UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE PROGRAMA DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL APLICADO A EMPRESA Por: Carla Barone Fernandes Orientador Prof. Luiz Claudio Lopes Alves Rio de Janeiro 2004 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE PROGRAMA DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL APLICADO A EMPRESA Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Docência do Ensino Superior. Por: . Carla Barone Fernandes 3 AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente ao orientador Luiz Claudio pelo empenho na busca partilhada para, da melhor forma, expressar dúvidas e chegar a conclusões neste trabalho monográfico. 4 DEDICATÓRIA ..... Dedico este trabalho primeiramente a Deus e ao meu marido Cristiano, que muito contribuiu para execução deste trabalho monográfico. 5 RESUMO Desde muito tempo já havia estudos sobre o comportamento e as emoções, porém foi a partir de outubro de 1995 nos Estados Unidos, quando foi lançado o livro de Daniel Goleman (Psicólogo pela Universidade de Harvard, jornalista científico do New York Times) que ficou mais esclarecido aos leigos a importância de tal idéia ser absorvida no dia à dia na vida das pessoas. O estudo sobre as idéias de Daniel Goleman foi uma base para a elaboração desta monografia, que procura ressaltar os aspectos mais importantes para se conseguir alcançar a excelência na produtividade e na satisfação dos indivíduos, através da aplicação prática do desenvolvimento do comportamento emocional (Programa de Inteligência Emocional) na vida profissional das pessoas dentro da organização. 6 METODOLOGIA Utilizou-se como recursos materiais para a pesquisa: bibliografia de diversos autores, entre eles psicólogos, psicopedagogos, educadores, bem como foi buscado em sites na internet, jornais e revistas, artigos que pudessem facilitar o entendimento sobre o tema e com isso poder estimular uma maior capacidade para a crítica. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 1 A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL 1.1 As Cinco Aptidões Principais: 2 A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL APLICADA AS ORGANIZAÇÕES 10 14 EMPRESARIAIS 17 2.1 O diálogo 2.1.1 O perdão 2.1.2 A gratidão 2.1.3 Considerações sobre o diálogo 2.2 A crítica 2.2.1 Habilidades para criticar 2.3 Ambiente organizacional e a diversidade 2.4 A confiança 2.5 Inteligência emocional do grupo 21 22 23 23 24 25 27 29 30 3 PERSPECTIVAS PARA O FUTURO EM RELAÇÃO A ALFABETIZAÇÃO EMOCIONAL 3.1 Pais e Filhos 3.2 A Inteligência Emocional na escola 3.3 A Alfabetização Emocional no ensino 4 CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA 31 32 35 38 41 43 8 INTRODUÇÃO As mais recentes pesquisas nas organizações têm revelado novos critérios de avaliação do ser humano, contrariando paradigmas passados onde se valorizava o conhecimento científico, grau de especialização, enfim o grau de inteligência, o QI, em detrimento aos sentimentos e emoções das pessoas. Revela-se agora que o QE, sim pode determinar o sucesso das pessoas. O ponto incipiente para esta nova abordagem, foi a publicação em 1995 do livro Inteligência Emocional, do psicólogo PhD, pela Universidade de Harvard, Daniel Goleman, pois o livro comprova através de estudos e pesquisas realizadas por longo tempo e com grande número de pessoas, ratificando assim suas teorias, a partir de então vários outros pesquisadores apresentaram seus trabalhos sobre o mesmo tema. Desta forma o presente trabalho monográfico tem por objetivo abordar qual a influencia da inteligência Emocional na vida das pessoas, como deve ser aplicada nas empresas e como capacitar emocionalmente os nossos filhos para o futuro. No capítulo I apresento a natureza da inteligência emocional e suas principais aptidões: autoconsciência, autocontrole, motivação, empatia e capacidade de se relacionar. No capítulo II, analiso como a Inteligência Emocional é aplicada no dia a dia das organizações empresariais e as aptidões emocionais que são essenciais para alcançar uma vantagem competitiva, que são: o dialogo, a critica, a diversidade, a confiança e a Inteligência Emocional do grupo. Finalizo, apresentando no capítulo III a importância da alfabetização emocional ensinando o indivíduo desde cedo a trabalhar com suas emoções, o que exige uma nova visão em ensino para pais e professores. 9 Sem dúvida, o presente estudo não esgota as inúmeras questões que envolvem o tema, mas procura suscitar os principais pontos que emergiram na discussão atual sobre a importância de lidar com as emoções em todas as épocas e áreas da nossa vida em sociedade. 1 A NATUREZA DA INTELIGENCIA EMOCIONAL 10 Nos tempos atuais de mundo globalizado, poder se expressar adequadamente e com facilidade pode ser decisivo para o sucesso pessoal. Ao contrário do que se valorizava no passado, o conhecimento técnico, raciocínio lógico e habilidades matemáticas e espaciais (QI) está deixando de ser o principal e exclusivo critério de avaliação do sucesso de uma pessoa, dando lugar a um novo que está cada vez mais importante: a inteligência emocional. Inteligência Emocional, a tese científica que foi publicada em outubro de 1995, pelo psicólogo americano, Ph.D de Harvard, Daniel Goleman onde este apresenta este novo conceito para inteligência mostrando que para o indivíduo obtenha sucesso não depende do QI que possui, mas da sua capacidade de controlar as suas emoções, esta capacidade é essencial para o desenvolvimento da inteligência no indivíduo. O autor procura demonstrar a influência da inteligência emocional na vida das pessoas usando para isso fatos reais, firmados em ampla pesquisa científica. Procura ainda mostrar o que pode ser feito para evitar problemas cotidianos que podem surgir do simples desentendimento e ainda nos fornece uma visão científica sobre como a emoção age no corpo humano. Pois para o psicólogo a maior questão de sua tese é: “como podemos levar inteligência às nossas emoções, civilidade as nossas ruas e envolvimento à nossa vida comunitária?”1. Goleman, declara em seu livro ser um guia: “ eu atuo como um guia numa viagem pelo entendimento científico acerca das emoções, uma viagem que visa a levar maior compreensão a alguns dos mais intrigantes momentos de nossas vidas e do mundo que nos cerca. O fim da jornada é entender o que significa – e como- levar inteligência à emoção. Essa compreensão, por si só, pode ajudar em certa medida; levar a cognição para o campo do sentimento tem um efeito meio parecido com o impacto sofrido pelo observador no nível do quantum na física, que altera o que observa.”2 1 2 Goleman, 1995, p. 14 GOLEMAN, 1995, p. 13 11 Assim, participa-se desta viagem observando alguns conceitos, como detalha-se a diante. Pode-se definir a inteligência emocional como o comportamento do indivíduo frente a sociedade, incluindo seu relacionamento com outras pessoas, reações a situações diversas e capacidade de contornar problemas da maneira mais adequada possível. Mas para melhor explicar esta definição observa-se um exemplo usado por Goleman em seu terceiro capítulo, do livro Inteligência Emocional, onde ele narra a história de um professor de física do segundo grau, David Pologruto, que foi esfaqueado na clavícula pelo aluno Jason que havia tirado nota 8,0 em uma prova, o que poderia prejudicar a sua idéia fixa de entrar na faculdade de medicina em Harvard. Diante do fato contudo, um juiz considerou o aluno inocente, afirmando que este estava privado das suas faculdades mentais na hora do incidente. Estes dois anos após ser inocentado se formou como um dos primeiros lugares da turma. Diante deste fato, e muitos outros que se verifica no dia-a-dia, Goleman questiona como uma pessoa tão inteligente possa ter agido com tamanha estupidez e ele afirma que “a inteligência acadêmica pouco tem a ver com a vida emocional. As pessoas mais brilhantes podem se afogar nos recifes de paixões e dos impulsos desenfreados; pessoas com alto nível de QI podem ser pilotos incompetentes de sua vida particular.”3 Assim, Goleman apresenta a relação de QI e sucesso, ele aceita que a na maioria das vezes há uma relação entre QI e as circunstâncias de vida, ou seja pessoas de baixo QI teriam empregos medíocres e pessoas com alto QI teriam melhores empregos. Contudo, a inúmeras exceções à esta regra onde numa estatística otimista o QI 12 representa 