ISSN 2236-3335
UMA RESENHA DE METODOLOGIA CIENTÍFICA:
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
P o r L o r en a S i l v a d a M a t a
Licenciatura em Letras com Língua Inglesa
l o r e n a sd m @h o tm a i l . c o m
SAN TOS, Ant oni o Ra i mundo dos . Metodologia cientí fica : a
cons t rução do conheci ment o. 4 . ed. R i o de J a nei ro: D P&A, 200 1 .
1 44 p. 1
O l i v ro Metodologia científica: a construção d o conheci mento , com 1 44 pá gi na s, é di v i di do em qua t ro ca pí t ul os –
cont endo a i nda um ca pí t ul o i nt rodut óri o que es cl a rece, p ri mordi a l ment e, a na t ureza da ut i l i da de da pes qui sa ci ent í fi ca pa ra a
cons t rução de um conheci ment o i nt rí ns eco a o des env olv iment o
huma no – com t emát i ca s di ferenci a das , que v ã o, gra dua l ment e,
ev ol ui ndo da expl i ca ção a cerca da i mport â nci a do a s s unto cen t ra l do l i v ro pa ra as t i pol ogi as e ma nei ra s de r ea l i za r a pes qui sa
ci ent í fi ca . A ca da ca pí t ul o, o a ut or s i s t emat i za e fra gment a o
t ópi co, s ubdi v i di ndo- o t a nt as v ezes qua nt o neces s á ri o pa ra da r
cont a da el uc i da çã o d e concei t os es pecí fi cos da ma nei ra ma is
a bra ngent e pos s ív el .
O a ut or t ra z, d e forma di dá t i ca e pa ula t i na , a s ra zões da
i mportâ nci a da pes quis a ci ent í fi ca – t a nt o para a cons t ruçã o do
conheci ment o i ndi v i dua l qua nto pa ra a cont ri bui çã o, ou pos s ív el
cont ri bui çã o, des ta no concernent e à s neces s i da des huma nas –
e da prá xi s , da s manei ra s de rea l i zá - l a nos di v ers os ní v ei s a os
qua i s s e apl i ca .
N o ca pí t ul o de i nt roduçã o, o a ut or expl i ca a ne ces s i da de
da pes qui s a ci ent í fi ca como a rt i fí ci o pa ra o des env ol v iment o de
uma cons ci ênci a – rel ega da em a nos a nt eri ores em nome de
uma educa çã o t écni ca e prá t i ca , de cunho pro fi s s i ona l i za nt e,
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que v i s ava a perfei çoa r nã o s ó a pes qui sa , mas , e cons equen t ement e, a forma ção i nt el ect ua l e profi s s i ona l d e um i ndi v í duo
que dei xa o ens i no s uperi or.
Sa ntos ( 20 01 , p. 1 5) cha ma a a t ençã o pa ra um cont ext o
s oci oeconômi co front ei ri ço e di cot ômi co, em qu e, de um l a do,
a pres enta -s e uma v i s ão de forma çã o da era i ns t rumenta l e, de
out ro, uma v i sã o de a qui s i çã o de conheci ment o da cont empo râ nea era do ca pi t a l i nt el ect ua l . Ou s eja , s e nos a nos
a nt eri ores a forma çã o i ns t rumenta l s upria a neces s i dade de um
merca do de t ra ba l ho a ní v el na ci ona l fechado ou, no mí ni mo,
pouco a bra ngent e em um cont ext o de ordem mundi a l , hoj e
es s e mes mo concei t o t orna -s e a rca i co ou i ns ufi ci ent e, v i s t o a
a bert ura gl oba l nã o s ó de um merca do e conômi co, como
t a mbém de uma t roca e de uma prol i fera çã o i ns t a ntâ nea de
i nfor ma ções . E pa ra que i s s o ocorra , há a neces s i da de de uma
forma çã o di f erenci a da do nov o i ndiv í duo des de o a mbi ent e
es col a r bá s i co a t é o ní v el s uperi or ( e a l ém) , de onde s a i rã o,
hi pot et i ca ment e, pes qui sa dores ca pa ci t ados na s ma nei ras ma is
compl exas do pensa r e a pt os a ra ci ona l i zar, probl ema t i za r e
a pres enta r sol uções pa ra os probl ema s .
