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INTERVENÇÃO PRECOCE BILÍNGÜE – CONSTRUÇÃO DE RECURSOS
TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS UTILIZANDO A CULTURA SURDA
COMO REFERÊNCIA
Lia Rodrigues Vasconcelos
Layane Lima Saboia
Brunna Karoliny Pereira Uchoa
Marilene Calderaro Munguba
Universidade de Fortaleza - UNIFOR
RESUMO
Introdução: A surdez se torna impactante no cotidiano das comunidades surda e
ouvinte devido a diversidade cultural e de formas diferentes de comunicação. Na
perspectiva sócio antropológica a terminologia surdo é a mais adequada por considerar a
especificidade cultural e não é centrado na deficiência. A criança surda tem o direito de
ser instruída e abordada em sua língua materna, o que favorece a construção da
linguagem e consequentemente de sua aprendizagem e desenvolvimento harmônicos, na
busca da construção da autonomia e independência do sujeito surdo. O Bilinguismo tem
sido discutido considerando a língua de sinais como primeira língua ou língua materna
do surdo e a língua oral auditiva como segunda língua. Descrição da experiência: As
atividades realizadas são parte do projeto de Iniciação Científica “Intervenção precoce
no surdo: percepção dos profissionais e pais sobre a atuação do terapeuta ocupacional”;
especificamente do subprojeto: “Estratégias de atuação terapêutica ocupacional em
intervenção precoce na clientela surda” envolvendo cinco alunos do curso de Terapia
Ocupacional da Universidade de Fortaleza, uma profissional de Jornalismo e a
professora orientadora, da mesma universidade. Identificou-se a escassez de recursos de
mediação na intervenção precoce construídos utilizando a cultura surda como
referência. Durante 2013 o grupo discutiu estimulação sensorial, percepção visual e a
sua relevância para o desenvolvimento da criança surda, a constituição do sujeito surdo
mediado pela língua de sinais. Em 2014.1 o grupo realizou encontros semanais
enfrentando o desafio de construir recursos lúdicos adequados às especificidades
sensoriais e culturais da criança surda. Receberam maior atenção os estímulos visuais
que favorecem a aquisição da língua de sinais. Efeitos alcançados: Foi construído um
tabuleiro para mediar a aprendizagem da criança surda sobre as cores, os animais, tipos
de emoções e o alfabeto manual, contrastando as cores afim de estimular a atenção da
criança surda e aprendizagem da Libras. Também constitui o grupo de recursos
construídos o “jogo dos números” em Algarismo, Libras e Palitinhos. Também está em
fase de desenvolvimento um mural com imagens das atividades de vida diária com o
seu respectivo sinal. E o “encaixe das formas geométricas” associadas aos respectivos
sinais. Recomendações: Prosseguir com a construção dos recursos considerando a
cultura surda e posterior divulgação dos resultados de sua aplicação.
Descritores: Terapia Ocupacional, Jogos e Brinquedos, Cultura Surda, Libras,
Estimulação Precoce
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INTRODUÇÃO
Ao longo do tempo, a surdez vem ganhando seu espaço dentro de uma sociedade
ouvinte que se limita a aceitar as diferenças do outro. A notável dificuldade de
comunicação entre surdos e ouvintes, prejudica o diálogo e a compreensão de ambas as
partes, o que consequentemente gera exclusão, preconceito e principalmente a
imposição de uma língua que não é propriamente a língua materna do surdo.
Felipe (2007) relata que, os surdos se comunicam por meio de uma língua de
sinais, possuem uma identidade, valores sociais, comportamentos e tradições comuns,
uma reunião de características sociais, o que é denominado de cultura surda.
É multifacetada, mas apresenta características que são
específicas, ela é visual, ela traduz-se de forma visual. As formas de
organizar o pensamento e a linguagem transcendem as formas dos
ouvintes. Elas são de outra ordem, uma ordem com base visual e por
isso têm características que podem ser ininteligíveis aos ouvintes. Ela
se manifesta mediante a coletividade que se constitui a partir dos
próprios surdos (QUADROS; KARNOPP, 2004, p.4).
