Proposta de análise da influência dos custos na determinação do prazo ótimo de execução de uma empreitada João Manuel Antunes de Brito Guterres Instituto Superior de Línguas e Administração de Leiria Instituto Superior de Línguas e Administração de Santarém Gerente da Lageton, Engenharia e Empreendimentos, Lda Marta Sofia Teixeira Miranda Abstract Pretende-se no presente artigo apresentar uma metodologia que combine os custos diretos e indiretos inerentes a qualquer empreitada, de modo a obter o prazo de execução que permita minorar o somatório de todas as parcelas de custo. A análise efetuada considera os custos diretos de cada atividade como sendo dependentes da sua duração, contemplando ainda a valorização ou o prejuízo da imagem da empresa. Deste modo, partindo do prazo ótimo de execução da empreitada considerando apenas o fator tempo, chega-se a resultados melhores quando se considera a otimização que contempla os fatores tempo e custo, estando neste último englobados os custos indiretos. Por último é apresentado um caso concreto onde se aplicaram os procedimentos propostos. 1. Introdução Com o presente artigo propõem os autores um método possível de aplicar a problemas relacionados com a programação de empreitadas que obedeçam a determinadas condições iniciais. A prossecução do referido método permitirá elaborar um plano de trabalhos realista e, simultaneamente, competitivo no mercado. Na atualidade as atividades relacionadas com a construção civil encontram-se seriamente afetadas com a falta de recursos financeiros, bem como com a escassez de oportunidades de mercado. Estes condicionalismos implicam uma crescente concorrência no mercado da construção, sendo usualmente o fator preço o mais significativo na ponderação da escolha dos fornecedores. Embora este parâmetro seja usualmente o decisivo, o cliente final não considera esse aspeto durante e após a conclusão da empreitada, sendo o nível de exigência crescente, independentemente do seu valor inicial. Como tal, o custo, seja ele o do cliente final ou o do empreiteiro, constitui uma caraterística relevante de diferenciação entre empresas deste setor. Por este motivo consideramos de elevada importância que, previamente ao início de uma empreitada, possam ser contabilizados de modo correto os custos diretos e indiretos inerentes ao desenvolvimento do projeto. Como qualquer um destes constitui uma variável dependente do fator tempo, este último é decisivo para o sucesso comercial e empresarial de cada instituição. Vários autores concordam que ao longo dos anos se tem assistido a uma valorização das técnicas de planeamento de obra como meio de resolver problemas de gestão [3] , [7]. A forma como cada um deles aborda o problema é que difere. Há quem se debruce sobre o planeamento atempado da obra de modo a que se tenha em mãos um plano realista e simultaneamente competitivo. Exemplo disso é o trabalho apresentado por William e Osama [8]. Estes autores dedicam o seu estudo a temas relacionados com a otimização de custos e prazos fazendo ainda referência ao desenvolvimento de uma metodologia capaz de fornecer indicação relativa à regularidade com que se realiza o processo de controlo do projeto. À semelhança destes autores também Chassiakos e Sakellaropoulos [1] se dedicam a questões relacionadas com os fatores tempo e custo em planeamento de projetos. No estudo que realizaram, propõem que sejam incorporadas características específicas de cada projeto tais como relações de precedência entre atividades, restrições de tempo e atribuições de bónus/penalizações caso se conclua o projeto com antecedência/atraso. Para tal desenvolveram dois métodos: um método exato que recorre a um modelo de Programação Linear ou Programação Inteira para fornecer o melhor equilíbrio entre os dois fatores em estudo e um método aproximado que possibilita uma progressiva redução do tempo de execução do projeto, fornecendo uma solução muito próxima da ótima. O objetivo da aplicação dos métodos apresentados é proporcionar uma economia de tempo e custos. É verdade que cada vez mais as empresas de construção procuram soluções que otimizem a sua produção, mormente no que respeita às empresas de maior dimensão. No entanto, existe ainda um longo caminho a percorrer no que respeita ao reconhecimento e à aceitação de métodos de Investigação Operacional (IO) por parte destas. Os métodos de planeamento normalmente usados em projetos de construção não dão informação detalhada sobre custos. 