3. Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo - 37 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo “ As tecnologias de informação e comunicação não são mais uma ferramenta didáctica ao serviço dos professores e alunos… elas são e estão no mundo onde crescem os jovens que ensinamos” (ADELL,1997) A integração das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) no ensino é encarada como essencial para o desenvolvimento de um país através da formação de cidadãos mais e melhor preparados para um mundo em constante mudança. São necessários indivíduos com educação abrangente em diversas áreas, que demonstrem flexibilidade e capacidade de comunicação. Tornou-se primordial a promoção de uma educação e formação para todos os cidadãos ao longo da vida. As TIC prometem desempenhar um papel significativo potenciando professores e alunos. Melhor acesso e eficiência da educação e da formação são essenciais para o desenvolvimento. Embora geralmente se aceite que as TIC podem ser usadas de modo a facilitar a educação e a formação, existe um grande fosso entre os potenciais usos das TIC e o concretizado. Dificilmente se encontra outra área de aplicação onde o fosso entre os imagináveis benefícios e a realidade seja tão grande como na educação e formação. As políticas de introdução das TIC no ensino em Portugal datam de 1985. Este capítulo é não só um olhar sobre essas políticas e suas repercussões mas também o que isso significa a nível das estratégias e metodologias a adoptar de modo a dar resposta às necessidades mencionadas. Utilização da Internet em Portugal Compreender a importância da escola na facilitação do acesso às TIC é fundamental. Procurar a sua integração no ensino sem ter em conta esse papel seria no mínimo desajustado da realidade de um país que tende a acordar tarde para as inovações tecnológicas. Interessa por isso conhecer a realidade do país no que diz respeito ao acesso às tecnologias da informação. - 38 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo A utilização da Internet em Portugal ainda não se generalizou, verificando-se diferenças significativas entre classes sociais14. Dos que possuem acesso à Internet 13,1% não a utilizam. Não possuem acesso à Internet 61,0% dos portugueses. Relativamente aos que a utilizam e segundo os últimos dados, 80% dos indivíduos que costumam utilizar a Internet utilizam o correio electrónico, que se posiciona assim como a ferramenta mais frequente junto destes indivíduos. A transferência de ficheiros é outra das utilizações mais frequentes, com 46,5% de referências no período (trimestre móvel de Setembro a Novembro de 2002). Da mesma forma, a utilização de IRCs ou Chats é também frequente e situa-se nos 32,5%, ao passo que outras utilizações, como jogos online ou a consulta de newsgroups, obtêm menores índices (16,2% e 12,9%, respectivamente). No que diz respeito às finalidades de utilização da Internet, a formação pessoal, bem como fins profissionais, a obtenção de notícias e o divertimento são os mais referidos, seguindo-se os fins académicos, a procura de produtos e serviços, o convívio e outros (Gráfico 3-1) . Gráfico 3-1 Finalidades de utilização da Internet De assinalar o facto de a utilização com fins académicos aparecer em quinto lugar atrás do divertimento e a formação pessoal em primeiro. Sinal de uma inequívoca importância dada à Internet na formação pessoal. Mais de metade das pessoas que costumam utilizar a Internet fazem-no em seu benefício a nível da formação. 14 Valores obtidos em 23 de Abril 2003 no site da empresa Marktest que realiza desde 1996 estudos de penetração da Internet em Portugal. Disponível em (http://www.marktest.pt/produtos_servicos/Bareme_Internet/default.asp?c=1013&n=451 ) - 39 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo Alguns dados sobre as TIC nas escolas O número de computadores nas escolas por aluno segundo dados de 2002 é de 19 alunos por computador15. Destes cerca de metade está ligado à Internet perfazendo 38 alunos por computador. Comparando estes valores com os do relatório europeu dos indicadores básicos de integração das TIC no ensino (EURYDICE, 2002) verificamos que Portugal