Com a i mportâ nci a da rea l i za çã o da pes qui s a ci ent í fi ca
res ol v i da , o a ut or pa ss a a ques t i ona r a n eces s i da de d es s e t i po
de a t i v i da de cogni t i va pa ra o homem. Chega à concl usã o,
port a nto, que é i nerent e à condi çã o huma na a na l i sa r a s i
mesma , os out ros e o me i o em que v i v e. E é a pes quis a
ci ent í fi ca o i ns t rument o i nt el ect ua l do homem pa ra res ponder
à s s ua s própri a s neces s i da des . O s er huma no, i ns a t i s fei t o com
a s ua condi çã o no mundo, bus ca expl i ca ções e s ol uções pa ra
s a i r de s ua i nsa t i s fat óri a zona de confort o ou de des equi l í bri o,
e us a a pes qui sa pa ra reorga ni za r a s ua condi çã o e mel horá - la
perenement e, em ní v ei s que o a ut or t i pi fi ca como bi ol ógi cos ,
s oci a i s e t ra ns cendenta i s .
O a ut or bus ca , na qua l i da de ra ci ona l huma na , a expl i ca çã o pa ra es sa i ns a t is fa ção cont í nua . E é es sa ra ci ona l i da de
a mot i va dora que s us ci t a probl emá t i ca s com o i nt ui t o de
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mel hora r a ca pa ci dade prá t i ca huma na e, cons equent ement e, a
s ua própri a s i t ua çã o. Sã o el ement os – a ção t eóri ca e a çã o
prá t i ca – que s e rã o i ndi ss oci áv ei s na bus ca do a pri mora ment o
da condi çã o humana .
Ass i m, Sa nt os ( 200 1 ) pa ss a a di f erenci a r a pes quis a a
pa rt i r do ní v el i nt el ect ua l de a l guns t i pos de i ndi v í duos ,
cha ma ndo a a t ençã o, pri mei rament e, pa ra a i mport â ncia da
pes qui sa como um modi fi ca dor da ev ol uçã o h uma na . Ou s ej a ,
por es s a pers pect i va , podemos ent ender a s di ferent es á rea s
do conheci ment o huma no e da p es quis a como uma s oma hi s t o ri ográ fi ca da ev ol uçã o humana , do es forço do homem em
s upera r e me l hora r a s ua própri a condi çã o. Ca da a va nço, ca da
nova des cobert a cont a t a mbém com os a vanços pel os qua is o
homem pass a .
As pes s oa s res ponsá v eis por es sa rea l i zaçã o e cont ri bui çã o a o des env olv iment o huma no s ã o um s el et o e qua l i fi ca do
número de i ndi v í duos . N o ent a nto, o a ut or dei xa cl a ra a i mpor t â nci a do des env olv i ment o cogni t i vo des sa s pes s oas des de a
es col a bá s i ca a o ní v el de gra dua çã o ( pri nci pa l ment e es t e
úl t i mo) , i mpri mindo a i mportâ nci a des s e est á gi o de pes qui sa
como pr epa ra t óri o pa ra os s ubs equent es es t á gi os ma i s
compl exos que encont ra rã o no â mbi t o ext erno a o a ca dêmi co.
Admi t e a pes qui sa a doi s ní v ei s : um a ca dêmi co e um que el e
cha ma de “pes qui s a de pont a ”. O pr i mei ro é a pont ado como
moment o fundament a l da i ni ci a çã o ci ent í fi co -profi s s i ona l de um
i ndi v í duo, no qua l s erã o a pres ent a da s i nforma ções r el eva nt es –
e re l a ci ona das com a s di ferent es fa i xas et ári a s dos i ndi v í duos
a l v os des s as a t i v i da des p eda gógi ca s – a cerca de t odo, ou boa
pa rt e, do conheci ment o huma no, com o i nt ui t o de, em pri mei ro
l uga r, des pert a r e a mpl ia r os conheci mentos prév i os des s es
es t udant es , em s egundo, de des env olv er e cri a r no í nt i mo des s es i ndi v í duos um ol ha r i nqui s i dor e probl ema t i za dor do m ei o
em que v i v em e de s i mes mos . A a pres ent a çã o de s ol uções
pa ra es s es probl ema s nã o é a l go, a priori , p ret endi do nes t e
ní v el de pesqui sa .
