Perspectivas na Educação do surdo
013015
Data: Ago/2013
MARCIA REGINA ZEMELLA LUCCAS 1
Perspectivas na Educação do surdo
A língua de sinais é considerada a língua natural dos surdos, emitida através de gestos e com
estrutura sintática própria. Luria afirma que:
“A língua é um fator fundamental na formação da consciência. Permite, pelo
menos, três mudanças essenciais: atividade consciente de o homem ser capaz de
duplicar o mundo perceptível, de assegurar o processo de abstração e
generalização e de ser veículo fundamental de informação” (Luria, 1987, in
SABERES E PRÁTICAS DA INCLUSÃO, 2006, vol. 6, p.17.
Disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/txt/surdez.txt)
Podemos então dizer que, é por meio da língua que o indivíduo mantém relações com outras
pessoas de sua comunidade e também atua nessa comunidade interagindo e expondo suas ideias.
Sendo assim, podemos entender que a comunicação é, sem dúvida, o eixo da vida do ser humano
em todas as suas manifestações como ser social.
A linguagem é o meio ideal de transmissão de conceitos e sentimentos, além de fornecer elementos
para expandir o conhecimento, pois ela consiste na prova clara da inteligência do Homem.
“A palavra tem uma importância excepcional, no sentido de dar forma à
atividade mental e é fator fundamental de formação da consciência. Ela é capaz
de assegurar o processo de abstração e de generalização, além de ser veículo de
transmissão do saber. Os indivíduos que ouvem parecem utilizar, em sua
linguagem, os dois processos: o verbal e o não verbal. A surdez congênita e préverbal pode bloquear o desenvolvimento da linguagem verbal, mas não impede o
desenvolvimento dos processos não-verbais.”
(SABERES E PRÁTICAS DA INCLUSÃO, 2006, vol.6, p.15).
Marcia Regina Zemella Luccas é Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana - Fonoaudiologia pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP.
Graduada em psicologia pela Universidade Paulista-UNIP (1992) e em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP (1986).
Atualmente é professora da Universidade de Santo Amaro-UNISA, atuando principalmente nos seguintes temas: educação; educação inclusiva, surdez;
educação, educação inclusiva, educação de surdos.
1
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É importantíssimo ressaltar que o fato de um indivíduo ser surdo não pressupõe que não tenha
condições de se desenvolver, indica sim que será necessário oferecer a estes sujeitos diferentes
alternativas de comunicação que possibilitem o desenvolvimento do seu potencial linguístico,
Entre os grandes desafios para pesquisadores e professores de surdos situa-se o
de explicar e superar as muitas dificuldades que esses alunos apresentam no
aprendizado e no uso de línguas orais, como é o caso da língua portuguesa. Sabese que, quanto mais cedo tenha sido privado de audição e quanto mais profundo
for o comprometimento, maiores serão as dificuldades.
(SABERES E PRÁTICAS DA INCLUSÃO, 2006, vol.6, p.16).
Podemos então afirmar que, para propiciar o melhor desenvolvimento comunicacional do surdo,
faz-se necessária a utilização de alternativas de comunicação que possam propiciar um intercâmbio
efetivo entre surdos e ouvintes. Tendo em vista o bloqueio auditivo destes indivíduos, tais
alternativas devem basear-se em outros canais, tais como a visão, o tato e o movimento. Podemos
afirmar então que, as pessoas com surdez têm as mesmas possibilidades de desenvolvimento que
as pessoas ouvintes, porém precisam que tenham suas necessidades especiais supridas.
Professores em conjunto com familiares devem buscar alternativas para cada aluno, no sentido de
provocar o desenvolvimento pleno de suas potencialidades.
Ressaltamos aqui alguns requisitos básicos para que os alunos possam se desenvolver bem:
Podemos observar que nos últimos anos, um movimento na direção de mudança na concepção de
surdez. Em vez de deficiência, ela passa a ser concebida como diferença, caracterizada,
principalmente, pela forma de acesso ao mundo, pela visão, em vez de pela audição, como acontece
com os ouvintes. O acesso ao mundo pela visão inclui o direito e acesso à Língua de Sinais, que, por
ser de modalidade viso-motora, não oferece dificuldade para ser adquirida pelos surdos.
Esse movimento tem ganhado repercussões e conquistas significativas para a educação de surdos,
dentre as quais se destaca a aprovação da Lei Federal 10.098, de 19 de dezembro de 2000, a Lei da
Acessibilidade, que prevê a formação de intérpretes de Língua de Sinais para possibilitar aos
surdos o acesso à informação; da Lei Federal 10.436, de abril de 2002, que reconhece a Língua
Brasileira de Sinais como língua oficial das comunidades de surdos; e do Decreto Federal 5.626, de
22 de dezembro de 2005, que regulamenta os dois documentos anteriores.
Neste último documento – Decreto 5626 – chamamos a atenção para o uso do termo “surdo” em
lugar de “deficiente auditivo”, presente nos documentos anteriores. A pessoa surda é definida como
aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências
visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais. O mesmo
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documento reconhece o direito dos surdos a uma educação bilíngue, na qual a Língua de Sinais é a
primeira Língua, e a Língua Portuguesa, preferencialmente na modalidade escrita, é a segunda. A
modalidade oral da Língua Portuguesa é uma possibilidade, mas deve ser trabalhada fora do
espaço escolar.