20% dos fatores que determinam o sucesso na vida. Os autores de The Bell Curve, Richard Herrnstein e Charles Murray atribuem ao QI uma importância fundamental para o sucesso, entretanto eles mesmos reconhecem que há outros fatores determinantes além do QI como afirmam: “A ligação que existe entre aferições e aquelas realizações é reduzida pela totalidade de outras características que ele traz para a vida.”4 Portanto, Goleman afirma: “tem sua preocupação no conjunto fundamental dessas ‘outras características’, a inteligência emocional: por exemplo, a capacidade de criar motivações para si próprio e de persistir num objetivo apesar dos percalços; de controlar impulsos e saber aguardar pela satisfação de seus desejos; de se manter em bom estado de espírito e de impedir que ansiedade interfira na capacidade de raciocinar; de ser empático e autoconfiante. Ao contrário do QI, com seus quase cem anos de história de pesquisa junto a milhares de pessoas, a inteligência emocional é um conceito novo. Ninguém pode ainda dizer exatamente até onde responde pela variação , de pessoa para pessoa, no curso da vida. Mas os dados existentes sugerem que esse tipo de inteligência pode ser tão ou mais valioso que o QI. E, embora haja quem argumente que através da experiência ou do aprendizado não exista muita possibilidade de se alterar o QI, ... ,que as aptidões emocionais decisivas, na verdade, podem ser aprendidas e aprimoradas já na tenra idade – se nos dermos ao trabalho de ensina-las.”5 Quando se analisa que pessoas com igualdade de condições intelectuais, de escolaridade e de oportunidade possuirão destinos diferentes, pois estas reagiram de forma diferenciada às vicissitudes da vida. “Apesar de um alto QI não ser nenhuma garantia de prosperidade, prestígio ou felicidade na vida, nossas escolas e nossa cultura privilegiam a aptidão no nível acadêmico, ignorando a inteligência emocional, um conjunto de traços – alguns chamariam de caráter – que também exerce um papel importante em nosso destino pessoal. A vida emocional é um campo com o qual se pode lidar, certamente como matemática ou leitura, com maior ou menor talento, e exige seu conjunto de aptidões. E a medida dessas aptidões numa pessoa é decisiva para compreender por que uma prospera na vida, enquanto outra, de igual nível intelectual, entre num beco sem saída: a aptidão emocional é uma meta- 3 GOLEMAN, 1995, p. 46 Idem. 5 Ibidem. 4 13 capacidade que determina até onde podemos usar bem quaisquer outras aptidões que tenhamos, incluindo o intelecto bruto”6 Pois, as pessoas com prática emocional bem desenvolvida têm mais probabilidade de se sentirem satisfeitas e de serem eficientes em suas vidas, do minando os hábitos mentais que fomentam sua produtividade; as que não conseguem exercem nenhum controle sobre sua vida emocional travam batalhas internas que sabotam a capacidade de concentração no trabalho e de pensar com clareza. Os sociólogos verificam que , em momentos decisivos, ocorreu uma ascendência do coração sobre a razão, o corpo é estimulado e o sistema emocional é o primeiro a agir. Pois estes pesquisas afirmam que as nossas emoções nos orientam diante de situações inusitadas e quando temos de tomar providencias importantes demais para serem resolvidas unicamente pelo intelecto. Por exemplo em situações, como: perigo, dor causada por uma perda, na ligação com um companheiro...Desta forma, declara Goleman que fomos longe demais quando enfatizamos o valor e a importância do puramente racional – do que mede o QI – na vida humana. Pois deste modo, uma resposta de um sistema emocional desequilibrado poderia agravar ainda mais uma determinada situação. Durante esses poucos milésimos iniciais, o cérebro cognitivo sofre uma espécie de seqüestro, pois sua ação demora mais tempo para concretizar-se. Um efeito ainda mais devastador pode ocorrer dependendo da reação que as pessoas tem sob determinados estímulos. Quando uma pessoa explode em ira, fatalmente virá a sentir ainda mais ira. Uma resposta mais empática provavelmente faria com que essa pessoa se sentisse melhor consigo mesma e com a outra que provocou a 6 Goleman, 1995, p. 48 14 situação estimulante. Além desta vantagem, pessoas com desequilíbrio emocional tendem a ter mais doenças do coração, derrames cerebrais ou depressão. Deve-se observar a essência das emoções que são impulsos, legados pela evolução pra uma ação inusitada, para planejamentos instantâneos que objetivam a lidar com a vida. “A própria raiz da palavra emoção é do latim movere – ‘mover’ – acrescida do prefixo ‘e’, que denota ‘afastar-se’, o que indica que em qualquer emoção (raiva, medo, felicidade, amor, surpresa, repugnância, tristeza) está implícita uma propensão para um agir imediato. Essa relação entre emoção e ação imediata fica bem clara quando observamos animais ou crianças; é somente em adultos ‘civilizados’ que tantas vezes detectamos grande anomalia no reino animal: as emoções – impulsos arraigados para agir – divorciadas de uma reação óbvia.”7 1.1 AS CINCO APTIDÕES PRINCIPAIS: • Autoconsciência - refere-se a consciência de seus próprios sentimentos no momento exato em que eles ocorrem, ou seja, como Goleman declara em seu quarto capítulo, a recomendação de Sócrates – “Conhecer-te a ti mesmo”, sendo este mandamento a pedra de toque da inteligência emocional. Portanto, é a capacidade de controlar os sentimento a cada momento em que vivemos que é imprescindível para o discernimento emocional e para a autocompreensão. Entretanto, a incapacidade de observar nossos sentimentos mais verdadeiros nos vulneráveis a eles. Quando se é seguro em relação aos seus próprios sentimento, direciona-se melhor a vida, tem uma consciência maior de como se sente em relação a decisões pessoais. Há pessoas, contudo, que embora possuem sentimentos não consegue identificalos, não conseguem expressar em palavras, é o que se pode dizer umas pessoas com alexitímicos. Falta-lhes a aptidão imprescindível da inteligência emocional, a autoconsciência, o saber o que se sente enquanto as emoções revolvem dentro de nós. 7 GOLEMAN, 1995, p. 20 15 Pois, quando conseguimos colocar em palavras o que sentimos, este sentimento fica sobre controle. • Lidar com as emoções – o autocontrole tem como pré-requisito o autoconhecimento. Desde Platão esta aptidão tem sido vista como uma virtude. Na Grécia clássica, essa aptidão era denominada de sophrosyne, ou seja, “preocupação e inteligência na condução da própria vida; equilíbrio e sabedoria”.8 Ou seja, é a capacidade de controlar (administrar) os impulsos, evitando pré-julgamentos e pensando antes de agir.. Portanto, esta capacidade de gerenciar os sentimentos – onde os sentimentos mais fortes do homem são a tristeza, a alegria e a raiva são fundamentais saber lidar com eles. É essencial para reverter a agressividade de outras pessoas e quebrar situações de tensão As pessoas que sabem controlar suas emoções são aquelas que obtém mais sucesso na vida. • Motivação – Esta qualidade e traduzida por otimismo . Os otimistas são capazes de alcançar as metas acordadas, pois põe as emoções a serviço da meta sendo fundamental para centrar a atenção, para a automotivação e a maestria, e a criatividade. Como base para qualquer tipo de realização está o autocontrole emocional, o saber adiar a satisfação e conter a impulsividade. Os otimistas sabem encontrar saídas e superar dificuldades, eles acham que sempre há uma solução. Não atribuem eventuais fracassos a problemas pessoais, mas a circunstâncias externas, que poderão ser contornadas em situações futuras. Assim, como declara Seligman: “Os otimistas vêem um fracasso como devido a algo que pode ser mudado, para que possam vencer da próxima vez, enquanto os pessimistas assumem a culpa pelo fracasso, atribuindo-o a alguma imutável característica pessoal. Essas diferenças justificativas têm profundas implicações sobre como as pessoas reagem 8 GOLEMAN, 1995, p. 69 16 à vida. Por exemplo, como resposta a uma decepção como a rejeição num emprego, os otimistas tendem a reagir ativa e esperançosamente, formulando um plano de ação, por exemplo, ou buscando ajuda e aconselhamento; vêem o revés como uma coisa que pode ser remediada. Os pessimistas, ao contrário, reagem a esses reveses supondo que nada podem fazer para que as coisas melhorem na próxima vez, e, portanto, nada fazem em relação ao problema; justificam os reveses