LOJAS POP-UP CRESCEM NO BRASIL, E CAUSAM SURPRESA E CURIOSIDADE NO CONSUMIDOR CM NOVAREJO Ano2 08 NO VAREJO O varejo brasileiro pedia uma revista assim nov/dez 2009 R$ 15,50 Negócio de família Conheça a história dos maiores varejos familiares do Brasil NEGÓCIO EDIÇÃO 08 DE FAMÍLIA ÉTICA FORA DO PAPEL CMNV08 Capa.indd 1 APENAS POSSUIR UM CÓDIGO NÃO GARANTE CUMPRIMENTO 10/12/09 16:16 CMNV08 Educacao.indd 2 10/12/09 08:27 CMNV08 Educacao.indd 3 10/12/09 08:28 índice 12 EDIÇÃO 08 NOV/DEZ 2009 12 PONTO DE VENDA Loja feita de containeres usados une vantagens de mobilidade e sustentabilidade 36 COMUNICAÇÃO INTERNA As apresentações em Power Point sob uma ótica diferente 40 ÉTICA Os códigos evoluem para modelos que provocam reflexão e incorporação de valores 50 44 TENDÊNCIA Trocar e alugar: o formato vem sendo explorado mundo afora 58 SUPPLY CHAIN Cadeia de valor viva? Saiba o que é 14 54 66 INOVAÇÃO A inovacão aberta pode ser grande aliada do varejo 66 CMNV08 Indice.indd 4 8 PRATELEIRA 14 PONTO DE VENDA 18 CAPA 32 SEU CONSUMIDOR 50 TENDÊNCIA 54 CASE 62 ENTREVISTA 70 PESQUISA 72 DEBATE 74 EDUCAÇÃO 76 PERSPECTIVAS 81 FALANDO NISSO 82 NO PONTO 44 36 62 07/12/09 15:42 Untitled-1 7 07/12/09 20:00 NO VAREJO Publisher Roberto Meir Diretor-executivo Walter Salvo Rosa consultoria técnica e aPoio eDitorial GS&MD – Gouvêa de Souza reDação eDitora Ticiana Werneck [email protected] on-line Gabriela Fontes [email protected] arte Designer Platinum Marina Martins [email protected] Designers Alexandre Braga e Érika Bernal Pré-impressão Alexandre Lima revisora Dora Wild FotográFos Douglas Lucena colaboraDores Alberto Serrentino, Celso de Campos, Christye Cantero, Cintia Esteves, Gilberto Pavoni, João Rios, Julia Zillig, Julio SImões, Ligia Sanchez, Marcos Gouvea, Mariana Vieira, Maurício Morgado, Renato Müller e Ricardo Osman PubliciDaDe gerentes De negócios AdrianaP róspero Christina Lozano Fabiana Zuanon criaDores De valor – gerentes Anselmo Bueno Marco Goes FacilitaDoras Ana Cecília Chiesi Fabiana Martins Patricia Pinheiro marketing gerente De marketing Daniela de Matos coorDenaDora De marketing Sabrina Lahuerta Database marketing Karen Reis aPóstolos Do cliente Bruno Caúmo Bruno Dias Katty Bovo [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] aDministração Diretora aDministrativa/Financeira Lucia Maria De Bellis Mascaretti gerente Financeira Maria Sônia Ribeiro logística circulação e assinaturas Mônica Veronez [email protected] Projeto gráFico imPressão logística circulação PerioDiciDaDe Marina Martins IBEP Gráfica Ltda. Tecnocourier Transportes Ltda. Nacional Bimestral www.cmnovarejo.com.br gerente De inteligência De negócios FabianaR odrigues [email protected] escreva para a reDação Da CM NOVAREJO e-mail [email protected] site www.cmnovarejo.com.br cartas Padrão Editorial – Redação, Rua Novo Horizonte, 311 – Pacaembu São Paulo – SP – 01244–020 publiciDaDe Anuncie em Consumidor Moderno NOVAREJO e tenha o melhor retorno de leitores qualificados e informados do Brasil repriNts eDitoriais Reedições especiais de reportagens e artigos, com o anúncio da sua escolha e a capa original da edição, podem ser pedidos à Padrão Editorial. Para informações sobre orçamentos: [email protected] Consumidor Moderno NOVAREJO é uma publicação da Padrão Editorial Ltda. Rua Novo Horizonte, 311 – Pacaembu – CEP 01244–020 – São Paulo – SP Telefax 55 – 11 – 3125–2244 A Editora não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos ou matérias assinadas. A reprodução do conteúdo editorial desta revista só será permitida com autorização da Editora ou com citação da fonte. Todos os direitos reservados e protegidos pelas leis do copyright, sendo vedada a reprodução no todo ou em parte dos textos publicados nesta revista, salvo expresso consentimento dos seus editores. Padrão Editorial Ltda. 6 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Expediente.indd 6 07/12/09 14:43 daredação Varejo na Veia U TiCiana WerneCK editora m mascate que vendia roupas de cama, mesa e banho, usando nada mais que uma charrete. Um dono de uma doceira que transformou o nome da loja em símbolo de grandeza e inovação. Um industrial que, temeroso dos novos tempos, abandona a fabricação de chapéu para entrar pesado no vestuário para depois criar um sistema de lojas e escoar as peças. Samuel Klein, Valentim Diniz e Vicente Donini são exemplos de empreendedores que iniciaram impérios no varejo. E que estenderam esse domínio para seus consanguíneos, passando de ente para ente a posse e a paixão pelo negócio. São histórias que se fundem e se complementam, e que contribuíram em grande soma para dar a cara que o varejo brasileiro tem hoje. Um varejo familiar. Calcula-se que nove em cada dez empresas no setor surgiram e prosperaram pelo esforço de desbravadores unidos por laços de sangue, que encontraram no varejo um campo aberto para seu desenvolvimento profissional. São histórias ricas em reviravoltas, cheias de nuances, e acima de tudo muito humanas, daquelas boas de ouvir e depois recontar. Claro, nem tudo são flores – e nem poderiam ser, quando o assunto é família. Então também voltamos nossa atenção para os riscos e rusgas desse tipo de empreendimento. Mas são as histórias justamente o tema de nossa capa deste mês, que ficou a cargo do repórter Celso de Campos, perito em reconstruir trajetórias. É dele a obra que conta a vida de Adoniram Barbosa, em “Adoniran: uma Biografia”. Como o artista paulista, nossos personagens do comércio não economizaram na versatilidade e no vanguardismo, e deixaram um legado. Um abraço e boa leitura CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 7 CMNV08 Editorial.indd 7 10/12/09 16:18 prateleira Por Ticiana Werneck Usuário “prova” roupa na web Antes de comprar roupa na web, que tal “experimentar” a peça de forma on-line? É o que propõe a agência de marketing digital californiana Zugara. A aplicação que usa realidade aumentada – a vedete de uma entre duas inovações das novas mídias, que usa sobreposição de objetos virtuais tridimensionais num ambiente real – tem o objetivo de enriquecer a experiência de compra de roupas na web. Tudo que o usuário precisa fazer é ficar diante de sua webcam por alguns segundos. Na tela o que aparece é sua imagem como se estivesse usando a roupa. Para ir trocando de peça basta movimentar os braços acessando os ícones virtuais visíveis na tela. CMNV08 Notas.indd 8 A Mesbla vem aí Está prevista para abril a inauguração do Mesbla.com.br, voltado exclusivamente para o público feminino. Mas já em janeiro, 75 mil pessoas – de um maling selecionado – serão convidadas para testar os serviços do site, que também estará aberto para receber cadastros. A agência de publicidade escolhida, J3P, terá como desafio resgatar o carinho das brasileiras em relação à marca Mesbla. “Vamos transportar para o universo online uma marca que já foi das mais queridas do público brasileiro”, afirma Giuliano Pereira, diretor comercial da J3P. O plano de mídia engloba anúncios para TV, revistas e internet. 07/12/09 14:51 “Quantos erros podemos cometer na operação? Milhares, desde que um seja diferente do outro” Hugo Bethlem, vice-presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar 5% do total das franquias nacionais operam no exterior. Em 2009, 66 marcas brasileiras exportaram franquias para 49 países. Em 2010 a previsão é de que 80 marcas cheguem a 50 países Fonte: Associação Brasileira de Franchising (ABF), e Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil) CMNV08 Notas.indd 9 Pela madrugada 3 horas da manhã. O Shopping Popular da Madrugada, no bairro do Brás, na capital paulista, está abrindo suas portas – fechará às 9 horas da manhã. Atraídos pelos preços baixos, a cada madrugada mais de 30 mil compradores – ou 50 mil, nas últimas semanas próximas ao Natal - do Brasil inteiro percorrem uma área de 70 mil metros quadrados desse que é considerado o maior shopping a céu aberto da América Latina. É gente buscando o menor preço nos cinco mil boxes que vendem acessórios e moda em geral. O projeto é a alternativa legalizada da feirinha que acontecia nas ruas do Brás e 25 de Março. Lá dentro, sanitários, pontos de alimentação, enfermaria, caixas eletrônicos, seguranças e pousada para motoristas e guias. Esse é o maior projeto privado de inclusão social a camelôs e recebe o apoio da prefeitura. 07/12/09 14:51 prateleira Por Ticiana Werneck Inovação na sala de aula Martha terenzzo Professora do núcleo de varejo da esPM Quem não se comunica... O resto da frase é o que a ESPM quer evitar com o curso Inovação da Comunicação no Varejo. Se a compra é um ato sensorial, além de necessário, nada mais natural que potencializar a comunicação dentro do ponto de venda pergunta Inovação se ensina? resposta Sim. A gestão da inovação é praticada como uma disciplina em universidades internacionais. Há metodologias para ensinar e processos para obtenção de maior assertividade. É importante diferenciar inovação de criatividade. A criatividade é um processo de ideias que podem ou não levar à inovação. Você pode ser criativo na sua loja, sem ser inovador. Inovação é um processo de construção de valor a partir de uma nova ideia ou invenção. Implica criação, implantação e adoção de algum produto, serviço, processo ou modelo de negócio novo. pergunta Por que no varejo esse tema é crucial? resposta Até algum tempo atrás, o varejo tinha o papel de mero distribuidor de produtos. O consumidor mudou. Um hipermercado pode oferecer 45 mil itens ao consumidor. No entanto, o varejo é menos maduro do que a indústria e por isso precisa de melhores práticas para reduzir desperdícios, gerar melhor ticket médio, enfim, ganhar mais. pergunta Qual a principal mensagem do curso? resposta É preciso sair da zona de conforto, observar o comportamento humano. Observar pessoas é muito difícil, temos a tendência de perguntar, questionar, opinar e até interferir. Mas raramente paramos para observar, o que é chave. Inovar é um processo mutante. No varejo ou não, a inovação per si trará mudanças para toda a cadeia num efeito multiplicador. Passo a mensagem de que não existem verdades únicas e uma fórmula para inovar. O processo é sistêmico e contínuo. pergunta Como define um varejo inovador? resposta É aquele que agrega serviço condizente com a necessidade do consumidor. v 10 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Notas ESPM.indd 10 07/12/09 14:53 Untitled-1 6 07/12/09 20:00 cima ponto de venda ponto-de-venda EstE lado para or ideia de Andre Krai era abrir lojas de moda multimarcas em todas as capitais do País. Um detalhe atrapalhava: o alto investimento e o custo de locação. A saída foi original: transformar containeres marítimos usados em lojas modernas e aconchegantes, algo comum na Europa e no Japão. Mas com um adicional, aqui as lojas são de dois andares – um container sobre o outro, projeto que foi instantaneamente patenteado. Assim nasceu em 2006, em Nova Petrópolis (RS), a Container Concept Store. No ano seguinte, a iciaNa erNeck Container inaugurou outra loja em Xangrilá, litoral gaúcho, e mais uma na Praia dos Ingleses, em