6º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE FABRICAÇÃO 6th BRAZILIAN CONFERENCE ON MANUFACTURING ENGINEERING 11 a 15 de abril de 2011 – Caxias do Sul – RS - Brasil th th April 11 to 15 , 2011 – Caxias do Sul – RS – Brazil USINAGEM COM ALTA VELOCIDADE DE CORTE APRIMORA A VIDA EM FADIGA DA PEÇA Alessandro Roger Rodrigues, [email protected] Daniel Iwao Suyama, [email protected] Hidekasu Matsumoto, [email protected] Ruís Camargo Tokimatsu, [email protected] Adriana Bruno Norcino, [email protected] Eli Jorge da Cruz Junior, [email protected] 1 UNESP Univ Estadual Paulista, Campus de Ilha Solteira, Av. Brasil Centro, 56, 15.385-000, Ilha Solteira-SP UNICAMP Univ Estadual de Campinas, Rua Mendeleyev, 200, Cidade Universitária, 13.083-860, Campinas-SP 2 Resumo: Este artigo quantifica estatisticamente o efeito das condições de fresamento na integridade superficial da peça. Investigou-se a influência do avanço por dente e da velocidade de corte na rugosidade, força de usinagem e vida em fadiga de um aço baixo-carbono com grãos ultrafinos, ainda incipiente em aplicações com usinagem. Os ensaios de fresamento de topo foram conduzidos em um centro de usinagem CNC sob corte concordante e sem aplicação de fluido lubri-refrigerante. Com base na Análise de Variância (ANOVA), os resultados indicaram que os parâmetros de corte foram influentes nas variáveis de resposta. A condição de usinagem em alta velocidade reduziu a força de usinagem, suavizou os picos e vales da rugosidade e uniformizou as marcas de avanço da ferramenta, que tiveram reflexo benéfico na vida em fadiga do material. Fratografias dos corpos de prova indicaram que a fratura ocorreu por microcavidades, devido ao tamanho de grão reduzido e à dureza da peça. Palavras-chave: fresamento com alta velocidade de corte, integridade superficial, aços com grãos ultrafinos 1. INTRODUÇÃO As primeiras pesquisas sobre usinagem com alta velocidade de corte (High-Speed Cutting - HSC) foram realizadas por Carl Salomon na Alemanha entre 1924 e 1931. Materiais não ferrosos como alumínio, cobre e bronze foram usinados com velocidades de até 16.500 m/min (Flom e Komanduri, 1989; Schützer e Schulz, 2003). Embora não haja consenso até os dias atuais, Salomon constatou que a temperatura de corte e a força de usinagem diminuíram com o aumento da velocidade de corte. Estes efeitos podem ser decisivos na integridade superficial do produto usinado. HSC é um termo relativo que depende do material da peça e do mecanismo de formação de cavaco. De acordo com Flom e Komanduri (1989), alta velocidade de corte para um dado material pode ser definida como a velocidade acima da qual o cisalhamento localizado se desenvolve completamente na zona de cisalhamento primária. HSC gera cavacos contínuos para materiais dúcteis e segmentados para materiais de difícil usinabilidade. Sob o prisma prático e industrial, HSC é definida com base em intervalos de velocidade de corte, onde a velocidade é aumentada entre 5 a 10 vezes em relação aos valores assumidos convencionais e a taxa de avanço e profundidade de usinagem são diminuídas visando operações de acabamento e semi-acabamento (Schulz, 1999; Tönshoff et al 2001). Porém, esta definição prática da usinagem HSC é imprecisa e abrangente. Chevrier et al (2003) e Sandvik Coromant (1999), por exemplo, indicam que a velocidade de corte em aços pode ser classificada como alta a partir de 300 m/min. Apesar do progresso da usinagem HSC e de sua difusão no meio industrial (Pawade, Hoshi e Brahmankar, 2008; Limido et al, 2007), muitos resultados científicos na área de integridade superficial ainda não apresentaram conclusões satisfatórias. Klocke e Hoppe (2001) usinando aço AISI 1045 verificaram que a força de corte cai quando se atinge cerca de 2.000 m/min. Após essa velocidade crítica, as forças voltam a subir. Silva (2002) usinando a liga Inconel 718 com vc entre 300 e 600 m/min, concluiu que a força de corte praticamente permaneceu constante com o aumento da velocidade de corte. O acabamento superficial nem sempre é melhorado com HSC. Yousefi e Ichida (2000) investigaram a influência