por alguma falha pessoal que sempre os perseguirá.”9 • Reconhecer emoções nos outros – a empatia é muito importante, isto é, captar os sentimentos dos outros. A empatia é fundamental nas pessoas é a aptidão pessoal mais importante, segundo Goleman. Esta habilidade de "tratar", relacionar-se com as pessoas, compreender suas emoções, agindo de acordo com o momento. Entretanto, para ser empático é preciso estar calmo. Para isso acontecer dois fatores são fundamentais: postura interior de "deixar os problemas em casa" ou de "não levar problemas para a sala de reunião ou para o contato com o cliente ou para ..." e ambiente de trabalho adequado, proporcionado pela gerencia. Outro ponto fundamental e a capacidade de dar e receber feedback logo que um problema e percebido e quando estiver calmo. É preciso evitar que o problema se propague, e isso só pode ser feito através de uma conversa franca, calma e oportuna. Deve-se evitar explosões, que são causadas quando um problema não é resolvido logo, e sua repetição vai provocando, gradativamente, uma degradação do relacionamento. • Lidar com relacionamentos – a aptidão social é a capacidade de lidar com emoções em grupo, de manter os relacionamentos, reforçando as afinidades e descobrindo os pontos em comum. São aptidões que reforçam a popularidade, a liderança e a eficiência interpessoal. Traduz-se em "poder de persuasão". E a base de toda a capacidade de uma equipe gerar bons resultados. As pessoas que desenvolvem bem esta aptidão tem facilidade em qualquer coisa que depende de interagir tranqüilamente com os outros, Goleman as chamam de estrelas sociais. 9 GOLEMAN, 1995, p. 101 17 2 A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL APLICADA AS ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS A partir da década de 80, devido as pressões da globalização e das inovações tecnológicas houve uma mudança no cenário empresarial e consequentemente no cenário emocional das pessoas, inclusive relacionado a vida profissional destas. Como já observamos as mais recentes pesquisas nas organizações têm indicado novos critérios de avaliação do ser humano, já não importa apenas o quanto somos inteligentes, intelectualmente falando, nem a nossa formação ou o nosso grau de especialização, mas principalmente a maneira como lidamos com nós mesmos e com os outros. Além disso, indicam que as habilidades humanas são as qualidades inerentes aos profissionais de sucesso, razão da excelência no trabalho - muito particularmente para os cargos de liderança. Há dados que apontam para a necessidade de levar o assunto a sério, dados baseados em estudos sobre dezenas de milhares de pessoas que trabalham em todos os tipos de atividades e organizações. Estes dados garantem que não é uma novidade passageira, nem a mais recente "receita de bolo" para gerenciar. Goleman apud Filho (2001), em seu livro Trabalhando com Inteligência Emocional afirma que: "Numa época em que não há garantia de estabilidade no emprego, e quando o próprio conceito de emprego vem sendo rapidamente substituído pelo de habilidades portáteis - aquelas que as pessoas podem utilizar em diferentes contextos profissionais -, trata-se de qualidades fundamentais para obtermos emprego. Por muitas décadas, falou-se vagamente sobre essas habilidades, que eram chamadas de temperamento e personalidade ou habilidades interpessoais 18 (habilidades ligadas ao relacionamento entre as pessoas, como empatia, liderança, otimismo, capacidade de trabalho em equipe, de negociação e etc.), ou ainda competência. Atualmente, há uma compreensão mais precisa desse talento humano, que ganhou o nome de inteligência emocional." O fim da empregabilidade e a valorização do trabalho têm exigido níveis cada vez maiores de especialização da parte de empresas e dos funcionários. No cerne de todas essas mudanças, cresce a necessidade de uma profunda reformulação na maneira de ver a pessoa humana, que constitui o principal agente na estratégia para garantir o sucesso dos profissionais e a sobrevivência da organização em meio aos desafios da nossa época. Nas duas últimas décadas, tem aumentado o número de empresas que investem no bem-estar e na satisfação dos seus funcionários, beneficiando amplamente o delicado campo dos relacionamentos e, por conseqüência, a produtividade. Seja através de vivências alternativas - como aulas de ioga, de ginástica, de musicoterapia, biodanza e etc., de atividades de autoconhecimento ou que promovam maior integração, tais empresas estão conscientes do seu papel enquanto entidades não separadas dos indivíduos que a compõem. Desenvolvem e aperfeiçoam uma visão mais ampla do funcionário, considerando que ninguém poderá dar o melhor de si se não apresentar um mínimo de harmonia com seus pensamentos e sentimentos. Em certas organizações, por exemplo, a recompensa pelos bons serviços prestados pode vir não como aumento de salário, mas sob a forma de uma prazerosa e inesquecível viagem que inclua toda a família do funcionário exemplar. Um prêmio desse tipo marca a história do casal e dos seus filhos de modo muito especial e afetivo, favorecendo a imagem da empresa, elevando a satisfação de trabalhar nela e o grau de comprometimento com os seus ideais. 19 Qualquer estrutura que reuna várias pessoas deve, inevitavelmente, criar condições ideais para o trabalho em equipe. Sabe-se que é bem maiores a eficiência e a produtividade entre pessoas trabalhando juntas; entretanto, quando levamos em conta as suas diferenças naturais, começamos a ter outra perspectiva dos bloqueios de personalidade que geralmente dificultam a cooperação. O fato é que cada um de nós tem sua vida particular, suas capacidades e o seu estilo próprio de interagir com os outros. E hoje, mais do que nunca, não se deve confiar apenas no raciocínio lógico para resolver nossas diferenças e, assim, cumprir as metas da organização para a qual trabalhamos. Chegamos ao campo da aptidão emocional ou capacidade para lidar bem com os nossos sentimentos e também com os sentimentos das demais pessoas. Sem ela, o indivíduo estará sujeito a conflitos internos que tiram a sua concentração no trabalho e comprometem a sua clareza de pensamento e a sua produtividade; pode ter a sua memória afetada e dificuldade para tomar decisões com objetividade. Manter-se consciente dos próprios sentimentos, permanecendo atento ao que se está sentindo, também é uma aptidão emocional básica que auxilia o desenvolvimento da integridade e leva a pessoa a descobrir satisfação no seu trabalho. Igualmente importante é saber sintonizar com os sentimentos daqueles com quem nos relacionamos no ambiente profissional, procurando aprender a lidar com as divergências antes que elas cresçam. Observe que pessoas muito influentes numa empresa não só têm consciência dos seus sentimentos como demonstram uma percepção intuitiva do que motiva seus chefes, colegas de trabalho e funcionários. Entretanto, no mundo dos negócios, é comum encontrar profissionais guiados por uma lógica e objetividades excepcionais, mas sem qualquer habilidade para os temas de origem emocional, para as questões do coração. Em parte, isto se deve a crença obsoleta de que a intimidade representa o risco de substituir os interesses da organização pelos interesses pessoais, interferindo na produtividade. Ou que manter o distanciamento 20 afetivo não compromete a tomada de decisões duras quando a presente situação dos negócios não permite outra saída. Assim como a relação de custo-benefício proporcionado pela inteligência emocional é uma idéia relativamente nova no mundo empresarial. Observamos que algumas atitudes passadas são completamente obsoletas, como comentado, portanto quando verificamos uma pesquisa realizada na década de 70, onde 250 executivos afirmaram que no ambiente de trabalho deveriam usar mais a cabeça que ao coração, acreditavam que empatia e solidariedade com as pessoas com as quais trabalhavam poderiam pô-los em atritos com as metas da empresa. Diante da nova realidade competitiva e do crescente nível de exigência dos clientes, torna-se inevitável a aplicação da inteligência emocional no local de trabalho e no mercado, sendo uma condição indispensável ao planejamento das habilidades empresariais no que se refere à liderança, gestão e organização. Do contrário, o destino das empresas no atual momento de mudanças estruturais estará irremediavelmente comprometido. As organizações não podem mais ignorar a força representada pelas pessoas que a integram, que, na melhor das hipóteses, deve compor-se de funcionários competentes, atualizados, ágeis e inovadores. Contudo, a orientação moderna para o sucesso pressupõe que as organizações saibam criar um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam seguras e motivadas a crescer e a aprender com os desafios requeridos por suas realizações. As aptidões emocionais estão trazendo mudanças radicais nos ambientes das organizações, já que não há mais dúvida de que as relações interpessoais entre os seus profissionais constituem um fator prioritário à conquista da excelência em todas as esferas. Lógica e intuição prometem fazer a parceria definitiva no paradigma da empresa do terceiro milênio. Portanto para se adquirir uma vantagem competitiva, 21 destacam-se algumas aptidões emocionais: o diálogo, a crítica, a diversidade, a confiança e a inteligência emocional do grupo. 