Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL PROJECTO DE DISSERTAÇÃO Título Concepções alternativas em Ciências - Diferenças e semelhanças entre alunos com e sem necessidades educativas especiais - Tema Concepções alternativas em Ciências Palavras Chave ensino das ciências, aprendizagem significativa, concepções alternativas, necessidades educativas especiais, dificuldades de aprendizagem, inclusão Identificação do aluno Nélia Maria Melo da Rosa né[email protected] Email Contacto telefónico A preencher pela Coordenação Data de entrega Tutor Atribuído Contactos do tutor 965726935/912686281 Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL RESUMO O avanço da tecnologia levou a mudanças na sociedade e, consequentemente, na escola. A introdução do ensino das ciências e a generalização da “escola para todos” foram duas das mudanças que se têm imposto na escola dos dias de hoje. Para um ensino de qualidade, seja das ciências ou de outra área curricular, torna torna-se pertinente ter em atenção as ideias prévias, prévias mesmo que erradas, dos alunos e usá usá-las las de forma a promover uma mudança conceptual e uma aprendizagem significativa. As concepções alternativas em ciências resultam da interacção da criança com a natureza e da sua interpretação de um dado fenómeno natural. Verifica-se se que muitas destas concepções alternativas vão ao encontro das ideias já referenciadas na História e Fil Filosofia osofia da Ciência. Atendendo às suas particularidades, pretende-se se com este estudo verificar se as concepções alternativas dos alunos com necessidades educativas especiais (NEE (NEE) diferem ou não das dos seus pares. Pretende-se igualmente verificar se os alunos alunos com NEE substituem as suas ideias prévias pelos modelos cientificamente correctos com a mesma facilidade que os seus pares. pares. Com este estudo, espera-se se contribuir para uma melhor adequação do ensino das ciências, ciências, em particular, aos alunos NEE e motivar a utilização do d ensino das ciências como um instrumento para a promoção da igualdade dentro da sala de aula e, consequentemente, da inclusão dos alunos com NEE. ABSTRACT The advance of technology has imposed changes in society and, consequently, in school. The introduction of science teaching and the generalization of "school for all" were two of the changes that have been imposed in today's school. For a quality education, either of sciences or other curricular area, it becomes relevant to take into into account student’s prior ideas, even if wrong, and use them to promote a conceptual change and significant learning. Alternative conceptions in sciences result from the interaction of children with nature and their interpretation of a specific natural phenomenon. phenomenon. It appears that many of these alternative conceptions meet the ideas already mentioned in History and Philosophy of Science. In view of its peculiarities, it is intended with this study to verify if alternative conceptions of students with special speci educational needs (SEN) differ or not from those of Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL their peers. This study also intends to verify if the students with SEN replace their alternative conceptions for the correct scientific concepts as easily as their peers. This study hopes to contributee for an improvement in the science teaching specially for the students with SEN and motivate the use of the science teaching as a tool for promoting equality within the classroom and hence the inclusion of pupils with SEN. JUSTIFICAÇÃO DO PROJECTO – Relevância Científica e Social da temática e problemas a abordar O desenvolvimento da ciência e da tecnologia, nos últimos 150 anos, permitiu, de uma maneira geral, uma melhoria significativa da qualidade de vida. Este factor promoveu uma mudança na sociedade, edade, tanto no domínio económico como no político. A escola, como instituição que serve a sociedade, também foi acometida de diversas modificações que se impuseram devido à mudança de mentalidades. Uma das mudanças mais significativas no contexto escolar foi a generalização da escolaridade para todos. Assim, um recurso antes tes restrito apenas a uma elite passou a ser acessível a (quase) todos. Quase, porquê? Efectivamente a educação para todos não surgiu simultaneamente com a obrigatoriedade da escolaridad escolaridade. e. Os alunos com necessidade educativas especiais (NEE), até há não muito tempo, eram mantidos em escolas ou turmas especiais, o que não promovia a inclusão. É certo que todas as crianças aprendem também com os seus pares, incluindo os alunos com NEE. Assim, Assim, esta mudança, que ainda assola as escolas portuguesas, continua a ser pertinente. Outra mudança significativa na escola foi a introdução do ensino das ciências ciências. Atendendo ao bombardeamento nos últimos anos, anos quase contínuo, de novas tecnologias e de novo novos conhecimentos científicos, a sociedade, muito por força dos sectores económicos e políticos, reconheceu a importância da ciência nos dias de hoje. A Declaração de Budapeste (1999, citada em Ovigli & Bertucci, 2009) sublinha a necessidade do ensino das ciências: “Para que um país esteja em condições de atender às necessidades fundamentais da sua população, o ensino das ciências e tecnologia é um imperativo estratégico […]. Hoje, mais que nunca, é necessário fomentar e difundir a alfabetização científica em todas as culturas e em todos sectores Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL da sociedade.” A responsabilidade da alfabetização científica recaiu assim sobre a escola que reforçou o seu papel na formação de indivíduos socialmente responsáveis e activos activos, já que a alfabetização científica facilita lita a tomada de decisões sustentadas. O reconhecimento da importância do ensino das ciências permitiu que este ganhasse terreno nos os currículos escolares e deixasse de se resumir aos ciclos mais avançados. No entanto, o sucesso do ensino das ciências depende depende de muitos factores sendo o mais importante a forma como o professor explora as questões da ciência. A perspectiva generalizada, em Portugal e não só, só é a exploração dos conteúdos recorrendo à conexão ciência-tecnologia-sociedade-ambiente ambiente (CTSA). Além disso, sso, é importante que os professores não esqueçam que, devido ao contacto com a sociedade e a natureza, os alunos já adquiriam concepções empíricas sobre os fenómenos naturais que observam. Essas concepções muitas vezes não correspondem ao significado científico tífico