2. Análise de custos Como referido, otimizar o fator tempo pode-se revelar insuficiente uma vez que a execução das atividades que compõem as empreitadas acarreta diversos custos. O ideal será conseguir encontrar um compromisso entre os fatores tempo e custo. De acordo com Roldão [7], “mesmo quando o tempo é o fator principal, o custo tem também de ser considerado”. A introdução desta entidade como uma variável de decisão permite elaborar planos realistas e reduzir o risco de descontrolo do projeto, gerando desta forma um ambiente de confiança por parte dos trabalhadores. Toda a metodologia seguidamente apresentada teve por base a aplicação da teoria associada ao método CPM (Critical Path Method). Este método desenvolvido por Keley e Walker em 1957 tem como pressuposto à sua utilização o facto de admitir que se conheça com algum rigor o tempo necessário à realização das diferentes atividades de um projeto bem como a lei de variação dos tempos em função dos recursos envolvidos. Baseia-se na hipótese de que as durações das atividades são proporcionais aos recursos requeridos para a sua execução. [2] Desta forma, se atribuirmos mais recursos a uma atividade é de esperar que a sua duração reduza e daí resulte um custo adicional. Para além de ser um método capaz de identificar quais as atividades cujo atraso na sua execução compromete o prazo estimado para o projeto (atividades críticas) permite ainda calcular a folga das atividades não críticas. Esta informação poderá vir a revelar-se bastante útil caso ocorra algum atraso uma vez que não afeta a restante programação. Tomando por base os trabalhos anteriores, os autores acreditam que o facto deste método fornecer um procedimento disciplinado para o planeamento da construção é uma grande mais-valia. A apresentação da metodologia que permite a abordagem ao problema de determinar o prazo ótimo de execução de uma empreitada, considerando a variação do fator custo, tem como ponto de partida os estudos anteriormente efetuados e indicados em [5], respetivamente, elaboração de um plano de trabalho, calendarização das atividades constituintes do projeto e identificação do prazo ótimo de conclusão do mesmo considerando a otimização do fator tempo. No presente documento pretende-se determinar um método que possibilite definir o prazo ótimo da execução de uma empreitada, de modo a que o fator custo seja o mínimo possível, considerando-se o fator tempo delimitado entre um valor máximo e mínimo. De acordo com o método CPM iremos incluir no estudo dois tipos de custos; diretos e indiretos. Segundo [4], os custos diretos são custos exclusivamente associados à execução dos trabalhos que compõem o projeto. O autor afirma mesmo que “este é um valor fácil de ser conhecido, pois geralmente corresponde aos valores integralmente gastos na compra dos materiais utilizados, mais mão de obra das pessoas que trabalham diretamente na produção/fabricação”. Pode-se então afirmar que são despesas diretamente relacionadas com cada atividade do projeto. Por este motivo os autores definem o custo direto de cada atividade como sendo aquele que resulta da soma dos custos dos materiais, mão de obra e equipamentos que são necessários utilizar para a sua execução. Por outro lado, em concordância com [4], “os custos indiretos não podem ser identificados diretamente com o produto e não variam na mesma proporção das unidades produzidas, ao contrário, ocorrem independentemente de haver produção”. Quer isto dizer que são custos que variam com a execução do projeto, não dependendo da realização das atividades. Roldão [7] enfatiza o facto de que, quer existam atividades a ser executadas quer não, existem certamente despesas a decorrer tais como as de administração ou de estruturas. De acordo com [5], os custos diretos diminuem com o aumento do tempo de execução dos trabalhos. Já no que se refere aos custos indiretos, estes tendem a aumentar linearmente com o incremento da duração da empreitada. Assim, na contabilização dos custos totais, existe um conflito de interesses entre os diretos e os indiretos, já que os primeiros diminuem com o aumento do tempo de execução e os segundos apresentam o comportamento inverso. É através da conciliação destas duas variações que é possível obter o prazo ótimo que minimiza o fator custo. 