Missão Permanente da República de Angola junto dos Escritórios das Nações Unidas e Organizações Internacionais em Genebra Discurso pronunciado por Sua Excelência José Eduardo dos Santos, Presidente da República de Angola, na abertura da Conferência Nacional sobre Desenvolvimento Urbano e Habitacional. Luanda, 13 de Abril de 2009 EXMO. SENHOR PRIMEIRO-MINISTRO, SENHORA MINISTRA E GOVERNADORA DE LUANDA, SENHORES MINISTROS, ILUSTRES CONVIDADOS, DISTINTOS CONFERENCISTAS, MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES, O Governo decidiu realizar esta conferência, para permitir uma maior sinergia e coordenação de esforços na implementação do seu Programa de Urbanismo e Habitação. Pois, a grave crise económica e financeira que assola neste momento todos os países do planeta impõe-nos que reavaliemos os pressupostos do nosso desenvolvimento urbano e habitacional, de modo a superarmos da forma mais correcta as dificuldades existentes. Creio, assim, que os temas propostos para discussão nesta conferência são suficientemente abrangentes e concretos para se atingirem os objectivos preconizados, que são os de levar a cabo um programa de urbanização para promoção habitacional, implicando as tecnologias e materiais de construção e os mecanismos para o seu financiamento. É consabido que a problemática da Habitação é um dos traços característicos de qualquer sociedade organizada, e um índice da própria civilização, e que ela deve ser encarada numa perspectiva de planeamento integrado, tendo em linha de conta as suas implicações noutros sectores com ela relacionados, como a educação, a saúde, a economia e o ordenamento do território. O ordenamento do território, em particular, deve ser visto como um instrumento fundamental da gestão do ambiente e uma das condições essenciais para um processo de desenvolvimento equilibrado e sustentado, em articulação com as restantes políticas económicas e sociais do Governo. Isto porque as rápidas e profundas transformações que estão a ocorrer no nosso país, principalmente depois de 2002, exigem que se estabeleçam regras de funcionamento para compatibilizar o desenvolvimento económico com a utilização racional dos recursos naturais, respondendo assim às necessidades e aspirações individuais e colectivas no que diz respeito ao uso dos solos. O ordenamento do território impõe igualmente o cruzamento e harmonização dos vários tipos de planos existentes a nível do país, estratégicos ou de curto prazo, assim como uma atitude sistemática de avaliação da sua aplicação prática e dos custos dos investimentos. De facto, para o êxito dos vários projectos é fundamental uma acção coordenada entre os diferentes planos directores e as diferentes intervenções intersectoriais. Especial atenção deve ser dada às características próprias de cada região, que facilitem a solução dos problemas ligados à construção de infra-estruturas e de habitações, de modo a reduzir os encargos e a facilitar a sua harmoniosa integração no ambiente circundante. Propusemos já que fossem adoptados para todas as localidades e a nível provincial e nacional, respectivamente, planos directores e de ordenamento do território, medida que deve ser acompanhada da promoção de uma cultura de respeito pelo interesse público, que ponha termo aos índices elevados de ocupação ilegal de terrenos e de construção desordenada e clandestina. A política do solo deve constituir, assim, um ponto fulcral da nossa acção, sendo necessária acima de tudo eficácia no combate à especulação na venda ou trespasse dos terrenos e a simplificação do processo normal da sua aquisição para urbanizações pensadas e devidamente estruturadas, sob o ponto de vista técnico. Esta medida poderá desempenhar um papel fundamental na estabilização do mercado e permitir uma maior intervenção do sector privado, dado que a grave carência habitacional e os problemas sociais daí decorrentes exigem, como expresso no Programa do Governo, “a conjugação de esforços entre as forças vivas disponíveis e em condições de intervir na sua solução”. Isso não implica que o Estado abdique das suas responsabilidades e do seu papel orientador, dinamizador e regulador, que é o de priorizar a solução do problema habitacional dos grupos mais vulneráveis e o de criar as infra-estruturas básicas de saneamento, de abastecimento de água e energia eléctrica, de vias de acesso e de investimento na saúde e na educação. Deve existir uma maior regulação do mercado de solos e do imobiliário. O Estado tem de assumir o seu papel fiscalizador para tornar este mercado mais transparente e melhor regulado. É necessário pôr-se termo também à actual especulação desenfreada no sector imobiliário. Isso poderá ser feito através da instituição do Fundo de Fomento Habitacional, que visa a promoção e o financiamento da habitação a custos controlados e estabelecendo parcerias com o sector privado e cooperativo. No sector da Habitação a oferta de alojamentos deve ser largamente aumentada e diversificada para satisfazer a procura em todos os segmentos do mercado incluindo naturalmente o das pessoas de baixa renda. A política que vamos aprovar prevê a obtenção de casa própria pelos cidadãos de várias formas, designadamente a compra a pronto pagamento ou a prestações, a compra através da renda resolúvel, a construção com recursos próprios através de um empreiteiro, a auto-construção dirigida ou simples arrendamento, devendo ser revista neste caso a legislação em vigor sobre o inquilinato