Com isso, tem-se em mente que, o lugar ideal para o contato precoce do surdo
com a sua cultura é dentro da própria comunidade surda, que se constitui de um espaço
de articulação política e social, onde o surdo se identifica e discute os meios para atingir
seus objetivos, seus direitos linguísticos e de cidadania.
De acordo com Fernandes (2005, p.18), “a capacidade humana de significação
se apresenta como uma competência específica para a operação, produção e
decodificação dos signos, permitindo através dessa faculdade, a produção dos
significados”. Isso nos remete a importância de a criança ser apresentada precocemente,
pois é durante seu desenvolvimento que estas passam a descobrir o mundo.
O conhecimento da importância da língua de sinais para esse grupo é vital, pois
é considerada a língua natural dos surdos, a sua aquisição possui um período crítico e
quanto mais tardiamente a criança tiver contato com esta comunidade e com a língua,
mais ela irá apresentar dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento.
A concepção bilíngue linguística e cultural luta para que o
sujeito surdo tenha o direito de adquirir/aprender a LIBRAS e que esta
o auxilie, não só na aquisição da segunda língua (majoritária), mas
que permita sua real integração na sociedade, pois ao adquirir uma língua estruturada o surdo pode criar concepções e oportunidades,
participando ativamente do convívio em seu meio (DIZEU;
CAPORALI, 2005, p.592).
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A visão é considerada um canal pelo qual o individuo tem contato com o mundo
externo. É por isso que ela é tão importante para a construção e percepção de mundo
própria do individuo. É através dessa via que naturalmente o surdo desenvolve sua
língua materna, Libras, e, portanto “elas demonstram uma inclinação imediata e
acentuada para a Língua de Sinais que, sendo uma língua visual, é para essas pessoas
totalmente acessível” (NERY; BATISTA, 2004, p.289). Assim, o surdo, através de
estímulos, é capaz de desenvolver e aprimorar suas habilidades, favorecendo
consequentemente, seu desempenho ocupacional.
Neste sentido, busca-se recursos visuais que favoreçam a estimulação precoce,
tornando o estímulo parte de um conjunto de hábitos necessários para o
desenvolvimento cognitivo do surdo, a fim de favorecer e melhorar sua comunicação e
relações interpessoais.
Na estimulação precoce, segundo Munguba (2007, p.386), “busca-se a
continuidade no processo natural do desenvolvimento, objetivando promove-lo de
forma harmônico e adaptado ao meio sem antecipar etapas evolutivas”. Munguba
(2007) ressalta a importância da mediação proposta por Vigotski, no processo de
desenvolvimento e aprendizagem e enfatiza o papel do meio no papel da autoconstrução
do conhecimento.
É proposto então, a partir desse estudo, tornar mais presente e eficaz a
intervenção precoce em crianças surdas. Sennyey et al (2007), afirma que o surdo pode
ter algumas áreas do seu desenvolvimento afetadas como, social, cognitivo e da
linguagem, por exemplo.
A estimulação precoce, com sua natureza preventiva, tem por
objetivo ações suficientemente antecipada, tendentes a evitar, atenuar
ou mesmo compensar atrasos provenientes de uma deficiência ou
dificuldade que a criança possa ter, diminuindo suas consequências
(OLIVEIRA, 2010, p.5).
Assim, é fundamental o diagnóstico de surdez o quanto antes, a fim de iniciar a
intervenção junto a criança e seus familiares, desde a aceitação até a aprendizagem da
língua de sinais, que é a língua própria do surdo. Fanceschi e Peruzzolo (2010) afirmam
que, o estimulador precoce deve ter um olhar diferenciado sobre a criança. Levando em
consideração o ser biológico, cognitivo, psíquico e social da criança.
Munguba (2007) enfatiza que a Terapia Ocupacional tem um papel determinante
no processo de compreender a identidade social e cultural desses indivíduos, devido ao
seu objeto de estudo que é o fazer humano gerando autonomia. É necessária a atuação
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desse profissional no desenvolvimento do surdo e seu relacionamento com sua família.