2.1. Análise da variação do custo direto O custo direto da realização da empreitada é aquele que resulta do somatório dos custos diretos de todas as atividades que a compõem. Este valor irá variar de acordo com o prazo limite temporal que for imposto para a realização da totalidade dos trabalhos. Assim, quanto menor for o referido prazo, maior será o valor do custo direto, inversamente, quanto maior for o prazo permitido para a realização de todas as tarefas, menor será este fator. No presente modelo, ficou considerado que cada atividade poderá ter três tipos de durações – normal, acelerada e retardada. Duração normal Entende-se por duração normal o tempo que uma atividade necessita para ser totalmente executada sem que para isso seja necessário recorrer a custos excessivos que provoquem um decréscimo da sua duração. Note-se que o tempo que cada atividade necessita para ser concluída está diretamente relacionado com a quantidade de recursos identificados para a sua execução. Duração Acelerada De acordo com [2], a duração normal de uma atividade pode ser reduzida pelo aumento da utilização de recursos. No entanto existe um limite abaixo do qual não se consegue diminuir a duração da atividade. O valor desta forma encontrado corresponde à duração acelerada, . Esta duração representa assim o menor tempo em que é possível realizar uma atividade e é calculada com base no valor da duração normal. O custo de uma atividade quando aceleramos ao limite a sua execução é designado de custo acelerado e será representado ao longo deste trabalho por . Este é então o custo que se incorre quando a atividade é realizada recorrendo a meios extraordinários. No presente artigo, de acordo com [5], ficou definido que a duração acelerada corresponderá a 75% do tempo da duração normal. Ficou ainda definido que o custo referente à duração acelerada corresponderá a 130% do custo relativo à duração normal. Duração Retardada De forma contrária, cada atividade tem associado a si um número mínimo de recursos necessários para que seja possível a sua conclusão. No entanto, um decréscimo no número de recursos alocados a uma atividade origina um aumento na duração da mesma. O valor da duração obtido quando se verifica o seguimento acima enunciado intitula-se de duração retardada, . O conhecimento desta duração leva ao cálculo do custo retardado, . Este é o valor do custo de uma atividade à qual foram atribuídos valores mínimos de recursos. No presente artigo, de acordo com [5], ficou definido que a duração retardada corresponderá a 130% do tempo da duração normal. Ficou ainda definido que o custo referente à duração retardada corresponderá a 80% do custo relativo à duração normal. De forma geral há que garantir que o valor da duração normal de uma atividade se encontra minorado pelo correspondente da duração acelerada e majorado pelo referente à duração retardada. Fica assim encontrada a seguinte relação: No que se refere a custos também é necessário que se verifiquem alguns pressupostos uma vez que o custo acelerado de uma atividade, pela forma como foi enunciado, deverá corresponder um valor superior ou igual ao custo normal da atividade. Contrariamente, o custo retardado não pode tomar valores superiores ao custo normal. Pode-se então deduzir a seguinte relação: Note-se que o prazo de execução da totalidade dos trabalhos nunca será superior ao que se obtém considerando que todas as tarefas serão efetuadas com base na duração retardada. No que respeita ao prazo mínimo, este nunca pode ser inferior ao que se obtém considerando que todas as tarefas serão executadas com a duração acelerada. O gráfico da evolução do custo direto com o aumento do prazo de execução da empreitada, ilustrado na figura 1, corresponde a uma curva com primeira derivada negativa e segunda derivada positiva. Deste modo, o custo direto máximo obtém-se com o prazo de execução mínimo, sucedendo o inverso com o custo direto mínimo. Apesar da curva descrita ser sempre decrescente, importa referir que a variação do custo direto da empreitada é mais rápida nos prazos mais curtos, relativamente aos mais prazos mais longos, como resulta da combinação dos sinais da primeira e segunda derivadas. A função proposta na figura 1 é indicativa do comportamento geral do custo em função do tempo, variando naturalmente os seus parâmetros de atividade para atividade. Uma vez que os projetos de Engenharia se caraterizam pela elevada quantidade e