ANÁLISE DAS INTER-RELAÇÕES SETORIAIS DO COREDE VALE DO RIO
PARDO/RS, BRASIL
Carina Santos de Almeida 1
Lucir Reinaldo Alves2
Fabiana Funk3
EJE TEMÁTICO: 8 - Complejos agroindustriales y relaciones intersectoriales. La concentración en el sistema
agroalimentario. Mercados y comercialización. Análisis de cadenas. Empresas agroindustriales.
RESUMO: Este artigo, sobre a região do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo/Corede, no
Rio Grande do Sul/BR, objetiva analisar as relações entre os macrossetores Agropecuário, Industrial, Comércio e
Serviços, suas condições sociais e econômicas referentes ao início do século XXI. Utilizou-se dados secundários e
apontou-se variáveis tais como: Valor Adicionado Bruto/VAB, população ocupada/PO, IDH, Índice de Gini, PIB per
capita, dentre outros, de forma a identificar a importância de cada um destes no contexto regional. Além disso,
calculou-se os quocientes locacionais/QL's para identificar a especialização de cada macrossetor. De maneira geral, a
região apresenta duas formas de espacialização territorial: a primeira aponta os municípios meridionais divididos em
médias e grandes propriedades utilizadas para pecuária extensiva e, sobretudo, orizicultura; a outra forma caracterizase por municípios com pequenas propriedades e que utilizam, em sua maioria, a mão-de-obra familiar. Nesse sentido,
a despeito da região demonstrar um setor agropecuário consistente, apresenta maiores dificuldades na diversificação
do setor industrial, haja vista à sua mono-especialização econômica e, historicamente arraigada, na produção e
transformação de tabaco, refletindo, pois, num setor de comércio e serviços, basicamente atrelado a esta atividade.
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional, Corede Vale do Rio Pardo/RS/BR, Inter-relação Setorial.
Introdução
A região do Vale do Rio Pardo/Corede faz parte das vinte e quatro regionalizações criadas
pelo governo estadual e se localiza na porção central do Rio Grande do Sul/BR. Esta região (Mapa
1) – é composta por vinte e dois municípios que possuem diferenças substanciais no que se refere
ao relevo, geomorfologia, história e economia, porém, apesar da região não se apresentar de forma
homogênea, a mesma tem um aspecto que de alguma forma a identifica: a mono-especialização do
tabaco, que se manifesta nos macrossetores agropecuário, industrial e comércio e serviços.
Esta análise vem a mostrar as disparidades existentes na região no que se refere às condições
sociais, mas, sobretudo, as inter-relações setoriais entre os macrossetores agropecuário, industrial,
comércio e serviços que evidencia a pouca diversificação econômica e a dependência regional em
relação à produção tabagista, que representa o principal produto cultivado, beneficiado e exportado
pela região neste início do século XXI.
1
Historiadora, Especialista em História do Brasil, e Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bolsista da CAPES. E-mail: [email protected]
2
Economista pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus Toledo. Mestrando do Programa de Pós -graduação
em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bolsista da CAPES. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC) e do Grupo Dinâmicas Sócio-Econômicas Regionais Comparadas (DISEREC). E-mail:
[email protected]
3
Geógrafa e Especialista em Geografia do Brasil pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Mestranda do Programa de Pósgraduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bolsista da CAPES. E-mail:
[email protected]
22
Mapa 1: Municípios que integram a região do Corede Vale do Rio Pardo
Fonte: Laboratório de Geoprocessamento da Universidade de Santa cruz do Sul - UNISC
Breve caracterização histórica do povoamento regional
A região tem como o município mais antigo Rio Pardo, fundado em 1769, sendo que o
primeiro mapa do Estado gaúcho de 1809, elaborado após a consolidação das fronteiras nacionais
brasileiras em virtude das disputas e hostilidades entre portugueses e espanhóis – Guerra
Guaranítica (1753-1756), Tratado de Madri (1750) e Tratado de Santo Ildefonso (1777) – aponta
33
como os quatro municípios mais antigos do Estado Rio Grande, Porto Alegre, Santo Antônio e Rio
Pardo, visto que este último abrangia metade do atual Rio Grande do Sul (PESAVENTO, 1997).
O município de Rio Pardo foi fundado pelos portugueses por se encontrar geopoliticamente
bem localizado, na confluência de dois rios, adentrando o território continental em direção a
fronteira brasileira com os espanhóis. Os rios navegáveis eram responsáveis pelo deslocamento,
assim, a região do Vale do Rio Pardo ficava ligada a capital provincial Porto Alegre,
consequentemente, todo o povoamento deste Corede se deu a partir da chegada de migrantes e
imigrantes na cidade de Rio Pardo. O Vale do Rio Pardo teve cultural e historicamente a influência
de indígenas da tradição Tupi-Guarani, que habitavam a região antes mesmo do descobrimento do
Brasil (1500), a região teve uma redução jesuítica chamada de Jesus-Maria, fundada pelo padre
jesuíta espanhol Pedro Mola em 1630 e destruída pelo bandeirante Rapouso Tavares (RIBEIRO,
1993; HOELTZ, 1997). A partir do século XVIII se estabeleceram na região portugueses,
fundando a fortaleza Jesus-Maria-José (1754), da qual se originou o povoado de Rio Pardo, sendo
consequentemente tragos escravos africanos para o trabalho na vila e nas estâncias de sesmarias
concedidas aos portugueses e descendentes.