Florianópolis. Como os resultados foram rápidos e os custos baixos, mais seis filiais foram abertas, todas no Sul. “Percebemos uma grande aceitação dos clientes e vimos o enorme mercado à frente. Então optamos pelas franquias”, observa Krai. A reação de quem passa na frente da loja é de curiosidade. “O visual desperta a vontade da pessoa entrar e ter a sensação de estar dentro de um container marítimo”, comenta. A preocupação Fotos divulgação A Loja feita de containeres usados une vantagens de mobilidade e sustentabilidade, e desperta a atenção de P T W consumidores no Sul do País 12 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 ponto_de_venda.indd 12 07/12/09 14:54 Sustentável Toda a montagem da loja é feita com materiais reciclados. A arara vem de corrimão de ônibus, os pufes são feitos de latões velhos. O revestimento interno é de placa de melanina, que não agride o meio ambiente Um container sobre o outro A própria loja é um outdoor, já que a vitrine tem 6 metros de comprimento por 5 metros de altura. Junto com a supervitrine, a música na parte de fora da loja ajuda a chamar a atenção de quem passa. Moda, música eletrônica e vendedores jovens dão o tom. Lá dentro, televisão de plasma transmite videoclipes e desfiles Projeto exclusivo Em 2010, o plano é comercializar 50 franquias ecológica não está apenas na casca. Lá dentro, tudo é reciclado e reaproveitado. As araras, por exemplo, foram retiradas de corrimãos de metrôs e ônibus oriundos de ferro velho. A proposta sustentável é um apelo a mais para os candidatos a franqueado. “Já estamos com diversas franquias fechadas pelo Brasil e outros projetos em andamento”, diz Krai, que enumera entre as vantagens o baixo custo operacional e de locação de terreno, e a mobilidade. “É possível levar a loja para onde quiser”, arremata. v Transformação em 30 dias Após comprado, o container marítimo segue para conserto e cortes. Em seguida, é feita a colocação de escada interna e de vidros, pintura e revestimento interno. O piso original, de madeira marítima, é mantido. A adaptação completa leva 30 dias. Ponto forte: não requer nenhuma manutenção especial, pois tanto o container quanto os materiais internos têm vida útil longa CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 13 CMNV08 ponto_de_venda.indd 13 07/12/09 14:55 ponto de venda As unidades oferecem todos os produtos da HP tanto para o consumidor final como para pequenas e médias empresas, além de produtos complementares não conflitantes 14 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 ponto_de_venda HPNova.indd 14 07/12/09 20:12 O lOgO está na fachada S Por TiciaNa WerNeck eguindo a tendência de fabricantes abrirem lojas próprias, a HP empreende uma escalada de fôlego no País. Já são 17 HP Stores espalhadas em Santos, Suzano, Salvador, Natal, Recife, Fortaleza, Goiânia, Curitiba, Caxias do Sul e Porto Alegre, Brasília, Florianópolis, Cuiabá, Belo Horizonte, Uberlândia e São Paulo. A iniciativa faz parte da estratégia de expansão de negócios da empresa no País e é baseada na abertura de HP Stores em parceria com revendas e ampliação das “Store in Stores” no canal de varejo. A gestão de varejo é totalmente exercida pelo parceiro. No caso da loja do shopping Anália Franco, de São Paulo, a gestão fica a cargo da MM Santos, que já tocava o projeto na versão santista. “O fato de repetirmos a parceria comprova o sucesso deste modelo de negócios para nós e para o parceiro”, explica Cláudio Raupp, vice-presidente do Grupo de Sistemas Pessoais da HP Brasil. O parceiro, por sua vez, também se beneficiou. “Somos conhecidos na Baixada Santista e há algum tempo queríamos expandir nossos negócios para a cidade de São Paulo”, completa Manuel Mendes, proprietário da MM Santos. A gestão de marketing passou por adaptações e modificações desde que o projeto começou, com o objetivo de integrar a promessa de marca de experiência para a HP Store e de ao mesmo tempo possibilitar que as diferenças regionais possam ser tratadas localmente. “Após um ano percebemos que o suporte inicial oferecido pela HP aos parceiros das HP Stores deveria ser ampliado para uma gestão integrada pela qual passamos a oferecer também o suporte de marketing, respeitando as características de cada região”, completa Raupp. Para dar conta do recado, a empresa contou com o apoio de uma consultoria de geomarketing, que realizou estudos baseados em perfis de consumidores que a HP deseja atingir. v stOre in stOre desde 2002, a hP iniciou a abertura de “store in stores” e verificou resultados significativos tanto em vendas como em satisfação do consumidor, que demonstrou ser 20% superior se comparado às lojas que não têm esse espaço, de acordo com pesquisas da empresa. as “store in stores” – já são 50 – são espaços dedicados à exposição e demonstração da marca em pontos de venda selecionados. além do atendimento especializado, realizado por promotores treinados pela fabricante, permitem ao consumidor experimentar os produtos da hP, que são apresentados de forma organizada e agrupada em móveis padronizados com a marca. CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 15 CMNV08 ponto_de_venda HPNova.indd 15 07/12/09 20:12 capa POR CELSO DE CAMPOS JR. VAREJO NO SANGUE F amília é tudo, diz a máxima transmitida, há décadas, de geração para geração. No mundo do varejo brasileiro, a família também é tudo. Ou melhor, quase tudo – para ser mais preciso, 90%. Esse é, de acordo com a estimativa de especialistas, o número da participação de empresas familiares no mercado varejista do País. Ou seja: nove em cada dez empresas no setor surgiram e prosperaram pelo esforço de desbravadores unidos por laços de sangue, que encontraram no varejo um campo aberto para seu desenvolvimento profissional. “No amadurecimento das economias, as indústrias não se preocuparam em montar um canal de distribuição próprio. Empreendedores, em famí- lia, decidiram explorar essa brecha e dedicar-se ao varejo, montando negócios em que a relação interpessoal era fundamental”, explica Eduardo Macedo, sócio-diretor da GS&MD – Gouvêa de Souza. Começava aí a história de pioneirismo que moldou o mercado à maneira que hoje o conhecemos. Do pequeno negócio à corporação gigante, as empresas familiares imprimiram sua marca no varejo, tornando-se referências sólidas para consumidores de todas as idades, cativados pela confiança conquistada ao longo de anos de relacionamento. “As empresas possuídas e administradas por famílias constituem uma forma organizacional peculiar, com uma cultura empresarial 16 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Materia Capa.indd 16 07/12/09 16:45 Fotos Douglas Luccena/ Divulgação muito forte”, analisa Domingos Ricca, sócio-diretor da DS zacional do curso de Parceria para o Desenvolvimento de Consultoria Empresarial e Educacional. “Elas extraem Acionistas da Fundação Dom Cabral. “Por isso, é preciso uma força especial da história, da tradição, da identidade lidar com equilíbrio e ponderar os aspectos emocionais e da linguagem comuns às famílias. Quando dirigentese racionais de cada família. Se a profissionalização puder chave são parentes, suas tradições, seus valores e suas ser feita com membros da família, ótimo. Se não for posprioridades brotam de uma fonte comum. Há uma lidesível, que se vá buscar ajuda externa. O que não se pode rança explícita, que oferece agilidade nas decisões, e uma fazer é deixar de gerir esse processo, pois a esfera dos nemaior proximidade com colaboradores e com clientes.” gócios se tornará disfuncional.” Claro, nem tudo são flores – e nem poderiam ser, Depois do advento da profissionalização, o conceito quando o assunto é família. Alguém já viu alguma em de empresa familiar passou a ganhar alguns complemenque não haja brigas? “Geralmente há problemas de retos, como explica Eduardo Macedo. Quando os donos lacionamento, pois todos se sentem donos – o grupo é são pessoas físicas da família do fundador, fica mantiescolhido pela genétida a nomenclatura de ca, e não pelo grau de “empresa familiar”. Se competência ou profisa família contrata uma sionalização”, lembra gestão profissional para Macedo. Isso desencacuidar da operação, deia uma cadeia de repassa a ser uma “emSoberanas no varejo brasileiro, ações, que vai do atrito presa familiar de gestão empresas familiares imprimem entre gerações até a inprofissional”. Quando, sua marca no mercado com segurança em relação à porém, a empresa é continuidade das polívendida para o capital identidade e cultura ticas, passando por um estrangeiro, ou as ações empresarial fortes; desafio potencial conservadoe o controle passam a rismo que muitas vezes estar nas mãos de teré consolidar transição para pode engessar o negócio. ceiros, tal companhia as próximas gerações “Quando a empresa fanão pode mais ser conmiliar encontra-se sem siderada familiar – ainconcorrência, ela cresce da que sua história teapesar dessas dificuldanha sido construída por des de relacionamento, uma família. pois é soberana no mercado. Quando começa a entrar No mesmo trilho da profissionalização, deveria chegar em uma área competitiva, porém, as chances de o negóo conceito de sucessão, que vem ocupando cada vez mais cio desandar aumentam. Aí a profissionalização passa a espaço nas conversas entre empresários. Entretanto, ao ser fundamental, para não comprometer a rentabilidade menos nas estatísticas, o tema ainda não conquistou a nem colocar a empresa em risco”, complementa. maioria das empresas familiares, especialmente aqueChegamos, então, à pauta do dia na maioria absolulas de menor porte. Dados de uma pesquisa realizada ta das empresas familiares. “Hoje, o mercado é exigente, em 2008 pela DBM, consultoria especializada na gestão competitivo, impiedoso. Uma empresa tocada por pesdo capital humano, em parceria com a ACTA RH e Carsoas despreparadas é um gatilho aberto para problemas, reira, revelaram que somente 48% das organizações posassim como a falta de alinhamento entre os sócios famisuem processos de sucessão. E, quanto menor a empreliares”, diz Maria Teresa Roscoe, professora nas áreas de sa, menor a preocupação com o assunto: enquanto 69% estratégia, gestão por processos e reestruturação organidas companhias com mais de cinco mil funcionários já >>> CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 17 CMNV08 Materia Capa.indd 17 07/12/09 16:45 capa adotam políticas de sucessão, apenas 19% das empresas com até cem funcionários dedicam-se ao tema. “Quando se fala de empresas familiares, a situação se agrava. O fundador não gosta de tratar desse assunto. Pensar em sucessão é como pensar no fim de um empreendimento que significa a própria vida”, diz Carla Virmond Mello, diretora da ACTA RH e Carreira. Como se vê, as empresas familiares do varejo podem ser vistas, dependendo do referencial, como simples ou complexas, modernas ou conservadoras, descomplicadas ou problemáticas. Mas o que ninguém pode negar é que são, acima de tudo, especiais – e que têm uma força incomum, especialmente nos momentos mais difíceis, como arremata Eduardo Macedo, da GS&MD – Gouvêa de Souza. “Quando veio a abertura