Entendemos que a Língua de Sinais preenche as mesmas funções que a Língua Portuguesa falada
desempenha para os ouvintes e deve ser adquirida, preferencialmente, na interação com adultos
surdos que, ao usarem e interpretarem os movimentos e enunciados das crianças surdas na Língua
de Sinais às insira no funcionamento linguístico-discursivo dessa língua. Ao se referir à educação
bilíngue, Tovar (2000 in São Paulo SP, Secretaria Municipal, Toda Força ao 1º Ano: contemplando
as especificidades dos alunos surdos, SME, 2007) propõe que, ao mesmo tempo em que se propicia
o desenvolvimento linguístico na Língua de Sinais, deve-se começar um processo de sensibilização
em relação à escrita, suas funções e importância. Segundo o autor, pode-se conseguir fazer nascer
na criança surda a consciência da utilidade e do prazer da escrita, lendo contos e escrevendo
bilhetes e cartões para ela, lendo com ela, consultando anúncios, rótulos, etiquetas e livros na sua
presença, fazendo-a ver a sua utilidade em atividades da vida diária, como compras e passeios. Os
adultos próximos devem explicar, em Língua de Sinais, o conteúdo do texto. Desta forma, a criança
vai sendo introduzida na prática letrada e tem oportunidade, assim, de vivenciar experiências ricas
e prazerosas relacionadas à escrita.
A língua majoritária escrita é considerada segunda língua, no sentido de que a sua aquisição
pressupõe a aquisição da Língua de Sinais. Vários autores em seus estudos ressaltam que a língua
majoritária escrita é a segunda no sentido de que não basta possuir dela um conhecimento
fragmentado, como acontece comumente quando aprendemos uma língua estrangeira, mas sim
contextualizado. Seu ensino para alunos surdos deve ter como propósito formar leitores e
escritores competentes, independentemente do fato de oralizarem ou não. Tovar e Svartholm (in
SÃO PAULO- SP, SECRETARIA MUNICIPAL, TODA FORÇA AO 1º ANO: CONTEMPLANDO AS
ESPECIFICDADES DOS ALUNOS SURDOS, SME, 2007), chamam a atenção para o fato de que
não se pode ensinar a língua escrita a um surdo do mesmo modo que a um ouvinte pelo fato de que
o surdo não tem um referente oral. Segundo os autores, não são adequados os “métodos” que se
baseiam no ensino das letras e de suas combinações em sílabas. Vários autores enfatizam que a
criança surda vê palavras no papel e constrói conhecimento linguístico e gramatical por meio da
visão. Neste sentido, recomenda-se que o texto seja trabalhado como um todo e não cada palavra.
Visando ao aprendizado da Língua Portuguesa pelos alunos surdos, a escola deve propiciar o seu
uso como prática social, na qual eles possam relacionar forma e função. Em outras palavras, assim
como na exposição à Língua de Sinais, os alunos surdos devem ser inseridos em atividades que
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envolvam o uso da Língua Portuguesa em textos autênticos e não adaptados pelos professores, com
vocábulos e estruturas frasais simplificados.
Para entender melhor:
Diferenças e semelhanças na aprendizagem da escrita por alunos surdos e ouvintes:
As crianças ouvintes vão aprender o alfabeto e introduzindo palavras do universo da criança
correlacionando A da abelha, B da bola, etc. a criança surda não consegue estabelecer relações som
x letra; as silabas iniciais ou finais da palavra são destacadas para a constituição da consciência
fonológica; para os surdos não há a percepção das sílabas visto que a palavra é percebida por suas
propriedades visuais (ortográficas) e não as auditivas.
Para a criança ouvinte a leitura processa-se de forma linear e sintética (da parte para o todo); ao
pronunciar sequencias silábicas, a criança busca a relação entre imagens acústicas internalizadas e
as unidades de significado (palavras); para a criança surda a leitura se processa de forma analítica e
simultânea (do todo para o todo), ou seja, a palavra é vista como unidade compacta.
Quanto ao letramento da criança surda, a questão se modifica um pouco. A criança surda irá buscar
sentido nas palavras como um todo, sua aprendizagem será visual e não auditiva. É necessário que
a aprendizagem ocorra na interação do discurso, que essa aprendizagem seja dialógica. Como já foi
constatado, o surdo é visual, isto é, para que ele possa entender as mais diversas situações
cotidianas, faz uso de sua capacidade de interpretação visual, por meio de figuras, expressões
corporais e faciais e afins. É interessante que ofereçamos atividades que possam auxiliar no
aprendizado dos mesmos, fazendo uso constante da LIBRAS em suas atividades cotidianas
Como sabemos que o surdo tem como referência a visão, é importante que o professor faça sempre
que possível a junção da imagem à palavra/frase/ordem que é explicitada, como se pode observar
no exemplo a seguir:
Circule
Pinte
Diante de tudo que discutimos até agora, podemos constatar que para a inclusão educacional do
aluno com surdez, é imprescindível a compreensão das suas diferenças em relação ao aluno
ouvinte. Tivemos a oportunidade de discutir sobre quais e a importância de adaptações
curriculares nas nossas salas de aula para que o surdo aprenda. Pudemos observar a importância
das imagens e da necessidade que os alunos possuem de terem acesso a diversos materiais a
importância da interlocução aluno professor para sua aprendizagem.
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do artigo - Diversa - Educação inclusiva na prática