ANAIS DO III CELLMS, IV EPGL e I EPPGL – UEMS-Dourados. 08 a 10 de outubro de 2007
BLACK ENGLISH: SOB A PERSPECTIVA DA SOCIOLINGÜÍSTICA E DA TRADUÇÃO
Hiroco Luíza Fujii IWASSA (G. UEMS)
O presente artigo tem por objetivo apresentar algumas considerações acerca do inglês AfroAmericano ou Black English Vernacular (BEV), abordando questões acerca das problemáticas
da tradução, além da contribuição da sociolingüística. Considerado um dialeto, resultado de
conflitos étnicos e raciais nos Estados Unidos, ou seja, por várias razões históricas, a maioria
dos negros americanos falam essa variedade de inglês bastante específica e que difere da
norma culta através de vocabulário, pronúncia e gramática. Este dialeto corresponde a
variedades do inglês falado pelos negros dentro da comunidade falante dos Estados Unidos,
decorrentes de uma língua e cultura as variedades sócio-culturais, ocorrem dentro da
linguagem de uma comunidade específica, podendo ser influenciadas por fatores ligados
diretamente ao falante (ou grupo que pertence), ao ambiente, à situação, ou seja, ao meio em
que está inserido. Algumas atitudes lingüísticas podem ser consideradas como armas pelos
falantes como demarcação de seu espaço, sua identidade cultural e seu perfil de comunidade
sob a condição de escravo. Portanto, torna-se evidente que a língua pode ser um fator
importante na identificação de grupos sociais, um meio de demarcar diferenças entre um
grupo e comunidades. Tendo em vista os aspectos mencionados, o presente estudo consiste
em demonstrar a existência dessa variante inclusa na norma padrão da língua inglesa e falada
em contexto isolado ou junto a essa norma, relevando o processo da tradução, na qual este
dialeto torna um empecilho se a tradução restringir-se somente à norma culta.
INTRODUÇÃO
Considerando a educação dos negros nos Estados Unidos, observa-se que durante a
escravidão era ilegal ensinar os escravos a ler e escrever em todo o Hemisfério Ocidental. Nas
partes do sul (maior concentração de escravos) dos Estados Unidos, antes da Guerra Civil
(1861-1865), também era ilegal educá-los e não havia previsão para essa legalidade. A Guerra
Civil Americana surgiu a partir de uma divisão entre os Estados do Sul latifundiário
aristocrata contra os Estados do Norte industrializado, dedicados a estilos mais modernos de
vida. O Norte do país passava por um momento de transformação (industrialização), sendo
que a região Sul ainda necessitava de mão de obra livre e assalariada, no entanto, ainda
dependia em grande proporção da mão de obra escrava.
Frente a estes fatos, os negros fundaram suas próprias escolas, e por serem ilegais
tinham de funcionar secretamente. Para tal, torna-se evidente que os negros empreenderam
grande esforço para criar uma classe educada.
Conforme (TRUDGILL, 1979 apud MONTEIRO, 2002, p. 128), “já na época da
colonização americana se reconheceu que brancos e negros falavam de modo diverso (...) O
falar truncado dos negros foi, então, classificado, como inferior”.
É sabido que, durante muito tempo, o acesso à escola foi privilégio de poucas
pessoas. A justificativa para tanto era o raciocínio de que a sociedade tinha que ser
estruturada na base do poder, e assim era necessário que uma grande massa de
oprimidos fosse analfabeta, para não ter consciência da dominação ou, pelo menos,
ser incapaz de qualquer reação. (MONTEIRO, 2002, p.139)
Fundamentar a inferioridade ou superioridade de uma forma de falar não é ainda
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cientificamente comprovado, conforme TRIDGILL, 1979, p. 49), “linguisticamente falando,
uma variedade não pode ser considerada melhor que a outra. Todos os dialetos são
estruturados, complexos, governados por um sistema de regras e adequados às necessidades
do falante”. Porém, torna-se evidente que o julgamento é mais social do que lingüístico,
baseados em preconceitos da própria sociedade.
Inserido neste contexto histórico, estudos serão bem vindos para viabilizar e investigar
a variação lingüística African American Vernacular English (AAVE), também chamado de
African American English, Black English, Black Vernacular, Black English Vernacular
(BEV), Black Vernacular English (BVE) ou Ebonics.
Considerado um dialeto, não conta com o prestígio social, resultados de conflitos
étnicos e raciais ocorrido nos Estados Unidos e, como o próprio tema sugere, torna-se
necessário uma abordagem sociolingüística para a realização deste trabalho.
