Capítulo 1
Siga-me e tudo sairá bem.
J.M. BARRIE, Peter Pan e Wendy
Uma pequena viagem com lápis e papel
A
ferramenta de seleção. Nós a
treinamos para reter certos fenômenos e, por isso mesmo, ela se torna totalmente inútil quando se trata de gravar
outros tantos. Assim como algumas pessoas descobrem que
o mundo está cheio de míopes quando o oculista lhes prescreve óculos, a maioria de nós, mulheres, fixa na mente os
fracassos sentimentais, nossos e de nossas amigas, mas quase nunca se dedica a analisar algo tão simples como o que
MEMÓRIA É UMA EFICIENTE
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aconteceu depois, logo após o momento em que a última
das feridas da separação terminou de cicatrizar. E isso é especialmente verdadeiro quando esse “depois” ocorre meses,
até anos mais tarde.
O que aconteceu depois? Trata-se de uma pergunta
simples, mas que encerra uma informação crucial. E, para
demonstrar, vou propor um pequeno exercício de introspecção. Seja qual for a sua idade, se você está lendo este livro
é porque há ou houve em sua vida algum rompimento amoroso traumático, e isso é tudo do que precisamos para este
exercício. Preparada? Pegue uma folha de papel, uma caneta e comece a enumerar os nomes dos namorados, amantes
ou maridos que passaram por sua vida e deixaram você na
mão. Assegure-se de não deixar nada na manga, por mais
que pareça doloroso ou insignificante. Sim, aquele garoto
trêmulo do primeiro ano da universidade, que uma noite
confessou que gostava de você e no dia seguinte fugiu como
uma enguia, também conta. O mesmo vale para aquele lamentável ex-marido imerso num processo de evasão fiscal.
Ou para o namorado que se mandou alegremente com a sua
melhor amiga do colégio enquanto você se agachava para
amarrar os sapatos.
Agora, depois de anotar junto a cada nome o que aconteceu depois do rompimento, marque com um xis os que
se arrependeram da decisão de abandonar você. Ainda que
eu não esteja ao seu lado para comprovar, tenho certeza de
que ao menos um desses homens se comportou exatamente
assim. Caso contrário, tente fazer o exercício com a vida
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amorosa de suas amigas. Você agora tem a comprovação do
que eu digo, não é?
O que esse jogo revela é que, por algum desígnio do
destino, a maioria dos homens se conduz pela vida munida
de uma espécie de “segundo tempo” sentimental a tiracolo. Claro, não é uma regra infalível. Há muitos namorados,
amantes e maridos que, uma vez rompida a relação, não
voltam para as nossas vidas, mas em numerosas ocasiões
o processo é o seguinte: eles abrem a porta para ir embora,
depois de um tempo nós a fechamos, e, em poucos meses ou
até depois de vários anos, ali estão de novo no umbral, tão
descansados, do mesmo jeito que os deixamos. O regresso,
às vezes, é momentâneo; em outras, acaba sendo definitivo.
Há ocasiões em que eles encontram suas namoradas, amantes e esposas esperando com os braços abertos; com freqüência as encontram, sim, mas nos braços de outro.
A grande pergunta é: por que os homens fazem isso?
Alguns terapeutas, como o célebre John Gray em seu bestseller Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus, sugerem
que os homens se comportam como um tipo de borracha
elástica, de maneira que, de tempos em tempos, se afastam
de sua parceira e, se não forem pressionados a retornar, se
reaproximam de forma natural. Deixando de lado o fato de
que o conceito de borracha elástica não é muito lisonjeiro à dignidade masculina, há um aspecto irrefutável nessa
teoria. Se você revisar de novo essa lista de homens que a
abandonaram para depois retornar, descobrirá um traço
comum em todos eles: se trata de homens que não foram
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perseguidos, pressionados nem encurralados quando decidiram partir.
Isso, que pode parecer um detalhe pouco transcendente, é a chave que está por trás de todo o método Parker.
