Universidade Federal da Bahia Instituto de Física Departamento de Física da Terra e do Meio Ambiente TEXTOS DE LABORATÓRIO FIS 121 – FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL I-E FIS 125 – FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL I-F SALVADOR, BAHIA 2007 INTRODUÇÃO Esta apostila é destinada aos alunos dos laboratórios dos Cursos de Física Geral e Experimental I-E e Física Geral e Experimental I-F. Ela foi elaborada para que o aluno menos preparado possa, ao lê-la, assimilar facilmente o conteúdo das matérias e, conseqüentemente, provocar o interesse pelo curso. Nela está incluída uma pequena introdução à Teoria dos Erros, na qual são apresentados conceitos básicos e essenciais desta teoria, além de roteiros e de uma breve descrição teórica dos experimentos a serem desenvolvidos durante o curso. Esta apostila tem como objetivo ensinar aos estudantes a prática e os métodos de medidas diretas e indiretas, com instrumentos simples, dando-lhes segurança no que devem entender por medir grandezas físicas. No texto, são preservados os aspectos que professores e alunos usuários da Apostila de Teoria dos Erros e Mecânica (Roberto Max de Argollo, Clemiro Ferreira, Tereza Sakai, 1998) consideraram desejáveis, ao mesmo tempo em que incorporaram certo número de modificações e atualizações. Esta nova versão foi elaborada por Francisco Clodorian Fernandes Cabral, com a colaboração dos professores Alexandre Barreto Costa e Alberto Brum Novaes (2006), digitada por Diva Andrade da Silva, ortografia revisada por Antonio Silva Souza (Bello) com desenhos e diagramação de Friedrich W. Gutmann. ÍNDICE CAPÍTULO I - TEORIA DOS ERROS Parte 1 - Conceitos básicos 1. Introdução............................................................................................. 1 2. Medidas diretas e indiretas................................................................... 2 3. Classificação dos erros......................................................................... 2 4. População e amostra............................................................................. 3 5. Valor mais representativo duma grandeza............................................ 4 6. Valor verdadeiro e valor mais provável................................................. 5 7. Erro, desvio e discrepância................................................................... 5 8. Desvio relativo e discrepância relativa.................................................. 6 9. Exatidão e precisão............................................................................... 7 Parte 2 - Distribuição Normal 10. Freqüência e probabilidade................................................................. 9 11. Representação de medidas como uma distribuição............................ 10 12. Função de Gauss................................................................................ 12 13. Medidas de dispersão......................................................................... 13 14. Algarismos significativos...................................................................... 16 15. Nível de confiança com o desvio padrão............................................ 18 16. Rejeição de dados............................................................................... 20 Parte 3 - Propagação de erros 17. Propagação de erros........................................................................... 22 18. Fórmulas especiais para propagação de erros Independentes.......... 23 CAPITULO II – ROTEIROS DE LABORATÓRIO Seção 1 - Instrumentos de medida e medidas físicas............................... 25 Seção 2 - Estudo de distribuições aleatórias........................................... 34 Seção 3 - Máquinas simples..................................................................... 36 Seção 4 - Análise gráfica de dados experimentais................................... 41 Seção 5 - Elasticidade e transformação de energia numa mola espiral... 49 Seção 6 - Pêndulo simples........................................................................ 53 Seção 7 - Colisão elástica em uma e duas dimensões............................. 58 Seção 8 - Movimento de rotação e momento de inércia........................... 64 Seção 9 - Equilíbrio estático duma barra rígida........................................ 67 Seção 10 - Pêndulo físico......................................................................... 72 Apêndice I – Tabela de dimensões e unidades........................................ 75 Apêndice II – Regras para representação gráfica.................................... 77 Bibliografia................................................................................................ 79 CAPÍTULO I CONCEITOS BÁSICOS TEORIA DE ERROS PARTE 1 Aos professores e alunos: Este texto introduz os conceitos básicos e os parâmetros essenciais da teoria de erros e contém algumas aplicações práticas de interesse dos trabalhos de laboratório de Física Geral. Estudo mais aprofundado poderá ser feito na bibliografia citada. 1 - Introdução As determinações experimentais envolvem medidas e como as medidas estão sempre sujeitas a alguma incerteza, é preciso fazer-se alguma estimativa dessas incertezas antes que os resultados possam ser interpretados ou usa-los. Assim, quando medimos uma grandeza um certo número de vezes, os valores obtidos provavelmente não serão idênticos devido aos erros experimentais. Surgem, então, as questões: qual o número que se deve adotar como o valor mais representativo da grandeza medida? Com que grau de confiança pode-se afirmar que o número adotado representa este valor? Assim, para analisar os resultados de uma experiência torna-se necessário, portanto, fixarem-se critérios para escolher o valor representativo e seu domínio de flutuação, e estabelecer-se o nível de confiança a tal domínio. Tais questões são objetos de estudos da teoria dos erros. Tendo-se pois, uma série de medidas de uma grandeza, com a teoria de erros, procuramos responder às questões: 1. Qual o valor mais representativo da grandeza? 2. Que medida de dispersão usar para definir um intervalo de variação para a medida? 3. Como se associar uma chance de reprodutibilidade (nível de confiança) a um dado intervalo? 4. Como propagar os erros associados às grandezas medidas a outras grandezas calculadas a partir delas, através de expressões matemáticas? 2 – Medidas diretas e indiretas As grandezas podem ser medidas direta ou indiretamente, havendo, em cada caso, um modo diferente de tratar seus valores e os erros a eles associados. Medidas diretas são as obtidas por simples comparação utilizando-se instrumentos de medida já calibrados para tal fim. Neste tipo de medida devemos distinguir dois casos: (i) a medida é feita através de uma única determinação onde o valor numérico ou é lido numa escala ( régua, paquímetro, cronômetro , balança, etc ) ou é fornecido diretamente como no caso de massas aferidas. (ii) a medida é obtida através de várias determinações onde o valor numérico é dado pelo Valor Mais provável (definido posteriormente na seção 5). Medidas indiretas são todas aquelas relacionadas com as medidas diretas por meio de definições, leis e suas conseqüências. Neste tipo de medidas o valor numérico assim como a dimensão e a unidade correspondentes, são encontradas através de expressões matemáticas que as ligam as medidas diretas envolvidas. Exemplo é a determinação do volume dum cilindro a partir da medida de suas dimensões. 3 – Classificação de erros As medidas experimentais são ordinariamente acompanhadas de alguma incerteza e esta incerteza limita o objetivo de se conhecer o valor verdadeiro da grandeza. Têm-se, assim, os erros, os quais podem ser classificados nos seguintes tipos: Erros grosseiros são aqueles cometidos devido à falta de atenção ou de prática do operador. Deste tipo são os erros cometidos em operações matemáticas, enganos na leitura ou escrita de dados, ou engano na leitura duma escala. A possibilidade de ocorrência desses erros pode ser bastante reduzida pela atenção do operador e pela repetição das medidas e dos cálculos. Erros sistemáticos são aqueles decorrentes de causas constantes e se caracterizam por ocorrerem sempre com os mesmos valores e sinal. São deste tipo os erros devidos a aparelhos descalibrados, a métodos falhos, ao uso de equações incompletas, a condições ambientais inadequadas aos instrumentos de medida e a hábitos errados do operador. O modo de eliminarem-se esses erros, ou reduzi-los a um mínimo, é trabalhar com instrumentos calibrados os instrumentos devem estar "zerados" e, quando for o caso, com a calibração corrigida para as condições ambientais — com métodos corretos e equações adequadas. No caso de se ter medidas afetadas por um erro sistemático e se conheça seu valor e sinal, é possível eliminá-lo, já que ele entra com valor e sinal iguais em todas as medidas. Erros acidentais são aqueles devidos a causas fortuitas. Também chamados de erros aleatórios ou estatísticos, eles resultam do somatório de pequenos erros independentes e incontroláveis afetando o observador, o instrumento de medida, o objeto a ser medido e as condições ambientais. São causas desses erros, por exemplo, a variação do "milímetro" ao longo duma reta milimetrada; a flutuação dos instrumentos de medida ligados na rede elétrica; a estimativa que o observador faz na leitura de dados, as pequenas variações da grandeza medida quando comparadas à sensibilidade do arranjo experimental (no caso de a variação da grandeza ser bem maior que a sensibilidade do arranjo experimental, a diferença entre as medidas deve ser atribuída à própria variação da grandeza). Sendo esses erros originados por um grande número de causas, todas elas provocando variações, para mais e para menos, de intensidade dentro da sensibilidade do arranjo experimental, eles obedecem a leis matemáticas bem definidas e podem ser tratados pela teoria estatística. 4 – População e Amostra População. As medidas e contagens em estatística, para terem sentido, devem ser limitadas a certo grupo ou conjunto de objetos ou elementos chamados em estatística de população. As populações podem ser classificadas em finitas e infinitas, conforme seja finito ou infinito o número de objetos ou elementos que as compõem. Exemplo de uma população finita é o número de eleitores na Bahia (este número é limitado). Exemplo de uma população infinita é a medida da massa de um objeto (pode-se fazer um número ilimitado de medidas). Amostra é uma parte de uma população estatística que foi tomada ao acaso e usada como base para fazer-se estimativas e tirar-se conclusões sobre a população. Assim, quando desejamos medir a massa dum objeto, na impossibilidade de medirmos todos os valores possíveis, o que fazemos é medir alguns valores e, a partir deles, inferir o valor da massa. 5 – Valor mais representativo de uma grandeza Consideremos agora a primeira questão posta na Seção 1, qual seja: se são feitas n medidas de uma grandeza, X 1 , X 2 ,..., X n , todas igualmente confiáveis, isto é, observadas nas mesmas condições, mas nem todas com o mesmo valor devido aos erros acidentais, qual o valor que melhor representa a grandeza? Podemos resolver esta questão utilizando o método dos mínimos quadrados, proposto por Legendre, em 1806, como segue. Seja xi o resíduo da medida X i , definido como: xi = X i – X i = 1, 2,..., n , , (01) onde X é um valor qualquer. O método dos mínimos quadrados diz que o valor X mais representativo das medidas Xi é um valor X tal que reduz a soma dos quadrados dos resíduos a um mínimo. Esta soma é dada por, U( X ) ≡ ∑ xi = 2 i ∑ (X i − X) , 2 i i = 1, 2,..., n , (02) onde, por conveniência, fizemos o somatório dos quadrados dos resíduos igual a U( X ). A representação gráfica de U( X ) versus X é uma parábola com a abertura voltada para cima. As coordenadas U 0 e X de seu vértice dão, respectivamente, o valor mínimo de U( X ) e, de acordo com o método dos mínimos quadrados, o valor mais representativo das medidas Xi . Desenvolvendo o quadrado de U( X ), vem: U( X ) = ∑ Xi − 2 X ∑ i Xi + n X 2 . 2 i O valor X que faz U( X ) um mínimo é obtido pela condição dU/d X = 0. Então: dU = – 2 ∑ i X i + 2 n X = 0. dX O resultado é: X = ∑ i n Xi , i = 1, 2,..., n . (03) X é, assim, a média aritmética dos n valores medidos X i . 6 – Valor verdadeiro e valor mais provável O valor verdadeiro, μ (letra grega, lê-se mi), dos N elementos de uma população é definido como o valor mais representativo da população, o qual, de acordo com a Eq. (3), é a média aritmética desses N elementos, ou seja, μ= ∑ i Xi N , i = 1, 2, ...N. (04) As populações mais comuns na Física (medidas de comprimento, massa, tempo) são infinitas e, nestes casos, μ é definido como a média aritmética de uma série infinita de medidas. O valor verdadeiro assim definido não é uma variável aleatória, mas uma constante, cujo valor se busca estimar. Ele é um parâmetro estatístico importante na teoria da medida, ainda que sua determinação exata seja, em geral, hipotética. O valor mais provável ( v.m.p.), X , de uma amostra com n elementos, de acordo com a Eq. (3), é a média aritmética dos n valores, ou seja, X= ∑ i n Xi , i = 1, 2,..., n . (05) Como veremos adiante, na distribuição de Gauss, o v.m.p. X é uma estimativa do valor verdadeiro μ e é a melhor estimativa que se pode obter dele sem se fazer medida adicional. 7 – Erro, Desvio e Discrepância. O erro, ei , de uma medida X i é a diferença entre este valor e o valor verdadeiro da grandeza, ou seja: e i = X i – μ. (06) Exceto em alguns casos triviais, o valor verdadeiro é desconhecido e, portanto, o módulo do erro é hipotético. Contudo, este é um conceito útil na teoria de erros. O desvio, di , de uma medida X i é a diferença entre este valor e o valor mais provável, ou seja: di = X i – X . (07) O desvio assim definido tem duas propriedades importantes. A primeira se refere à soma dos quadrados dos desvios é um mínimo, como vimos na Seção 5. O valor desta soma será usado adiante no cálculo de algumas grandezas e uma expressão conveniente para calculá-la, pode ser obtida quadrando-se a Eq. (7) e tomando-se a soma de seus termos. Então, ∑ di = 2 i ∑ Xi − 2 X 2 i ∑ i Xi + n X 2 . (08) Pela Eq. (3), tem-se que Σ i X i = n X . Então, ∑ di = 2 i ∑ Xi − n X 2 . 2 i (09) A segunda propriedade, por sua vez, é a soma algébrica dos desvios é zero e isto decorre da própria definição do valor médio. De fato, tomando-se o somatório dos desvios na Eq. (7) e considerando a Eq. (3), vem: ∑ i di = ∑ i Xi − n X = n X − n X = 0 (10) A discrepância é a diferença entre dois valores medidos de uma grandeza, tal como a diferença entre os valores obtidos por dois estudantes ou a diferença entre o valor encontrado por um estudante e um recomendado ou tabelado. É incorreto usar-se os termos erro ou desvio para representar tais diferenças . 