ainda tem de realizar um largo esforço para acompanhar os seus parceiros europeus que já atingiram as metas propostas nos planos estratégicos16. Verifica-se que a média europeia se situa entre 8,6 alunos por computador e 14,9 alunos por computador com ligação à Internet. Gráfico 3-2 Número de alunos por computador (ISCED2,3) fonte :(Eurydice,2002) EU B DK D EL E F IRL I L NL A P FIN S UK U.EUR. BELGICA DINAMARCA ALEMANHA GRECIA ESPANHA FRANÇA IRLANDA ITALIA LUXAMBURGO HOLANDA AUSTRIA PORTUGAL FINLANDIA SUECIA REINO UNIDO Introdução das TIC no ensino: breve percurso histórico Nos finais da década de 80 iniciou-se o que agora é conhecido por revolução tecnológica no domínio das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). No relatório “Educação, um tesouro a descobrir”, recomenda-se “que os sistemas educativos devem dar resposta aos múltiplos desafios das sociedades da informação, na perspectiva dum enriquecimento contínuo dos saberes e do exercício duma cidadania adaptada às exigências do nosso tempo” (UNESCO, 1996). Na Europa lançou-se em 1999 a iniciativa"eEurope –Sociedade da Informação para Todos"17 com o objectivo de 15 Informação do DAPP disponível on-line em 23 Abril 2003 em http://www.dapp.minedu.pt/d/estat/01_02/ep_racios.html 16 A estratégia nacional está norteada pelas políticas europeias – eEurope e Plano de Acção eLearning, designing tomorrow’s education - que pretendem fomentar a utilização das TIC, nomeadamente da Internet, para melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem. 17 http://www.europa.eu.int/comm/elearning - 40 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo disseminar rapidamente as novas tecnologias e promover as competências necessárias a todos os cidadãos. Para o período 2000-2004 a Comissão europeia lançou o plano de acção eLearning de modo a explorar as potencialidades das TIC no ensino. Em Portugal o “Projecto Minerva” (Meios Informáticos No Ensino: Racionalização, Valorização, Actualização) que decorreu entre 1985 e 1994 com o objectivo de introduzir os meios informáticos no ensino constituiu a primeira grande iniciativa neste domínio. O “Projecto Minerva” esteve longe de solucionar todos os problemas inerentes à introdução das TIC na educação mas lançou as bases para novos desenvolvimentos das escolas no domínio das TIC (SILVA, 2001). A evolução das tecnologias deu-se igualmente de forma surpreendente tendo surgido em 1996 o “Programa Nónio – Século XXI”. A aposta era no domínio das tecnologias multimédia e das redes de comunicação. No contexto da iniciativa eEurope, o Governo Português e no sector da Educação criou um Grupo Coordenador dos programas de introdução, difusão e formação em TIC, encarregado de produzir um Plano de Acção para a Educação no âmbito das TIC para dar continuidade ao Programa Nónio. O documento de referência (Estratégias, 2001) projecta para um horizonte até 2006. O formato do documento é um misto de documento de estratégias e de documento para a acção. Em 2001-2002 com as reformas do 3º ciclo do EB e do ES as TIC entram de forma explícita nos currículos nacionais. Repercussões curriculares da integração das TIC na escola Da análise dos Projectos Nónio, sobressai o facto que na concepção e apresentação dos mesmos por parte das escolas há objectivos comuns que podem personificar a identidade das Escolas Nónio, tais como (SILVA e SILVA, 2001): • Formar a comunidade escolar para as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC); • Proporcionar a emergência de novas práticas educativas; • Proporcionar aos alunos hábitos e competências baseados na consulta, tratamento e produção da informação; • Garantir uma maior igualdade de oportunidades no acesso dos alunos às TIC; - 41 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo • Proporcionar o intercâmbio com outras escolas; • Promover o desenvolvimento da Escola. Percebe-se que os professores, reconhecem as TIC não apenas como instrumentos que permitem uma interacção ao nível dos conteúdos mas que as TIC contêm potencial estratégico para renovar a escola. As repercussões provocadas pela integração das TIC, no âmbito do Nónio, são reconhecidas (SILVA e SILVA, 