CASSANDRA CLARE
A Cidade das Almas
Perdidas
CACADORES DE SOMBRAS 5
Tradução de Nuno Daun e Lorena
Para Nao,
Tim, David
e Ben
Nenhum homem escolhe o mal pelo mal;
confunde-o apenas com a felicidade que procura.
Mary Wollstonecraft
Prólogo
Simon olhava, aturdido, para a porta da única casa que conhecia, a casa
onde crescera, onde brincara, onde chorara a morte do pai, onde beijara
Clary pela primeira vez, incapaz de acreditar que não podia entrar nela.
A última vez que estivera com a mãe, esta chamara-lhe monstro e
suplicara-lhe que saísse de casa. Simon fizera-lhe um feitiço para que ela
esquecesse que tinha um filho vampiro, mas o efeito passara.
A porta estava cheia de sinais – estrelas-de-david pintadas, o símbolo da
vida, Chai, gravado, amuletos pendurados na maçaneta e no batente da
porta, um hamsá, a Mão de Deus, a tapar o postigo.
Estarrecido, o rapaz tocou no mezuzá de metal afixado no lado direito
da ombreira, mas não sentiu nada quando ele fez fumo, apenas um vazio
terrível que se transformou em raiva.
Simon deu um pontapé na porta.
– Mãe! – gritou ele. – Sou eu!
Nenhuma resposta, apenas o som dos fechos de segurança a correrem,
os passos, a respiração e o cheiro do pânico.
– Mãe, isto é ridículo! Deixe-me entrar! Sou eu, o Simon!
A porta trepidou, como se ela lhe tivesse dado um pontapé.
– Vai-te embora – ouviu-a gritar com voz rouca, irreconhecível por causa
do terror. – Assassino!
– Eu não mato pessoas – replicou Simon, encostando a cabeça à porta,
consciente de que era capaz de a abrir com um pontapé, mas para quê?
– E já lhe disse que só bebo sangue de animais.
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– Mataste o meu filho – disse ela. – Mataste-o e substituíste-o por um
monstro.
– Eu sou o seu filho…
– Tens a mesma cara e a mesma voz, mas não és o meu filho, não és
o Simon – quase gritou ela. – Vai-te embora antes que te mate, monstro!
– O que disse à Becky? – perguntou, sentindo lágrimas no rosto, limpando-as e vendo que eram vermelhas.
– Não te aproximes da Becky. – Simon ouviu um barulho, como se qualquer coisa tivesse caído ao chão.
– Mãe – repetiu num murmúrio rouco, sentindo as mãos a tremer.
– Preciso de saber se a Becky está aí. Abra a porta, mãe, por favor…
– Não te aproximes da Becky! – Simon ouviu-a afastar-se, em seguida
ouviu o guincho da porta da cozinha a abrir-se, os passos dela no linóleo,
o som de uma gaveta e o rapaz imaginou-a a pegar uma faca.
Eu mato-te, monstro.
O pensamento fê-lo recuar. Se ela o atacasse, a Marca matá-la-ia, tal
como acontecera a Lilith.
Simon baixou a mão, desceu os degraus do alpendre aos tropeções, foi
encostar-se ao tronco de uma das grandes árvores que davam sombra ao
quarteirão e pôs-se a olhar para a porta da casa, desfigurada pelos símbolos
de ódio da mãe.
Não, pensou, ela não me odeia. A mãe pensava que ele morrera, o que
ela odiava não existia. Eu não sou quem ela pensa.
O telemóvel começou a tocar e a vibrar, arrancando-o ao devaneio.
Simon tirou-o da algibeira do casaco, reparou que o padrão do mezuzá – as
estrelas-de-david entrelaçadas – lhe ficara gravado na palma da mão,
mudou o aparelho para a outra e atendeu.
– Está?
– Simon? – Era Clary, ofegante. – Onde estás?
– Em casa – respondeu. – Em casa da minha mãe – emendou o rapaz
após uma pausa, ouvindo a própria voz, oca e distante. – E tu? Estás no
Instituto? Está tudo bem?
– É esse o problema – disse ela. – Depois de teres saído, Maryse apareceu
a dizer que Jace não está no terraço. Não está ninguém no terraço, Simon.
Sem se aperceber, como se fosse um boneco mecânico, Simon começou
a andar na direcção do metro.
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A CIDADE DAS ALMAS PERDIDAS
– Que queres dizer com isso? Como não está lá ninguém?
– Jace desapareceu – respondeu ela com voz tensa. – E Sebastian também.
Simon parou por baixo de uma árvore de ramos nus.