Por várias razões históricas, a maioria dos negros britânicos e americanos falam
variedades de inglês que são bastante específicas e diferem das outras variedades no
vocabulário, pronúncia, gramática e nos modos do discurso. Este dialeto corresponde a
variedades do inglês falado pelos negros dentro da comunidade falante dos Estados Unidos.
Os ingleses são considerados conservadores, avessos à mudança, por isso, o inglês manteve-se
por milhares de anos, livre do domínio de poderes estrangeiros, tornando-os independentes,
zelosos por sua liberdade.
Propõe-se, portanto, apresentar e caracterizar aspectos sociolingüísticos, além das
problemáticas da tradução frente à variação em questão, falada correntemente pelos AfroAmericanos nos Estados Unidos.
BLACK ENGLISH SOB A PERSPECTIVA DA SOCIOLINGUISTICA
Considera-se que em toda comunidade de fala são freqüentes as variações lingüísticas,
na qual são denominadas de “variantes”. Conforme (TARALLO, 1997, p. 08) “Variantes
lingüísticas” são, portanto, diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo
contexto, e com o mesmo valor de verdade. A um conjunto de variantes dá-se o nome de
“variável lingüística”.
Observa-se que em se tratando de variação lingüística, a cada situação de fala em que
se insere o falante e da qual participa, percebe-se que a língua falada manifesta-se de maneira
heterogênea e diversificada. No entanto, este aspecto não impede os falantes de se entenderem
e comunicarem entre si.
A variabilidade é passível, ou seja, é susceptível a sofrer efeitos de mudança ou
mesmo de uma sistematização. Conforme Tarallo (1997) “A língua falada é, portanto, um
sistema variável de regras. Obviamente, a esse sistema de variação devem corresponder
tentativas de regularização, de normalização.” E surge junto a esta normalização, a língua
escrita, ensinada nas escolas. No caso do Black English veiculado nas escolas, esta consiste
num reflexo da norma padrão da língua inglesa, pois são falados e ensinados paralelamente de
acordo com a situação de comunicação.
Há de se considerar os fatores não-lingüísticos, referentes à faixa etária e classe social,
na qual, são apresentados como fatores condicionantes para esta variação e, observa-se que
neste trabalho, os fatores sociais foram relevantes na formação do dialeto African American
Vernacular English (AAVE). Conforme Tarallo (1997) verifica-se dentre as variações
lingüísticas as variantes-padrão, não padrão, conservadoras, inovadoras, estigmatizadas e de
prestígio. O Black English classifica-se em variantes estigmatizadas, ou seja, de menor
prestígio e censuradas, configuradas pela comunidade em questão.
Sob o aspecto sociolingüístico, algumas atitudes lingüísticas podem ser consideradas
como armas pelos falantes, ou seja, surge como forma demarcação de seu espaço, sua
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identidade cultural e seu perfil de comunidade sob a condição de escravo. Para tal, torna-se
evidente que a língua pode ser um fator importante na identificação de grupos sociais, um
meio de demarcar diferenças entre grupos e comunidades.
Segundo (TARALLO, 1997, p. 63) “Nem tudo o que varia sofre mudança; toda
mudança lingüística, no entanto, pressupõe variação. Variação, portanto, não implica
mudança; mudança, sim, implica sempre variação.”
Considerando sua própria forma de falar, pensar e escrever observa-se que o dialeto
Black English tem uma história e não deve ser ignorada ou mesmo vista como inferior à
língua inglesa padrão por se tratar de um dialeto, no entanto, deve ser respeitada e aceita pelo
fato de fazer parte da história da formação de uma comunidade, fruto de uma postura política
sucedida nas comunidades Afro-Americanas.
Conforme Pretti (1987), em relação à variação lingüística, observa-se que a língua e a
sociedade, não apresentam uma relação de mera coincidência, desde que nascemos, somos
cercados por signos lingüísticos e por inúmeras possibilidades de comunicação que, no
entanto, só começou a tornarem-se reais a partir da imitação e associação e assim
posteriormente, a formulação de mensagens. E durante toda a nossa existência em sociedade,
supõe-se um problema de intercâmbio e comunicação que se realiza fundamentalmente pela
língua.