8 – Desvio relativo e discrepância relativa O desvio relativo S, da medida de uma grandeza é definido como a relação entre a dispersão s utilizada para a medida (desvio avaliado, desvio padrão, etc., vistos adiante) e o valor X no caso de apenas uma determinação (ou o v.m.p no caso de uma série de medidas), expresso em %. Sua expressão é S= s 100 . X (11) O desvio relativo tem significado somente quando as medidas são referidas a um referencial zero que tenha significado físico. Quando o referencial é arbitrário, o desvio relativo perde o sentido quando os desvios individuais forem apreciáveis em comparação ao valor da medida. A discrepância relativa, Δ, (letra grega, lê-se delta) entre duas medidas X ' e X " de uma grandeza é definida pela relação (em %) Δ= X ′ − X ′′ 100 . X ′′ (12) X ' e X " podem ser os valores obtidos por dois observadores, ou X ' pode ser um valor obtido por um observador e X " um valor tabelado ou recomendado da grandeza. 9 – Exatidão e precisão Exatidão é uma medida de quão próximo o valor experimental está do valor verdadeiro. A exatidão tem a ver com os erros sistemáticos e uma medida é dita ser tão mais exata quanto menores forem estes erros. A exatidão de uma medida X ' pode ser avaliada pela discrepância relativa (Eq. 14), onde X " é o valor verdadeiro da grandeza (alguns poucos casos em que ele é conhecido) ou um valor recomendado. A exatidão é tanto maior quanto menor for a discrepância relativa. Precisão é uma medida de quão concentradas estão as medidas experimentais em torno do valor mais provável. A precisão tem a ver com os erros aleatórios e uma medida é dita ser tão mais precisa quanto menor forem estes erros. A precisão duma medida pode ser avaliada através do desvio relativo (Eq. 13), sendo tanto maior a precisão quanto menor for este desvio. Uma distinção entre exatidão e precisão está ilustrada na Fig. 1, onde são mostrados alvos com marcas de balas de dois rifles fixados rigidamente e mirando o centro de cada alvo. Em ambos os casos, o centro de fogo (valor mais provável) está sistematicamente deslocado do centro do alvo (valor verdadeiro), menos em (b) do que em (a). Diz-se, então, que a exatidão em: (a) (b) Figura 1 (b) é maior do que em (a). Já a dispersão dos tiros (valores individuais distribuídos aleatoriamente) é menor em (a) do que em (b). Diz-se, então, que a precisão é maior em (a) do que em (b). PARTE 2 DISTRIBUIÇÃO NOMAL 10 – Freqüência e probabilidade Quando as medidas experimentais produzem flutuações, a análise dos dados experimentais requer que se fixem critérios para escolher o valor mais representativo da série de medidas, para definir um domínio de flutuação para as medidas e para estabelecer um nível de confiança associado a esse domínio. Ambos os valores mais representativos e seu domínio de flutuação são deduzidos univocamente dos dados experimentais e tais questões são o objeto de estudo da teoria de erros. Inicialmente, definamos freqüência e probabilidade, dois conceitos importantes na teoria estatística. Freqüência absoluta de um acontecimento é o número de vezes que o mesmo (o quê) ocorreu. Assim, se um dado é lançado 30 vezes e ocorrem 8 duques, a freqüência absoluta do "duque" é 8. Freqüência relativa, ou simplesmente freqüência é a relação entre o número de vezes que o acontecimento ocorreu e o número de vezes que ele poderia ter ocorrido, podendo ser expressa em %. Assim, no exemplo anterior, a freqüência do "duque" é 8/30, ou 26,7 %. Probabilidade de um acontecimento é definida como a relação entre o número de casos favoráveis e o número de casos possíveis. Assim, se designarmos por p o número de modos possíveis com que um dado evento pode ocorrer e q o número de modos do evento deixar de ocorrer, as probabilidades P de sucesso e Q de falha são dadas, respectivamente, por P= p p+q e Q= q . p+q Definida deste modo a soma das probabilidades de todos os eventos possíveis deve ser igual à unidade, portanto, o valor da probabilidade nunca pode exceder a unidade; que é para ser interpretada como “certeza”. Nos casos das probabilidades P e Q, que envolvem dois tipos de eventos (“sucesso” e “falha”), P + Q = 1. Como exemplos, a probabilidade de ocorrer um duque num único lançamento de um dado com 6 faces é 1/ 6 e a de não ocorrer o duque é 5/6; a de acertar uma dada dezena na Mega Sena é 1/60 e a de não acertar 59/60. Em ambos os exemplos, a soma das probabilidades é 1. Embora a probabilidade de ocorrer um duque seja 1/6, isso não implica que em 30 lançamentos ocorram 5 duques (30 x 1/6). Na verdade, pode ocorrer qualquer número entre 0 e 30, porque quando o número de lançamentos é pequeno não há uma relação clara entre freqüência e probabilidade. No entanto, quando o número de lançamentos cresce indefinidamente, o número de "duques" tenderá a aproximar-se do previsto pela probabilidade. Daí a lei de Jacques Bernouille: quando o número de experiências tende a infinito, a freqüência tende à probabilidade. Esta lei, chamada de "Lei dos Grandes Números", vale para acontecimentos aleatórios em que uma dada ocorrência independe inteiramente da anterior. 11 – Representação gráfica de medidas como uma distribuição Suponhamos que um dado comprimento é medido 51 vezes, obtendo-se os seguintes valores, em mm: 4,008 4,025 4,033 4,039 4,044 4,049 4,051 4,057 4,062 4,065 4,068 4,078 4,087 4,018 4,027 4,033 4,039 4,044 4,049 4,053 4,058 4,063 4,066 4,070 4,081 4,090 4,019 4,027 4,038 4,039 4,047 4,050 4,054 4,058 4,064 4,067 4,073 4,081 4,104 4,023 4,031 4,039 4,043 4,048 4,051 4,054 4,059 4,065 4,067 4,076 4,086 Um modo de obter-se uma distribuição dessas medidas é representá-las graficamente num histograma. O histograma é um gráfico onde no eixo das abscissas são marcados intervalos de medidas e no eixo das ordenadas as freqüências com que as medidas ocorrem em cada intervalo. Para construirmos um histograma com os dados acima, vamos inicialmente classificá-los em intervalos, como mostrado na Tabela 1. Tabela 1 Intervalo (mm) Freqüência absoluta Freqüência relativa, % 4,005 a 4,014 1 2,0 4,015 a 4,024 3 5,9 4,025 a 4,034 6 11,8 4,045 a 4,054 8 15,7 4,055 a 4,064 10 19,6 4,065 a 4,074 7 13,7 4,075 a 4,084 8 15,7 4,085 a 4,094 4 7,8 4,085 a 4,094 3 5,9 4,095 a 4,104 1 2,0 No topo da tabela estão indicados os intervalos, com largura de 0,01 mm, centrados nos pontos 4,01 mm, 4,02 mm, etc. Nas linhas que se seguem, estão indicadas as freqüências absolutas e relativas das medidas em cada intervalo. Na Fig. 2 os retângulos representam o histograma construído com os dados da Tabela 1, com os intervalos centrados nos pontos 4,01, 4,02, etc. Nele podemos observar que as medidas estão espalhadas em torno dum valor central e que a distribuição mostra uma razoável simetria em torno deste valor com as freqüências diminuindo à medida que os intervalos se afastam do ponto central. 10 f(x) 8 6 4 2 0 4,01 4,02 4,03 4,04 4,05 4,06 4,07 4,08 4,09 4,10 x(mm) Figura 2 Se fizermos uma outra série de 51 medidas, é muito provável que o histograma construído com elas não coincida com o anterior. Em outras palavras, as freqüências de medidas por intervalo nesta segunda série poderão diferir daquelas da primeira, significando que a distribuição das freqüências da série está sujeita ao que se denomina de flutuação estatística. Se repetirmos o processo com 5.000 medidas, verificaremos que as flutuações serão bem menores. Então, podemos concluir que quando o número de medidas crescer indefinidamente e os intervalos forem permanentemente reduzidos, o histograma tenderá a uma curva contínua. Essa curva é denominada curva de distribuição normal ou curva de Gauss e se essa curva possuir uma representação analítica, esta função é denominada função densidade de probabilidade normal ou função de Gauss. 12 - A Função de Gauss Na seção anterior, vimos que quando o número de observações é suficientemente grande, pode-se tomar a freqüência de ocorrência das medidas pela probabilidade delas ocorrerem. Se para um grande número de medidas construirmos um gráfico no qual as abscissas sejam os desvios x — as diferenças entre os valores medidos e o valor médio das medidas — e as ordenadas sejam as freqüências com que esses desvios ocorrem, obtemos uma curva do tipo mostrado na Fig. 2. Ela é denominada curva normal ou curva de Gauss. Sua expressão analítica, chamada de função densidade de probabilidade normal, ou, simplesmente, função de Gauss é f ( x) = h π e− h 2 2 x . (13) O gráfico de f ( x ) contra x é mostrado na Fig. 3. A curva obtida é do tipo mostrado na Fig. 2; ela é simétrica em relação a um valor central máximo e tende assintoticamente a zero. f(x) −σ 0 x1 x2 Figura 3 +σ x f(x) h grande h médio h pequeno x 0 Figura 4 O valor da ordenada na origem é dado por f (0) = h π . Vê-se, então, que quanto maior for o número de medidas igual ao valor médio, maior será h. Na Fig. (4), as três distribuições têm a mesma área sob as curvas, mas diferentes valores de h. Um valor grande de h significa uma alta precisão das medidas e a curva é estreita. Inversamente, um h pequeno indica medidas de baixa precisão e a curva é achatada. Por isso, Gauss denominou h de índice de precisão. 13- Medidas de dispersão Tendo-se chegado à expressão do v.m.p. de uma série de medidas, a segunda questão proposta na Seção 1 é encontrar o erro que se está cometendo, ou seja, a dispersão a que está sujeita o v.m.p. É necessário, pois, definir-se grandezas que possam ser avaliadas numericamente e que representem as propriedades de interesse visualizadas no gráfico. Em particular, desejamos uma grandeza que tenha relação com a largura da curva de Gauss, já que ela é uma indicação da precisão das medidas. A seguir, veremos algumas dessas grandezas. Desvio quadrático médio. De acordo com a Eq. (2), U 0 é a soma dos quadrados dos desvios em relação à média, ou seja, U0 = ∑ i ( Xi - X ) 2 i = 1, 2,..., n . (14) Define-se como desvio quadrático médio, dqm, o valor médio de U 0 , ou seja U0 . n dqm = (15) Como já vimos, U0 representa o valor mínimo para a soma dos quadrados dos desvios. Já a raiz do dqm dá uma indicação de como uma particular série de n valores desvia de seu v.m.p. Raiz do desvio quadrático médio. Vimos que o desvio quadrático médio, dqm, representa o valor mínimo para a média aritmética dos quadrados dos desvios. Podemos, então, utilizar a raiz do desvio quadrático médio, s′ , como um desvio para a grandeza. A expressão para s′ , é: s′ = ∑ i di 2 n = ∑ i ( X i − X )2 n i = 1, 2,..., n . (16) Uma expressão alternativa, conveniente para uso de calculadora, é obtida substituindo-se na Eq. (16), o somatório ∑ i di 2 pela expressão da Eq. (9). Fazendo-se a substituição, vem: s′ = ∑ 2 i Xi − n X 2 n i = 1, 2,..., n (17) Infelizmente, apesar de s′ ter uma grande importância teórica, ele não tem uma maior significância como desvio, porque ele indica apenas como uma particular série de n valores desviam de seu v.m.p.. Não se sabe, porém, se ele sistematicamente depende ou não do número de medidas na série. Ademais, uma nova de série n medidas geralmente não produz nem um v.m.p. idêntico ao primeiro, nem uma mesma série de desvios, devido às flutuações estatísticas. Raiz do erro quadrático médio. Uma grandeza mais significativa para a medida da dispersão, devido a sua conexão direta com a função de Gauss, é a raiz do erro quadrático médio, σ (letra grega, lê-se sigma). O erro quadrático médio, eqm, é definido como a média aritmética dos quadrados dos erros de todos os elementos da população. Ele representa, portanto, o dqm de uma medida individual em torno da média da população, ou seja, do valor verdadeiro. O quadrado σ 2 é também denominado variância. A relação de σ com os parâmetros da função de Gauss é 1 σ= , h 2 (18) ou seja, σ é inversamente proporcional ao índice de precisão h. Ele é, então, uma indicação da precisão da medida . Desvio padrão. Vimos que, apesar da valia de σ como medida de dispersão do v.m.p., sua determinação é hipotética pela impossibilidade de fazermos todas as medidas da população. O melhor que podemos fazer é tomar uma série finita de medidas e, usando-a como uma amostra da população, calcular a melhor estimativa para σ. Pode-se mostrar que, para uma série de n medidas a melhor estimativa de σ é o desvio padrão s , dado pela expressão: s= ∑d i ∑ (X 2 i n −1 i = i − X )2 n −1 , i = 1, 2,..., n . Como na Eq. (17), a expressão de s mais conveniente para (19) uso de calculadora é s= ∑ 2 i Xi − n X 2 n −1 , i = 1, 2,..., n . (20) Entre s′ e s, a diferença numérica é geralmente pequena, mas a distinção é importante conceitualmente. O fato de s ser maior do que s′ é esperado, pois se viu que este é obtido com a soma dos quadrados dos desvios em torno da média da amostra, a qual mostramos ter um valor mínimo. Desde que a média da população geralmente não coincide com a da amostra, a soma dos quadrados dos desvios de uma amostra finita em torno da média da população não é um mínimo. Também, é interessante notar que o aparecimento do fator n – 1 deve-se ao fato de haver apenas n – 1 desvios funcionalmente independentes, já que existe a relação de condição segundo a qual a soma dos quadrados dos desvios é um mínimo. Ademais, quando n =1 o conceito de desvio perde o significado. 14 – Algarismos significativos Ao medir o comprimento do objeto da figura abaixo, usando uma régua milimetrada, é possível, neste caso, apresentar esta medida com no máximo três algarismos, ou seja, 29,4mm. Neste resultado os dois primeiros algarismos, o 2 e o 9, temos certeza, enquanto que o algarismo 4 já é duvidoso. Associar a esta medida um quarto algarismo, é errado, uma vez que este é desconhecido para a régua milimetrada. 0 1 2 3 4 5 6 Fig. 5 Toda medida contém geralmente uma margem de erro e, por isso, o resultado da medida deve ser escrito com um número de algarismos significativos tal que procure representar a precisão obtida para a medida. O último algarismo registrado é o duvidoso, porque ele é o algarismo sujeito as incertezas. O algarismo duvidoso representa o último algarismo significativo do valor da medida e é da ordem de grandeza do desvio avaliado da medida, como será visto adiante. São ditos significativos todos os algarismos além do primeiro não nulo. Assim, o número 35 tem dois algarismos significativos; o número 3,50 tem três; o número 0,047 tem dois; o número 2,8 x 104 tem dois (somente os algarismos em frente à potência de 10 são significativos). Pelo menos um algarismo duvidoso é incluído no resultado de uma medida, mesmo que ele seja zero. Os dígitos excedentes são arredondados, usando-se os seguintes critérios: se o primeiro dígito desprezado for de 0 a 4 o anterior não será alterado; se for de 5 a 9 o anterior é acrescido de uma unidade. A média aritmética (o vmp ) deverá ser escrita com um significativo a mais que as medidas (isto se justifica já que a média é mais exata que as medidas individuais e para, nas operações matemáticas, reduzirmos os erros sistemáticos, dando, assim, maior segurança ao resultado). O desvio padrão deve ser escrito com dois significativos e definirá o número de significativos do resultado, exemplos 1 e 2. Nas situações em que não se obtém flutuação alguma, seja porque as medidas experimentais são todas iguais, seja porque se faz apenas uma medida direta, deve-se, portanto, avaliar-se o desvio da medida. Nas operações com algarismos significativos, onde não se tem uma medida de dispersão para as grandezas envolvidas ( desvio padrão ou desvio avaliado ), deve-se para, preservar a precisão do resultado final, usar-se as seguintes regras: Regra 1: Na multiplicação e divisão, o resultado final deve ser escrito com um número de significativos igual ao do fator com menor número de significativos. Exemplos: 3,7 × 4,384 = 16 ; 0,632 ÷ 0,20 = 3,2 ; 4,4 × 6242 = 2,9 × 10 4 . Regra 2: Em operações envolvendo inverso de números e multiplicação por fatores constantes, o número de significativos deve ser preservado no resultado. Exemplos; 1 = 0,00403 ; 248 Regra 3: 2 × 6,23 = 12,5 ; 4 π × 13,5= 170 . Na soma e subtração, o resultado final terá um número de decimais igual ao da parcela com menos decimais. Exemplos: 3,4 + 0,256 – 2,22 = 1,4; 34 + 2,92 – 0,5 = 36; 0,831 – 6,26 × 10-3 – 0,79 = 0,03 . ________________________________________________________________ Exemplo 1– O diâmetro D de uma esfera de aço é medido 6 vezes com um micrômetro, obtendo-se os seguintes valores : D (mm) = 6,458; 6,450; 6,463; 6,454; 6,457; 6,451. Calcule o v.m.p. D do diâmetro, o desvio padrão sD e o desvio padrão relativo SD . Solução: Σ D 38,733 = = 6,4555 mm . n 6 Valor mais provável : D = Desvio padrão : sD = Σ Di 2 − n D 2 = 6 −1 , × 10− 4 1175 = ± 0,004848 mm . 