diversidade de atividades que os constituem, seria insensato representar a variação do custo direto em função do tempo para todas elas. De acordo com a literatura consultada, se a curvatura da função que carateriza determinada atividade não for muito acentuada pode-se admitir que existe uma relação linear entre custos diretos e durações. Aliás, para alguns autores esta medida vulgarmente conhecida como “aproximação linear simples”, é a medida mais correta a adotar em projetos de gestão de obra. Há no entanto que realçar que, de acordo com [5], a correta utilização da função linear em problemas de planeamento e controle do fator custo necessita que sejam verificados alguns pressupostos: • É fundamental que seja possível diminuir continuamente o tempo de realização de cada atividade à custa de um aumento do valor do custo direto que lhe corresponde; • Para cada atividade, é fundamental assegurar a convexidade da curva obtida através da representação do custo direto em função da duração; • É admissível considerar uma aproximação linear da curva custo-duração. Os autores entendem que para a finalidade do trabalho desenvolvido é tolerável que se adote esta medida pelo que a relação entre o custo direto e a duração de cada atividade será representada pelo segmento de reta, ilustrado na figura 2. Pelo fato de sabermos que o custo direto se relaciona de forma linear com a duração do projeto podemos dizer: Caso a duração da atividade em análise possa ser comprimida ou alargada, a representação do custo direto de cada atividade em função da duração possui sempre um valor mínimo, obtido quando a simulação de custos é feita tendo por Figura 2: Relação linear adotada base o valor da duração retardada e um valor máximo conseguido através da simulação baseada na duração acelerada de cada atividade. Em linguagem matemática pode-se dizer: Assim sendo sabemos que a função linear que representa a variação do custo direto com o tempo de execução de cada atividade varia dentro de um limite de tempo [ ]. Pode-se então calcular a expressão analítica que, para cada atividade constituinte do projeto, caracteriza a relação linear adotada: Assumindo que e que Ki=Ci - Si* Di , obtemos uma simplificação da fórmula acima: Note-se que esta expressão só faz sentido para atividades cuja duração possa ser reduzida ou alargada uma vez que caso uma atividade tenha uma duração fixa (o seu tempo de execução não pode variar dentro de um intervalo admissível), obtem-se a igualdade . Consequentemente não existe nenhuma variação nos custos pelo que . Logo (ou ). Assim sendo, atividades cuja duração seja um valor fixo e conhecido tem duração ótima ( ) conhecida, igual a (ou ) e o seu custo é obtido pelo produto de pela sua duração . Generalizando pode-se concluir que o custo direto de cada atividade é obtido pela fórmula: Custo Direto Total O custo direto total do projeto, CDT, caracteriza-se como sendo a soma do custo direto total de cada atividade constituinte do projeto. Assim sendo pode-se concluir que: De acordo com [5], para que se obtenham resultados que façam sentido em projetos de construção civil é necessário que se verifiquem algumas propriedades. Antes de enunciar as propriedades exigidas para o bom funcionamento do modelo em construção comecemos por enunciar alguns conceitos e notações. • Seja n o número total de atividades do projeto e o conjunto representativo de cada uma dessas atividades. À primeira vista pode parecer que o conjunto varia dentro do intervalo [1,n], no entanto, em Investigação Operacional é usual que se considerem duas atividades fictícias: a atividade inicial, representada por “0” e a atividade final, “n+1”. Dito isto o leitor poderá aperceber-se que o conjunto de todas as atividades é representado por ; • Designe-se por T o tempo limite imposto para a duração total do projeto; • representa o conjunto das precedentes de uma atividade específica i. Antes que se prossiga para a finalização do modelo que calcula o custo global direto mínimo é necessário relembrar que, de acordo com [5], em projetos de Engenharia Civil cada atividade tem associada uma duração, bem como um tempo de entrega. O tempo de entrega pode tomar valores positivos, negativos ou nulos, dependendo das especificidades e da sequência das atividades. Este representa a antecipação (valor negativo) ou o atraso (valor positivo) com que determinada atividade se pode iniciar, relativamente