A Ética e os Meios de Comunicação Social A sociedade contemporânea é muito marcada pelos meios de comunicação social (MCS), sendo assim é possível a afirmação de frei Carlos Josaphat1: “a mídia é como o cérebro da humanidade”2. Nesse sentido surge o apelo à ética dentro desse universo que envolve as famílias cristãs, ou não. Falar de ética parece um tanto abstrato, pois aparenta ser uma palavra vazia, então para melhor compreensão da ética vamos tentar, de forma sintática, explicitá-la. No dicionário etimológico se dá a seguinte definição: ramo de conhecimento que estuda a conduta humana, estabelecendo os conceitos do bem e do mal, numa determinada época. Do latin ethica. A ética também é entendida e interpretada com os moldes dos filósofos, teólogos e outros estudiosos das ciências humanas. Seu estudo é muito antigo, portanto, a preocupação com a ética não é uma questão apenas da nossa época, ou seja, o assunto ética é muito abrangente e há também muitas leituras que podem ser realizadas. Existe um pensador, lituano, chamado Emmanuel Lévinas que por sinal completa neste ano seu centenário. Ele trabalha muito bem a questão da ética. A ética é como um móvel por excelência da filosofia. A ética para ele não é um código moral, ou seja, uma lei imposta, mas uma forma de mandamento, em estilo ou apelo pessoal. O sujeito da ética é o outro, é muito forte no pensamento de Lévinas a alteridade, enfim esse relacionamento com o outro. Em seu pensamento há uma crítica à filosofia tradicional do ocidente que se dá como uma razão desmedida, auto-suficiente e violenta contra o outro. Esta ética defendida por Lévinas encontra respaldo em Jesus Cristo, pois diz o Senhor: “eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros...” (Jo 13,34). A ética é esse amor pelo outro. Pode-se entender a ética como uma relação respeitosa dentro dos grupos sociais como, por exemplo, as famílias. Usando do filósofo e teólogo Leonardo Boff a ética do humano deve ser uma ética universal que atinja a todos os seres da terra e a própria Mãe terra em união com todo o cosmos. Esse conceito de ética que se defende nas idéias acima é muito rico, pois envolve o ser humano não como o centro, mas como um dos nós da grande relação do universo. Porém há no meio de comunicação social (MCS) essa preocupação ética com o outro? Essa é uma interrogação muito pertinente, mas antes de se dar resposta a ela é necessário se entender o que são os MCS. Os MCS são mecanismos que foram surgindo com o decorrer da humanidade com fins de possibilitar a comunicação entre os seres humanos, pode-se dizer que surgem com os primeiros traços feitos pelos homens pré-históricos (das cavernas) e chega até nós hoje com a facilidade do celular, da internet. São vários os MCS: cartas, revistas, jornais, rádio, tv. Os MCS, hoje, “constituem uma característica essencial da sociedade globalizada”.3 Para se entender a atual situação do mundo uma questão fundamental é entender os MCS, Pois é por meio deles que são distribuídos entre os povos e de modo específico entre os dominados 1 Dominicano muito conhecido no cenário religioso por desempenho profético no período da ditadura, e também por sua inserção no campo social. Durante um período de 27 anos lecionou na Universidade de Friburgo, na Suíça. 2 Revista Família Cristã. Ano 72. n°845. p. 5 3 Agenda Latino-Americana Mundial 2006.p. 156-157. Texto completo em: http://latinoamericana.org/2006/textos as idéias do capitalismo ou neoliberalismo, logo é por meio da mídia que temos alienação de todo um povo que fica preso a um processo de mesmice não buscando uma transformação de cunho ético. Os meios de comunicação social são canais de venda, mas, sobretudo de vendas de produtos que não possuem tanta utilidade, contudo com o auxilio da mídia parecem se tornar necessidades básicas indispensáveis aos consumidores. São tão fortes que passam a competir com a família, com a escola e as religiões. No processo socializador do individuo transmitindo ao imaginário coletivo a dominação capitalista. Segundo, Alberto da Silva Moreira4, isto tem conseqüências na cultura onde a mesma corre o risco de ser formatada pela mídia; na educação na qual o neoliberalismo que é o detentor da mídia tenta transformar em uma produtora de mão de obra para as empresas; na política onde muitos políticos se convertem em figuras midiáticas e por fim na religião que se transformou em espetáculo teatral para o consumo das massas. Afirma também Alberto que nem todos os programas são ruins, ou que tudo seja negativo. As pessoas não engolem tudo o que vêem e assistem. Há ainda um senso crítico. Esse é um pouco do meio de comunicação social na atualidade. Agora fica fácil responder à pergunta se há preocupação com o outro no meio de comunicação social. Frei Carlos Josaphat diz que: A maneira como nos relacionamos é marcada pela influencia da mídia e, por isso, precisamos ter uma mídia que seja necessariamente ética, que dê as informações sobre os problemas e informe o povo brasileiro sobre as grandes questões do Brasil. Mas o que vemos atualmente são alguns oligopólios, algumas grandes empresas dominando financeiramente o sistema de comunicação. Por isso, a luta hoje é fazer um jornal que venda... Há influencia do poder econômico tão grande sobre os meios de comunicação que hoje só se publica uma notícia se ela vir ao encontro das expectativas dos consumidores da mídia.5 Mas isso não deve desanimar aqueles que acreditam na libertação do homem, pois há esperança e muitas propostas que mudam a cara dos MCS. Uma outra comunicação social é possível ela traz alguns pontos específicos como a “transparência, a critica, a solidariedade, o acesso democrático à cultura e a informação”. Há muitos exemplos disso que já acontece como centros de mídia independente, projetos em universidades e escolas, movimentos sociais.6 No ambiente familiar é bom que os pais ensinem aos filhos como se portar perante aos convites da mídia, e fazer com que as crianças entendam que a mídia não é a dona da verdade e também não oferece a verdade plena. As famílias devem entender que os MCS são bons instrumentos quando bem usados, quando utilizados com ética. Aponta Josaphat que os MCS não podem deixar de abordar o que está se passando no cenário político, econômico e social, mas de forma verdadeira. Esse é um pouco do embate entre ética e comunicação social. Como conclusão é pertinente o que diz Josaphat: 4 Nascido em Anápolis – Goiás. Estudou teologia e filosofia com os franciscanos, trabalhou com a pastoral da terra na região do Araguaia-Tocantins. 5 Revista Família Cristã. Ano 72. n°845 6 Agenda Latino-Americana Mundial 2006. “Considero a ética na comunicação como sendo a necessidade urgente para resolver os problemas atuais enfrentados pelas famílias, pela política e pela economia”. Autor: Jerry Adriano Villanova Chacon Para aprofundar: Revista Discutindo filosofia. Ano 1. n°4. Revista Família Cristã. Ano 72. n°845 Agenda Latino-Americana Mundial 2006. Saber Cuidar: Ética do Humano – compaixão pela terra. Leonardo Boff. Petrópolis, Vozes, 1999.