da aplicação de alta velocidade de corte no acabamento superficial, formação de cavaco e força de usinagem. Concluíram, em oposição a outros trabalhos, que a rugosidade superficial aumenta com aumento da velocidade de corte, devido à formação de metal soldado na aresta secundária da ferramenta. O objetivo deste trabalho foi determinar o efeito da velocidade de corte e do avanço por dente na rugosidade da peça, na força de usinagem e, sobretudo, na vida em fadiga do material. © Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas 2011 6 º C O N G R E S S O B R A S I L E I R O DE E N G E N H A RI A D E F A B R I C A Ç Ã O 1 1 a 1 5 d e A b r i l d e 2 0 1 1 . C a x i a s d o S u l - R S 2. MATERIAIS E MÉTODOS Os ensaios foram realizados a seco em um centro de usinagem Romi, modelo Discovery 560, com 11 kW de potência e rotação máxima de 10.000 rpm. Foi empregado o fresamento de topo concordante e percurso linear da ferramenta, utilizando-se uma fresa 25 mm com dois insertos de metal duro (Classe ISO P15) revestidos de Al2O3, fabricados pela Sandvik Coromant (R390-11 T3 08M-PM 4220). Os parâmetros de corte apresentados na Tab. (1) foram estabelecidos com base em Chevrier et al (2003) e Sandvik Coromant (1999). A largura e profundidade de usinagem, respectivamente 19 mm e 0,5 mm, foram mantidas constantes. Tabela 1. Parâmetros de usinagem utilizados nos ensaios de fresamento. Fatores de controle Níveis Velocidade de corte [m/min] Avanço [mm/dente] * Condição considerada “convencional” Condições de Usinagem Resposta C1 C2* C3** C4 Rugosidade 2 100 100 600 600 Força de Usinagem 2 0,05 0,2 0,05 0,2 Fadiga ** Condição considerada HSC. O aço ferrítico baixo-carbono denominado COSAR 60, fornecido pela USIMINAS S/A, foi utilizado como corpo de prova. Os materiais foram processados termomecanicamente visando a obtenção de uma microestrutura com grãos ferríticos ultrafinos (1,7 ± 0,32 µm). As principais propriedades mecânicas do material são: dureza (322 ± 7,3 HV), limite de escoamento (530 MPa), limite de resistência (1000 MPa), alogamento (6,2%) e energia Charpy (32,2 ± 1,8 J). A Tabela (2) apresenta os principais elementos de liga do material. Tabela 2. Especificação química do material da peça (% em peso). C Mn P S Si Al Cu Cr Ni Nb V Ti Ceq 0,15 1,49 0,027 0,009 0,27 0,046 0,005 0,276 0,008 0,048 0,044 0,016 0,40 Visando a quantificação estatística dos resultados, foi empregado um experimento fatorial 22 utilizando Análise de Variância (ANOVA), nível de significância de 5% e 6 réplicas para cada condição de usinagem. A rugosidade quantitativa (Rmáx) e qualitativa (perfil dos picos e vales) foi medida utilizando-se um rugosímetro portátil Mitutoyo, modelo SJ-201P, com agulha de diamante de raio de ponta igual a 5 µm e cutoff de 0,8 mm. A força de usinagem foi obtida recorrendo-se a um dinamômetro piezelétrico Kistler, modelo 9257BA, e o respectivo amplificador de carga 5233A. O comportamento da vida em fadiga foi quantificado em uma máquina de ensaios mecânicos servo-hidráulica Material Testing System (MTS), modelo 810 - TestStar II, considerando corpos de prova prismáticos 6 x 19 x 65 mm, ensaio de flexão em quatro pontos (vão superior e inferior de 20 e 50 mm, respectivamente), razão de carga R=0,1, frequência de 20 Hz e fim de vida de 106 ciclos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura (1) apresenta uma visão geral do comportamento da rugosidade máxima (Rmáx) em função das condições de usinagem. Mesmo considerando a variabilidade das medidas, nota-se que o incremento do avanço em 4x aumentou a rugosidade em 43% para a mais baixa velocidade de corte e 91% para a velocidade de corte mais elevada. O aumento da velocidade de corte em 6x reduziu a rugosidade em 51% para o menor avanço por dente e 35% para o avanço mais elevado. Este comportamento está relacionado ao aspecto cinemático entre raio de ponta do inserto e avanço por dente, bem como ao processo de formação do cavaco, que depende também do avanço da ferramenta e, não menos importante, da velocidade de corte. Ao aumentar a velocidade de corte, mantendo-se o mesmo avanço