– Mas Sebastian está morto, Clary…
– Se está morto, explica-me como não está lá, porque não está – replicou
ela, quase sem voz. – No terraço só há sangue e vidros partidos. Desapareceram os dois, Simon. Jace desapareceu…
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Primeira parte
NAO HA ANJOS MAUS
O amor é um fâmulo, o amor é um demónio.
Não há anjo mau senão o amor.
William Shakespeare, Canseiras de Amor Baldadas
DUAS SEMANAS DEPOIS
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O ultimo Conselho
– Quanto tempo achas que ainda vai demorar o veredicto? – perguntou
Clary, farta de esperar. Não havia relógios no quarto preto e cor-de-rosa de
Isabelle, apenas pilhas de roupas e de livros, montes de armas, cosméticos,
pincéis, escovas e gavetas abertas a transbordar de combinações de renda,
meias de vidro e agasalhos de penas. O ambiente tinha um certo ar de
A Gaiola das Loucas, mas Clary já estava habituada, ao ponto de o achar
confortável.
Isabelle, à janela com Church nos braços, afagou a cabeça do animal, que
a fixou com um olhar maligno. A chuva batia com toda a força nas vidraças.
– Pouco – respondeu ela. A rapariga não tinha maquilhagem, o que a
fazia mais nova e lhe tornava os olhos maiores. – Para aí uns cinco minutos.
Clary, sentada na cama de Izzy no meio de uma pilha de revistas e de
lâminas seráficas, engoliu em seco.
Volto daqui a cinco minutos, dissera ela ao rapaz que amava acima de
tudo, achando que, se calhar, fora a última coisa que lhe dissera.
A jovem lembrava-se do momento na perfeição: o jardim no terraço, a
cristalina noite de Outubro, as estrelas a brilhar no céu negro, sem nuvens,
as pedras do chão cheias de runas negras salpicadas de icor e de sangue,
a boca de Jace na sua, a única coisa quente num mundo gelado, agarrando
no anel dos Morgenstern que tinha ao pescoço – o amor que faz mover o
Sol e as outras estrelas – e olhando para ele enquanto as portas do elevador
se fechavam, devolvendo-a às sombras do edifício. Chegada ao átrio, Clary
abraçara a mãe, Luke e Simon, mas uma parte da sua alma, como sempre,
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CASSANDRA CLARE
ficara com Jace no terraço, flutuando com ele sobre a cidade brilhante de
luz.
Maryse e Kadir tinham-se metido no elevador, tinham ido ter com ele
ao terraço, tinham visto os restos do ritual de Lilith e aquela voltara pouco
depois, sozinha. Ao vê-la, Clary, pálida e frenética, percebera o que acontecera.
O que se seguira fora como que um sonho. Os Caçadores de Sombras
que se encontravam no átrio tinham corrido para ela. Alec afastara-se de
Magnus e Isabelle pusera-se em pé de um salto. Uma a uma as lâminas
seráficas tinham saído das respectivas bainhas, iluminando as sombras.
Clary ouvira a história aos bocados. O terraço estava vazio. Jace desaparecera. O caixão de vidro, onde Sebastian jazia, estava espalhado pelo chão,
em mil pedaços, enquanto o respectivo pedestal se encontrava cheio de
sangue ainda fresco.
Os Caçadores de Sombras tinham-se espalhado pelo edifício. Magnus,
com as mãos azuis, virara-se para ela e perguntara-lhe se tinha alguma
coisa pertencente a Jace que os pudesse ajudar a seguir-lhe o rasto. Ela
dera-lhe o anel dos Morgenstern, afastara-se para um canto para telefonar
a Simon e acabava de fechar o aparelho quando a voz de um Caçador de
Sombras se sobrepusera às outras.
– Seguir-lhe o rasto? Isso era bom se ele estivesse vivo. Com aquele sangue todo é pouco provável…
Fora a gota que fizera transbordar o copo. Clary, devido à hipotermia
prolongada, à exaustão e ao estado de choque, desmaiara. A mãe apanhara-a antes que ela caísse no chão. A jovem acordara na manhã seguinte em
casa de Luke, na sua cama, com o coração aos pulos, certa de ter tido um
pesadelo, até que os ferimentos nas pernas e nos braços, quase desvanecidos, lhe tinham contado uma história diferente, tal como a ausência do
anel. Vestindo jeans e um blusão de capuz, Clary dirigira-se à sala de estar,
encontrara Jocelyn, Luke e Simon com expressões sombrias nos rostos
e perguntara-lhes, apesar de saber a resposta:
– Encontraram-no?
– Não, querida – respondera Jocelyn, levantando-se.
– Mas não está morto, pois não? Não encontraram nenhum corpo, pois
não? – perguntara, deixando-se cair no sofá ao lado de Simon. – Não.