2001) a nível: da organização, da relação com os conteúdos e da metodologia. Repercussões organizativas ao nível das instâncias de decisão Escolas - na reorganização e gestão do tempo, espaços, recursos financeiros e humanos. A avaliação é positiva tendo-se verificado por exemplo uma reorganização pedagógica e administrativa profunda. Centros de Competência e Meio envolvente (como Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia e outros como agentes económicos e sociais como associações de pais) que cederam equipamentos, espaços e material didáctico. Apesar de nas escolas do primeiro ciclo ter sido positivo ficou de uma maneira geral aquém do esperado. Já com os Centros de Competência, a avaliação é considerada positiva quer no apoio prestado às escolas quer na forma como se evoluiu na prestação desse apoio. Ministério da Educação. Principal fonte financeira não correspondeu às expectativas tendo-se verificado cortes nos projectos para além de que a forma não foi considerada adequada. Infra-estruturas tecnológicas ao nível dos espaços e equipamentos com a criação de espaços próprios e a aquisição de equipamentos. Repercussões em relação aos conteúdos Desenvolveram-se actividades concretas como por exemplo a produção do Jornal da Escola. Desenvolvimento de trabalho em equipa por professores, utilização em contexto dos currículos alternativos e de apoio pedagógico acrescido. Intercâmbio entre escolas a nível nacional e internacional Repercussões em relação à metodologia Prende-se com o facto de se criarem metodologias singulares e variadas, adaptadas ao perfil dos alunos e contextos de aprendizagens. - 42 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo Comportamentos e aprendizagens – Os resultados apontam para um impacto favorável e positivo nos diferentes domínios de aprendizagem. Nomeadamente a nível de novas estratégias de acesso à informação, ao saber e ao conhecimento e de competências relacionadas como trabalho de grupo. Nos professores a nível da prática pedagógica salienta-se uma mudança de atitudes na planificação e organização de actividades interdisciplinares e transdiscisplinares. Formação dos professores. Vertente assumida desde início é avaliada de forma positiva tendo-se traduzido na realização de cursos de formação propostos aos centros de formação e de workshops. Primeiras utilizações do computador na disciplina de Física-Química Em meados de 80 apareceram os primeiros computadores divulgados e a custos acessíveis. O Sinclair Zx-Spectrum, por exemplo, era uma máquina muito comum e que era ligada a um simples televisor. O entusiasmo foi grande até porque era usada por muitos jovens como máquina de jogos. As primeiras aplicações eram muito simples e as listagens dos programas divulgados nos manuais escolares. A ênfase era colocada na programação, já que eram os próprios alunos que passavam o programa para a máquina. A linguagem utilizada era o Basic e várias foram as propostas apresentadas, nomeadamente: • na visualização da trajectória no lançamento de projécteis onde os alunos eram convidados a acertar num alvo a uma determinada distância. • e no caso da química a produção de riscas espectrais recorrendo ao modelo de Borh (SÁ, 1985). Com a vulgarização dos PC´s nas escolas e dos sistemas de aquisição de dados, verificou-se alguma dinamização na utilização do computador como ferramenta nos laboratórios. A proliferação de software promovido através de concursos realizados por instituições do estado e desenvolvido no país foi incentivada assim como as editoras de manuais escolares têm procurado, ainda que timidamente, desenvolver alguns projectos específicos para a disciplina de Física-Química. Neste âmbito destaca-se o portal MOCHO18 dedicado à ciência. 