5 sD = ± 0,0048 mm. sD 4,848 × 10 −3 100 = ×100 = 7,51 × 10 − 2 % Desvio relativo: SD = 6,4555 D Note que os desvios foram escritos com dois significativos, que é a regra a ser usada em nossos trabalhos. Coerentemente, o v.m.p. deve ser escrito com dois algarismos duvidosos. O número de significativos para expressar o v.m.p. é definido pelo desvio padrão. Neste caso, D deve ser escrito como 6,4555 mm e seus dois últimos algarismos (55) são duvidosos. Caso o desvio padrão fosse ± 0,048 mm, D deveria ser escrito como 6,456 mm e os duvidosos seriam 56. ________________________________________________________________ Exemplo 2- Para a série das 51 medidas apresentadas na Seção 11, calcule o valor mais provável e o desvio padrão. Solução: Utilizando as Eqs. (05) e (17), obtemos para o valor mais provável v.m.p, o desvio padrão s: v.m.p.= 4,0540 cm; s = ± 0,0216 cm. s = ± 0,022 cm, Coerentemente, o vmp = 4,054 cm. 15 – Nível de confiança com o desvio padrão Definida a medida de dispersão (consideramos o desvio padrão), a terceira questão posta na Seção 1 é como se associar uma chance de reprodutibilidade a um intervalo de variação definido para a medida, mantidas as condições de medição. Em outras palavras, definir um intervalo [ X ± α s ], onde α é uma constante a ser definida pela lei de distribuição de tal modo que uma nova medida X tenha uma dada chance de jazer neste intervalo. Usando a Eq. (13), substituindo X pelo erro e o valor de σ dado pela Eq. (18), a expressão resultante permite calcular a probabilidade de uma medida jazer num dado intervalo. Assim, a probabilidade P( X 1 , X 2 ) de uma medida jazer no intervalo [ X 1 , X 2 ] é: X2 P( X 1 , X 2 )= ∫ X1 1 σ 2π e − ( X −μ)2 2σ 2 dx . (21) Para o intervalo [µ -σ, µ + σ], a integral da Eq. (21) vale 0,6826. Isso significa que se deve esperar que 68,26 % das medidas jazam neste intervalo. Temos, assim, para σ um significado qualitativo (indicação da precisão da medida), um geométrico (± σ são os pontos de inflexão da curva de Gauss) e um quantitativo (68,26 % das medidas jazem no intervalo [μ ± σ ]. Para os intervalos [μ ± 2σ] e [μ ± 3σ] as probabilidades são, respectivamente, 0,9545 e 0,9973. Isto significa que se deve esperar que 95,45 % das medidas jazam no intervalo [μ ± 2σ] e 99,73 %, praticamente todas as medidas, jazam no intervalo [μ ± 3σ].A probabilidade definida pela Eq. (21), expressa em %, denomina-se nível de confiança, n.c. Assim, diz-se que o n.c. para o intervalo [μ ± σ] é 68,26 %. O problema é que não se conhece nem μ nem σ . O que se conhece são suas aproximações X e s . A função densidade de probabilidade é gaussiana para X , mas não é para s. Então, não se deve esperar que probabilidades para intervalos definidos por s sejam as mesmas para os intervalos definidos por σ. Quando o número de medidas é suficientemente grande (digamos, maior que 20) podemos tomar σ por s sem muito erro e, neste caso, os níveis de confiança são obtidos através da Eq. (21). A Tabela 2 dá os níveis de confiança para os intervalos [ X ± α s] para n > 20 , ou seja, dá os valores de α pelo qual se deve multiplicar s para se ter um intervalo com um dado n.c. Quando n < 20, as probabilidades não podem ser obtidas através da Eq. (21), já que não é mais possível substituir σ por s . Os valores para α, neste caso, são obtidos através de uma outra distribuição devida a Student. A Tabela 3 apresenta esses valores de α em função do número de medidas n e para os níveis de confiança de 60 %, 90 % e 95 %. Por exemplo, para n = 5, o intervalo com um n.c. de 95 % é dado por [ X ± 2,776 s ]. Tabela 2 Valores de α para n > 20 Nível de confiança n.c. ( % ) α 50,00 0,670 60,00 0,842 68,26 1,000 90,00 1,645 95,00 1,960 95,45 2,000 99,73 3,000 Tabela 3 Valores de α para n ≤ 20 Nível de confiança, n.c. (%) n 60% 90% 95% 2 1,376 6,314 12,706 3 1,061 2,920 4,306 4 0,978 2,353 3,182 5 0,941 2,132 2,776 6 0,920 2,015 2,571 7 0,906 1,943 2,447 8 0,896 1,895 2,365 9 0,889 1,860 2,306 10 0,883 1,833 2,262 15 0,868 1,761 2,145 20 0,861 1,729 2,093 16 – Rejeição de dados Algumas vezes numa série de medidas ocorrerem valores que diferem bastante do conjunto. A questão que se coloca é se esses valores aparentemente anômalos devem ser rejeitados. Em casos onde se sabe ter havido perturbações físicas durante a medição (queda de tensão, trompaço na mesa, etc.), as medidas devem ser rejeitadas, ainda que elas pareçam concordar com as outras. Em outras situações, onde não se tem conhecimento de perturbações, a rejeição duma medida é uma questão polêmica. Contudo, um critério comumente usado é rejeitar-se as medidas cujos desvios em relação ao v.m.p. sejam maiores que três vezes o desvio padrão. A justificativa para esse critério pode ser deduzida das Tabelas 2 e 3, onde se constata que, para cinco ou mais medidas, todas elas praticamente jazem no intervalo [ X ± 3s], sendo praticamente zero a probabilidade de uma medida jazer fora deste intervalo. Uma vez eliminada a medida anômala, novo v.m.p. e novo desvio padrão devem ser calculados com as medidas restantes. Exemplo 3 - Expresse a medida do diâmetro do Exemplo 1 (pg.19) com um n.c. de 95 % em termos do desvio padrão. Solução: Em termos do desvio padrão, o intervalo é dado por D = D ± α s . Para n = 6 e um n.c. = 95 % , a Tabela 3 dá para o fator α , α= 2,571. Portanto, o produto α s é 2,571× 0,004848 = ± 0,01246 mm. A medida será, então, expressa como D = 6,456 ± 0,012 mm . Este intervalo significa que uma nova medida, feita nas mesmas condições que as anteriores, tem uma chance de 95 % de ter seu valor no intervalo acima, ou seja, entre 6,444 mm e 6,468 mm. PARTE 3 17 – Propagação de erros Até aqui tratamos com medidas diretas. Trataremos, agora, da quarta questão posta na Seção 1, qual seja, como tratar as medidas indiretas, ou seja, aquelas calculadas através de expressões matemáticas envolvendo grandezas medidas diretamente. Suponhamos que uma grandeza R é calculada a partir das grandezas medidas X e Y através duma expressão matemática R = R ( X ,Y ). Então, R tem um erro como resultado dos erros das grandezas medidas X e Y . (Esses erros devem ser compatíveis, ou seja, se, por exemplo, um representa um desvio padrão, os outros devem ser também desvios-padrão.) A relação entre o erro de R e os de X e Y é determinado pelo cálculo diferencial. Há duas situações limites. Numa delas — a mais comum — o erro de X não tem qualquer relação com o de Y e, neste caso, eles são ditos ser independentes. Por exemplo, suponhamos que a velocidade de um objeto é determinada medindo-se o tempo de percurso e a distância percorrida. Não há razão para supor-se que se o tempo for muito grande a distância será também muito grande. Noutras situações, os erros são relacionados e estes são ditos ser dependentes. Trataremos, agora, dos erros relacionados às medidas indiretas, ou seja, aquelas calculadas através de expressões matemáticas envolvendo grandezas medidas diretamente. Suponhamos que uma grandeza R é calculada a partir das grandezas medidas X e Y através duma expressão matemática R = R ( X ,Y ). Nos experimentos realizados aqui no laboratório, as grandezas medidas são independentes, ou seja, o erro de uma não varia com a outra grandeza medida. Valor mais provável de uma medida indireta Considerando uma função R = R ( X ,Y ) o valor médio da função é obtido substituindo o valor mais provável das grandezas medidas diretamente na relação matemática que expressa a grandeza indireta ou seja: R = R( X , Y ) onde X e Y são os valores médios das grandezas medidas diretamente. 18 – Fórmulas especiais para propagação de erros independentes Quando os erros são independentes, os coeficientes de correlação entre as grandezas X e Y são nulos, assim, para duas grandezas X e Y temos: 2 2 ⎛ ∂ R ⎞ 2 ⎛∂ R⎞ 2 ⎟⎟ s X + ⎜⎜ ⎟⎟ sY , s R = ⎜⎜ ⎝∂ X ⎠ ⎝∂ Y ⎠ onde as derivadas são tomadas nos pontos X = X (22) e Y = Y . Vamos agora obter expressões para algumas funções que aparecem com mais freqüência em trabalhos de laboratório. Produto de fatores elevados a diferentes potências. Seja R = A X p Y q , onde p e q são valores reais conhecidos e A é uma constante ou número. As derivadas parciais de R nos pontos X e Y , são ∂R = A p X p −1 Y q ∂X ∂R = A q X p Y q −1 , ∂Y ; as quais, substituídas na Eq. (42) resulta em s R = ( Ap X p −1 2 Y q )2 s X + ( Aq X p Y q −1 )2 sY 2 (23) Uma expressão mais conveniente para o cálculo de sR , neste caso, é obtida dividindo-se a Eq. (44) pelo v.m.p. de R , ou seja, por R = A X p Y q .O resultado é 2 sR = R ⎛s ⎞ ⎛s ⎞ p ⎜ X ⎟ + q2 ⎜ Y ⎟ ⎝ X ⎠ ⎝Y ⎠ 2 2 , (24) Vê-se que quanto maior for o valor absoluto do expoente da grandeza mais potencialmente ela contribuirá para o desvio de R . Nos casos particulares de produto ou quociente simples ( R =A X ⋅ Y , ou R =A X ÷ Y ), onde p = ± 1 e q = ± 1, a Eq. (45) reduz-se a 2 sR = R ⎛ sX ⎞ ⎛s ⎞ ⎜ ⎟ + ⎜ Y⎟ ⎝ X⎠ ⎝Y ⎠ 2 (25) Soma ou diferença. Seja R = b X ± cY , onde b e c são constantes reais . As derivadas parciais de R são ∂R =b ∂ X ∂R = ±c ∂ Y e Portanto, pela Eq. (46), tem-se sR = b2 sX + c2 sY 2 2 , ou sR = sX + sY 2 2 se b = c =1. (26) Exemplo 4- A massa m da esfera do Exemplo 1 foi medida seis vezes, obtendose para m e sm os valores: m = 1,100 g e sm = ±0,012 g. Calcule (a) a densidade da esfera e (b) expresse o resultado com um n.c. de 95 % em termos do desvio padrão. Solução: (a) O v.m.p. ρ da densidade da esfera é ( D será tomado em cm ) ρ = , 6m 6 × 1100 3 3 = 3 = 7 ,80916 g cm ; πD π × 0,64555 o desvio padrão da medida da densidade sρ é calculado através da Eq. (24) 2 sρ = ρ 2 ⎛s ⎞ ⎛s ⎞ 3 ⎜ D ⎟ + ⎜ m ⎟ = 7,80916 ⎝m⎠ ⎝ D⎠ 2 5,08 × 10− 6 + 119 , × 10− 4 = ± 0,08699 g cm 3 Os resultados para ρ são, portanto, ρ = 7 , 809 g cm 3 e sρ = ± 0, 087 g cm 3 ( sρ foi escrito com dois significativos e observe a coerência nas escritas dele e de ρ ). Verifique que, pelo valor das duas parcelas dentro da raiz, a medida da massa contribuiu mais para o desvio de ρ , apesar de D estar elevado ao cubo e, portanto, ter seu desvio multiplicado por três. (b) Como são seis medidas de D e de m, n = 6; para um n.c. = 95 % a Tabela 3 nos dá α = 2,571. Então, αsρ = ±0,08699 × 2,571 = ±0,2237 g/cm3. Portanto, para o n.c. de 95 % , ρ é expresso como ρ = 7,81 ± 0,22 g cm 3 Observe que ajustamos novamente o valor de ρ para manter a coerência na escrita de ρ e αsρ . CAPITULO 2 ROTEIROS DE LABORATÓRIO SEÇÃO 1 INSTRUMENTOS DE MEDIDA E MEDIDAS FÍSICAS I - OBJETIVO Operar com algarismos significativos, definir o limite do erro instrumental para instrumentos de medição, definir o desvio avaliado para medidas feitas com vários instrumentos e realizar medidas físicas. II - PARTE TEÓRICA 1 – Sensibilidade de um instrumento A sensibilidade de um instrumento corresponde à menor divisão de sua escala e para alguns tipos de instrumentos ela é fornecida pelo fabricante. Numa régua milimetrada a sensibilidade é 1 mm; num micrômetro 0,01 mm. 2 – Limite do erro experimental O limite do erro instrumental (l.e.i.) dum instrumento de medição com escala de leitura contínua (réguas, micrômetro, medidores com ponteiro) é definido como a menor fração da menor divisão da escala que pode ser estimada visualmente. Um olho humano normal é capaz de distinguir dois pontos distantes de 0,1 mm numa distância de 25 cm (distância normal de leitura). Então, para instrumentos com a largura das divisões menores da escala da ordem de 1mm pode-se tomar com segurança o l.e.i. como ± 0,2 unidades dessas divisões. Por exemplo, pode-se tomar o l.e.i. duma régua milimetrada de boa qualidade como ± 0,2 mm. Todavia, a depender da qualidade da escala e da regularidade das divisões, este valor pode chegar a ± 0,5 mm (réguas de plástico) e mesmo a ± 1mm (trenas e escalas de pedreiro); para um micrômetro, cuja menor divisão da escala é 0,01 mm, o l.e.i. é ± 0,002 mm; para um amperímetro com menor divisão da escala de 0,1 mA, o l.e.i. pode ser ± 0,02 mA a ± 0,05 mA a depender da qualidade da escala, se esta é espelhada, se a leitura é feita com lupa, etc. (para essa estimativa admite-se que o amperímetro tenha capacidade suficiente para responder a variações da ordem de 0,02 mA ou 0,05 mA, o que não decorre da menor divisão da escala, mas da capacidade de resposta do instrumento, a qual é fornecida pelo fabricante. Se a sensibilidade do amperímetro for , por exemplo, 0,1 mA , o correto é tomar-se o l.e.i. como ± 0,1mA). Para larguras maiores, o operador deve estabelecer um l.e.i. com apenas um algarismo significativo tal que lhe dê segurança que o valor da medida jaz no intervalo por este definido. Nos instrumentos com escala de leitura descontínua (escala com vernier, cronômetros mecânicos),o l.e.i. é estabelecido pelo fabricante e normalmente corresponde à menor medida possível de ser feita no instrumento. Assim, em instrumentos dotados de vernier, o l.e.i. é a própria natureza do instrumento. Para um cronômetro mecânico que marca em intervalos de 0,1 s toma-se o l.e.i. igual a este valor. Em medidores digitais o l.e.i. é, geralmente, a metade do último dígito mostrado no visor. 3 – Desvio avaliado Quando se vai realizar uma medida, a primeira providência do operador é definir o desvio avaliado ( sa ) associado à medida a ser feita, para assim conhecer a posição do algarismo duvidoso. Por exemplo, se o desvio avaliado para medidas feitas com uma régua milimetrada for de ± 0,5 mm os valores deverão conter a casa dos décimos de milímetro, sendo, então, dos tipos 30,5 mm , 46,58 cm , 4,00 cm; se para medidas com uma balança o desvio avaliado é ± 0,1 g, os valores serão do tipo 4,5 g , 23,8 g , 200,0 g . A definição do desvio avaliado deve levar em conta o l.e.i. do instrumento de medida utilizado, o objeto a ser medido, o processo de medida e, em alguns casos, as condições ambientais. Seu valor é nunca menor do que o do l.e.i. do instrumento de medida, podendo ser igual a este se as condições de medida forem favoráveis. Por exemplo, se a medida a ser feita é a da largura de um objeto que tem arestas bem definidas e a régua pode encostar-se ao objeto, pode-se tomar o desvio avaliado igual ao l.e.i. da régua. Entretanto, se o objeto possuir contornos abaulados, o correto é tomar-se o desvio avaliado maior que o l.e.i. Igualmente, se a corrente elétrica que está sendo medida oscila, deve-se avaliar a amplitude de oscilação para definir o desvio avaliado, o qual será maior que o l.e.i. O desvio avaliado deve ser usado como desvio da medida nos casos de se fazer poucas medidas (até três), quando as medidas repetidas têm o mesmo valor, ou quando o desvio padrão calculado para uma série de medidas for menor que ele. (Sobre o desvio padrão, veja a Seção 13, capítulo 1). III - PARTE EXPERIMENTAL EXPERIMENTO 1.1 - RÉGUA MILIMETRADA A régua milimetrada de aço, plástico ou madeira, é geralmente utilizada para medir comprimento não muito pequenos e quando a precisão desejada para a medida não é muito alta. Neste tipo de régua o l.e.i. fica entre ± 0,2 mm para réguas de boa qualidade e ± 0,5 mm para réguas mais ordinárias. É conveniente usar-se diferentes trechos da régua na repetição das medidas de modo a reduzir os efeitos de diferenças na marcação da escala e tornar, assim, as medidas mais independentes. No caso de escalas de pedreiro e trenas de pano, o l.e.i. pode chegar a ± 1 mm ou mais. 1.1.1. – Procedimento experimental – Medidas com réguas 1. Dispõe-se de réguas com três tipos de sensibilidade: decimetrada (D), centimetrada (C) e milimetrada (M). Defina o l.e.i. para cada uma delas. 