Agricultura de Precisão desafiando produtividades agrícolas É fácil identificar na sociedade atual, globalizada, características e hábitos alicerçados no consumismo, na necessidade progressiva de uma maior demanda por espaço e por alimentos, essenciais à existência humana, como os recursos hídricos. Quando se trata desse assunto, no entanto, é importante considerar uma exploração racional, em busca da aliança entre produtividade e sustentabilidade. As mudanças são evidentes e neste cenário foi criado o Clube da Irrigação. Este trabalho foi iniciado em 2010 e surgiu devido a necessidade de uma pesquisa em nível de produtor, sendo que ele já possuia tecnologias para altas produtividades incorporadas ao seu sistema produtivo nas áreas irrigadas e os resultados da colheita eram abaixo do esperado. Naquele momento, na região onde estão localizados os produtores que participam do projeto, facilmente podia se encontrar agricultores plantando sob os equipamentos de pivô central, culturas como a do milho e a soja e as produtividades também muito aquém da esperada nessas áreas irrigadas. Para que houvesse mudanças nessa realidade, os produtores foram desafiados pela empresas geradoras de tecnologias para aumentar as produtividades dessas áreas de lavouras comerciais irrigadas com pivô central. Para transformar essa realidade na qual se encontravam, uniram-se aos produtores irrigantes as empresas comerciais: Stara, Dekalb, Fockink, a instituição de pesquisa a Universidade Federal de Santa Maria e o Sistema FARSUL. No ano seguinte, o Senar-RS passa a desenvolver o primeiro programa de Agricultura de precisão do Pais, contemplando seis treinamentos capazes de auxiliar o produtor a desmistificar o uso das máquinas precisas aliada a gestão na propriedade. Depois de treinar e preparar técnicos para ministrarem os conhecimentos, hoje o programa é uma realidade adotada também por outros estados brasileiros por meio da CNA. Desta forma, o clube da irrigação e o programa em agricultura de precisão do Senar-RS, oferecem aos agricultores um conjunto de ferramentas que possibilitam o aumento da eficiência no campo, através do aprimoramento das práticas já existentes e difusão de novas tecnologias, visando o aumento da produtividade. Tudo isso, para cumprir com a missão em comum: produzir mais, conservar mais e ajudar a vida dos agricultores. CLUBE DA IRRIGAÇÃO: ÁREAS DE EXPERIMENTO NO RIO GRANDE DO SUL As áreas dos experimentos estão distribuídas entre 6 produtores localizados na metade norte do Rio Grande do Sul (Tabela 1) e totalizam 305 hectares. 1 Tabela 1 – Relação de Municípios e distribuição de área piloto por produtor. MUNICÍPIO PRODUTOR ÁREA PILOTO ÁREA IRRIG. ÁREA TOTAL (ha) - AP (ha) - AI (ha) - AT Boa V. Cadeado A 50 (15,1%AI) 331 (32,5%AT) 1018 Santo Augusto B 62 (9,3%AI) 661 (47,2%AT) 1400 Pejuçara C 38 (19,4%AI) 196 (39,2%AT) 500 Inhacorá D 58 (29%AI) 200 (18,2%AT) 1100 Santo Augusto E 52 (8,6%AI) 600 (24%AT) 2500 Seberi F 45 (15%AI) 300 (6%AP) 5000 305 (13,3%AI) 2288 (19,8%AT) 11518 TOTAL Além das áreas pilotos, o projeto do Clube envolve mais de 15 profissionais. O corpo técnico é multidisciplinar, trabalha em diversos sistemas de produção e agrega muito conhecimento agronômico. Este sinergismo é relevante, pois o projeto é conduzido utilizando uma metodologia participativa, na qual as principais intervenções de manejo são definidas em reuniões de planejamento envolvendo os agentes - produtores, empresas e instituições. Tecnologias envolvidas A visão dos agentes do Clube é a adoção contínua de tecnologias nas áreas irrigadas selecionadas para o projeto. Todas estas tecnologias introduzidas gradualmente ano a ano pelos agricultores cumprem o conjunto de técnicas que estão inseridas no ciclo de agricultura de precisão (FIGURA 1). Desta forma, foi possível trazer as contribuições de acordo com a expertise de cada empresa. Figura 1- Ciclo da Agricultura de Precisão. 