(...) à luz da Sociolingüística não há linguagem certa ou errada, nem boa nem má,
nem feia nem bonita, nem sequer existe qualquer critério estético de avaliação, mas
apenas níveis lingüísticos, ou seja, registros apropriados às diversas situações,
dialetos vinculados a grupos sociais de uma comunidade, padrões e subpadrões
lingüísticos, variações de norma, cuja importância está diretamente ligada às
necessidades de fatores que o sociolinguista tenta relacionar com a língua. (PRETI,
1983, p. 13 apud CARVALHAL, 1991)
A comunicação entre membros de uma dada sociedade, pode diversificar de acordo
com as variedades geográficas e sócio-culturais. As variações geográficas ocorrem, na
concorrência das comunidades lingüísticas, sendo responsável pelo chamado regionalismo,
proveniente de dialetos utilizando-se de uma língua comum.
As variedades sócio-culturais ocorrem dentro da linguagem de uma comunidade
específica. Estas variações podem ser influenciadas por fatores ligadas diretamente ao falante
(ou grupo que pertence), ao ambiente, à situação, ou seja, o meio em que este falante está
inserido. O problema das variedades lingüísticas nos leva a pensar em como certas variações
da linguagem se instalaram em determinados grupos, identificando-os e diferenciando-os de
outros grupos.
Raspberry buscou esclarecer parte dessa ampla variante. Segundo o autor, o Black
English é uma parte rica do discurso americano, que os lingüistas chamam de “codeswitching” ou código desviado, a habilidade que se tem de mudar uma língua para outra, mas
sem uma consciência sobre o ato em que se esta praticando. A maioria dos falantes afroamericanos são bilíngües, ou seja, utilizam tanto a norma padrão da língua inglesa como o
inglês afro-americano, dependendo das circunstâncias de uso.
Como já foi mencionado, este método consiste na adaptação lingüística em diferentes
ambientes, ou seja, cada dialeto ou código é ampliado a cada local. Os falantes dessa variante
consideram mais apropriado falar a língua inglesa na norma padrão em certas ocasiões
(formais) e, em outros casos menos informais, utilizar o dialeto Afro-Americano.
Um desenvolvimento tardio de estudos em dialetologias e formas populares no
Brasil; uma classe média dominante com poucas chances de mobilidade social,
limitadas oportunidades educacionais e uma diferença enorme entre as várias classes
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sociais – resquícios da cultura da escravatura com poucas pessoas não-brancas em
posições de influência (...) (MILTON, 1994, p. 27 apud TRAD. E COMN)
Muitos estudantes negros vão para a escola e falam a linguagem que é importante para
a rica cultura Afro-Americana, normalmente mencionada como Black English. Esta variante
consiste num desafio para os estudantes, aprender a mover-se entre o inglês negro e o inglês
oficial, falando as duas línguas com êxito, concedendo aos falantes desse dialeto uma
crescente oportunidade tanto nas escolas como em suas carreiras de vida.
CARACTERÍSTICAS DO DIALETO AFRO-AMERICANO PRESENTES NA
LINGUAGEM NORTE AMERICANA
•
Pronomes Impessoais com o uso do one: o uso do pronome impessoal one não se
refere a uma pessoa específica, mas a qualquer pessoa ou pessoas em geral.
One should always tell the truth.
One can really get bored listening to Dr. Foster’s endeless stories.
•
O one ainda é usado para referir-se a ele mesmo usando one, one’s ou oneself.
One is never satisfied with what one has.
One should always take care of one’s health.
I think one shouldn’t take oneself too seriously.
•
O uso do you: é também usado como pronome impessoal para referir-se a uma pessoa,
qualquer pessoa e pessoas em geral. Este é usado mais freqüentemente.
You should always try to be friendly to your neighbors.
•
O Black English tem vocabulário único e também um número peculiar de construções
gramaticais, especialmente a maneira como é usado o verbo to be. Neste dialeto o
verbo to be é freqüentemente omitido.
We goin’ (going) fishin’ (fishing) tomorrow.
•
O uso do is para todas as pessoas, singular e plural.
I/you/she/he/it/we/they is hungry.
•
É comum substituir o be para todas as pessoas, singular, plural, em sentenças na qual o
verbo seria normalmente conjugado:
I/you/she/he/it/we/they be hungry.
We be leavin’ (leaving) now.
•
Pressupostamente o passado do verbo to be conjugado no passado, no caso was/were,
utiliza-se somente o was para todas as pessoas, singular e plural.
Was they gonna (going to) buy the whisky?
We was within’ (watching) TV whwn it happened.
•
Ain’t para todas as pessoas
I ain’t know that.