Eduardo Macedo, da GS&MD “Quando há concorrência, a profissionalizacão se torna fundamental” AjuDA PROFissiONAl NOs PROCEssOs suCEssóRiOs “O varejo é um mundo prático, cativante, envolvente, apaixonante. Por isso às vezes é difícil saber o momento de passar o bastão para o outro. Entretanto, o fundador precisa ter consciência de que mais dia, menos dia, os papéis precisam ser revistos. Para a empresa ir a outros patamares, mudar de posicionamento, é preciso desapego.” Difícil? Pois é apenas o primeiro passo de qualquer sucessão, como lembra a professora Maria Teresa Roscoe, da Fundação Dom Cabral. Depois ainda vem a preparação da família, a identificação do sucessor, dentro ou fora do círculo, a função do fundador na fase seguinte... A sucessão é um processo complexo, que quanto mais cedo for iniciado, menos traumático tende a ser. Atualmente, um número significativo de empresas vem procurando ajuda profissional para pensar esse momento de transição. Não há fórmulas prontas: a atenção personalizada ainda é imbatível, e, por isso, consultorias, cursos e palestras sobre o assunto começam a aparecer em maior número por todo o Brasil. Na Fundação Dom Cabral, o “Programa de Desenvolvimento de Acionistas”, um dos mais tradicionais do país – mais de 160 empresas e 1.200 pessoas já passaram por ele em dez anos – foi criado para promover o desenvolvimento e a troca de práticas entre proprietários, herdeiros e acionistas de empresas familiares, que, juntos, buscam alinhar responsabilidades, prerrogativas, direitos e estratégias de gestão para preservar e expandir o patrimônio familiar e facilitar a performance e a continuidade da empresa. Entre os conteúdos analisados estão questões de contextualização, papéis nas empresas familiares, questões patrimoniais e jurídicas, gestão das empresas, sucessão, riscos e responsabilidades dos acionistas e dos administradores. “É um curso voltado para toda a família, mesmo aqueles que não atuam junto à empresa. Passam por temas pertinentes ao tema empresa familiar: põe na mesma sala pai, mãe, filhos, netos, em um processo de amadurecimento que engloba a todas. O foco é educacional, uma base mesmo, que ajuda no processo de clarificação dos interesses”, explica Maria Teresa. 18 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Materia Capa.indd 18 07/12/09 16:45 ao capital estrangeiro, as empresas familiares brasileiras se depararam com grandes grupos dispostos a investir pesado, montando ou comprando negócios por aqui. O bacana é que os empresários brasileiros que tinham empresas familiares conseguiram rivalizar muito bem com os gigantes vindos de fora. Isso porque conheciam o mercado, as pessoas, e estavam abertos às novas tecnologias. Era gente preparada, que na hora da turbulência sobreviveu junta.” Como uma família. Aliás, como as famílias que retratamos a seguir, que não apenas sobreviveram às intempéries, mas se reinventaram para manter a posição hegemônica em suas áreas. Confira nas próximas páginas um painel com os perfis das principais varejistas-familiares brasileiras, e veja como elas construíram suas histórias de sucesso. Domingos Ricca, da DS “Essas empresas formam uma organização peculiar com uma cultura muito forte” DifERENçAs Do pAssADo = poTENCiAl DEsTRUTivo Em qualquer sociedade empresarial, o exercício dos direitos dos sócios é sempre um ponto delicado. Tanto o direito de voto, para direcionar decisões estratégicas, quanto o direito patrimonial, que diz respeito diretamente ao capital, são temas calorosos em que a unanimidade geralmente é um sonho distante. Na empresa familiar, há esse mesmo ônus – porém com uma lista bem maior de agravantes. “Entre sócios familiares, os conflitos podem trazer brigas do passado, criando a discórdia por diferenças não profissionais, que podem contaminar toda a operação”, pondera o advogado Roberto Mendonça, titular da área societária do escritório Miguel Neto Advogados e especialista em empresas familiares. No momento em que o fundador não está mais à frente da empresa, então, o caso torna-se ainda mais perigoso. As brigas pelo comando podem não apenas causar problemas pontuais ou de gestão, mas, em último caso, levar à própria extinção da empresa. Um caso clássico é o do grupo Matarazzo: o maior conglomerado empresarial brasileiro, com toda sua história pujante e pioneira, simplesmente desapareceu devido à disputa interna pelo controle que se sucedeu ao desaparecimento do patriarca. “Na formação latina, o pai sempre sonhou com o filho sucessor, mas não o preparou para assumir os negócios. Além disso, o latino é criado para ser dono, e não acionista, o que muitas vezes cria enorme dificuldade quando os membros da família precisam tomar decisões em conjunto”, explica Mendonça. Quando começa a ficar evidente que a empresa está no caminho errado, a primeira providência a ser tomada pelos familiares é dar um passo atrás para repensar os destinos da companhia. “Eles precisam ter uma visão clara do problema e tomar atitudes firmes, como o afastamento total, abrindo espaço para a implantação de práticas de governança corporativa, recorrendo a mediadores”, diz o advogado. Esse afastamento não é definitivo: se a empresa voltar ao rumo certo, a família pode retomar as rédeas – mas é recomendado, que os herdeiros, enquanto estejam longe da empresa, passem por cursos intensivos de qualificação e profissionalização. Caso contrário, as chances de a história se repetir são enormes. >>> CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 19 CMNV08 Materia Capa.indd 19 07/12/09 20:16 capa Lojas Pompéia Primeira loja fundada em 1953 Apenas roupas masculinas CRESCENDO COM A COMUNIDADE Orgulho das raízes – familiares e dos pampas. Foi em clima de unidade e comunhão com o Estado do Rio Grande do Sul que as Lojas Pompéia, rede de lojas de departamento que hoje conta com 54 unidades em 52 municípios gaúchos, tornaram-se um ícone do varejo local e um tremendo caso de sucesso regional. Fundada em 1953 por Lins e Valdemar Ferrão no município de Camaquã, distante 127 quilômetros de Porto Alegre, a empresa, inicialmente batizada A Principal, e que comercializava apenas roupas para homens, decolou nos anos 1960 voltando-se para o público feminino e infantil, até se tornar referência na moda contemporânea – sempre tendo como norte a proximidade com a comunidade. A rede faz questão de apoiar as várias festas regionais gaúchas, não só investindo recursos, mas também participando da divulgação e promoção dos eventos e atrações. Atualmente, as Lojas Pompéia empregam mais de 2.500 funcionários no Rio Grande do Sul, todos eles comandados, como antigamente, pelos Ferrão. A segunda geração da família dos fundadores chegou ao comando da empresa nos anos 1980; mais recentemente, nos anos 2000, a terceira geração começou a entrar nos negócios. “Ao contrário do que acontece em algumas empresas, nossa família se dá muito bem, mesmo. Entendemos que precisamos estar juntos para crescer”, diz Carmem Ferrão, superintendente de marketing e vendas, integrante da segunda geração. Entre superintendência e diretoria, são nove executivos da família. Não há, porém, espaço para amadorismo: todos os integrantes familiares só chegam na base do mérito e precisam carregar o DNA e os valores da organização. “Consideramos que tudo faz parte de um processo evolutivo. A chegada das novas gerações aos postos de comando traz novos conhecimentos e novos desafios, mantendo sempre a empresa atualizada”, diz Carmem, que já acompanhou a filha, Ana Paula, chegar ao cargo de gerente de marketing. O resultado dessa política é mais do que positivo: as Lojas Pompéia hoje desfrutam de uma imagem moderna, em constante atualização com a moda e com as ferramentas modernas de equipamentos de pon- tos de venda e propaganda. Isso tudo, claro, sem esquecer de sua história cinquentenária e de onde tudo começou – a matriz, o centro administrativo e o centro de distribuição seguem sediados em Camaquã. Fachada em Porto Alegre, e abaixo integrantes da 1a, 2a, e 3a geração da família em ação >>> 20 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Materia Capa.indd 20 07/12/09 16:46 Pernambucanas Tradição cenTenária Loja de São Carlos (SP), em 1964 comerciais agradavam a toda a família Pioneirismo e inovação marcam os mais de cem anos de história de uma das mais tradicionais redes do varejo brasileiro, as Casas Pernambucanas, fundadas em 1908 por Frederico João, Alberto, Arthur Lundgren e irmãos. A gigante varejista, que nasceu para escoar a produção da Companhia Paulista de Tecidos, comprada pelo patriarca e imigrante sueco Herman Lundgren em Pernambuco alguns anos antes, foi responsável por introduzir no comércio brasileiro uma série de novidades, tais como a introdução do preço fixo em um mercado pontuado pela barganha, o lançamento de marcas próprias e a aposta na propaganda – os gerentes recebiam um manual em que eram instruídos a providenciar reclames em cinemas e circos, além de divulgar o nome da loja em postes, porteiras, cercas, pedras e afins. Com tudo isso, a rede prosperou e chegou a contar, entre os anos 1960 e 70, com cerca de 800 lojas em todo o Brasil. Ficaram célebres também seus comerciais, que agradavam a toda a família. Entretanto, nessa mesma época, as Pernambucanas sofreram com a disputa entre herdeiros, em um problema não incomum em empresas familiares. As operações foram separadas geograficamente, com razões sociais distintas – mas apenas o braço de Loja em Araguary (MG), em 1942 introdução do preço fixo em um mercado pontuado pela barganha São Paulo, a Arthur Lundgren Tecidos S.A., manteve-se vivo e relevante. Os negócios no Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará não vingaram. No rescaldo do conflito familiar, em 2002 a direção da empresa recorreu a um headhunter para buscar um profissional capaz de reverter o prejuízo histórico registrado no ano anterior – US$ 4 milhões. Marcelo Silva, veterano de duas décadas da rede de supermercados Bompreço, foi o escolhido para comandar a retomada e levou as Pernambucanas a uma espetacular virada – em 2007, a empresa registrou um lucro líquido de US$ 55,1 milhões. Nesse ano, com a saída de Marcelo Silva para o Magazine Luiza, a superintendência da rede passou para o executivo Dílson Santos. Hoje, as Casas Pernambucanas, administradas por Anita Louise Regina Harley, neta de Arthur, e Frederico Axel Lundgren, neto de Alberto, contam com cerca de 260 lojas em seis Estados brasileiros e 15 mil funcionários, e mantêm-se entre as primeiras do mercado nos setores têxtil, de vestuário e eletro, honrando sua centenária tradição. >>> CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 21 CMNV08 Materia Capa.indd 21 10/12/09 16:24 capa Pão de Açúcar Seção de FLV em uma loja de São Paulo Trajetória marcada pela inovação O impériO dOs diniz A doceira fundada pelo imigrante português Valentim Diniz já não existe há décadas, mas segue como uma marca indelével no varejo nacional. Afinal, qualquer executivo que se preze conhece a extraordinária história do Pão de Açúcar, que começou com a pequena confeitaria aberta por seu