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J á na pes qui s a “de pont a ”, a a s s imi l a çã o c rí t i ca e o
a pri morament o nã o s ã o s uf i ci ent es pa ra o pes qui sa dor ou pa ra
a comuni da de ci ent í fi ca . Exi ge - s e que, a l ém des s es el ement os ,
o pes qui sa dor deva cri a r e d es env olv er, “ com i nt ençã o e
mét odo” ( SAN TOS, 200 1 , p. 2 5) , res pos ta s q ue i nov em ou
cont es t em um probl ema .
Com i s s o, os pes qui sa dores dev em l a nça r mã o de met o dol ogi as que ca ra ct eri zem s eu t ra ba l ho ou a s d i fer ent es et a pas
del e. Met odol ogi a s que poderã o s er “[ . . . ] s egundo obj et i v os ,
s egundo procedi ment os de col et a ou, a i nda , s egundo a s font es
ut i l i za das na col et a de da dos . ” ( SAN TOS, 200 1, p. 25)
Es s es obj et i v os , por s ua v ez, dev erã o s er a l ca nça dos
por mei o dos di ferent es ol ha res que o pes qui sa dor i nci di rá
s obre o fenômeno a o qua l pret ende es t udar. N es s e moment o,
o a ut or fa z uma orga ni za çã o s i s t emá t i ca e g ra da t iva des s es
ol ha res , r econhecendo a pes quis a em ní v el expl ora t óri o,
des cri t i v o e/ou expl i ca t iv o.
Pa ra que a pes qui sa ocorra , no ent a nto, a l ém do ol ha r,
ou s e j a , da met odol ogi a que env olv erá a p es qui sa , fa z - s e
neces s á ri o um a cúmul o, uma bus ca de i nforma ções rel eva nt es
a o es t udo, que dev erá ocorrer a pa rt i r de uma col et a de
da dos rea l i za das a t rav és do experi ment o, do l eva nt ament o, do
es t udo de ca s o, da pes qui s a bi bl i ográ fi ca , document a l , pes quis a
- a ção, pa rt i ci pa nt e, ex-post -facto , qua nt i ta t iva e qua l i ta t iv a .
O a ut or l embra que a s pes qui sa s podem cara ct eri za r -s e,
t a mbém, a pa rt i r da s font es de i nforma çã o. Es sa s font es
podem s er de ca mpo, l a bora tóri o e bi bl i ográ fi ca , s endo es s en ci a i s e gênes e pa ra qua l quer pes quis a , dev ido a o cui da do que
os pes quis a dores t êm a o t omá - l a como pont o de pa rt i da pa ra
o es t udo de qua l quer fa t o/fenômeno, j á que gra nde pa rt e do
conheci ment o huma no encont ra - s e di s poní v el em di v ersa s
bi bl i ogra fi a s.
N o ca pí t ul o s egui nt e, Sa nt os ( 200 1 , p. 33 - 34 ) a dv ert e pa ra
a s di fe rent es formas d e expres sã o es cri t a , que s erã o v a riá v eis
dev i do à nec ess i da de het erogênea comuni ca t i va huma na . El as
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fa zem s urgi r di ferent es pa radi gma s de t écni ca s de r eda çã o –
l i t erá ri a s , forma s comerci a is e o fi ci a i s e t ext os ci ent í fi cos –,
que res ul t a rã o em uma gra nde va ri eda de de f orma t os exi gi dos
a ca demi cament e, em que ca da um pos sui um c a rá t er es pecí fi co
de exi gênci a t a nt o por profundi da de, compl exi da de e pa rt i cul a ri da de t emát i ca , qua nt o por ní v el cogni t iv o e/ou da pes quis a
pret endi da por quem e pa ra quem o t ext o é es cri t o. O a ut or
l i s t a e des crev e ca da um dess es forma tos – r es enha , rel a t óri o,
monogra fi a , di s s erta çã o, t es e, s i nops e e r es umo, a rt i go
ci ent í fi co, a rt i go rel a t óri o, paper , i nforme ci ent í fi co, ens a i o ci en t í fi co – a pont ando, de ma nei ra ba st a nt e di dá t i ca e e l uci da t iv a,
os div ers os pont os de i nt ers ecçã o e de di v ergênci a ent re el es .
