A IMPORTÂNCIA DAS AULAS PRÁTICAS PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO: A VISÃO DE ALGUNS ESTUDANTES DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Waldemar Borges de OLIVEIRA JUNIOR1 [email protected] Luzilene Cordeiro PEREIRA1 [email protected] Viviane Magno BORGES 1 [email protected] Jorge Raimundo da Trindade SOUZA2 [email protected] 1 2 Universidade Federal do Pará (UFPA) Universidade Federal do Pará / Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas RESUMO. No contexto atual nota-se a necessidade de aliar educação à inovação e criatividade na sala de aula, pois o ensino que apenas repassa conhecimento prejudica o aluno, uma vez que não o transforma em sujeito da ação de aprender. Os vídeos e atividades práticas são atualmente inúmeros recursos que o docente pode utilizar com o objetivo de tornar o conteúdo teórico mais atraente e próximo da realidade do estudante. Nas disciplinas da área de Ciências da Natureza em especial as de Química, as aulas práticas tornam-se importantes instrumentos de pesquisa, permitindo ao aluno experimentar situações problematizadas e vivenciar a teoria trabalhada em sala de aula. Dessa maneira, este trabalho tem como objetivo analisar a importância das aulas práticas para a construção do conhecimento na visão de alguns estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental. A metodologia utilizada consistiu em pesquisa bibliográfica em livros, artigos científicos, dissertações, documentos oficiais sobre o tema e aplicação de um questionário para vinte alunos da Escola Municipal Manoela de Freitas. Os resultados da pesquisa revelaram que os discentes concordam e acreditam que as aulas práticas seja um recurso importante no processo de desenvolvimento da construção do conhecimento dos estudantes, isso ocorre porque as atividades práticas proporcionam o estabelecimento de relações entre os conhecimentos e os acontecimentos do cotidiano do aluno. Contudo, com a análise dos dados verificou-se que a professora de Ciências dos estudantes entrevistados os desenvolve raramente, entre outras justificativas está à ausência de um espaço físico adequado para as aulas experimentais. Palavras-Chave: Construção do conhecimento. Ensino de Química. Atividade experimental. Ensino da Química (ENQUI) INTRODUÇÃO O modelo tradicional de ensino é ainda amplamente utilizado por muitos educadores nas nossas escolas de Ensino Fundamental. Segundo Fracalanza (1986), tal modelo de educação trata o conhecimento como um conjunto de informações que são simplesmente passadas dos professores para os estudantes, o que sempre resulta na aprendizagem mecânica. Os alunos fazem papel de ouvintes e, na maioria das vezes, os conhecimentos passados pelos docentes não são realmente absorvidos por eles, são apenas memorizados por um curto período de tempo e, geralmente, esquecidos em poucas semanas ou poucos meses, comprovando a não ocorrência de um verdadeiro aprendizado. Visando superar o modelo tradicional de ensino, autores como Giordan (1999) e Bizzo (2009), mencionam em suas literaturas que é senso comum que a experimentação, independente do nível de escolarização desperta interesses dos alunos, estimula e orienta o aprendizado, melhora a relação ensino e aprendizagem e pode promover a correlação entre o conhecimento adquirido e os acontecimentos cotidianos. Mas a experimentação não é apenas o meio para despertar o interesse pelo aprendizado de Ciências, mas sim o conjunto de ferramentas que pode criar um verdadeiro ambiente de investigação científica. Gaspar (2003) menciona que os primeiros equipamentos experimentais foram criados por Arquimedes e desde então, inúmeros equipamentos e experimentos têm sido inventados com finalidade de promover pesquisa no ensino de Ciências. Contudo, o autor afirma que, no Brasil, a experimentação não é uma prática rotineira. Até meados do século XX poucas escolas tinham 186 aparelhos prontos e específicos para experimentos de demonstração, o que levava os alunos a apenas assistir as demonstrações realizadas pelos professores. Para Rosito (2003), muitos professores acreditam que o ensino experimental exige um laboratório com materiais e equipamentos sofisticados, situando isto com a mais importante restrição para o desenvolvimento de atividades experimentos. Entretanto, é possível realizar as aulas práticas na sala de aula utilizando materiais de baixo custo. Contudo para o autor as atividades experimentais, utilizando ou não o ambiente de laboratório escolar, podem ser o ponto de partida para a compreensão de conceitos e sua relação com as ideias a serem discutidas em aula. Na concepção construtivista Giani (2010) explica que as elaborações de atividades experimentais precisam levar em consideração os conhecimentos prévios dos alunos, e que este é incompleto