Por fim, houve a incursão de imigrantes de origem germânica e italiana que se direcionaram
ao centro e ao norte da região, sendo que a primeira colônia fundada para assentar imigrantes
germânicos foi Santa Cruz Sul em 1849, atualmente capital regional do Vale do Rio Pardo,
enquanto os italianos chegaram ao final do séc. XIX e início do séc. XX e se situaram no extremo
norte da região. Assim, os municípios mais antigos do Vale do Rio Pardo são os localizados na
porção sul da região, todos os outros vieram a se desenvolver a partir da chegada de contingentes
populacionais ao porto de Rio Pardo através do rio Jacuí.
ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA REGIÃO DO COREDE VALE DO RIO PARDO
Num primeiro momento foram agregados os índices de população, taxa de analfabetismo,
densidade demográfica, coeficiente de mortalidade infantil, expectativa de vida, PIB per capita e o
IDH dos municípios. Num segundo momento, considerou-se o Valor Adicionado Bruto/VAB dos
44
municípios para os macrossetores, expressos a partir de mapas, para então apontar especificamente
os indicadores da economia sobre a agropecuária (setor primário), indústria (setor secundário) e
comércio e serviços (setor terciário). Neste sentido, esta análise se embasou nos dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE (2000), do Atlas do Desenvolvimento Humano (2000),
da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul/FEE-RS e do Quociente Locacional
dos três setores econômicos da região, fornecidos pelo Centro de Pesquisas em Desenvolvimento
Regional/CEPEDER-UNISC
(PAIVA,
2004),
assim,
verificou-se
as
perspectivas
de
desenvolvimento econômico, os principais produtos geradores de trabalho e renda, a existência de
alguma cadeia produtiva, os segmentos com ociosidade e os problemas a serem enfrentados pela
região.
1. Alguns apontamentos sobre os indicadores sociais e econômicos da região do Corede Vale
do Rio Pardo
O Vale do Rio Pardo apresenta uma população total de 417.330 habitantes, conforme os a
estimativa da FEE (2005). Dentre os vinte e dois municípios que compõe o Vale do Rio Pardo
onze são considerados de pequeno porte conforme o número de sua população. Atualmente a
maior cidade, considerada o pólo da região do Vale do Rio Pardo, é Santa Cruz do Sul. A região
como um todo, e principalmente a capital regional teve um considerável processo de urbanização,
atingindo o desenvolvimento econômico na segunda metade do século XX, sobretudo a partir da
intervenção do capital internacional que injetou investimentos no macrossetor industrial e
possibilitou à região e à cidade ser uma referência na produção e beneficiamento do tabaco no
Brasil. Ressalta-se que o tabaco é o principal produto de exportação produzido na região neste
limiar de século XXI.
Os municípios que integram o Vale do Rio Pardo em sua maioria não possuem grandes
extensões territoriais, com exceção dos municípios meridionais historicamente mais antigos, de
distribuição de sesmarias, colonização luso-brasileira e africana, com relevo mais regular e plano –
se comparados aos outros municípios da região. Na região, existem municípios que possuem os
menores índices de analfabetismo na região como Santa Cruz do Sul, com taxa de 4,71%, e outros
55
com índices inferiores ao do Estado do Rio Grande do Sul, como Tunas, com 20,22% de
população analfabeta.
Tabela 1: Indicadores sociais e econômicos dos municípios do Corede Vale do Rio Pardo
Município Vale do
Rio Pardo/Corede
Popul.
Total/hab
(2005)
Área
km²
(2005)
Densid.
Demogr.
hab/km²
(2005)
Taxa
Analf.
%
(2000)
Coeficiente
Mortal.
Infantil por
mil nasc.
Vivos (2005)
Expect. Vida
ao nascer/
anos
(2000)
PIB per
capita
R$
(2004)
Arroio do tigre
Boqueirão do Leão
Candelária
Encruzilhada do Sul
Estrela Velha
General Câmara
Herveiras
Ibarama
Lagoa Bonita do Sul
Pantano Grande
Passa Sete
Passo do Sobrado
Rio Pardo
Santa Cruz do Sul
Segredo
Sinimbu
Sobradinho
Tunas
Vale do Sol
Vale Verde
Venâncio Aires
Vera Cruz
13.151
8.314
30.536
25.853
3.825
8.468
3.256
4.166
2.700
11.607
4.888
6.326
39.295
113.988
6.911
10.758
14.157
4.103
11.639
3.553
66.883
22.953
318,5
265,5
943,7
3.438,5
281,7
494,0
118,3
193,1
108,5
847,6
304,8
265,1
2.050,5
733,5
247,5
510,1
130,4
218,0
328,2
329,4
773,2
309,6
41,3
31,3
32,4
7,5
13,6
17,1
27,5
21,6
24,9
13,7
16,0
23,9
19,2
155,4
27,9
21,1
108,6
18,8
35,5
10,8
86,5
74,1
10,91
13,95
12,63
14,71
14,05
11,97
13,23
12,09
13,75
16,55
8,67
11,24
4,71
14,85
10,28
11,45
20,22
7,57
16,36
6,36
6,52
4,98
20,13
19,48
20,73
0,00
12,35
16,95
31,75
20,83
27,52
27,78
0,00
18,79
12,45
20,00
15,50
4,55
0,00
7,81
0,00
7,29
33,56
72,35
71,90
71,71
70,22
71,52
72,74
74,75
69,78
68,61
71,71
72,19
68,61
69,68
69,78
72,35
68,51
73,01
72,35
71,92
72,35
72,35
11.459
9.443
9.104
6.982
11.933
9.582
9.042
10.749
11.696
10.679
9.922
13.206
9.411
27.653
8.688
10.691
6.727
7.589
13.517
14.654
18.666
14.941
Fonte: Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, FEE/RS.
