O TRABALHO DA CITAÇÃO
Seguem algumas dicas para vocês, que talvez possam ser valiosas, sobre
como fazer uma citação em trabalhos acadêmicos. Quem faz uma contribuição
interessante sobre isso é Francisco Gomes de Matos, em seu artigo “O Cientista
como Citador”, publicado na revista Ciência e Cultura de dezembro de 1985. Para ele,
a eficiência do cientista no ato da redação “pressupõe a capacidade de fazer
citações” (p.2.042).
A citação, além de fundamentar a argumentação, confere credibilidade ao
trabalho.
Existem pelo menos três formas diferentes de mencionarmos um autor ou, mais
precisamente, seu discurso em um texto:
a) Citação literal: reprodução ipsis verbis do texto, com as mesmas palavras
que ele próprio utilizou no texto original, com os devidos créditos ao autor.
É interessante fazer um comentário após uma citação literal. Isso demonstra que você
está atento à relação das palavras do autor, com o seu texto.
b)Paráfrase: é também a reprodução das idéias contidas em um texto, porém
em palavras diferentes das utilizadas pelo autor.
Essa forma de citação já demonstra um pouquinho mais de independência da sua
parte, mas cuidado! Uma falta de atenção sua pode mudar o sentido das palavras de
quem você está citando.
c) Plágio: é a cópia das idéias ou do texto de outrem sem indicação de autoria,
constituindo-se como crime.
Como vocês já devem ter lido no site do Redigir, “Não deixe de citar as fontes das
informações que você usou. Não finja que foi tudo tirado da sua cabeça, porque seu
leitor vai perceber que 'aquela' parte não é sua e ele certamente sabe de onde você a
tirou. Não tente fazer seu professor de bobo”.
Há basicamente três formas de se fazer citações literais:
a) Citações longas: aquelas que ocupam mais de três linhas completas no
texto. Devem ser destacadas no texto, em parágrafo recuado e independente (o uso
de aspas é opcional), não sendo necessário espaçamento datilográfico entre linhas:
b) Citações curtas: aparecem integradas ao texto, sempre entre aspas.
c) Citação de citação: são indicadas por aspas simples.
ò Para informações sobre normalização de referências bibliográficas e
citações em trabalhos acadêmicos, consultar NBR 6023 e NBR 10520,
respectivamente.
Importante! Não faça do seu trabalho um mosaico de citações. Tente discorrer sobre
um assunto com suas próprias palavras e use outros autores para te dar suporte.
TEXTO ILUSTRATIVO - O CIENTISTA COMO CITADOR
A competência redacional do cientista pressupõe a capacidade de fazer
citações, entretanto, no preparo de especialistas em ciências - e nas artes -, parece
não haver uma atenção especial à aquisição e cultivo de estratégias do citar. Uma
consulta a manuais de metodologia do trabalho científico e de redação de
monografias revelará quão pouco tem sido estudado o problema, apesar de sua
importância para a comunicação escrita eficaz. Dentre as fontes consultadas,
destacaríamos: Othon M. Garcia Comunicação em prosa moderna 59 ed., Rio,
Fundação Getúlio Vargas, 1977), por incluir uma seção sobre Citação na parte
referente à preparação dos originais (p. 394). Assim, Garcia lembra que "As citações
devem ser exatas...", ..."vir entre aspas duplas ... ". Também salientaríamos Adriano
da Gama Kury (Elaboração e editoração de trabalhos de nível universitário. Rio de
Janeiro, Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980), por ter incluído uma seção sobre
Citações (p. 30-34), em que são caracterizados dois tipos gerais de citação (formal e
conceptual) e apresentadas normas para orientação do citador. Nas duas fontes não
há, entretanto, uma explicitação dos aspectos estilísticos do citar, por isso, decidimos
sistematizar os dados colhidos em pesquisa feita em dissertações de mestrado e
artigos científicos diversos. Recorremos, também, ao excelente manual americano de
Jacques Barzun e Henry F. Graff The modern researcher. 3rd ed. New York, Harcourt
Brace Jovanovich, 1977). Seu capitulo 14 intitula-se As artes de citar traduzir.
OS PRINCÍPIOS DO CITAR
1. Cite com um propósito bem claro, definido, relevante
Faça uma citação para relacionar um pensamento alheio que seja relevante
para seu trabalho e condizente com suas próprias idéias.
