Como é verde o meu Planalto Daniela Cristina Peiter Tondolo Engrandecida pelos sonhos – embora amedrontada pelo desconhecido – foi como vivi meu primeiro dia de aula na universidade, não qualquer uma, numa universidade dentro do meu verde planalto, tão próxima, e tão real. Assim como Huw Morgan, personagem da célebre obra “Como era verde meu vale”, de Richard Llewellyn, meus pais depositavam em mim a esperança de um futuro promissor – mesmo vivendo na simplicidade de uma cidade interiorana, onde predominam os matos verdes e as terras cultivadas – esperavam eles que eu pudesse estudar, formar carreira, ter futuro. O Cesnors chegou de surpresa, foi na última semana de inscrição do Peies que escolhi o curso de Jornalismo do novo centro da UFSM, o qual, até então, desconhecia a existência: “Por que você não escolhe o campus de Frederico Westphalen?”, me disse Marlene, professora do ensino médio, lá em Três Passos. O quê? Realizar meu sonho sem precisar deixar meu planalto? Sempre alertam: quando a coisa é boa de mais pra ser verdade, cuidado! A sabedoria popular é mesmo incrível! Ela tava certa! Depois de passar na seleção e já estar devidamente matriculada, sofro um acidente de moto e fraturo o fêmur da perna direita. 5 meses parada. E lá se vai o primeiro semestre da faculdade. Trancamento total... Apesar do adiamento, o sonho não acabou, muito menos a confiança que meus pais tinham sobre mim. Foi assim que, mesmo de muletas, pisei pela primeira vez na sala de aula na universidade, em setembro de 2007, escorada pela segurança de estar num lugar que é meu, numa terra que é minha. É tão bom poder realizar um sonho sem precisar abandonar outro, você não acha? Hoje estou à porta da formatura e, nem precisei sair longe pra isso. Meu planalto é tão verde quanto o vale de Hum Morgam, que também passou pela angustia de não poder andar, que também teve a sensação de não poder seguir em frente. Hum só não teve a mesma sorte que eu, não teve a graça de poder realizar seu sonho – e de seus pais – sem deixar a terra querida. E quanto ao planalto? Sim, está se desenvolvendo, é claro, a presença de uma universidade federal faz muita diferença na economia daqui, mas ele continua verde, até mais verde, eu diria. Ou talvez sejam as esperanças, minhas e de muitos outros, que encontraram aqui mesmo a oportunidade de viver um sonho: ter ensino superior gratuito e de qualidade pertinho de casa.