2. Será fornecido um objeto para ser medido com as três réguas. Para cada régua, na ordem D, C e M, defina o desvio avaliado para as medidas, faça duas medidas do objeto utilizando diferentes trechos da régua, calcule seu valor médio e o desvio relativo. 3. Verifique qual a régua que apresentou a medida do objeto com melhor precisão e explique os critérios utilizados em sua avaliação. 4. Discuta a relação entre a sensibilidade das réguas e o número de algarismos significativos das medidas. O que você sugere para melhorar a precisão da medida do objeto? Justifique suas respostas. EXPERIMENTO 1.2 – PAQUÍMETRO O paquímetro é um instrumento de leitura descontínua para medidas de pequenos comprimentos. É caracterizado por possuir uma escala especial, conhecida como nônio ou vernier, que se move ao longo da escala principal e que permite a leitura precisa de frações da menor divisão desta escala. O paquímetro mostrado na Fig.1.1 é um tipo familiar de escala milimetrada. Ele possui duas bases, sendo uma fixa e solidária com a escala principal e outra móvel onde se encontra o vernier. Quando o paquímetro está fechado, o zero do vernier coincide com o zero da escala. Quando se desloca o cursor, a distância entre as bases — o comprimento a ser medido — é a indicada pelo zero do vernier na escala principal. As bases possuem encostos onde se apóia o objeto a ser medido (medidas externas). Comumente os paquímetros — como o mostrado na figura — possuem também duas orelhas, uma fixa e outra móvel, para medir diâmetros internos e uma haste para medir profundidade de cavidades. Medida interna Parafuso de fixação Medida de profundidade 0 1 3 2 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Haste 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Vernier Medida externa Impulsor Escala principal Figura 1.1 O nônio ou vernier (Pierre Vernier, 1580-1637) é um dispositivo que permite uma leitura precisa da parte fracional da menor divisão duma escala. Ele consiste de uma escala móvel que desliza paralelamente à escala do instrumento ( escala principal ). Seu comprimento corresponde a um número n de divisões da escala principal e é dividido em m partes iguais. Define-se por natureza do nônio ( N ), a diferença entre a k-ésima divisão da escala principal imediatamente posterior a primeira divisão do nônio e esta, isto é: N = ka – b, onde a é a amplitude da menor divisão da escala principal e b é a amplitude da menor divisão da escala do nônio. Neste caso a.n = b.m, então podemos escrever: N = a(km – n)/m. A Fig. 1.2.a mostra um nônio (escala inferior) onde k = 1, a = 1mm,n = 9 e m = 10, neste caso sua natureza é N = 0,1mm. N = a(km – n)/m. A Fig. 1.2b mostra um nônio onde k = 2, a = 1mm,n = 39 e m = 20, neste caso sua natureza é N = 0,05mm. 0 10 5 5 0 10 Figura 1.2a 0 0 1 1 2 2 3 4 5 3 6 7 4 8 9 10 Figura 1.2.b Na Fig.1.3 o vernier da figura 1.2a foi movido para a direita e seu "0" caiu entre as marcas de 67 e 68 mm da escala principal. Note que a divisão 7 do vernier foi a que melhor coincidiu com uma marca da escala principal (a marca 74mm). 70 Vernier 0 80 75 5 10 Fig. 1.3 Há, então, uma diferença de 0,1 mm entre a divisão 6 do vernier e a marca 73 mm; de 0,2 mm entre a divisão 5 e a marca 72 mm e assim sucessivamente, até a diferença de 0,7 mm entre o zero do vernier e a marca 67 mm. A posição do zero indica, portanto, 67,7 mm. No vernier da Fig. 1.4 o zero do vernier da figura 1.2b está entre as marcas de 143 e 144 mm da escala principal e a marca 5,5 do vernier é a que melhor coincide com uma marca da escala principal (a 154). A posição do zero indica, portanto, 143,55 mm (se fosse a divisão 6 a coincidir, a leitura seria 143,60 mm ). 160 150 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 Vernier Fig. 1.4 Existem diferentes tipos de vernier adaptados a diferentes instrumentos. Há o vernier linear, como os das Figs. 1.2a e 1.2b, adaptado a escalas lineares para leitura de comprimentos como nos paquímetros e há o vernier circular, adaptado a escalas circulares para leitura de ângulos como nos goniômetros. O paquímetro é um instrumento de leitura descontínua e o intervalo de medida é dado pela natureza do vernier. Assim, para um paquímetro de natureza de 0,05 mm as leituras são do tipo 13,00 mm, 13,05 mm, 13,10 mm, etc. O l.e.i. para o paquímetro é igual à natureza do vernier. Por exemplo, para um paquímetro de natureza de 0,05 mm o l.e.i. é ± 0,05 mm. 1.2.1- PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL - MEDIDAS COM PAQUÍMETRO 1. Inicialmente, examine seu paquímetro, identifique sua natureza e defina seu l.e.i. 2. Na leitura da medida note que a marca da escala principal anterior ao zero do vernier indica o número inteiro de milímetros da medida e a marca do vernier que melhor coincidir com uma marca da escala indica a fração dos milímetros. 3. Antes de efetuar medições, limpe as superfícies dos encostos e as faces da peça. O contato dos encostos com a peça deve ser suave. Exageros na pressão no impulsor pode danificar a peça e resultar medidas falsas. 4. Concluídas as medidas, feche o paquímetro e guarde-o na capa plástica. EXPERIMENTO 1.3 – MICRÔMETRO Fig. 1.5 O micrômetro, Fig. 1.5, é um instrumento de alta sensibilidade constituído basicamente de um parafuso micrométrico capaz de mover-se num corpo cilíndrico ao longo do próprio eixo. O passo do parafuso é 0,5 mm, o que significa que, em cada volta completo, o parafuso avança ou recua de 0,5 mm em extensão. Para medir as voltas completas do parafuso há uma escala fixa no corpo cilíndrico (S) e paralela ao eixo do parafuso e dividida a cada 0,5 mm com os traços da divisão alternando-se acima e abaixo da linha central. Solidário ao parafuso, há um tambor circular (T) dividido em 50 partes e, como a cada volta o parafuso avança 0,5 mm, a cada divisão do tambor o parafuso avança 0,01 mm. O micrômetro permite estimar milésimos de milímetro (micros) e o algarismo duvidoso é lido entre as divisões do tambor. Leituras com micrômetro são, portanto, do tipo 4,352 mm; 12,400 mm; 5,4328 cm. O l.e.i. para o micrômetro é ± 0,002 mm. O micrômetro deve ser manuseado com delicadeza. O objeto a ser medido deve ser fixado entre suas mandíbulas A e R usando-se apenas o parafuso de fricção ou catraca (H) existente na extremidade do tambor. Quando o micrômetro está fechado o zero do tambor num instrumento calibrado deve coincidir com o zero da escala fixa. 1.3.1- PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL - MEDIDAS COM MICRÔMETRO 1. Limpe as superfícies das mandíbulas e da peça a ser medida. Feche, então, o micrômetro girando suavemente o tambor — para girar o tambor utilize apenas a catraca, pois ela está devidamente regulada para dar a pressão devida — e verifique se ele está calibrado. Caso não esteja, cada medida deverá ser subtraída algebricamente do valor lido. 2. Dê uma rotação completa no tambor e identifique o passo do parafuso micrométrico e a sensibilidade do micrômetro. Então, verifique a sensibilidade do instrumento e defina o l.e.i. 3. Coloque a peça entre as mandíbulas e gire o tambor utilizando apenas a catraca até que as mandíbulas encostem-se à peça. 4. Os inteiros de milímetros da medida são indicados pela última marca superior que aparece na escala do corpo cilíndrico. Caso a última marca a aparecer seja a inferior, o valor indicado pela última marca superior deve ser somado de 0,500 mm (veja Fig.1.6, no centro). 5. A leitura da fração de milímetros é feita no tambor estimando-se o algarismo correspondente a milésimos de milímetro (micro). Observe os exemplos mostrados na Fig. 1.6. 6. Concluídas as medidas, feche o micrômetro suavemente e guarde-o no estojo. Fig. 1.6 BALANÇA DE TRIPLO TRAVESSÃO 0 1 2 3 100 0 1 2 3 4 5 200 4 5 6 7 300 6 8 400 7 8 9 500 9 10g Fig. 1.7 A balança de triplo travessão, Fig.1.7, é muito usada quando se deseja fazer pesagens rápidas de massas relativamente grandes. A carga máxima das balanças deste tipo, usadas comumente em laboratórios, é de 1.100 g sem o auxílio de contra-pesos e de 2.110 g quando se penduram os contra-pesos C na extremidade do travessão E. A sensibilidade da balança depende da carga: ela é de 0,1 g para cargas leves e vai até 0,5 g para cargas de 2.000 g. O l.e.i. para este tipo de balança é ± 0,2 g. A pesagem faz-se com o auxílio da tara central P (100 g , 200 g , .., 500 g), da tara Q (10 g, 20 g, 100 g) e do ajuste contínuo R que corre numa escala de 0 a 10 g com divisões de 0,1 g . SEÇÃO 2 ESTUDO DE DISTRIBUIÇÕES ALEATÓRIAS I - OBJETIVO Estudar o modelo estatístico de distribuição das pintas produzidas pelos impactos sucessivos no solo de uma esfera lançada através de uma calha sob as mesmas condições. II - PARTE TEÓRICA. O espalhamento ou dispersão das pintas produzidas num papel colocado no solo pelos impactos de uma esfera de aço solta várias vezes de uma mesma posição de uma calha e sob as mesmas condições, é um excelente exemplo de flutuações aleatórias devidas a um grande número de perturbações afetando o sistema. Neste experimento será feito um estudo quantitativo da dispersão longitudinal das pintas produzidas sobre um papel quadriculado por um determinado número de impactos sob as mesmas condições. III - PARTE EXPERIMENTAL EXPERIMENTO 2.1 - ESTUDO DE UMA DISTRIBUIÇÃO ALEATÓRIA 2.1.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Com a calha montada na borda da mesa, solte a esfera de aço de um determinado ponto da calha e observe o ponto onde ela atinge o solo. Neste ponto, ponha centrado o papel milimetrado com esta face para cima e sua dimensão maior na direção da trajetória da esfera, sobreposto ao papel-carbono com a face carbonada para cima. Fixe os papeis no solo com pesos e fita crepe para que eles não se movam com o impacto da esfera. 2. Agora, solte a esfera o número n de vezes determinado pelo professor, sempre do mesmo ponto da calha. É essencial que as condições permaneçam imutáveis durante os lançamentos. Após cada impacto marque com um ponto o centro da pinta marcada no papel, atentando para os casos de pintas muito próximas ou superpostas. 3. Feitos os n lançamentos, remova cuidadosamente o papel e ponha-o sobre a mesa. Para analisar a dispersão longitudinal da série de pintas, considere o eixox na direção da trajetória da esfera, trace uma linha-base perpendicular a esta direção — por conveniência, antes da primeira pinta (veja Fig. 2.1). Meça e anote as coordenadas Xi (i = 1, 2, . . . , n ) dos centros das n pintas em relação à linha-base. 4. Calcule o v.m.p. X e o desvio padrão sX da série de valores Xi e anote seus resultados. 5. Calcule e anote o número teórico de pintas em cada intervalo previsto pela lei da distribuição normal. (Estes números podem ser obtidos com o auxílio da tabela abaixo, onde P representa a probabilidade de as pintas jazerem no intervalo X ± α s.) Tabela 2.1 P 0,500 0,600 0,683 0,955 0,997 α 0,670 0,842 1,000 2,000 3,000 6.Verifique se os números experimentais de pintas são compatíveis com os previstos pela lei da distribuição normal e discuta seus resultados. No próprio papel milimetrado, construa o histograma da distribuição de pintas usando as freqüências absolutas e tomando um intervalo adequado para X. Desenhe a curva envoltória do histograma obtido e compare-a com a curva de Gauss. SEÇÃO 3 MÁQUINAS SIMPLES I - OBJETIVO Determinar parâmetros que avaliem vantagens mecânicas e eficiência de máquinas simples. II - PARTE TEÓRICA Uma máquina simples é qualquer dispositivo mecânico simples pelo qual o módulo, direção ou método de aplicação de uma força é mudado de modo a obter-se alguma vantagem prática. Elas são encontradas em muitas atividades em escritórios, oficinas e fábricas, sempre para ajudar as pessoas a realizarem determinadas tarefas. Exemplos de máquinas simples são a alavanca, o plano inclinado e a roldana. Na medida que as máquinas movem objetos através de alguma distância pela aplicação de uma força, elas podem também ser definidas como dispositivos que ajudam as pessoas a produzir trabalho. Uma máquina, todavia, não multiplica trabalho. O trabalho realizado por uma máquina é nunca maior do que o trabalho fornecido a ela. Pelo princípio da conservação da energia, o trabalho fornecido a uma máquina é igual ao trabalho realizado por ela mais o trabalho despendido com o atrito. Desde que máquinas são usadas para exercer uma grande força pela aplicação de uma força menor, uma máquina pode ser vista como tendo uma vantagem de força ou vantagem mecânica. Para uma dada força resistente, a quantidade de força aplicada dependerá do tipo da máquina e da quantidade de atrito presente. Se uma máquina simples eleva um peso W através de uma altura h pela aplicação de uma força F a qual é movida através de uma distância d, na ausência de perdas por atrito o trabalho realizado W⋅ h é igual ao trabalho fornecido F⋅ d. Havendo atrito, tem-se W⋅ h ≠ F⋅ d e, portanto, W / F ≠ d / h . Os parâmetros que se seguem são alguns dos utilizados na avaliação mecânica de uma máquina simples. Vantagem Mecânica Ideal , VMI, é a relação entre o deslocamento d realizado pela força F s e o conseqüente deslocamento vertical h produzido na carga W . Então; VMI = d h (3.1) Vantagem Mecânica Real , VMR , é a relação entre o módulo W da carga e o módulo F, da força necessária para elevar a carga numa velocidade constante. Então, W (3.2) VMR = FS Como a relação d / h não é influenciada pelo atrito, VMI representa a vantagem mecânica sob condições ideais, ou seja, onde o atrito estaria ausente. Como o atrito está sempre presente tem-se VMI > VMR . Eficiência ou rendimento, η (letra grega, pronuncia-se eta), duma máquina é a relação entre o trabalho realizado pela carga W e o trabalho fornecido pela força F, ou seja; Wh VMR η= = (3.3) Fs d VMI Relação Entre Velocidades, Rv, é a relação entre a velocidade vF do ponto de aplicação da força Fs e a velocidade vw da carga. Assumindo-se que essas velocidades são pequenas de modo a poder-se considerá-las como uniforme e como os tempos de deslocamento de Fs e W são iguais, tem-se; R v= vF d / t d = = = VMI vw h / t h (3.4) Vê-se que, numa máquina, multiplica-se força em detrimento de velocidade e vice-versa. III - PARTE EXPERIMENTAL EXPERIMENTO 3.1 - PLANO INCLINADO Vários tipos de plano inclinado são usados, mas o mais comum deles consiste de uma superfície lisa, articulada em sua base e suportada por uma barra de modo a permitir variar a inclinação do plano ( Fig. 3.1 ). Fig. 3.1 3.1.1- PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Monte o plano inclinado e meça o ângulo de inclinação θ. Ajuste o carro no trilho do plano e até o porta-peso através de um fio passando pela roldana. 