Valentim e evoluiu para um grupo verdadeiramente tentacular, altamente diversificado e profissionalizado, com capital nas Bolsas de São Paulo e de Nova York, e que conta com mais de mil lojas e 79 mil funcionários em 17 Estados. Mas todo o sucesso que a marca alcançaria nos anos 2000 esteve ameaçado por uma sequência de turbulências econômico-familiares que teve seu ápice nos anos 1980, e que quaLoja no 1, se liquidou, no início da década seguinte, ao lado da a grife criada pelo imigrante. Superada a famosa doceira crise, o Pão de Açúcar se tornaria uma das precursor do maiores empresas nacionais – mas já não sistema de mais familiar como nos velhos tempos. autosserviço Foi Valentim Diniz quem inventou o conceito de supermercado tal qual hoje o conhecemos, cadeias ao longo dos anos, crescia sem sobressaltos até desde que abriu, em 1959, a primeira loja com a marca a década de 80, quando a crise financeira e uma disputa Pão de Açúcar. A rede, que já agrupara diversas outras ferrenha pelo poder entre os integrantes do clã dos Diniz estiveram muito perto de colocar a perder todo o império da família. Uma queda de braço deixou o primogênito Abilio Diniz com a maioria das ações – o patriarca Valentim e a filha Lucilia ficaram como minoritários, com os outros quatro irmãos comprados para fora da administração –, o que precipitou a segunda fase da história da empresa. Com faro, tino, trabalho e vontade, Abilio Diniz recolocou o Pão de Açúcar nos trilhos do sucesso, com uma reestruturação dolorida, mas necessária, que faria a marca disparar ao longo da década, já associada ao grupo francês Casino. Em 2003, Abilio Diniz, que ocupava a posição de presidente-executivo, assumiu a cadeira de presidente do Conselho de Administração e principiou um profundo processo de profissionalização da empresa, hoje 100% concluído. A eleição de Cássio Casseb para a presidência da companhia, em 2006, marcou a estreia de um diretor presidente que não fizesse parte do corpo diretivo – um passo crucial no sentido da profissionalização e da governança corporativa cuja implantação estava em curso na empresa. Atualmente, todos os cargos executivos são exercidos por profissionais de mercado, em um movimento aparentemente irreversível. 22 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Materia Capa.indd 22 07/12/09 16:47 Pague Menos O fenômenO que veiO dO Ceará Embora seja uma das caçulas desta lista elaborada por Consumidor Moderno NOVAREJO, a rede de farmácias Pague Menos já tem tamanho suficiente para ser considerada um verdadeiro fenômeno do varejo brasileiro. Menos de duas décadas depois da abertura de uma pequena loja na periferia de Fortaleza, o empresário Francisco Deusmar de Queirós e família comandam uma companhia que fatura R$ 1,55 bilhão por ano e está presente em todos os Estados da federação, com mais de 200 lojas. Líder no segmento em faturamento, número de lojas, metro quadrado por área de venda e número de funcionários, de acordo com dados da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias, a Pague Menos ditou tendências no mercado brasileiro. Antecipando o modelo do correspondente bancário, a rede já em 1989 vendia vales-transporte e recebia contas de água, luz e telefone – o que ajudou a cativar os clientes e conquistar o mercado do Norte e Nordeste. Deusmar também incorporou de forma célebre o conceito norte-americano de drugstore na Pague Menos, oferecendo tanto remédios e itens de beleza e higiene pessoal quanto objetos de uso diário, como cartões e aparelhos telefônicos. “Com a concorrência crescente, a única saída para o setor é ampliar seu mix de vendas. Dessa forma, obtém margens de lucro que permitem, inclusive, praticar nos medicamentos preços abaixo do valor de tabela, mais compatíveis com o poder de compra do brasileiro”, diz ele, que conta com a ajuda dos filhos no dia a dia da empresa. O excelente trabalho da herdeira Patriciana Rodrigues, diretora de compras e marketing da rede, já está sendo inclusive reconhecido no mercado – a jovem foi uma das agraciadas com o prêmio Profissional do Marketing de 2009, pela revista “Marketing”. A invasão do Sul Maravilha, que cristalizou o sucesso nacional da rede, começou em 2002. Primeiro em São Paulo, e depois nos demais Estados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste, a Pague Menos fincou sua bandeira e seu modelo de negócio, baseado no tripé inovação, conveniência e cidadania. Desde os anos 1980, a Pague Menos tem programas de doação de ambulâncias e cadeiras de rodas; em 2003, firmou convênio com o Unicef para colocar em prática o “Infância Feliz Pague Menos”, para doação de livros e a educação de crianças de baixa renda. Isso é que é saúde! Franciso Deusmar à frente da rede de 200 lojas, que faturou r$ 1,55 bilhão em 2008 >>> Primeira loja em Fortaleza ao lado da atual a rede é líder de faturamento no segmento de drogarias CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 23 CMNV08 Materia Capa.indd 23 07/12/09 16:47 capa Marisol Giuliano Donini, atual presidente Seu nome saiu de uma lista de cinco executivos avaliados De Jaraguá Do Sul para o munDo Quando, em 2008, uma campanha publicitária associou o slogan “Inovação no DNA” à divulgação institucional da Marisol, o intuito era, além de retratar as raízes familiares da empresa, solidificar o conceito de inovação na criação de produtos e na forma de gerenciamento de marcas. E nada poderia ser mais justo. Basta acompanhar a trajetória da companhia de Jaraguá do Sul (SC), que começou, em 1964, como uma pequena fábrica de chapéus de praia, e que hoje é uma das maiores empresas do Brasil do setor de vestuário. Hoje, a Marisol não apenas honra a tradição como fabricante de roupas – suas três unidades fabris em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Ceará têm capacidade instalada para produzir, juntas, 12 milhões de peças de roupas e dois milhões de pares de calçados por ano –, como também se desdobrou em uma potência do varejo. Ousada, a companhia constituiu um braço responsável por administrar os canais de distribuição, por meio de franchising e credenciamento, das marcas Lilica Ripilica, Tigor T. Tigre, Rosa Chá e a One Service, que gerencia a rede One Store. Como resultado, tornouse líder no segmento de confecção infantil e franquias monomarcas – são 164 franquias exclusivas e mais de 15 mil pontos de multimarcas. Na mais recente mudança no comando da empresa, o bastão foi transmitido justamente por DNA: em março de 2008, Vicente Donini, que esteve à frente da empresa por 12 anos, passou a presidência executiva para seu filho, Giuliano Donini, que até então era diretor de marketing. Mas que não se pense que a sucessão foi automática: todo o processo foi acompanhado por uma auditoria, e o nome de Giuliano saiu de uma Acima, interior de uma loja Lilica Ripilica; ao lado, as primeiras costureiras da época da fabricação de chapéus lista de cinco executivos avaliados internamente ao longo de seis anos. Em que pese a tradição familiar, a Marisol é uma empresa altamente profissionalizada, com visão estratégica e planos de diversificação, expansão e internacionalização. A melhor definição do espírito inovador que move a Marisol talvez tenha sido dada por Vicente Donini, quando de sua saída da presidência executiva da instituição: “As instituições ficam e as pessoas passam. Não há o direito de envelhecer nessa cadeira, senão a instituição >>> envelhece”, sentenciou. 24 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Materia Capa.indd 24 07/12/09 16:47 Untitled-1 3 07/12/09 19:59 capa Magazine Luiza De Luiza para Luiza Por uma série de motivos, o Magazine Luiza é uma das empresas brasileiras mais identificadas como familiar. E nem poderia ser diferente. Para começar, a rede leva o nome da fundadora – Luiza Trajano Donato, que, em 1957, com o marido Pelegrino José Donato, adquiriu uma pequena loja de presentes em Franca. Sucesso no pujante interior paulista durante décadas, a rede cresceu ainda mais a partir de 1992, quando se tornou uma holding capitaneada pela sobrinha dos fundadores, Luiza Helena Trajano. Apesar de ter se tornado uma gigante do varejo, com atitudes ousadas e comercialmente agressivas – a aquisição de outras redes é a chave para a multiplicação do número de lojas –, o Magazine Luiza preza ainda os mesmos valores caros aos velhos Trajano Donato: a cordialidade e a proximidade com a clientela. A sobrinha Fundamental na trajetória de explosão da rede foi o Luiza Helena tino empresarial e o carisma de Luiza Helena, que comepreza os mesmos çou a labutar na loja dos tios aos tenros 12 anos de idade, valores caros durante suas férias escolares. Depois de ingressar oficialaos velhos mente no grupo, trabalhou em diversos departamentos, Trajano Donato: da cobrança à gerência, passando por vendas e direção cordialidade e comercial, antes de chegar à proximidade superintendência. A par do com o cliente negócio como um todo, Luiza Helena – que se tornou literalmente a cara do Magazine Luiza, estrelando diversas peças publicitárias – pôde conceber e executar alguns dos projetos que ajudaram a rede a se catapultar no mercado, como a criação das Lojas Eletrônicas Luiza e a arrasadora abertura simultânea de meia centena de lojas na cidade de São Paulo, sonho da tia Luiza. Como outras empresas, também o Magazine Luiza deu um passo em direção a profissionalização: em 2009, contratou o executivo Marcelo Silva para assumir a cadeira de superintendente – Luiza Helena Trajano passou a ocupar o recémcriado cargo de presidente. Acima, primeira loja; abaixo, flagrante da ação da chegada da rede à cidade de São paulo: 50 inaugurações simultâneas Silva, que esteve à frente das Casas Pernambucanas por seis anos, terá a missão de preparar a empresa para sua oferta pública inicial de ações, prevista para 2010. Muitos analistas acreditam que outra das missões de Marcelo Silva será preparar o jovem Frederico Trajano, um dos filhos de Luiza e atual diretor-executivo de marketing e vendas, para assumir a empresa em um futuro breve. 