à data de conclusão da sua antecedente. Esta entidade é específica de cada par de atividades antecedente – subsequente. Estamos agora em condições de enunciar quais as restrições que se devem impor ao modelo de forma a garantir que os resultados obtidos com a sua aplicação façam sentido em projetos de gestão de obra. 1. O valor da duração ótima de cada uma das atividades constituintes do projeto não pode exceder o seu limite máximo (duração retardada) nem ficar abaixo do seu limite mínimo (duração acelerada). } 2. O instante em que se inicia uma atividade não pode ser inferior ao instante de início das atividades que lhe precedem somado da sua duração total. Desta forma consegue-se que as relações de precedência impostas pela natureza do projeto não sejam violadas. Repare-se que de acordo com a definição de tempo de entrega anteriormente enunciada, a duração total de uma atividade é dada pela soma da sua duração com o tempo de entrega que lhe está associado. 3. O prazo ótimo encontrado para a conclusão do projeto não poderá exceder o tempo limite previsto. 4. Por fim tem-se as restrições de sinal. Isto porque o valor encontrado para o instante de início e duração de uma determinada atividade constituinte do projeto tem de ser não negativo. } } Dito isto estamos em condições de apresentar um modelo de Programação Linear que consiga dar informação relativa ao tempo ótimo de duração de cada atividade e dar indicação de qual o instante em que cada uma delas se deve iniciar de forma a minimizar o custo de execução da empreitada, não excedendo o limite máximo de tempo imposto para o projeto. Propõe-se a seguinte formulação: s.a: } } } É de realçar que este modelo está essencialmente vocacionado para Projetos de Engenharia Civil uma vez que a sua construção foi baseada em características específicas de projetos de gestão de obra. 2.2. Análise da variação do custo indireto O modelo sugerido considera que o custo indireto total, CIT, de execução de uma empreitada é composto pelo somatório das seguintes parcelas – custo de estaleiro, penalizações ou prémios por atrasos ou entregas antecipadas e valor de imagem. A estas três parcelas poderse-á ainda adicionar uma quarta correspondente aos juros dos créditos bancários atribuídos ao financiamento da execução da empreitada. No que se refere aos custos de estaleiro estes correspondem usualmente a cerca de 5% do valor global da empreitada. Deste modo, o custo diário a atribuir ao estaleiro é conseguido através do produto da percentagem que lhe corresponde pelo valor global da empreitada, dividido pela sua duração, . Assim sendo, face a um orçamento que englobe os custos de estaleiro, por cada dia de antecipação na entrega da obra ter-se-á um prémio (ou um custo negativo) de Inversamente, por cada dia de atraso ter-se-á um custo adicional por encargos de estaleiro igual ao montante já indicado. Relativamente aos prémios ou penalizações por entrega antecipada ou retardada da obra, de acordo com a legislação portuguesa está prevista uma penalização de 1 por mil do valor global da empreitada por cada dia de atraso. De modo conservador, consideramos um prémio de 0,20 por mil por cada dia de antecipação do prazo de entrega da obra. No caso de haver um atraso, consideramos uma penalização de 0,75 por mil por cada dia de incumprimento. Ao valor de imagem corresponde a parcela mais complicada de quantificar, por entrar no domínio da apreciação de aspetos intangíveis, tais como a resposta do mercado em relação ao desempenho anterior da empresa, o grau de satisfação da clientela e a propaganda informal, positiva ou negativa, efetuada por esta. Dentro do domínio do que se pode considerar razoável, de acordo com [5], propomos que a penalização ou o prémio seja correspondente a metade do estipulado para o caso da antecipação das entregas. Da soma dos três custos indiretos descritos resulta uma função com dois troços lineares com declive positivo em ambos. A equação dessa reta será: onde V representa o valor global da empreitada para a sua duração normal, d representa a duração normal da empreitada e t a duração da empreitada considerando a aceleração ou o retardamento das atividades. 