18 http://www.mocho.pt/ - 43 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo As TIC no currículo: diferentes perspectivas As abordagens possíveis com vista a integração das TIC no ensino são diversas e condicionadas pela forma como os diferentes intervenientes perspectivam o Ensino. Uma forma de introduzir as TIC nos currículos é a criação de mais uma disciplina para formação em TIC e que não exclui obviamente a utilização das TIC nas diversas disciplinas. A outra perspectiva privilegia a integração e a transversalidade como a inicialmente adoptada na primeira proposta de reorganização curricular do ensino básico recentemente iniciada no nosso país (2002). Esta última, promove um ensino menos compartimentado, mais ligado à realidade e que procura uma dimensão global e integrada (CURR.NAC, 2001). Tal significa que, no currículo deste nível de ensino, as TIC passam a ter presença inequívoca na acção pedagógica em todas as disciplinas e áreas disciplinares, bem como nas áreas curriculares não disciplinares19. Constitui ainda formação transdisciplinar de carácter instrumental a utilização das tecnologias de informação e comunicação, a qual deverá conduzir, no âmbito da escolaridade obrigatória, a uma certificação da aquisição das competências básicas neste domínio. No entanto e no decurso de alterações de ordem política foram introduzidas alterações a essa primeira proposta no que concerne a introdução das TIC. No ensino básico foi introduzida no último ano (9º ano de escolaridade) uma disciplina específica assim como nos anos seguintes já no Ensino Secundário. A esse propósito pode ler-se em documentação do ministério da Educação: “A transversalidade potencia a desigualdade de acesso e de desenvolvimento educativo, beneficiando os que usufruem de um ambiente familiar com maior capital cultural, mas relegando para a iliteracia digital os social e culturalmente desfavorecidos. O ensino obrigatório das TIC é um imperativo educativo, mas também social e cultural. Não basta saber aceder à Internet, substituir a máquina de escrever por um processador de texto ou construir um gráfico a partir de uma folha de cálculo. As técnicas e o domínio dos processos de sistematização e tratamento de informação, das aplicações ligadas ao desenho assistido por computador, ou a capacidade de produzir conteúdos para Internet, são domínios estratégicos do conhecimento a que não poderemos ficar alheios. Não nos podemos circunscrever à formação de potenciais consumidores de informação. Pelo contrário, o desafio da escola do futuro está na capacidade de formar para a produção, tratamento e difusão de informação.” (REFORMA ES, 2003) 19 Área projecto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica - 44 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo Estas alterações têm no entanto sido alvo de uma acesa discussão. A criação de disciplinas específicas são vistas por muitos como algo limitador e negativo. A esse propósito cita-se (PEREIRA, 2003): “parece-me imperioso afirmar que não faz qualquer sentido no secundário uma disciplina independente de Tecnologias de Informação e Comunicação,(…) . As TIC, nesta fase, deverão ser assumidas duma forma generalizada e transversal e se houver alguma necessidade de as incluir de uma forma descontextualizada no currículo, tal só faria sentido no 1º e/ou 2º ciclo do Ensino Básico!” Reforçando a ideia de que a existência de uma disciplina específica, a existir deverá ocorrer cedo no currículo mínimo obrigatório. Ainda acerca da reforma: “Tanto o CNE como as associações de professores se insurgiram contra esta opção nos pareceres enviados à tutela, alegando que a disciplina não tem conteúdo. Mas para o ministro trata-se de uma questão de princípio: alterar seria contrariar a filosofia da revisão.” (PUBLICO, 2003) A argumentação por uma utilização educativa das TIC integrada em contexto curricular incide na versatilidade e no significado que podem adquirir as aprendizagens nestas condições. Ao defender-se a transversalidade todos os professores são professores de TIC. Desenvolveu-se paralelamente um vasto consenso em torno do facto de que as TIC podem favorecer aprendizagens baseadas na curiosidade, na descoberta e na experimentação (RELATÓRIO, 2000). De modo a se compreender a reforma inicialmente prevista atente-se no quadro que se segue (ESE, 2001): - 45 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo Tabela 3-1- Algumas notas reforma no ensino básico face às TIC Princípios orientadores Novas áreas curriculares (articuladas entre si e com as áreas disciplinares, incluindo uma componente