No que se refere ao coeficiente de mortalidade infantil, a região apresenta municípios em
boas e outros em péssimas condições, tomando como parâmetro o índice do Estado gaúcho. O
Produto Interno Bruto/PIB per capita do Estado do Rio Grande do Sul, para o ano de 2006
(FEE/RS) foi de R$ 14.227,00. Neste contexto, este indicador socioeconômico aponta que na
região, dentre os municípios com melhores PIB per capita estão os que possuem sua economia
atrelada à produção e, sobretudo, beneficiamento do tabaco, como Santa Cruz do Sul, Venâncio
Aires e Vera Cruz, estes atingem o dobro do PIB per capita estadual.. Enquanto isso, os outros
municípios da região possuem PIB per capita inferiores ou muito inferiores ao do Estado gaúcho.
Nestes últimos casos, existe a predominância do macrossetor agropecuário.
Em relação às características da população que reside na região, 60% são residentes em áreas
urbanas, enquanto que 40% residem em áreas rurais. A princípio dir-se-ia que esta região é
majoritariamente urbana, mas este tipo de resposta somente é possível à medida que além da
população residente, se verifique que tipo de subsistência está pautada estas comunidades, assim,
66
mais adiante quando analisaremos os macrossetores econômicos, veremos que a região tem na
agropecuária seu principal meio de sobrevivência.
Em relação à dicotomia urbano/rural, o economista Veiga (2002) atenta que crer ser a
maioria da população brasileira residente em municípios caracteristicamente urbanos, restando
menos que 19% da população no meio rural, sendo que as estimativas postulam que em 2015
haveria aproximadamente 10% e, que, em 2030, esta desapareceria, é uma ficção. Veiga afirma
que quase um terço da população, 52 milhões de pessoas, vivem em 500 microrregiões
essencialmente rurais, considerando um conjunto total de 600 microrregiões brasileiras. Dessa
forma, antes de fazer qualquer consideração a respeito, devem-se considerar os vínculos da
economia de cada município no contexto regional.
Os municípios da região apresentam pouca oscilação no Índice de Desenvolvimento
Humano/IDH geral, entre o município com pior índice e o com melhor, estão, Passa Sete, com o
pior, com 0,714, e Santa Cruz do Sul – a capital regional –, com o melhor índice e mais próximo
de 1, com 0,817. Abaixo, de forma mais específica estão o IDH dos municípios da região, sendo
que em laranja são os piores índices e em verde os melhores índices municipais.
Tabela 2: Índice de Desenvolvimento Humano/IDH geral, renda e educação dos municípios do
Corede Vale do Rio Pardo, em 2000
Municípios VRP/COREDE
Arroio do Tigre
Boqueirão do Leão
Candelária
Encruzilhada do Sul
Estrela Velha
General Câmara
Herveiras
Ibarama
Lagoa Bonita do Sul*
Pantano Grande
Passa Sete
Passo do Sobrado
Rio Pardo
Santa Cruz do Sul
Segredo
Sinimbu
Sobradinho
Tunas
Vale do Sol
Vale Verde
IDH 2000
IDH Renda 2000
IDH Educação 2000
0,764
0,664
0,840
0,753
0,651
0,825
0,756
0,658
0,833
0,760
0,672
0,829
0,741
0,648
0,799
0,784
0,684
0,872
0,760
0,633
0,818
0,740
0,641
0,832
0,745
0,668
0,840
0,714
0,575
0,788
0,769
0,655
0,867
0,754
0,687
0,849
0,817
0,767
0,939
0,720
0,607
0,808
0,768
0,651
0,837
0,753
0,694
0,851
0,719
0,573
0,785
0,759
0,649
0,840
0,749
0,646
0,805
77
Venâncio Aires
Vera Cruz
0,793
0,701
0,884
0,791
0,681
0,903
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil/PNUD.
* Município sem dados.
Neste contexto, o Índice de Gini (Mapa 2), que mede o grau de desigualdade existente na
distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita, vem a favorecer a compreensão
das condições socioeconômicas dos municípios e, conseqüentemente, da região, visto que
considera algo que nem o IDH e nem o PIB apontam, ou seja, o nível de desigualdade social
existente nos municípios. Assim, entre os municípios da região com melhores condições se
encontram Passo do Sobrado, Pantano Grande, Vale Verde, Candelária, Encruzilhada do Sul,
Venâncio Aires e Sinimbu, em piores condições estão Sobradinho, Rio Pardo e Santa Cruz do Sul.
Assim, municípios como a capital reginal – Santa Cruz do Sul – com um elevado PIB per capita e
melhor IDH geral, de renda e educação, é também um dos piores em distribuição de renda.
Mapa 2: Índice de Gini/2000 – Desigualdade de renda dos municípios do Corede Vale do Rio
Pardo
88
Fonte: IPEADATA. * O índice de Gini mede o grau de desigualdade na distribuição de indivíduos segundo a renda
domiciliar per capita, assim, a variação indica que quanto mais próximo for o número de zero, melhor a condição,
quanto mais próximo de um, pior a condição.
2. Análise dos macrossetores e o quociente locacional (QL’s) da região do Corede Vale do
Rio Pardo
Para compreendermos melhor a importância de cada macrossetor econômico para a região,
vamos primeiramente apresentar o Valor Adicionado Bruto/VAB dos municípios que compõe o
Vale do Rio Pardo, para posteriormente apresentarmos a medida de especialização da região
(QL’s).