para adequá-la à realidade actual. Assim, para todos, o sonho de ter casa própria pode ser realidade se trabalharmos juntos. Por outro lado, é necessário prestar-se mais atenção aos materiais de construção. Neste domínio, o Governo está a realizar um conjunto de acções que visam inverter o quadro de carência actual, através do incentivo ao sector privado e da criação de novas unidades industriais, com a consequente redução das importações. A intenção é responder às necessidades de cada local e garantir a optimização dos recursos disponíveis. No Programa Nacional da Habitação o importante é criarem-se as condições indispensáveis para o bem-estar material e espiritual de todos os cidadãos, com vista a permitir a sua progressiva evolução económica e social. Neste aspecto particular, a Habitação tem de ser encarada como parte de uma política de reordenamento do território, que tem por objectivo melhorar a qualidade de vida das populações urbanas e rurais e racionalizar os investimentos públicos. Todas as decisões sobre projectos de grande dimensão e importância devem ser tomadas mediante a análise exaustiva das diferentes opções e modalidades, com a disponibilização pública dos elementos de referência e uma profunda discussão com os especialistas e a Sociedade Civil. Caros Conferencistas, Uma questão que vem sendo bastante debatida e sobre a qual nos devemos debruçar neste fórum é a questão do custo da construção. Neste pormenor é possível encontrar-se várias medidas que ajudem a criar mais- valias para a concretização dos nossos desígnios e em relação às quais gostaria de deixar para reflexão as seguintes contribuições: 1ª- A promoção de empreendimentos que permitam a aplicação de técnicas evoluídas de construção industrializada; 2ª- A adopção de uma filosofia de habitação evolutiva, que permita ao utente dosear os investimentos no tempo; 3ª- O incremento de cooperativas de construção e auto-construção dirigida, na base de projectos bem estruturados e que respondam quer às nossas necessidades quer aos factores de identidade cultural, de modo a que as populações não rejeitem as habitações que lhes são atribuídas. Por outro lado, é fundamental que se respeite a combinação da tradição com a modernidade, de modo que os registos patrimoniais do passado, desde que seja imprescindível a sua preservação, possam conviver harmoniosamente com as soluções arquitectónicas e urbanísticas de vanguarda. Caros Conferencistas, É inegável que o problema habitacional é hoje um dos mais difíceis com que o Governo se confronta. O crescimento populacional não tem sido acompanhado do correspondente desenvolvimento habitacional. Em todo o país multiplicam-se os bairros suburbanos e peri-urbanos densamente povoados, que surgem de forma desordenada, caótica e sem as necessárias infra-estruturas e equipamentos sociais. São soluções espontâneas encontradas pela população, que condensam no seu seio gravíssimos problemas que a longo prazo, caso não sejam resolvidos, podem dar origem a focos de instabilidade social. Impõe-se, a todos os títulos, a adopção de políticas de cidade e de habitação sérias e realistas susceptíveis de resolver paulatinamente os nossos problemas nestes domínios. De imediato temos de encontrar programas que visem possibilitar intervenções exemplares em áreas urbanas centrais e em comunidades rurais e tecidos urbanos problemáticos. No domínio das dificuldades não podemos deixar de referir a questão das acessibilidades e da circulação urbana, em particular na capital do país. Com efeito, o papel das redes viárias, em geral, e dos transportes em particular, tem de continuar a ser perspectivado numa política de desenvolvimento económico e de ordenamento do território. Não encontraremos uma solução para o problema do trânsito em Luanda, se não acelerarmos a conclusão das novas centralidades previstas e a desconcentração de certos serviços da cidade baixa tradicional. Este programa e a reabilitação e desenvolvimento da rede viária e ferroviária poderá mitigar os transtornos actuais que o trânsito causa aos seus habitantes, com reflexos negativos na sua mobilidade, qualidade de vida, relacionamento social, estabilidade psicológica, obrigações laborais e, acima de tudo, na vida económica do país. O desejo de trilharmos pelos caminhos do desenvolvimento e da competitividade deve impelirnos a criar as melhores condições de transporte e circulação urbana e interurbana, fundadas em boas ligações ferroviárias, rodoviárias, portuárias e aéreas da rede urbana nacional com as redes urbanas de outros países da região e do mundo. Caros Conferencistas, Temos um programa habitacional ambicioso, cujo objectivo é a construção de um milhão de fogos em quatro anos. Embora seja uma tarefa complexa em termos humanos, logísticos, materiais e de mobilização de recursos financeiros, ela não é impossível, desde que exista vontade, firmeza, capacidade, organização e planeamento. Esse é o compromisso que queremos assumir com todos os Angolanos. Todos juntos podemos cumprir essa meta, se arregaçarmos as mangas e trabalharmos bem. Assim respeitaremos os legítimos direitos dos cidadãos a uma habitação condigna, a um ambiente saudável e ao bem-estar. Estou de acordo que a Habitação: é um desafio para todos! Mas ter casa própria é um desafio que podemos vencer e a condição essencial é trabalharmos juntos. Desejo êxitos a todos. Está aberta a Conferência. 45-47, rue de Lausanne CH - 1201 Geneva Switzerland www.mission-angola.ch