2.1 O diálogo Uns dos pilares da inteligência emocional é a capacidade de se relacionar, como já visto, e dentro de uma organização isto também é essencial, e o relacionamento esta intimamente ligado ao diálogo. O diálogo começa através de uma valorização recíproca, e não a conversa vazia e polida. A palavra diálogo deriva do grego antigo dia-logos, que significa o livre fluir de idéias entre as pessoas. Isto é que os negócios necessitam cada vez mais, e com urgência. Estudos demonstram que líderes com alto QE não escondem seus sentimentos, mesmo seus medos, angústias e sofrimentos. Eles o admitem abertamente de forma natural. Jay Conger, apud Cooper, professor na Harvard Bussiness School afirma que: “Os líderes que acumulam mais recursos para o futuro são aqueles que aumentam sua capacidade de expressividade emocional – um ingrediente-chave para a determinação, a persuasão e a inspiração.”10 De modo geral, acreditamos que falar consiste em emitir palavras, dirigi-las a outras pessoas. Todavia, para um diálogo genuíno o oposto que é verdadeiro. Nessas interações, deve-se convidar a outra pessoa a entrar em seu mundo, em sua mente e em seu coração e assim concretizar um diálogo e mostrando respeito ao interlocutor e pelo diálogo em si. Pois, tanto para liderar ou ter sucesso, a vida exige que nos empenhamos 10 COOPER, 1997, p 98 22 em perceber, e entender efetivamente o que os outros sentem e percebem, sob a superfície das palavras. A coragem de falar é realmente uma marca do líder e ajuda a pessoa a conquistar o respeito dos outros. Contudo, para olharmos um líder nos olhos e expressar com firmeza uma questão ou opinião claramente contrária requer um forte sentido interior de igualdade humana – competência emocional. Assim, algumas vezes o que nos impede de envolver-nos no diálogo autêntico é o medo. Medo de se expor a riscos, de revelar nossos verdadeiros sentimentos, expor nossas vulnerabilidades...Entretanto, como afirma W. Edwards Deming, apud Cooper, “– ninguém alcança seu melhor desempenho sem se sentir seguro. A palavra seguro vem do latim se , que significa sem e cure, que significa medo. Seguro significa sem medo, sem temor de expressar idéias, sem temor de fazer perguntas.”11 2.1.1 O perdão Muitas pessoas ficam receosas em envolver-se num diálogo aberto e honesto, pois tem medo de apegar-se a raivas e ressentimentos do passado sobre deficiências, afrontas ou erros do trabalho. Para livrar-se desta raiva e medo tem que ter a capacidade de perdoar, que é uma qualidade da competência emocional. É fundamental entender que perdoar é alguma coisa que se faz para liberar a parte de si mesmo que está presa ao pesar e à raiva, e mesmo o ódio. Ou seja, perdoar é liberar a energia aprisionada que poderia estar atuando positivamente em outro lugar. 23 2.1.2 A gratidão Através da gratidão ajuda-se a si mesmo e aos outros, pois livra-se da resistência e do medo. Como afirma Robert Cooper, Ph D, consultor de Executivos, em seu livro Inteligência Emocional na Empresa diz que: “ os líderes excepcionais lideram com gratidão, eles a expressam em primeiro lugar porque perceberam que essa é uma maneira essencial de melhorar a vida organizacional e sabem que o sentimento de apreciação pode retornar para eles em dobro. Esse interesse pelo outro é crucial para o diálogo autêntico. Precisamos estar presentes, importar-nos com o outro, compartilhar idéias. E isso pode ser vantajoso de muitas formas em nossas atividades empresariais.”12 2.1.3 – Considerações sobre o diálogo. Na prática de dialogar Cooper faz algumas considerações: • Quando participar de uma discussão ou reunião, ouça atentamente e seja claro em relação ao seu propósito. Esta atitude poupa tempo e gera relacionamentos mais fortes, na maioria das vezes. Em grupo, é fundamental ampliar sua intuição e captar o sentimento dos outros e pretendendo e após fazer perguntas esclarecedoras para ver se alcançou o alvo. • 11 12 Valorize a coerência e fale abertamente quando ela não estiver presente. COOPER, 1997, p 105 COOPER, 1997, p 106 24 • Adote códigos de grupo para compartilhar sentimentos e esclarecimentos. • Reaja com interesse a novas idéias – deixe de lado sua intuição crítica e demonstre uma curiosidade e consideração sincera, se desejar levantar algum questionamento, o faça. Assim, sem causar animosidade, usa-se o QE para oferecer à pessoa uma oportunidade de examinar a própria idéia, demonstrando seus pontos fortes e fracos e julgando com independência. Desta forma, ajuda-se a preservar – e mesmo a fortalecer - sentimentos de orgulho e entusiasmo que são tão vitais se você mesmo, e outros que trabalham com você, almejarem continuar a novas idéias. • Escreva uma carta do seu privado para seu ser público. 2.2 – A crítica O administrador tem como uma das tarefas mais importantes a crítica, e neste sentido, esta é muito temida e preterível. O que ocorre é que a maneira como as críticas são feitas e como são recebidas revela até que ponto as pessoas estão satisfeitas com seu trabalho, com os que trabalham com elas e a chefia. Muitas vezes as críticas são expostas como ataques pessoais mais do que como reclamações específicas a partir das quais alguma atitude possa ser tomada; há agressões emocionais sobrecarregadas de repugnância, sarcasmo e descaso, esse tipo de atitude ocasiona uma reação defensiva, ou seja, uma fuga das responsabilidades que levam ao contato com a pessoa que fez a crítica, uma fuga daquele tipo de sentimento novamente, isto é, ser injustamente tratado. Quando a crítica é pessoal, generalizada, exemplo: “você está estragando tudo”, inviabiliza qualquer tipo de argumentação e sugestão de como fazer melhor. E provocam na pessoa criticados sentimentos de 25 impotência e rancor. Dentro da concepção de inteligência emocional, essa crítica demonstra desconhecimento acerca dos sentimentos que serão provocados naqueles que a recebem e do efeito devastador que esses sentimentos terão em sua energia, motivação e segurança na execução do trabalho. No ambiente organizacional não deve haver demora no feedback, como afirma J.R. Larson, apud Goleman, psicólogo da universidade de Illinois: “A maioria dos problemas no desempenho de um empregado não surge de repente; desenvolve-se com o tempo”. Quando o chefe não diz imediatamente o que sente, isso leva a um lento acúmulo de frustração. E aí, um dia explode. Se a crítica tivesse sido feita antes, o empregado poderia ter corrigido o problema. Muitas vezes, as pessoas criticam apenas quando a coisa transborda, quando ficam iradas demais para conterem-se. E aí que fazem a crítica da pior forma, num tom de sarcasmo mordaz, com um monte de reclamações que guardaram para si ou fazem ameaças. Esses ataques são como um tiro que sai pela culatra. São recebidos como afronta, e quem os recebe fica, por sua vez, com raiva. É a pior maneira de motivar alguém.”13 2.2.1 – Habilidades para criticar. Ao criticar não se deve identificar um traço do caráter da pessoa, mas sim se focalizar no que a pessoa fez e no que pode fazer. Pois, quando focalizamos o caráter, tocamos em algo que a pessoa considera imutável em si mesmo e a leva a desilusão. Todavia, quando consideramos as circunstancias, estas são mutáveis e podemos interferir com a finalidade de mudar para melhor. O psicanalista e consultor de empresas Harry Levison aborda os seguintes aspectos da crítica, na visão de quem