•
Double negatives
I didn't go nowhere. (I went nowhere)
It ain't no spoon (There isn't a spoon)
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•
Omissão do verbo to be.
You crazy! (You're crazy")
She my sister ("She's my sister")
•
Observado também em frases interrogativas.
Who you? ("Who're you?")
Where you at? ("Where're you at?")
•
Os verbos da terceira pessoa do Presente Simples não são conjugados, ou seja, não há
“s” no final dos verbos:
She write poetry ("She writes poetry")
•
Alteração na sintaxe:
Why they ain't growing? ("Why aren't they growing?")
A VARIAÇÃO LINGUISTICA E AS PROBLEMÁTICAS DA TRADUÇÃO
A partir dos estudos da teoria da tradução, suas problemáticas e seus benefícios,
sucede-se uma outra questão inserida neste contexto, ou seja, a existência de dialetos sociais
que implicam neste processo, além da complexidade que acompanha o processo de tradução,
principalmente quando estão presentes fortes e específicos aspectos do contexto cultural.
A explosão dos meios eletrônicos de comunicação nos anos noventa e as suas
implicações nos processos de globalização deram particular visibilidade às questões
ligadas à comunicação intercultural. Tornou-se portanto, necessário saber mais sobre
o nosso próprio ponto de partida. No entanto, a globalização tem a sua antítese, nas
origens culturais e na exploração das questões de identidade. A tradução tem papel
crucial a desempenhar ao contribuir para melhorar a compreensão de um mundo
cada vez mais fragmentado. (BASSNET, 2003, p.02)
A tradução surge como necessidade de compreender o mundo, culturas e políticas
diferentes, e a globalização acabou demonstrando que as culturas precisam umas das outras
no seu desenvolvimento político, econômico e social.
O tradutor consiste em tornar acessível a um certo grupo de leitores ou falantes, um
texto ou mensagem até então inacessível. Tenta reescrevê-lo, ou melhor, re-textualizá-lo a um
outro leitor. Este enfrenta o problema de codificar a mensagem em léxico-gramatical, ou seja,
de escolher a estrutura gramatical e as palavras que melhor representem sua intenção.
Conforme Coulthard (1991, p. 01), para se entender os equívocos da tradução, é preciso
entender o processo de comunicação através da linguagem e, distinguir os principais aspectos
entre a língua-fonte da língua-alvo.
Edward Sapir sustenta que “a língua é um guia para a realidade social” e que os
seres humanos se encontram à mercê da língua que se tornou o meio de expressão da
sua sociedade. A experiência, insiste Sapir, é largamente determinada pelos hábitos
lingüísticos da comunidade e cada estrutura isolada representa uma realidade
distinta. (SAPIR apud BASSNET, 2003, p. 35)
Um dos princípios básicos da lingüística é que todas as línguas podem expressar tudo
o que os falantes desejam comunicar. No entanto, todas as línguas diferem em termos do que
é fácil ou difícil de expressar, do que é essencial ou opcional e do que é expresso lexical ou
gramaticalmente. Símbolos escritos foram criados por falantes de uma dada língua e são
transmitidas assim de geração para geração. Mas isso ocorre de modo gradual e dinâmico,
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pois a língua evolui, num processo lento e isto é observado no estudo sincrônico desta mesma.
A tradução consiste no confronto entre duas línguas, considerando que as estruturas
lingüísticas de cada idioma são adaptadas por normas sociais sujeitas a grandes variações
interculturais, portanto, a abordagem sociolingüística presta relevante contribuição à teoria da
tradução.
O trabalho em tradução importa, sobretudo no sentido de possibilitar a compreensão
intercultural e consequente interação entre diferentes sociedades. No contexto do
estudo cultural da tradição, tenta-se a identificação das forças que operam nos
processos e nos encontros lingüistas e culturais, em que enfoques diferenciados de
cultura se fazem, inevitavelmente presentes. (RESENDE apud CARVALHAL,
1991)
O ato tradutório coloca-se num plano de equivalência; o processo de fazer equivaler os
dois sistemas lingüísticos diferentes de maneira a se incidir em um mínimo de perda de
informação, ou seja, cabe ao tradutor o trabalho de equivalerem sistemas lingüísticos
diferentes, ou seja, é preciso ter o conhecimento de problemas estruturais, lingüísticos e
culturais, indispensáveis para a compreensão de significados e para a manutenção de sua
autencidade.