Se ele estivesse morto eu sabia.
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A CIDADE DAS ALMAS PERDIDAS
Clary lembrava-se de Simon lhe agarrar na mão enquanto Luke lhe
dizia o que sabiam: Jace e Sebastian tinham desaparecido. A má notícia
era que o sangue do pedestal era de Jace e a boa, que era menos do que
pensavam; estava misturado com a água do caixão para dar a impressão
de que era muito, mas não era. Era possível que ele tivesse sobrevivido ao
que acontecera.
– Mas o que aconteceu? – perguntara ela.
Luke abanara a cabeça.
– Ninguém sabe, Clary – respondera com olhos sombrios.
Fora como se lhe tivessem substituído o sangue por água.
– Quero ajudar, quero fazer qualquer coisa. Não quero ficar aqui sem
fazer nada.
– Eu, se fosse a ti, não me preocupava com isso – dissera-lhe Jocelyn
com uma careta. – A Clave quer falar contigo.
Clary pusera-se em pé de um salto, sentindo as juntas e os tendões gelados.
– Está bem. Eu digo-lhes tudo, digo-lhes o que for preciso se eles forem
capazes de encontrar Jace.
– Tu dizes-lhes tudo o que eles quiserem porque eles têm a Espada Mortall – replicara Jocelyn com o desespero na voz. – Lamento muito, querida,
mas é assim.
E naquele momento, após duas semanas de interrogatórios, após inúmeros testemunhos, Clary esperava, no quarto de Isabelle, que o Conselho lhe
decidisse o destino, recordando a Espada Mortall nas mãos a arrancar-lhe
a verdade, ouvindo a própria voz a dizer tudo ao Conselho: como Valentine
conjurara o anjo Raziel, como ela lhe tirara o poder de o controlar, substituindo-lhe na areia o nome pelo seu, como o anjo lhe oferecera um desejo
e ela escolhera o de ressuscitar Jace dos mortos, como Lilith se apoderara
de Jace e planeara usar o sangue de Simon para ressuscitar Sebastian, o seu
alegado filho, como a Marca de Caim de Simon acabara com Lilith e com
Sebastian.
Clary suspirou e abriu o telemóvel para ver as horas.
– Aquilo já dura há uma hora – disse ela. – É normal ou é mau sinal?
Isabelle, de leggings e top de veludo cinzento, deixou cair o gato, que
miou, e sentou-se na cama ao pé dela, mais esbelta do que nunca. Tal como
Clary, a rapariga perdera peso nas duas últimas semanas, mas continuava
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elegante, parecia uma estrela de cinema francesa. Izzy espreguiçou-se e as
pulseiras tilintaram-lhe.
– Não é mau sinal, quer dizer apenas que têm muito que conversar –
disse, torcendo o anel dos Lightwood no dedo. – Tu não violaste a Lei, que
é o que importa. Não te preocupes.
O calor do ombro de Isabelle não lhe derretia o gelo que sentia nas
veias. Clary suspirou, consciente de que a Clave estava furiosa com ela
apesar de, tecnicamente, não ter violado lei alguma. Um Caçador de
Sombras não podia ressuscitar um morto, mas o anjo podia. No entanto,
o que fizera ao pedir a vida de Jace fora de tal modo excepcional que
tanto ela como ele tinham concordado não contar a ninguém, mas não
servira de nada.
A Clave soubera e agora queria puni-la, quanto mais não fosse porque a
sua decisão tivera consequências desastrosas. Oxalá a punissem, oxalá lhe
partissem os ossos, oxalá lhe arrancassem as unhas, oxalá os Irmãos Silenciosos lhe vasculhassem o cérebro; não se importava de sofrer desde que
Jace voltasse porque sentia-se culpada por tê-lo deixado no terraço, apesar
de Isabelle e os outros lhe terem dito mais de cem vezes que estava a ser
ridícula. Se lá tivesse ficado com ele, se calhar também teria desaparecido.
– Pára com isso – disse-lhe Isabelle. Por um momento, Clary pensou que
ela falava com o gato, Church estava de pernas para o ar, como sempre
que o deixavam cair, fingindo-se de morto para encher os donos de remorsos, mas depois apercebeu-se que a visada era ela.
– Isso o quê?
– Pára com esses pensamentos mórbidos, com as coisas horríveis que te
vão acontecer ou que queres que te aconteçam por estares viva e Jace…
desaparecido. – A voz saltou-lhe, como uma agulha num disco riscado.