critica, que está intimamente ligada à arte do elogio: 13 GOLEMAN, 1995, p. 167 26 • Seja específico – dizer que alguma coisa está errada, não acrescenta, deve-se concentrar nos detalhes, informando a pessoa criticada o que está certo, o que está errado e o por que está errado. • Ofereça uma solução – para pessoa criticada não se sentir desmotivada, frustrada ou desmoralizada, a crítica deve ser acompanhada por uma solução/sugestão para o resolver o problema, assim como todo feedback útil • Faça a crítica pessoalmente – é indevido o uso de memorando ou praticas semelhantes, as pessoas que a recebem devem ter a oportunidade de responder ou prestar esclarecimentos. • Seja sensível – a empatia é fundamental ao se criticar deve-se estar sintonizado com o impacto que irá provocar com o que diz e como o diz sobre a pessoa a quem se dirige. Contudo, a pessoa que é criticada também deve estar atento a sua postura diante da critica. Assim, Levison, apud Goleman, dá alguns conselhos emocionais para pessoa criticada: “ Um deles é vê-la como uma informação valiosa para aprimorar o seu próprio trabalho, e não como um ataque pessoal. Outro é manter vigilância sobre o impulso para cair na defensiva, em vez de assumir a responsabilidade. E, caso seja muito perturbador, peça para continuar a conversa mais tarde, após o período necessário para a absorção da mensagem difícil e para esfriar um pouco. Finalmente ele aconselha as pessoas a verem a crítica como uma oportunidade de trabalhar junto com que critica, para resolver o problema, e não como uma emulação.”14 2.3 - Ambiente organizacional e a diversidade 14 GOLEMAN, 1995, p. 169 27 A diversidade ambiente profissional é algo proveitoso, pois possibilita uma força de trabalho diversificada, com diferentes costumes, práticas, cultura o que deve ser transformado em criatividade. Contudo, sentimentos preconceituosos podem inibir esta criatividade já que pessoas expostas ao preconceito, independente da forma, podem se sentir coagidas e evitarem a ser expor para evitar o preconceito, da mesma forma que a criticada de forma errada. Entretanto, acabar com os sentimentos preconceituosos dentro das organizações não é tarefa fácil, porém necessário. Isto ocorre porque os preconceitos são um tipo de aprendizado emocional que ocorre na tenra idade, assim dificultando eliminar este tipo de reação, mesmo em pessoas que, quando adultas, acham errado tê-las. Explica Thomas Pettigrew, apud Goleman, psicólogo social da Universidade da Califórnia: “Os sentimentos preconceituosos se formam na infância, ao passo que as crenças usadas para justificá-las vêm depois... Mais tarde, você pode não querer mais ser preconceituoso, mas, é muito mais fácil mudar crenças intelectuais que sentimentos arraigados. Muitos sulistas me confessam, por exemplo, que, embora racionalmente não mais tenham preconceitos, sentem nojo quando apertam a mão de um negro. Esses sentimentos são resíduos do que aprenderam em casa quando eram crianças.”15 Muitas vezes o preconceito vem disfarçada, de maneira mais sutil, a pessoa negam atitudes racistas mesmo quando agem com preconceito encoberto, exemplo quando se defrontam dois candidatos um negro e outro não com as mesmas qualificações, se escolhe o branco alegando que a experiência ou formação não é muito adequada. O preconceito deve ser banido das organizações e para isso deve-se tomar posição ativa contra qualquer forma de discriminação, dos mais altos aos mais baixos escalões da administração. Os preconceituosos não vão embora, mas os atos de preconceito 28 podem ser sufocados, caso não haja tolerância. O simples fato de chamar o preconceito de preconceito ou protestar contra ele, no momento em que ele ocorre, faz com que os preconceituosos se sintam desestimulados a agirem desta forma, contudo se não há uma posição contrária irá parecer coonestação. Quem desempenha papel fundamental no combate ao preconceito são os chefes, já que o fato de não condenarem atos de preconceito eqüivale a dizer que tais atos são liberados. Medidas como uma reprimenda envia a poderosa mensagem de que o preconceito não é uma bobagem, mas tem conseqüências reais – e negativas. Um bom artifício no combate ao preconceito é levar as pessoas a se colocarem no lugar do outro, a empatia e a tolerância. Pois, ao passo que as pessoas passam a entender o sofrimento daqueles que se sentem discriminados, é mais provável que o denunciem. Entretanto, afirma Goleman, o preconceito como é um tipo de aprendizado emocional tem a possibilidade de um reaprendizado – mesmo que este leve tempo e não se deve esperar um efeito imediato, exige treinamento continuo. “O que pode contar, porém, é a camaradagem constante e os esforços diários para uma meta comum de pessoas de diferentes origens.”16 Assim, “deixar de combater o preconceito no local de trabalho é perder uma oportunidade maior; aproveitar as possibilidades criativas e empresariais proporcionadas por uma força de trabalho diversificada.”17 2.4 – A confiança A palavra confiança é definida como absoluta segurança na honestidade de si mesmo ou do outro. Em nosso convívio com os outros a confiança e credibilidade estão intimamente ligados. 15 GOLEMAN, 1995, p. 171 GOLEMAN, 1995, p. 173 17 Idem. 16 29 A confiança não é apenas uma boa idéia ou atitude, mas sim alguma coisa que devemos sentir sobre a qual devemos agir. Quando confiamos em nós mesmos e podemos alongar esta confiança aos outros, há uma troca de confiança mutua, e isso se torna o elo que mantém os relacionamento unidos e libera o diálogo sincero. Entretanto, a falta de confiança, leva-nos a despender muito tempo e esforço protegendo, duvidando, verificando, avaliando e inspecionando em vez de fazermos o trabalho real – isto é, o trabalho criativo valioso e baseado no espírito de colaboração. Há uma relação direta entre a confiança e tornar-se criativo e eficaz, isto é, quanto maior a confiança que tenho em mim mesmo e nos outros, e no ambiente, mais criativo e eficaz eu me torno, portanto aumento minhas chances de ser bem-sucedido. O chefe de pesquisa comportamental no Duke University Medical Center, Redford Williams constatou em pesquisa realizada sobre a confiança que a desconfiança crônica, e os concomitantes sentimentos de hostilidade, podem realmente fazer mal ao coração humano e levar a um ataque do coração fatal. Assim, Williams indica como estratégia preventiva: “crie mais confiança nos relacionamentos em sua vida e no seu trabalho”18 A eficiência do grupo também esta relacionada com a confiança, como demonstra outra pesquisa. Possibilitando que os membros expressem abertamente seus sentimentos e diferenças, e evitem sabotagens e posições defensivas típicas. Quando as pessoas não confiam uma nas outras, elas ignoram os sentimentos e as realizações e idéias do outro que temem poderem aumentar sua vulnerabilidade; sob essas condições as chances de mal-entendidos e suposições incorretas aumentam drasticamente. A confiança tem também mostrado ser o mais importante indício de satisfação profissional individual com a empresa em que a pessoa trabalha. 18 COOPER, 1997, p 118 30 A confiança se constrói e mantém sobre uma honesta e apropriada base de transparência, autenticidade e credibilidade. É evidente que a confiança nos negócios depende, antes de tudo, estabelecer contato emocional com o ouvinte. 