A equivalência de dois sistemas lingüísticos manifesta-se de modo variável, e não de
maneira optativa ou obrigatório. Através da sociolingüística percebemos que a regra
lingüística é variável na medida em que seu uso é favorecido ou inibido em função de
condicionadores de natureza lingüística (elementos intrínsecos ao sistema lingüístico) e
extralingüística (classe social, sexo, faixa etária, etnia, estilo, natureza interacional da
comunicação, etc).
Vale ressaltar, a problemática pertinente à tradução de variantes lingüísticas, como por
exemplo, o já mencionado dialeto Afro-Americano. Conforme (TARALLO apud
CARVALHAL, 1991), há um empecilho em relação e este tipo de tradução, pois, a variação
prevalece na tentativa de equivalência dos dois sistemas lingüísticos, ou seja, torna-se
complexo decodificar variantes sociolingüísticas, nas quais, não apresentam o mesmo escopo
gramatical. Ainda segundo (TARALLO apud CARVALHAL 1991) para que seja possível a
equivalência dos dois sistemas lingüísticos é preciso relevar regras lingüísticas de natureza
diversa, assim como, fonológicas; morfo-fonológicas, sintáticas; semânticas e lexicais. Há
também de se considerar a visão de mundo de povos diferentes, que falam línguas diferentes,
tornando às vezes uma tradução difícil, no entanto, jamais impossível de se realizar.
Quando as duas línguas são de troncos lingüísticos diferentes, como o português,
que é uma língua neo-latina, e o inglês, que é uma anglo-germânica, a tradução
costuma distanciar-se bastante da forma do original, tornando-se assim menos
literal, menos palavra por palavra. (CAMPOS, 1986, p. 33)
Considerando o dialeto Afro-Americano Black English, provavelmente a variante seria
traduzida buscando uma outra variante equivalente no Brasil, isto é possível de se observar, na
obra “The Color Purple de Alice Walker, em que a obra seria identificada pelo dialeto caipira,
conforme (Di Vito apud Revista Tradução e Comunicação, 2004, p. 128)
Na tradução de uma língua para outra, como é fácil de se perceber, também ocorre
um abandono ou sacrifício semelhante. Mas se, por um lado, é verdade que ao
transpor-se um texto de uma língua para outra, não se encontra um correspondente
na língua de chegada, por outro lado, deve-se, para poder traduzir, antes de tudo,
abandonar a sua própria língua. (CAMPOS apud CARVALHAL, 1991, p. 72)
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A tradução em geral, é vista como o processo de uma passagem de um texto para
outro, e nesta passagem é que se verifica a perda de sentidos, pois toda tradução e
consequentemente, toda linguagem está marcada pelo abandono, seja de um sentido ou de
outro para que o trabalho se conclua. O fato é que, as culturas e os sistemas lingüísticos
muitas vezes, acabam por desaparecer através das traduções, e isto inclui as variantes
lingüísticas.
Em se tratando dos aspectos problemáticos da tradução em relação às variações, ou
seja, destas diversas realidades lingüísticas, não havendo equivalência perfeita em todos os
níveis, considera-se válido, no entanto, bastante trabalhoso, utilizar empréstimos, decalques,
neologismos, transposições semânticas ou notas esclarecedoras pelos tradutores.
Visto a complexidade do fato, a tradução pode ser trabalhada de duas formas para a
viabilização do trabalho, construindo o sentido baseado em elementos explícitos da linguagem
e relacioná-las aos aspectos extra-lingüísticos (tempo, espaço, circunstancias), pois as
atividades discursivas estão presentes em espaços, tempo e circunstâncias em que foram
produzidas.
A língua em sua forma e estrutura não é homogênea, ao deparar-se com um texto é
preciso ter o cuidado para não ocorrer a ruptura de sentidos. Para tanto, aceita-se o caráter
heterogêneo da língua refletidos nas variações lingüísticas, diversos códigos, dialetos etc.
Considerando estes fatos, a tradução deve ser trabalhada não somente através de
decodificação, na passagem de um texto para outro, mas alcançando o sentido ou idéia
principal do texto. Não esquecendo que um signo pode representar uma idéia, podendo
mostrar o caminho de vários indícios que poderão facilitar a interpretação e posteriormente a
tradução, se for o caso.