por natureza, o que possibilitará um confronto entre o conhecimento do senso comum e o conhecimento científico, sempre compatível com o contexto em que os estudantes estão inseridos. Caso isso não aconteça o aprendizado do aluno não será significativo. A aula prática deve estimular o aluno a desenvolver a visão da própria capacidade de aprender e perceber que ele também pode ser um agente modificador do mundo em que vive, e por isso é importante que eles tenham conhecimento científico vivenciado na prática o sentido da aplicação das aulas práticas. A aula prática é uma maneira de experimentar o interesse do aluno e a sua aceitação em relação aos conteúdos (DELIZOICOV; ANGOTTI, 2000). O ensino centrado nessa concepção construtivista e no desenvolvimento de atividades práticas de sala de aula ou de laboratório de Ciências favorece uma educação científica de modo significativo e atraente a todas as camadas sócias onde os discentes possam desenvolver e compreender habilidades. Os alunos são convidados a praticar os procedimentos, no início a partir de modelos oferecidos pelo professor e aos poucos, tornando-se autônomos. Um professor precisa realizar aulas criativas e proporcionar situações em que os alunos sejam capazes de (re)construir seus conceitos, ou seja, a função da escola não é somente a de transmitir conhecimento nem a de formar indivíduos que sejam capazes de pensar e de decidir por si mesmos, mas serve a outros fins, como o de manter a ordem social ou de formar adultos que se assemelham tanto quanto possível ao já existente. (CARVALHO; GÍL-PÉREZ, 1998). OBJETIVO Analisar a importância das aulas práticas para a construção significativa do conhecimento na visão de alguns estudantes do 9º ano do ensino fundamental. METODOLOGIA Além de pesquisas bibliográficas em livros, artigos científicos e dissertações, a análise foi desenvolvida no dia 13 de abril através ds aplicação de um questionário contendo perguntas abertas, fechadas e mistas para 20 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Manuela Freitas que fica localizado no município de Belém - PA. O questionário teve o intuito investigar a importância que as atividades experimentais apresentam frente ao processo de ensino aprendizagem na disciplina de Ciências. Utilizou-se a pesquisa de abordagem qualitativo-descritiva, pois conforme propõe Gunther (2006), que pesquisar é analisar informações da realidade que se está estudando, por meio de um conjunto de ações e objetivos, é uma comunicação entre os dados coletados e analisados com uma teoria de base. O mesmo autor defende que os questionários podem ser instrumentos valiosos na pesquisa qualitativa, pois não se preocupam apenas com a descrição da problemática e sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização etc. 187 Os dados coletados foram analisados através do questionário que continham as seguintes questões: 1- Sexo ( ) Feminino ( ) Masculino; 2- Idade; _____ anos; 3- Sua Professora de Ciências já realizou ou realiza aulas práticas na sala de aula? ( ) Sim ( ) Não; 4- Você considera importante a utilização de atividades experimentais no Ensino de Ciências Naturais? Justifique. ( ) Sim ( ) Não; 5- Em sua opinião, qual(is) os motivos que levam a sua professora de Ciências a não ministrar aulas através de experimentos? 6- Na sua concepção o Ensino de Ciências através de aulas práticas pode facilitar a construção do conhecimento da disciplina? Justifique ( ) Sim ( ) Não. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após as análises das respostas do questionário aplicado aos alunos observou-se na pergunta número 3, mostrada no gráfico 1, que 90% dos entrevistados responderam que a professora de Ciências em nenhum momento chegou a realizar aulas práticas em laboratório ou em sala de aula e 10% responderam sim. Esse resultado vai de encontro com as ideias de Giani (2010), que seria mais significativo para os alunos se a Ciência fosse lecionada com o auxílio de aulas experimentais, já que para o autor ensinar Ciências Naturais sem prática não proporciona o estabelecimento de interrelações entre os conhecimentos e os acontecimentos do cotidiano do discente. Gráfico 1: Percentual de alunos que responderam se a professora de Ciências realiza ou já realizou aulas práticas na sala de aula? Em relação se os estudantes consideram importante a utilização de atividades experimentais no ensino de Ciências, demonstrada no gráfico 2, 40% dos alunos entrevistados acreditam que sim, justificando que essa metodologia ajuda a compreender melhor os conteúdos da disciplina, 35% acreditam que as atividades experimentais facilitam o aprendizado e 25% dos discentes mencionaram que não acredita que as atividades experimentais são importantes no ensino de Ciências. De acordo com Bizzo (2009), as atividades práticas são importantes nas aulas de Ciências, pois os alunos “vejam com seus próprios olhos” a “realidade como ela é”. Além disso, para o autor quando bem preparadas, as aulas com experimentação são momentos oportunos para resolver ou compreender fenômenos e conceitos, facilitando assim o processo de ensino aprendizagem. 