PAULO PEDRO COSTA NETO ABATE CLANDESTINO EM MONTES CLAROS: PREJUÍZOS FINANCEIROS E RISCOS À SAÚDE PÚBLICA Montes Claros 2009 PAULO PEDRO COSTA NETO ABATE CLANDESTINO EM MONTES CLAROS: PREJUÍZOS FINANCEIROS E RISCOS À SAÚDE PÚBLICA Trabalho apresentado para o cumprimento das atividades referentes ao curso de Especialização Lato sensu em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal Montes Claros 2009 SUMÁRIO 1. Introdução________________________________________________01 2. Competências para fiscalização_______________________________01 2.1Clandestinidade_________________________________________02 3. Prejuízos causados pelo abate cladestino_______________________04 3.1Prejuízos à Saúde Pública ________________________________04 3.1.1 Brucelose________________________________________05 3.1.2 Cisticercose Bovina________________________________07 3.1.3 Tuberculose______________________________________10 3.2Prejuízos Ambientais____________________________________14 3.3Prejuízos aos Trabalhadores______________________________15 3.4Prejuízos aos Pecuaristas________________________________18 3.5Prejuízos Financeiros aos Municípios_______________________18 3.6Prejuízos aos Frigoríficos_________________________________19 4. Situação dos Frigoríficos de Montes Claros______________________20 5. Como Combater o Abate Clandestino__________________________22 5.1Postura do Ministério Público______________________________23 6. Considerações Finais_______________________________________24 7. Referências Biubliográficas__________________________________26 FIGURA 1 ______________________________________________________02 FIGURA 2 ______________________________________________________04 FIGURA 3 ______________________________________________________05 FIGURA 4_______________________________________________________11 FIGURA 5_______________________________________________________15 FIGURA 6 ______________________________________________________16 FIGURA 7_______________________________________________________17 FIGURA 8_______________________________________________________18 FIGURA 9_______________________________________________________19 FIGURA 10______________________________________________________21 FIGURA 11______________________________________________________23 FIGURA 12______________________________________________________24 Montes Claros 2009 1 1. Introdução Montes Claros possui uma situação privilegiada no cenário da bovinocultura nacional. A região possui um extenso rebanho bovino de excelente qualidade, fazendo com que a mesma obtenha prestígio singular no cenário nacional. Além do mais, a cidade é conhecida pela qualidade de sua carne, principalmente pela carne de sol, que é um dos produtos mais tradicionais da região. Contudo, confrontando essa posição de destaque, infelizmente, encontramos um grave problema que vem se estendendo há décadas, o abate clandestino de animais. O abate clandestino é realizado em locais inadequados - Fazendas, Periferias, e outros - ou ainda em locais adequados, mas que não contam com a fiscalização de um órgão público competente. Segundo a Agência Minas, site oficial de Notícias do Governo do Estado de Minas Gerais, o abate clandestino em 2005 representava 60% das atividades no Estado, sendo os maiores índices registrados no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, ou seja, mais da metade da carne consumida pela população era de origem ilegal. Com base nessas informações o próprio governo lançou no ano seguinte o Programa Minas Carne, com o objetivo de reduzir o abate ilegal inspecionando toda a cadeia da carne. Atingiu no mesmo ano um decréscimo inexpressivo da ilegalidade para 49%. Além disso, os benefícios gerados para a nossa região foram baixos, pois, segundo o mesmo site, o Programa obteve R$ 60 milhões junto ao BDMG para investimentos na otimização e modernização do setor. Os investimentos empregados beneficiaram somente os Frigoríficos Exportadores, tais como: 3A Indústria e Comércio Ltda., no Triângulo Mineiro, Frisa, em Nanuque, no vale do Mucuri e o Independência, em Janaúba, região do Norte de Minas. Notoriamente os frigoríficos de Montes Claros não foram incluídos nesse Programa, embora os mesmos tenham corajosamente investido parte de seu capital na melhoria da qualidade do serviço prestado à população consumidora do município de Montes Claros. 2 2. Competências para Fiscalização As competências legais cujo serviço de inspeção sanitária e industrial de produtos de origem animal é exercido são: o Serviço de Inspeção Federal (SIF), no qual se registram os estabelecimentos que comercializam produtos entre Estados ou para Exportação, o Serviço de Inspeção Estadual (SIE), no qual se registram os estabelecimentos que comercializam produtos entre Municípios e o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), no qual se registram os estabelecimentos que comercializam produtos dentro do Município. A fiscalização realizada pelos órgãos competentes torna-se, de fato, um agregador de valores à saúde pública, ao meio ambiente e à arrecadação fiscal. Tais serviços quando bem implementados geram confiança no mercado consumidor sobre a origem e procedência da mercadoria que será consumida. Sabe-se que a carne, mesmo obtida de animais sadios é um veículo potencial de contaminantes de naturezas diversas, como as biológicas, as físicas e as químicas, nas suas diversas fases de processamento. Tais contaminações passam pelo processo de produção, transformação, armazenamento, transporte e comercialização. FIGURA 01 - Fiscalização da Carne Bovina abatida ilegalmente 3 2.1 Clandestinidade A clandestinidade é definida por duas condições: a sonegação fiscal dos impostos arrecadados e a ação burlativa sobre a fiscalização prestada pelos órgãos de serviço de inspeção sanitária. Tais situações sempre ocorrem simultaneamente, ou seja, o abate clandestino se processa sem a inspeção sanitária e sem a arrecadação de impostos. As principais causas do abate clandestino em Montes Claros estão ligadas à grande disponibilidade de pequenos grupos de animais - estes muitas vezes doentes ou para descarte, à sonegação de taxas e impostos, à deficiência no sistema de fiscalização, à facilidade de comercialização do produto no comércio varejista, à desinformação do consumidor e principalmente à falta de punição aos infratores. Espantosa é a observação de que 95% da carne consumida em Montes Claros são de origem clandestina, uma vez que os frigoríficos locais, Frigonildo Indústria e Comércio, Frigorífico Boi em Pé e Frigorífico Maisa, requerem há mais de 10 anos o serviço de inspeção municipal e o mesmo ainda não foram implementados. Fato este que pode ser comprovado pelos inúmeros requerimentos enviados à prefeitura. Desta forma, pode-se categorizar que, além do abate praticado nas fazendas, aqueles realizados nos frigoríficos também são considerados clandestinos. Ressalta-se que a percentagem de consumo da carne clandestina mencionada acima abrange todos os ambientes de comércio de carne freqüentados pela população. Ambientes estes tais como: hospitais, órgãos públicos, churrascarias, restaurantes, lanchonetes, bares e afins. Em Montes Claros deparamo-nos com um quadro gravíssimo no que diz respeito ao abate clandestino. Os animais são abatidos em fazendas da redondeza, e, por não haver uma preocupação com as exigências de saúde pública, tanto as carcaças como as vísceras são transportadas em veículos impróprios, tais como: veículos abertos sem refrigeração, caminhonetes e até absurdamente carroças que comumente transportam esterco bovino. Tal situação contribui sobremaneira para a contaminação destes produtos. 4 FIGURA 02 - Transporte do Abate Clandestino 3. Prejuízos Causados pelo Abate Clandestino São grandes os prejuízos causados pelo abate clandestino, desde os pecuaristas aos frigoríficos, afetando negativamente os cofres públicos e alcançando prejudicialmente os consumidores finais. Tais prejuízos têm onerado drasticamente os setores mencionados, acarretando sérios problemas aos diversos segmentos do comércio da carne. Para constatação, citamos alguns setores muito prejudicados por essa prática perniciosa: a Saúde Pública, o Trabalhador, o Pecuarista e o Município. 3.1 Prejuízos à Saúde Pública A carne contaminada com doenças como brucelose, cisticercose, tuberculose e toxoplasmose acarretam problemas graves à saúde dos consumidores de carne bovina e suína, pois, conforme pesquisa realizada pela ABIF (Associação de Bancos e Instituições Financeiras) cerca de 7 a 12% das internações por alterações psíquicas nos centros de saúde pública dos municípios são oriundos da ingestão de carnes contaminadas. Isso sem considerarmos outras patologias de 5 menor gravidade como as intoxicações alimentares, que não são de notificação obrigatória. FIGURA 03 Fonte de contaminação Abaixo descrevemos algumas doenças e suas formas de contaminação. 3.1.1 Brucelose A brucelose é uma zoonose importante tanto para a saúde pública quanto para a economia. É uma doenças transmitida pelo contato com animais doentes ou suas carnes, suas excreções ou mesmo ingestão de carnes. Em saúde ocupacional, ocupa lugar de destaque por afetar grupos profissionais da área da pecuária que lidam com animais. Acomete, ainda, os funcionários que participam diretamente do abate de animais e que estão expostos ao sangue, carcaças e vísceras. Enfrentam o mesmo risco os médicos veterinários quando praticam as atividades de assistência a criações ou quando exercem a inspeção sanitária de produtos de origem animal nos abatedouros e frigoríficos. 6 A brucelose é provocada por bactérias de gênero Brucella, são reconhecidas como as mais importantes, do ponto de vista da saúde pública, a B. melitensis, B. abortus, B. suis e B. ovis. Além dessas, também podem ser mencionadas a B. canis e B. neotomae. A brucelose tem distribuição mundial, embora cada espécie apresente suas próprias características de difusão. É certo que quanto mais primitivas as condições de desenvolvimento das explorações zootécnicas da região, maior a oportunidade de permanência e difusão do agente na natureza. Ocorrência no Homem A infecção no homem ocorre diretamente, mediante contato com animais, ou indiretamente, por ingestão de produtos de origem animal, ou nas dependências dos próprios abatedouros. O período de incubação varia de uma a três semanas, podendo se prolongar por vários meses. A duração da doença e muito variável, podendo persistir por semanas ate mesmo há vários anos. É uma doença infecciosa septicêmica de inicio repentino e insidioso, com febre contínua, intermitente ou irregular. Os linfonodos, medula óssea, baça e fígado são o alvo preferencial da bactéria. A sintomatologia da brucelose é variável, pois depende da resistência do hospedeiro e da espécie da brucela que o paciente alberga. De modo geral, a manifestação é aguda e consistem em calafrios, suores intensos e elevação de temperatura. Astenia, febre vespertina de 40ºC e suores noturnos constituem sintomas comuns da infecção. Ainda podem ser observada, insônia, impotência sexual, constipação, anorexia, cefaléia, artralgia e dores generalizadas. Na evolução do quadro clinico, o paciente pode manifestar irritação, nervosismo e depressão em decorrência do seu próprio estado. Nas áreas enzoóticas de brucelose bovina e suína, o contato com animais é a forma predominante da doença. O homem adquire a infecção quando entra em contato com fômites contaminados, notadamente quando é obrigado a intervir nos trabalhos de parto, ao manipular fetos e envoltórios fetais, ou ao entrar em contato com secreções vaginais e excreções de animais infectados. Nestas circunstancias a bactéria penetra ela pele, ou pode ser levada pelas mãos à conjuntiva. 7 Diagnóstico Nos seres humanos, ao lado das manifestações clinicas e das evidencias epidemiológicas, deve-se submeter os pacientes a provas sorológicas de confirmação da infecção. O isolamento e a tipificação do agente constituem prova definitiva e pode dar indicação segura da fonte de infecção. Contudo, nem sempre é possível colher material do paciente na fase mais adequada da infecção, principalmente quando medicado previamente com antibióticos. Controle e Prevenção O papel desempenhado pelos animais na epidemiologia da brucelose é essencial, por esta razão é fundamental o controle da doença nas áreas consideradas enzoóticas. Assim, o controle higiênico sanitário dos rebanhos é importante, preconizando-se que todos os animais sejam submetidos às provas sorológicas para identificação de reagentes. O controle da brucelose como doença ocupacional é mais difícil e deve-se basear em educação sanitária. Nos estabelecimentos de abate, a utilização de equipamentos de proteção individual deve ser rigorosamente supervisionada, de modo a diminuir o risco de infecção durante as diferentes operações com sangue, carcaças e vísceras. Mesmo após a adoção de programas de erradicação da brucelose bem sucedidos, há a possibilidade de introdução de animais infectados nos rebanhos, devido ao abrandamento das ações precedentes, por esse motivo, faz-se necessária a continua vigilância das zonas de produção animal, sobretudo nas bacias leiteiras. 3.1.2 Cisticercose bovina A ocorrência da teníase no homem é diretamente influenciada pela falta de higiene. A cisticercose bovina, por sua, vez, tem origem nas más condições de manejo e, sobretudo, na contaminação ambiental. 8 No contexto epidemiológico, o complexo teníase-cisticercose, determinado pela T. saginata, apresenta vários elementos dignos de menção, notadamente aqueles pertinentes à relação hospedeiro / parasita. Cumpre destacar que a cisticercose bovina é um problema atual, determinando prejuízos econômicos aos matadouros e frigoríficos responsáveis pelo abate, além de representar um fator de risco para a saúde publica. Portanto, dada à relevância dos fatos, é necessário analisar os diferentes elos da cadeia de transmissão da cisticercose bovina, determinando as medidas preventivas principais e estabelecer os aspectos primordiais para o controle da infecção, tanto no homem quanto nos bovinos. O homem adquire a infecção ao ingerir carne bovina crua ou insuficientemente cozida que contenha cisticercos viáveis. Esse hábito alimentar é característico de indivíduos e famílias e pode ser influenciada também pela profissão, idade, sexo e estado civil. O fator cultural também influi no hábito alimentar, visto que, em algumas regiões do mundo, existem pratos típicos de culinária preparada com carne crua ou mal cozida. A degustação da carne crua durante a sua preparação e antes de estar totalmente cozida é outro hábito que propicia a infecção. Após algumas semanas da infecção, o parasita - comumente designada solitária - atinge o intestino, podendo ali permanecer por 25 a 35 anos. O parasita atinge de 4 a 12 metros de comprimento e é formado por uma cadeia de 1000 a 2000 segmentos que possuem milhares de ovos - 50.000 a 1.000.000. Diariamente de 10 a 15 segmentos são eliminados pelo hospedeiro. A cada dia, de 500.000 a 1.000.000 de ovos são eliminados por um único hospedeiro, contaminando o meio ambiente. Os principais fatores que favorecem a contaminação do meio ambiente com ovos abrangem a higiene pessoal deficiente e o saneamento público, associados ao fácil deslocamento do homem, representado, sobretudo pelas viagens em massa e migrações de trabalhadores. O complexo teníase/cisticercose apresenta distribuição mundial com regiões de alta endemicidade como na America Latina. Estima-se que haja 60 milhões de casos humanos no mundo. Apesar da importância econômica e de saúde publica dessa zoonose, não se conhece sua verdadeira ocorrência no Brasil, devido à escassa divulgação dos 9 dados obtidos nos estabelecimentos de abate com serviço de inspeção federal e nos laboratórios de saúde publica, além do fato da não obrigatoriedade de notificação dos casos humanos. Prevenção em Saúde Pública Os programas de prevenção do complexo teníase/cisticercose abrangem medidas aplicáveis às populações humanas e bovinas e ao ambiente. As medidas aplicáveis à população humana são basicamente três: educação sanitária, diagnóstico e tratamento quimioterápico. A educação sanitária é imprescindível para que haja o esclarecimento da população a respeito do modo de transmissão e prevenção da doença. A orientação deve enfatizar a não ingestão de carne crua ou mal cozida, bem como daquela proveniente de abate clandestino, ou seja, sem a devida inspeção oficial. O diagnóstico e tratamento dos casos positivos são medidas aplicáveis a populações de áreas endêmicas, todavia a aplicação dos mesmos no nível massal não é indicada devido à dificuldade de realização e aos custos econômicos. Os quimioterápicos indicados para o tratamento da teníase humana são a niclosamida ou o praziquantel. Durante o tratamento haja higiene pessoal cuidadosa para prevenir que o ambiente, principalmente o domiciliar, seja contaminado por ovos. Prevenção em Saúde Ambiental As medidas aplicáveis ao meio ambiente objetivam evitar a dispersão de ovos e são baseadas, primordialmente, na educação sanitária. Esta tem como objetivo a orientação da população quanto ao destino adequado das excretas humanas, evitando-se a contaminação de água, solo e alimentos, e também quanto a se evitar o uso de efluentes de esgotos para irrigação de pastagens. Prevenção em Saúde Animal As medidas de uso corrente, aplicáveis á população bovina, abrange o diagnostico em matadouros e a destinação adequada das carcaças e órgãos 10 afetados. Os métodos diagnósticos in vivo são representados por provas sorológicas, como fixação de complemento, hemaglutinação indireta, teste imunoenzimático e outras. Controle A inspeção de carnes, realizada em matadouros, possibilita o diagnostico de cisticercose bovina mediante o exame post mortem. Neste exame, são realizadas incisões na musculatura esquelética e em órgãos nos quais os cistos são encontrados com maior freqüência, e o diagnóstico é feito por meio de visualização macroscópica dos mesmos. Porem o fato de a cisticercose apresentar-se, na maioria dos casos, sob forma de infecção moderada, e a impossibilidade de ser realizar um grande numero de incisões nas carcaças e órgãos determinam que muitos casos positivos deixem de ser diagnosticados. Apesar dessa limitação, em muitos países, a inspeção de carnes é a única medida aplicada, rotineiramente, como controle e na prevenção do complexo teníase/cisticercose. A destinação adequada de carcaças e órgãos contaminados depende do grau de infestação. O critério para classificação e os tipos de destinação previsto na legislação variam de acordo com cada pais. De modo geral, a condenação total é indicada para os casos de infecção generalizada. No Brasil a liberação da carcaça para o consumo in natura é prevista quando for encontrado apenas um cisto calcificado após a incisão dos mesmos. Nos casos de infestação moderada ou localizada, as carcaças e os órgãos afetados podem ser aproveitados após serem submetidos a um dos seguintes procedimentos: tratamento pelo frio a temperatura de -10ºC por 15 dias; tratamento pelo calor à temperatura mínima de 60ºC; ou tratamento pela salga à temperatura de 10ºC por 21 dias. Conclusões A prevenção da teníase humana provocada pela ingestão de carne bovina contaminada por cisticercose depende, fundamentalmente, de programas com ênfase à educação sanitária. O sucesso destas ações contribuirá, por outro lado, de modo decisivo para a diminuição da ocorrência da cisticercose bovina. 11 O matadouro e mais particularmente a inspeção veterinária desempenha papel de relevante destaque na prevenção da teníase humana e no controle da própria cisticercose bovina, como aferidores da qualidade dos programas propostos. FIGURA 04 - Cisticercose em Coração 3.1.3 Tuberculose Há séculos as relações entre a tuberculose dos animais e a do homem constituem motivo de preocupação para as autoridades sanitárias. São numerosas as referências feitas anteriormente à era bacteriana, ao perigo que representa para o homem o consumo de carne de animais sofrendo de caquexia e é muito provável que nesta designação estivesse incluída a tuberculose bovina. De acordo com Koch, ao apresentar em 1882 a sua comunicação sobre a identificação do agente causal da tuberculose, aponta o escarro do doente tuberculoso como a principal origem do material infectante e acrescenta: "Uma outra fonte de infecção da tuberculose constitui, indubitavelmente, a tuberculose dos animais domésticos, estando em 1º lugar à tuberculose bovina. Com isto, fica também indicada a posição que a Saúde Pública tem que assumir no futuro, em 12 relação ao problema do perigo da carne e do leite de animais tuberculosos. A tuberculose bovina é idêntica a tuberculose do homem e, portanto, uma doença transmissível ao mesmo, devendo ser tratada como as outras doenças infecciosas transmissíveis do animal para o homem. Se o perigo, que resulta do uso da carne ou do leite tuberculoso, for grande ou pequeno, ele existe e deve por isto, ser evitado. Em 1908, Mantoux instituiu o teste alérgico para diagnóstico e em 1931, Kuhnaus (apud Feldman, 1955) verificou que a carne poderia transmitir a doença somente quando o animal era afetado por uma tuberculose generalizada e neste caso, seria condenado durante a inspeção realizada nos matadouros. Movidos por pressões econômicas, muitas vezes, os criadores consideram mais vantajoso manter os animais infectados nos planteis do que enviá-los para o abate. Isso aumenta o risco de transmissão entre animais e tratadores e coloca em risco a saúde dos consumidores. Estima-se que um terço da população mundial esteja infectada com o bacilo da tuberculose e que a cada segundo alguém seja infectado pelo agente. Por outro lado, é possível que mais de 50 milhões de pessoas tenham sido infectadas com bacilos resistente a drogas. O custo da tuberculose é muito alto para a sociedade, pois 80 % das vitimas encontram-se na fase de maior produtividade de suas vidas. O Brasil é um dos países com maior numero de casos de tuberculose nas Américas. Importância em Saúde Pública O homem é o hospedeiro acidental. O bacilo responsável pela tuberculose no homem, o M. tuberculosis tem grande similitude como o M. bovis, Mas infecções humanas a partir de bovinos não atinge proporções muitos elevadas. A forma pulmonar, com