de trabalho dos alunos com as TIC) Desenvolvimento do Currículo Escola Realização de aprendizagens significativas (contextualização dos saberes), diversidade de metodologias e actividades de aprendizagem com recurso às TIC 3 novas áreas curriculares não disciplinares (Área de projecto, Estudo Acompanhado, Formação Cívica) ... e ensino experimental das ciências. Da responsabilidade do professor da turma (1º ciclo) e Conselho de Turma (2º e 3º ciclos) Novas práticas de gestão curricular (flexibilidade face aos contextos: projecto curricular de escola e de turma) Espaço de educação para a cidadania...oferecendo espaços de efectivo envolvimento dos alunos e actividades de apoio ao estudo Formações Transdisciplinares Educação para a cidadania, domínio da língua portuguesa e valorização da dimensão humana do trabalho e utilização das TIC Área de Projecto Concepção, realização e avaliação de projectos (articulando saberes das diversas áreas em torno de problemas ou temas de pesquisa/intervenção de acordo com necessidades e interesses dos alunos) Estudo Acompanhado Apropriação de métodos de estudo e trabalho com vista a uma maior autonomia na realização das aprendizagens Formação Cívica Desenvolvimento da consciência cívica com recurso ao intercâmbio de experiências vividas pelos alunos e à sua participação na vida da turma, escola e comunidade Formação para a utilização das TIC Conduz a uma certificação da aquisição das competências básicas neste domínio Actividades de enriquecimento do currículo Facultativas, de carácter lúdico e cultural (no domínio desportivo, artístico, científico e tecnológico) Diagnóstico (articulada com estratégias de diferenciação pedagógica) Avaliação Formativa (regulação do ensino e da aprendizagem) Sumativa Provas nacionais de aferição Formação de Professores Avaliação do desenvolvimento do currículo, não produzindo efeitos na progressão escolar dos alunos Modalidades centradas na escola e nas práticas profissionais, com atenção especial às áreas curriculares não disciplinares Nas alterações introduzidas (introdução de uma disciplina específica de TIC) não se invalida a utilização das tecnologias nas outras disciplinas. A sua aplicação decorre naturalmente como uma adaptação às necessidades da nossa sociedade e das orientações curriculares do ensino básico que não foram alteradas. - 46 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo As opções na Europa Na maioria dos países europeus as TIC, no ensino obrigatório, são utilizadas como ferramentas de trabalho em outros assuntos. De uma maneira geral são usadas como ferramentas em projectos, na promoção da interdisciplinaridade entre outros usos. Existem ainda países que, pelo menos até 2001 (EURYDICE, 2002), não incluíam as TIC no currículo (ISCED 1)20 (Grécia, Itália, Republica Checa, Chipre, Látvia, Lituânia e Eslováquia). Em alguns países as TIC para além da sua utilização como ferramenta são também matéria obrigatória no currículo mínimo: Holanda, Reino Unido (excepto Irlanda do Norte), Islândia, Polónia e Eslovénia. A Hungria e a Roménia apenas a incluem como assunto específico do currículo. Gráfico 3-3 - Uso das TIC no ensino obrigatório na Europa (ISCED 1) - 2000/2001 (fonte: Eurydice, 2001) No 3º ciclo (ISCED2) verifica-se uma alteração de postura em grande parte dos países, passando a ser um tema tratado isoladamente. No entanto, em Portugal, as TIC continuavam até 2002 integradas e usadas como ferramentas em outros assuntos. A manterem-se as recentes alterações de Abril de 2003 passa Portugal a incluir as TIC como assunto específico. 