A estrutura do VAB para o ano de 2004 da região aponta que o setor agropecuário agregava
22.73%, o setor industrial 46.55% e o setor de comércio e serviços 30.72%. Assim, na região a
indústria apareceu como o mais expressivo dentre os macrossetores. De acordo com Paiva (2004,
p. 28, 29 e 30) quando o setor industrial aparecer com mais de um quarto do VAB total e/ ou uma
População Ocupada/PO industrial superior a um quinto da PO total, significa que a indústria tem
99
peso fundamental para as potencialidades imediatas da região. Neste sentido, Paiva aponta que
regiões e municípios que possuem mais de 30% do VAB gerado pela agropecuária, são
comunidades tipicamente rurais. De qualquer forma, o Vale do Rio Pardo apresenta-se como mais
industrial, o que não pode lhe identificar simplesmente como tipicamente urbano, visto que o setor
agropecuário alcançou 22,73% do VAB total e em alguns municípios, a agropecuária tem maior
valor agregado bruto.
Os municípios do Corede VRP que se apresentam no VAB total com mais de 30% de
participação da agropecuária, indicativo inicial de que são municípios tipicamente rurais, totalizam
dezoito de um total de vinte e dois municípios. A capital regional, Santa Cruz do Sul, seguida
pelos municípios de Venâncio Aires e Vera Cruz, apresentaram maior participação no VAB total
do macrossetor industrial, enquanto que apenas um município, Sobradinho, teve no macrossetor de
comércio e serviços sua maior participação no VAB total. Nos mapas que seguem poderemos
acompanhar a importância dos macrossetores para cada município da região. O mapa 3 apresenta
qual é o VAB que predomina em cada município, já os mapas 4, 5 e 6 apresentam dentre uma
escala de porcentagem expressa através de cores a importância de cada VAB (agropecuário,
industrial, comércio e serviços) na economia dos municípios que compõe a região.
Mapa 3: Participação dos setores agropecuário,
industrial e comércio e serviços no VAB total dos
municípios do Corede VRP (2004).
Mapa 4: Participação do setor agropecuário no VAB
total dos municípios do Corede VRP (2004)
101
0
Mapa 5: Participação do setor industrial no VAB
total dos municípios do Corede VRP (2004)
Fonte: FEEDADOS.
Mapa 6: Participação do setor comércio e serviços
no VAB total dos municípios do Corede VRP
(2004)
111
1
A medida de especialização, chamada de Quociente Locacional (QL) sobre os macrossetores
da economia – produtos produzidos pelos municípios – (PAIVA, 2004), possibilita perceber
aqueles produtos que se destacam na dinâmica socioeconômica regional, assim os QL’s sobre os
macrossetores da economia demonstram a especialização de cada município da região. De um
modo geral, quando os municípios apresentam QL’s abaixo de 1,0, isto significa que a produção se
direciona ao consumo e comércio interno, quando o QL for acima de 1,0, significa que existe uma
especialização por parte do município ou região na produção de tal produto, e quando este QL
ultrapassar 1,5, demonstra que tal produção se direciona ao mercado externo, ou seja, este produto
ultrapassa as fronteiras da região.
Contudo, quando um município ou região apresentar um QL elevado para algum produto,
demonstrando especialização, significa que esta produção apesar de agregar importantes valores
econômicos ao município, não aponta para uma distribuição destes valores no município, visto que
muitas vezes a produção é direcionada ao mercado internacional, não contribuindo para que a
economia gerada seja redistribuída no local ou região. Se existe apenas um produto na região ou
no município capaz de demonstrar um QL elevado, isto significa que existe uma dependência
econômica, indicativo de uma situação delicada para tal município ou região.
Assim, a seguir iremos apontar a importância de cada um dos macrossetores, agropecuária,
indústria e comércio e serviços para a região do Vale do Rio Pardo/Corede, da mesma forma que
os QL’s regionais dos macrossetores da economia.
2.1 Macrossetor agropecuário
O macrossetor agropecuário do Corede VRP para os anos de 2001, 2002 e 2003 teve um
valor adicionado bruto total de R$ 988.463.667, enquanto que o Estado gaúcho no mesmo período
alcançou R$ 16.709.496.000. Assim, a contribuição em porcentagem de participação do Corede
neste setor para o Estado gaúcho foi de 5%, pouco expressiva no contexto estadual. Porém,
significativa para a região, e, sobretudo, para alguns municípios da região que possuem sua
subsistência pautada na agricultura, como se viu nos mapas sobre o VAB total..
121
2
Neste sentido, a tabela abaixo vem a apresentar os QL’s mais expressivos na agropecuária da
região (pecuária, agricultura permanente e agricultura temporária), para tanto, consideramos os
quocientes locacionais superiores a 1,0.
Tabela 3: Quociente locacional (QL’s) do macrossetor agropecuário da região do Corede Vale do
Rio Pardo
Agropecuária do VRP/Corede
Quociente Locacional - QL’s
Pecuária
Bubalino
3,10
Coelhos
1,10
Mel de Abelha (kg)
1,02
Agricultura Permanente
Erva Mate
1,67
Pêra
1,89
Goiaba
1,30
Noz
2,51
Marmelo
4,50
Agricultura Temporária
Tabaco
6,69
Mandioca
2,49
Feijão
1,73
Batata-doce
1,77
Cana açúcar
1,05
Melancia
4,03
Fonte: CEPEDER/UNISC, FEEDADOS (2001, 2002 e 2003).