correcto sendo, nestes casos, designadas por “concepções alternativas”. Estas ideias prévias afectam a aprendizagem dos alunos, alunos, exigindo desconstrução e reconstrução de conceitos e conexões, pelo que é pertinente que o professor as conheça e que construa nstrua o seu ensino de forma a conduzir a uma mudança conceptual e, consequentemente, a uma aprendizagem significativa. Esta conexão entre as concepções alternativas e os métodos de ensino está explícita no alerta de Duarte e Faria (1992, citado em Alves, 2005), que afirmam m que é necessário “ouvir uvir as crianças, de modo a compreender e valorizar as ideias que elas levam para as aulas de ciências. Só depois de conhecerem estas ideias poderão decidir o que fazer e como fazer o seu ensino”. ensin Os alunos com NEE, à semelhança dos restantes, estão em contacto com os fenómenos naturais e também auferem das vantagens e desvantagens do desenvolvimento científico e tecnológico. Sendo assim, é igualmente pertinente promover a alfabetização científica destes estes alunos de acordo, obviamente, com as suas limitações. Neste sentido os professores devem também ter em conta as concepções alternativas destes alunos. Mas será que as ideias prévias destes alunos diferem significativamente das dos alunos que Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL não apresentam esentam dificuldades de aprendizagem? O objectivo deste trabalho é verificar se efectivamente as concepções alternativas sobre determinados conceitos de Física diferem significativamente entre alunos, dependendo das suas capacidades de aprendizagem. Nesta perspectiva, pretende-se se igualmente averiguar se os alunos com NEE substituem as suas ideias prévias com a mesma facilidade que os alunos sem NEE. Espera-se se que os resultados obtidos levem a uma reflexão sobre a forma como o ensino das ciências é desenvolvido,, em particular junto dos alunos com NEE, NEE e que esta reflexão possa contribuir para uma melhor adequação do ensino das ciências e motivar a utilização do ensino das ciências como um instrumento para a promoção da igualdade dentro da sala de aula e, consequentemente, da inclusão dos alunos com NEE. REVISÃO DA LITERATURA - Desenvolvimento actual a do Tema 1. A escola inclusiva A aceitação das pessoas com deficiência por parte da sociedade foi, ao longo do tempo, evoluindo positivamente. No entanto, esta mudança foi e está ser lenta em muitos sentidos. Desde da segregação que inicialmente acontecia até a inclusão de pessoas com ddeficiência na sociedade passaram-se se muitos anos e a plena inclusão ainda não aconteceu. A inclusão dos indivíduos com deficiência na sociedade parte, em muito, pela sua inclusão no ensino. É no contexto escolar que se podem mudar muitas mentalidades e, consequentemente, nsequentemente, melhorar a sua aceitação por parte da sociedade. Além disso, todos têm direito a uma educação com qualidade. 1.1. O ensino especial em Portugal O acesso à educação em Portugal de crianças cria com deficiência iniciou-se apenas após 1860. A partir desta data, começam a surgir diversas instituições vocacionadas para o ensino de Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL crianças com necessidades educativas especiais, ora devido a deficiências permanentes, tais como cegueira e surdez, ora devido a problemas de comportamento graves. Em 1947, surge urge a primeira classe específica para alunos com dificuldades de aprendizagem. Se por um lado há o reconhecimento desta necessidade educativa educativa especial, por outro lado a selecção dos alunos com base em testes de inteligência leva à multiplicação de escolas e de classes especiais especiais, promovendo uma segregação curricular. Esta situação, no entanto, encontrava-se encontrava se fundamentada por critério de natureza médico médicopedagógica sob a orientação técnica do Instituto António Aurélio da Costa Ferreira, e legalmente prevista no Decreto-Lei Decreto nº 35401, de 27 de Dezembro de 1945. Embora houvesse a preocupação política de actualizar a regulamentação do seu funcionamento, a educação especial especial continuou a ser tratada como um sistema paralelo à educação geral até aos anos oitenta. As primeiras práticas educativas integradoras, da responsabilidade da Direcção Geral da Assistência (Ministério dos Assuntos Sociais), datam de 1960 e limitaram-se se aos portadores de deficiência visual integrados em escolas secundárias e preparatórias. O alargamento às escolas primárias aconteceu apenas em 1970 e já com a colaboração do Ministério da Educação. A Direcção Geral da Assistência também foi responsável pela la organização de cursos de especialização de professores na área do ensino de deficientes auditivos e de deficientes visuais. Com a Lei nº45/73 de 12 de Fevereiro foi alcançado um marco histórico para o ensino especial em Portugal, já que permitia ao Ministério da Educação a criação de departamentos vocacionados para o desenvolvimento do ensino especial. A partir desta data, o Ministério da Educação assume progressivamente as rédeas da educação especial e, com a criação da Divisão do Ensino Especial, assumiu assumiu completamente a tutela do processo educativo das crianças e jovens com necessidades educativas especiais. A Revolução de 25 de Abril de 1974 reforça o papel do Ministério da Educação no campo do ensino especial e acelera o processo das práticas integradoras, integradoras, verificando que “no fim de 1997, 75% dos alunos com dificuldades recebiam a sua educação na escola regular” (Costa & Rodrigues, citados em Serrano, 2005). A concretização da política das práticas Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL integradoras deveu-se se ao reforço do papel da Divis Divisão ão do Ensino Especial e a disponibilização de equipas de ensino especial integrado, em 1976, nos estabelecimentos de ensino. Aliás, a criação destas equipas marcaram profundamente o atendimento aos alunos com NEE, em particular aqueles que, apesar da sua deficiência deficiência sensorial ou motora, conseguiam acompanhar o currículo escolar regular. Infelizmente, tal apoio só se encontrava disponível nas escolas situadas em zonas urbanas. Nos anos oitenta, ocorre a proliferação das Equipas de Ensino Especial Integrado, com a consequência directa do acréscimo significativo do número de alunos apoiados. A Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº46/86, de 14 de Outubro) alarga o atendimento educacional das crianças com necessidades educativas especiais de acordo com o artigo igo 7º que explicita que compete ao sistema