2.3. Custo total mínimo O custo total de um projeto é dado pela soma de todos os custos existente ao longo da realização do projeto. Como definido anteriormente, para a realização de um projeto de gestão de obra os custos foram separados em dois tipos: custos diretos e custos indiretos. Assim sendo pode-se verificar que o custo total do projeto é dado pela soma dos custos indiretos com os custos inerentes à execução das atividades que o constituem (custos diretos). Deste modo, o custo total da empreitada será obtido, em função do tempo, pela expressão: Custo Total (t) = CDT(t) + CIT(t) Figura 3- Relação entre duração e custos totais de um projeto A representação dos custos diretos e custos indiretos em função do tempo de execução do projeto normalmente tem o aspeto do apresentado na Figura 9. Com esta representação é ainda possível observar a variação da curva de custos totais. O valor da duração para o qual o custo total é mínimo é a duração ótima do projeto quando se tem por objetivo a minimização de custos. Frequentemente o tempo que corresponde ao custo total mínimo é inferior ao que corresponde ao custo direto mínimo. 3. Caso prático No Caso de Estudo, apresenta-se a análise de um caso prático que incidirá sobre um edifício a executar, destinado a Lar de Idosos, com uma área de construção da ordem de 5000m2 e um custo global de 5,3 M€. Devido ao âmbito da construção analisada na prática, o presente trabalho será fácil de extrapolar para outras empreitadas sujeitas a processos de construção semelhantes, que são os mais comuns em Portugal. Pretende-se encontrar a duração que permite minimizar a soma dos custos diretos e indiretos. Inicialmente determinaram-se as durações mínima e máxima do projeto, recorrendo à utilização conjunta das durações acelaradas e retardadas, enquadrando deste modo os limites da duração do projeto. Esta análise permitiu obter os valores extremos de 552 e 985 dias. Posteriomente, calculou-se a duração ótima para a realização do projeto, considerando apenas o fator tempo, no caso presente, 747 dias. Com estes elementos em mãos estão reunidas as condições para que se possa calcular o custo global direto mínimo do projeto. Para tal é necessário estudar o custo direto e indireto associado à realização da empreitada. Inicialmente será apresentado o estudo do custo referente à realização de cada atividade constituinte do projeto em análise. 3.1. Análise conjunta dos fatores tempo/custo direto No que respeita à função custo geral direto, dada a sua complexidade, optou-se por elaborar o seu cálculo em intervalos de dez dias. Com o auxilio de um software de otimização é possível encontrar diversas planificações de obra, todas elas distintas pelo fato de adotarem tempos de execução diferentes. O resultado fornecido para cada uma dessas simulações é o custo direto total do projeto, a duração ótima de cada atividade face às restrições do problema e a sua data de início. Deste modo é possível obter uma aproximação da curva descrita e representada no capítulo II, figura 3. Apresenta-se de seguida os dados resultantes do estudo da variação do custo direto em função do projeto de construção do lar de idosos. Tabela 1– Variação do custo direto da empreitada em função da duração Duração (dias) Custo Direto (€) Duração (dias) Custo Direto (€) Duração (dias) Custo Direto (€) 552 562 572 582 592 602 612 622 632 642 652 662 672 682 692 4416665 4306985 4240609 4176381 4124876 4084091 4050260 4018398 3986803 3956580 3928929 3906408 3885266 3866118 3849313 702 712 722 732 742 747 752 762 772 782 792 802 812 822 832 3833238 3817683 3802669 3788472 3774482 3767880 3761281 3748679 3737315 3728008 3719391 3710958 3702525 3694128 3685978 842 852 862 872 882 892 902 912 922 932 942 952 962 972 985 3677881 3670008 3662983 3656074 3649504 3643058 3636819 3631673 3627467 3623991 3620883 3619162 3617557 3616037 3614603 Os resultados acima representados refletem a variação do custo direto da empreitada (em euros) em função da sua duração. Por observação da tabela pode-se verificar que caso o projeto seja finalizado em 552 dias terá associado um custo direto no valor de aproximadamente 4,4M€. Com um prolongamento de 10 dias no prazo de execução do mesmo consegue-se uma redução de 109 mil euros. De forma a facilitar a observação dos resultados, apresenta-se em seguida o gráfico que reflete a variação do custo direto em função da duração do projeto de construção. Figura 4 – Representação gráfica da variação do custo direto associado à execução do projeto de construção do lar de idosos em função da sua duração Como se pode confirmar por observação do gráfico supra