2 Este grupo de produtores cumpria parcialmente os conceitos da Agricultura de Precisão (AP), mas a participação no clube propiciou desenvolver integralmente o ciclo da AP. Dentro desse modelo compartilhado de atuação por competências, a Universidade Federal de Santa Maria inicia o ciclo da AP que se baseia na amostragem georeferenciada, geração de mapas com distribuição espacial dos atributos químicos analisados, interpretação e prescrição localizada de insumos, acompanhamento das lavouras durante os ciclos da cultura, investigação de causa-efeito visando otimização dos recursos. Especificamente, nos levantamentos da coleta de amostragem de solo foi utilizado o seguinte procedimento: coleta de solos com 10cm e 20cm de profundidade no solo com grid de 1ha, 1 ponto georeferenciado por ha com 5 subamostras (Figura 2 e Figura 3). Figura 2 – Procedimento de coleta de amostragem de solo. 3 2 1 7 15 ! 24 ! 17 25 32 9 ! ! 26 33 ! 34 19 6 ! 20 28 13 ! 21 ! 29 ! 36 12 ! ! ! 35 ! 11 ! ! 27 ! ! 10 ! 18 ! ! ! 8 16 5 ! ! ! ! ! ! ! ! 4 ! 22 ! 30 ! 14 ! 23 ! 31 ! 37 ! ! 41 38 ! 39 ! 42 ! 40 ! ! 43 ! 44 ! 3 Figura 3 – Área georefenciada com pivô central de um produtor integrante do Clube da Irrigação. Cabe ressaltar, que a experiência dos produtores responsáveis pela condução das áreas agrícolas é levada em conta nas decisões. 4 Para atender as aplicações a taxa variável de insumos (Figura 3 e Figura 4) buscou-se a empresa Stara. Esta empresa disponibiliza máquinas com tecnologia embarcada com sensores, softwares e equipamento de geoposicionamento (DGPS). Seguindo uma tendência mundial para agricultura de precisão, a Stara disponibilizou aos produtores equipamentos com sensoriamento em tempo real. Esta tecnologia foi adotada pelo clube e permite fazer a máquina “conversar” com as plantas e identificar as necessidades das mesmas e ajustar o equipamento em tempo real. O equipamento utilizado chama-se NSensor que é capaz de identificar em tempo real o nível de clorofila e biomassa da planta, prescrevendo assim em tempo real a taxa variada de nitrogênio a ser aplicado nas áreas-piloto plantadas com milho. Segundo o gerente de tecnologias da Stara, Cristiano Buss, em áreas com 3 anos de acompanhamento onde foi introduzida essa tecnologia houve um incremento de 8% em sacas de milho na colheita. Figura 3 - Mapa de aplicação com população de Figura 3 - Mapa de aplicação Nitrogênio. sementes a taxa variável. Neste mix de tecnologias adotadas, a Dekalb engaja-se com o as necessidades dos agricultores e oferece o que existe de mais moderno em genética e biotecnologias, elevando o potencial produtivo dos agricultores irigantes. O compromisso da empresa parceira é recomendar o híbrido mais adequado, posicionar seu momento de plantio e população de plantas, 5 acompanhar do plantio a colheita o agricultor, gerando recomendações de manejo que estejam alinhados com o melhor aproveitamento de recursos tornando assim um cultura cada vez mais sustentável. Segundo Fábio Henrique Roberto, gerente regional da Dekalb, estas tecnologias são fruto de biotecnologias “VTPRO” é o que existe de mais moderno, pois expressa duas proteínas de controle de insetos que causam danos a cultura. Com isto, reduzimos sensivelmente a aplicação de inseticidas, reduzindo a quantidade de agroquímicos e conseqüentemente de água. O resultado final é a produtividade elevada pela ausência de danos nas plantas. Outra empresa parceira do projeto é a Fockink que atua fazendo a