Conforme VENUTI (2002), através da tradução pode ocorrer a representação de
identidades culturais estrangeiras, pelo fato de a tradução refletir valores políticos e culturais
domésticos, acaba por si, tornando uma atividade responsável pela formação de identidades
culturais, estigmatizando ou valorizando etnias. No caso do dialeto Black English, é
perceptível em obras da literatura Afro-Americana, como já citado, The Color Purple de Alice
Walker. Para tanto, observa-se a identidade cultural formada nas obras Afro-Americanas, não
deixando de citar, a inferioridade da mulher nesta comunidade, como também, apresenta a
existência negra através da perspectiva feminina, os reflexos da linguagem que demonstram a
pouca instrução, o pouco contato com os brancos o que acabou acarretando numa estrutura
lingüística, denominada variante.
O reflexo do vernáculo Black English em suas obras manifesta a existência dessa
linguagem corrente na comunidade afro-americana nos Estados Unidos, na qual surge
na literatura como forma de quebra de padrões lingüístico-literários estabelecidos pela
norma padrão da língua inglesa, fato que levanta questões acerca de problemáticas de
sua tradução.
Neste contexto, observa-se que a variante lingüística representa assim, o social,
caracterizado por uma complicada rede de linguagens e de intrigas, revelando as diferenças
sociais, desde os mais cultos àqueles despreparados. Mesmo os analfabetos, apresentam sua
própria cultura, resíduos de memória e tradição. Para tal, verifica-se que estes resíduos do
passado caracterizam o discurso desses falantes. A língua, no então, não pode ser sempre a
mesma, já que acompanha mudanças individuais e sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O dialeto Afro-Americano consiste numa história cultural vista como um símbolo de
identidade étnica. Esta resistência do Inglês Afro-Americano é conseqüência de diferenças
culturais entre os brancos e os negros, para tal, o dialeto Black English surgiu a partir do único
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modelo de linguagem utilizado pelos afro-americanos a partir da necessidade de comunicação
entre os mesmos.
Diante da consideração deste fenômeno lingüístico, ou seja, a variação surge a partir de
processos evolutivos comuns a qualquer língua. Foram apresentados determinantes que
caracterizam esta variação e que, consequentemente são resultados de uma questão que
abrange o homem e a língua.
A partir da análise de como os indivíduos se organizam na interação social humana é que se
busca compreender como, simplesmente ao se comunicarem entre si, as pessoas acabam
criando fenômenos tão evidentes como a discriminação e o racismo.
Considerando estas discussões, resultados que refletem não apenas na descrição da língua
enquanto sistema, mas também nas decisões políticas e educacionais exigidas pelas inúmeras
questões que a diversidade lingüística vem suscitando no mundo moderno, buscando a
compreensão das dificuldades interacionais que surgem em situações reais e cotidianas de
uma comunidade em questão.
Fundamentou-se este artigo com a perspectiva de analisar a variação lingüística Afroamericana presente nos Estados Unidos, no sentido de especificar a individualidade dos meios
pelos quais esta comunidade se utiliza para se comunicar, além de analisar o dialeto Afroamericano em seu contexto sócio-histórico-cultural, ou seja, em situações reais de uso, com
ênfase à implicância da tradução desse dialeto. Verificou-se que a tradução de um dialeto
consiste numa complexidade que abrange vários aspectos pelos quais, infelizmente o textofonte ao ser transferido para o texto-alvo, acaba por si só, perdendo um pouco das
características de sua linguagem. A tradução,portanto, perde um pouco do sentido original,
na qual o tradutor pode ainda tomar de empréstimo a palavra original ou então, criar uma
nova para denominar a palavra até então sem significado.
Considerados os aspectos mencionados neste artigo, busca-se trazer como forma de
conhecimento, a existência do dialeto Afro-Americano Black Englih, incluindo o seu
surgimento, o modo pela qual isso ocorreu,,a existência de vocabulário, pronúncia e modos do
discurso próprios, no entanto derivados da língua inglesa padrão e da língua materna Africana.
Vale ainda ressaltar a complexidade deste dialeto, principalmente em relação à comunicação e
tradução, para os que se prendem somente à norma culta da língua inglesa, o fato torna-se
penoso.
Enfim, constatam-se os olhares da crítica norte-americana caracterizadas por importantes e
diferentes aspectos em relação da linguagem Afro-Americana, que se realizam por meio de
diferenças lingüísticas, além do fato deste dialeto permanecer vivo e em uso por muitos
descendentes Africanos nos Estados Unidos, vítimas de uma postura política imposta na época
e que se reflete até os dias de hoje por meio da linguagem, da cultura e pelo modo de
socialização desse grupo, representada pelos contrastes e diferenças lingüísticas, uma
realidade complexa e ao mesmo tempo e intrigante.
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