Cite para transmitir uma idéia memorável ou notável, por seu alcance.
Recorra a uma citação quando tiver que documentar assertivas de
especialistas, em pesquisa bibliográfica, por exemplo.
2. Faça citações integradas
Se você optar por citar, integre, sempre que possível, a citação em seu próprio
texto. Produza uma fusão ideativa, como se as idéias do Autor e as suas
objetivassem o mesmo "efeito".
0 fazer citações integradas pressupõe um domínio da capacidade de relacionar
idéias. Para isso, releia atentamente o fragmento a citar e descubra a maneira mais
eficaz de integrá-lo harmoniosamente à sua criação textual (importante o uso de
operadores coesivos).
3. Seja parcimonioso (como cientista) e breve como citador
Você abusa de citações? Ultrapassam 5% de seu texto? Verifique a proporção
de citações (quer ipsis verbis, quer parafraseadas) em seus escritos. Não cite demais:
a formulação do texto deve ser sua e não de outros pensadores.
4. Atribua às suas citações um valor razoável
Lembre-se de que uma citação é primordialmente uma ilustração e não uma
evidência ou prova.
Não é a extensão, a profundidade ou a ênfase de sua citação que irá convencer
o leitor. Cite uma "autoridade" para dar confiabilidade adicional a seu argumento, mas
é o que você diz e não o pensamento alheio que irá persuadir o leitor.
5. Cite diretamente da fonte quando sentir que tal procedimento dará mais
força à sua argumentação do que a estratégia da paráfrase (dizer com suas
próprias palavras)
Compete a você decidir quando citar o autor, transcrevendo as palavras
fielmente, ou parafrasear, isto é, traduzir a idéia alheia, dando-lhe outra expressão
lingüística. De qualquer modo, pense primeiro no provável "efeito" de urna ou outra
solução em seus leitores.
6. Como afirma Garcia (op. cit), cite com exatidão
Seja fiel ao original. Vá diretamente à fonte; não recorra a. citações "indiretas",
isto é, de fontes que não sejam as próprias obras citadas.
7. Traduza as citações em língua estrangeira, para facilitar o
"processamento" de seus leitores
Esse principio é fácil de formular, mas difícil de pôr em prática: exige do tradutor
uma competência específica - a arte-ciência tradutória - que pode, entretanto, ser
resumida em outro princípio: ao traduzir de urna língua estrangeira para sua língua
materna, aplique a estratégia do equivalente mais espontâneo ou natural naquele
contexto. Leia o texto em língua estrangeira; deixe-o de lado por um minuto; sem
recorrer ao mesmo, faça sua tradução, buscando o "equivalente contextual". Após
esse desafio cognitivo, compare os textos e dê os retoques estilísticos necessários.
Tal procedimento poderá assegurar uma tradução mais adequada aos padrões
estilísticos da língua portuguesa. Em suma, evite traduzir se você não for
suficientemente competente para essa complexa tarefa.
8. Identifique sempre o(s) autor(es) citado(s) ou mencionado(s).
Este princípio, aparentemente óbvio, às vezes não é observado por
inexperientes autores de monografias, particularmente dissertações de mestrado.
Assim, deparamo-nos com fases como estas: "Pesquisas recentes revelam que ...”,
“Alguns pesquisadores têm procurado investigar...” Nestes casos o leitor não é
esclarecido quem fez tais pesquisas e onde as publicou. Nada é mais frustrante para
quem lê do que não receber os indispensáveis dados bibliográficos completos! O
autor que parte do pressuposto de que seus leitores conhecem as obras citadas e,
por isso, não precisam de referências completas está infringindo uma norma do citar:
facilite, para o leitor, a identificação das referências (ou menções) feitas. Somente no
caso de citações "célebres" (do tipo Shakespeare) e universalmente conhecidas seria
dispensável a identificação plena da fonte citada. Em suma, observe o senso de
completude - traço importantíssimo da competência do cientista - e forneça a seu
leitor a informação bibliográfica necessária.
(MATOS, Francisco Gomes de. O cientista como citador. Ciência e Cultura,
v.37, n.12, p. 42-44, dez. 1985.).
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Texto 03 - artigo “O Cientista como Citador”