educativo assegurar, às crianças com necessidades específicas devidas a deficiências físicas e mentais, “condições adequadas ao seu desenvolvimento e pleno aproveitamento das suas capacidades”. Ao operacionalizar o disposto nesta lei, o Ministério reforça os recursos de apoio às crianças com NEE, verificando uma nova multiplicação das Equipas de Educação Especial, cuja designação substituiu a anterior (Equipas de Ensino Especial Integrado). Os anos noventa são caracterizados acterizados por um movimento que apregoa “a escola para todos” e a política da escola inclusiva sai reforçada. O Decreto-Lei Decreto Lei nº319/91, de 23 de Agosto, vem fortalecer as tendências integradoras da Lei de Bases do Sistema Educativo e introduz o conceito de “necessidades educativas especiais”. Este normativo, claramente influenciado pela Public Law 94-142, 142, aprovada em 1975 pelo Congresso dos Estados Unidos, e o relatório Warnok (1978), de origem britânica, “marca o início de uma nova forma de encarar a resposta ta escolar aos alunos com necessidades educativas especiais” (Serrano, 2005). As medidas propostas por este diploma legislativo têm como prioridade garantir o acesso de todos alunos aos programas do ensino regular, recorrendo a adaptações curriculares e a apoios adequados. A elaboração de programas especiais (currículos escolares próprios e currículo alternativos) é relegada para segundo plano e apenas permitida como último recurso, desde que devidamente fundamentado. A individualização Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL da intervenção educativa, tiva, estabelecida no plano e programa educativo individual, reconhece a necessidade do trabalho em equipa de diversos intervenientes, determinando a responsabilidade da escola mas também a responsabilidade da família na orientação educativa do aluno. Apesar ar de ter algumas limitações, este diploma impôs, com a inovação nas práticas no Ensino Especial, a reflexão sobre a escolarização das crianças com necessidades especiais em Portugal e criou as condições necessárias para a emergência da escola inclusiva (Serrano, 2005). Influenciado pelos princípios da educação inclusiva proclamados na Conferência de Salamanca (1994), o estado português publica o despacho Conjunto Conjunto nº105/97, de 1 de Julho, posteriormente alterado e rectificado pelos Despacho nº10856/2005 de 13 de Maio e Despacho nº1068/2005 de 22 de Junho. Mais recentemente, foi publicada a Lei 3/2008 de 7 de Janeiro, que define os apoios especializados a prestar na educação prépré-escolar e nos ensinos básico e secundário. Atendendo à sua especificidade, a Região Região Autónoma dos Açores possui legislação própria. O Decreto Legislativo Regional nº15/2006/A define actualmente o regime jurídico da educação especial e do apoio educativo. Mais recente é a criação, através da Portaria nº76/2009 de 23 de Setembro, de uma nova nova Unidade Especializada para alunos com paralisia cerebral ou multideficiência. 1.2.Percepção dos professores e dos alunos das classes regulares sobre os alunos com necessidades educativas especiais Existem diversos estudos sobre a percepção e a opinião dos professores sobre a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares. Os resultados destes estudos parecem depender fundamentalmente da formação dos professores e também da sua experiência pessoal e/ou profissional com alunos aluno com NEE. O estudo de Camisão (2004)) concluiu que tanto os professores do ensino regular como os do ensino especial concordam que todos os alunos “têm direito a uma educação na escola Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL regular” e mostram-se se favoráveis à sua inclusão. No entanto, existem di discórdias relativamente à integração a tempo inteiro na sala de aula. Os professores do ensino regular pensam, segundo este estudo, que a sala de apoio é “o local mais adequado ao ensino dos alunos com necessidades especiais”. Além disso, metade dos professores ores inquiridos também é de opinião que “os os alunos sem problemas são prejudicados quando na turma existem alunos com dificuldades de aprendizagem e/ou problemas comportamentais”. comportamentais O estudo de Marcos (2009), realizado a propósito da inclusão de alunos com Tr Trissomia 21, averiguou que os professores de Ensino Especial encontram-se encontram se mais favoráveis à inclusão dos alunos com esta limitação na sala de aula regular. Dentro do grupo de professores do ensino regular inquiridos, verificou verificou-se que os dos ciclos mais avançados çados (2º e 3º ciclos) mostram-se se mais apreensivos quanto à inclusão na sala de aula de alunos com Trissomia 21 que os seus colegas do 1ºciclo. Este estudo também averiguou se a experiência profissional com este tipo de alunos influenciava a percepção relativamente relativamente à inclusão dos alunos com Trissomia 21. Efectivamente, verificou-se verificou se que os professores que já haviam trabalhado com alunos com esta deficiência mostram-se mostram se mais receptivos à sua inclusão dentro da sala de aula. Marcos (2009) também averiguou que os professores, embora a maioria seja apologista da inclusão, demonstram preocupações sobre a forma como a escola está a ser aplicada. Estas preocupações relacionam-se se principalmente com a falta de formação específica, os recursos materiais e humanos das escolas e a constituição das turmas, onde o número excessivo de alunos prejudica a aplicação de metodologias diferenciadas. O Projecto da Avaliação da Educação inclusiva nos Açores (Leitão ( et al al, s/data), cuja recolha dos dados ocorreu no ano lectivo de 2006/2007, concluiu, à semelhança dos estudos supracitados, que a maioria dos professores “apresenta uma atitude de abertura perante a Escola Inclusiva, embora com muitas reservas quanto à sua operacionaliz operacionalização na prática”. Este estudo também questionou sobre a percepção que os professores têm sobre as relações entre os alunos NEE e os seus colegas das classes regulares. Perante os resultados Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL recolhidos, verifica-se se que metade dos professores acha que os alunos alunos sem problemas não aceitam os seus pares com NEE e um quarto dos professores inquiridos até acredita que estes alunos são discriminados pelos colegas sem NEE. Em 2007, um grupo de alunos com necessidades educativas especiais, a frequentarem os ensinos secundário, profissional e superior, reuniram-se reuniram se numa audição parlamentar Young Voices: Meeting Diversity in Education, organizada pelo Ministério da