2.5 – Inteligência emocional do grupo Atualmente, a participação no mercado de trabalho americano dos “trabalhadores do conhecimento”, pessoas cuja produção se distingue pela atribuição de valor à informação, está crescendo a cada dia. E com este trabalhador do conhecimento o trabalho em equipe se torna essencial, não mais o esforço do indivíduo. Observa-se que o sucesso de um grupo, o êxito de um trabalho realizado não se dá analisando o nível do QI das pessoas envolvidas, ou seja não é o QI médio no sentido acadêmico mas sim a inteligência emocional do grupo. Portanto, deve haver uma harmonia entre os membros que compõe o grupo. Deve-se evitar em um grupo para o seu bom desempenho pessoas controladoras ou dominadoras e também as pessoas que não participam do trabalho, são omissas. “Um dos importantes fatores para maximização da excelência de um grupo era o quanto os participantes eram capazes de criar um clima de harmonia interna, de forma que o talento de cada um fosse aproveitado.”19 Pois, um ambiente em harmonia propicia a maximização da capacidade criativas e talentosas de seus membros, assim alcançando melhores resultados. Um facilitador em ocasiões em que um grupo se depara com problemas imprevistos é a formação de uma rede de pessoas-chave. Isto é as pessoas que compõe o grupo investem tempo no cultivo de bons relacionamentos com pessoas que serviços podem ser necessários numa emergência, formando assim as redes informais. Estas pessoas praticam aspectos básicos da inteligência emocional, ou seja lideram na 31 formação de consenso, tem empatia tanto como cliente ou outro membro do grupo, evita conflitos, promove cooperatividade e toma iniciativas. Assim, estas aptidões da inteligência emocional serão cada vez mais importantes nos trabalho em equipe deste mundo globalizado, com transformações tão rápidas é fundamental a ajuda às pessoas para que aprendam juntas como trabalhar com mais eficiência. Como afirma Goleman encerrado o seu capítulo sobre a nova forma de se administrar: “À medida que serviços baseados no conhecimento e no capital intelectual se tornam mais fundamentais para as empresas, melhoram maneira como as pessoas trabalham em equipe será uma grande forma de influenciar o capital intelectual, o que faz uma crítica diferença competitiva. Para prosperar, senão para sobreviver, as empresas deveriam desenvolver sua inteligência emocional coletiva.”20 3 ALFABETIZAÇÃO EMOCIONAL Visando proporcionar ao homem melhor qualidade de vida material os avanços tecnológicos e científicos não foram suficientes para garantir um maior equilíbrio e bem-estar mental e espiritual, neste contexto as emoções são cada vez mais valorizadas, dia após dia. Assim, vamos analisar a importância de aprender lidar com as emoções ainda cedo desde da infância na relação com os pais e no colégio. 3.1 Pais x Filhos É certo que os pais são responsáveis pela educação de seus filhos, contudo não podem ser condenados se estes não a adquirem. Embora, a inteligência emocional de uma criança seja resultante de sua interação com os familiares, até certo ponto é 19 20 GOLEMAN, 1995, p. 175 GOLEMAN, 1995, p. 178 32 determinada por seu temperamento – os traços de personalidade com os quais nascem. Isso explica o fato de crianças nascidas e criadas num mesmo ambiente familiar apresentam diferenças de comportamento tão flagrante. Todavia, isto não justifica a exagerada agressividade e a falta de educação de algumas crianças. Até mesmo as emoções negativas podem ser utilizadas de maneira produtiva: o ímpeto raivoso de algumas poderia ser transformado em liderança criativa sem o uso de agressividade, que devem ser desestimulados. A orientação na direção das escolhas sadias, que os filhos devem tomar é de responsabilidade dos pais, que ocorre de acordo com seu grau de consciência e informação destes. O psicólogo americano John Gotman, autor do livro Inteligência Emocional e a Arte de Educar Nossos Filhos, faz alguns questionamentos na relação entre pais e filhos: como os pais podem contribuir para oferecer aos filhos um treinamento eficaz no trato com suas emoções? Quando devem começar a estimular seus pequeninos a demonstrar seus sentimentos, conduzindo-os ao equilíbrio em vez de tentarem controlálos a todo custo, o que inclui, muitas vezes, alto grau de autoritarismo ou uma dose de agressividade? Gotman, em seu livro, aconselha aos pais o estímulo e a empatia sejam adotados bem cedo, pois até mesmo os bebes são capazes de absorver as insinuações sociais e emocionais a que são submetidos. Na prática começa do olhar, da conversa com tom voz agradável e amistoso e do descanso proporcionado ao passo que a excitação se torne demasiada. Com essas atitudes aparentemente simples, a criança vai adquirindo autocontrole. Ao passo que o bebê amadurece essas técnicas voltadas ao aprendizado da calma e da focalização da atenção vão se tornando cada vez mais importante. Elas permitem que o bebê fique atento ao comportamento de pais, babás e outras pessoas de seu ambiente. A criança que se mantém calma desenvolve a concentração, muito importante para aquisição de novos conhecimentos e da proposição de conquistas e metas. Através 33 do desenvolvimento dessas habilidades, ela é capaz de aprender a emprestar seus brinquedos, dar atenção aos colegas e várias outras atitudes eficientes para uma convivência pacífica e produtiva. Isso a torna mais preparada para enfrentar situações novas como fazer amigos, entrar numa brincadeira ou lidar com a rejeição, caso isso ocorra. O psicólogo Haim Ginott, muito reconhecido nas décadas de 50/60, muito antes do termo Inteligência Emocional, já afirmava que uma das maiores responsabilidades dos pais consiste em aprender a escutar seus filhos, ouvindo, principalmente, os sentimentos por trás das palavras. É de suma importância demonstrar verdadeiro respeito e compreensão por tais sentimentos, preservando os limites e a integridade do “eu” de cada uma das partes envolvidas. Na tarefa de transmitir valores aos filhos os pais contam com a ajuda das emoções, afirma, Ginott. É pouco aconselhável, dizer à uma criança como ela deve se sentir, pois tal treinamento faz com que ela deixe de ouvir e de confiar em seus próprios sentimentos, ao longo do tempo. Exemplificando, “quando o pequeno João se aproxima choroso, revelando que sente medo do irmão mais velho Paulo, e o pai machão retruca: ‘Você não deve se sentir assim. Vá lá e dê um soco nele!’, está criando um problema, não uma solução. A tradução que permanece, confundindo o João ainda mais é: ‘Você não deve ser medroso, transforme isso em raiva e vá a forra!’”21 As emoções e desejos não devem ser reprimidos segundo Ginott, mas sim as ações. Se João fosse do tipo explosivo que não se deixa abater pelo tamanho ou a força do inimigo, também seria inconveniente a recomendação. “Não sinta raiva do seu irmão porque isso é feio”, contudo a proibição de que ele atacasse Paulo a socos e pontapés é aceitável. Mais apropriado mesmo seria cortar o mal pela raiz, ou seja reprimindo a atitude de provocação inerente do temperamento do mais velho; diante de uma ação impensada, porém, o remédio, muitas vezes, é o controle da reação, que pode ser evidenciada ou modificada a tempo. Se João aprender a exercer com firmeza seu 21 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL. O século 21 Chega à Educação. São Paulo: Três. p. 25 34 autocontrole, quem sai lucrando é ele, em casa e na vida, ao passo que o irmão vai demorar mais para ultrapassar cada estágio da sua ignorância emocional. Assim, as nossas bisavós e até mesmo a geração de alguns de nossos avós clamam por castigos “disciplinadores”, sendo adeptos de atitudes severas. Esquecem-se, contudo, de que, em tempos idos, a relação entre pais e filhos era muito mais de autoridade do que de amizade. Muitas pessoas conservam a idéia de que a família é, por excelência um laboratório de neuroses, sendo útil para que possamos aprender “como não se faz”. Atualmente, o respeito que se aprende e se aplica aos familiares nos prepara melhor para lidar com as relações fora de casa. Ao expressarmos nossa contrariedade, nossa raiva ou fraqueza, nos colocamos em relação de igualdade com nossos pais e irmão, deixando de lado a hierarquia do patriarcado antigo que já não serve de modelo para nada. O momento em que vivemos requer muita habilidade e sensibilidade para lidar com as emoções alheias. A sociedade doente ameaça nossos filhos com: as drogas, a Aids, gravidez na adolescência (a qual transforma, do dia para noite, jovens despreparados em pais e mães mal-resolvidos que num moto-perpétuo, criarão cabeças ainda mais problemáticas ou doentias). Ao grande número de separação entre casais é atribuída a desestruturação familiar atual por muitos e estão certos em boa parte de sua especulação. Contudo mesmos no caso de pais separados estes desde que bem equilibrados emocionalmente podem contornar a situação e seus filhos não serem atingidos emocionalmente. Os pais separados devem considerar o tempo que ficam com seus filhos precioso, em todos os casos, este momento deve ser encarado como uma excelente oportunidade para novas descobertas acerca de seus próprios sentimentos, servindo de tema para os momentos em que desfrutam juntos de suas experiências. 