26 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Materia Capa.indd 26 07/12/09 16:48 Lojas Colombo em sintonia com o consumiDor Campeã de audiência no Sul do País, as Lojas Colombo, fundadas em Farroupilha pelos primos Adelino Raymundo Colombo e Dionysio Baltahsar Maggioni no ano de 1959, devem sua expansão inicial justamente aos aparelhos televisores. Explica-se: com a inauguração da primeira emissora de TV do Rio Grande do Sul, os empresários Colombo e Maggioni perceberam que a televisão se tornaria mania entre os brasileiros e criaram um consórcio para vender televisores. Com essa tacada certeira, as Lojas Colombo não apenas abocanharam boa fatia do mercado como ainda conquistaram lugar cativo no coração dos clientes, ao viabilizar a compra do objeto de desejo de dez entre dez consumidores à época. Em 1965, abria-se a primeira filial da Colombo, em Caxias do Sul; em 1992, os números da rede já eram de 167 lojas e 16 franquias nos três Estados do Sul do Brasil. Em 1999, as Lojas Colombo iniciam seu processo de nacionalização, com a abertura das primeiras unidades no interior do Estado de São Paulo – a aquisição das redes regionais paulistas Wanel e Taurus impulsionou a rede gaúcha como potência no setor do varejo de eletrodomésticos e móveis. Hoje, a companhia tem 357 lojas, três centros de distribuição e cerca de seis mil colaboradores nos seguintes Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Nos últimos anos, porém, Adelino Colombo, fundador, sócio majoritário e presidente da empresa, vem enfrentando algumas situações delicadas. No início dos anos 2000, uma batalha judicial opôs o empresário a Miguel Maggioni, filho e único herdeiro do antigo sócio Dionysio – conflito que só terminou quando Adelino comprou as ações de Maggioni. Mais recentemente, em 2006, em um primeiro passo para a sua sucessão, Adelino escolheu o genro Olivar Berlaver para a vice-presidência, que venceu, por assim dizer, a disputa familiar com os filhos Carlos Alberto e Karen. Entretanto, no final de 2008, Berlaver, especula-se que por desentendimentos com o patriarca, deixou a rede. O nome da vez agora é do neto de Adelino, Carlos Eduardo Colombo, que responde pela diretoria de vendas e expansão, um dos três braços executivos das Lojas Colombo. Os outros dois são ocupados por profissionais do mercado – sinal de que o jovem está sendo preparado para, no futuro, assumir as rédeas da empresa. >>> Adelino Colombo; fachada atual da colombo premium em são paulo; e a primeira loja, de 1959, em Farroupilha (rs) CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 27 CMNV08 Materia Capa.indd 27 07/12/09 16:48 capa Casas Bahia DeDicação total ao varejo Samuel e Michael Klein ao lado; acima a primeira loja em São caetano do Sul (SP) Matriz atual da rede 500 lojas, 60 mil empregados e 31 milhões de clientes Não há, no varejo brasileiro, história mais clássica de empreendedorismo e sucesso do que a trajetória de Samuel Klein e suas Casas Bahia. O imigrante que fugiu dos horrores da guerra e se tornou o símbolo da maravilha do crédito para a população de baixa renda é modelo para dez entre dez empresários – não só brasileiros, mas internacionais, como atestam inúmeros estudos de caso de universidades e escolas de negócio mundo afora. Partindo de uma pequena charrete em que mascateava roupas de cama, mesa e banho no ABC paulista, na década de 1950, o mais brasileiro dos judeus poloneses ergueu um império que chegou, em 2009, a 500 lojas, 60 mil empregados e 31 milhões de clientes. Tanta prosperidade, não há dúvida, veio justamente dos ensinamentos da cartilha de Samuel Klein, comerciante no sangue, para quem o slo- gan “dedicação total a você” precisa se aplicar tanto aos clientes quanto aos colaboradores. Herdeiros da vocação paterna, dois de seus filhos, Michael e Saul, começaram a trabalhar na empresa nos anos 1980, quando a rede já contava com cerca de cem lojas, comercializando especialmente móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Com o auxílio da dupla, Samuel comandou uma irresistível expansão das Casas Bahia pelo Brasil, que quintuplicou o número de pontos e espalhou-os por 11 Estados (mais o Distrito Federal). Hoje com 86 anos, Samuel Klein ainda é a principal voz na empresa, mas, ao longo dos tempos, já foi passando o bastão para os filhos, que em quase três décadas de empresa acumularam grande experiência no ramo. Em 2009, a rede passou pela maior mudança societária de sua história: Saul Klein, até então responsável pela área comercial das Casas Bahia, vendeu para o primogênito Michael sua participação nas ações da empresa – um terço. Michael Klein, presidente da empresa e número um na sucessão de Samuel, agora detém dois terços das ações, com o terço restante pertencente à irmã Eva, que não participa da administração da empresa. De uma forma ou de outra, a soberania dos Klein segue inabalável nas Casas Bahia. >>> 28 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Materia Capa.indd 28 07/12/09 16:48 Untitled-1 1 07/12/09 19:58 capa O Boticário Fórmula de sucesso O mix de produtos de O Boticário conta com mais de 600 itens, a maioria absoluta deles testados e aprovados pelo público e pela crítica. Pode-se dizer, contudo, que a fórmula de maior sucesso de O Boticário não está em nenhum cosmético, e, sim, na gestão impecável empreendida pelo fundador Miguel Krigsner. Não fosse por ela, a pequena farmácia de manipulação de Curitiba, aberta em 1977, jamais teria virado a maior rede de franquias do setor de cosméticos em todo o planeta – são mais de 2.700 lojas no Brasil, espalhadas por 1.520 cidades, e mais de 73 lojas e 1.000 pontos de venda em outros 15 países. Um crescimento quase sobrenatural para uma empresa de pouco mais de 30 anos de vida – mas que pode ser explicado pelo planejamento profissional e pela dedicação de seus funcionários, liderados pelo exemplo de Krigsner. O marco do crescimento vertiginoso da companhia foi a abertura da loja de O Boticário no aeroporto de Curitiba, em 1979, na qual brasileiros de diversos Estados passaram a conhecer as aprazíveis fragrâncias criadas pela marca. Visionário, Krigsner, farmacêutico de formação com notável espírito empreendedor, percebeu uma oportunidade de negócio em um mercado que ainda engatinhava no Brasil – as franquias. No ano seguinte, a primeira franqueada do Boticário era aberta em Brasília, e em 1982 a empresa inaugurava sua fábrica em São José dos Pinhais, que hoje emprega 1.100 funcionários – entre empregos diretos e indiretos na rede de lojas, são 14 mil postos. Desde então, O Boticário se consolidou como uma empresa ecologicamente responsável (lançou, em 1990, a Fundação Boticário de Proteção à Natureza) e amiga do cliente (sua central de relacionamento é anterior ao próprio Código de Defesa do Consumidor). Em 2008, O Boticário passou por uma mudança de comando – em família. Miguel Krigsner deixou a presidência da empresa para assumir a presidência do Conselho de Administração do Grupo G&K, controlador de O Boticário. Em seu lugar, assumiu o executivo Artur Noemio Grynbaum, cunhado de Krigsner, que trabalha na empresa desde 1986 e desde 2002 ocupava a vice-presidência. Preparada ao longo dos últimos anos, a sucessão foi pensada e executada de forma toda estruturada, de acordo com critérios profissionais e aprovada em consenso entre os membros do Conselho de Administração. Pelo faturamento do primeiro ano de Grynbaum à frente de O Boticário – R$ 1,04 bilhão da indústria e R$ 2,8 bilhões da rede –, pode-se dizer que a passagem do bastão em nada afetou o encanto e a alquimia da rede. Artur Grynbaum, cunhado do fundador Miguel Krigsner sucessão foi pensada e executada de forma estruturada, aprovada em consenso pelo conselho 30 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Materia Capa.indd 30 07/12/09 16:48 Cybelar da indústria ao varejo À esquerda, loja ainda com o nome Fabri Pasquoto na década de 60; acima primeira loja em tietê (sP) nos anos 70; e abaixo loja ecossustentável em vinhedo (sP) Qual a semelhança entre a pequena Marcenaria Sant’Ana, fundada em 1952 em Tietê (SP), com a moderna rede varejista Cybelar, gigante no mercado de móveis e eletrodomésticos no interior paulista? Acertou quem respondeu que são duas pontas de uma mesma história – marcada, sempre, pela constante renovação. Ainda nos idos de 1950 e início de 1960, a marcenaria fundada por Ângelo Pasquotto prosperou e se tornou uma indústria de móveis. Para escoar a produção, o empresário decidiu montar uma loja, começando assim sua história no varejo. Entretanto, Pasquotto notou que, ao entrar para comprar móveis, os clientes tinham ainda outras necessidades. “Sabe quando a pessoa vai comprar a cama, e pergunta se temos o colchão também?”, explica o atual presidente da Cybelar, Ubirajara José Pasquotto, filho de Ângelo. Assim, a família incluiu fogões, geladeiras, televisores e outros produtos que não faltam na casa dos consumidores brasileiros. Até os anos 70, a empresa de Pasquotto continuava fabricando móveis. Foi quando o fundador decidiu por uma nova mudança de rumo. Sem capital para investir em uma grande fábrica moveleira, com padrões modernos, decidiu voltar suas atenções exclusivamente ao varejo, vendendo móveis ao invés de produzi-los. A escolha mostrou-se acertada, e a nova Cybelar, já com a ajuda de Ubirajara, que entrou na empresa em 1981, cresceu até se tornar, hoje, uma rede de peso que conta com mais de 70 lojas espalhadas pelo interior de São Paulo. São mais de um milhão e cem mil clientes cadastrados e 1.400 funcionários. O presidente prevê ainda a abertura de uma dezena de novas lojas para 2010. “O varejo mudou muito em 25 anos, os consumidores sabem o que é de qualidade e quer consumir bons produtos”, explica. Certamente a Cybelar continuará os atendendo. v CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 31 CMNV08 Materia Capa.indd 31 07/12/09 16:48 seu consumidor (consciente) A partir de agora, traremos nesta seção o perfil de um consumidor que simboliza um nicho. Nesta primeira, o perfil de um consumidor consciente O dia a dia de uma consumidora que está atenta ao que compra – e ao que deixa de comprar ESTE SIM, V POR CHRISTYE CANTERO aléria Borgato não usa carro, não come carne, dispensa sacola plástica, separa o lixo e não compra nada que possa, em seu processo de produção, ter agredido fauna ou flora. Engajada, a professora está sempre em busca de informações para decidir o que comprar (ou não), e também está disposta a falar bem de empresas que atuam de forma consciente. FOTOS Douglas Luccena AQUELE NÃO 32 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Seu consumidor.indd 32 07/12/09 17:16 Para isso, visita sites de Organizações Não-Governamentais (ONGs), como a Peta, que divulga, por exemplo, listas das marcas que testam cosméticos em animais. “Em determinados medicamentos, não dá para fugir disso, mas por que queimar o olho de um coelho para testar um rímel? A Natura é uma empresa que procura não testar em animais”, comenta. Há 12 anos, a professora virou vegetariana. Por quê? Carne faz mal? Não, é por causa do desmatamento, motivo que também a está fazendo evitar comer soja. “A soja está acabando com a mata nativa”, diz. Quando está numa festa em que são usados descartáveis, ela usa apenas um copo durante o evento para evitar a produção de mais lixo. Na escola em que dá aulas, faz campanha junto aos professores para que todos levem suas canecas e não usem os descartáveis. “É um crime usar e jogar fora. Tem professora que já aderiu ao squeeze para não precisar do copo”, comemora. Para evitar desperdício de papel, o que sobrou do pacote de provas vira bloco de recados e rascunho. “Já cheguei a fazer prova em papel rascunho para economizar”, conta. Na escola, pega no pé dos alunos para reaproveitar papel. “Além da madeira que foi consumida, a fabricação do papel demanda uma quantidade de água imensa, tratada com amônia, para deixar ele branquinho”, explica. Sapatos e bolsas só de pano, no máximo com detalhes em couro. O sofá da casa é de couro biodegradável. Nos móveis, nada de madeira maciça, só compensados. “Quando fui comprar os móveis procurava por madeira