A rapariga nunca dizia que Jace morrera ou que desaparecera, tal como
Alec, e nunca a censurara por guardar aquele enorme segredo. No meio
daquilo tudo, de facto, Isabelle fora a sua defensora mais acérrima, esperara
sempre por ela à porta do Conselho, protegera-a dos Caçadores de Sombras de olhar fixo, resmungões, assistira a todos os interrogatórios, lançando olhares assassinos a quem se atrevia a olhar para ela de lado. Clary
ficara espantada. Ela e Isabelle nunca tinham sido grandes amigas, sentiam-se mais confortáveis na companhia de rapazes do que de raparigas, mas
o facto era que Isabelle a apoiara sempre e ela sentia-se grata.
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A CIDADE DAS ALMAS PERDIDAS
– Não consigo evitar. Se pudéssemos fazer qualquer coisa, fosse o que
fosse, não seria tão mau.
– Não sei – respondeu Isabelle com ar cansado. Nas duas últimas semanas, ela e Alec tinham passado mais de dezasseis horas em patrulha à procura de Jace e quando Clary soubera que ela fora proibida de continuar até
o Conselho decidir o que fazer, abrira um buraco na porta do quarto. – Por
vezes parece-me tudo inútil – acrescentou.
– Queres dizer com isso que pensas que ele está morto? – perguntou-lhe
Clary, sentindo o sangue a gelar nas veias.
– Não, quero dizer que acho que já não estão em Nova Iorque.
– Mas eles também andam à procura noutras cidades, não andam? –
perguntou Clary, levando a mão à garganta, esquecendo-se que já não
tinha o anel dos Morgenstern. Magnus continuava à procura de Jace, mas
ainda não o encontrara.
– Claro – respondeu Isabelle, tocando-lhe, curiosa, na delicada campainha de prata que ela tinha ao pescoço. – O que é isso?
Clary hesitou. A campainha fora um presente da rainha de Seelie. Um
presente não, porque a rainha das Fadas não dava presentes a ninguém.
A campainha era uma espécie de alarme. Se Clary precisasse da sua ajuda,
bastava-lhe tocá-la. A jovem levara vezes sem conta a mão ao pescoço à
medida que os dias se arrastavam e Jace não dava sinal de vida, mas nunca
a tocara porque sabia que a rainha de Seelie exigiria qualquer coisa terrível
em troca.
De repente, a porta do quarto abriu-se. As duas raparigas puseram-se em
pé de um salto. Clary agarrou com tanta força numa das almofadas cor-de-rosa de Izzy que os diamantes falsos enterraram-se-lhe na palma da mão.
– Olá – disse Alec, o irmão de Isabelle, vestido com o traje do Conselho,
uma túnica negra com runas prateadas por cima de uns jeans e de uma
comprida sweatshirtt preta. A cor tornava-o ainda mais pálido e os olhos
ainda mais azuis. O rapaz tinha cabelos pretos lisos, como os da irmã, mais
curtos, cortados acima da linha do queixo.
Clary sentiu o coração aos pulos. Alec tinha os lábios cerrados, não
parecia nada satisfeito. As notícias não podiam ser boas.
– Qual foi o veredicto? – perguntou-lhe Isabelle.
O rapaz escarranchou-se na cadeira do toucador para ficar de frente
para as duas raparigas. Noutra ocasião qualquer a situação até seria cómica
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porque Alec era alto, tinha as pernas compridas e a posição fazia-o parecer
um boneco.
– Jia Penhallow ilibou-te de todas as acusações, Clary. Tu não violaste
a Lei e ela acha que já foste castigada o suficiente.
Isabelle respirou fundo, sorriu e Clary fez o mesmo, aliviada por não ir
parar à Cidade Silenciosa, onde não poderia ajudar Jace. Luke, representante dos lobisomens no Conselho, prometera telefonar a Jocelyn assim
que a reunião terminasse, mas mesmo assim a rapariga pegou no telemóvel, ansiosa por dar a notícia à mãe. Alec, porém, interrompeu-a:
– Espera, Clary.
A jovem olhou-lhe para a expressão séria e pousou o telemóvel em cima
da cama com um mau pressentimento.
– O que é, Alec?
– O Conselho não demorou este tempo todo por causa do teu veredicto –
respondeu ele. – Havia outra questão em cima da mesa.
– Jace? – perguntou Clary, estremecendo, sentindo regressar o gelo.
– Não exactamente – respondeu o rapaz, inclinando-se para a frente
e cruzando as mãos em cima das costas da cadeira. – Esta manhã chegou um
relatório do Instituto de Moscovo. As protecções das ilhas Wrangel foram
destruídas ontem. Eles mandaram lá uma equipa para as reparar, mas estiveram muito tempo desactivadas… O Conselho deu prioridade ao assunto.