Por fi m, Sa nt os ( 200 1 , p. 4 7 ) a bre um úl t i mo ca pí t ul o
s obre a s fa s es da pes qui sa ci ent í f i ca em que, pr i mei rament e,
det ermi na a cons t ruçã o do conheci ment o em doi s ní v ei s , que
s erã o rea l i za dos/concl uí dos com a pes qui s a c i ent í fi ca . Um
pri mei ro ní v el , que cont ri bui rá pa ra o a va nço da ci ênci a , nos
qua i s o pa pel do ci ent i s t a, ema nci pa do, é f undamenta l ; e um
s egundo ní v el , o da cons t ruçã o do conheci ment o i ndi v i dua l ,
que es t a ri a enqua dra do na et a pa i ni ci a l da v i da a ca dêmi ca de
um i ndiv í duo e fut uro pes qui sa dor.
Pa ra es s e úl t i mo, o a ut or des t a ca a i mport â nci a de mét o dos , cons t ruçã o de et a pa s que a j uda rão no d es env olv i mento
de s ua pes qui sa e de s eu conheci ment o c i ent í fi co. Et a pa s
es sa s que o a ut or, ma i s uma v ez, des creve com ri queza de
det a l hes , a compa nha do a o s ubi t em, s empre que neces s á ri o,
pa ra fi xa r det ermi na dos concei t os , exempl i fi ca ções conv i n cent es e coerent es pa ra a compreensã o do l ei t or. Al ém di s s o,
o a ut or fa z el a bora ções de concei t os a cerca de fa s es ma is
compl exas da pes qui sa ci ent í fi ca , de modo a enqua dra r t a mbém
a quel es que es t ã o em es t á gi os ma is a v ança dos , que j á
el a boram sol uções pa ra as probl emá t i ca s da condi çã o huma na .
Ca da fa s e da pes quis a a na l i sa da n es t e ca pí t ul o – préproj et o, proj et o, col et a de da dos , reda çã o do t ext o ci ent í f i co e
a pres enta çã o grá fi ca do t ra ba l ho – v em a compa nha da de
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et a pas orga ni za das e s i s t ema t i za da s , a os moldes d e um t ut ori a l
do pas s o a pa s so d e el ement os e exi gênci a s que cumpram a
fi na l i da de t emá t i ca e probl emá t i ca da pes quis a , a ss i m como a s
exi gênci a s da a pres enta çã o dos cami nhos percorri dos dura nt e
a pes qui s a e dos res ul t a dos del a a dv i ndos. Mes mo a dendos
como o d í s t i co, a dedi ca t óri a , os a gra deci ment os e out ros el e ment os que, embora nã o s ej a m es s enci a is a t odo t i po de
pes qui sa , sã o a rt i fí ci os us a dos em a l guma s d el a s. Es t es , s e
us a dos de ma nei ra corret a , enri quecem e enl ev am o produt o
fi na l , a apres enta çã o do t ra ba l ho na comuni da de ci ent í fi ca .
Com i s s o, pode -s e a fi rma r que o l i v ro Metodologia c ientí fi ca: a construção do conhecimento é es s enci a l pa ra a quel es
que pret endem compreender nã o s ó a i mport â nci a da rea l i za çã o da pes quis a , como t ambém a ma nei ra c omo rea l i zá - la e
a pres entá - la corret a ment e, a fi m de enri quecer t a nt o s eu
própri o conheci mento qua nt o cont ri bui r pa ra o des env olv i mento
ci ent í fi co de forma a mel hora r a condi çã o humana . Al ém di s s o,
o l i v ro, por s ua l i ngua gem cl a ra e orga ni zaçã o s i s t emá t i ca, é
es s enci a l nã o s ó pa ra l e i t ores l ei gos que bus cam compreender
a p es quis a , ma s pa ra a ca dêmi cos e cá t edra s env olv i dos em
ní v ei s ma i s compl exos de es t udo e a ná l i s e ci ent í fi ca que
bus cam a gi l i da de e res post as obj et i v as pa ra el uci da r a l guma
ques t ão referent e à s met odol ogi as de s ua pes qui sa .
N OT A S
1
Ant oni o Ra i mundo dos Sa nt os é dout or em Engenha ri a de
Produçã o, pel a Uni v ers i da de F edera l de Sa nt a Ca ta ri na – UF SC,
e profes s or conv i dado na s á rea s de Met odol ogi a de Pes qui s a
e de Ét i ca Empres a ria l em curs os de es peci a l i za ção de v á ri a s
i ns t i t ui ções de ens i no.
Env ia da em 30 /09 /20 1 2.
Aprov a da em 17 /1 2/201 3.
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