2. Produza um deslocamento d no porta-peso, meça o conseqüente deslocamento vertical h produzido na carga W e calcule VMI usando a Eq. (3.1). 3. Coloque um peso no carro e considere a carga W como este peso mais o peso do carro. Adicione pesos no portas-peso e, dando leves toques no plano, determine a força F s (incluindo o peso do portas-peso) necessária para o carro subir o plano com velocidade constante. Calcule VMR usando a Eq. (3.2) 4. Calcule a eficiência η. EXPERIMENTO 3.2 - ROLDANA As roldanas podem ser utilizadas como fixas ( têm apenas movimento de rotação em torno de seu eixo) e como móveis (têm movimento de rotação em torno de seu eixo e de translação). A Fig. 3.2ª e 3.2b mostra alguns sistemas constituídos de uma ou mais roldanas. sistema 2 sistema 1 F F Fig. 3.2a sistema 4 sistema 3 F F Fig. 3.2b Nos sistemas 2, 3 e 4, o peso P que se deseja levantar é pendurado numa roldana móvel, a qual tem um peso próprio Q, e este peso pode ou não ser considerado como carga útil. Na Eq. (3.3), se a carga W é apenas o peso P o rendimento assim calculado é denominado rendimento verdadeiro (ηv); se a carga W inclui o peso da roldana, isto é, W = P + Q, o rendimento é dito rendimento falso (η). Perdas devido ao peso da parte móvel, pp. O rendimento falso seria válido se a roldana fosse carga útil, o que não é correto. Definem-se, então, as perdas devido ao peso próprio da parte móvel como, pp = η – ηv (3.5) Perdas devido ao atrito, pa. Existe atrito principalmente no eixo da polia e isto é causa de perdas. Como o rendimento duma máquina simples é sempre menor que 100 %, o que faltar para este valor é devido a perdas por atrito. Temos, então, ηv + pa + pp = 1, donde se conclui que pa = 1 – η (3.6) 3.2.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTRAL 1. Monte o sistema de roldana desejado e ponha um porta-pesos na ponta do fio indicada por F. Pendure um peso P na outra ponta do fio e ponha pesos no porta-pesos para que o sistema permaneça estático. 2. Para determinar a VMI, produza um deslocamento d no porta-pesos e meça o deslocamento vertical h produzido no peso P. Para isso, ponha o sistema porta-pesos e peso P numa dada posição e meça as alturas d1 e h1 do pesos e do peso P, respectivamente, em relação a um referencial qualquer. Em seguida, com o sistema deslocado para uma outra posição, meça as alturas d2 e h2 relativas ao mesmo referencial. Têm-se, então, os deslocamentos d = d2 – d1 e h = h2 – h1. Calcule VMI usando a Eq. (3.1). 3. Para determinar a VMR, estando o sistema estático, anote o peso P e o peso da roldana móvel, caso ela exista. A carga W será o peso P caso não haja roldana móvel e P mais o peso da roldana de sustentação, caso esta seja móvel. Agora, adicione pesos no porta-pesos e, dando nele leves toques, determine a força FS (incluindo o peso do porta-pesos) para a qual a carga sobe com velocidade constante. Calcule VMR usando a Eq. (3.2). 4. Calcule as eficiências ηv , η e as perdas pp e pa. SEÇÃO 4 ANÁLISE GRÁFICA DE DADOS EXPERIMENTAIS I - OBJETIVO Construir gráficos lineares, logarítmicos e semilogarítmicos; obter equações empíricas utilizando métodos gráficos; comprovar leis físicas utilizando métodos gráficos. II - PARTE TEÓRICA Com a análise gráfica busca-se um modo rápido e conveniente de visualizar e interpretar relações existentes entre dados experimentais de grandezas relacionadas. De um gráfico, portanto, espera-se que ele possa ser fácil e rapidamente interpretado e que forneça o maior número possível de informações ( veja apêndice II ). 4.1 - INTERPOLAÇÃO E EXTRAPOLAÇÃO A interpolação consiste em obter-se informações sobre pontos intermediários às medidas realizadas. Trata-se de um processo relativamente seguro e a precisão das medidas interpoladas são equivalentes as daquelas obtidas nas medidas. Com a extrapolação procura-se obter informações sobre pontos fora do trecho das medidas realizadas. Este processo envolve algum risco, já que ele implica assumir-se como as grandezas se comportam fora do trecho medido. A precisão da medida extrapolada pode, também, ser mais precária, devido à incerteza na extensão da curva sem haver pontos de referência do lado a ser extrapolado. 4.2 - DETERMINAÇÃO GRÁFICA DOS PARÂMETROS DA FUNÇÃO LINEAR O gráfico de uma função linear é uma reta. Logo, quando os dados experimentais de duas grandezas x e y são locados num papel linear e o gráfico resultante é uma reta, o fenômeno estudado é regido por uma lei cuja expressão analítica é: y = A x + B, (4.1) Onde o parâmetro A representa o coeficiente angular da reta e o parâmetro B o coeficiente linear, definido como o ponto de interseção da reta com o eixo da ordenada em x = 0. Resolvendo a Eq. (4.1) para os pontos (x1 , y1) e (x2 , y2) , obtém-se para o coeficiente angular A , A= y2 − y1 , x2 − x1 (4.2) onde os pares ( x1 , y1 ) e ( x2 , y2 ) são pontos tomados no gráfico. O coeficiente angular não deve ser confundido com a tangente trigonométrica do ângulo formado no gráfico pela reta com o eixo das abscissas. A tangente trigonométrica é um número puro por ser uma relação entre dois comprimentos e não possui sentido físico, desde que o ângulo muda quando se modificam as escalas. Já o coeficiente angular, como definido pela Eq. (4.2), independe das escalas adotadas e pode representar uma grandeza dimensional se as variáveis x e y representarem grandezas diferentes. Por exemplo, num gráfico de espaço contra o tempo, o coeficiente angular tem a dimensão de velocidade. O parâmetro B é a ordenada do ponto de interseção da reta com o eixo x = 0 e pode ser lido diretamente no gráfico. No caso de a reta não interceptar o eixo x = 0 nos limites do gráfico, B pode ser calculado através da Eq. (4.1) usando-se um par de pontos tirado do gráfico e o valor de A obtido pela Eq. (4.2). Na Fig. 4.2 (a) a reta 1 tem A negativo e o valor de B pode ser lido diretamente; a reta 2 tem A positivo e o valor de B tem que ser calculado, pois a interseção cai fora dos limites do gráfico. Tendo-se as coordenadas xi , yi duma reta, os parâmetros A e B podem ser calculados de modo mais preciso, inclusive com seus desvios padrões, utilizando-se o método de ajuste pelos mínimos quadrados (sobre este método, ver a apostila Teoria de Erros, Seção 23, página 20). Esse método exige uma calculadora e deve ser usado sempre que possível, inclusive para fornecer os dados para se traçar a melhor reta ajustada aos pontos experimentais. 4.3 - LINEARIZAÇÃO DE CURVAS Um modo conveniente de obter-se os parâmetros de funções não lineares é através da linearização de curvas. A razão de procurar-se transformar gráficos não lineares em lineares é que a reta permite maior facilidade em seu traçado e maior precisão na determinação de seus parâmetros. Os tipos das funções que mais comumente expressam as leis físicas são os de potência e os exponenciais. Os gráficos de algumas dessas funções estão ilustrados na Fig. 4.1. Para esses tipos de função, dois métodos são comumente usados para linearização: o da anamorfose e o logarítmico. Há, ainda, o método das diferenças tabulares que se aplica a funções mais complexas. (Sobre este método veja Meiners, Harry F., et alli . Laboratory Physics. John Wiley, 1972.) y y y = Ax+B y = kx 2 n y y = kxn 1 n>1 A<0 n<0 A>0 0 x x (a) Linear y (b) Potência x (c) Potência y y = kxn c>0 cx y = ke 0<n<1 c<0 x (d) Potência x (e) Exponencial Fig. 4.1 4.3.1- LINEARIZAÇÃO PELO MÉTODO DA ANAMORFOSE O método de linearização por anamorfose é utilizado quando se conhece a priori o tipo da função que relaciona as grandezas envolvidas, ou quando se pode especular sobre esse tipo. Ele consiste em se fazer uma mudança de variável de modo a transformar uma função não linear numa função linear. Por exemplo, se duas grandezas z e t são relacionadas por uma função do tipo z = α t n, pode-se dizer que z varia diretamente com t n. Se n é conhecido e se se faz t n ≡ , o gráfico de z contra u resultará numa linha reta de equação z = α u, cujo coeficiente angular α (o parâmetro da função z = α t n ) é dado por α= z2 − z1 u 2 − u1 . (4.3) Numa outra situação, admita que há razões para supor-se que duas grandezas T e m obedeçam a uma relação funcional do tipo T= k m. A partir desta hipótese, tenta-se a linearização fazendo-se o gráfico de T contra o resultado é m . Se uma reta, isto significa que a hipótese é correta e, então, a constante k pode ser determinada através da Eq. (4.3). 4.3.2 - LINEARIZAÇÃO PELO MÉTODO LOGARÍTMICO Este método aplica-se a funções de potência e exponenciais e consiste em tomar-se o logaritmo de ambos os membros da função que se deseja linearizar e construir-se o gráfico da expressão resultante. FUNÇÃO DE POTÊNCIA Sejam duas grandezas x e y que se relacionam por uma função de potência do tipo y =k xn. (4.4) Se se aplica o logaritmo decimal a ambos os membros desta equação, o resultado é a expressão: log y = log k + n log x. Portanto, o gráfico de log y contra log x (4.5) resultará numa reta, de equação idêntica à Eq. (4.1) (se se muda y por log y e x por log x), cujo coeficiente angular n é dado por n= log y2 − log y1 , log x2 − log x1 (4.6) onde as coordenadas dos pontos (log x1 , log y1) e (log x2 ,log y2 ) são lidas diretamente no gráfico. O coeficiente linear da reta é log k e o valor de k, pela própria definição de logaritmo, é dado por k = 10log k. Cabe, aqui, uma consideração sobre o valor de n obtido pela Eq. (4.6). Na maioria das equações que expressam fenômenos físicos os expoentes são, ou frações simples, ou números inteiros, tais como 2, 1/2, -2, -3/4, 1, etc. Então, o valor calculado de n deve ser aproximado, dentro do erro experimental, para inteiro ou relação entre inteiros. Por exemplo, 0,493 ≈ 1/ 2; - 0,991 ≈ - 1; 1,49 ≈ 3/ 2; - 2,01 ≈ -2; 0,334 ≈ 1/ 3 ; - 1,486 ≈ - 3/2. GRÁFICO LOGARÍTMO EM PAPEL DE GRÁFICO log-log O gráfico de uma função logarítmica do tipo da Eq. (4.5) é comumente construído em papel log-log. No papel log-log as escalas são logarítmicas decimais ao invés de linear e o papel pode conter uma ou mais décadas em cada eixo. Como cada década corresponde a uma ordem de grandeza, a escolha do papel é feita em função das faixas de variação das variáveis. Um tipo comum desse papel é o log-log (2x3 décadas); ele permite variações de duas ordens de grandeza no eixo das ordenadas e três no eixo das abscissas. O gráfico logarítmico da Eq. (4.5) neste tipo de papel é feito locando-se y contra x. Para se calcular o coeficiente angular n, lê-se no gráfico as coordenadas (x1 , y1 ) e (x 2 , y 2 ) de um par de pontos, em seguida obtém-se os logaritmos dessas coordenadas (log x1, log y1, log x2 e log y2) para serem utilizados na Eq. (4.6). O valor de k é a ordenada da interseção da reta com o eixo x = 1 e pode ser lido diretamente no gráfico. No caso de a interseção não se dar nos limites do papel de gráfico, pode-se obter k pela Eq. (4.4) usando-se um par de valores tirado do gráfico e o valor de calculado de n sem arredondamento. 4.4 - ANÁLISE DE UMA EXPERIÊNCIA Para investigar uma nova lei física dois métodos são comumente utilizados: o método teórico e o método empírico. No método teórico, o pesquisador parte de leis e equações bem estabelecidas, ou de certas hipóteses razoáveis e, num procedimento passo a passo, combina essas leis e obtém novas relações. Noutras palavras, novas leis são derivadas de leis estabelecidas por um processo de razão lógica. No método empírico, as conclusões são baseadas inteiramente em resultados experimentais. Nesse método, todos os fatores exceto dois são mantidos constantes; destes, um deles é variado arbitrariamente e a variação resultante no outro é medida. A análise gráfica desses resultados permite obterse uma relação matemática precisa mostrando como um desses fatores depende do outro. Essa relação matemática é denominada de equação empírica. A investigação experimental algumas vezes precede ao desenvolvimento teórico. E para que uma nova lei seja aceita como parte da ciência ela precisa ser testada experimentalmente e suas conclusões têm que ser mostradas consistentes com os resultados experimentais. Na investigação duma lei física temos, portanto, dois casos a considerar. No primeiro, deseja-se comprovar a validade duma lei física estabelecida teoricamente. No segundo, deseja-se estabelecer uma equação empírica relacionando duas grandezas. III - PARTE EXPERIMENTAL EXPERIMENTO 4.1 - COMPROVAÇÃO DUMA LEI FÍSICA Quando a expressão teórica que exprime a lei física é conhecida, o método da anamorfose discutido na Seção 4.4.1 é o mais indicado para verificar a validade da lei. A verificação neste caso consiste em comprovar a relação funcional e o valor da constante numérica. Seja, por exemplo, investigar a lei da queda livre dos corpos h = (1/2) gt2. Nesta lei, h é proporcional a t 2 e, portanto, o gráfico linear de h contra t 2 deve resultar numa reta — também o gráfico de h contra t deve resultar numa reta. Os tempos t de queda dum objeto para diferentes valores da altura h de queda são obtidos experimentalmente. Faz-se, então, o gráfico linear de h contra t 2 e se esse gráfico resultar numa reta, isso significa que a relação funcional é correta, ou seja, a dependência de h é com t 2 . O coeficiente angular da reta encontrada é calculado pela Eq. (4.3) e se esse valor for igual, dentro do erro experimental, à metade da aceleração local devida à gravidade — ela deve ser conhecida — isto significa que a constante também está correta e, portanto, a lei é válida. 4.1.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Dada a lei física a ser comprovada, verifique, primeiramente, que mudança (ou mudanças) de variável deve ser feita para que a expressão resultante seja linear. Por exemplo, se a lei é t = k/d 3, o gráfico de t contra 1/ d 3 — também o de 3 t contra 1/d — deverá dar uma reta. 2. Então, meça as grandezas envolvidas (no exemplo anterior seriam t e d) determinando um mínimo de cinco valores para a variável independente e medindo os valores correspondentes da variável dependente. Construa uma tabela com valores obtidos. 3. Construa uma nova tabela com as variáveis transformadas (no exemplo dado a tabela seria com os valores de t e 1/d 3). Faça, então, um gráfico linear da variável dependente versus a independente. Se o gráfico (no exemplo, t contra 1/d 3) resultar numa reta isto significa que o tipo da função é correta. 