Esse profissional deve ser parte da equipe interdisciplinar no atendimento desse grupo.
Devendo assim, adotar como paradigma o respeito às diferenças entre surdos e ouvintes,
procurando uma melhor interação e possibilitando pleno desenvolvimento da criança
surda, por meio do bilinguismo e biculturalismo, já que a aquisição da língua de sinais e
internalização da cultura surda é a única maneira de evitar que sofra atraso de
linguagem e as suas consequências.
Para a inclusão desses indivíduos, dentro de uma sociedade ouvinte, busca-se
estratégias que facilitem a autonomia e independência do sujeito, sem que haja
mudanças de identidade para a sua aceitação.
Pensou-se então em usar a estimulação precoce como meio de contato do surdo
com sua língua natural, que é a Língua Brasileira de Sinais -Libras. Com os estudos,
observou-se que, a criança, quando em contato com sua língua materna, é capaz de
aprender mais facilmente uma outra língua, que nesse caso, seria o Português.
Para o inicio de tal intervenção, buscou-se materiais estratégicos e inclusivos
como recursos para facilitar o contato da criança surda com a língua de sinais. Esses
materiais estão sendo adaptados para a necessidade dessa clientela. No tocante a
sociedade identifica-se a possibilidade de desenvolvimento de promoção da preparação
da comunidade ouvinte para a inclusão de pessoas surdas.
Descrição da experiência
Trata-se de um relato de experiência de um recorte de um projeto do curso de
Terapia Ocupacional da Universidade de Fortaleza: “Intervenção precoce no surdo:
percepção dos profissionais e pais sobre a atuação do terapeuta ocupacional”, do projeto
guarda chuva intitulado: “Intervenção precoce no surdo: percepção dos profissionais e
pais sobre a atuação do terapeuta ocupacional”, com Parecer do Comitê de Ética em
Pesquisa da Unifor, No 341/2007, especificamente do subprojeto: “Estratégias de
atuação terapêutica ocupacional em intervenção precoce na clientela surda”.
Identificou-se a escassez de recursos de mediação na intervenção precoce
construídos utilizando a cultura surda como referência. Durante 2013 o grupo discutiu
estimulação sensorial, percepção visual e a sua relevância para o desenvolvimento da
criança surda, a constituição do sujeito surdo mediado pela língua de sinais. Em 2014.1
o grupo realizou encontros semanais enfrentando o desafio de construir recursos lúdicos
adequados às especificidades sensoriais e culturais da criança surda. Receberam maior
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atenção os estímulos visuais que favorecem a aquisição da língua de sinais. Ocorreu no
próprio campus da Universidade de Fortaleza, com encontros semanais, tendo como
participantes três alunos ouvintes, uma aluna surda e uma professora orientadora, todos
do curso de Terapia Ocupacional. Os encontros foram realizados às quintas-feiras, no
turno da tarde, intercalando estudo de artigos científicos, fundamentações teóricas da
Terapia Ocupacional, oficina de libras e construção de recursos lúdicos.
Após os estudos realizados, destaca-se a importância da Língua Brasileira de
Sinais – Libras como primeira língua a ser aprendida na infância através da estimulação
precoce bilíngue da criança surda; utilizando de recursos lúdicos e ainda da integração
sensorial, como meios de estimulação capazes de facilitar as habilidades visuo-manual
do surdo, favorecendo a aquisição e a prática da Libras. Com isso, concluiu-se que, a
família precisa aceitar e incentivar a aprendizagem da libras no período de
desenvolvimento da criança, o que não a impede de posteriormente aprender o
português.
Diferentemente das crianças surdas, filhas de pais surdos, que
adquirem a língua de sinais no convívio familiar, as filhas de pais
ouvintes comumente chegam à idade escolar sem o conhecimento de
uma língua. A língua majoritária na modalidade oral, comumente
usada em famílias ouvintes, lhes é inacessível. No entanto, mesmo não
partilhando a mesma língua que os pais, essas crianças desenvolvem
linguagem gestual (PEREIRA, 2008, p. 81).