Educação português com a colaboração da Agência Europeia para o Desenvolvimento em Necessidades Especiais de Educação. O documento produzido nesta audição, conhecido como a Declaração de Lisboa – Pontos de vista dos jovens sobre Educação Inclusiva, explanou a opinião destes alunos com NEE sobre a escola inclusiva mas também as dificuldades e preocupações quanto to à sua inclusão social. Este documento refere a falta de conhecimento relativamente à deficiência e aponta igualmente a percepção de atitudes negativas e discriminatórias de professores, dos outros alunos e até de alguns pais. Esta percepção por parte de alunos com NEE mostra que os preconceitos e o desconhecimento face às necessidades educativas especiais constituem dificuldades à construção da escola inclusiva. Ainscow (2001,, citado em Ventura, 2009) 2009 refere que “aprender a viver com a diferença pode ser difícil. No entanto, quando o fazemos, abre abre-nos possibilidades de grande valor”. A este propósito, Ventura (2009) afirma que: “Em contexto texto escolar, esta convivência na diferença implica um esforço, uma intencion intencionalidade e uma negociação constantes. O conceito de Escola Inclusiva é recente e emerge no seio de uma sociedade global, no intuito de constituir uma resposta integrada para a construção de uma convivência social pacífica e cordata, onde a participação de todos t seja efectiva” 2. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar Existem diversas teorias sobre a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem da criança e que se agrupam, fundamentalmente, em três categorias. A primeira categoria incluiu uiu as teorias que partem do pressuposto que o processo do desenvolvimento é independente do processo de aprendizagem. Nestas teorias, onde se incluiu a de Piaget, considera-se considera se que a aprendizagem é um processo paralelo ao processo Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL de desenvolvimento da criança ança mas não participa activamente neste. A concepção de Piaget dá maior enfoque ao aspecto maturacional e considera que o desenvolvimento do pensamento é independente do processo de aprendizagem (Piaget, Grégo, 1974, citados em Filho 2008) e sem maturação suficiente não há desenvolvimento nto (Piaget, 1973, citado em Filho, lho, 2008). A maturação baseia-se baseia se unicamente em processos fisiológicos inatos, pelo que a aprendizagem e as experiências vividas, embora possam contribuir para o desenvolvimento, não são essenciais essenciais para que este aconteça, uma vez que não geram qualidades mentais inatas (Piaget, 1973, citado em Filho, 2008). Enquanto, para a primeira categoria, a aprendizagem segue sempre o desenvolvimento, a segunda categoria de teorias afirma que “existe um desenvolvimento envolvimento paralelo dos dois processos, de modo que a cada etapa da aprendizagem corresponda uma etapa do desenvolvimento” (Vygostky, Vygostky, 1998), 1998) pelo que não se consegue fazer uma diferenciação dos dois processos. Na terceira categoria de teorias, há uma conciliação dos dois pontos de vista anteriores. Se, por um lado, o processo de desenvolvimento decorre independentemente do processo da aprendizagem, por outro lado as aprendizagens realizadas farão com que a criança crian adquira uma série de novos comportamentos que condicionará o desenvolvimento. Dentro deste grupo de teorias dualistas do desenvolvimento encontra-se encontra se a teoria de Koffka mas também a concepção de Vygotsky. Tanto num ponto de vista como noutro, de forma menos me ou mais explícita, as suas teorias constatam que o desenvolvimento é produto da interacção de dois processos fundamentais: o processo da maturação e o processo da aprendizagem. As observações de Koffka sugerem que o processo de maturação prepara e poss possibilita o processo de aprendizagem, enquanto o processo de aprendizagem estimula o processo de maturação. Os aspectos mais importantes da teoria de Koffka são a ampliação do papel da aprendizagem no desenvolvimento da criança e a ideia que esta se produz aantes da idade escolar. Vygostky também considera que a “aprendizagem e desenvolvimento não entram em Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL contacto pela primeira vez na idade escolar” mas estão inter-relacionados inter relacionados desde o primeiro dia dee vida da criança (Vygotsky, 1998). 199 Aliás, Vygostky deslocaa o enfoque para a aprendizagem já que acredita que esta antecede, possibilita e impulsiona o desenvolvimento. Para Vygotsky, o estado do desenvolvimento mental só pode ser determinado se se tiver em conta, pelo menos, o nível de desenvolvimento efectivo ou real (o que a criança consegue fazer sozinha) e o nível de desenvolvimento potencial ou proximal (o que a criança consegue fazer com ajuda) (Vygotsky, 1998). 1998). O conceito de zona de desenvolvimento proximal é fundamental na sua concepção e refere-se refere se à dis distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento proximal (Vygotsky, 1996, citado em Rabello & Passos). A aprendizagem realizada com ajuda levará com que a criança possa realizar no futuro essas actividades sozinha, tornando essa habilidade habilidade parte do seu desenvolvimento real. Será, então, na zona de desenvolvimento proximal que a aprendizagem irá ocorrer. Uma vez que a aprendizagem é fonte de desenvolvimento, a aprendizagem escolar deve ser encarada como um instrumento de orientação e de estimulação dos processos internos de desenvolvimento o (Vygotsky, 1998). 1998). É claro que a aprendizagem deve ser coerente com o nível de desenvolvimento imento da criança (Vygotsky, 1998), 1998), pois existem limites maturacionais que restringem o que a criança pode aprender aprender (Spinillo, 1999, citado por Filho, 2008). No entanto, atendendo à teoria do desenvolvimento potencial ou proximal, o bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento pois, se for orientado para uma etapa do desenvolvimento já atingida, não trará mais-valias mais valias para o desenvolvimento geral da criança (Vygotsky, 1998). 