da ferramenta, a espessura do cavaco reduz, dado o aumento do ângulo de cisalhamento. Este efeito causa diminuição do grau de recalque do cavaco, deformando-o menos e trazendo reflexos benéficos diretos na textura superficial da peça usinada (Ferraresi, 1970). Além disso, Assis (2010) avaliou o mecanismo de formação de cavaco para o mesmo material e mesmas condições de usinagem e constatou a formação do cavaco segmentado, quando gerado sob velocidade de corte de 600 m/min. Formado pelo processo de cisalhamento adiabático, o cavaco segmentado apresenta lamelas com pouca ou nenhuma deformação e bandas de cisalhamento altamente deformadas (Machado et al, 2009). Assim, o balanço entre os efeitos térmico (amolecimento) e mecânico (encruamento) durante a formação do cavaco torna sua geometria serrilhada, reduzindo o recalque e favorecendo o acabamento superficial. 6 º C O N G R E S S O B R A S I L E I R O DE E N G E N H A RI A D E F A B R I C A Ç Ã O 1 1 a 1 5 d e A b r i l d e 2 0 1 1 . C a x i a s d o S u l - R S 5 Rmáx [mm] 4 3 2 1 0 C1 C2 C3 C4 Condição de Usinagem Figura 1. Rugosidade máxima em função das condições de usinagem. Analisando-se de forma qualitativa a topografia dos corpos de prova, nota-se na Fig. (2) um padrão fortemente dependente do perfil da rugosidade com a velocidade de corte e avanço por dente. Uma primeira avaliação que pode ser feita assemelha-se à análise baseada nos valores quantitativos mostrados na Fig. (1). Para uma mesma velocidade de corte, o aumento do avanço faz com que a rugosidade seja aumentada (pares C1/C2 e C3/C4) e, para um mesmo avanço, o aumento da velocidade de corte causa diminuição da rugosidade (pares C1/C3 e C2/C4). Além disso, observa-se na Fig. (2) (condições C1 e C3) que a freqüência dos picos e vales corresponde aproximadamente ao avanço por dente de 0,05 mm utilizado nestas condições de ensaio. O mesmo ocorre com as condições C2 e C4, onde empregou-se o avanço por dente de 0,2 mm. Uma diferença notada relevante considerando estes gráficos refere-se não apenas às amplitudes maiores da rugosidade para os casos de maior avanço, mas também à abertura das bases dos picos e vales e ao batimento axial dos insertos, os quais podem ter participação decisiva no comportamento em fadiga do material. Em outras palavras, verifica-se que o maior avanço imprime na topografia da peça picos mais achatados, mas em contrapartida vales mais profundos e agudos, que elevam a rugosidade da superfície e tornam os raios dos sulcos aparentemente menores, que podem ser considerados uma população de entalhes prejudiciais à vida em fadiga da peça. Figura 2. Perfil de rugosidade máxima em função das condições de usinagem. Como forma de validar estatisticamente os efeitos dos fatores de controle na rugosidade, apresenta-se na Tab. (3) o quadro ANOVA para a velocidade de corte e o avanço por dente. 6 º C O N G R E S S O B R A S I L E I R O DE E N G E N H A RI A D E F A B R I C A Ç Ã O 1 1 a 1 5 d e A b r i l d e 2 0 1 1 . C a x i a s d o S u l - R S É possível observar que os parâmetros de corte influentes na rugosidade máxima são ambos a velocidade de corte e o avanço por dente, uma vez que os respectivos valores de probabilidade foram menores que o nível de significância adotado nos experimentos (P<=0,05). Em outras palavras, a afirmação de que estes referidos fatores de controle causam diferenças significativas na rugosidade tem uma confiabilidade de 95% ou, equivalentemente, a chance de a afirmação ser equivocada é de apenas 5%. Para avaliar o grau e o tipo de correlação existente entre as variáveis de entrada e de saída do experimento, a Tab. (3) também apresenta o Coeficiente de Pearson. Níveis próximos à unidade e a zero indicam, respectivamente, correlação forte e fraca, ao passo que valores positivos e negativos significam comportamentos diretamente e inversamente proporcionais, respectivamente. Neste experimento, constata-se que tanto a velocidade de corte como o avanço por dente têm correlação moderada com a rugosidade máxima, sendo, porém, o avanço por dente mais influente na resposta e diretamente proporcional. Tabela 