20 Classificação internacional da educação (ver Apêndice - C) - 47 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo Gráfico 4-4 Uso das TIC no ensino obrigatório na Europa (ISCED 2) - 2000/2001 (fonte: Eurydice, 2001) A tecnologia e o ensino As tecnologias da informação até à década de 80 no ensino eram perspectivadas sob três pontos de vista: como “tool” “tutor” e “tutee”. Assim tínhamos educadores que advogavam o seu uso como ferramentas,"tools, (processadores de texto, folhas de calculo), os que o viam essencialmente como auxiliares de ensino “tutor”, (tuturiais, simulações, exercícios) e os que acreditavam que o seu potencial se encontrava na programação "tutee". Cada uma destas utilizações tinha o seu lugar. Nos últimos anos temos testemunhado alterações profundas na sociedade. No passado os objectivos da educação reflectiam a ênfase da sociedade na necessidade de competências básicas (ler, escrever e aritméticas) e num conjunto de informações consideradas essenciais. No entanto a quantidade de informação considerada importante é cada vez maior. O mundo está em rápida mudança e não é possível confinar os objectivos da educação a conhecimentos ou competências específicas. A ênfase deverá ser colocada em outras capacidades, o aprender a aprender, que ajudará no futuro os cidadãos a lidar com as inevitáveis mudanças. O conhecimento, em rápida desactualização implica o desenvolvimento de estratégias metacognitivas e a aposta na formação ao longo da vida. Trata-se de formar pessoas preparadas para esta nova sociedade: a Sociedade da Informação. Trata-se de formar não conhecedores mas aprendedores (Tabela 3-2). - 48 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo Tabela 3-2 O conhecedor versus aprendedor Conhecedor Aprendedor Consulta a informação do passado Projecta a informação no futuro Acomoda factos e conceitos Aplica e experimenta o Armazena factos e conceitos sem conhecimento os relacionar Cria e elabora redes conceptuais Aplica os conhecimentos a Cria soluções específicas para cada problemas específicos problema Modifica os estímulos externos Modifica a compreensão para para se adaptarem à compreensão explicar os estímulos É passivo, espera que lhe chegue a É pró activo – procura avidamente informação. novas experiências Estratégias O Gráfico 3-5, sobre a eficácia de diversas estratégias dá indicações das potencialidades das TIC para a implementação das estratégias mais eficazes assim como da forma como devemos pensar essa integração. Eficácia de e s traté gias Ens inar outros \us o im e diato do conhe cim e nto Pratica e xpe riem e ntal 90 75 50 Grupo 30 Dem onstração 20 Audio-vis ual 10 Leitura 5 Pales tra 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Taxa m é dia de re te nção % Gráfico 3-5 Eficácia de estratégias no ensino Fonte : “Effectiveness of instructional strategies”- National Training Laboratories, Bethel, Maine(1986) Proporcionar experiências de aprendizagem onde o aluno possa experimentar e aplicar o conhecimento é proporcionar a construção do conhecimento pelo indivíduo. Interagindo com o mundo que o rodeia, constrói, testa e refina representações cognitivas - 49 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo de modo a compreender esse universo. Trata-se de “ensinar construtivamente uma ciência construtivista” (PEREIRA, 2001). Para muitos educadores (ROBLYER et al, 1996) não é possível construir um currículo que reflicta características construtivistas sem as tecnologias. As metodologias construtivistas assentam em alguns preceitos fundamentais: • Dar relevo a competências ancorando-as em experiências de aprendizagem significativa, autenticas e altamente visuais • Desempenho de um papel activo por parte dos alunos em actividades interactivas e problemas motivantes; • Ensinar os alunos a trabalhar em conjunto na resolução de problemas quer em grupo quer em actividades de colaboração • Ênfase na motivação com actividades motivadoras. Os sete princípios de Cunningham (BOYLE, 1997) formam uma rede muito útil para o desenho de ambientes de aprendizagem construtivistas: 1. Proporcionar experiências do processo de construção do conhecimento – experiências de aprendizagem. 2. Proporcionar a experimentação e a apreciações de perspectivas múltiplas. 3. Aprendizagem realizada em contexto real e relevante. Realização de tarefas autenticas e com significado, tarefas baseadas na resolução de problemas relevantes para o mundo real. 4. Encorajar a apropriação e participação no processo de aprendizagem. Encorajar os alunos a escolher os problemas a abordar, assumindo maior responsabilidade pelo processo de aprendizagem. 