3.2 – A Inteligência Emocional nas escolas 35 Há muito tempo os educadores estão preocupados com as notas baixas de seus alunos, se estes irão aprender bem a matemática, português, geografia...mas agora começam a se preocupar com uma outra deficiência que é mais alarmante o analfabetismo emocional. Como disse o professor do Brooklyn, apud Goleman, “a atual ênfase do ensino parece sugerir que “nos preocupemos mais com a qualidade da leitura e escrita dos alunos do que em saber se eles vão estar vivos na semana que vem’.”22 As crianças não estão bem e isto não está relacionado a cultura, país ou faixa de renda, há problemas em todas as escalas, e Goleman identifica em seu livro Inteligência Emocional os seguintes pontos específicos: • “Retraimento ou problemas de relacionamento social: preferir ficar só; ser cheio de segredos; amuar-se muito; falta de energia; sentir-se infeliz; ser muito dependente. • Ansioso e deprimido: ser solitário; ter muitos medos e preocupações auto-exigência exacerbada; não se sentir amado; sentir-se nervoso; triste e deprimido. • Problemas de atenção ou de raciocínio: dificuldade de concentração; devaneio; agir impulsivamente.; nervoso demais para concentrar-se; mau desempenho escolar; incapacidade de afastar pensamentos • Delinqüente ou agressivo: andar com garotos que se metem em encrencas; mentir e trapacear discutir muito; ser mau com os outros; chamar atenção para si; destruir as coisas dos outros; desobedecer em casa e na escola; ser teimoso e macambúzio; falar demais; provocar demais; ter pavio curto.” Ter um destes problemas isoladamente não seria um problema tão grave, o que ocorre no entanto é um abrangente déficit de aptidões emocionais. Neste contexto de analfabetismo emocional, um estudo que acompanhou crianças desde os anos do pré-escolar até a adolescência constatou que metade dos alunos que na primeira série eram perturbadores, incapazes de se dar com os outros, desobedientes como os pais e resistentes como os professores se tornaram delinqüentes na adolescência. É certo que nem todas estas crianças se tornaram violentas ou seguiram para criminalidade. Contudo de todas as crianças, são essas as que tendem a cometer crimes violentos. Assim, crianças que na primeira e segunda série, são agressivas e 36 difíceis de lidar já apresentam um protótipo de violência e criminalidade. Na escola de Montreal quando se realizou este estudo observou que as crianças classificadas por alto grau de hostilidade e criação de caso, já tinham dado muito mais provas de delinqüência cinco a oito anos depois do que comparadas a outras crianças. Para ensinar as crianças a lidar com as emoções surgem aulas como a de Ciência do Eu23, em uma escola pioneira nesta “disciplina” que dá um treinamento modelar em inteligência emocional, onde o tema é os sentimentos os nossos e os que irrompem nos relacionamentos. Tem como estratégia o uso das tensões e traumas da vida das crianças como o tema do dia. Como afirma Karen Stone McCown, a criadora do currículo do curso e diretora da Nueva: “- O aprendizado não pode ocorrer de forma isolada dos sentimentos das crianças. Ser emocionalmente alfabetizado é tão importante na aprendizagem quanto a matemática e a leitura.”24 Desta forma, as lições são sofisticadamente elaboradas, como acrescenta Karen: “- Quando falamos sobre a raiva, ajudamos as crianças a entender que ela é quase sempre uma reação secundária e a buscar o que está por trás: você está magoado, com ciúmes? Nossas crianças aprendem que sempre há opções para reagir a uma emoção, e quando mais meios temos para lidar com as emoções, mais rica é a nossa vida”25 Nestes cursos não há notas, a própria vida é a prova final. Mas no final da oitava série os alunos fazem um prova oral, onde são feitas perguntas do tipo: “’Descreva uma resposta adequada para ajudar um amigo a resolver um conflito com alguém que o pressiona para usar drogas, ou com um amigo provocador.’ Ou: ’Cite algumas maneiras saudáveis de lidar com a tensão, ansiedade, raiva e medo’”26 O não aplicar provas pelo curso de Nueva, vai de encontro com com Tim Shriver, professor do ginásio de Hilhouse, do modelo de solução de problemas conhecido como SOCS (Situation, 22 GOLEMAN, 1995, p. 245. No C e n t r o d e A p r e n d i z a d o N u e v a L e n g u a , u ma e s c o l a n a a n t i g a g r a n d e ma n s ã o d a f a mí l i a C r o c k e r , a d i n a s t i a q u e f u n d o u a d o s ma i o r e s b a n c o s d e S a n F r a n c i s c o . A g o r a a c a s a é u ma e s c o l a p a r t i c u l a r . 24 GOLEMAN, 1995, p. 276. 25 Idem, p. 282. 26 Idem, p. 283. 23 37 Options, Consequence, Solutions – Situação, Opções, Conseqüências, Soluções), que declara: “uma coisa está clara: o campo de provas para a solução de problemas sociais não é só a sala de aula, mas a lanchonete, as ruas, o lar”27 Alguns programas de aptidões emocionais e sociais não usam o tempo destinado a outras disciplinas, mas ao contrário, entram como ensinamentos dentro do próprio tecido da vida escolar, dando exemplos de acordo com a faixa etária das crianças, de acordo com a sua vivência. Linda Lantieri, fundadora do Programa de Solução Criativa para Conflitos e diretora do centro nacional desse método sediado em Manhattan, analisa seu programa com uma finalidade maior do que combater a violência, ela afirma: “- O programa mostra aos estudantes que eles têm muitas opções para lidar com conflitos, além da passividade ou agressão. Mostramos a eles a futilidade da violência, substituindo-a por aptidões concretas. As crianças aprendem a garantir seus direitos sem recorrer à violência. São aptidões para a vida toda, não apenas para aqueles mais inclinados à violência”28. Desta forma Goleman, afirma que o projeto ideal dos programas de alfabetização emocional é quando começa ser trabalhado cedo com a criança, é apropriada a idade, e cobre todo o tempo de escolaridade e intercala os trabalhos na escola, em casa e na comunidade. 3.3 A alfabetização emocional no ensino brasileiro O uso de técnicas para despertar a inteligência emocional em nossas escolas tem conseqüência inevitavelmente revolucionária, pois o desenvolvimento e o uso da inteligência emocional nas escolas põe em ação o potencial ilimitado de autoconhecimento e de aprendizado do ser humano. A sala de aula é um laboratório em que criam os padrões de comportamento da sociedade: ali estão as relações de amor e 27 28 Idem, p. 296 GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995, p. 291. 38 competição, os sentimentos de confiança e medo, o ânimo e auto-estima que marcam a formação das pessoas. Neste contexto, o professor é um coordenador e facilitador do processo, dando elementos para que os alunos se desenvolvam. O Brasil, com todas as suas limitações no campo educacional (pouco investimento na área com professores despreparados, baixos salários, salas de aulas pequenas, as escolas sem recursos e o grande número de alunos por turmas...) começa a dar atenção há uma nova proposta pedagógica, com todo o infinito potencial da inteligência emocional. A educadora Elaine de Beauport afirma em seu livro Inteligência Emocional, As Três Faces da mente que o mais importante para o jovem é “aprender a aprender”: “Uma das mudanças fundamentais na educação primária, na educação secundária e na universidade será a criação de centros que ‘ensinem a aprender’ em cada um dos três níveis. O currículo básico ou central não se limita a uma questão de aprender mais línguas e matemática, ciência e literatura. Nem é uma questão relativa á combinação especial de matérias para formar um aluno bem equilibrado. Ao contrário, é uma questão de desenvolver centro em que sejam oferecidos conhecimentos sobre o aprendizado, sejam eles chamados de ‘epistenologia’ ou intitulados ‘aprendendo a prensar, sentir e agir’ e ‘aprendendo a aprender’”. Acrescenta ainda: “Mas muitos estudantes com ênfase no hemisfério direito ficam ressentidos e irados por terem sido rotulados como estudantes de segunda categoria. Sua mágoa e ressentimento é então transportada para a escola secundária, levando às drogas, ao crime e, depois, à formação de cidadãos de segunda classe e à necessidade de mais prisões. Estou convencida de que a maior causa de crimes, de uso de drogas e de violência é a estrutura da escola de 1º grau, que planta amargura, inveja e ressentimento entre os que são rotulados como perdedores. O novo conhecimento de que dispomos sobre os sistemas cerebrais torna imperativo descobrirmos uma nova estrutura que dê a todos