A POLÍTICA HABITACIONAL BRASILEIRA: O PROGRAMA “MINHA CASA, MINHA VIDA” Pedro Jorge Ramos Vianna De há muito se sabe que o Brasil apresenta um déficit estrutural de habitações populares que alcança a casa dos milhões. Algo em torno de 7,2 milhões de moradias. Dada esta situação caótica, haja vista que o número médio de pessoas por habitação é de quatro indivíduos, pode-se dizer que 28,8 milhões de brasileiros vivem em habitações subumanas. Visando a busca de solução para este problema é que o Governo da União que assumiu o poder em janeiro de 2003, em junho de 2005 instituiu o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS (Lei Nº 11.124, de 16/06/2005), com o objetivo de congregar todos os órgãos/instituições que, de uma maneira ou de outra, tivessem alguma responsabilidade no campo da habitação/urbanização. Ainda dentro daquele diploma legal foi criado o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS, com recursos provenientes do FAS – Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social, de dotações orçamentárias, de recursos de empréstimos externos e internos e de outras receitas que lhe forem destinadas. Tendo em vista a crise financeira que se abateu sobre a humanidade a partir de setembro de 2008, com suas conseqüências desastrosas sobre a economia real dos países, é que o Governo Brasileiro, considerando que o Setor da Construção Civil é um dos setores mais dinâmicos em dar respostas na direção anticíclica, instituiu o Programa Minha Casa, Minha Vida (Medida Provisória Nº 459, de 25 de março de 2009), com o objetivo de financiar a construção de 1.000.000 de residências e para o qual foram estimados aportes de R$20,5 bilhões, no período de 20092011. As informações hoje existentes, entretanto, apregoam valores para o Programa da ordem de R$34,0 bilhões, dos quais R$6,0 bilhões estão destinados a outros investimentos que não a construção de residências. Portanto, ter-se-á para a construção de moradias, o valor de R$28,0 bilhões. Três informações devem ser enfatizadas: a primeira é que o Programa se destina à aquisição da casa própria para famílias que tenham renda mensal de até 10 salários mínimos; a segunda é que essas famílias não podem comprometer com a prestação do imóvel adquirido, mais de 20,0% da renda familiar; a terceira é que o valor dos imóveis a serem financiados varia no intervalo R$80.000,00 – R$130.000,00. O PMCMV destinou ao Ceará a construção de 53.644 imóveis, o que representa 5,2% do número total estimado para o Programa. Considerando que o PIB do Ceará está ao derredor de 1,6% do PIB brasileiro, pode-se argumentar que o Ceará, proporcionalmente, foi bem aquinhoado. Por outro lado, o Programa estabeleceu que os imóveis a serem aqui construídos só poderão ter o valor máximo de R$100.000,00, diferentemente do que ocorre para São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, onde esse valor pode ir até R$130.000,00. Aqui duas questões podem ser levantadas: a primeira é que a demanda superará em muito a oferta, haja vista que as inscrições para o Programa na Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza – HABITAFOR superaram a casa das 80.000 inscrições; a segunda é se os recursos que serão aqui aportados manterão a mesma proporção do número de imóveis. Assim, se o valor estimado para o Programa é de R$34,0 bilhões, receberá o Ceará, a importância de R$1.768.000.000,00, dos quais R$1.456.000.000,00 seriam para a construção de residências? Tendo em vista que no Estado, a grande maioria das famílias demandantes deve se situar na faixa de renda de até três salários mínimos, o valor médio dos imóveis aqui construídos deve ficar abaixo do valor médio dos imóveis para o Brasil como um todo. Se, por exemplo, na média, os imóveis cearenses ficarem no menor valor estabelecido, R$80.000,00, então se recebermos o valor acima, poder-se-ia construir, apenas, 18.200 residências. Portanto, é preciso que se tenha muito claro qual o preço médio do imóvel a ser construído. Pois, se o Ceará só receber R$1.456.000.000,00, para se construir 53.644 residências, o custo médio de tais construções será de R$27.141,89. Este preço é viável? Que tipo de construção será ofertado? Vale registrar aqui que o Governo do Estado lançou no dia 19 de julho uma chamada de licitação para a construção de obras físicas que englobam recursos da ordem de R$329,4 milhões. Esta é uma grata notícia para o setor da construção civil. Carta econômica publicado no site da FIEC, vol.2 número 07 julho 2009