4. Calcule o coeficiente angular da reta obtida e compare este valor com o parâmetro constante da lei. Se os dois valores coincidem dentro do erro experimental a lei é válida. Por exemplo, se a lei é S = 4π r2 e se faz o gráfico de S contra r2, o parâmetro constante é 4π — se o gráfico feito é de S contra r, o parâmetro constante é 4 π — ; se a lei é T = 2π D g , no gráfico de T contra D , o parâmetro constante é 2 π g. 5. Dê sua conclusão sobre os resultados do experimento. EXPERIMENTO 4.2 - OBTENÇÃO DUMA EQUAÇÃO EMPÍRICA Quando a lei física não é conhecida e deseja-se estabelecer uma equação empírica relacionando as grandezas investigadas, o método logarítmico discutido na Seção 4.4.2 é o mais indicado. Seja, por exemplo, estabelecer a equação empírica relacionando os dados experimentais do tempo t de queda livre dum objeto medido para diferentes valores da altura h de queda. Com os pares de valores (h, t) ,faz-se o gráfico linear de t versus h e compara-se a curva obtida com as ilustradas na Fig.4.2 para identificar o tipo da relação funcional. A comparação, neste caso, mostrará que a curva assemelha-se a do tipo (d), o que sugere a hipótese de a relação funcional ser do tipo t = α h n , com 0 < n < 1. Sendo a função do tipo potência, pode-se usar o método logarítmico discutido no Item 1 da Seção 4.4.2, construindo-se o gráfico log-log de t versus h. Se o gráfico der uma reta, isto significa que a hipótese de a função ser do tipo t = α h n é correta. O coeficiente angular n da reta obtida é o expoente n da função e a interseção da reta com o eixo h = 1 é o parâmetro α da função. 4.2.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Meça as grandezas entre as quais se deseja obter uma equação empírica. Para isso dê um mínimo de cinco valores diferentes para a variável independente e meça os valores correspondentes da variável dependente. Construa uma tabela com os valores obtidos. 2. Com os dados da tabela, construa um gráfico linear da variável dependente contra a variável independente e compare a curva obtida com as ilustradas na Fig.4.2 para identificar o tipo da função relacionando as duas grandezas. 3. Se o gráfico é uma reta (tipo a) a função é do tipo linear y = Ax + B e os parâmetros A e B podem ser obtidos com os modos descritos na Seção 4.3. 4. Se o gráfico é do tipo (b), (c), ou (d), a função é do tipo de potência y = kxn. Um modo de obter-se os parâmetros k e n é através da linearização da curva usando o método logarítmico, conforme discutido na Seção 4.4.2. 5. Ainda no caso anterior de a função ser do tipo de potência, em alguns casos pode-se especular sobre o valor de n. Então, se existe uma razão física para atribuir-se um valor para n, pode-se utilizar o método da anamorfose (Seção 4.4.1) e fazer-se o gráfico de y versus xn. Se se obtiver uma reta, isto significa que a hipótese sobre n é correta e k pode ser obtido pela Eq. (4.3). 6. Se o gráfico é do tipo (e) a função é do tipo exponencial y = k ecx e os parâmetros k e c podem ser determinados usando-se o método de linearização logarítmica discutido na Seção 4.3. 7. Dê sua conclusão sobre os resultados do experimento. SEÇÃO 5 ELASTICIDADE E TRANSFORMAÇÃO DE ENERGIA NUMA MOLA I - OBJETIVO Determinar a constante elástica duma mola, investigar as transformações de energia numa mola vibrante e estudar o comportamento inelástico duma mola sob pequenas forças. II - PARTE TEÓRICA Quando uma carga é gradualmente aplicada na extremidade livre de uma mola suspensa num suporte fixo, a mola distende-se até a tensão na mola justamente para contrabalançar o peso da carga. Se a mola é do tipo elástica, ou seja, se ela retorna a suas dimensões originais logo que a carga aplicada é removida, verifica-se experimentalmente que, dentro de limites da carga, a distensão x produzida na mola é proporcional à força F nela aplicada. Essa é a lei de Hook para uma mola elástica, cuja expressão matemática é: F = k x, (5.1) onde k é denominada a constante elástica da mola e é numericamente igual à força requerida para produzir uma unidade de distensão. A lei de Hook para a mola vale somente dentro de limites do valor da força aplicada. Quando esta força ultrapassa o limite de elasticidade ou de tensão da mola, esta é distendida além de seu limite elástico e não mais retornará a suas dimensões originais. Esta deformação é denominada plástica. Quando a força aplicada é muito pequena, em algumas molas a distensão varia com a força de um modo não linear. Este é o caso de algumas molas espirais, onde, na ausência de qualquer força aplicada, as espiras estão pressionadas umas contra as outras devido a tensões iniciais da própria mola. Quando uma força pequena é aplicada, a mola distende-se um pouco e a orientação de cada espira varia bastante, produzindo na mola uma distensão anisotrópica. III - PARTE EXPERIMENTAL EXPERIMENTO 5.1 - DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE ELÁSTICA DA MOLA A Fig. 5.1 mostra uma mola espiral suspensa verticalmente por uma P Fig. 5.1 de suas extremidades num suporte movível e tendo na outra extremidade um porta-pesos com um ponteiro. A força F é aplicada na mola através de pesos aferidos colocados no porta-pesos e a distensão x é medida pela indicação do ponteiro na escala milimetrada. 5.1.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Usando a montagem da Fig. 5.1, ponha uma massa inicial no porta - pesos para relaxar alguma tensão inicial da mola. Então, mova o suporte verticalmente para ajustar o ponteiro numa marca conveniente da escala. Essa marca servirá como origem para se medir as distensões da mola para os pesos que forem sendo postos no porta-pesos. 2. A partir daí, adicione sucessivamente pesos aferidos F no porta-peso, meça as distensões correspondentes x na escala e construa uma tabela com os valores medidos de F e x. 3. Com os valores F e x, construa o gráfico de x contra F — a variável independente é locada no eixo das abscissas — e calcule a constante elástica k da mola: ela é o inverso do coeficiente angular da reta obtida. EXPERIMENTO 5.2 - TRANSFORMAÇÃO DE ENERGIA NUMA MOLA ESPIRAL Quando uma massa é suspensa numa mola na vertical e solta, a mola distende-se como conseqüência da transformação da energia potencial gravitacional da massa que cai em energia potencial elástica da mola. Na Fig.5.2, na posição x0 a mola está em equilíbrio com uma P P P Fig. 5.2 Massa m0 de relaxamento no porta-pesos. Uma massa m é, então, adicionada ao porta-pesos e se permite a mola distender até uma posição x1, Se, agora, solta-se o porta-pesos, a mola distender-se-á até uma posição máxima x2 — e continuará a oscilar entre as posições extremas x1 e x2. Nessas condições, o trabalho Wk realizado sobre a mola para distendê-la de x1 a x2 e a perda da energia potencial gravitacional Wg da massa (m0 + m) são dadas pelas equações 1 (5.2) W k = k [ (x2 - x0)2 – (x1 - x0)2 ] + k x0 (x2 – x1), 2 Wg = m g (x2 - x1) + m0 g (x2 – x1) . (5.3) A massa m0 corresponde à massa posta inicialmente, mais a massa do porta-pesos, mais a contribuição da massa da própria mola. Pela Eq. (5.1), m0g = kx0 e, então, as últimas parcelas das Eqs. (5.2) e (5.3) são iguais. Assim, para efeito de verificação de conservação de energia, podemos tomar apenas as primeiras parcelas dessas equações, ou seja, W’ k = 1 k [ (x2 - x0)2 – (x1 - x0)2 ]; W’g = m g (x2 - x1) 2 5.2.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL (5.4) 1. Usando a montagem da Fig. 5.1, ponha uma massa inicial no porta-peso para relaxar alguma tensão inicial da mola e registre a posição xo a que desce o portapesos (Fig. 5.2). 2. Agora, adicione uma massa m conhecida no porta-pesos sustentado na mão, permita-o descer um pouco até a marca x1, solte-o deste ponto e, após algumas tentativas, determine o valor x2 como o ponto mais baixo atingido pelo portapesos. Anote os valores de m, x1 e x2. 3. Com os valores medidos e o valor obtido para k, calcule Wk e Wg usando as Eqs. (5.4). Utilize o sistema MKS ou CGS e o valor de g local. 4. Compare os valores de Wk e Wg e, dentro do erro experimental, discuta a conservação de energia no experimento. Dê sua conclusão sobre os resultados do experimento. EXPERIMENTO 5.4 - ESTUDO DA OSCILAÇÃO DA MOLA Se uma massa suspensa numa mola espiral é deslocada da posição de equilíbrio e solta, o sistema massa mais mola executará movimento harmônico simples com um período T dado pela equação, T= 2π M , k (5.6) onde M é a massa efetiva de oscilação do sistema massa mais mola e k é a constante elástica da mola. Demonstra-se (veja Sears/Zemansky, Física, vol.1, pg. 53) que a massa efetiva M é igual à massa da carga suspensa M0 mais um terço da massa m da mola, ou seja, M = M0 + m/3. Contudo, a parcela m/3 é normalmente muito menor do que M0, de modo que ela pode ser desprezada e a massa suspensa ser considerada como a massa efetiva de oscilação. 5.4.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Com a mola suspensa verticalmente no suporte pendure nela uma massa M e ponha o sistema para oscilar com amplitude não muito grande. O período T de oscilação pode ser determinado como no Experimento 6.1 (pg. 23). Meça T para um mínimo de cinco massas diferentes e tabele os valores obtidos de M e T. Use o método gráfico da anamorfose (Seção 4.4.1) e determine k. SEÇÃO 6 PÊNDULO SIMPLES I - OBJETIVO Utilizar um método experimental para estudar como o período de um pêndulo depende de vários fatores; determinar o valor da aceleração g devida à gravidade. II - PARTE TEÓRICA Movimento periódico é um tipo de movimento onde o mesmo percurso é repetido em intervalos iguais de tempo. Se este percurso repetido periodicamente é do tipo vai-e-vem, o movimento é dito ser vibratório. O percurso completo de vai-e-vem deste tipo de movimento é denominado vibração e o tempo gasto em fazer uma vibração é chamado período. O número de vibrações por unidade de tempo é a freqüência, o deslocamento a partir do ponto central é a elongação e a elongação máxima é denominada amplitude. Um tipo especial de movimento vibratório, em que a força restauradora é proporcional à elongação da partícula vibrante e de sinal contrário a essa elongação, é denominado movimento harmônico simples (m.h.s.). O pêndulo simples é o exemplo mais conveniente de um sistema que executa m.h.s. Idealmente, o pêndulo simples é definido como uma partícula suspensa por um fio inextensível e sem peso. Na prática, ele consiste de uma esfera de massa m suspensa por um fio cuja massa é desprezível em relação à da esfera e cujo comprimento L é muito maior do que o raio da esfera. A Fig. 6.1 mostra um pêndulo simples afastado de uma elongação θ da vertical (posição de equilíbrio). As forças que atuam sobre a esfera são seu peso r r m g e a tensão na corda F . Decompondo o peso ao longo do fio e da perpendicular a ele, vemos na Fig. 6.1 que o componente tangencial mg senθ é a força restauradora do movimento o oscilatório. F mg mg cosθ mg senθ Fig. 6.1 Ela não é proporcional à elongação θ, m² harmônico simples. senθ . Logo o movimento não é Contudo, se o ângulo θ é pequeno o valor de senθ é aproximadamente igual a θ (em radiano). Nestas condições, demonstra-se que o período de oscilação do pêndulo simples é dado por, T = 2π L , g (6.1) onde T é o período de oscilação e L o comprimento do pêndulo. Estritamente falando, a Eq.(6.1) é válida para um pêndulo que tem toda sua massa concentrada na extremidade de sua suspensão e que oscile com pequenas amplitudes. Na prática procura-se satisfazer essas condições usandose uma esfera pesada (aço, chumbo), de pequeno raio, suspensa por um fio o mais leve possível e trabalhando com amplitudes não maiores que 5°. III - PARTE EXPERIMENTAL EXPERIMENTO 6.1 - DETERMINAÇÃO DO PERÍODO DO PÊNDULO Um modo de determinar-se o período T de um pêndulo é medindo-se o tempo t de n oscilações e calculando-se T e seu desvio sT usando as equações T= t n (6.2) e sT = st , n (6.3) onde st é o desvio avaliado para as medidas com o cronômetro. A vantagem desse processo é que, além de simples, ele dilui por um tempo maior do que o período os erros de percepção no disparo e parada do cronômetro e reduz o desvio de T, já que este decresce quando n cresce. Da expressão de sT pode-se concluir que o desvio relativo da medida de T é tanto menor quanto maior for n .Então, o número n deve ser escolhido em função da precisão que se deseje para a medida de T. 6.1.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Inicialmente, defina o desvio avaliado st para as medidas com o cronômetro e anote-o. 2. Ponha o pêndulo para oscilar com pequena amplitude (não maior que 5°) e meça com o cronômetro pelo menos duas vezes o tempo t de n oscilações completas. Os valores medidos de t não devem diferir por mais que uma fração de segundos. Anote seus resultados. 3. Calcule t ,a média de t e, com as Eqs. (6.2) e (6.3), o período T e seu desvio sT. EXPERIMENTO 6.2- DEPENDÊNCIA DO PERÍODO COM A MASSA DO PÊNDULO Vê-se pela Eq. (6.1) que o período independe da massa do pêndulo. Isso pode ser verificado experimentalmente utilizando-se um pêndulo feito com uma esfera perfurada onde se podem introduzir bastões de diferentes materiais de modo a variar a massa do pêndulo. 6.2.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Usando o pêndulo sempre com o mesmo comprimento, determine o período de oscilação (veja Experimento 6.1) para o pêndulo com diferentes valores da massa. Para variar a massa do pêndulo use bastões com diferentes massas. Anote seus resultados. 2. Compare os valores dos períodos obtidos e discuta se, dentro do erro experimental, eles podem ser considerados iguais. EXPERIMENTO 6.3 - DEPENDÊNCIA DO PERÍODO COM A AMPLITUDE DE OSCILAÇÃO DO PÊNDULO. Vimos anteriormente, que a força restauradora do pêndulo depende de senθ . Isto significa que somente para valores pequenos de θ, quando se pode fazer senθ ≈ θ, o período pode ser considerado independente da amplitude. Quando a amplitude não é pequena a Eq. (6.1) deixa de ser exata. O período, neste caso, pode ser calculado com a exatidão que se deseje tomando-se um número suficiente de termos da série (veja Symon, Mechanics, pg. 208), T = 2π ⎞ 12 12 32 L ⎛ θ 2θ ⎜ 1 + 2 sen + 2 ⋅ 2 sen 4 + ⋅ ⋅⋅⎟ . 2 2 2 4 2 g ⎝ ⎠ (6.4) Vê-se, pois, que o período depende de θ. Para θ = 5° o período real dado pela Eq. (6.4) difere do valor aproximado dado pela Eq. (6.1) em 0,05 %. Assim, na Eq. (6.4), podemos tomar o fator 2π L g como igual ao período medido para θ < 5°. 6.3.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Mantendo constantes o comprimento e a massa do pêndulo, determine os períodos de oscilação (veja Experimento 6.1) para θ < 5° , θ = 45° e θ = 60°. Anote seus resultados. Para θ < 5° meça 20 oscilações pelo menos e para grandes amplitudes meça 10 oscilações. 2. Calcule os períodos reais para as amplitudes θ = 45° e θ = 60° usando a Eq. (6.4), fazendo nela 2π L g igual ao período para θ < 5°. Compare os períodos medidos com os calculados e discuta seus resultados. EXPERIMENTO 6.4 - DEPENDÊNCIA DO PERÍODO DE OSCILAÇÃO COM O COMPRIMENTO DO PÊNDULO A verificação da relação entre o período T e o comprimento L do pêndulo pode ser feita através da linearização da Eq. (6.1) pelo método da anamorfose para pares de valores T e L obtidos experimentalmente. Se o gráfico de T contra L for uma reta e, também, se o coeficiente angular desta for igual , dentro do erro experimental, a 2π/ g (supõe-se conhecido o valor de g local), a validade da lei é verificada. 6.4.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Monte o pêndulo com um comprimento L não menor que 40 cm, medido com precisão do ponto de suspensão ao centro da esfera. Ponha o pêndulo para oscilar com pequena amplitude e determine o período de oscilação pelo método descrito no Experimento 6.1. 2. Repita este procedimento para, pelo menos, seis valores de L, com intervalos não menores que 15 cm e construa uma tabela com os pares de valores medidos (L ,T). 