A pesquisadora surda Strobel (2008, p.26) afirma que “a cultura surda exprime
valores, crença que, muitas vezes, se originaram e foram transmitidas pelos sujeitos
surdos de geração passada ou de seus líderes surdos bem sucedidos, através das
associações de surdos”. Cultura é um conceito que destaca formas de constituição de
subjetividades que auxiliam na determinação e organização de grupos (SÁ, 2006).
Em se tratando do surdo, este conceito tem um significado diferenciado, já que
ele se constitui na cultura surda que se trata do conjunto de significações simbólicas
veiculadas pelo uso de uma língua, de estratégias e códigos sociais utilizados pelos
surdos para viverem numa sociedade feita por e para ouvintes (SANTANA;
BERGAMO, 2005). Assim, conhecer a cultura surda e aprender a utilizar esse
conhecimento na abordagem ao povo surdo assim como na sensibilização de familiares,
profissionais e comunidade ouvinte, é determinante para o acadêmico de Terapia
Ocupacional.
Com a criação dos recursos, os alunos viram como muitos brinquedos são
inacessíveis ao surdo. Dessa forma, buscou-se adaptar brinquedos já existentes, criar
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novos e selecionar alguns para serem utilizados na intervenção precoce; trabalhando
contraste de cores, e ainda inserindo a Língua brasileira de sinais nesses recursos. O que
facilitará o contato e a aprendizagem da criança com sua língua materna. Para a
implantação do serviço, com os estudos realizados, e com o aparato do Núcleo de
Atenção Médica Integrada, em apresentar o setor de estimulação precoce de Terapia
Ocupacional e ofertar um espaço para aplicabilidade do projeto de pesquisa, a
motivação e dedicação dos acadêmicos se voltaram para que esses recursos em
construção tenha sua aplicabilidade o quanto antes, objetivando resultados satisfatórios
dentro do serviço.
Foi construído um tabuleiro para mediar a aprendizagem da criança surda sobre
as cores, os animais, tipos de emoções e o alfabeto manual, contrastando as cores a fim
de estimular a atenção da criança surda e aprendizagem da Libras. Também constitui o
grupo de recursos construídos o “jogo dos números” em Algarismo, Libras e Palitinhos.
Também está em fase de desenvolvimento um mural com imagens das atividades de
vida diária com o seu respectivo sinal. E o “encaixe das formas geométricas” associadas
aos respectivos sinais.
Recomendações
Tendo em vista o que foi estudado nas bibliografias utilizadas, pôde-se perceber
que as barreiras atitudinais e físicas, tanto da família como da sociedade, em relação à
surdez e à pessoas surda, geram consequências importantes para a constituição da
identidade surda. Percebeu-se a relevância de realizar estudos acadêmicos que busquem
meios de alcançar a inclusão social do surdo, sem que o mesmo necessariamente perca a
sua identidade. Com a estimulação precoce bilíngue alcança-se tanto o desenvolvimento
físico, cognitivo e social da criança surda, como fortalece a cultura surda e a Língua de
Sinais.
Identificou-se que devido à peculiaridade sensorial da criança surda, é necessário
desenvolver recursos que favoreçam a intervenção precoce contextualizada, a fim de
melhorar o desempenho ocupacional da criança surda. Percebeu-se a relevância de
realizar a construção de recursos voltados para o surdo para aplicabilidade deles durante
os atendimentos, visando a implantação de um serviço pioneiro no Ceará, voltado para o
respeito à cultura surda.
A construção dos recursos pelos acadêmicos é, portanto, uma das ferramentas
mais relevantes para se alcançar o objetivo geral da pesquisa e intervenção.
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Recomenda-se a continuidade da construção dos recursos considerando a cultura
surda e posterior divulgação dos resultados de sua aplicação.
REFERÊNCIAS
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