os alunos uma chance justa de ter sucesso em algo útil para suas vidas. A sociedade não pode dar-se ao luxo de ensinar às pessoas que elas são idiotas e depois soltá-las para desafogar sua raiva indiscriminadamente quando nós menos esperamos” 39 As emoções das crianças brasileiras, distorcidas em grande parte pela influencia da televisão, ainda não estão sendo trabalhadas construtivamente em muitas escolas, contudo há uma necessidade de que isso ocorra maciçamente. Simultaneamente, todo o país, a cultura brasileira, deve reconhecer a importância da educação e da inteligência emocional, para que as crianças tenham um país saudável onde crescer e desenvolverse. É fato, que para aplicarmos a inteligência emocional em larga escala teremos que primeiro capacitar/qualificar os nossos professores, pois ninguém pode ensinar o que não sabe. Contudo, está liberação da criatividade, da intuição por parte dos professores nas salas de aulas vem ocorrendo, mesmo que lentamente. Observa-se dois exemplos: • A professora Márcia Fazzani, da 4º série do 1º grau na Escola Tijucussu-Pueri, na rede particular de São Caetano do Sul, em São Paulo, realizou em 1998 uma experiência exitosa: durante uma hora, uma vez por semana, ela discutia com seus alunos temas relativos à inteligência emocional, como “sou único” ou “sou especial”. E todos os dias cada aluno colocava no quadro uma nota para seu próprio estado de espírito ao começar a aula. A nota ia de 1 a 5, sendo 5 ótimo, 4 muito bem, 3 bem, 2 regular e 1 péssimo. Os efeitos da experiência sobre o aprendizado dos alunos foram muito positivos. • Robervania Moreira Vale, que ensina matemática para alunos de 5º série em Ceilândia, Brasília: em um certo dia chegou a sala sem falar uma só palavra e todos os alunos assustaram sentaram e ficaram observando ela escrever no quadro: “Eu tô feliz, Eu tô alto astral, Tô sorrindo a toa, Brincando numa boa, Vou liberar geral... E só um aluno ficou em recuperação no terceiro bimestre !!! Vamos ajudá-lo??? Após isto foi uma gritaria geral em sua sala, as crianças ficaram eufóricas, todos se abraçaram e se beijaram cantando a canção do quadro. “Começamos então a corrigir o exercício dado na aula anterior e todos respondiam às perguntas num verdadeiro coral da alegria. É bom vê-los 40 felizes, acreditando em si, ajudando uns aos outros, e saber que uma simples frase, um sorriso, um mistério os leva à satisfação e transforma complemente a aula”29. A sociedade como um todo deve se conscientizar em garantir a todas as crianças o mínimo de competência para lidar com a raiva e resolver conflitos de forma positiva, ensinar a empatia, controle de impulso ou quaisquer outros fundamentos de competência emocional. Quando esta preocupação não ocorre perdemos um momento muito oportuno, o lento processo de maturação do cérebro, para proporcionar às crianças o cultivo de um repertório emocional saudável. CONCLUSÃO Ao abrimos um jornal ou qualquer outro meio de comunicação que utilizamos para tomar conhecimento das principais notícias do dia-a-dia, nos deparamos com situações assustadoras, imprevisíveis e cruéis. Ocorrem crimes com pessoas de todas as idades, de todos os níveis e sociedade, seja esta desenvolvida ou não. Assim, nos confrontamos com a seguinte pergunta: o que leva esta pessoa tomar uma atitude tão agressiva se não houve um motivo tão grave assim para que esta cometesse tal crime/atitude? 29 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL. O século 21 Chega à Educação. São Paulo: Três. p. 25 41 Para responder este tipo de pergunta, temos que levar em conta que o ser humano é muito pouco capacitado em controlar suas emoções, o que leva a tomar atitudes impulsivas, pois em momentos decisivos, com muita tensão, ocorre uma ascendência do coração sobre a razão. Como destaca o psicólogo Daniel Goleman quando lança o seu livro Inteligência Emocional, em 1995, dando uma nova visão quanto o papel das emoções em nossas vidas. Pois, o indivíduo deve, primeiramente, aprender a reconhecer as suas emoções, pois assim, sabendo o que está realmente sentindo poderá então aprender a trabalhar com esta de forma inteligente. Sentimentos como a raiva, ira, ódio, inveja, existem e continuaram existindo, mas quando tomamos conhecimento de qual sentimento realmente estamos envolvidos, nos preparamos para trabalhar com este de forma positiva. Quando fingimos que sentimentos negativos não existem, eles tendem a crescer dentro de nós e quando explodem leva-nos a tomar atitudes que normalmente não tomaríamos. Este aspecto da vida é tão importante, que mesmo pessoas com alto Q.I. de inteligência tem o seu sucesso limitado por não saber lidar com as próprias emoções. O uso das emoções de forma inteligente tem causado mudanças nas empresas, pois nos últimos anos as organizações têm sofrido grandes transformações com o aumento da competitividade, redução dos postos de trabalho, o que leva a um crescimento da concorrência entre os funcionários elevando a pressão no ambiente de trabalho. Crescendo assim, a necessidade de uma profunda reformulação na maneira de ver a pessoa humana, que constitui o principal agente na estratégia para garantir o sucesso dos profissionais e a sobrevivência da organização em meio aos desafios da nossa época. As organizações têm consciência, que são compostas de pessoas com vida própria e estilos diferentes de interagirem com os outros, que se o funcionário estiver bem será mais produtivo, por isso investem em atividades que promovem a integração entre os funcionários e levam a um maior autoconhecimento. Portanto, criando um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam seguras e motivadas a crescer e a aprender com os 42 desafios requeridos por suas realizações. Embora, este processo seja incipiente, necessitando de expansão. Ter aptidões como: o diálogo, a crítica, a diversidade, a confiança e a inteligência emocional do grupo constitui um fator prioritário à conquista da excelência em todas as esferas de uma organização. Pois, a lógica e intuição prometem fazer a parceria definitiva no paradigma da empresa do terceiro milênio. Esta capacidade para tratar as emoções é algo que se pode e deve ser aprendido, mas não é um curso com carga horária e provas, e sim é um aprendizado diário onde a prova é o próprio cotidiano, com todos os seus imprevistos e deve começar a ser aprendido o quanto antes por todos os indivíduos. Portanto, para conquistarmos uma sociedade mais civilizada para nós e nossos filhos temos que inserir em nosso aprendizado, na escola da vida, a inteligência emocional, para que não ocorram situações, em que botamos a mão na cabeça e expressamos: “Meu Deus, aonde este mundo vai parar?” Aprender a refletir diante das situações, pois a simples reflexão orienta nossas escolhas da direção da sabedoria. Somos capazes de criar um mundo melhor, não simplesmente para manter acesa a chama que distingue os seres humanos de outras espécies. A chama que não se apaga graças à evolução trilhada pelos caminhos da mente e também pelas sendas amorosas do coração. BIBLIOGRAFIA 1 COOPER, Robert. Inteligência Emocional na Empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1997 2 FILHO, Alírio; FACIROLLI, Margareth. A Importância da Inteligência Emocional no Trabalho. Disponível em: http://www.plenitude.com.br/jornal/acervo_pelnitude/col_pf/008.html 43 3 FULANETTO, Teresinha Castilho. Inteligência Emocional. Disponível em: http://www.din.unem.br/~ia/emocional/ 4 GARDNER, Howard. Estrutura da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas. Porto Alegre: Artes médicas, 1994. 5 GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. 6 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL. Disponível em : http://www.perspectiva.com/leitura/p6.html 7 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL. O século 21 Chega à Educação. São Paulo: Três, n. 5 8 MIRANDA. Roberto Lira. Além da Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 9 OLIVEIRA, Marcelo F. Inteligência Emocional. Disponível em: http://www.mcca.ep.usp.br/~petmecan/publicacoes/emocional.html FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Título da Monografia: PROGRAMA DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL APLICADO A EMPRESA Autor: CARLA BARONE FERNANDES 44 Data da entrega: Avaliado por: Conceito: Avaliado por: Conceito: Avaliado por: Conceito: Conceito Final: