Departamento de Engenharia Elétrica CÉLULAS SOLARES DE FILMES FINOS NANOESTRUTURADOS E SEMICONDUTORES DE TiO2 e Nb2O5, SENIZIBILIZADAS POR CORANTES ORGÂNICOS (“Dye-Sensitized Solar - Cells-DSSC”) Aluno: Fabio Zaccaro Scelza Coordenador e Orientador do Projeto: Professor Dr. Marco Aurélio C. Pacheco Co-Orientadora: Dra. Jacqueline Alves da Silva 1- Introdução O interesse por fontes renováveis de energia têm crescido significativamente nas últimas décadas, principalmente devido à preocupação crescente com os problemas ambientais. Dessa forma, a pesquisa em células solares representa um dos principais investimentos para o desenvolvimento sustentável da atual sociedade. Células solares são feitas para simplesmente absorver a energia solar e transformá-la em energia elétrica. A ideia, no entanto, não é totalmente condizente com realidade, uma vez que a eficiência da melhor célula no mercado atual está por volta de 30 %.Vê-se claramente que a contínua pesquisa nessa área é fundamental e indispensável, pois, paralelamente às contribuições positivas que as células solares podem nos dar, é inegável que há muito o que se desenvolver nelas. As células solares funcionam basicamente por meio de estruturas semicondutoras dopadas ou não que, ao absorverem a luz solar, são capazes de transformar a energia radiante (solar) em energia elétrica (corrente elétrica). Desse modo, as células solares mais comuns no mercado são constituídas, na maioria das vezes, por estruturas à base de silício, um elemento semicondutor e bastante abundante, por exemplo. Figura 1: Esquema básico de funcionamento de uma célula solar Uma alternativa mais barata às células de silício seriam as células DSSC, que ao invés de usarem um elemento semicondutor dopado ou não, um processo bastante dispendioso e demorado, utilizou-se óxidos metálicos não dopados. Na presente pesquisa foram utilizados os óxidos de titânio e o pentóxido de nióbio, como o anodo da célula, Departamento de Engenharia Elétrica sensibilizada por corantes orgânicos naturais e artificiais. E em outra placa de ITO contendo fuligem, como o catodo da célula. Figura 2: Esquema de uma célula solar de silício. Figura 3: Esquema de uma célula solar DSSC. Um fator adicional para as células DSSC seria a introdução do Nb2O5 no lugar do TiO2, pois o Nióbio é um elemento abundante no Brasil e já se observou um significativo potencial fotovoltaico em filmes na forma de Sol-Gel de Nb2O5. 2- Objetivos Os principais objetivos desse projeto foram: -Pesquisar células solares de filmes finos contendo os óxidos metálicos de TiO2 e Nb2O5 sensibilizadas por corantes orgânicos naturais (extraídos de frutas, sucos, e extraídos de folhas, celulose) e artificiais (xazrope de guaraná, mate e groselha e vinho tinto; -Testar novas metodologias de extração desses corantes, -Desenvolver, caracterizar e montar células DSSC; - Desenvolver novas metodologias de preparo de emulsão (pastas) e sol-gel contendo os óxidos metálicos semicondutores TiO2 e Nb2O5; 3- Materiais e Equipamentos Departamento de Engenharia Elétrica 3.1- Solventes e Reagentes Os materiais usados nesse projeto são: - Etanol; -Acetonitrila; -Água deionizada e destilada; -Triton-X-100 (detergente); -Placas de vidros recobertas (frente e verso) com óxido de Estanho e Índio (ITO); -TiO2 em pó; - Nb2O5 em forma de pó, gentilmente cedido pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM); -Fontes de corantes orgânicos diversas para extração; -Pectina cítrica; -Glicerina; -Perclorato de Lítio; 3.2- Equipamentos -Placa de agitação; -Ultrassom; -Estufa; -Mufla; - Spinner, modelo Spin 100D; -Osciloscópio (DSO 102A –Agilent Technologies 60 MHz); 4- Atividades desenvolvidas 4.1- Pesquisa bibliográfica Inicialmente foi feita uma pesquisa sobre células solares, bem consistente envolvendo todos os alunos participantes do projeto. Pesquisou-se desde células solares à base de Silício (mais encontradas no mercado) até células DSSC e híbridas. Para estas últimas também foram pesquisadas metodologias sobre como fabricá-las e suas eficiências. Esta pesquisa durou de maio a junho de 2011. Os resultados encontrados pelos alunos eram discutidos em reuniões semanais para a compreensão do mecanismo de funcionamento das células DSSC, bem como investigar as várias metodologia de preparo dessas células. 4.2- Curso MATLAB De agosto a outubro de 2011 todos os alunos de iniciação Científica (IC) envolvidos nessa pesquisa, assim como pesquisadores bolsistas, fizeram um curso de MATLAB oferecido pelo Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio. O objetivo desse curso foi dar um suporte teórico para o estudo de simulação computacional que será realizado futuramente nesse projeto. 5- Metodologia A infraestrutura necessária para a realização deste projeto já se encontra na PUC-Rio, consistindo de um laboratório químico disponível. Além disso, foi preciso encomendar certos materiais como o Nb2O5, cedido pela CBMM, TiO2, e placas de vidro recobertas em ambos os lados com ITO. A metodologia usada para o preparo das células DSSC consistiu em 7 etapas: -Preparo da emulsão (pasta) de Nb2O5 ou TiO2; -Deposição dela numa placa contendo óxido de titânio e índio (ITO), previamente Departamento de Engenharia Elétrica limpa; -Preparação do catodo (fuligem); -Preparação do eletrólito em gel; -Extração dos corantes orgânicos; -Montagem da célula; -Leitura de voltagem; Primeiramente lavou-se as placas de ITO com detergente Triton-X-100 durante uma hora no ultrassom. Em seguida, o detergente foi totalmente retirado com muita água deionizada e destilada e as placas são imersas em acetonitrila e colocadas novamente no ultrassom durante uma hora. Depois desse procedimento, as placas de ITO foram retiradas do solvente acetonitrila e em seguida foram secas na estufa por um período de 30 minutos. O preparo da emulsão (pasta) foi feito misturando 1g de TiO2 ou Nb2O5 com 10 ml de etanol em um béquer de 25 ml. Para aumentar a adesão da emulsão sobre o substrato adiciona-se 0,15 ml de triton-X-100. Logo depois, submeteu-se a emulsão à agitação (na placa de agitação) durante 5 minutos e depois durante uma hora no ultrassom. Esse procedimento foi repetido 3 vezes na sequência. Depois de pronta a pasta contendo o TiO2 ou Nb2O5, esta foi depositada na placa contendo o filme de ITO empregando a técnica painting. As Figuras a seguir mostram algumas etapas de preparo da pasta contendo o óxido de titânio, TiO2 ou o pentóxido de nióbio, Nb2O5. Figura 4: Preparação da pasta (na placaa Figura 5: Preparação da pasta (no ultrassom). de agitação). A deposição da emulsão (pasta) foi feita cuidadosamente por espalhamento em 2 camadas, com o auxilio de um bastão de vidro comum, pelo método painting e foi empregado também o método spin coating utilizando o equipamento spinner. Depois desse procedimento, a pasta deve estar seca na estufa por 30 minutos e em seguida foi sinterizada a 450 ºC durante 30 minutos em uma Mufla. Departamento de Engenharia Elétrica Figura 6: Pasta pronta para ser colocada na Mufla. Figura 7: Mufla, onde ocorre o precesso de sinterização por 30 minutos a 450 oC. A preparação do catodo foi feita por deposição de fuligem em outra placa de ITO. Figura 8: Placa de ITO preparada para ser o catodo da célula. Para preparar o eletrólito em gel, misturou-se 0,6 g de pectina cítrica, 10,78 mL de glicerina e 0,24 g de perclorato de lítio. Essa mistura foi colocada sob agitação vigorosa até total dissolução. Em seguida, foram adicionados 20 mL de água. A mistura foi aquecida a 70 oC sob agitação constante até completar a diluição. Depois, a mistura foi depositada em uma cuba na estufa por 48 horas para secar. Quando a mistura seca e não é usada imediatamente, ela deve ser armazenada em ambiente muito seco ou à vácuo. É importante acrescentar que inicialmente tentamos usar um eletrólito líquido, contendo o par redox iodeto/triodeto. Isso gerou problemas de vazamento e secagem rápida do eletrólito líquido na célula já montada. Além disso, vimos que a eficiência dela com este eletrólito era menor do que na forma gel. Dessa forma, optamos pelo eletrólito em gel, já descrito anteriormente, uma vez