3. Quadro ANOVA para a rugosidade máxima. Fator Graus de Liberdade Soma dos Quadrados Quadrado Médio Teste F Probabilidade P Coeficiente de Pearson vc 1 6,1307 6,1307 20,14 ~ 0,000 -0,524 fz 1 9,7920 9,7920 32,17 ~ 0,000 0,662 Erro 21 6,3916 0,3044 Total 23 22,3143 De forma análoga ao quadro ANOVA, a Fig. (4) mostra qualitativamente o comportamento da rugosidade diante da variação dos parâmetros de corte. Verifica-se que a redução da velocidade de corte e o aumento do avanço por dente elevam a rugosidade máxima da peça. Entretanto, o avanço por dente foi o fator de controle que mais oscilou em torno da média, indicando que foi significativo na rugosidade. Testes de normalidade dos dados de rugosidade utilizando o método Kolmogorov-Smirnov demonstraram que o comportamento dos resultados segue a distribuição normal (P>15%), a qual valida a análise estatística. Adicionalmente, a análise das interações entre os fatores comprovou que não houve interação entre as variáveis de entrada. Figura 4. Influência da velocidade de corte e do avanço por dente na rugosidade máxima. A Figura (5) traz o comportamento da força de usinagem como uma função das condições de usinagem. Observa-se que o incremento do avanço em 4x aumentou a força de usinagem em 62% para a mais baixa velocidade de corte e não apresentou variação estatisticamente comprovada para a velocidade de corte mais elevada, dada a variabilidade dos dados. Assim, é correto supor que o aumento do avanço eleva a força de avanço, que, por sua vez, aumenta a força de usinagem. Este efeito, ao considerar velocidades de corte maiores, demonstra ser sobreposto pela própria influência inversa da velocidade de corte na força de usinagem. O aumento da velocidade de corte em 6x reduziu a força de usinagem em 35% para o menor avanço por dente e 57% para o avanço mais elevado. Conforme Alauddin (1998), este comportamento pode estar relacionado ao aumento da temperatura de corte, à diminuição do atrito na interface cavaco-ferramenta e à redução na espessura do cavaco, tal como apontado no caso da rugosidade máxima. Ademais, além dos reflexos na textura superficial, o processo de segmentação também traz benefícios para a força de usinagem, na medida em que a nucleação e o freamento das trincas sucessivas (para formação de lamelas subsequentes) reduzem os níveis de força necessários para a deformação e remoção do cavaco. 6 º C O N G R E S S O B R A S I L E I R O DE E N G E N H A RI A D E F A B R I C A Ç Ã O 1 1 a 1 5 d e A b r i l d e 2 0 1 1 . C a x i a s d o S u l - R S Por último, nota-se que o comportamento da força de corte assemelha-se claramente ao da rugosidade máxima, indicando que usinagens sob maiores esforços da ferramenta podem acrescentar efeitos no acabamento da peça, como deflexões da ferramenta e vibrações do conjunto peça-máquina-ferramenta. 300 250 Fu [N] 200 150 100 50 0 C1 C2 C3 C4 Condição de Usinagem Figura 5. Força de usinagem em função das condições de usinagem. Como forma de analisar estatisticamente a influência dos parâmetros de corte na força de usinagem, apresenta-se na Tab. (4) o quadro ANOVA para a velocidade de corte e o avanço por dente. É possível observar que os parâmetros de corte influentes na força de usinagem são novamente ambos a velocidade de corte e o avanço por dente, uma vez que os respectivos valores de probabilidade foram menores que o nível de significância adotado nos experimentos (P<=0,05). Em outras palavras, a afirmação de que estes referidos fatores de controle causam diferenças significativas na força de usinagem tem uma confiabilidade de 95% ou, equivalentemente, a chance de a afirmação ser equivocada é de apenas 5%. Analisando-se a correlação entre os parâmetros de corte e a força de usinagem, verifica-se que a velocidade de corte apresenta grau considerado forte e inversamente proporcional, enquanto o avanço por dente demonstra ter relação moderada e diretamente proporcional. Portanto, a velocidade de corte sobrepõe-se ao avanço por dente quando a resposta é a força de usinagem. Tabela 4. Quadro ANOVA para a força de usinagem. Fator Graus de Liberdade