3. A influência das concepções alternativas na aprendizagem O termo “concepção alternativa” diz respeito às ideias prévias de carácter intuitivo que qualquer indivíduo tem relativamente aos fe fenómenos nómenos naturais. Os estudos realizados a partir dos anos 70 concluem que “as ideias prévias de crianças e jovens são pessoais, Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL fortemente influenciadas pelo contexto do problema e bastante estáveis e resistentes à mudança, de modo que é possível encontrá-las encontrá las mesmo entre estudantes universitários” (Viennot, 1979, citado em Mortimer, 1996). Estas “ideias do senso comum” muitas vezes são trazidas para dentro da sala de aula tanto pelos alunos como pelos professores e dificultam a apreensão de novas aprendizag aprendizagens, atendendo à sua resistência. Verifica-se se que, durante muito tempo, as ideias alternativas dos alunos, por serem consideradas erradas, provocaram o rotulamento destes como “malandros” ou incapazes (Veiga et al,, 2000). A preocupação crescente sobre as concepções alternativas tem levado uma mudança de atitude face às ideias prévias dos alunos e a sua importância no processo de ensino-aprendizagem. Dos estudos realizados sobre esta temática, foram identificadas diversas diversas características das concepções ões alternativas (Leite, 1993): são pessoais, resultam da percepção e na visão parcial de uma situação/objecto e são, entre outras características, resistentes à mudança. Durante muito tempo, o aluno foi considerado como uma uma tábua rasa disponível para receber os conhecimentos apregoados pelos professores sem qualquer resistência. Considerava-se se então que o aluno não participava activamente em termos cognitivos no seu processo de ensino-aprendizagem. aprendizagem. Mesmo quando os professores professores aceitavam que os alunos possuíam já algumas ideias sobre o conteúdo em estudo, acreditavaacreditava-se que estas concepções prévias seriam facilmente substituídas pelos conhecimentos cientificamente correctos ensinados pelos professores (Leite, 1993). As evidências cias mostram que, efectivamente, os alunos já trazem consigo uma série de ideias prévias que podem estar ou não de acordo com os programas. É importante pois que os professores de ciências e não só as considerem porque “só a consciência da existência dessass ideias e a sua identificação permite, ao professor, encontrar respostas didácticas adequadas” (Veiga et al,, 2000). Tal como Bachelard (1981, citado em Leite, 1993) afirmou a criança quando chega à escola “não tem que adquirir uma cultura” mas sim “mudar de cultura”. Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL A ideia defendida por Bachelard em 1975 (citado em Leite, 1993), que é necessário “construir sobre ou confrontar com, mas certamente não ignorar, a ciência das crianças”, começou a ganhar adeptos entre os investigadores em educação em ciências. ciência Para que o carácter persistente das concepções alternativas seja superado, é necessário apostar em métodos de ensino que valorizem o papel do aluno como agente activo no seu processo de ensino-aprendizagem aprendizagem sendo o professor um optimizador de condições para a mudança de concepções do aluno. É abandonada, assim, a perspectiva behaviorista sendo substituída por uma perspectiva construtivista (Leite, 1993). Com o protagonismo dado às concepções alternativas dos alunos, surgiu o movimento da mudança conceptual, al, com grande influência nos anos 80 e 90. A mudança conceptual não é simplesmente uma substituição de concepções mas sim um processo gradual de adição conceptual seguida de reestruturação cognitiva, não implicando obrigatoriamente o desaparecimento da ideia eia prévia (Gunstone, 1994, citado em Veiga et al,, 2000). A literatura refere diversos modelos de processos para a mudança conceptual, que caracterizam-se se todos por se basearem numa perspectiva construtivista. O modelo de Posner et al (1989) dá ênfase aos mecanismos de substituição centrados principalmente nos fenómenos de substituição. Hewson et al (1995) propuseram duas modalidades diferentes: a captura conceptual, baseada em processos de assimilação que amplificam os mecanismo de substituição, e o intercambia ambia conceptual, em que a substituição é ocasional. Luffiego et al (1994) sugeriram um modelo de evolução conceptual centrado na teoria dos esquemas. Para estes autores, “os sistemas conceptuais evoluem em cadeia, de forma que, em cada etapa, se incorpora nova informação, cujo produto pode resultar diferente da mera soma ao estado anterior da informação adicionada” (Veiga et al, 2000). Apesar das suas diferenças, todos os modelos concordam com os aspectos essenciais a serem observados, nomeadamente: a necessidade nece de dar oportunidade aos os alunos para que consigam explicitar as suas ideias alternativas, tomando consciência delas; a necessidade de criar situações que originem o conflito cognitivo e a sua resolução; e dar oportunidade de aplicação das novas ideias as apreendidas (Duarte, 1999). Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL A multiplicidade de modelos de mudança conceptual levou à sua diferenciação entre processos de reestruturação forte e reestruturação débil (Carey, 1991, citado em Veiga et al, 2000). Os primeiros normalmente conduzem a uma mudança mudança que afecta o compromisso ontológico do indivíduo, enquanto os segundos apenas conduzem à aquisição de novos conhecimentos e à diferenciação e integração de noções que o aluno já possui. Apesar dessa multiplicidade de modelos de mudança conceptual, conseguem c m identificar-se duas características comuns a todos eles. Estes modelos assentam que a aprendizagem ocorre através do envolvimento activo do aluno na construção do conhecimento e que as ideias prévias dos alunos desempenham um papel importante no processo processo de aprendizagem (Mortimer, 1996). Estas duas características demonstram a relação entre o modelo da mudança conceptual e a teoria da aprendizagem significativa. O psicólogo norte-americano norte americano Ausubel formulou as suas primeiras ideias sobre a aprendizagem escolar nos anos 60. Segundo este autor, a aprendizagem será mais significativa quando o novo conceito é incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado para ele a partir da da relação com o seu conhecimento prévio. Será esta ligação do conceito apreendido a algo conhecido que potenciará a aprendizagem significativa. Para que ocorra a aprendizagem significativa, são necessárias duas condições. A primeira prende-se à disponibilidade dade do aluno para apreender. Se o aluno quiser simplesmente memorizar o conteúdo, não possibilitando a sua ligação a conhecimentos prévios, a aprendizagem realizada será mecânica. Em segundo lugar, é necessário que o conteúdo escolar a apreender tem de serr potencialmente significativo (Pelizzari et al,, 2002). Na aprendizagem significativa, o aluno não é um “receptor passivo” (Moreira, 2000). Ele analisa os novos conhecimentos, faz conexões entre estes e os conhecimentos prévios, construindo significados pessoais essoais (Tavares, 2008). A aprendizagem significativa permite não só a retenção do novo conhecimento mas também o desenvolvimento da capacidade de transferir esse conhecimento para outros contextos. Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL A teoria de Ausubel destaca três vantagens da aprendizagem aprendizagem significativa face à aprendizagem memorítica ou mecânica. Em primeiro lugar, o conhecimento adquirido através da aprendizagem significativa é retido e relembrado por mais tempo. Em segundo lugar, aumenta a capacidade de aprender outros conteúdos e, em terceiro lugar, caso o conhecimento seja esquecido, a “reaprendizagem” está facilitada (Pelizzari et al al, 2002). A teoria da aprendizagem significativa de Ausubel parte do princípio que os indivíduos apresentam uma organização cognitiva interna baseada em relações relações entre conceitos. Essas relações são hierárquicas e estão organizadas de acordo com o grau de abstracção e de generalização. Atendendo a estas proposições de Ausubel, e de forma a contribuir para a aprendizagem significativa, recorre-se se muitas veze vezess a instrumentos heurísticos (mapas de conceitos e Vê de Gowin) como estratégiass dentro da sala de aula. Outra estratégia facilitadora da aprendizagem significativa é a interacção discursiva (o aprender a fazer perguntas). Neste contexto, a linguagem também também assume um papel fulcral na aprendizagem significativa.. Cada linguagem possui o seu léxico e a sua estrutura pelo que representa uma maneira singular de perceber a realidade. Efectivamente, a chave da compreensão de um “conhecimento” ou “conteúdo” é conhecer conhecer a sua linguagem. Aprender um conteúdo significativamente é aprender a sua linguagem. 4. As concepções alternativas nas ciências O contacto com a natureza acontece desde cedo e cada um formula ideias que nem sempre estão de acordo com a explicação cientificamente aceite. Estas ideias prévias afectam a compreensão dos conteúdos leccionados em ciências e, consequentemente, o sucesso do ensino das ciências. Como já referido anteriormente, estas ideias prévias, usualmente referidas como concepções alternativas, nativas, são resistentes à mudança de tal forma que muitas vezes permanecem mesmo após o momento de ensino formal. Sendo assim, as concepções alternativas não são exclusivas a crianças de faixas etárias baixas mas se encontram Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL também em alunos do ensino se secundário cundário e até em professores de ciências (Camino, 1995; Stahly et al,, 1999; citados em Veiga et al,, 2000). Os próprios manuais escolares, por vezes, reforçam ou originam algumas concepções alternativas (Langhi & Nardi, 2005). Existem diversos estudos sobre sobre as concepções alternativas em ciências, os quais fizeram o levantamento das ideias prévias de estudantes sobre determinados conceitos científicos (conceitos de astronomia, mecânica, transformação química, energia, entre outros). Verifica-se, atendendo à literatura consultada, que algumas das concepções alternativas relativamente ivamente a alguns conceitos científicos vão ao encontro de noções que, de acordo com a História e Filosofia da Ciência, foram consideradas correctas durante algum tempo. Atendendo a esta particularidade, Duschl (1997, citado em Veiga et al,, 2000) sugere que o ensino das ciências siga uma abordagem histórico-construtivista histórico construtivista porque assim “os alunos podem ser iniciados na compreensão das justificações dadas pelas teorias actuais, mas também do como e do porquê da rejeição de teorias anteriores, e ainda dos motivos que fazem variar as interpretação científicas em função de novos paradigmas”. 5. A importância do ensino das ciências Chassot (2003) considera que a ciência é uma linguagem construída pelo homem para explicar o mundo natural. Segundo este autor, entender a ciência permite-nos permite nos compreender os fenómenos naturais mas também nos facilita a controlar e prever as transformações que ocorrem na natureza de forma a melhorar a qualidade de vida. O conhecimento desta “linguagem” permitirá a uma pessoa “cientificamente letrada” usar conceitos, processos e valores científicos para tomar decisões quotidianas, enquanto interage com os outros e ccom o ambiente (De Boer, 1991, citado em Ramos, 2004). Desta maneira, é evidente que todos os indivíduos devem receber uma formação mínima em ciência para a sua formação cultural, uma vez que o conhecimento científico é parte constituinte da cultura construída uída pela humanidade (Ovigli & Bertucci, 2009) 2009). A premência do ensino das ciências não é só dotar os cidadãos de conhecimentos científicos que lhes permitam compreender o que se passa à sua volta, mas também Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL facilitar-lhes lhes a tomada de decisões sustentadas de acordo com as necessidades da sociedade dos dias de hoje. Atendendo a esta conexão com a sociedade, o ensino das ciências começou a ser desenvolvido segundo uma abordagem CTS (ciência-tecnologia-sociedade) (ciência sociedade) a partir dos anos 80. Este movimento CTS resultou resultou da combinação de três factores: económico, sociais e humanistas (Fourez e tal, 1994, citado em Ramos 2004) e permitiu a evolução da educação em ciência passa-se se para uma educação sobre e através da ciência (Ramos, 2004). O conhecimento adquirido através através da ciência e as técnicas desenvolvidas pelo homem culminaram na tecnologia e, consequentemente, na industrialização. Esta, por sua vez, marcou o início de um processo de várias alterações sociais, políticas e económicas e permitiu o rápido desenvolviment desenvolvimentoo científico e tecnológico. Se por um lado, este desenvolvimento levou a uma melhoria significativa da qualidade de vida, por outro lado também tem prejudicado as condições do planeta para a existência de vida com a contaminação de solos, água e atmosfera. A visibilidade crescente dos efeitos da ciência e da tecnologia no quotidiano dos cidadãos sustenta a necessidade do conhecimento sobre a ciência e as interacções CTS (Ramos, 2004), apelando igualmente à alfabetização científica de todos. A alfabetização científica é importante pelos factores já supra-citados supra citados mas também permite a inclusão social (Chassot, 2003) já que a aquisição de habilidades e conhecimentos técnicos e científicos faz com que os indivíduos se comportam efectivamente como cidadãos e consumidores cons responsáveis (Miller, 1989, citado em Nascimento-Shulze, 2006). 6. Um estudo de referência: “Ideias sobre conceitos de Ciências” No ano lectivo de 1998/1999, Veiga et al levaram a cabo um estudo sobre as ideias que as crianças com necessidades educativas educativas especiais apresentam sobre conceitos de ciências. Este estudo, publicado em 2000 e realizado com alunos com NEE a frequentar o 1ºciclo, pretendia “identificar as suas ideias sobre conceitos científicos do programa, com a dupla Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL finalidade de perceber em que medida são concordantes/discordantes com as referidas na literatura para crianças ditas “normais” e são modificadas pela instrução formal” (Veiga et al, 2000). O estudo foi desenvolvido com dois grupos de alunos, um do 3ºano e outro do 4ºano. O primeiro grupo não tinha ainda sido sujeito ao ensino formal dos conceitos científicos em estudo, enquanto os do segundo grupo já tinham abordado os conceitos em questão nno ano lectivo anterior. Os conteúdos científicos que serviram de base ao estudo desenvolvido por estas investigadoras estavam associados aos temas da Digestão e do Sistema Sol-Terra Sol Terra-Lua. Os dados foram recolhidos através de um questionário cuja escolha deveu-se se às vantagens oferecia tais como a economia de tempo, de trabalho e de custos além da “disponibilidade de tempo que oferece aos alunos para pensarem e responderem” (Veiga et al,, 2000). Atendendo às dificuldades que os alunos no 1º ciclo apresentam em termos de explicitação de ideias por escrito, foi-lhes lhes dada a possibilidade de recorrem ao desenho para responderem a algumas questões. questões. Apesar deste elevado grau de liberdade, as investigadoras “sentiram necessidade , muitas vezes, de recorrer a pequenas pequenas entrevistas para completarem a informação, ou para clarificarem as ideias apresentadas através do desenho ou da escrita” (Veiga et al, 2000). Este questionário foi aplicado a todos os alunos da turma onde se integravam crianças com NEE, no entanto só foram am analisados e tratados os dados dos questionários respeitantes a estas crianças. As autoras justificaram esta posição “para evitar qualquer sentimento de marginalização/excepção, que poderia resultar da identificação de um grupo especial dentro do grupo turma” (Veiga et al,, 2000). O tratamento dos dados recolhidos pelos questionários foi realizado recorrendo à análise de conteúdo.. Assim, foram criadas 17 categorias de conteúdo nas quais se encaixaram as respostas dadas pelos alunos. Da análise dos questionários e discussão dos resultados, resultados verifica-se que: - A maioria das crianças tem uma interpretação para os fenómenos que observa à sua volta Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL mesmo antes do ensino formal e verifica-se verifica se que a maior parte destas ideias prévias não são concordantes com as interpretações erpretações cientificamente aceites. - Não se verificaram diferenças substanciais nas respostas entre os dois grupos de alunos. A maior parte dos alunos do segundo grupo, apesar de já ter sido sujeito à situação de ensino formal dos conteúdos em questão, apresenta ideais prévias semelhantes às dos alunos do primeiro grupo. - As concepções alternativas recolhidas nas respostas aos questionários são semelhantes às conhecidas noutros estudos empíricos para crianças sem NEE. Atendendo a estes resultados, as investigadoras concluíram que “o facto de as crianças serem ou não portadoras de NEE não influencia as suas explicações acerca da Digestão e do sistema Sol-Terra-Lua” Lua” (Veiga et al, 2000). Comparando os resultados dos dois grupos, Veiga et al (2000) verificaram caram que os seus resultados “reforçam a ideia de que as concepções alternativas são muito persistentes e resistentes à mudança” e questionam se “a instrução recebida pelos alunos, sobre os assuntos em causa, não terá, ainda, sido suficiente (ou, quem sabe, sabe, adequada) para as alterar”. Estas stas investigadoras também apontam que algumas limitações que as crianças com NEE têm, podem constituir dificuldades acrescidas para conseguirem aprender com sucesso. TRABALHO EXPERIMENTAL – Metodologia a aplicar, aplicar universo de estudo, procedimentos de selecção de indivíduos, recolha e análise da informação 1. Objectivos da Investigação É sabido quee cada criança constrói espontaneamente esquemas mentais de acordo com a sua visão sobre o meio envolvente. Esta construção de ideias prévias acontece independentemente da idade e do meio sócio-cultural sócio cultural da criança. Os alunos com necessidades educativas especiais também constroem as suas próprias concepções de acordo com a sua interacção com o meio envolvente. Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL É atendendo às ideias eias prévias que as crianças têm relativamente relativamente a um dado assunto que coloca-se se a questão central deste estudo: “Serão as concepções alternativas dos alunos com NEE significativamente diferentes das dos alunos sem NEE?” Assim, os objectivos deste estudo são: sã • Fazer o levantamento das concepções alternativas dos alunos sobre conceitos de ciências; • Comparar as concepções alternativas dos alunos com NEE com as dos alunos sem NEE; • Verificar a existência ou não de diferenças significativas na construção de ideias prévias entre os alunos com NEE e os alunos sem NEE. Espera-se então concluir que as concepções alternativas formadas pelas crianças sobre um dado tema são independentes das suas dificuldades dific de aprendizagem inatas. Sendo assim, a hipótese de investigação será: As concepções alternativas dos alunos com NEE sobre um dado conceito são semelhantes às dos alunos sem NEE. Os resultados obtidos serão comparados com os relatados no estudo desenvolvido em 2000 por Veiga et al. Mas esta sta hipótese levanta outra questão,, não estudada no estudo desenvolvido por Veiga et al (2000) apesar de referida nas reflexões finais finais: “Será que os alunos com NEE ultrapassam as suas concepções alternativas com a mesma facilidade que os alunos sem NEE?” Com esta questão associa-se um novo objectivo à investigação ção que se pretende desenvolver: • Verificar, após a situação de ensino formal dos conceitos de ciências em estudo, se as concepções alternativas identificadas se mantêm ou não nos alunos com e sem NEE. Uma vez que as concepções alternativas apresentam uma resistência à mudança (Leite, Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL 1993; Veiga et al, 2000),, espera-se espera se que as concepções alternativas identificadas se mantenham tanto para os alunos com NEE como para os sem NEE após a situação de ensino formal. No entanto, espera-se espera se que se verifique um maior número de alunos sem NEE que tenham ultrapassado as suas ideias prévias com a explicitação dos modelos científicos correctos. Sendo assim, a hipótese de trabalho relativamente a esta segunda questão é: Os alunos sem NEE substituem mais facilmente as suas concepções alternativas pelos modelos cientificamente correctos que os alunos com NEE. 2. Metodologia O estudo a desenvolver será de carácter qualitativo, uma vez que se pretende comparar as concepções alternativas de alunos com NEE com as de alunos sem NEE e verificar se são significativamente diferentes. Numa segunda fase pretende-se se comparar as respostas dadas antes da situação de ensino formal com as obtidas após o ensino dos conceitos de ciências alvos do estudo. 