que com ele os problemas de secagem e vazamento são praticamente inexistentes. A extração dos corantes naturais foi feita por maceração das frutas auxiliada por grau e pistilho, em seguida o suco é filtrado a vácuo. Quando o suco estava muito concentrado, foi necessário fazer uma diluição 1:1 com agua ionizada e bidestilada. Departamento de Engenharia Elétrica Os corantes naturais extraídos foram de amora, jamelão, cereja, jabuticaba, cenoura, beterraba e os corantes artificiais: xaropes de groselha, guaraná e mate. Figura 9: Corante de jabuticaba. Figura 10: Corante de amora. Finalmente, na montagem da célula, a placa contendo a pasta de TiO2, previamente sinterizada foi submersa no suco filtrado da fruta por 24 horas. Depois desse período, foi feita a deposição do eletrólito em gel na placa de vidro contendo a pasta de TiO2 ou de Nb2O5 sinterizada e com o corante orgânico. Utilizando uma espátula, corta-se uma parte do gel que cubra suficientemente toda a área onde a pasta foi depositada. Figura 11: Eletrólito em gel depositado em cima da pasta já sinterizada e Corada por 24 horas com um corante orgânico. Figura 12: Eletrólito em gel sendo depositado. Em seguida, foi feita a junção das duas placas de ITO, sendo a parte interior dessa junção a que contem a fuligem e a pasta recoberta com o eletrólito em gel. Para isso, utiliza-se Departamento de Engenharia Elétrica nada mais que fita adesiva nos quatro cantos da célula com as partes já unidas. Figuras 13 até 15. Figura 13: Montagen da célula DSSC. Figura 14: Montagen da célula DSSC. Figura 15: Célula solar DSSC montada. Para a realização dos testes de eficiência das células, foram realizadas várias leituras da voltagem de cada célula montada em um ambiente controlado de luz de 60 watts, usando um osciloscópio. Essa leitura foi realizada no Laboratório de Semicondutores (LabSem), coordenado pela professora Dra Patrícia Lustoza. As Figuras a seguir mostram os procedimentos das leituras das voltagens. Departamento de Engenharia Elétrica Figura 16: Lei das voltagens de cada célula montada com o osciloscópio Figura 17: Lei das voltagens de cada célula montada com o osciloscópio Figura 18: Lei das voltagens de cada célula montada com o osciloscópio 6- Resultados Dentre os corantes testados, a sensibilização do corante extraído da jabuticaba apresentou a maior voltagem, 330 mV. A leitura dos demais ficou, em média, igual a 145,4 mV. As células de Nb2O5, embora já com uma metodologia formada, estão ainda em processo de desenvolvimento, devido à demora que passamos para ter o Nb a nossa disposição. Na Tabela 1, encontram-se os corantes testados e suas leituras de voltagem. Tabela 1 - Voltagens alcançadas nos testes Departamento de Engenharia Elétrica Fruta/corante (suco da fruta) mvolt Tempo para fazer a leitura em minutos (tempo de saturação) Amora 150 10 Cereja 184 10 Jabuticaba 330 17 Jamelão 115 10 Cenoura 115 8 Beterraba 191 15 Xarope de groselha/corante artificial 128 10 Xarope de guaraná/corante artificial 122 8 Xarope de mate/ corante artificial 110 8 Branco (célula fotovoltaica somente com a pasta de TiO2) 8,95 8 7- Próximas Etapas É necessário ainda investigar outras metodologias de preparo de pastas e Sol-gel, bem como outros corantes naturais como o açaí, jenipapo, urucum e a clorofila, assim como sua capacidade e sensibilização ao longo do dia. 8- Referências 1 – FREITAS,Fábio Elias.Célula Solar de SnO2/TiO2 preparada por “Spray”-pirólise ativada com corante orgânico .Ilha Solteira(SP), 2006.106p.Dissertação( Pós-Graduação em Ciência dos Materiais).Departamento de Física e Química, Universidade Estadual Paulista. 2 - Agnaldo, J. S.; Bastos, J.B.V. e Cressonu, J.C. e Viswanathan, G. M. Células Solares de TiO2 Sensibilizada por Corante. Rev. Brasileira de Ensino de Física, v. 28, n. 1, p. 77-84. (2006). 3 – FEITOSA, Alexandra de Vasconcelos.Estudo de novos corantes naturais fotoexcitáveis como sensibilizadores em células solares.Fortaleza(CE), 2011.113p.Dissertaçao (Mestrado acadêmico em Ciências Físicas Aplicadas). Universidade Estadual do Ceará.