origem na infecção bovina, esta relacionados com grupos ocupacionais e resulta com maior freqüência, do contato com animais infectados nos estábulos ou suas carcaças nos matadouros. Deve-se destacar que no homem, uma vez contraída a doença, pode persistir como reservatório do bacilo bovino para outros animais do rebanho por muitos anos. 13 O homem, ainda pode transmitir o M. tuberculosis a várias espécies animais, provocando tuberculose evolutiva. O risco para a Saúde Pública de se contrair o agente pela ingestão de produtos cárneos contaminados torna-se menor, devido à baixa incidência do agente em tecidos musculares e do hábito de não se comer carne crua no Brasil. Porém, tal risco não deve ser ignorado, quando se leva em consideração o grande número de abates clandestinos, ou mesmo o abate de animais descartados de rebanhos positivos em matadouros municipais, que não atendem as normas de inspeção exigidos pelo rigor da lei. Grupo de Risco Pessoas em contato íntimo com portadores da infecção tuberculosa constituem um dos principais grupos de risco da tuberculose. Grupos cujos integrantes encontram-se debilitados fisicamente como os idosos, ou submetidos à aglomeração e ou estresse, tal como ocorre com pessoas que moram ou trabalham em casa de repouso, instalações correcionais, abrigos e centros de tratamento antidrogas, apresentam alto risco de contrair infecção. Médicos-veterinários e trabalhadores de frigoríficos, que mantém um contato direto com o animal, também estão sujeitos a infecção pelo bacilo bovino devido à inalação de aerossóis. Outra forma de manifestação da tuberculose bovina em humanos é o acometimento cutâneo. A contaminação se dá pelo contato direto com carcaças contaminadas e as classes mais acometidas são os magarefes, auxiliares de inspeção e médicos-veterinários. Tais lesões, na maioria das vezes, são pouco extensas e regressivas, manifestando-se na forma de pequenas pápulas, semelhantes a verrugas, sendo conhecidas como "butcher’s wart", ou verruga do magarefe (Grange & Yates, 1994) Os trabalhadores rurais que lidam com bovinos, principalmente rebanhos leiteiros, estão expostos ao risco de contrair a doença devido ao confinamento maior com reses e a promiscuidade das instalações, onde as condições de higiene são precárias, tornando o ambiente insalubre. Prevalência da Tuberculose Bovina em Animais Abatidos em Matadouros 14 No Brasil, em função da inexistência de políticas de controle eficientes, a tuberculose bovina encontra-se disseminada por todo o país, sendo sua incidência variável de acordo com o sistema de exploração animal. Um método de se avaliar a prevalência da tuberculose bovina é a realização de uma inquisição epidemiológica em matadouros, procurando, a partir das carcaças e vísceras desviadas ao Departamento de Inspeção Final (DIF), identificar alterações anátomo-patológicas características. Materiais e Métodos Foram inspecionados 1021 animais abatidos no matadouro municipal de Patos (Paraíba), sendo que 32 carcaças (5,4%) apresentaram lesões semelhantes à tuberculose. Vale ressaltar que, quando são evidenciadas lesões primárias pulmonares, o diagnóstico é realizado de forma efetiva, mas quando se avalia a ocorrência de alterações secundárias envolvendo cadeias linfáticas, em determinadas situações podem haver dúvidas no diagnóstico. Isto pode ocorrer devido a algumas semelhanças entre as lesões causadas em linfonodos pela tuberculose, linfossarcoma e linfadenites inespecíficas. Sendo assim, o patologista por vezes se depara com situações em que a simples observação macroscópica não constitui garantia na identificação das lesões, impossibilitando deste modo um diagnóstico definitivo, salvo em algumas exceções. A análise histopatológica, confirmando as observações anteriores, apenas 5 das 32 carcaças seqüestradas apresentaram lesões microscopicamente características de tuberculose. Diagnóstico A grande variabilidade de sintomas e lesões, bem como o caráter crônico da tuberculose, fazem com que o diagnóstico clínico tenha um valor relativo, proporcionando apenas um diagnóstico presuntivo. Os testes para diagnóstico da tuberculose se baseiam na detecção de infecções latentes pelo Micobacterium sp. através de testes alérgicos ou pela detecção do agente em secreções, sendo o último mais utilizado em humanos. 15 Conclusão A importância da tuberculose bovina como zoonose é reconhecida mundialmente e o estudo dos fatores de difusão de tal enfermidade possui grande relevância. Caso não sejam adotadas medidas rápidas, uma epidemia de tuberculose poderá ocorrer nos próximos anos. A falta de diagnóstico efetivo, com a identificação do agente, tem contribuído para o aumento dos casos no Brasil. A ocorrência de infecções humanas por microbactérias atípicas à espécie, associadas às reativações de infecções adquiridas na infância, principalmente relacionadas a SIDA, vem complicar ainda mais a situação. Figura 05 - Tuberculose em Pulmão. 3.2 Prejuízos Ambientais Os abates clandestinos geram graves impactos ambientais, prejudicando a diversidade biológica no local em que é praticado. Os dejetos produzidos são descartados de forma irregular, muitos largados a céu aberto, provocando mau cheiro e atraindo roedores e carniceiros. Essas ocorrências geram mais onerosidade à saúde pública devido à concentração de populações poluidoras e contaminadoras. 16 Além desses riscos o agravamento maior é condicionado à contaminação do solo, este ficando subutilizado. Os resíduos e efluentes líquidos são lançados em córregos, poluindo os mananciais e contaminando o lençol freático. Figura 06 – Contaminação ambiental causada pelo abate clandestino. 