No que se refere à pecuária, praticamente todos os municípios da região apresentaram pouca
expressão em produtividade para a pecuária gaúcha. Da mesma forma, sua produção não é
homogênea, pois os municípios meridionais, com extensões territoriais maiores assentam sua
pecuária baseada na criação de bovinos, ovinos, bubalinos, eqüinos, enquanto que os municípios
da porção central e setentrional, com propriedades médias e, sobretudo, pequenas, com mão-deobra familiar, assentam sua pecuária na criação de suínos, galinhas, galos, frangos, frangas, pintos,
coelhos, codornas, vacas leiteiras, atividades que não necessitam de grandes espaços físicos. A
medida de especialização (QL’s) apontou que a região possui algum destaque regional na criação
de bubalinos com um índice de 3,1, coelhos com 1,1 e mel de abelha com 1,0. Os outros produtos
não se destacam no contexto regional, servem apenas para o consumo local, não chegam a
ultrapassar as fronteiras regionais.
A agricultura é uma atividade fundamental para a região, visto que o VAB total destacado
anteriormente apontou que dezoito municípios do Corede possuem neste setor sua subsistência
131
3
econômica básica. Em relação aos QL's mais expressivos (acima de 1,0) da agricultura permanente
da região, conforme a tabela 3 destacou, apresentou-se o marmelo como o principal produto, com
um QL de 4,5 – certamente este produto é uma especialidade produtiva e se direciona ao mercado
externo da região, a produção do marmelo atinge ao nível estadual 26,7% da produção total. O
segundo produto da agricultura permanente com algum destaque regional é a noz (fruto seco), com
2,5, que participa com 14,8% da produção gaúcha, em seguida vem a pêra, com QL de 1,8,
contribuindo com 11,2% da produção estadual, posteriormente vem a produção da erva-mate, que
tem o índice de 1,6, atingindo o patamar de 9,8% da produção gaúcha, e, por fim, vem a goiaba,
que representa 1,3 de QL, chegando a quase 8% da produção do Estado do Rio Grande do Sul.
Além dos produtos citados, existem outros produzidos na região e que não chegam a se
configurarem como uma especialidade regional, atendem substancialmente a demanda interna de
consumo.
Em relação à agricultura temporária, conforme é possível observar na tabela 3, os produtos
que apresentam especialização com QL's superiores a 1,0 são majoritariamente o tabaco, com QL
de 6,7, contribuindo para a produção estadual com 39,6% do total, precedido pela melancia, com
QL de 4,0, sendo que a participação regional no contexto estadual é de 23,8%. Ainda apresentamse com QL’s expressivos a mandioca, com 2,5 e 14,7%, da produção estadual, seguida pelo feijão,
com QL de 1,7, a batata-doce, com QL de 1,8, e, a cana-de-açúcar, com QL 1,1, porém, estes
últimos três produtos não chegam a participar com 10% cada na produção do Estado. Certamente
estes produtos demonstram a especialização regional ou mesmo a concentração produtiva.
Contudo, a participação regional da agricultura temporária para a produção estadual tem no
amendoim seu principal produto, contribuindo com 50,8% de todo o amendoim produzido no Rio
Grande do Sul. Ainda, a região contribui ao nível estadual com a produção de melão, que participa
com 27,2%, porém o melão quase atinge o QL de 1,0, assim, os produtos que se aproximam deste
patamar, certamente apontam também, em alguns casos, para uma especialização regional.
141
4
2.2 Macrossetores industrial e comércio e serviços: a população ocupada/PO e os QL’s mais
expressivos
O Corede Vale do Rio Pardo se destaca em alguns sub-setores industriais, apresenta,
conforme a tabela 4 um total de 1.305 estabelecimentos e 20.859 empregados no macrossetor da
indústria. A população ocupada/PO na indústria sobre a população ocupada/PO total é de 35,4%.
Assim, a região tem a maioria de seus trabalhadores ocupados no macrossetor de comércio e
serviços, que conforme a tabela 5 atinge o número de 37.965 trabalhadores, representando 64,6%
da população ocupada/PO total da região.
No macrossetor industrial, menos expressivo em população ocupada/PO total da região,
existem alguns sub-setores de atividades (tabela 4) que se destacaram com maior empregabilidade,
o que necessariamente não reflete num QL mais elevado. A fabricação de produtos do tabaco
empregava 5.l51 pessoas – o Rio Grande do Sul possuía um total de 6.029 empregados neste setor,
assim, a maioria dos trabalhadores envolvidos com o tabaco encontrava-se na região do Corede
VRP – , este setor tinha o segundo QL mais elevado, 28,26. A fabricação de calçados de couro,
empregava 2.349 trabalhadores, mas seu QL, ou sua especialização, sequer alcançava 1,0, neste
sentido, apesar do QL não ser expressivo, o sub-setor da fabricação de calçados de couro
empregava um bom número de trabalhadores. As edificações (residenciais, industriais, comerciais
e de serviços) alcançavam um montante de 1.266 empregados e seu QL não era um dos mais
elevados da região, atingiam o índice de 1,2. Dessa forma, percebemos que os sub-setores ou
atividades do macrossetor industrial que mais empregavam trabalhadores necessariamente não
eram as que atingiam os QL’s mais altos, neste sentido, ter um QL destacado não significa que a
atividade gerasse empregos.
Em relação aos QL's mais elevados do macrossetor industrial (tabela 4), acima de 1,5,
destacou-se em amarelo algumas atividades que realmente indicam uma significativa
especialização, e, ainda, as atividades que encontram-se destacadas pela cor laranja, com alto
índice de especialização. Vale destacar novamente que, o fato de existirem sub-setores na indústria
com QL’s elevados, não significou a existência de diversificação e de uma apropriação econômica
151
5
pela região, que acarretaria em mais geração de trabalho e renda, pelo contrário, quanto mais
elevado apresenta-se o QL, menos distribuição de renda existe, maior dependência econômica,
monopólio e, sobretudo, fuga de capitais da região. O exemplo mais evidente é o da fabricação de
motocicletas, que apresentou um QL de 32,07, portanto, o mais elevado da região, porém, este
setor de atividade apresenta somente 1 estabelecimento e apenas 32 empregados totais.