Clary sabia que as protecções eram uma espécie de sistema de defesa
mágico que rodeava a Terra, instalado pela primeira geração de Caçadores
de Sombras para impedir que os demónios a invadissem, mas estes, de vez
em quando, conseguiam ultrapassá-lo. A jovem lembrava-se de Jace lhe ter
falado nelas: Dantes as invasões eram pequenas e repelidas com facilidade,
mas depois aumentaram.
– Isso é mau – disse a jovem. – Mas não percebo o que tem a ver com…
– A Clave tem as suas prioridades – interrompeu-a Alec. – Há duas
semanas que Jace e Sebastian são procurados, mas não há sinal deles.
Nenhum dos feitiços de Magnus funcionou. Elodie, a mulher que criou
o verdadeiro Sebastian Verlac, disse que ninguém tentou entrar em contacto com ela. Foi uma tentativa como outra qualquer. Seja como for,
nenhum espião relatou actividades fora do normal entre os membros
conhecidos do círculo de Valentine e os Irmãos Silenciosos não conseguiram descobrir qual foi o ritual que Lilith usou ou o que aconteceu de facto.
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A CIDADE DAS ALMAS PERDIDAS
Pensa-se que Sebastian, é claro que eles chamaram-lhe Jonathan, raptou
Jace, mas não se sabe mais nada.
– E o que quer dizer isso? – perguntou Isabelle. – Mais buscas? Mais
patrulhas?
Alec abanou a cabeça.
– Eles não discutiram isso – respondeu com toda a calma. – Acho que
até vão acabar com elas porque não descobrem nada há duas semanas.
Os grupos que vieram de Idris vão voltar para casa. A prioridade agora é
as protecções. Além disso eles estão metidos em negociações delicadas: a
actualização das leis para a nova composição do Conselho, a nomeação de
um novo Inquisidor e a questão dos Habitantes do Mundo-à-Parte. Não
querem distracções.
Clary arregalou os olhos.
– Não querem que o desaparecimento de Jace os distraia de uma data de
leis estúpidas e velhas? Desistiram?
– Não estou a dizer que desistiram…
– Alecc – disse Isabelle com voz cortante.
O rapaz calou-se e tapou a cara com as mãos de dedos longos, como as
de Jace, cheias de cicatrizes, como as de Jace. A Marca dos Caçadores de
Sombras decorava-lhe as costas da mão direita.
– Clary, para ti, para nós, o que interessa é encontrar Jace. Para a Clave,
o que interessa é encontrar Sebastian. Jace também, mas primeiro Sebastian, porque o perigo é ele. Foi ele quem destruiu as protecções de Alicante.
Sebastian é um serial killer, ao passo que Jace é…
– Mais um Caçador de Sombras – acrescentou Isabelle. – Morremos,
desaparecemos e pronto.
– Com Jace não é bem assim porque ele foi um herói na Guerra Mortal –
disse Alec –, mas a Clave foi clara: as buscas vão continuar, mas não para
já, pelo menos enquanto Sebastian não der o próximo passo. Até lá, querem que voltemos à vida normal.
Clary não queria acreditar. Vida normal? Uma vida normal sem Jace?
– Foi o que nos disseram depois de Max morrer – disse Izzy com os
olhos pretos a arder de fúria. – Como se o facto de voltarmos à vida normal
nos fizesse esquecer.
– No fundo é um bom conselho – disse Alec através dos dedos das mãos.
– Vai dizer isso ao pai. Ele veio de Idris para a reunião?
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Alec abanou a cabeça e deixou cair as mãos.
– Não. Mas se te serve de consolação, sempre te digo que houve gente
que defendeu a continuação das buscas. Magnus, é óbvio, Luke, a Consulesa Penhallow e até o irmão Zachariah, mas no fim não foram suficientes.
– Tu não sentes nada, Alec? – perguntou-lhe Clary.
Os olhos do rapaz arregalaram-se, tornaram-se de um azul mais escuro
e por um momento a jovem recordou o rapaz que tanto odiara à chegada
ao Instituto, o rapaz das unhas roídas, das camisolas cheias de buracos e do
chip no ombro.
– Eu sei que estás ralada, Clary – disse ele em tom cortante –, mas se
pensas que Iz e eu gostamos menos de Jace do que tu…
– Eu não penso nada – replicou a jovem –, estou a falar do teu parabatai.
Eu li coisas sobre a cerimónia no Códex. Eu sei que vocês estão ligados um
ao outro, que tu sentes coisas sobre Jace, coisas que te ajudam em combate.
Por isso pergunto: não sentes se ele está vivo?