3.3 Prejuízos aos Trabalhadores O abate de animais é uma atividade em que o trabalhador se expõe a um alto risco de contaminação e de acidentes de trabalho. Sabe-se que o trabalhador que opera no abate clandestino submete-se a jornadas de trabalho exaustivas e exploradoras e não conta com qualquer equipamento de segurança que a atividade exige, como: capacetes, luvas, protetores auriculares, etc. Além do mais, ele não possui a CTPS devidamente registrada de tal forma que, na ocorrência de um acidente de trabalho ou de uma contaminação por alguma doença, esse trabalhador 17 ficará totalmente desamparado, não podendo o mesmo contar com os benefícios que tal lei lhe confere. Figura 7 - Trabalhador exposto ao risco. 18 FIGURA 08 Alimento com risco de contaminação FIGURA 09 Trabalhador em risco 19 FIGURA 09 Exposição a doenças. 3.4 Prejuízos aos Pecuaristas Com relação aos pecuaristas, ao permitir que animais sejam abatidos em suas propriedades, os mesmos estão promovendo a sonegação fiscal, deixando assim de contribuir com o município. Sabe-se também que restos de animais doentes abatidos em suas propriedades podem contaminar outros animais e pessoas que porventura venham a ter contato com esses restos. Muitas doenças poderiam ser evitadas como, por exemplo, a cisticercose. Esta causada pelo descarte incorreto das fezes humanas, infesta principalmente os tanques que servem de bebedouros de animais. Neste caso, o fazendeiro não tem conhecimento de que o animal esteja doente, muito menos possui condições adequadas para combater tal problema. Caso o gado destinado ao abate nos frigoríficos fosse devidamente observado, tal situação seria constatada por profissionais habilitados, que analisam as vísceras e as carcaças bovinas. Sendo assim, o fazendeiro seria comunicado sobre o ocorrido, tendo então subsídios então 20 para evitar tal problema, promovendo orientações, cursos educacionais, treinamentos e a difusão de boas práticas para o manuseio e uso correto dos procedimentos sanitários. 3.5 Prejuízos Financeiros ao Município Em 1992 uma nova Lei foi editada por meio do Convênio ICMS n°83 para produtos que fizessem parte da cesta básica. Entre eles a carne bovina teve a base de cálculo de ICMS reduzida para 7%, promovendo estímulos para o maior consumo dentre à população. Porém, mesmo com esse incentivo fiscal os abates clandestinos continuaram e expandiram-se constantemente, acarretando um entrave à arrecadação de impostos aos cofres municipais. É importante mencionar que o ICMS não é o único imposto incidente na comercialização de carnes, a este se somam o COFINS, FUNRURAL, PIS e etc., além dos custos oriundos do atendimento às normas de inspeção sanitária, necessários aos estabelecimentos que operam em concordância com a legislação vigente. Destaca-se que o município deixa de arrecadar a taxa de abate que é paga pelos frigoríficos, sendo que tal taxa cobre boa parte das despesas provenientes das inspeções. Em Montes Claros - MG existem aproximadamente 800 açougues, casas de carnes e outros estabelecimentos que comercializam carne bovina e suína. Sabe-se que mais da metade destes estabelecimentos não possuem registros legalizados como alvará de funcionamento, nem ao menos inscrição estadual, contribuindo para a sonegação de impostos que seriam destinados aos cofres municipais. Leve-se em consideração a este fato os prejuízos com as taxas de alvarás que a prefeitura deixa de arrecadar anualmente. Conforme pesquisa realizada pela ABIF, descrito anteriormente, os índices de 7 a 12% de internações hospitalares geram muitos dividendos aos cofres municipais. Logo, combatendo-se o problema em sua raiz, tais índices poderão ser reduzidos drasticamente. 21 3.6 Prejuízos aos Frigoríficos No 1º trimestre de 2008 foi registrado o abate de 7,155 mil cabeças de bovinos, indicando queda de 10,1% com relação ao mesmo período de 2007, refletindo a baixa disponibilidade de boi gordo para os frigoríficos. Entre os meses do trimestre atual, o mês de março apresentou a maior queda no número de animais abatidos (-17,6%). A falta de animais para abate manteve os preços elevados durante todo o trimestre, Esta queda no volume de animais abatidos interrompe uma tendência de crescimento do abate bovino no 1º trimestre observada desde o início da pesquisa em 1997 (Gráfico). Desde o ano passado o volume de animais abatidos diminuiu a cada trimestre, acompanhando a escassez de oferta de boi gordo, cujos preços vêm subindo desde então, isto se deve em boa parte ao abate clandestino, pois o gado que deveria ser vendido para os frigoríficos são abatidos nas fazendas. Figura 10 - Fonte de Pesquisa: IBGE. Dados da Agência Minas indicam que o nível de informalidade é maior no período de escassez da carne, quando o gado está na entressafra e seus preços são mais elevados. Nessa ocasião o consumo da população fica mais sensível à variação dos preços. Tal situação contribui para o aumento da ilegalidade, pois, por não recolher aos cofres públicos os impostos devidos, os estabelecimentos que comercializam mercadorias clandestinas apresentam preços mais baixos, aparentemente mais atraentes, driblando desonestamente a competitividade dos estabelecimentos que aderem à legislação. 