Observamos também que dentre a população ocupada/PO neste macrossetor industrial na
região, 20.859 empregados, poucos mais da metade, 11.215 empregados, estavam ocupados em
sub-setores de atividades que apresentaram significativos QL’s acima de 1,5.
Tabela 4: QL’s superiores a 1,5 por sub-setores de da indústria
Sub-setores da Indústria no Vale do Rio Pardo/ COREDE
Extração de outros minerais não - metálicos
Preparação de carne, banha e produtos de salsicharia nãoProcessamento, preservação e produção de conservas de legumes
Torrefação e moagem de café
Fabricação de massas alimentícias
Preparação de especiarias, molhos, temperos, condimentos...
Fabrç., retificação, homogeneização e mistura de aguardente
Engarrafamento e gaseificação de águas minerais
Fabricação de produtos do fumo
Confecção de roupas íntimas, blusas, camisas e semelhantes
Confecção de peças do vestuário - exceto roupas íntimas, blusas, ca...
Fabricação de outros artefatos de couro
Fabricação de calcados de plástico
Desdobramento de madeira
Fabrç. de artefatos diversos de madeira, palha, cortiça e material ...
Edição; edição e impressão de outros produtos gráficos
Fabricação de intermediários para fertilizantes
Fabricação de artefatos diversos de borracha
Fabricação de embalagem de plástico
Fabrç. de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, g
Britamento, aparelhamento e outros trab. em pedras (não a
Fabricação de cal virgem, cal hidratada e gesso
Fabricação de outros produtos de minerais não-metálicos
Fabricação de outros tubos de ferro e aço
Fabrç. de máquinas e aparelhos de refrigeração e ventilaç
Fabricação de máquinas para a indústria metalúrgica - exceto
máquin...
Fabrç. de fogões, refrigeradores e máquinas de lavar e SE
Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos de uso
industrial
Fabricação de material eletrônico básico
Fabricação de cabines, carrocerias e reboques para outros
Fabricação de motocicletas
Fabricação de bicicletas e triciclos não-motorizados
Fabricação de moveis de outros materiais
Subtotal dos QL's superiores a 1,5
Total
Fonte: CEPEDER/UNISC, FEEDADOS (2001, 2002 e 2003).
Nº estabelecimentos
Nº empregados
COREDE
RS
COREDE
RS
QL
COREDE
7
5
6
1
5
1
4
2
32
10
63
9
1
63
4
18
1
7
8
44
15
6
9
2
6
37
104
46
31
241
30
50
20
58
337
1.696
428
20
1.018
275
376
6
175
238
662
270
12
94
21
113
91
216
22
8
167
0
56
41
5.151
88
991
310
133
489
211
162
4
449
407
208
75
66
144
193
143
353
4.125
425
144
3.139
97
362
728
6.029
1.888
12.071
6.291
1.757
7.222
2.499
3.183
24
7.048
6.143
4.223
1.456
273
694
454
1.933
8.53
1.73
1.71
1.84
1.76
0.00
5.12
1.86
28.26
1.54
2.72
1.63
2.50
2.24
2.79
1.68
5.51
2.11
2.19
1.63
1.70
8.00
6.86
14.06
2.45
3
5
75
18
80
791
1.622
2.064
1.63
12.68
5
4
5
1
2
2
356
32
89
54
2
6
152
6.786
28
225
87
32
24
123
11.215
109
3.577
633
33
50
2.426
83.075
8.50
2.08
4.55
32.07
15.88
1.68
1.305
41.865
20.859
689.934
161
6
Tabela 5: QL’s superiores a 1,5 por sub-setores do comércio e serviços
Setores do Comércio e Serviços Classe CNAE/2005
Com. a varejo e por atacado de motocicletas, partes, peça
Comércio a varejo de combustíveis
Represen. comerciais e agentes comércio de matérias-primas...
Represen. comerciais e agentes comércio de produtos aliment...
Com. atacad. matérias primas agrícol. e produt. semi-acabad...
Com. atacad. cereais e legumin., farinhas, amidos e féculas
Comércio atacadista de carnes e produtos da carne
Comércio atacadista de bebidas
Comércio atacadista de produtos do fumo
Com. atacad. fios têxteis, tecidos, artefatos tecidos e...
Com. atacad. madeira, material construção, ferragens e fer...
Comércio atacadista de máquinas e equipamentos...
Com. varejista de mercadorias em geral...
Com. varejista de mercadorias em geral...
Com. varejista não-especializado, sem predominância de PR
Com. varejista de produtos de padaria, de laticínio, frio
Com. varejista de balas, bombons e semelhantes
Comércio varejista de carnes - açougues
Com. varejista de moveis, artigos de iluminação e outros
Reparação e manutenção de maquinas e de aparelhos eletrod...
Fornecimento de comida preparada
Transporte rodoviário de passageiros, regular, não urbano
Transporte aéreo, não-regular
Atividades de malote e entrega
Outras atividades de concessão de credito
Seguros não-vida
Desenvolvimento e edição de softwares prontos para uso
Atividades de contabilidade e auditoria
Atividades fotográficas
Atividades de envasamento e empacotamento...
Ensino médio
Educação superior - Graduação e Pós-Graduação
Atividades de outros profissionais da área de saúde
Limpeza urbana e esgoto e atividades relacionadas
Atividades de organizações políticas
Produção de filmes cinematográficos e fitas de vídeo
Atividades de radio
Ativ. de teatro, musica e outras ativ. artísticas e liter
Atividades de agencias de noticias
Lavanderias e tinturarias
Atividades funerárias e serviços relacionados
Subtotal dos QL's superiores a 1,5
Total
Fonte: CEPEDER/UNISC, FEEDADOS (2001, 2002 e 2003).