– Clary – disse Isabelle, parecendo preocupada. – Pensei que tu…
– Está vivo – respondeu Alec com todo o cuidado. – Achas que eu estava
assim se ele estivesse morto? Passa-se qualquer coisa com ele, isso eu sei,
mas sei também que continua a respirar.
– Achas que pode estar preso em qualquer lado? – perguntou a jovem,
quase num murmúrio.
Alec olhou para a chuva a bater na janela.
– Talvez. Não consigo explicar, mas nunca me senti assim.
– Mas ele está vivo…
Alec olhou para ela.
– Tenho a certeza.
– Então que se lixe o Conselho. Vamos nós à procura dele.
– Clary… se fosse possível… não achas que já tínhamos…
– Nós estávamos a fazer o que a Clave queria que fizéssemos – alvitrou
Isabelle. – Patrulhas, buscas, mas há outras maneiras.
– Maneiras que violam a Lei, queres tu dizer – disse Alec, algo hesitante.
Clary esperava que ele não repetisse o lema dos Caçadores de Sombras em
relação à Lei, mas repetiu: – Dura lex, sed lex.
– A rainha de Seelie concedeu-me um desejo em Idris, durante o fogo-de-artifício – disse a jovem. A recordação, feliz, provocou-lhe um nó no
estômago, obrigando-a a parar. – E uma maneira de a contactar.
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A CIDADE DAS ALMAS PERDIDAS
– A rainha das Fadas não dá nada de graça.
– Eu sei, mas não me importo de arriscar – replicou Clary, recordando
as palavras da fada que lhe dera a campainha: Tu és capaz de tudo por ele,
não és?? – Só quero que um de vocês venha comigo para limitar os estragos
porque percebo mal o que elas dizem. Se pudermos fazer alguma coisa…
– Eu vou contigo – disse Isabelle de imediato.
Alec olhou para a irmã com um ar sombrio.
– Nós já falámos com as fadas. O Conselho fartou-se de as interrogar.
E elas não mentem.
– O Conselho perguntou-lhes se sabiam onde estavam Jace e Sebastian –
disse Clary –, não se estavam dispostas a procurá-los. A rainha de Seelie
sabia que o meu pai chamou e encurralou o anjo, sabia a verdade sobre o
meu sangue e o de Jace. Eu acho que deve haver muito pouca coisa no
mundo que ela não saiba.
– É verdade – disse Isabelle, mais animada. – Para se conseguir uma
informação útil de uma fada é preciso fazer-lhe a pergunta exacta, Alec.
Elas são difíceis de interrogar, mesmo que tenham de dizer a verdade, mas
um desejo é diferente.
– E o perigo é ilimitado – replicou o rapaz. – Se Jace sabe que eu deixo
Clary ir ter com a rainha de Seelie…
– Não me importo – retorquiu a jovem. – Ele faria o mesmo por mim.
Ou achas que não? Se eu desaparecesse…
– Ele virava o mundo todo do avesso à tua procura – disse Alec, exausto.
– Raios, pensas que não quero fazer o mesmo? Eu só estou a tentar…
– Fazer o papel de irmão mais velho – disse Isabelle. – Eu sei.
– Se te acontece alguma coisa, Isabelle, depois de Max e de Jace…
Izzy levantou-se, atravessou o quarto, enlaçou o irmão pelo pescoço,
misturando as duas cabeleiras da mesma cor e murmurou-lhe qualquer
coisa ao ouvido, enquanto Clary os observava com uma ponta de inveja, já
que sempre quisera ter um irmão. Aliás, a jovem tinha um, Sebastian, mas
era como querer um cachorro e darem-lhe um pit bull. A jovem viu o rapaz
puxar os cabelos da irmã num gesto afectuoso, anuir e largá-la.
– Vamos os três – disse ele. – Mas primeiro tenho de dizer ao Magnus.
Não seria justo.
– Queres usar o meu telemóvel? – perguntou-lhe Isabelle, estendendo-lhe o aparelho cor-de-rosa.
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CASSANDRA CLARE
Alec abanou a cabeça.
– Ele está lá em baixo com os outros. Vais ter de arranjar uma desculpa
qualquer com o Luke, Clary. Ele está à espera que vás para casa com ele.
E parece que a tua mãe tem andado muito ralada com isto tudo.
– Ela acha que a culpa é toda dela – disse Clary, pondo-se de pé –, apesar
de pensar que Sebastian tinha morrido há uma data de anos.
– A culpa não é dela – disse Isabelle, tirando o chicote dourado da
parede e enrolando-o no pulso, fazendo-o parecer uma pulseira em espiral.
– Aliás, ninguém acha que é.
– Isso não interessa quando as pessoas se culpam a si próprias – disse Alec.