22 4. Situação Atual dos Frigoríficos de Montes Claros A capacidade de abate dos frigoríficos Frigonildo e Boi em Pé giram em torno de 400 cabeças/dia. Mas, infelizmente, estão abatendo atualmente ínfimos 25 a 30 cabeças/dia. Este fato está desestimulando os investimentos programados para o crescimento, levando tais empresas a dispensar boa parte do quadro de seus funcionários por não conseguirem de forma sustentável equilibrar os custos de operação, contribuindo assim para o aumento do desemprego. Outro fator que diminui drasticamente o abate e o poder de comercialização dos frigoríficos é o fato de não serem inspecionados. Não contando com este serviço ficam impedidos de participarem em licitações por não possuírem o número de registro de inspeção, documento exigido por empresas e entidades licitantes. Um fato ainda mais preocupante é que de acordo com notificação do IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária) em breve não será emitido GTA (Guia de Transporte Animal) para frigoríficos que não sejam inspecionados, selando assim de vez o fim das atividades dos três frigoríficos de Montes Claros e obrigando a população a consumir apenas carne clandestina. É importante salientar que esta situação acarreta um grande prejuízo econômico e social para nossa cidade. Uma vez que os três frigoríficos juntos empregam diretamente cerca de 200 funcionários, contando ainda com um número expressivo de empregos gerados indiretamente, passando de 1.000 pessoas – haja vista que são açougueiros, marchantes, desossadores, e outros – envolvidos neste ramo de atividade. Sem a devida fiscalização Montes Claros ficará entregue de vez ao abate clandestino, colocando em risco total as pessoas que apreciam a carne bovina e suína. Destacamos que os frigoríficos Frigonildo, Boi em Pé e Maisa são empresas que se intensificam no investimento do setor da carne, encontram-se localizadas no perímetro rural, e estão totalmente em dias com os devidos órgãos públicos. Empenham-se constantemente em promover ao município melhores instalações e qualidade na prestação de serviços de abate bovino e suíno. Estas empresas, investidoras em equipamentos, tecnologias e modernidades em suas linhas de abates, que são altamente prejudicadas, pois, por oferecerem ao mercado consumidor meios de obterem uma mercadoria de qualidade e procedência vêem seus investimentos exaurirem nas mãos daqueles 23 que, por irresponsabilidades e descasos, promovem descaradamente o abate clandestino. Nota-se que as referidas empresas dispõem de condições de abater, com qualidade, todo o rebanho bovino e suíno consumido pela população de Montes Claros, pois é possível que firmem contratos para assumir a responsabilidade do abate bovino e suíno, devidamente legalizado em parceria com o município e seus órgãos competentes através de cobrança de taxa de sangria. Tais empresas se mostram abertas para diálogos construtivos e alavancadores de sucesso no que tange ao abate devidamente legalizado. Porém, para que isso ocorra é necessário que o município cumpra a lei e crie um serviço de inspeção municipal, pois, embora estejam em dia com suas obrigações e impostos, empregando vários trabalhadores e promovendo o progresso da região, as mesmas são consideradas clandestinas. FIGURA 11 – Higienização das mãos. 24 FIGURA 12 - Limpeza dos Equipamentos. 5. Como Combater o Abate Clandestino É possível que se faça em Montes Claros uma fiscalização inteligente de forma “cirúrgica” prestando com eficiência um serviço necessário à população. Uma vez que os frigoríficos forem inspecionados, os relatórios de abate contendo os dados dos compradores (açougues, casas de carnes e outras) forem disponibilizados diariamente pelos frigoríficos à fiscalização, e esta tenha de antemão em seu cadastro os dados e endereço dos possíveis compradores, será possível fazer diariamente um levantamento e saber quem são os comerciantes que estão adquirindo mercadoria clandestina. Dessa forma, o município fará economia, pois a fiscalização será direcionada apenas aos estabelecimentos infratores. Por tudo isso, acredita-se que a partir do momento em que a fiscalização for intensificada, contemplando os frigoríficos que serão devidamente legalizados, o comércio de carnes (açougues, casas de carne, e outros) e os abates clandestinos, será possível fechar todo o cerco em torno da cadeia da carne. Com isso, evita-se que os cofres municipais percam mensalmente um montante considerável, que 25 poderia ser aplicado no município, proporcionando á população melhorias considerável nos diversos âmbitos da política social e nos variados setores que mais carecem de investimentos. É importante destacar que o montante arrecadado com as taxas de inspeção e outros impostos cobririam todo o gasto com a manutenção e com o pessoal envolvido na inspeção dos frigoríficos. Ressalta-se que a Prefeitura de Montes Claros poderia embasar suas atividades no decreto municipal de número 2472 de 04/04/2008, o qual foi criado para inspecionar os estabelecimentos frigoríficos que abatem o rebanho bovino e suíno. Tal decreto bem parametrizado com um corpo de funcionários habilitados e constantemente treinados poderá se mostrar um fator de segurança à qualidade da carne consumida em nosso município e um forte entrave ao abate clandestino. 