior esse número, mais
distribuída será a aquisição das calorias no decorrer do dia, o que teoricamente atenua
flutuações da glicemia. Os entrevistados acreditavam que com uma freqüência menor de
consumo alimentar conseguiriam diminuir o peso. Se verificarmos o número de refeições
realizadas pelos 4 pacientes dependentes de insulina tem-se: 2 pacientes (50%) realizavam
4 refeições, 1(25%) fazia apenas uma refeição e 1 (25%) realizava duas refeições. Esse
resultado demonstra que os pacientes necessitam de informação e esta, só será mais
adequada por meio da educação nutricional. Segundo FOSTER (1998), tanto os pacientes
dependentes de insulina como os usuários de hipoglicemiantes orais devem ser orientados
por nutricionista, que, distribuirá as calorias diárias em um número ideal de refeições.
Gráfico nº 4: Número de Refeições Diárias
Realizadas pelos Pacientes Entrevistados
34,80%
39,13%
até 4 refeições
3 refeições
menos de 3
refeições
26,10%
Em relação ao número de frutas ingeridas diariamente, o Gráfico nº 5, revela o consumo de
frutas destes pacientes: 11 (47,83%) comiam 1 fruta, 7 (30,43%) 2 frutas ao dia, 1 (4,35%)
ingeria 4 frutas, 2 (8,70%) consumiam 2 frutas, e 2 (8,70%) nunca consumiam frutas
diariamente. Ou seja, o consumo de frutas é menor que o recomendado pela pirâmide de
alimentos: 3 – 5 porções (PHILIPPI, S. T. e col, 1996). Geralmente em pacientes
diabéticos, é utilizado até 3 frutas, pois é necessário lembrar que esta possui frutose que é
um açúcar de rápida absorção e pode alterar os índices glicêmicos. Durante a entrevista
alguns pacientes relataram não ter condições financeiras para consumi-las. Observa-se
também que a ingestão de fibras, vitaminas e alguns minerais fica deficiente.
Gráfico nº 5: Consumo Diário de Frutas em
Pacientes Diabéticos
4,35%
8,70%
8,70%
47,83%
1 fruta
2 frutas
3 frutas
30,43%
4 frutas
nenhuma
Nas tabelas nº 1 e 2, estão representadas as preparações que o grupo avaliado costuma
ingerir tanto no horário de almoço como no jantar. Durante o almoço 12 (52,20%) dos
pacientes consumiam: arroz + feijão + carne + salada, porém o restante 11 (47,8%) tinham
outras preparações. No que tange ao horário do jantar 9 (39,13%) consumiam: arroz +
feijão + carne + salada, 6 (26,08%) ingeriam: arroz + feijão + carne + salada ou sopa, os
outros 8 pacientes (34,8%) tinham outras preparações.
Tabela nº 1: Características das Preparações Consumidas Durante o
Horário de Almoço dos Pacientes com DM II, da UBS Jardim
Europa.
Preparações
Freqüência
%
Arroz, feijão, carne e salada
Arroz, feijão, carne, salada e macarrão
Arroz, feijão, carne, macarrão e farofa
Arroz, feijão, carne, salada e ovos
Sopa e/ou salada
Arroz, feijão e carne
Feijão, carne
Arroz, carne, salada e pão
Arroz, carne e salada
Feijão, carne, salada e farofa
Arroz, carne e macarrão
Total
12
2
1
15
15
15
15
15
15
15
1
23
52,2
8,70
4,35
4,35
4,35
4,35
4,35
4,35
4,35
4,35
4,35
100
Tabela nº 2: Características das Preparações Consumidas durante o Horário
de Jantar dos Pacientes com DM II, da UBS Jardim Europa
Preparações
Arroz, feijão, carne e salada
Arroz, feijão, salada e/ou sopa
Sopa e/ou leite
Sopas
Arroz e feijão
Pão com leite
Mingau
Arroz, feijão, carne, salada e pão
Total
Freqüência
%
9
6
1
1
2
3
1
1
39,13
26,08
4,35
4,35
8,70
8,70
4,35
4,35
23
100
O consumo diário de feijão é realizado pela quase que totalidade dos sujeitos pesquisados,
esse alimento devido às fibras solúveis e proteínas vegetais permite melhorar os níveis de
glicose no sangue. As leguminosas são consideradas a melhor fonte de fibras para o
controle da glicemia e redução de colesterol (VIGGIANO, 2001, p. 49). Para ANDERSON
(1999) o feijão tem índices glicêmicos mais baixos do que qualquer outro grupo de
alimentos ricos em carboidratos, esta baixa taxa glicêmica está relacionada com sua alta
quantia de fibra solúvel e a forma de como é consumido. Verifica-se também que a carne é
constante tanto no almoço como no jantar, com isso tem-se uma contradição: o baixo
consumo de frutas e a carne como alimento principal da dieta. As frutas, principalmente da
época, são de fácil acesso e ricas em vitaminas, fibras e sais minerais. Por isso a
necessidade de mudanças nos hábitos alimentares através de informações.
Os pacientes ainda foram avaliados quanto ao uso de certos alimentos e a Tabela nº 3,
confirma que 4 (17,4%) pacientes usavam açúcar nas preparações, e 19 (82,61%) negaram
o uso. Dos 23 pacientes, 1 (4,65%) utilizava mel, melado ou açúcar mascavo e 22 (95,64%)
não utilizavam.
O adoçante foi utilizado pela maioria 19 (82,61%) e 4 (17,4%) relataram que o utilizavam
quando o orçamento doméstico permitia. “O adoçante torna-se importante no plano
dietético quando ele proporciona ao paciente um sabor doce, semelhante ao açúcar, sem
acréscimo de calorias. Para os pacientes com DM, esses adoçantes tornam-se uma boa
opção de consumo em substituição à sacarose” (CASTRO e FRANCO, 2002). No estudo
destes autores, dos 201 entrevistados, 176 (87,6%) disseram que gostam do adoçante
porque se acostumaram com seu uso, demonstrando assim, que o paciente pode mudar o
hábito de vida e se adaptar com uma nova situação.
Outro alimento ainda utilizado por 5 (21,74%) dos pacientes entrevistados era a banha de
porco, 18 (78,26%) deixaram de consumir após o diagnóstico. Estes pacientes informaram
que sempre utilizaram este tipo de gordura, porém deixaram de consumiu-la devido a
dislipidemias. A tabela também evidencia que todos os entrevistados, 23 (100%) não
ingeriam bebida alcóolica. Quanto ao uso de refrigerante 8 (34,78%) utilizavam e 15
(65,22%) negaram o uso. É importante ressaltar que este refrigerante não se trata o diet ou
light. Assim observa-se que ainda existem pacientes
que ingerem graus de açúcares
refinados. Mesmo com alguns alimentos restringidos (doces) verifica-se que o uso de
outros (refrigerantes) não demonstra uma mudança alimentar e sim, desinformação.
Tabela nº 3: Alimentos Consumidos por Pacientes Diabéticos na UBS Jardim Europa
Alimentos
Freqüência
%
Sim
Açúcar nas preparações
Mel, melado, açúcar mascavo e
geléias
Adoçante
Banha de porco
Bebida alcoólica
Refrigerante
Freqüência
Não
4
17,4
19
1
19
5
4,35
82,61
21,74
0
34,78
22
4
18
15
15
15
8
%
82,61
95,65
17,4
78,26
100,0
65,22
Outro dado importante é que alguns alimentos foram excluídos do dia-a-dia destes
pacientes. No Gráfico nº 6, dos 23 entrevistados, 7 (30,43%) não deixaram de comer
nenhum alimento, 6 (26,08%) excluíram os doces, 3 (13,04%) deixaram de consumir
banha/carne de porco e ovos. No grupo restante 7 (30,45%) relataram abster-se de
mandioca, beterraba, batata e outros alimentos.
Gráfico nº 6: Alimentos Excluídos da Dieta dos
Pacientes
nenhum
30,45%
30,43%
doces
13,04%
26,08%
banha/carne de
porco e ovos
outros
Através destes dados percebe-se que ainda existem muitos tabus, enfatizados por indivíduos
desinformados, e, informações errôneas quanto à alimentação deste grupo específico. Como
já citado o paciente diabético deve alimentar-se com uma alimentação saudável, e isto não
significa retirar da dieta alimentos, mas sim consumi-los de forma mais coerente e
equilibrada.
Outro fato importante relaciona-se ao fato de que o profissional nutricionista não está
presente na UBS, ficando grande parte da responsabilidade para o médico. Considerando
que a população avaliada faz parte de um grupo carente e que necessite de atendimento
gratuito, verifica-se que este profissional, como agente de mudanças, através de educação
nutricional, é importante e necessário no atendimento em saúde pública podendo gerar
mudanças e melhoria na qualidade de vida da população.
CONCLUSÃO
Mesmo com uma amostra limitada (23 pacientes) e sem a avaliação da renda salarial
percapita e da escolaridade, pode-se concluir que conforme achados descritos na literatura,
os melhores resultados no controle do diabetes são obtidos através do tratamento que
associa dieta, atividade física e sempre que necessário medicamento, podendo ser
antidiabéticos orais e/ou insulinoterapia.
No entanto, os resultados obtidos com a pesquisa mostram o uso quase totalitário 22 (95,65
%) dos pesquisados utilizando medicamentos tanto no momento do diagnóstico 15 (65,22
%), como também no decorrer do tratamento 22 (95,65 %) sendo que 7 (31,82%)
utilizavam glibenclamida, 2 (9,09%) glibenclamida + insulina, 2 (9,09%) insulina, 1
(4,54%) metformina + clorpramida e 1 (4,54%) clorpramida, e ainda 9 (40,9 %) não
lembram do medicamento utilizado. Por outro lado observa-se que as orientações
nutricionais em 22 (95,65%) dos casos e feita pelo clínico geral, e 1 (4,35 %) por
endocrinologista, acarretando em orientações gerais, sem o necessária quantificação e
adequação para cada indivíduo, ou seja, são orientações generalistas e em alguns casos
equivocadas a exemplo da exclusão de beterraba, mandioca, batata, etc. Com base nestes
dados fica claro que ainda hoje, o enfoque maior do tratamento é dado ao medicamento,
acarretando em baixa aderência a dieta e conseqüentemente maior dificuldade para o
controle da glicemia.
Considerando estes aspectos pode-se dizer que a formação de equipe multiprofissional na
qual o nutricionista deve estar inserido proporcionará ao paciente melhora no controle do
diabetes e garantia na qualidade de vida.
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