Em silêncio, os três percorreram os corredores do Instituto cheio de
Caçadores de Sombras, alguns dos quais tinham vindo de Idris. Nenhum
deles lhes lançou um segundo olhar. A princípio Clary sentira-se fuzilada
e ouvira as palavras «a filha de Valentine» tantas vezes que começara a ter
medo de entrar no Instituto, mas comparecera tantas vezes perante o Conselho que a novidade passara.
A nave do Instituto, iluminada por velas e por uma luz azulada, mágica,
estava cheia de gente – membros do Conselho e respectivas famílias. Luke
e Magnus conversavam um com o outro, sentados num banco. Ao lado do
primeiro estava uma mulher alta de olhos azuis, muito parecida com ele,
com os cabelos encaracolados pintados de castanho-acinzentado, mas
Clary reconheceu-a logo – Amatis, a sua irmã.
Magnus levantou-se e dirigiu-se a eles. Izzy pareceu reconhecer alguém
e afastou-se como de costume, sem dizer onde ia. Clary encaminhou-se
para Luke e Amatis, ambos com ar cansado. Esta dava pancadinhas complacentes no ombro do irmão. Este abraçou Clary e ela respondeu com ar
ausente, como se estivesse em piloto automático, vendo, pelo canto do olho,
Magnus e Alec a conversar, inclinados um para o outro como qualquer
casal, contente por vê-los felizes, mas ao mesmo tempo magoada, perguntando a si própria se voltaria algum dia a ter aquilo, recordando a voz de
Jace: Só te quero a ti e a mais ninguém.
– Terra chamando Clary – disse Luke. – Queres ir para casa? A tua mãe
está morta por te ver e também quer estar com Amatis antes de ela voltar
para Idris, amanhã. Pensei em irmos jantar fora. Escolhe tu o restaurante –
acrescentou, tentando esconder a ansiedade, mas sem conseguir. Clary
andava a comer pouco e as roupas estavam a ficar-lhe largas.
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A CIDADE DAS ALMAS PERDIDAS
– Não me apetece comemorar nada depois de o Conselho ter decidido
parar de procurar Jace.
– As buscas não pararam, Clary – disse Luke.
– Eu sei, mas… é como se agora andassem só à procura de um cadáver –
replicou ela, engolindo em seco. – Seja como for, eu estava a pensar ir
jantar ao Taki’s com Isabelle e Alec.
Amatis olhou para a porta.
– Está a chover muito.
Clary abriu os lábios num sorriso, perguntando a si própria se pareceria
tão falso como ela o sentia.
– Eu não derreto.
Luke meteu-lhe umas notas na mão, aliviado por ela ir sair com os amigos, uma coisa normal.
– Promete-me que comes com decência – disse.
– Prometo – replicou ela, sorrindo.
Magnus e Alec já não estavam onde deviam estar. Olhando em volta,
Clary viu os longos cabelos negros de Izzy no meio da multidão, junto
das grandes portas do Instituto a falar com alguém. Dirigiu-se para ela
e ao aproximar-se reconheceu, surpreendida, uma das pessoas do
grupo, Aline Penhallow, com os cabelos cortados à moda, logo acima
dos ombros. Junto dela encontrava-se uma rapariga vestida com o traje
do Conselho, com os cabelos louros quase brancos puxados para trás,
mostrando as orelhas um pouco pontiagudas. À medida que se aproximava, Clary reparou-lhe nos olhos de um azul-esverdeado e teve vontade de levar, pela primeira vez em duas semanas, a mão aos lápis
Prismacolor.
– Deve ser esquisito teres a tua mãe no Conselho – dizia Isabelle a
Aline. – Não que Jia seja muito melhor do que… Olá, Clary. Lembras-te
da Clary, Aline?
As duas raparigas cumprimentaram-se. Uma vez Clary dera com ela
a beijar Jace. Na ocasião fora horrível, mas depois a sensação desaparecera e naquele momento a jovem não se importava muito de o apanhar
outra vez com a boca na botija porque era sinal de que estava vivo.
– E esta é a namorada de Aline, Helen Blackthorn.
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CASSANDRA CLARE
Isabelle pensava que ela era idiota? Além do mais, Clary lembrava-se de
Aline lhe dizer que só beijara Jace para saber como era, para saber se Jace
seria o seu tipo, pelo menos.
– A família de Helen está à frente do Instituto de Los Angeles. Helen,
apresento-te Clary Fray.
– A filha de Valentine – replicou aquela, surpreendida e um pouco
impressionada.
– Tento não pensar muito nisso – disse Clary, retraindo-se um pouco.