certificada e perguntava a procedência. Perguntava tanto que chegava a ser 28% dos consumidores preferem comprar em redes de varejo que promovem ações ambientais 37% estão dispostos a pagar mais por um produto ecologicamente correto 78% dos clientes consideram que as redes de varejo têm responsabilidade sobre seus fornecedores Fonte: Instituto Akatu pelo Consumo Consciente irritante, meu marido ficou tenso”, lembra entre risos. O prédio em que ela mora tem coletor de pilhas e coleta seletiva. Há sete anos, a professora e o marido, Paulo Durão, separam o lixo orgânico do que é reciclável. O óleo usado é armazenado e entregue em estações de reciclagem, como das redes de supermercados CompreBem ou Pão de Açúcar. Na escola em que dá aulas, participou de um projeto para transformar o óleo em sabão, e doá-lo a instituições. “Ele pode ser usado até para lavar a roupa. Todo mundo deveria >>> PERFIL Nome: Valéria Borgato Idade: 36 anos Profissão: química Vivo muito bem sem: comer carne Ainda não consegui abrir mão: do açúcar refi nado Nunca vou comprar: sofá de couro ou qualquer artigo de outra pele Quando o assunto é consumo consciente, o fundamental é: conhecer a si mesmo, e se questionar: “preciso desta mercadoria?”; “ela me proporcionará bem estar duradouro a mim, ao planeta e as pessoas?” Tenho como aliada para definir as marcas que compro: pesquisas em meios de comunicação alternativos realizados por grupos que militam em favor do meio ambiente Tomo banho em: 15 minutos Separo o lixo desde: 2000 Guardo óleo para reciclagem desde: 2002 Uso menos sacolas plásticas desde: sempre (fui criada em um ambiente consciente, uma época em que ninguém falava em ecologia) CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO NOV/DEZ 2009 | 33 CMNV08 Seu consumidor.indd 33 07/12/09 17:16 seu consumidor (consciente) BATE-BolA Lê os rótulos das embalagens para ver se contêm elementos poluentes? >> sempre. Dou aula sobre isso... Deixa de comprar produtos com excesso de embalagem? >> sim. Usa os dois lados de uma folha de papel? >> sempre. Opta por produtos regionais no momento das compras? >> sim. Está disposta a pagar mais por produtos verdes? >> sim, principalmente agora com minha filha. Comprar menos está associado à sustentabilidade? >> Está associado ao autoconhecimento, à felicidade. Quem se conhece, se aceita, é feliz com as coisas simples da vida, não precisa ter carro do ano, a roupa da mocinha da novela, a TV mais moderna. Consumo X Consumismo A pesquisa “Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente”, divulgada pelo instituto Akatu, aponta que 33% dos brasileiros adotam atitudes mais conscientes em seus atos de consumo. Eles não se preocupam apenas com os impactos sobre si ou com os benefícios imediatos, mas pensam nos impactos positivos que suas atitudes têm sobre os outros e sobre o futuro. A questão do consumo é interessante. Alguns acreditam que o ideal é que se consuma cada vez menos. A escritora americana Vicki Robin, líder do simplicity Forum, aliança internacional pelas ações sustentáveis e autora do livro “Dinheiro e Vida”, acredita que o consumismo é um grande mal. Ela defende uma vida mais simples, independentemente do tamanho da cidade em que a pessoa vive, e o respeito à natureza. Por outro lado, o economista ecológico Herman Daly afirma que o crescimento da produção é o que gera riqueza e dá às pessoas um padrão de vida. E se, hipoteticamente, as pessoas resolvessem parar de consumir? As indústrias teriam de demitir muita gente. Talvez a solução seja um equilíbrio entre o que consumir e em que quantidade. fazer em casa, tem fórmulas na internet, é superfácil”, dá a dica. Para ir trabalhar, Valéria é adepta do ônibus. “Sou do grupo ‘vida simples’. Mas reconheço que para mim é cômodo, porque moro no Paraíso (bairro da zona sul de São Paulo), a dez minutos da avenida Paulista, e vou para onde quiser de metrô ou ônibus”, observa. Dá para ser otimista em relação ao futuro? Ela diz que pela experiência que tem como professora, e pelos vários colégios que conhece, percebe que esse tema tem sido muito debatido. “Daqui a dez anos será uma gafe uma pessoa sair da loja com sacola de plástico. Ter preocupação ecológica será um hábito como escovar os dentes. Será o mesmo que aconteceu com o cigarro, antes cool, hoje totalmente banido”, comenta. Ela acredita que esse movimento tem muita relação com os jovens que aprendem novos comportamentos na escola e acabam transmitindo o que sabem para os pais. “O adolescente é muito crítico. Tenho vários alunos engajados, eles vão fazer essa virada. Espero que a Marina (sua bebê de seis meses) já pegue essa outra fase”, diz. Nas gôNdolas Valéria comenta que suas compras são uma expressão do que ela é. No carrinho, frutas, legumes e verduras. Ovos só os orgânicos, que são de galinhas criadas soltas, e não confinadas. O material de limpeza é escolhido com cautela. “Procuro não usar produtos fortes porque vão para a água subterrânea. Minha empregada adora água sanitária, mas eu não compro porque a toxicidade que ela provoca é altíssima”, diz. Quando está no mercado, Valéria deixa de comprar produtos que têm excesso de embalagem e é muito atenta aos rótulos, para checar se contêm elementos poluentes. Isopor nem pensar. “Os rótulos deveriam mostrar, além da quantidade de calorias, quanto tempo aquela embalagem leva para se deteriorar”, sugere. Os sacos plásticos que envolvem produtos, como algodão, pão de forma e fraldas (sim, a correria ainda não permitiu que Valéria se desvencilhasse delas) são usados para recolher as fezes da cadela Ganesha. “Estamos numa época complicada, não se pode pegar um produto da gôndola do supermercado sem consciência. É preciso se perguntar se precisa mesmo daquilo. Sem dúvida, é mais fácil não pensar. Quanto mais conhecimento se tem, mais infeliz você fica”, finaliza.v 34 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Seu consumidor.indd 34 07/12/09 17:16 AnunciosSimples.indd 10 08/12/09 17:41 comunicação interna A Arte de contAr históriAs.ppt Comunicar mudanças e novidades internamente é um desafio para o varejo, seja pela quantidade de gente envolvida ou pela pressão das vendas de todo dia. Uma nova abordagem para as apresentações de Power Point pode ser a saída I Por Julio SimõeS magine a cena: você precisa criar uma apresentação para comunicar ou tentar vender um novo projeto à sua equipe, seus colaboradores ou seus clientes. Para isso, escolhe o famigerado Power Point, ferramenta que ficou “famosa” pela enxurrada de arquivos de correntes, autoajuda e piadas que correm pelas caixas de mensagem mundo afora. Sem pensar muito, você faz uma breve lista daquilo que precisa falar, abre o programa e desagua toda a sua criatividade na construção de telas com fundos coloridos ou paisagens, letras distorcidas de difícil leitura e sons onomatopéicos para “animar” a apresentação. Pronto, missão cumprida. Na hora de exibir a criação, você está nervoso, suas mãos suam e o medo de não escolher bem as palavras e, consequentemente, não ser compreendido o preocupa. Isso sem falar na possibilidade de ocorrer alguma falha técnica no equipamento e a incerteza quanto à reação do público desconhecido que o aguarda sem muita empolgação. Mesmo assim, em meio ao turbi- lhão de emoções e diante de um mundo de incertezas, você abre o arquivo .ppt. De pé, você se apresenta e começa a explicar os tópicos que havia listado e que agora estão também no telão às suas costas. A cada momento de “branco”, você recorre aos tópicos do arquivo e retoma o rumo da apresentação. Não há interferência da platéia, nem reações que indiquem seu sucesso ou fracasso. O silêncio só é quebrado quando alguém sentado mais ao fundo se queixa de não conseguir ler uma palavra de um tópico. Simpático e um tanto constrangido pela falta de clareza apresentada, você esclarece a dúvida e segue mudando slides freneticamente. No fim, abre espaço para perguntas e ouve poucas dúvidas. Pronto, missão cumprida. Agora, é esperar o feedback positivo. Ou não. Se você reconheceu a cena imaginada acima e não entendeu porque depois desta “bela” apresentação o projeto foi malvisto pelos colaboradores ou 36 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Comunica•‹ o.indd 36 07/12/09 17:17 Foto Douglas Luccena até recusado pelos clientes, precisa rever seus conceitos sobre o uso de Power Points na comunicação corporativa. Eduardo Cury Adas, sócio-fundador da SOAP (State of the Arts Presentations), empresa de consultoria para desenvolvimento de apresentações, dá a dica. “Não basta saber mexer na ferramenta, tem de saber contar uma história”, explica. Para ele, o Power Point é uma ferramenta poderosa na hora de vender uma ideia, mas isso precisa ser feito de forma criativa. Afinal, muita gente se desmotiva a acompanhar a apresentação logo quando descobre que o recurso escolhido é uma sequência de slides. “O Power Point está para a comunicação interna assim como a televisão está para a propaganda. É uma mídia”, completa. Mas então como mudar esse conceito e produzir apresentações interessantes e eficazes? Eduardo acredita que o essencial é cumprir cinco passos: estudar a abordagem e estrutura da apresentação, criar um ro- Apresentações maçantes, gráficos e projeções que não agregam informação ou motivação aos colaboradores? “Não precisa ser assim” teiro, gerar o conteúdo que será exposto, criar visualmente a apresentação e organizar a transmissão final da ideia. O outro sócio-fundador da SOAP, João Batista Galvão de Souza, acrescenta que o primeiro grande objetivo de uma apresentação é despertar o interesse do interlocutor. “Para isso, gasta-se um minuto, no máximo. É só usar uma boa metáfora, uma comparação, uma história ou um questionamento e pronto. É fazer com que as pessoas pensem: ‘o que esse cara está falando? Preciso prestar atenção nisso’. Depois, é manter a atenção e gerar entendimento para, no final, conquistar a adesão”, explica. Ainda mais no varejo, segmento no qual boa comunicação é vital: muita coisa nova acontece a todo momento – novo produto, novo posicionamento, nova promoção. Para alcançar a excelência na exibição, Eduardo e João defendem que o apresentador seja treinado para >>> CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 37 CMNV08 Comunica•‹ o.indd 37 07/12/09 17:17 comunicação interna não precisar se apoiar nos slides durante a exposição da ideia. “Apresentador não é um âncora. Ele tem de falar e ter um apoio visual por trás”, comenta João, que ainda deixa claro: “É você quem comanda o slide, não o slide quem comanda você”. Afinal, a oportunidade de expor a ideia a qualquer que seja o interlocutor é apenas uma, e uma simples falha na comunicação pode por todo o negócio a perder. No varejo, então, a importância das apresentações é ainda maior. “Aquela reunião que acontece uma vez por ano com a equipe de vendas, por exemplo, é a reunião mais importante, na qual eles vão se motivar ou não para alcançar a meta que você programou”, explica João, que inclui ainda a captação de recursos “para o projeto da sua vida” como outra finalidade de uma boa apresentação. Por isso, diz ele, é preciso estar preparado. “A apresentação é a mídia dos 30 minutos, não 30 segundos. Enquanto a propaganda na TV dá inúmeras possibilidades de exibição, a apresentação ao vivo é única. É preciso aproveitar”, comenta. Já Eduardo acrescenta que “é preciso encantar, ser objetivo e simples, e se adequar à audiência”. A conclusão sobre a mídia, porém, é consensual entre João e Eduardo: “Se as apresentações são chatas, não é culpa do .ppt”. v O bê-à-bá da bOa apresentaçãO 1. entenda sua audiência. Junte tudo o que você sabe sobre ela. se for insuficiente, informe-se com colegas ou nos veículos de comunicação. se a plateia for ampla, escolha seu público preferencial. 