regulagem e manutenção dos sistemas mecanizados (pivôs central) utilizados nas áreas-piloto. Na hora de colocar em prática junto aos produtores, são levados em conta 3 fundamentos de análise: como irrigar, quando irrigar e quanto irrigar. O grande diferencial desta tecnologia é justamente permitir que se tenha uma boa produtividade, sem ter que ficar a mercê das dependências das chuvas. E por último, o Sistema FARSUL, que é o integrante do clube, faz o monitoramento de todas as atividades definidas no planejamento e a gestão do Clube da Irrigação. Resultados Para fins desse trabalho serão apresentados de forma preliminar alguns dados comparativos de culturas de milho e soja no sistema irrigado e sequeiro. Os dados econômicos foram obtidos é uma área piloto de 50ha com milho irrigado e na área testemunha 50ha com milho sequeiro (safra 2011/2012) e de uma área do mesmo tamanho com soja irrigada e outra com soja sequeiro (safra 2011/2012) de um produtor integrante do clube que representa a média do total de participantes em regime normal de chuvas para região. Para composição dos custos de produção foram considerados os custos diretos e indiretos referentes de cada cultura analisada. Além disso, foram incluídos os custos de oportunidade para base de cálculo do custo total. Quando analisamos o Gráfico 1, observamos uma produtividade de 200 sacos/ha de milho representando 100% a mais que o milho de sequeiro. Quando comparada com a média de produtividade de milho sequeiro no RS aumenta para 400% esta diferença. Gráfico 1 – Comparativo de produtividade (sacos/ha) milho irrigado x milho sequeiro (safra 2011-2012). 6 No gráfico 2 fica demonstrado a rentabilidade por ha quando comparamos uma área com milho irrigado x milho sequeiro. Na área piloto área de 50ha obteve-se um resultado operacional de R$2.391,11 por ha na área com milho irrigado e o valor R$941,00 na área testemunha com milho sequeiro. Gráfico 2 – Comparativo de resultado operacional (R$/ha) milho irrigado x milho sequeiro (safra 2011-2012). 7 *O preço referência médio do valor da saca (60kg) de milho é R$25,12 com base no boletim informativo da EMATER/RS-ASCAR (semana 30/04/12 a 04/05/12). Já o Gráfico 3 apresenta incrementos de 225% na produtividade quando comparamos soja irrigada x soja sequeiro. Gráfico 3 – Comparativo de produtividade (sacos/ha) soja irrigada x soja sequeiro (Safra 20112012). No gráfico 4 fica demonstrado a rentabilidade por ha quando comparamos uma área com soja irrigado x soja sequeiro. Na área piloto área obteve-se um resultado de R$2.335,85 por ha na área com soja irrigada e o valor R$139,00 na área testemunha com soja sequeiro. Gráfico 4 – Comparativo de resultado operacional (R$/ha) soja irrigada x soja sequeiro (Safra 2011-2012). 8 *O preço referência médio do valor da saca (60kg) de soja é R$54,87 com base no boletim informativo da EMATER/RS-ASCAR (semana 30/04/12 a 04/05/12). Conclusões Muitas dúvidas ainda surgem para muitos irrigantes quanto ao período ideal do uso das tecnologias de irrigação. Neste sentido, o clube da irrigação vem buscando responder considerando a máxima da agricultura irrigada: “produtividade e rentabilidade, com eficiência no uso da água, da energia e de insumos e respeito ao meio ambiente”. Portanto, é necessário que o irrigante, além de conhecer o manejo da água em cada cultura, também esteja a par das evoluções tecnologias dos sistemas de irrigação. Toda essa tecnologia e serviço técnico disponíveis devem ser adequados às áreas a serem irrigadas e a realidade financeira do agricultor. João Augusto Telles Presidente da Comissão de Irrigantes do Sistema FARSUL Coordenador do Clube da Irrigação Chefe da Divisão Técnica - SENAR-RS 9