DESCOBRINDO OS SONS E OS MOVIMENTOS DO MUNDO: PARA ALÉM DAS RODAS DE MÚSICA “Silêncio é um recipiente dentro do qual é colocado um evento musical. Por este motivo há a necessidade de preparar um ambiente adequado para as crianças vivenciarem todos os parâmetros da música. É a partir do silêncio, tanto externo quanto interno, que a música e toda a sua gama de intensidade é apreciada e produzida.” Murray Schafer A música é um importante elemento na vida do ser humano. Através dela podemos desenvolver inúmeros aspectos relacionados à nossa aprendizagem, além de propiciar a interação e a socialização. É indiscutível sua relevância e por isso precisamos ampliar as possibilidades de planejar os momentos dedicados à música para as crianças. Contudo, encontramos dificuldades para integrar a linguagem musical ao contexto educacional. Existe uma defasagem entre o trabalho realizado na área de Música com relação aos demais campos de experiência, evidenciada pela realização de atividades de reprodução e imitação em detrimento de atividades voltadas à criação e à elaboração musical. Nesses contextos, a música é tratada como se fosse um produto pronto, que se aprende a reproduzir (prioritariamente nas rodas de música), e não como uma linguagem cujo conhecimento se constrói. De acordo com o RCNEI, essas questões devem ser consideradas ao se pensar na aprendizagem, pois o contato intuitivo e espontâneo com a expressão musical desde os primeiros anos de vida é importante ponto de partida para o processo de musicalização. Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mãos, etc, são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem a necessidades de expressão que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva. Aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados. A linguagem musical tem estrutura e características próprias, devendo ser considerada como: Produção — centrada na experimentação e na imitação, tendo como produtos musicais a interpretação, a improvisação e a composição; Apreciação — percepção tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e organizações musicais, buscando desenvolver, por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e reconhecimento; Reflexão — sobre questões referentes à organização, criação, produtos e produtores musicais. Foi pensando em todos esses aspectos que resolvemos reestruturar as rodas de música, possibilitando às crianças experiências inovadoras e significativas. Assim, então, nasceu o projeto “Descobrindo os sons e os movimentos do mundo: para além das rodas de música”. Esse projeto funciona em formato de oficinas, no período da tarde, em caráter de carga suplementar. As oficinas têm duração de 50 minutos e todos os grupos participam (do Berçário ao Grupo 3, ou seja, crianças de 0 a 3 anos de idade). As oficinas são planejadas pela professora e têm algumas características como, por exemplo, a marcação do início com uma música de acolhimento e a finalização com a música de relaxamento. O repertório musical tem como critério de escolha a apreciação e o contato com músicas que ainda não fazem parte do cotidiano da criança, pois assim estaremos ampliando seu universo musical e possibilitando um leque amplo de opções. Os materiais utilizados durante as oficinas também são diversificados (tecidos, baldes, tampas, fitas, instrumentos musicais tambor, chocalho, sino, claves, entre outros –, pau de chuva, colher de pau, panelas de alumínio, tocos de madeira, chaves). Ora esses materiais são explorados livremente pelas crianças, ora a professora sugere movimentos e buscam, juntos, sons e movimentos novos possíveis de serem descobertos com os materiais. O corpo também é um excelente instrumento e produz sons incríveis. Diante disso, as crianças são incentivadas a descobrirem a sonoridade corporal e as possibilidades que o corpo tem de produzir música. Nesse sentido, o grupo “Barbatuques” auxilia muito a professora e as crianças. A construção de instrumentos com materiais alternativos também fazem parte das oficinas, como, por exemplo, violão com caixa de sapato, flauta d’água e zamponas com canos de PVC. Pensar, planejar e colocar o projeto em ação possibilitou à equipe uma reflexão sobre a grande potência da música no desenvolvimento das crianças e suas infinitas possibilidades. Poder participar da Primeira Semana de Educação Infantil e socializar com os educadores o nosso projeto nos fez perceber a grandiosidade da proposta e reforçou nossa ideia de que o caminho para uma educação de qualidade, digna das crianças, é uma busca e um esforço em conjunto que têm resultados surpreendentes. EMEB ANTONIO BRUNHOLI NETTO Diretora Thaís Silva Nonô Coordenadora Pedagógica Fabiane Lucia Pinto Bolsari Professora Veronica Jesus Varela