indicado, considerando uma análise baseada exclusivamente na variação dos custos diretos, estes tendem a diminuir com o prolongamento da duração do porjeto. Esta função tem primeira derivada negativa e segunda derivada positiva. Isto leva a que se possa afirmar que a partir de certos prazos já não se registe uma diminuição significativa de custos. Pela análise da variação dos custos diretos poderiamos ser levados a pensar que a melhor opção seria prolongar ao máximo a duração da empreitada no entanto, embora o estudo efetuado até ao momento tenha recaído unicamente na observação da variação deste tipo de custos, não devemos ignorar a existência dos custos indiretos. 3.2. Análise conjunta dos fatores tempo/custo indireto Como referido anteriormente os custos indiretos englobam custos de imagem, custos de estaleiro e uma parcela associada a um possível prémio ou penalização. Com base nas fórmulas indicadas em 2.2 obtiveram-se os valores esquematizados na tabela abaixo: Tabela 2- Variação das diversas parcelas do custo indireto da empreitada em função da duração Dur. Prémio/ Penalização 552 562 Dur. Prémio/ Penalização -206842,052 176362,08 -103421,03 702 -47732,7812 224286,56 -23866,391 842 377884,5174 269016,08 50384,602 -196234,767 179557,05 -98117,383 712 -37125,4965 227481,53 -18562,748 852 417661,8351 272211,04 55688,245 572 -185627,482 182752,01 -92813,741 722 -26518,2118 230676,49 -13259,106 862 457439,1527 275406,01 60991,887 582 -175020,198 185946,98 -87510,099 732 -15910,9271 233871,46 -7955,4635 872 497216,4703 278600,97 66295,529 592 -164412,913 189141,94 -82206,456 742 -5303,64235 237066,42 -2651,8212 882 536993,7879 281795,94 71599,172 602 -153805,628 192336,91 -76902,814 747 612 -143198,343 195531,87 -71599,172 752 19888,65881 240261,39 2651,8212 902 616548,4232 288185,87 82206,456 622 -132591,059 198726,84 -66295,529 762 59665,97644 243456,35 7955,4635 912 656325,7408 291380,83 87510,099 632 -121983,774 201921,81 -60991,887 772 99443,29406 246651,32 13259,106 922 696103,0584 642 -111376,489 205116,77 -55688,245 782 139220,6117 249846,28 18562,748 932 735880,3761 297770,76 98117,383 652 -100769,205 208311,74 -50384,602 792 178997,9293 253041,25 23866,391 942 775657,6937 300965,73 103421,03 -45080,96 802 218775,2469 256236,21 29170,033 952 815435,0113 304160,69 108724,67 672 -79554,6353 214701,67 -39777,318 812 258552,5646 259431,18 34473,675 962 855212,3289 307355,66 114028,31 682 -68947,3506 217896,63 -34473,675 822 298329,8822 262626,15 39777,318 972 894989,6466 310550,62 119331,95 692 -58340,0659 832 338107,1998 265821,11 45080,96 985 946700,1595 314704,08 126226,69 662 -90161,92 Custo de estaleiro 211506,7 221091,6 Custo de Imagem -29170,033 0 Custo de estaleiro 238663,91 Custo de Imagem 0 Dur. Prémio/ Penalização 892 576771,1056 Custo de estaleiro 284990,9 294575,8 Os resultados apresentados na tabela 2 refletem a variação do custo indireto da empreitada uma vez que este é obtido através da soma das três parcelas acima indicadas. Dado que através da otimização do fator tempo se obteve o prazo ótimo de realização da empreitada de 747 dias, o valor do prémio/penalização e do custo de imagem é nulo nesse periodo de tempo. Segue-se a apresentação dos resultados obtidos para a variação do custo indireto da obra em estudo. Custo de Imagem 76902,814 92813,741 Tabela 3– Variação do custo indireto da empreitada em função da duração Duração (dias) Custo Indireto (€) Duração (dias) Custo Indireto (€) Duração (dias) Custo Indireto (€) 552 562 572 582 592 602 612 622 632 642 652 662 672 682 692 -133900,99 -114795,1 -95689,21 -76583,318 -57477,425 -38371,533 -19265,641 -159,74826 18946,144 38052,036 57157,929 76263,821 95369,713 114475,61 133581,5 702 712 722 732 742 747 752 762 772 782 792 802 812 822 832 152687,39 171793,28 190899,17 210005,07 229110,96 238663,91 262801,87 311077,79 359353,72 407629,64 455905,57 504181,49 552457,42 600733,35 649009,27 842 852 862 872 882 892 902 912 922 932 942 952 962 972 985 697285,2 745561,12 793837,05 842112,97 890388,9 938664,82 986940,75 1035216,7 1083492,6 1131768,5 1180044,4 1228320,4 1276596,3 1324872,2 1387630,9 De forma a facilitar a interpretação dos resultados foi gerado um gráfico ilustrativo da variação dos custos indiretos com a duração do projeto. Variação de Custos Indirectos Custos indirectos (€) 1500000,00 1000000,00 500000,00 0,00 0 -500000,00 200 400 600 800 1000 1200 Duração (dias) Figura 5 – Representação gráfica da variação do custo indireto associado à execução do projeto de construção do lar de idosos em função da sua duração Como se pode observar, à medida que se prolonga o prazo de execução da obra assiste-se a um aumento do valor dos custos indiretos. O gráfico que os representa é composto por dois troços retos, ambos com declive positivo. Regista-se que no caso do primeiro troço, correspondente às menores durações totais, o declive é menor que no segundo. Esta conclusão leva a que se verifique que a opção de prolongar ao máximo a duração da empreitada só traria benefícios ao estudo dos custos diretos pelo que possivelmente não seria a mais indicada. 3.3. Prazo ótimo para a conclusão do projeto Como referido no sub-capítulo 2.3, o custo total do projeto é dado pela soma dos custos diretos e indiretos. Conforme explicitado, os primeiros diminuem com a redução do ritmo de trabalho ao passo que os segundos beneficiam de uma política de execução da empreitada no prazo mais curto possível. Até ao momento foram obtidas as variações dos referidos custos para cada um dos intervalos de tempo considerados. Com base nestas informações conseguese estimar o custo total da empreitada. Os resultados obtidos encontram-se esquematizados abaixo sob forma de tabela e gráfico: Tabela 4 - Variação do custo total em função da duração do projeto de constução do lar de idosos Duração (dias) Custo Real (€) Duração (dias) Custo Real (€) Duração (dias) Custo Real (€) 552 562 572 582 592 602 612 622 632 642 652 662 672 682 692 4282764,3 4192190,3 4144919,3 4099798 4067398,7 4045719,1 4030994 4018238,4 4005749,4 3994631,8 3986086,7 3982671,6 3980636 3980593,4 3982894,1 702 712 722 732 742 747 752 762 772 782 792 802 812 822 832 3985925,3 3989476 3993568,5 3998477 4003592,6 4006544,3 4024082,9 4059757,1 4096669,2 4135638,1 4175296,4 4215139,2 4254982,1 4294861,7 4334986,8 842 852 862 872 882 892 902 912 922 932 942 952 962 972 985 4375165,8 4415569,3 4456819,7 4498186,6 4539893,3 4581722,5 4623760,2 4666889,5 4710959,7 4755759 4800927,4 4847482,4 4894153,6 4940909,3 5002234 Figura 6 – Representação da variação do custo real associado à execução do projeto de construção do lar de idosos em função da sua duração Pela observação dos resultados resulta que o prazo ótimo de execução do projeto de construção do lar de idosos é de 682 dias, estando este termo associado a um custo total de 3.98 M€. 3. Conclusões Tendo por base o desenvolvimento teórico efetuado, assim como a aplicação concreta num caso prático, concluímos o seguinte: • É importante a primeira abordagem à programação da obra, considerando apenas os custos diretos e a otimização do fator tempo, por permitir balizar o problema de otimização do fator custo; • A abordagem subsequente que se efetua considerando os custos indiretos, proporciona a obtenção de um prazo ótimo com um custo inferior ao inicial; • A aplicação desta metodologia permite no caso em análise uma redução de cerca de 20% da totalidade dos custos diretos e indiretos, assim como a redução do prazo em cerca de 7% da duração inicialmente prevista. Como desenvolvimento deste artigo propõe-se a aferição exata dos extremos máximos e mínimos da duração e custo de cada atividade, bem como a junção à estrutura de custos dos encargos bancários e dos demais custos administrativos não imputáveis à obra. 4. Referências Bibliográficas [1] A. Chassiakos, S. Sakellaropoulos, “Time-Cost Optimization of Construction Projects with Generalized Activity Constrainsts”, Journal of Construction, Engineering and Management, Volume 131, pp 1115-1124, 2005. [2] J. Antill; R. W. Woodhead, “Critical Path Methods in Construction Practise”, Edições . John Wiley & Sons, 1990. [3] J. L. Ordóñez, “Planificação de Obras”, Edições Técnicas Plátano , 1999. [4] J. Santos; P. Scmidt; P. Pinheiro, M. Nun, “Fundamentos de Contabilidade de Custos – volume 22”, Edições Atlas, 2006. [5] M. Miranda, “Optimização da Produção em Obra”, Dissertação de mestrado em Gestão de Informação, Faculdade de Ciências da Universidade do Lisboa, 2011. [6] T. Uher, “Programming and Sceguling Techniques”, Edições Unsw Press, 2003. [7] V. S. Roldão, “Gestão de Projectos”, Edições Monitor, 2005. [8] W. Rasdorf; O. Abudayyeh; “Cost and Schedule-Control Integration; Issues and Needs”, Journal of Construction, Engineering and Management, Volume 117, pp 486-502.