2.1. População e Amostra O estudo irá ser aplicado a turmas nas quais estão inseridos alunos com necessidades educativas especiais. De modo que a amostra dos alunos com NEE seja representativa, é fundamental que o número úmero de turmas seja relativamente elevado. Assim, se for considerado um universo de cem alunos com NEE, serão necessárias cerca de cinquenta turmas já que, cada turma só tem, geralmente, dois alunos com NEE. Sendo assim, estima estima-se que a amostra terá um total tal de mil alunos, em que 10% da amostra (cem alunos) têm necessidades educativas especiais. Sendo assim, será realizado, em primeiro lugar, um levantamento do número de turmas do 7ºano, ºano, nas diversas unidades orgânicas da ilha de São Miguel, nas quais se eencontram inseridos alunos com NEE. Caso o número de turmas que corresponde ao critério de Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL selecção seja elevado, far-se-áá uma amostragem por clusters. 2.2. .2. Instrumentos de recolha de dados Para a recolha da informação optou-se pela utilização de um questionário. stionário. A opção por este instrumento deve-se se ao facto da sua aplicação promover uma economia de temp tempo e de trabalho ao investigador e “tem a vantagem do investigador não influenciar a recolha de dados” (Alves, 2005). Além disso, “coloca “ os alunos em situação de igualdade quer no que respeita à natureza das questões quer do tempo, respeitando ainda o ritmo de cada aluno” aluno (Tuckman, 1978,, citado por Alves, 2005). O questionário elaborado divide-se divide se em duas partes: uma primeira onde são pedidos alguns dados os sobre o aluno, de forma a caracterizar melhor a amostra, e uma segunda onde os alunos são confrontados com questões sobre conceitos de astronomia. Na primeira parte, as questões são fechadas, enquanto na segunda parte predominam as questões abertas. A opção pção por perguntas abertas para a recolha das ideias dos alunos é justificada por se pretender realizar um estudo qualitativo, tal como referido em Hill e Hill (2009). Este tipo de questões fornece informação mais “rica” e detalhada, porém as suas resposta respostas têm de ser “interpretadas” o que consome mais tempo na análise de dados (Hill e Hill, 2009). Para elaboração da segunda parte do questionário, foi feita adaptação do questionário utilizado por Veiga et al (2000). Para tal, realizou-se realizou uma revisão bibliog bibliográfica sobre conceitos de astronomia e as respectivas concepções alternativas. Outro pormenor que se teve em atenção foi a adequação da linguagem utilizada ao público-alvo público (12--14 anos), uma vez que o estudo de Veiga et al foi aplicado a crianças do 1ºciclo. Em conclusão, o questionário a utilizar permitirá a identificação das ideias prévias dos alunos sobre o planeta Terra, os movimentos de translação e de rotação da Terra e a sua influência na sucessão das estações de ano e na sucessão dos dias e das noites. noites. 3. Procedimento Após a elaboração do questionário, este será validado por um painel de cinco professores Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL doutores especialistas na área. Este será também sujeito a um estudo piloto junto a uma amostra de 20 alunos. Tal aplicação permitirá avaliar a funcionalidade do questionário e identificar possíveis pontos de reformulação. Depois da validação e da aplicação piloto, o questionário será distribuído pelas escolas para ser aplicado nas turmas que satisfaçam os critérios da população desejada. Antes da sua aplicação, será pedida autorização aos Conselhos Executivos das escolas e aos encarregados de educação.. Neste documento, será explicada a finalidade do estudo e garantido o anonimato dos alunos. O questionário será aplicado pelo director de turma, que deve assinalar os questionários pertencentes aos alunos com NEE. Os questionários são acompanhados por um guião de aplicador. Após a recolha dos questionários, será realizada a análise de conteúdo dos mesmos. A análise de conteúdo é “um um conjunto de técnicas técnicas de análise cada vez mais subtis e em constante aperfeiçoamento, que utiliza procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, marcada por uma grande disparidade de formas e adaptável a situações e conteúdos extremamente diversificados” (Bardin, 1991, citado em Alves, 2005).. A técnica de análise de conteúdo mais utilizada é a categorização, que “tem por objectivo fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos” (Bardin, 1991,, citado em Alves, 2005). 20 Após a situação de ensino formal, o questionário será novamente aplicado aos mesmos alunos, o que conduzirá a uma nova análise de conteúdo. Faculdade de Ciências Sociais E Humanas MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL CRONOGRAMA Mês 12 Mês 11 Mês 10 Mês 9 Mês 8 Mês 7 Mês 6 Mês 5 Mês 4 Mês 3 Mês 1 Fase 2 Mês 2 Fases de Investigação Pesquisa bibliográfica Aplicação dos questionários (Fase 1) Aplicação dos questionários (Fase 2) Tratamento dos dados Análise e discussão de resultados Defesa da dissertação (data a definir) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alves, M.H. (2005). Concepções oncepções prévias, mudança conceptual e obstáculos de aprendizagem em alunos do 1º CEB sobre excreção urinária. Tese de Mestrado. Universidade do Minho: Instituto dos Estudos da Criança. Camisão, Isolina (2004). Percepção dos professores do ensino básico acerca da inclusão educativa de alunos com necessidades educativas especiais.. Tese de Mestrado. Universidade do Minho: Instituto de Educação e Psicologia. Chassot, Attico (2003). Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social social. 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