5. Aprendizagem realizada em contexto social. Configurações colaborativas diversas, como a relação do tipo mestre-aprendiz ou entre pares. Na primeira o professor desempenha um papel de facilitador, providenciando pistas, comentários e levando a cabo as tarefas que os alunos ainda não conseguem realizar sozinhos. Gradualmente o professor vai retirando o seu apoio proporcionando uma cada vez maior independência do aluno. No segundo tipo de colaboração supõe-se que os indivíduos apreendem bastante melhor os processos de construção do conhecimento, negociação e refinamento numa comunidade de pares. - 50 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo 6. Encorajar modos de representação múltiplos. 7. Encorajar a consciencialização do processo de construção do conhecimento metacognição. Assente nestes princípios apresentam-se algumas propostas de estratégias para a integração das TIC baseada em modelos construtivistas: • Integração para gerar motivação na aprendizagem. • Integração para promoção da criatividade. • Integração para facilitar a auto analise e a meta cognição. • Integração para aumentar a transferência de conhecimento na resolução de problemas. • Integração para promover a cooperação em grupo. Actividades As actividades realizáveis são centradas basicamente num uso da tecnologia que permita: • Comunicar e trocar ideias. • Aceder e analisar informação. • Resolver problemas. • Produzir e apresentar ideias. Várias actividades tipo com vista a integração das TIC em contexto educativo, são possíveis de modo a implementar as estratégias mencionadas (ROERDEN, 1997): • Correspondência. Promover a comunicação por e-mail com outros alunos mais velhos; listas temáticas (newsletters), listas de grupos (onde todo o grupo recebe a mensagem enviada por um dos elementos). • Orientação por peritos. • Tirar partido dos recursos na Internet. • Colaboração em rede – com outras escolas em projecto. • Consulta de opinião – Votações, fóruns. • Desafio cooperativo – os alunos vão procurar resolver um problema de forma cooperativa. • Acção Social – os alunos identificam um problema e procuram soluciona-lo através dos serviços disponíveis. - 51 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo • Ligação à comunidade desenvolvimento de jornais on-line, clubes. • Simulação – recurso a simulações e na recriação de situações. • Publicação na Internet de sites (da turma por exemplo, de cada aluno). • Multimédia – actividades com recurso a ferramentas multimédia (vídeos, fotografias etc.). Claro que o uso do computador se estende para além destas actividades, nomeadamente como ferramenta de treino. No entanto a sua utilização não integrada numa actividade real poderá remeter a aprendizagem para outros modelos educacionais. O professor Neste contexto onde o tipo de actividades está centrado no aluno e no desenvolvimento das suas competências o papel do professor, altera-se sendo necessários professores com um perfil diferente do tradicional. Os professores devem ser capazes de decidir qual a melhor metodologia que se adapta aos objectivos da aprendizagem a realizar, como utilizar as TIC e identificar as metodologias adequadas para as integrar no ensino (PICTTE, 2000). A escolha de uma determinada metodologia deve ser baseada na participação dos alunos. Na prática o professor deixa de ser o detentor do conhecimento e avaliador de conhecimento, passa a ser mais a de facilitador da aprendizagem, motivador e avaliador da construção dessa aprendizagem. Cabe-lhe proporcionar experiências diversas com vista ao desenvolvimento das competências desejáveis tais como promover discussões, disponibilizar acesso à informação, promover experiências de aprendizagem diversificadas, dar ajuda na medida necessária gerindo a sua intervenção. Mas as suas funções não se resumem a funções pedagógicas, pois na prática e por motivos logísticos acrescem-se sempre outras tais como: • Coordenador e gestor dos recursos • Preparador de equipamento Este novo perfil exige uma formação diferente. Tornam-se fundamentais a formação técnica ao nível das ferramentas e instrumentos – competência técnica – mas também a aquisição e desenvolvimento de novas competências didácticas e pedagógicas. - 52 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo No Tabela 3-3 apresenta-se