– Desculpa, compreendo muito bem – replicou a outra, corando. A pele
pálida da rapariga brilhava, como uma pérola. – A propósito, votei pela
continuação das buscas. Lamento ter perdido.
– Obrigada – replicou Clary, virando-se para Aline por não querer falar
no assunto. – Parabéns pela eleição da tua mãe. Deve ser muito excitante.
– Passa a estar mais ocupada, mais nada – replicou a rapariga, encolhendo os ombros e virando-se para Isabelle. – Sabias que o teu pai se
candidatou ao cargo de Inquisidor?
– Não, não sabia. – Clary sentiu a amiga a retrair-se.
– Fiquei surpreendida – acrescentou Aline. – Pensei que ele estava interessado em continuar a gerir o Instituto… – Calou-se e olhou por cima do
ombro de Clary. – Parece que o teu irmão está a tentar fazer a maior poça
de cera derretida do mundo, Helen. É melhor fazeres qualquer coisa.
Esta resmungou qualquer coisa a propósito dos rapazes de doze anos e
desapareceu no meio da multidão quando Alec se aproximava em sentido
contrário. O rapaz abraçou Aline – por vezes Clary esquecia-se que os
Penhallow e os Lightwood eram velhos conhecidos – e olhou para Helen.
– Aquela é a tua namorada?
– Helen Blackthorn – respondeu.
– Ouvi dizer que há sangue de fada naquela família – acrescentou ele.
Ah, pensou Clary. Aquilo explicava as orelhas pontiagudas. O sangue de
Nefelim era dominante e os filhos de uma fada e de um Caçador de Sombras eram sempre Caçadores de Sombras, mas por vezes o sangue das fadas
expressava-se, mesmo após várias gerações.
– Um pouco – disse Aline. – Quero agradecer-te, Alec.
– Porquê? – perguntou Alec, confuso.
– Pelo que fizeste no Salão dos Acordos ao beijares Magnus. Deste-me
a força de que precisava para dizer aos meus pais…
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A CIDADE DAS ALMAS PERDIDAS
– Ah! – Alec parecia espantado, como se nunca lhe tivesse passado pela
cabeça uma coisa daquelas. – E como reagiram?
Aline revirou os olhos.
– Fazem de conta que não lhes disse nada. – Clary lembrou-se de Isabelle lhe ter falado na atitude da Clave para com os membros homossexuais. Não falam do assunto. – Mas podia ser pior.
– Muito pior – acrescentou Alec em tom triste, fazendo que Clary
olhasse bruscamente para ele.
– Lamento se os teus pais… – disse Aline com um olhar de simpatia.
– Eles encararam bem a coisa – afirmou Isabelle de repente, em tom algo
cortante.
– Seja como for, não devia ter dito nada neste momento. Vocês devem
estar muito preocupados com o desaparecimento de Jace – disse Aline,
respirando fundo. – Eu sei que, se calhar, as pessoas disseram toda a espécie de coisas estúpidas sobre ele, como sempre que não têm nada que dizer.
Eu só queria… dizer qualquer coisa – acrescentou, evitando um passante
com impaciência, aproximando-se mais dos Lightwood e de Clary e continuando em voz baixa: – Alec, Izzy… eu lembro-me de vocês terem ido
uma vez a Idris. Eu tinha treze anos e Jace acho que tinha… doze. Ele queria ver a floresta de Brocelind, nós pedimos uns cavalos emprestados e
fomos lá um dia. Perdemo-nos, claro. Aquela floresta é impenetrável. Escureceu e eu fiquei aterrorizada. Pensei que íamos morrer, mas Jace não, teve
sempre a certeza de que havíamos de sair de lá. Levou horas, mas conseguiu. Eu fartei-me de lhe agradecer, mas ele limitou-lhe a olhar para mim
como se eu fosse maluca, como se não tivesse feito nada de especial. Para
ele aquilo foi uma coisa normal. O que eu quero dizer é que tenho a certeza
que ele volta. Tenho a certeza.
Izzy estava a tentar conter as lágrimas. Aliás, Clary nunca a vira chorar,
mas naquele momento a rapariga tinha os olhos muito grandes e brilhantes. Alec, por sua vez, olhava para os próprios pés. Clary sentiu a angústia
a querer sufocá-la, mas conseguiu dominá-la. A jovem não queria pensar
em Jace com doze anos perdido no meio de uma floresta ou acabaria por
pensar nele naquele momento, algures, encurralado num sítio qualquer,
a precisar da sua ajuda e acabaria desfeita em lágrimas.
– Obrigada, Aline – disse, vendo que nem Isabelle nem Alec diziam
nada.
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1ºs Capítulos de A Cidade das Almas Perdidas