3. Com os pares de valores (L ,T) use o método da anamorfose (Seção 4.4.1) e, tomando para g o valor local, verifique a validade da Eq. (6.1). Dê sua conclusão sobre a validade da lei. EXPERIMENTO 6.5 - DETERMINAÇÃO DO VALOR DE g A Eq. (6.1) permite determinar graficamente o valor de g local. Para isso constrói-se o gráfico de T contra L com pares de valores L e T obtidos experimentalmente e a comparação do coeficiente angular da reta obtida com a constante 2π / g da Eq. (6.1) permite calcular g. 6.5.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Execute o Passo 1 e o Passo 2 do procedimento 6.4.1 acima. Construa o gráfico de T contra L , determine o coeficiente angular da reta obtida, iguale-o à constante 2π / g da Eq. (6.1) e calcule g. Compare este valor de g com o recomendado localmente e discuta seus resultados. SEÇÃO 7 COLISÃO ELÁSTICA EM UMA E DUAS DIMENSÕES I - OBJETIVO Verificar as conservações de momento e energia cinética em colisões elásticas em uma e duas dimensões. II - PARTE TEÓRICA Colisão é um evento isolado no qual forças relativamente grandes atuam em cada uma das partículas que colidem durante um intervalo de tempo relativamente curto. Quando dois corpos colidem exercem forças iguais e opostos sobre cada um, fazendo com que o momento linear e a energia cinética de cada corpo varie. Se a energia cinética total dos corpos que colidem se conserva, ou seja, se ela é a mesma antes e após a colisão, esta é dita ser perfeitamente elástica. O momento linear total é sempre conservado, quer a colisão seja elástica ou não, desde que as forças nela envolvidas sejam apenas forças internas, ou seja, aquelas forças devidas às interações resultantes da colisão. Muitas das colisões envolvendo partículas atômicas são do tipo elástica. Apesar de não serem perfeitamente elásticas, colisões com esferas de aço e de vidro possuem um alto grau de elasticidade. r Quando duas esferas de massas m1 e m 2 , deslocando-se com velocidades u 1 e r u2 , respectivamente, colidem num plano horizontal e saem com velocidades r r v 1 e v2 , se ambos, momento linear e energia cinética, são conservados, as leis de conservação são escritas como : r r r r m 1 u1 + m 2 u2 = m 1 v 1 + m 2 v 2 , (momento linear) 1 1 1 1 m 1 u12 + m 2 u2 2 = m 1 v12 + m 2 v2 2 . (energia cinética), 2 2 2 2 (7.1) (7.2) Numa colisão frontal de esferas de massas iguais, estando uma delas em repouso, as equações de conservação reduzem-se a u1 = v1 + v2 (7.3) u12 = v 12 + v 2 2 (7.4) v2 m1 2i Q θ2 u1 R θ1 m2 v1 Fig. 7.1 Numa colisão oblíqua as esferas incidente e alvo após colidirem saem segundo os ângulos θ1 e θ2, respectivamente, com a direção original de m1 (Fig.7.1). Sendo o momento uma grandeza vetorial, sua conservação tem de ser considerada em duas dimensões. Por simplicidade, escolhe-se a direção da trajetória da esfera incidente como o eixo-x e a direção perpendicular a esta linha como o eixo-y. Se considera m 2 em repouso antes da colisão, a lei de conservação de momento ( Eq. (7.1)) requer que: ( Eixo-x ) m 1u1 = m 1 v1 cosθ 1 + m 2 v 2 cosθ 2 , (7.5) ( Eixo-y ) 0 = m 1 v 1 sen θ 1 − m 2 v 2 sen θ 2 . (7.6) Desde que a energia cinética seja uma grandeza escalar e não um vetor, a Eq. (7.4) aplica-se a qualquer tipo de colisão elástica onde a esfera alvo esteja inicialmente em repouso, quando se considera a conservação de energia. IV - DESCRIÇÃO DO APARELHO O aparelho utilizado para realizar as colisões é o mostrado na Fig.7.2. Ele consiste de uma calha inclinada, plana em sua parte mais baixa de modo a projetar a esfera incidente horizontalmente quando ela deixa a calha e, assim, realiza uma colisão num plano horizontal com a esfera alvo montada no suporte. As posições iniciais das esferas incidentes e alvo correspondem às projeções horizontais de seus centros de massa no momento justo da colisão e elas devem ser tais que as esferas estejam fora da calha no momento da colisão. A posição final de cada esfera é onde ela toca o solo pela primeira vez após o impacto. As posições iniciais e finais são marcadas numa folha de registro com carbono colocada no solo. O alcance de cada esfera é a distância de sua posição inicial a sua posição final, medida na folha de registro. Fig. 7.2 Neste experimento, as velocidades horizontais das esferas constantes. Portanto, os alcances das esferas são proporcionais são a suas velocidades no instante seguinte ao impacto. Se os tempos de queda forem os mesmos para as duas esferas, as velocidades nas Eqs. (7.1) e (7.2) podem ser substituídas pelos respectivos alcances já que a constante de proporcionalidade é a mesma para todas as parcelas dessas equações. Para se conseguir os tempos de queda iguais usam-se esferas de mesmo diâmetro e posicionadas numa mesma altura para a colisão. V - DETERMINAÇÃO DO PONTO MÉDIO DE IMPACTO A posição final dos alcances das esferas é usualmente obtida realizandose vários lançamentos ou colisões e determinando-se o ponto médio das pintas produzidas pelos impactos das esferas na folha de registro. Se as pintas estão relativamente próximas umas das outras, o ponto médio da distribuição das pintas pode ser determinado visualmente, levando-se em conta para isso a ponderação das pintas na distribuição. Se as pintas estão muito dispersas e também se deseja calcular o desvio padrão da medida, pode-se utilizar a teoria de erros para calcular o valor mais provável e o desvio padrão da distribuição das pintas. Como exemplo desse cálculo, seja a distribuição mostrada na Fig. 7.3 decorrente de dez lançamentos. O ponto inicial do alcance é O e deseja-se determinar o ponto médio X da distribuição das pintas para medir-se o alcance OX e obter-se o desvio padrão da medida de OX . Para isso, execute os seguintes passos z x 0 Fig. 7.3 • Trace uma linha partindo de O e dividindo a distribuição ponderadamente. Essa "divisão" pode ser feita visualmente, já que um pequeno desvio nela não causará diferença significativa na medida do alcance. • Num ponto Z arbitrário, trace uma perpendicular à linha traçada, meça a distância do centro de cada pinta a esta perpendicular e calcule o v.m.p. e o desvio padrão dessas distâncias. • A partir da linha Z e na reta passando por O, marque o v.m.p. obtido e determine o ponto X . O desvio padrão obtido é o desvio do alcance OX . EXPERIMENTO 7.1 - COLISÃO ELÁSTICA EM UMA E DUAS DIMENSÕES 7.1.2 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Montado o aparelho, ajuste o suporte de modo que o centro do parafuso — onde será colocada a esfera alvo — fique a uma distância da extremidade da Colisão oblíqua de duas esferas de aço de mesmo raio. m1 m2 Calha Fig. 7.4 Para o arranjo da colisão ilustrada na Fig. 7.1, folgue o parafuso do suporte e mova o parafuso para a esquerda de tal modo que a esfera m1, quando solta do topo da calha, passe lateralmente por ele justamente sem tocálo e num afastamento tal que a esfera m1 esteja justamente fora da calha no momento do impacto, como mostrado na Fig. 7.4. (Nas condições do arranjo, isso corresponde a ajustar o centro do parafuso a uma distância de 25 mm da extremidade da calha. Pode-se, também, fazer esse ajuste pondo-se a esfera m2 sobre o parafuso e, com a esfera m1 sustentada nos dedos, ajeita-se a posição do suporte.) Feito o ajuste, marque no papel com o fio-de-prumo a nova posição do parafuso e denote-a por Q (posição inicial da esfera alvo). Ponha a esfera m2 sobre o parafuso, realize uma colisão soltando a esfera m1 do topo da calha e nos pontos de impacto de cada uma das esferas, ponha sob a folha de papel um papel carbono com a face carbonada para cima e fixe-as com pesos. Agora, realize cinco colisões sucessivas sob as mesmas condições, assinale com 1, 2, etc., as pintas dos impactos das esferas no papel, faça um círculo em torno de cada grupo de pontos e denote o grupo da esfera incidente por D e o da esfera alvo por E. 5. Colisão oblíqua com esferas e raios iguais e massas diferentes. O arranjo para esta colisão é igual ao anterior, só que a esfera alvo de aço é substituída por uma esfera de vidro de mesmo raio. A posição Q é a mesma anterior e, após realizar as colisões, denote o grupo da esfera incidente por F e o da esfera alvo por H. Agora, use a esfera de aço como alvo e a de vidro como incidente e observe o que acontece. 6. Verificação das leis de conservação na colisão frontal. Concluído o Passo 3, transfira a folha de registro para a mesa. Então, loque no papel a posição inicial do centro da esfera m1 e denote-a por C. (Para fazer isso, atente que o ponto C jaz sobre a linha OA e que as duas esferas estão em contato no momento do impacto.) Como os tempos de queda foram os mesmos em todos os casos, os alcances CA e PB podem substituir as velocidades u1 e v2 , respectivamente, nas equações de conservação. (Qual o valor de v1?) Meça os alcances CA e PB , anote seus valores e verifique as conservações de momento e energia através das Eqs. (7.3) e (7.4). Mostre seus cálculos e discuta seus resultados. Verificação das leis de conservação na colisão obliqua. Concluído o Passo 4 r ou 5, transfira a folha de registro para a mesa. Então, trace o vetor alcance QE , loque a posição inicial do centro da esfera m1 e denote-a por R. (Para locar o ponto R, atente na Fig. 7.1 que m1 , após a colisão, foi projetada de R, que R jaz na linha QE e que as esferas estão em contato no momento do choque.) Caso o ponto R não jaza sobre a linha OA (normalmente ele jaz), trace por R uma linha r paralela a OA e projete o ponto A para esta linha. Trace o vetor alcance RD . Como os tempos de queda foram os mesmos em todos os casos, os alcances RA , RD e QE podem substituir as velocidades u1 , v1 e v2 , respectivamente, nas equações de conservação. Meça com uma régua esses alcances, anote seus valores e verifique a conservação da energia cinética através da Eq. (7.2). Para verificar a conservação do momento é necessário decompor os vetores alcances em dois eixos ortogonais, como discutido alhures. Para isso, trace no papel dois eixos ortogonais tomando o ponto R como origem, a linha RA , como eixo-x e a linha perpendicular a esta como eixo-y, meça com uma régua r ros componentes RA x , RA y , RDx , RDy , QE x e QE y dos vetores alcances RA , RD e QE segundo estes eixos, anote os valores e verifique a conservação do momento através das Eqs. (7.5) e (7.6). Discuta seus resultados. SEÇÃO 8 MOVIMENTO DE ROTAÇÃO E MOMENTO DE INÉRCIA I - OBJETIVO Estudar as conservações de energia e de torque para sistemas em rotação e determinar experimentalmente o momento de inércia de um disco em torno de seu eixo. II - PARTE TEÓRICA O aparelho mostrado na Fig. 8.1 provê um método experimental de determinar-se o momento de inércia do disco girante, como também de fazer-se a análise energética do sistema em rotação e avaliar-se os torques que atuam neste sistema, quando o momento de inércia é conhecido. Ele consiste de um disco de aço D e de um tambor de plástico T montados rigidamente num eixo r horizontal em torno do qual o conjunto pode girar. Um peso mg , suspenso na extremidade de um fio que está enrolado no tambor, produz a força motora que supre o torque necessário para girar o disco e, assim, fazer descer a massa m. D T F mg Fig. 8.1 III - PARTE EXPERIMENTAL EXPERIMENTO 8.1 - ANÁLISE ENERGÉTICA DO SISTEMA No aparelho mostrado na Fig. 8.1, quando a massa m desce de uma altura h, a energia potencial que ela perde é transformada em energia cinética associada a sua translação, em energia cinética associada à rotação do disco e em energia dissipada por atrito no eixo do tambor. Inicialmente, a massa m está em repouso numa altura h e o disco D está parado. Solta, a massa m cairá da altura h num tempo t com aceleração constante a. Se no instante t em que a massa m chega ao solo (h = 0) sua velocidade é v e a velocidade angular do disco é ω , a lei de conservação de energia requer que as energias inicial e final, Ei(t=0) = mgh e EF(t=t) = (½)mv2 + (½)Iω2 + Q , sejam iguais, ou seja : 1 1 mgh = mv 2 + I ω 2 + Q . 2 2 (8.1) Nesta expressão, EP = mgh é a energia potencial da massa m na altura h; EC = (1/2)mv2 é a energia cinética de translação da massa m ao tocar no solo; ER = ½ I ω 2 é a energia cinética de rotação do disco quando m toca o solo, onde I é o momento de inércia do disco em relação ao eixo de rotação; e Q é a energia dissipada por atrito no eixo de rotação do tambor durante a queda de m. Se o momento de inércia I é conhecido, o experimento possibilita determinar os quatro termos da Eq. (8.1) e, assim, verificar a conservação da energia. As velocidades v e ω podem ser determinadas a partir das medidas da altura h e do tempo de queda t da massa m, através das relações (a) h = 1 2 at , 2 (b) v = a t e (c) v = ω r , (8.2) Onde a é a aceleração da massa m e r é o raio do tambor (o fio é enrolado em apenas uma camada). A determinação da energia dissipada Q baseia-se na medida experimental da energia dissipada durante o giro livre do disco, ou seja, entre o instante em que a massa m toca o solo até o instante em que o disco pára totalmente de girar. No instante inicial do giro livre, a energia rotacional do disco é ER e toda ela é dissipada por atrito no eixo do tambor durante o giro livre do disco. Assim, chamando de p a potência média dissipada durante o tempo t´ do giro livre, pt’ é igual à energia rotacional do disco quando a massa m toca o solo, ou seja pt' = 1 Iω2 2 (8.3) Supondo, agora, que a potência média dissipada durante o tempo t de descida de m seja também igual a p, a energia dissipada nesta descida é Q = pt.. Então, medindo-se t´, p pode ser calculado e Q determinado. 8.1.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Monte o aparelho conforme a Fig. 8.1 e enrole o fio no tambor em forma bobinada e em apenas uma camada. Suspenda, então, uma massa conhecida na extremidade livre do fio e solte-a de uma altura m h. Anote os valores de m, h e r (raio do tambor). Meça o tempo t gasto pela massa m para chegar ao solo e o tempo t´ de giro livre do disco. Repita este procedimento um mínimo de cinco vezes, e com os valores de t e t' obtidos determine seus v.m.p. e os respectivos desvios padrões. Escreva as expressões dos termos de energia EP , EC , ER e Q em função das grandezas medidas m , h , r, t e t ' e das conhecidas I e g (g = 9,7833 m/s2), usando as Eqs. (8.2) e (8.3). Feito isso, calcule cada uma dessas energias e seus respectivos desvios padrões. (No cálculo desses desvios, examine os desvios relativos das grandezas envolvidas e em seus cálculos considere apenas a grandeza, ou grandezas, cujo desvio relativo tenha maior ordem de grandeza.) Calcule a energia inicial do sistema Ei (t= 0), a energia final Ef (t= t ) e verifique a conservação da energia expressa pela Eq. (8.1) à luz dos erros experimentais. Discuta seus resultados. SEÇÃO 9 EQUILÍBRIO ESTÁTICO DUMA BARRA RÍGIDA I - OBJETIVO Estudar as condições de equilíbrio de uma barra rígida sujeita a forças verticais. II - PARTE TEÓRICA Se se aplica uma força num ponto de uma barra rígida apoiada, a barra poderá ter a tendência a girar e a essa tendência de giro em torno dum eixo denomina-se torque . r r Define-se o torque τ produzido por uma força F em relação a uma origem O, pelo produto vetorial r r r τ =r ×F, (9.1) z 0 τ y r x F d Fig. 9.1 r r onde r é o vetor posição do ponto de aplicação da força F , ambos contidos r no plano xy (Fig. 9.1). Definido desta forma, o vetor torque τ , de acordo com r as regras do produto vetorial, é perpendicular ao plano que contém O e F . r Assim, a linha de ação de τ representa o eixo em torno do qual o corpo tende a r girar quando fixo em O e sujeito à força F . Este eixo é denominado eixo de r torque. Na Fig. 9.1, τ coincide com o eixo-z e tem o sentido de + z. O módulo do torque é dado por τ = Fr sen θ, τ = Fd , ou, r onde θ é o ângulo entre os vetores τ (9.2) r F e d = r sen θ é a distância r perpendicular de O à linha de ação de F , denominada braço de alavanca de r F em relação a O. e 1. AS CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO ESTÁTICO Uma barra rígida é dita estar em equilíbrio estático se ela não se move em nenhuma forma — nem em translação, nem em rotação — no sistema de referência em que observamos o corpo. Translação num corpo é causada por uma força não balanceada, enquanto rotação é produzida por um torque não balanceado. Daí as duas condições necessárias e suficientes para que um corpo esteja em equilíbrio são: • a soma vetorial de todas as forças externas que agem sobre o corpo deve ser nula; • a soma vetorial de todos os torques externos — em relação a qualquer eixo de torque no espaço — que atuam sobre o corpo deve ser nula. Essas condições são expressas pelas relações: r Σ F ext = 0 (9.3 ) r Σ τ ext = 0 (9.4) e 2. CENTRO DE GRAVIDADE O centro de gravidade ou baricentro de um corpo é definido como o ponto no qual uma única força aplicada para cima pode contrabalançar a atração gravitacional sobre todas as partes do corpo, qualquer que seja a posição deste. O centro de gravidade seria, então, o ponto de aplicação da resultante de todas as forças gravitacionais sobre o corpo. Ele pode também ser definido como o ponto em torno do qual a soma algébrica de todos os torques gravitacionais é igual a zero para qualquer orientação do corpo. Num campo gravitacional uniforme, o baricentro coincide com o centro de massa do corpo e independe da posição deste. 