2. Verifique o que você pode oferecer para aquela audiência. essa é, de maneira geral, a etapa que merece mais reflexão e cuidado, pois se trata de um trabalho de lapidação. Cuidado com a vaidade. sua oferta é ampla, mas nem tudo interessa à audiência. pense que você tem de concluir a frase: “eu tenho algo a lhe oferecer que vai melhorar sua vida”. sintetize em uma frase o que você pode oferecer à audiência. de preferência, busque um slogan publicitário para esse fim. 3. O slogan deve ser a mensagem principal, mas também deve atingir emocionalmente a audiência. essa mensagem criará interesse, o antídoto para o maior inimigo de um apresentador: o devaneio da platéia. Interesse desperta atenção, recurso escasso. atenção permite entender a mensagem. entendimento é fundamental porque ninguém aceita o que não entende. aceitação é condição necessária para a adesão, o objetivo de uma apresentação. 4. Verifique que perguntas o slogan pode gerar na audiência. a oferta do slogan (“eu tenho algo que vai melhorar sua vida”) provocará perguntas como: “por quê?”, “como?”, “quanto custa?”, “quanto demora?”. as possíveis perguntas da sua audiência serão as partes da sua apresentação. a função das partes é mudar de assunto durante a apresentação. Cada mudança de assunto renova o interesse. Isso desperta a atenção, que permite entendimento de sua proposta, que pode gerar a aceitação e, finalmente, chegar ao objetivo, a adesão. 5. pense em uma introdução que prepare a mensagem principal. É interessante começar a apresentação com pouca relevância porque tanto apresentador quanto audiência estão “esquentando motores” e um conteúdo relevante nesse ponto pode não ser entendido. Lembre-se, porém, de que, se a audiência achar que se está “chovendo no molhado” ou se trata de embromação, o tiro vai sair pela culatra. 6. escreva um roteiro em Word, não em powerpoint. ele deve estar dividido em: introdução, mensagem principal e partes (mostre as partes da sua apresentação como quem diz: “vou responder às seguintes perguntas”). escreva uma conclusão que resuma o benefício do que será apresentado. pense no “take away”: o que você quer que seu público leve para casa do que você lhe apresentou. 7. apenas nesse ponto, verifique quais dados são úteis. Critério para avaliação da utilidade: estão a serviço da mensagem principal? se não estão, não inclua, vai atrapalhar o entendimento do que é importante e pode até matar o interesse. Inclua os dados úteis (aproveite para perguntar se eles são úteis mesmo) no roteiro. 8. Colete um estoque de exemplos para usar ou não, conforme a dinâmica do evento. Lembre-se de que você estará obrigado a dizer o que o powerpoint projetar na tela. O estoque de exemplos é opcional. por ser opcional é mais quente. Como há componentes emocionais em toda decisão humana, o bom uso do estoque de exemplos pode conseguir a adesão. 9. procure imagens que enfatizem o conteúdo de cada slide. se você enxugou bem a opção de apresentação do .ppt, haverá frases curtas em cada tela. O ideal é que cada tela não tenha mais do que quatro ou cinco frases. Opte por uma imagem para cada frase ou uma para todas elas, conforme o caso. 10. seja você mesmo durante a apresentação. Você vende credibilidade. sua personalidade é mais crível que qualquer personagem que você criar. além disso, se você obtiver a adesão, sua personalidade será necessária para a entrega do que foi proposto. 38 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Comunica•‹ o.indd 38 07/12/09 17:17 CMNV08 CHUBB.indd 82 10/12/09 15:53 ética Apenas possuir um Código de Ética não é garantia de cumprimento. No geral, varejo ainda dá pouca importância ao tema A éticA forA Do pApeL N a virada do ano, o Grupo Pão de Açúcar vai chocar seus 80 mil funcionários e o mercado varejista do País: o presidente, Abílio Diniz, anunciará que o Código de Ética do Grupo Pão de Açúcar será engavetado definitivamente. Como assim? Será que o presidente de um grupo que tem faturamento superior a R$ 21 bilhões resolveu andar na contramão? Nada disso. No primeiro dia de 2010 entra em vigor o novíssimo Código de Conduta Moral do Grupo. Por sua postura de vanguarda no varejo, o Pão de Açúcar pode estar lançando uma tendência no mercado. Não se trata de trocar seis por meia dúzia. O arquivamento do Código de Ética, um calhamaço de 400 artigos, indicando o que é permitido e o que é proibido fazer na empresa ou em nome dela, e a edição do Código de Conduta Moral representam uma grande mudança conceitual. A nova orientação privilegia a incorporação dos valores da empresa por parte de seus colaboradores, abandona a fórmula de ditar o que é permitido e o que é proibido fazer e pretende orientar de forma diferente a relação do Grupo Pão de Açúcar com seus fornecedores e a sociedade, conforme explicou o vice-presidente da empresa Hugo Bethlem, responsável pelo projeto. “O nosso Código de Ética parecia uma Constituição de tão grande, e dizia o que era certo e errado fa- zer. Já o Código de Conduta Moral busca indicar quais são os valores morais do grupo, é extremamente mais curto e quando dá orientação indica o que é indispensável ser feito e o que não é aceitável”, disse Bethlem em entrevista à revista NOVAREJO. A elaboração do Código de Conduta Moral envolveu um time de 32 colaboradores da companhia, trabalhando em parceria com uma consultoria externa durante um ano. Para ilustrar o novo conceito, Bethlem recorre a uma imagem de trânsito. Na volta dos feriadões nas estradas paulistas, é comum um ou outro carro seguir pelo acostamento para escapar do engarrafamento. Esses motoristas que infringem a lei põem suas vidas em risco e a de terceiros, mas normalmente só saem do acostamento se perceberem a presença de um guarda rodoviário no local. Portanto não estão de olho nos valores, respeitando a lei, e sendo responsáveis, mas temem a punição. “As pessoas devem fazer o que é certo mesmo sem a presença do guarda. Nesse exemplo, só há correção se houver policiamento, não é isso que queremos para o Grupo Pão de Açúcar”, afirmou o vice-presidente. “Andar no acostamento da estrada, com ou sem vigilância por perto, é errado. Vamos provocar a reflexão e a incorporação de valores. Foi esse o mote que determinou a mudança.” Fotos StockXpert / Douglas Luccena Por ricarDo osmaN 40 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 ƒ tica.indd 40 07/12/09 17:39 Hugo Bethlem revela que o Código de Conduta Moral inova ao criar reações distintas por parte da empresa a ações aparentemente idênticas. Cita um caso hipotético, de dois gerentes de supermercados que trocam cheques no caixa. O primeiro troca para atender um cliente antigo, que apareceu dizendo se tratar de emergência, pois necessita comprar remédio numa farmácia. Já o segundo, trocou o cheque próprio no caixa para ter dinheiro no bolso. “Pelo Código de Ética anterior os dois quebraram uma regra e seriam demitidos”, disse Bethlem. “Mas um agiu para ajudar um cliente, prestou um serviço, que é mais importante do que a regra administrativa, e outro agiu em benefício próprio. Isso será corrigido com o Código de Conduta”, garantiu. “Daqui para frente, só o segundo funcionário será demitido.” Na virada do ano, serão lançadas na intranet da empresa “pílulas do conhecimento” para difundi-lo e haverá até distribuição de uma edição de bolso do código. O maior rigor com a ética, exibido na reflexão e nas ações do Grupo Pão de Açúcar, chega em um momento apropriado. Na avaliação do especialista das tendên- O QUE É MAIS DIVULGADO Os pontos que recebem destaque nos sites das 500 maiores empresas do País 70,8% 57,4% 354 empresas dão destaque às ações de responsabilidade social 287 empresas dão destaque às ações de preservação do meio ambiente 189 empresas dão destaque ao 37,8% Código de Ética Fonte: Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios (base da pesquisa: as 500 maiores empresas do País, segundo a revista “Exame”) cias do varejo Marcos Gouvêa, da GS&MD, o mundo corporativo do País passa por mudanças significativas nessa área. Gouvêa entende que, por conta de diversos fatores – das cobranças da sociedade aos avanços dos recursos tecnológicos à disposição da Receita Federal –, não haverá mais espaço para quem não agir completamente dentro da ética, o que inclui honrar seus tributos e encargos trabalhistas. “Quem continuar mantendo práticas de informalidade no Brasil estará cavando a própria cova”, ÉTICA NA INTERNET Aumenta o número de grandes empresas que disponibilizam o Código de Ética nos seus sites Em 2008 27% 73% Hugo Bethlem, do Pão de Açúcar “Vamos provocar a reflexão e a incorporação de valores” 148 empresas adotavam e disponibilizavam o Código de Ética no site 352 empresas não disponibilizavam o Código de Ética no site ou não tinham código Em 2009 37,8% 189 empresas adotavam e disponibilizavam 62,2% 311 empresas não disponibilizavam o o Código de Ética no site Código de Ética no site ou não tinham código Fonte: Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios (base da pesquisa: as 500 maiores empresas do País, segundo a revista “Exame”) CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO NOV/DEZ 2009 | 41 CMNV08 ƒ tica.indd 41 07/12/09 17:40 ética Cristina Franco, presidente da Comissão de Ética da ABF “Não há desculpas para se nivelar por baixo ou se balizar por concorrências desleais” disse Gouvêa. Conforme observou, diante das “enormes dificuldades” de se conseguir capital para investimentos no País, o grande financiador indireto de empresas no passado foi algum tipo de informalidade. A prática não encontra mais espaço, e Gouvêa prevê uma transição radical no período de cinco anos no País. “Vai surgir uma realidade diferente, empresas que eram líderes em seus setores, mas que tinham pés de barro, poderão enfrentar sérias dificuldades.” Por outro lado, Gouvêa prevê maior mobilização e eloquência dos empresários em defesa dos valores da ética e da concorrência PRIMEIRA PÁGINA Das 189 empresas que exibem o Código de Ética no site: 49 deram destaque na primeira página 25,9% da internet Fonte: Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios leal, e até por reforma tributária. “Uma empresa não deve ter apenas um Código de Ética, ela deve nascer com um Código de Ética”, afirmou Gouvêa. “Deve-se reservar tempo para discutir os princípios de uma empresa”, ou seja, mais que nunca é preciso refletir e incorporar valores. Tudo isso, no