O INTERDISCURSO E O SENTIDO DO TRÁGICO EM PEDREIRA DAS ALMAS DE
JORGE ANDRADE
RESUMO
Desvendar os sentidos dos signos relativos ao trágico que perpassam a história requer do
pesquisador um trabalho de busca, para que possa compreender as mudanças de
concepções que se foram construindo no decorrer do tempo. Desta forma, o primeiro capítulo
da dissertação apresenta um estudo sobre o gênero trágico a partir da concepção
aristotélica; e como a tragédia e o trágico foram sendo percebidos por filósofos como Hegel
(1980), Schiller (1964), Nietzsche (1985) e para os teóricos modernos e contemporâneos
como Lesky (2003), Bornheim (1992) e Szondi (2004). As teorias sobre o trágico têm
marcadamente uma perspectiva dialógica; aspectos que se aproximam e aspectos que se
distanciam. Interpretar o gênero trágico não é apenas uma questão de sujeitar-se a uma
teoria, pois a tragédia em sua essência apresenta uma situação limite, que habita uma região
que não está sujeita a codificações. As interpretações sobre o trágico permanecem aquém
do mesmo e não podem ser reduzidas a conceitos. Nesta perspectiva, este estudo pretende
compreender os sentidos do trágico e as relações interdiscursivas em Pedreira das Almas
(1957), peça que faz parte do ciclo Marta, a Árvore e o Relógio (1986) do dramaturgo
brasileiro Jorge Andrade. O ciclo é composto por dez peças que se articulam pelo viés da
memória e pela reiteração de personagens e temas. São elas: As Confrarias (1969);
Pedreira das Almas (1957); A Moratória (1951); O Telescópio (1951); Vereda da Salvação
(1958); Senhora da Boca do Lixo (1963); A Escada (1961); Os Ossos do Barão (1962); Rasto
Atrás (1965) e O Sumidouro (1970), aspectos estudados no segundo capítulo da dissertação.
O enredo de Pedreira das Almas apresenta antinomias que permitem erigir os signos
relativos ao trágico presente na dramaturgia trágica contemporânea. O terceiro capítulo
apresenta um estudo da peça pelo viés do interdiscurso na acepção de Bakhtin (1988), em
que é possível situar o trágico em um sentido histórico, marcado pela memória assentada na
tríade - espaço, memória e tradição. As relações discursivas e interdiscursivas são
percebidas por meio das representações espaciotemporais. Espaço e tempo na peça
sinalizam o desgaste e as ruínas daquilo que outrora fora símbolo do poder. Por meio do
discurso das personagens emerge o discurso da tradição, representado na peça pela
personagem Urbana e incorporado por Mariana em oposição ao discurso do novo utópico
representado pela personagem Gabriel. As relações espaciotemporais trazem à tona a
dualidade espaço sagrado versus espaço profano, na acepção de Eliade (2001). Por meio
das relações espaciotemporais e interdiscursividade configura-se o perfil do herói, permitindo
demarcar em Pedreira das Almas os elementos de permanência com relação à tragédia
clássica e os elementos de negação do trágico na dramaturgia trágica contemporânea.
PALAVRAS-CHAVE: Drama contemporâneo, relações espaciotemporais, herói trágico.
Download

Rosilene Camilo Marques de Andrade