3. EQUILÍBRIO DUMA BARRA SUSPENSA Numa barra rígida suspensa, onde todas as forças externas aplicadas sobre ela são verticais, portanto coplanares, as condições de equilíbrio significam que a resultante das forças num sentido deve ser igual à resultante das forças no sentido contrário; e que a soma dos torques no sentido horário (negativo, por convenção), em relação a qualquer eixo de torques perpendicular ao plano das forças, deve ser igual à soma dos torques no sentido anti-horário (positivo, por convenção), em relação ao mesmo eixo. Se a barra for equilibrada na horizontal o braço de alavanca de cada força será simplesmente a distância do ponto de aplicação desta força ao eixo de torque escolhido. Esse eixo deve ser escolhido por conveniência de cálculo: normalmente o baricentro ou o ponto de suspensão da barra é pontos convenientes. III - PARTE EXPERIMENTAL EXPERIMENTO 9.1 – BARRA SUSPENSA POR SEU BARICENTRO 9.1.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Suspenda a barra por seu baricentro com um dinamômetro; ela deverá ficar em equilíbrio na horizontal. Identifique as forças externas que agem sobre a barra, seus pontos de aplicação e faça um diagrama dessas forças. Meça e anote as intensidades dessas forças, calcule a força e o torque resultantes que agem sobre a barra e explique o equilíbrio desta. 2. Agora, ainda com a barra suspensa por seu baricentro, pendure nela pesos de modo a equilibrá-la na horizontal. Então, identifique as forças externas que agem sobre a barra, seus pontos de aplicação e faça um diagrama delas. Meça e anote as intensidades dessas forças, e, à luz dos desvios obtidos, verifique se a condição de equilíbrio expressa pela Eq. (9.3) foi satisfeita. Agora, meça e anote os braços de alavanca das forças externas em relação a um eixo de torques de sua escolha, calcule os torques dessas forças e verifique, à luz dos desvios calculados, se a condição de equilíbrio, expressa pela Eq. (9.4) foi satisfeita. Discuta seus resultados. EXPERIMENTO 9.2 - BARRA SUSPENSA POR UM PONTO FORA DE SEU BARICENTRO Quando uma barra é suspensa, a condição para seu equilíbrio é que a linha de ação da força que a mantém suspensa passe por seu baricentro. Se, portanto, uma barra é suspensa por um ponto fora de seu baricentro ela não ficará em equilíbrio na horizontal, a menos que outras forças externas sejam nela aplicadas. 9.2.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Suspenda a barra por um orifício não central com o dinamômetro e equilibre-a na horizontal pendurando um ou mais pesos, conforme indicado pelo professor. Então, identifique as forças externas que agem sobre a barra, seus pontos de aplicação e faça um diagrama delas. Meça e anote as intensidades dessas forças, e, à luz dos desvios obtidos, verifique se a condição de equilíbrio expressa pela Eq. (9.3) foi satisfeita. Agora, meça e anote os braços de alavanca das forças externas em relação a um eixo de torques de sua escolha, calcule os torques dessas forças e verifique, à luz dos desvios calculados, se a condição expressa pela Eq. (9.4) foi satisfeita. Discuta seus resultados. EXPERIMENTO 9.3 - DETERMINAÇÃO DUM PESO DESCONHECIDO A aplicação da Eq. (9.4) a forças aplicadas numa barra rígida permite determinar o valor de um peso desconhecido. 9.3.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Com a barra suspensa e equilibrada na horizontal, pendure de um lado um peso P desconhecido e reequilibre-a na horizontal pendurando nela um peso F conhecido. Meça os braços de alavanca das duas forças e, através da Eq. (9.4), determine o valor de P. Meça P numa balança e compare os dois valores. EXPERIMENTO 9.4 - DETERMINAÇÃO GRÁFICA DO PESO DUMA BARRA A montagem mostrada na Fig. 9.2 permite determinar o peso duma barra por métodos gráficos. Para isso, a barra é suspensa pelo ponto G’ e equilibrada r na horizontal por uma força F , aplicada a uma distância x de G’. Variando-se o r valor de x, F também variará e, pela Eq. (9.4), pode-se escrever que F= Wl . x (9.5) onde W é o peso da barra. O gráfico de F contra 1/x é uma reta, cujo coeficiente angular Wl permite determinar W conhecendo-se l. d x l G G’ F W Fig. 9.2 9.4.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Faça a montagem mostrada na Fig. 9.2 suspendendo a barra por um ponto G’ e anote o valor de l. Varie x e, para cada x , meça o valor da força F para a qual a barra fica em equilíbrio na horizontal. Tabele os valores de F e x Faça uma nova tabela com os valores de F e 1/x, construa o gráfico de F versus 1/x e através do coeficiente angular da reta encontrada, determine W usando o valor conhecido de l. Pese a barra e compare seus resultados. SEÇÃO 10 PÊNDULO FÍSICO I - OBJETIVO Estudar as propriedades de um pêndulo físico e calcular a aceleração g devida à gravidade. II – PARTE TEÓRICA Qualquer corpo rígido que é posto a oscilar em torno de um eixo horizontal e sob a ação de seu próprio peso é denominado pêndulo composto ou pêndulo físico. S θ h L h’ G 0 mg Fig. 10.1 A Fig. 10.1 representa um pêndulo físico de massa m que pode oscilar livremente em torno de um eixo fixo passando pelo ponto S e perpendicular ao plano da figura, o qual contêm o baricentro G. Na posição de equilíbrio o baricentro está verticalmente abaixo do eixo de suspensão. Quando o corpo é girado de um ângulo θ e solto, o peso do sistema, mg, considerado estar concentrado no baricentro, exerce um torque restaurador N fora da posição de equilíbrio, o peso e a reação vincular formam um binário que tende a levar o sistema à posição de equilíbrio em torno de S dado por mgh sen θ , onde h é a distância do eixo de suspensão S ao baricentro G. A aplicação da segunda lei de Newton ao movimento de um corpo rígido em torno de um eixo fixo permite escrever && = – m g h sen θ Iθ (10.1) && onde I é o momento de inércia do corpo em relação ao eixo de suspensão e θ significa a derivada segunda de θ em relação ao tempo; o sinal negativo indica que o torque é restaurador, ou seja, ele atua sempre no sentido de anular o ângulo θ . Para movimentos de pequenas amplitudes podemos fazer sen θ ≈ θ e a Eqs. (10.1) reduz-se, a && + m g h θ = 0 Iθ (10.2) que a equação de um movimento harmônico simples, cuja solução para o período de oscilação T é T= 2π I mgh (10.3) O pêndulo físico inclui o pêndulo simples como caso especial. No pêndulo simples uma esfera é suspensa por um fio cuja massa é desprezível quando comparada à massa m da esfera e cujo comprimento L é grande comparado ao diâmetro da esfera. Neste caso, h = L, I = mL2 e a Eq. (10.3) resulta em T = 2π L g que é a conhecida lei do pêndulo simples (veja a Eq. (6.1)). EXPERIMENTO 10.2 – PÊNDULO FÍSICO TIPO ANEL Cutelo Anel Placa Fig. 10.4 O pêndulo físico que iremos estudar é um anel homogêneo, portanto com o baricentro coincidindo com seu centro geométrico e delgado ou seja, sua espessura é muito pequena quando comparada com o diâmetro. O anel será posto a oscilar em torno de um cutelo que intercepta um dos pontos de seu arco (Fig. 10.4). O momento de inércia do anel em torno de tal eixo de suspensão é , de acordo com a Eq. (10.5) 1 mD 2 D + m( ) 2 = m D 2 I= 4 2 2 , (10.14) onde Io = m D2/4 é o momento de inércia de um anel delgado em relação a um eixo passando por seu baricentro. A substituição desta expressão de I na Eq. (10.3) resulta para o período T= 2π D , g (10.15) onde D é o diâmetro médio do anel. 10.2.1 - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 1. Nivele a placa contendo o cutelo de modo que ela fique perfeitamente na vertical. Ponha cada um dos anéis a oscilar em torno do cutelo com amplitude não maior que 5o, atentando para que seu movimento seja paralelo à placa, faça duas medidas do tempo t de um mínimo de 20 oscilações completas, calcule o valor médio desses tempos e calcule T e seu desvio. Anote seus resultados. 2. Meça e anote o diâmetro médio D de cada anel. Com os pares de valores (D; T) obtidos, use o método gráfico da anamorfose (Seção 4.4.1) e calcule a aceleração g devida à gravidade. Compare o valor de g com o recomendado e discuta seu resultado. Pese um dos anéis e calcule seu momento de inércia em relação ao ponto de suspensão através da Eq. (10.3) e compare seu valor com o obtido pela Eq. (10.14). Qual é o centro de oscilação e o comprimento do pêndulo simples equivalente para este anel? APÊNDICE I 1-Tabela com as dimensões e unidades nos sistemas CGS e SI (MKS) das principais grandezas de Mecânica Grandeza Compriment Dimensão Sistema CGS Sistema MKS LMT Unidade Nome Unidade Nome [L] Cm centímetr m metro o o Massa [M] G grama kg quilograma Tempo [T] S segundo s segundo Área [L]2 cm2 — m2 Volume [L]3 cm3 — m3 — Velocidade [L] [T]-1 cm/s — m/s — Aceleração [L] [T]-2 cm/s2 — m/s2 — Força [M] [L] [T]-2 g cm s-2 dina kg m s-2 Newton (dyn) Energia [M] [L]2 [T]- g cm2 s-2 — (N) erg kg m2 s-2 Joule (J) erg/s kg m2 s-3 Watt (W) dyn/cm2 kg m-1 s-2 Pascal (P) dyn·cm kg m2 s-2 N·m 2 Potência [M] [L]2 [T]- g cm2 s-3 3 Pressão [M] [L]-1 g cm-1 s-2 [T]-2 Torque [M] [L]2 [T]- g cm2 s-2 2 • Nos sistemas CGS e MKS as grandezas geométricas, cinemáticas e dinâmicas, são expressas em função de três grandezas fundamentais: comprimento (L), massa (M) e tempo (T) — no MKS as grandezas térmicas, ópticas e eletromagnéticas requerem, cada uma, mais uma grandeza fundamental. Convencionalmente, na escrita das equações dimensionais, as grandezas são postas entre colchetes. Por exemplo, a equação dimensional da aceleração g devida à gravidade é escrita como [g] = [L] [T]-2 . • Se uma dimensão — dimensão é o expoente de uma grandeza fundamental — é zero ela não precisa ser escrita. Por exemplo, a constante elástica k duma mola pode ser obtida pela relação entre uma força e um comprimento. Assim, sua equação dimensional é escrita como: [k] = [M] [L] [T]-2 [L]-1 = [M] [T]-2. • Ao por os valores das grandezas numa equação, atente para que todos eles estejam num mesmo sistema de unidades. • Valor recomendado para g em Salvador, medido no Ano Geofísico Internacional: glocal = 9,7833 m/s2 ou glocal = 978,33 cm/s2 APÊNDICE II 4.1 - REGRAS (GUIAS) PARA A REPRESENTAÇÃO GRÁFICA. • Ponha a variável independente no eixo das abscissas (eixo-x) e a variável dependente no eixo das ordenadas (eixo-y). • O título do gráfico deve ser conciso, auto-explicativo e escrito no espaço branco superior do papel com a referência da grandeza dependente escrita em primeiro lugar. Exemplos: Relação entre o período e a órbita do satélite; Queda livre: tempo versus altura. • Os símbolos (ou nomes) das grandezas devem ser escritos no meio dos espaços brancos, inferior e lateral esquerdo, com suas unidades entre parênteses. Exemplos: h(m), Tempo (s). • As escalas escolhidas devem ser tais que facilitem a leitura das coordenadas dos pontos nas subdivisões do papel de gráfico e apresentem alguma relação com a precisão dos dados. Os valores 1, 2 , 5 e 10 são os melhores; 4 já apresenta alguma dificuldade; 3 , 7 e 9 devem ser evitados. As escalas não precisam ser iguais nos dois eixos e não é necessário que a interseção dos eixos represente o valor zero para uma, ou as duas variáveis. • Use no máximo três dígitos para indicar os valores nas divisões principais. Se os valores são excessivamente grandes ou pequenos escolha uma unidade adequada, ou use fatores multiplicativos, os quais devem ser indicados no fim do eixo. • Use um lápis bem apontado para locar o ponto e, em torno deste, desenhe um círculo de 2 a 3 mm de diâmetro (veja Fig. 4.1). Se várias curvas vão ser traçadas no mesmo gráfico use símbolos diferentes, como quadrados, triângulos, etc. Não escreva os valores das coordenadas dos pontos no papel de gráfico. Fig. 4.1 • Trace a melhor linha contínua através da média dos pontos. A curva não precisa passar necessariamente sobre os pontos. Se a linha for uma reta, trace-a usando pontos médios dum grupo de pontos. Locados (na Fig. 4.1 os x indica os pontos médios). Use linha interrompida para traçar os trechos extrapolados, isto é, aqueles fora da região medida. • Leia as coordenadas dos pontos a serem usados no cálculo dos parâmetros com a melhor precisão possível. Esses pontos devem ser escolhidos não muito próximos entre si e, preferencialmente, em interseções da reta com cruzamentos das linhas do papel de gráfico de modo a reduzir erros de avaliação. BIBLIOGRAFIA As referências seguintes foram usadas na preparação desta apostila e servirão ao leitor que desejar informações mais extensivas. 1. Apostila de Teoria de Erros e Mecânica, 1998. Argollo, R. M; Ferreira, C. e Sakai, T. – Dep. de Geofísica Nuclear – IF/UFBa. 2. Furtado, Nelson F., 1957. Sistemas de Unidades: Teoria dos Erros. Ao Livro Técnico Ltda. 3. Helene, Otaviano A .M. e Vitor R. Vanin, 1981. Tratamento Estatístico de Dados em Física Experimental. Editora Edgard Blücher Ltda. 4. Beers, Yardley, 1962. Theory of Error. Addison-Wesley. USA. 5. Wall, Cliford N., Raphael B. Levine e Fritjaf E. Christensen, 1972. Physics Laboratory Manual . Prentice-Hall. 6. Meiners, Harry F., Walter Eppenstein e Kenneth H. Moore, 1969. Laboratory Physics. John Wiley. 7. Helene, O., S .P. Tsai e R. R .P. Teixeira, 1991. O que é uma medida? Revista de Ensino de Física,13,12- 29. 8. Dionísio, P. H., 1991. Sensibilidade do Equipamento e Precisão da Medida. (Comentário sobre o artigo “O que é uma medida ?”.) Revista de Ensino de Física, 13, 30-33. 9. Bacon, R.H., 1953. Am. J. Phys., 21, 428. 10. Vuolo, José H. , 1992 . Fundamentos da Teoria de Erros. Editora Edgard Blücher Ltda.