5.1 Posturas no Ministério Público O Ministério Público do Espírito Santo demonstrou como pode contribuir na atuação ao combate criminal do abate clandestino, abaixo estão alguns dizeres e observações exercidos pelo Excelentíssimo Senhor Promotor de Justiça, Doutor Gustavo Senna Miranda que promove intensivamente o cumprimento da lei sobre esse crime à sociedade. Uma das condutas que mais vem reclamando a atenção dos órgãos de execução do Ministério Público diz respeito ao abate clandestino de animais. Esta conduta tem reflexos em diversas áreas de atuação do Ministério Público, destacando-se as seguintes: 1) saúde – na medida em que coloca em risco a saúde da população, já que oferece mercadoria inapropriada para o consumo, podendo provocar sérias doenças; 2) meio ambiente – na medida em que pode acarretar poluição ambiental com o depósito irregular da mercadoria ou com dispensa de dejetos em manancial etc.; 3) consumidor – eis que viola direitos básicos da relação de consumo, atingindo direito difuso da coletividade. Os Promotores de Justiça Dirigentes respectivamente dos Centros de Apoio à Saúde, do Meio Ambiente e do Consumidor estão envidando esforços para coibir tal prática, infelizmente com certa aceitação, por falta de informação, da população, porém, de efeitos deletérios para a coletividade, merecendo, portanto, atuação eficaz do Ministério Público, preventiva e repressivamente. 26 Exatamente no último sentido, isto é, na atuação repressiva do Ministério Público no combate à conduta de abate clandestino de animais, que o Centro de Apoio Operacional Criminal elaborou pequeno estudo (doutrinário e jurisprudencial), unicamente com o objetivo de auxiliar os órgãos de execução do Ministério Público na sua atuação prática, portanto, sem qualquer caráter vinculativo. Além de ser obrigação do Centro de Apoio fornecer suporte jurídico para os órgãos de execução do Ministério Público, a pesquisa sobre o tema revela-se de grande utilidade prática, notadamente colegas do interior, que se deparam constantemente com a conduta ilícita acima citada, cuja tipificação criminal é complexa. Assim, é inquestionável que o Ministério Público também pode se valer do direito penal para coibir a nefasta prática, que tanto mau causa á coletividade, que é o abate clandestino de animais destinado ao consumo. Das tipificações possíveis a que encontra maior número de incidência e, portanto, de aceitação pelos tribunais, é a do art. 7º, inc. IX, da Lei nº 8.137/1990, destacando, inclusive, que referido delito possui pena máxima superior a dois anos, estando fora da competência dos Juizados Especiais Criminais, não sendo possível, também, pela pena mínima cominada (dois anos), nem mesmo a suspensão condicional do processo. Portanto, pela gravidade de sua pena, poderá, em tese, ser mais eficaz para coibir a referida prática, merecendo reflexão por parte dos órgãos de execução do Ministério Público. Uma vez que os animais não são inspecionados, suas carcaças são destinadas diretamente ao aproveitamento e consumo humano, sendo que aí se encontra um dos ganhos do abate clandestino: carcaças que seriam descartadas ou condenadas por riscos sanitários são aproveitadas. Parte relevante do fluxo da carne clandestina percorre um caminho absolutamente distinto, iniciando-se em um ponto de abate não registrado ('frigomato'), passando diretamente aos açougues, em especial nos bairros mais pobres. A vigilância sanitária, por sua vez, que seria responsável pela fiscalização da carne já no ponto de venda, não é capaz de avaliar problemas que levariam à condenação da carcaça no momento do abate. Os bovinos estão sujeitos a uma série de patologias, muitas delas graves, e em grande número transmissíveis ao 27 homem pela ingestão ou manuseio das carnes e de outras partes do animal, as chamadas zoonoses, que são em número superior a 150.” 6. Considerações Finais Assim, para usufruir das vantagens comparativas de uma carne inspecionada, Montes Claros precisa incluir na sua rotina a questão da segurança alimentar, em suas vertentes qualitativa e quantitativa. Não se pode esquecer também a questão ambiental e social. A atenção do mundo moderno se concentra nessas condições. O recente embargo da nossa carne pela Europa atesta essa assertiva. Dessa forma a inspeção industrial e sanitária de carnes é uma das funções de responsabilidade exclusiva do Estado. O Prof. Helly Lopes, em seu livro Direito Administrativo Brasileiro define: “É dever do Estado tomas todas as medidas requeridas por situações de perigo presente ou futuro que lesem ou ameacem a lesar a saúde e a segurança do indivíduo e da comunidade”. Em definitiva, o consumidor montesclarense tem os mesmos direitos que os europeus e norteamericanos. Observa-se então que os problemas gerados pelo abate ilegal influenciam sobremaneira nos custos onerosos aos diversos setores da cadeia da carne e causam relevantes problemas sociais. Os prejuízos que são gerados não se limitam somente aos cofres públicos, se estende a toda a cadeia produtiva da carne, às pessoas que estão direta e indiretamente ligados à pecuária e ao comércio da carne em geral, acarretando seqüelas irreparáveis no que tange à saúde da população, causando grandes prejuízos financeiros às empresas que investem com seriedade no ramo. 28 Referências Bibliográficas 2000. Tese (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Paraná. Ministério Público do Estado do Espírito Santo - www.mpes.gov.br/anexos/centros_ apoio/arquivos <acesso em 28 de Março de 2009> Revista Fundepec - http://www.fundepec.org.br/revista/10/cisticercose.htm <acesso em 27 de Março de 2009> Assembléia de Minas - http://www.almg.gov.br/not/bancodenoticias/ <acesso em 26/03 de 2009> BÁNKUIT, Ferenc Istvan e AZEVEDO, Paulo Furquim – Abates Clandestinos de Bovinos: Uma Análise das Características do Ambiente Institucional. 2006 - Zootecnistas e Mestrandos da Universidade de São Carlos UFSCar. SANTOS, Adriana Helena Gama dos e OLIVEIRA, Octávio Costa de - Indicadores IBGE – Estatística da Produção Pecuária de 2008, p.4 GERMANO, Pedro Manuel leal, GERMANO, Maria Izabel Simões – Higiene e Vigilância Sanitária de Alimentos. 3ª Edição 2008.