Soma dos Quadrados Quadrado Médio Teste F Probabilidade P Coeficiente de Pearson vc 1 54384 54384 89,66 ~ 0,000 -0,816 fz 1 14592 14592 24,06 ~ 0,000 0,423 Erro 21 12738 607 Total 23 81715 De forma análoga ao quadro ANOVA, a Fig. (6) mostra qualitativamente o comportamento da força de usinagem diante da variação dos parâmetros de corte. Verifica-se que a redução da velocidade de corte e o aumento do avanço por dente elevam a força de usinagem. Entretanto, a velocidade de corte foi o fator de controle que mais oscilou em torno da média, indicando que foi significativo na resposta e ratificando os resultados do Coeficiente de Correlação de Pearson apresentados na Tab. (4). Testes de normalidade dos dados de força de usinagem utilizando o método Kolmogorov-Smirnov demonstraram que o comportamento dos resultados segue a distribuição normal (P>15%), a qual valida a análise estatística. Adicionalmente, a análise das interações entre os fatores comprovou que não houve interação entre as variáveis de entrada. 6 º C O N G R E S S O B R A S I L E I R O DE E N G E N H A RI A D E F A B R I C A Ç Ã O 1 1 a 1 5 d e A b r i l d e 2 0 1 1 . C a x i a s d o S u l - R S Figura 6. Influência da velocidade de corte e do avanço por dente na força de usinagem. A Figura (7) mostra o arranjo dos pontos obtidos nos ensaios de fadiga (Curva S-N) visando avaliar o efeito das condições de usinagem no comportamento em fadiga do material. Cada ponto relaciona uma tensão S a uma vida N, isto é, número de ciclos de tensão no qual ocorreu a falha de um corpo de prova ou atingiu-se os critérios de parada, quais sejam: fratura, deformação plástica excessiva ou vida infinita. Os pontos acompanhados de uma seta voltada para a direita indicam que o corpo de prova não se rompeu e atingiu o número de ciclos considerado como “vida infinita” (106 ciclos). Tensão Alternada [MPa] 750 C3 C1 C2 C3 C4 650 C1 550 450 C4 C2 350 250 1,0E+03 1,0E+04 1,0E+05 1,0E+06 1,0E+07 Número de ciclos Figura 7. Comportamento em fadiga do aço com grãos ultrafinos fresado sob diferentes condições. Observa-se que há dois comportamentos distintos: um para a vida na faixa de 104 a 105 ciclos (resistência à fadiga) e outro para vida próxima de 106 ciclos (limite de resistência à fadiga). Para a resistência à fadiga, a vida (número de ciclos até a falha) foi fortemente influenciada pela rugosidade. A condição C3, com melhor acabamento, apresentou melhor comportamento do que a condição C2 (pior acabamento). Comparando o comportamento da condição C3 com a condição C2, a vida da última é 20% menor em 104 ciclos e 8% menor em 105 ciclos. As condições C1 e C4, com acabamentos intermediários, também apresentam comportamento em fadiga localizado entre as condições extremas. Ainda observando a Fig. (7), nota-se que as Curvas S-N se aproximam quando se considera o limite de resistência à fadiga (106 ciclos), apresentando uma previsão do limite de fadiga em torno de 290 MPa. Isso significa que a textura superficial da peça usinada passa a não ser tão distintiva no comportamento em fadiga para altos números de ciclos. Visando melhor compreensão dos resultados de vida em fadiga do material usinado sob diferentes condições, apresenta-se na Fig. (8) imagens fratográficas dos corpos de prova. Nota-se que as trincas nucleiam em múltiplos pontos que podem ou não estar em um mesmo plano. Quando a propagação ocorre em dois planos diferentes e a seção de material remanescente já não suporta o carregamento, as duas trincas se unem formando um “degrau” acentuado na superfície de fratura conhecido por “Marca de Catraca”. Observa-se que os corpos de prova apresentaram somente microcavidades como características de fratura, sendo notada e caracteristicamente pequenas, dado o tamanho de grão reduzido do material. Além disso, a ausência de estrias de fadiga também é um indício da fragilidade do aço com grãos ultrafinos, comprovada pela energia Charpy apresentada na Tab. (1). Ademais, constatou-se que o micromecanismo de fratura por microcavidades ocorreu em todos os corpos de prova ensaiados, indicando que a fratura do material depende basicamente de suas propriedades mecânicas e microestruturais, que propriamente das condições de usinagem, as quais ditam principalmente o comportamento do processo de nucleação da trinca. 