Nº estabelecimentos Nº empregados
QL
Corede
RS
Corede
RS
Corede
35
483
111
2.117
2.03
119
2.606
891
19.311
1.78
4
125
30
694
1.67
5
170
30
728
1.59
38
836
457
7.861
2.25
6
276
150
1.499
3.87
19
281
140
1.704
3.18
23
563
207
3.842
2.08
22
74
241
571
16.32
4
139
25
477
2.03
20
593
122
3.096
1.52
1
48
8
115
2.69
99
2.041 2.190
51.267
1.65
10
328
38
864
1.70
46
837
337
3.845
3.39
61
1.816
336
7.015
1.85
9
352
64
970
2.55
53
917
104
2.004
2.01
98
2.817
401
8.904
1.74
39
675
166
2.265
2.83
34
640
446
9.142
1.89
38
792
937
14.690
2.47
1
22
8
113
2.74
8
142
62
717
3.34
10
258
95
1.282
2.87
8
120
31
643
1.86
3
52
21
382
2.13
82
2.306
288
6.710
1.66
21
353
64
1.086
2.28
1
17
8
205
1.51
14
257
495
11.573
1.65
3
73 1.155
20.362
2.19
109
2.293
129
3.297
1.51
2
125
369
5.845
2.44
4
74
6
123
1.89
3
57
16
291
2.13
11
292
243
4.609
2.04
2
93
24
447
2.08
2
16
2
44
1.76
14
381
94
2.129
1.71
11
238
42
993
1.64
1.092
24.578 10.583 203.832
5.535
169.453 37.965 1.468.404
No que se refere ao macrossetor comércio e serviços (tabela 5) o Corede VRP apresenta
alguns sub-setores que mais ocuparam a população, como administração pública em geral,
comércio varejista de mercadorias em geral, atividades de atendimento hospitalar, comércio
171
7
varejista de artigos do vestuário e complementos, comércio varejista de material de construção,
ferragens e ferramentas, educação superior – graduação e pós-graduação, comércio e varejo de
combustíveis, comércio varejista de outros produtos, restaurantes e estabelecimentos de bebidas,
transporte rodoviário de passageiros, regular, não urbano, atividades de investigação, vigilância e
segurança e outras atividades associativas. Contudo, neste macrossetor não se apresentam muitos
sub-setores de atividade com QL's elevados, assim, tem-se apenas um que atinge 16,32, que é o
comércio atacadista de produtos do tabaco e está destacado na cor laranja.
Por outro lado, os sub-setores que mais empregam são aqueles que possuem QL’s menos
elevados, que circundam 1,5. A população ocupada/PO neste macrossetor alcançou o número
absoluto de 37.965 empregados, dentre os QL’s mais representativos que são os acima de 1,5, o
número de empregados atingiu 10.583 trabalhadores, portanto, a maioria dos trabalhadores
encontra-se ocupados em setores de atividades com menor índice de especialização regional (QL).
Após termos analisados os macrossetores agropecuário, industrial e comércio e serviços, e,
assim, destacado os sub-setores de atividades mais expressivos em cada um dos macrossetores,
percebemos claramente que a região possui uma cadeia produtiva atrelada à produção e
beneficiamento do tabaco. A produção do tabaco na agricultura, a fabricação de produtos do fumo
(tabaco) pela indústria e o comércio atacadista de produtos do fumo (tabaco) apresentaram os QL’s
mais expressivos, ou seja, a especialização regional gira entorno do tabaco. Este é o principal
produto do Corede, a região é mono-especializada no tabaco. Não ficou evidenciado através dos
dados expostos outras especializações que apontassem outras cadeias produtivas na região. Dessa
forma, a região demonstra uma dependência em relação ao tabaco, que pode, na medida em que
este produto vem a sofrer restrições, desencadear numa recessão econômica e, conseqüentemente,
em problemas sociais.
181
8
Considerações Finais
Este trabalho considerou ao longo do texto os aspectos sociais e econômicos da região do
Corede Vale do Rio Pardo, mas, sobretudo, a participação dos macrossetores na economia
regional. O Corede apresentou nos seus diversos dados aqui expostos que os macrossetores da
economia possuem inter-relações. Porém, esta região se caracteriza por duas formas de
espacialização territorial, a primeira aponta os municípios meridionais que se direcionam na
utilização de médias e grandes propriedades, que acabam, pois, desenvolvendo uma agricultura
que dificilmente se emprega em pequenas propriedades, da mesma forma que possui criação de
animais que não se adaptam em pequenos espaços. A outra forma de espacialização territorial do
Corede são os municípios com menores extensões de terras, com pequenas propriedades e que
utilizam em sua maioria a mão de obra familiar.
Na pecuária, o principal produto em destaque foi a criação de bubalino, seu QL regional
atingiu 3,1, afirmando a existência de uma especialização, mas esta atinge uma pequena parte da
população rural, detentora de grandes parcelas de terras. Na parte central e norte da região do
Corede os municípios apresentam uma pecuária de criação de animais de pequeno porte, pouco
expressiva em participação para o setor estadual, contudo, possibilita atender o mercado interno e
regional, portanto não transborda o território regional.
A agricultura permanente da região apresentou poucos QL's que circundam o índice de 1,0 a
1,5, com destaque para a erva-mate, pêra, goiaba e marmelo, estes produtos certamente
transbordam o território, abastecendo o setor estadual, são beneficiados na região, através de
pequenas fábricas familiares que não exigem grande especialização e investimentos.