o perfil definido no âmbito do projecto europeu Profiles in ICT for teachers education (2000) Tabela 3-3 Perfil do professor em TIC Abertura à inovação tecnológica Aceitação da tecnologia Capacidade de adaptação/mudança do papel do professor. Ensino centrado no aluno, aberto à participação do aluno. Professor como mediador e facilitador da comunicação. Atitudes Ensino geral Ensino da disciplina Competências Competências TIC Metodologias de ensino com as TIC. Planeamento das aulas com as TIC Integração dos media Monitorização/avaliação Avaliação de conteúdos TIC Questões de segurança, de ética e legais na utilização das TIC. Actualização científica. Investigação. Avaliação de recursos. Integração na comunidade científica Ligação a possíveis parceiros Utilização de materiais em outras línguas. Participação em newsgroups. Actualização de conhecimentos em TIC/plataformas e ferramentas TIC. Familiarização com ferramentas que sirvam para: Comunicar Colaborar Pesquisar Explorar Coligir dados Processar dados Expandir conhecimentos Integrar ferramentas A avaliação dos alunos Esta abordagem do ensino é diferente da tradicional e modelos diferentes de ensino implicam diferentes abordagens também no que diz respeito à avaliação. Uma visão radical da avaliação é apresentada por Cunningham, que rejeita a ideia de uma avaliação objectiva. Defende que a avaliação é inerente à conclusão da tarefa: “.. quando o ensino é envolto de situações onde os estudantes se envolvem em tarefas reais, a avaliação surge naturalmente dessas situações” (CUNNINGHAM, 1991). As importantes competências a desenvolver não se reflectem em testes realizados fora do contexto de aprendizagem. No entanto, torna-se necessário que quer os objectivos - 53 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo traçados quer a avaliação sejam aceitáveis pelas partes interessadas da comunidade educativa (pais, alunos, professores, etc.). Um dos principais problemas desta avaliação reside na ênfase dado ao trabalho em grupo e tarefas colaborativas: “Como saber que os indivíduos que constituem um grupo aprenderam? “. Alguns instrumentos de avaliação podem ser implementados de modo a ultrapassar em parte algumas das dificuldades. A nível da avaliação formativa a realização de testes on-line sempre disponíveis para os alunos assim como jogos proporcionam o feedback necessário quer ao professor quer ao aluno. Outros instrumentos como portfólios e realização de uma “avaliação da performance” proporcionam uma avaliação do processo de construção realizado pelo aluno. Na avaliação da performance os alunos demonstram o que sabem aplicando o conhecimento, numa exposição, demonstração, projectos etc. A sua implementação assenta fundamentalmente em dois princípios (ROERDEN, 1997): • Definição clara dos critérios de sucesso. • Que os estudantes demonstrem o que aprenderam em contexto real. Na avaliação da performance (Tabela 3-4) dever-se-á procurar que todas as partes envolvidas participem na avaliação. Assim num projecto realizado em grupo o aluno não só realiza a avaliação global do desempenho e resultado final como faz a auto-avaliação e hetero-avaliação de todos os participantes, contribui igualmente com a sua apreciação para a avaliação dos trabalhos apresentados por outros grupos. Tabela 3-4 Avaliação da performance • Permite avaliar de forma global e integrada um projecto • • A avaliação está integrada na formação. Recurso a portfólios com amostras dos trabalhos dos alunos. • Deriva directamente de critérios claros e conhecidos dos alunos. • Permite a avaliação por várias pessoas. • Está relacionada intimamente com aprendizagens a realizar. • Promove nos alunos a capacidade de avaliar o seu próprio trabalho. - 54 - Integração das Tecnologias da Informação e Comunicação em Contexto Educativo Na avaliação do trabalho de grupo o conhecimento dos critérios de avaliação por parte dos alunos é um elemento central na promoção do seu desempenho. O conhecimento por todos dos critérios de avaliação das competências do trabalho em grupo (ouvir, ajudar, respeitar, questionar, partilhar, participar, persuadir) funciona como elemento orientador do desempenho. - 55 -