É a peça central do quebra-cabeça, e sem ela toda a estrutura desmorona sem remédio. À primeira vista, é uma idéia
bastante simples: se você deseja que um homem que a abandonou volte para os seus braços, primeiro deve deixar ele
ir. Parece fácil, não? Pois não é. Exige disciplina, firmeza e
autodomínio, qualidades pouco abundantes em mulheres
apaixonadas e abandonadas.
Como você já adivinhou, neste livro aprenderá como
adquirir essas habilidades.
Você se transformará, sem ao menos perceber,
num modelo de garota Parker.
Primeira confidência Parker
Como todas as mulheres cujas histórias aparecem refletidas
neste livro, eu também experimentei o curioso fenômeno
do homem que volta. Quando comecei a planejar esta obra,
tive um sério debate comigo mesma sobre se devia ou não
falar das minhas próprias vivências no livro, tal como fiz
com as experiências do restante das mulheres. Por fim, cheguei à conclusão de que não seria honesto expor essas histórias e ao mesmo tempo esconder as minhas experiências,
Primeira parte – Capítulo 1 | 23
sendo que foram precisamente elas que me levaram a escrever esta obra.
Aconteceu há vários anos, quando eu ainda estava na
universidade. Num verão, depois de uma intensa relação de
um ano e meio, meu namorado me abandonou de maneira
inesperada e sem uma pitada de elegância. Ele fez isso da
noite para o dia e, como costuma acontecer nesses casos, sem
dar uma única explicação. No dia anterior (anote esse detalhe porque é um clássico no mundo dos rompimentos), ele
havia confessado quão incrivelmente, quão profundamente
apaixonado estava. No dia seguinte, ou talvez dez minutos
mais tarde, parece que ele não pensava mais assim.
Naquela época, eu não era de modo algum uma mulher
experiente, então pensei que o rompimento era para sempre. Envolta num mar de soluços, me refugiei na casa que
uma tia-avó possui no vale de Franschhoek, na África do
Sul. Ali descansei entre os vinhedos, perambulei em busca
de antiguidades holandesas e curei meu coração ferido com
martínis com aneto. Quando retornei, no mês de setembro,
ele estava no aeroporto, agitando uma valiosa pulseira art
déco que fazia as vezes de bandeira branca.
Mais tarde eu soube que a pulseira havia sido escolhida
pela mãe dele.
Embora aquele encontro já não pressagiasse nada de
bom, durante os meses seguintes ele tentou outras vezes.
Explicou que havia se assustado, que se sentia perdido, que
estava apaixonado demais, que tinha medo. Explicou tudo
o que um garoto de vinte anos pode explicar à ex-namorada
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para que ela volte. Mas eu já não era capaz de voltar atrás.
Simplesmente, havia deixado de confiar nele.
Pouco tempo depois, fui estudar numa universidade
dos Estados Unidos e conheci aquele que seria meu namorado durante os seis anos seguintes. O obstinado ex seguiu
escrevendo e telefonando até que, cansado de não obter nenhuma resposta, iniciou uma nova relação e, um ano mais
tarde, decidiu se casar. Conforme se aproximava a data do
casamento, suas mensagens e telefonemas não cessaram
como se tornaram mais freqüentes. Uma vez celebrada a
cerimônia, o processo continuou. Só quando nasceu o primeiro filho dele, as mensagens e os telefonemas terminaram
por completo.
Quatro anos após essa data, certa manhã, me surpreendi pensando nele. A caminho do trabalho, lembro que
achei estranho me recordar dele assim, de repente e sem
motivo. Quando vinte minutos mais tarde cheguei ao meu
escritório, vi que na tela do computador piscava uma mensagem. Não saberia explicar por que, mas não me surpreendeu descobrir que era dele. Era uma mensagem encantadora
de apenas duas linhas, assinada pelo “homem para quem
você não deu uma segunda chance”.
Acredite, sempre voltam.
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Capítulo 1