188 Gráfico 2: Percentual de discentes que considera importante a utilização de atividades experimentais no Ensino de Ciências Na pergunta 5 do questionário sobre os motivos que levam a professora de Ciências a não ministrar aulas através de experimentos, observa-se no gráfico 3, que 70% dos estudantes alegaram que na sua concepção um dos motivos, seria por falta de um laboratório ou espaço físico adequado e 30% por insuficiência de tempo, alegando que a carga horária do professor é extensa, o que dificulta uma preparação para tal atividades. Essa ideia não está de acordo com Rosito (2003), que diz que não se deve confundi atividades práticas com a necessidade de um laboratório, visto que tais atividades podem ser desenvolvidas em qualquer sala de aula, acreditando que seja possível realizar experimentos na sala de aula, ou mesmo fora dela. Gráfico 3: Percentual de alunos que responderam qual (is) os motivos na opinião deles que leva a professora a não ministrar aulas através de experimentos. Na sua opinião, qual(is) os motivos que levam a sua professora de Ciências a não ministrar aulas através de experimentos Seria por falta de um laboratório ou espaço físico adequado 30% 70% Insuficiência de tempo 189 Na questão 6 que indagava o aluno se aulas práticas pode facilitar a construção do conhecimento na disciplina de Ciências Naturais, expresso no gráfico 4, todos os discentes entrevistados reconhecem que a utilização da experimentação facilita a construção do conhecimento no ensino de Ciências. Essa concepção está de acordo com as opiniões de Gaspar (2003) e Giani (2010), que dizem que a educação científica é interessante aos estudantes e favorece a educação científica. Entretanto para os autores todos os docentes antes de elaborar as tais atividades, necessitam levar em consideração os conhecimentos prévios dos alunos, pois a ideia de construção de conhecimento implica aprimorar o processo de ensino aprendizagem. Gráfico 4: Percentual de alunos que responderam qual (is) os motivos na opinião deles que leva a professora a não ministrar aulas através de experimentos CONCLUSÃO A pesquisa revelou que as maiorias dos estudantes acreditam que as atividades práticas contribuem para um melhor processo de ensino aprendizagem da disciplina de Ciências, alegando que essa metodologia é melhor para compreender os assuntos de Ciências tornando a aprendizado significativo. Percebeu-se também que os alunos indagados consideram importante a utilização de atividades experimentais no ensino de Ciências, constatando que é melhor para fixar os conteúdos facilitando a construção do conhecimento na disciplina. Verificou-se que a professora de Ciências os desenvolve raramente as atividades práticas, entre outras justificativas mencionadas pelos alunos está à ausência de um espaço físico adequado para as aulas. Assim, conclui-se que as aulas práticas devem estar presentes na disciplina de Ciências para que os alunos se interessem mais pela disciplina e fazer com que eles comecem a desvendar aos poucos os conceitos e conhecimentos científicos. 190 REFERÊNCIAS BIZZO, Nélio Marco Vincenzo. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo: Biruta, 2009. CARVALHO, Anna Maria Pessoa de; GIL-PÉREZ, Daniel. Formação de professores de Ciências: tendências e inovações. São Paulo: Cortez, 1998 DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André Peres. Metodologia do ensino de ciências. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000. FRACALANZA, Hilário; AMARAL, Ivan Amorosino e GOUVEIA, Mariley Simões Flória. O ensino de ciências no primeiro grau. São Paulo: Atual, 1986. GASPAR, Alberto. Experiências de Ciências para o ensino fundamental. São Paulo: Ática, 2003. GIANI, Kellen. A experimentação no Ensino de Ciências: possibilidades e limites na busca de uma Aprendizagem Significativa. 2010, 33f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências) Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília, Brasília, 2010. GIORDAN, Marcelo. O papel da Experimentação no Ensino de Ciências. Química Nova na Escola, São Paulo, n. 10, p. 43-49, 1999. GUNTHER, Hartmut. Pesquisa Qualitativa versus Pesquisa Quantitativa: esta é a questão? Psicologia: teoria e pesquisa, Brasília, v. 22, n. 2, p. 201-2010, 2006. ROSITO, Berenice Alves. O ensino de Ciências e a experimentação. In: MORAES, Roque (organizador). Construtivismo e Ensino de Ciências: Reflexões Epistemológicas e Metodológicas. 2 ed. Porto Alegre: Editora EDIPUCRS, 2003. 191