6 º C O N G R E S S O B R A S I L E I R O DE E N G E N H A RI A D E F A B R I C A Ç Ã O 1 1 a 1 5 d e A b r i l d e 2 0 1 1 . C a x i a s d o S u l - R S Por fim, também pode-se notar na superfície de fratura apresentada na Fig. (8) três regiões distintas, as quais delimitam as zonas de nucleação (A), propagação da trinca (B) e fratura (C). Monitorando-se o tempo dos ensaios, foi possível verificar que a nucleação da trinca foi lenta, ao passo que a propagação foi rápida. Isso ocorreu dada a fragilidade do aço com grãos ultrafinos e da existência de uma zona plástica na ponta da trinca não significativa que pudesse controlar a progressão da trinca. Nucleação da Trinca (Marca de Catraca) Fratura Final A C B 2 mm B A C Figura 8. Caracterização do micromecanismo de fratura do aço com grãos ultrafinos. 4. CONCLUSÕES A usinagem pode alterar de forma significativa a integridade superficial da peça; O aumento do avanço eleva a rugosidade e o aumento da velocidade de corte (provavelmente até certos limites) diminui a rugosidade, porém o efeito do avanço sobrepõe o efeito da velocidade de corte; Devido ao tamanho de grão reduzido, o tempo de propagação da trinca é menor que o de nucleação; Dependendo do nível de refino de grão e de sua dureza final, aços com grãos finos podem falhar por fratura; O comportamento em fadiga é influenciado principalmente pela rugosidade, quanto maior a rugosidade, menor a vida; A dispersão dos resultados de fadiga está ligada à dispersão da rugosidade; A redução do tamanho de grão causa aumento de dureza e diminuição da tenacidade, tendo relação com os micromecanismos de fratura; O tamanho de microcavidades na fratura por fadiga depende do tamanho de grão do material; A usinagem HSC tende a aprimorar a integridade superficial (diminuindo a rugosidade e o nível da força de usinagem) quando comparada à usinagem considerada convencional. 5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPESP, CAPES e CNPq pelo suporte financeiro ao desenvolvimento deste trabalho. 6. REFERÊNCIAS Alauddin, M., Mazid, M.A., El Baradi, M.A. and Hashmi, K.S.J., 1998, “Cutting Forces in the End Milling of Inconel”, Journal of Materials Processing Technology, Vol.77, pp. 153-159. Assis, C.L.F., 2010, “Efeito do Fresamento com Alta Velocidade de Corte na Usinabilidade de Aços Ferríticos com Grãos Ultrafinos”, Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, Brasil, 124 f. Chevrier, P., Tidu, A., Bolle, B., Cezard, P. and Tinnes, J.P., 2003, “Investigation of Surface Integrity in High Speed End Milling of a Low Alloyed Steel”, International Journal of Machine Tools and Manufacture, Vol.43, pp. 1135-1142. Ferraresi, D., 1970, “Fundamentos da Usinagem dos Metais”, Ed. Edgard Blücher, S.Paulo, Brazil, 754 p. Flom, D.G. and Komanduri, R., 1989, “High Speed Machining”, In: Davis, J.R. 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Brasil Centro, 56, 15.385-000, Ilha Solteira-SP UNICAMP Univ Estadual de Campinas, Rua Mendeleyev, 200, Cidade Universitária, 13.083-860, Campinas-SP 2 Abstract: This paper quantifies statistically the effect of the milling parameters on surface integrity of workpiece. The influence of the feed per tooth and cutting speed was investigated on roughness, cutting force and fatigue life of ultrafine-grained steel. The end milling tests were carried out in a CNC machining center considering down milling and dry condition. By using Analysis of Variance (ANOVA), the results indicated that high-speed cutting reduced the cutting force and smoothed the peaks and valleys of roughness, which cause benefic and direct effects on increasing of the workpiece fatigue life. Fractography images showed the presence of the microcavities due to the smaller grain size and higher hardness of workpiece material. Keywords: high-speed milling, surface integrity, ultrafine-grained steels © Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas 2011