A agricultura temporária se destaca através do principal produto regional, o tabaco, aliado a
mandioca, feijão, batata-doce e melancia, que contribuem para a subsistência periódica (safras) do
mercado interno, e se direcionam ao mercado externo. Estes produtos se direcionam ao
abastecimento estadual, e no caso do tabaco em folha, 85% é exportado para fora do país.
191
9
A porção central e setentrional do Corede apresenta uma estrutura fundiária mais
igualitária, porém as condições sociais, identificadas através do IDH, do índice de Gini, assim
como do PIB per capita, não apresentam melhores condições que as dos municípios meridionais
de grandes extensões de terras. Verificam-se os casos dos municípios mais industrializados da
região, a capital regional Santa Cruz do Sul, ainda Venâncio Aires e Vera Cruz, que estão
pautados na pequena propriedade, herdeiros da reforma agrária eruropéia 4 e que teriam melhores
condições de apresentar menores índices de desigualdades econômicas e, conseqüentemente,
sociais, o que não acontece na pratica de todo. A capital regional, Santa Cruz, é um dos exemplos
de desigualdade social, apresenta o maior PIB per capita regional, seu IDH geral, educação e
renda são os melhores dentre todos os municípios da região, porém, é um dos municípios com
maiores desigualdades em renda segundo o índice de Gini.
Os macrossetores industrial e comércio e serviços apresentam, assim como na agricultura
temporária, os QL's mais altos para o setor do tabaco, seja na fabricação de produtos do tabaco,
como no comércio atacadista. O tabaco, maior especialização regional nos três macrossetores
(QL’s), é quem mais ocupa a mão-de-obra regional, seja na agricultura, seja na indústria ou no
comércio e serviços, porém seu sistema periódico de trabalho (safra) nas industriais e no comércio
e serviços gera um estoque de trabalhadores reservas, que quando não estão trabalhando na safra,
estão desocupados ou desenvolvendo atividades informais.
A região produtora do tabaco, como bem aponta os QL's de agropecuária, indústria e
serviços demonstra que esta atividade é importante especialização regional, porém, como 85% da
produção em folha (tabaco) se direciona ao mercado internacional, os preços do produto e suas
classificações são impostos pelas empresas multinacionais que compram o tabaco (não há
concorrência na comercialização do produto). O sindicato local dos produtores de tabaco se
manifesta sempre modestamente em defesa dos agricultores, existe um controle social exercido
pelas multinacionais, visto que os agricultores antes mesmo de plantar a safra, realizam o contrato
de venda da mesma. A questão do tabaco se configura num dos gargalos regionais, se não o
4
Discussão do campo historiográfico estadual a respeito da imigração de alemães que recebeu terras, ou que
pagou pelo seu lote através da produtividade exigida pelo governo imperial e estadual no século XIX.
202
0
principal, na medida em que a renda gerada pelo tabaco é, no mínimo, 85% apropriada pelo
mercado internacional, sendo que o restante acaba sendo redistribuído internamente.
Ao somarmos os trabalhadores da indústria e serviços chega-se a um total de 58.859 de
população ocupada/PO na região, assim, considerando que o VAB regional aponta a indústria
como a que detém maior porcentagem no VAB total, 41%, e considerando que a PO industrial
atinge 35% da PO total5, as potencialidades regionais estão localizadas no macrossetor industrial.
O número total de empresas na indústria atinge 1.305, o número total de trabalhadores atinge
20.859 empregados, o maior QL como já foi mencionado está na indústria do tabaco, 28,26, o
setor do tabaco emprega na indústria 25% da PO na indústria regional enquanto que na PO total
atinge 9,1%, contudo, a tendência atual é a diminuição dos postos de trabalho em virtude da
mecanização no processo de beneficiamento do tabaco.
Os macrossetorres industrial e agropecuário do Corede Vale do Rio Pardo apresentam certa
diversidade de setores ou atividades, a questão é como propiciar ou incentivar mais ainda a
diversificação econômica, seja ela no macrossetor da indústria, da agropecuária ou mesmo no
comércio e serviços? O setor de atividades mais expressivo na indústria, o tabaco e o calçado
vivenciam uma situação preocupante no Brasil e internacionalmente, assim, depositar todos os
investimentos regionais nestes dois setores de especialização e destaque regionais atualmente pode
gerar ainda mais problemas sociais e econômicos. Faz-se preciso apostar numa agricultura
permanente que minimamente garanta a subsistência familiar, da mesma forma que é necessário
uma nova estrutura agrária nos municípios meridionais.
Por outro lado, a região recebeu um suporte importante neste ano de 2007, foi instalada a
Central de Abastecimento/CEASA, em Santa Cruz, que é abastecida por produtores da região e vai
atender não somente este Corede, mas aos vizinhos também. O Movimento dos Pequenos
Agricultores/MPA através de auxílio federal iniciou a instalação de uma usina de Bioenergia, que
pretende mobilizar a agricultura regional na produção de culturas para a geração de novas fontes
de energia.
5
Ou seja, mais que um quinto (20%), patamar mínimo indicado por Paiva (2004) para perceber a
predominância dos macrossetores na economia regional.
212
1
Assim, a região apesar de se encontrar em uma situação, de certa forma, preocupante em
relação aos macrossetores altamente especializados no tabaco, tem recebido e se mobilizado para
diversificar sua produção agrícola, porém, o setor industrial é o gargalo, ou, a dificuldade, mais
complexa de ser resolvido (a), visto que são praticamente inexistentes ações municipais e estaduais
a fim de diversificar o parque industrial regional em virtude da sua especialização econômica e
historicamente arraigada na produção de tabaco.
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