entanto, requer determinação e disciplina. Em um setor do varejo, nas redes de franquias o relacionamento saudável entre franqueadores e franqueados está mais baseado na ética do que nas poucas folhas do contrato. Por conta disso, a Associação Brasileira de Franchising (ABF), com sede em São Paulo, mantém uma comissão de ética permanente. Ali são discutidas regularmente as queixas de ambas as partes, advertidos os incautos e resolvidos casos que poderiam manchar a credibilidade do sistema. Tudo baseado no Código de Ética da ABF, que está exposto em seu site. “A comissão busca proteger as boas práticas do varejo e as regras do franchising. Em nenhum momento a ética pode ser deixada de lado numa rede ou empresa” disse Cristina Franco, presidente da Comissão de Ética da ABF e franqueadora das redes Bit Company e Multidiomas, que também têm seus códigos. “Procuramos resolver os conflitos e em último caso encaminhamos o caso para a Câmara de Arbitragem de São Paulo”. Evitar a Justiça, lenta e desgastante, para as marcas é um dos objetivos. Foi o que ensinou a longa batalha judicial ocorrida no final dos anos 90, entre a direção do McDonald’s no Brasil e alguns franqueados, com expressivo desgaste para a marca. “Hoje, os consumidores estão em busca de um mundo melhor, por isso a questão da ética e da sustentabilidade pulsa no dia a dia de uma rede do varejo”, ressaltou ela. Conforme afirmou, não importa quais são as dificuldades a serem enfrentadas, a crise financeira mundial do primeiro semestre de 2009 ou a concorrência desleal de informais no ramo de alimentação, por exemplo. Tampouco a alta carga tributária. “Não há desculpas para se nivelar por baixo ou se balizar por concorrências desleais” acrescentou Cristina. Já é perceptível a importância que as empresas atribuem ao Código de Ética na relação com seu público. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Ética no Varejo, com sede em Campinas, a partir do universo das 500 maiores empresas do País aponta para o crescimento do número de companhias que adotam e dão visibilidade aos seus Códigos de Ética na internet. O levantamento indicou aumento do número de empresas 42 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 ƒ tica.indd 42 07/12/09 17:40 que divulgaram o código nos seus sites entre 2008 e 2009, que passou de 27% para 37,8%. O total que era de 148 empresas subiu para 189. “É um aumento significativo”, avaliou Marcos Gouvêa da GS&MD “Quem continuar mantendo práticas de informalidade no Brasil estará cavando a própria cova” Douglas Flinto, presidente do instituto. Ele percebeu, porém, que há mais destaque nos sites para as ações de responsabilidade social e ambiental das empresas, possivelmente por conta das exigências dos consumidores modernos. “Na comparação, vemos que o Código de Ética ocupa posição tímida.” Para ele, tudo deveria caminhar junto, mesmo na web: “A ética e a responsabilidade social de uma empresa são o passaporte para a sustentabilidade”, disse Flinto. “Hoje, vemos em alguns lugares do mundo uma crise de valores, mas temos de trabalhar e buscar nossos direitos dentro da legalidade, das regras do jogo e não fora dela”, acrescentou. Esse é um dos tópicos que Flinto quer pôr em discussão no 1.º Congresso de Ética nos Negócios, que organiza para março de 2010. A especialista no assunto, Cynthia Ferrari, da empresa Muda Práticas Sustentáveis, reforça que não há sustentabilidade sem ética. Uma coisa está ligada à outra. “A famosa lei de Gerson ditou o comportamento numa fase em que os valores foram para debaixo do tapete na sociedade brasileira, mas isso já passou”, disse Cynthia. “As urgências são outras e não podemos agir baseados em velhas crenças que não combinam mais com o mundo dos negócios”. Como observou, é desta forma que as empresas ganham solidez. Mas o que dizer a um empresário que reclama da concorrência desleal, dos tributos, da pirataria e alega que, diante dessa realidade, é difícil adotar o jogo limpo e dentro das regras? “Eu pergunto a esse empresário que tipo de jogo ele quer jogar: o que desafia a criatividade e o poder intelectual de sua equipe ou aquele no qual se tem que trapacear para ser o ganhador?”, disse Cynthia. Um exemplo recente, e de repercussão internacional, das consequências do jogo fácil veio do centro financeiro do mundo, Nova York. Bernard Madoff, ex-presidente da Bolsa Nasdaq, escolheu o caminho errado. Sua “pirâmide”, no fundo de investimento que gerenciava, desmoronou, causou prejuízos a muita gente e ele foi parar na prisão. “O comportamento ético é uma questão de escolha e essa escolha é feita pelas pessoas que fazem a gestão das empresas”, arremata Cynthia.v SITUAÇÃO NO VAREJO Ainda há pouca visibilidade para o Código de Ética: Número total de empresas do varejo dentre as 500 maiores: 39 Possuem Código de Ética no Brasil: 7* Destacam no site ações de responsabilidade social: 15 Destacam no site ações de responsabilidade ambiental: 8 Destacam no site o Código de Ética: 1 Fazem menção ao tema sustentabilidade: 4 Balanço Social e/ou Relatório de Sustentabilidade: 4 Possuem Código de Ética na matriz: 3 Total de empresas do varejo com Código de Ética: 10 * As sete empresas do varejo com Código de Ética no Brasil: B2WCarrefour, Carrefour, Grupo Pão de Açúcar, Lojas Americanas, Lojas Renner, Lojas Riachuelo e Ponto Frio Fonte: Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO NOV/DEZ 2009 | 43 CMNV08 ƒ tica.indd 43 07/12/09 17:40 tendência TROCAR, OU ALUGAR, É O NOVO COMPRAR Quem falou em comprar roupa nova? Aliás, quem falou em comprar? Para alguns parece coisa de gente moderninha demais. Já outros podem encarar como uma prática bastante antiga. O fato é que o hábito de trocar objetos ganha força no varejo mundial. E por aqui já tem gente apostando na ideia. Criada em agosto deste ano, a Super Cool Market é especializada em trocar, vender e comprar roupas usadas desde que sejam de marca e em ótimo estado. Falando assim até parece um brechó. Nada disso. Por lá, só há espaço para roupas estilosas e sem cheiro de guardado. Quando um cliente chega até a loja com uma peça de roupa, o valor final do produto é calculado. Paga-se 30% pela roupa ou o cliente pode optar por um vale de 50% para comprar outro produto da loja. Essa foi a maneira que as sócias da empresa encontraram para estimular a troca. Cada vez mais a posse é efêmera. Pelo mundo, empresas especializadas em alugar produtos atraem a atenção de consumidores com os mais diversos interesses. O site americano Bag Borrow or Steal, por exemplo, aluga bolsas, relógios, óculos e jóias – tudo de marcas renomadas – a um preço bem mais barato do que os valores disponíveis no mercado para a compra. São mais de cem produtos à disposição. E se a cliente se apaixonar pelo item alugado e quiser comprá-lo, a empresa calcula o preço da peça considerando-se seu tempo de uso. Para Paulo Al-Assal, diretor da Voltage, agência que estuda o comportamento humano, a troca ou aluguel de produtos não se trata de uma tendência e, sim, de uma moda. “Na prática, a tendência tem longevidade maior do que a onda ou a moda. Essa moda pode ter vindo para ficar, pois, devido à crise, as pessoas pensarão duas vezes antes de comprar algum produto muito caro”, afirma o especialista. Mas será que dá para ganhar dinheiro nesse ramo? FOTOS Douglas Luccena POR CINTIA ESTEVES 44 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Tend• ncia_Trocar.indd 44 07/12/09 18:04 Super Cool Market Margem de lucro média de 45% em cada peça e faturamento muito superior às expectativas do plano de negócio: o fornecedor é o próprio consumidor >>> CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO NOV/DEZ 2009 | 45 CMNV08 Tend• ncia_Trocar.indd 45 07/12/09 18:04 tendência Samantha Barbieri, da Super Cool Market “As vendas acontecem naturalmente a partir do momento em que o consumidor percebe que a cadeia de moda pode funcionar diferente” 46 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Tend• ncia_Trocar.indd 46 07/12/09 18:04 AnunciosSimples.indd 8 07/12/09 20:02 tendência Samantha Barbieri, sócia da Super Cool Market, garante que sim. “Temos uma margem de lucro média de 45% em cada peça”, diz a empresária. Ela e suas duas sócias estão comemorando resultados acima do planejado. “Nosso faturamento é muito superior às expectativas do plano de negócio”, diz sem revelar números. Al-Assal acredita que esse tipo de comércio pode ser rentável já que segue uma tendência de comportamento. Há ainda outras vantagens identificadas pelos especialistas nesse tipo de negócio e que podem ser exploradas pelas empresas. Mauricio Soares, executivo de estratégia da Mandalah, agência de comportamento e inovação com foco em sustentabilidade, chama a atenção para a contribuição ao meio ambiente que um negócio baseado na troca ou no aluguel pode dar. “Grande parte dos problemas que estamos enfrentando no planeta relacionase à limitação ou escassez de recursos e destinação dos resíduos provenientes do consumo. Qualquer mecanismo que estimula a reutilização de produtos é positivo, pois cria um ciclo que diminui o impacto sobre o planeta em ambas as pontas desse sistema”, diz. Soares concorda com Al-Assal que a troca de produtos não se trata de uma tendência, mas, por outro lado, prefere não qualificá-la como moda. “É um modelo econômico dos mais antigos, baseado na troca e na otimização de recursos, que ficou ocultado pelo modelo capitalista vigente em que o acúmulo de capital, sem restrições ou discernimento, virou regra”, afirma. Para Samantha, o principal desafio da Super Cool é cultural, não é vender ou comprar roupas. Ela, que já trabalhou como gerente de marketing de duas grandes empresas, conta com o olhar afiado de suas sócias Daniela Klaiman e Carla Lamarca, que vieram do mundo da moda. “Nosso principal desafio é ‘vestir a cabeça’ Mauricio Soares, da Mandalah: “Qualquer mecanismo que estimula a reutilização de produtos é positivo, pois cria um ciclo que diminui o impacto sobre o planeta” do brasileiro. As vendas acontecem naturalmente a partir do momento em que ele percebe que a cadeia de moda pode funcionar diferente”, diz. O desafio que as meninas enfrentam com os clientes é dobrado. Afinal, você já tinha ouvido falar de algum negócio cujo cliente também é o fornecedor? “Dependemos basicamente dos próprios consumidores para adquirirmos mercadorias. Isso é um risco. Se não temos adesão dos clientes, podemos ter dificuldade na reposição das peças”, afirma Samantha. A cada dia, o pessoal da Super Cool Market se depara com uma surpresa. Tem gente que chega querendo vender de tudo. Uma senhora apareceu na loja querendo vender uma coleira de cachorro. “Temos que ser muito delicados para recusar as peças que não têm o perfil da loja, pois a recusa mexe com o orgulho dos clientes”, diz. Samantha afirma que uma das maiores vantagens do negócio é não precisar investir um valor alto para produzir uma coleção. “Assim também não ficamos comprometidos com as estações do ano. Temos uma rotatividade de peças muito maior do que as lojas tracionais, o que faz com que o cliente sempre dê uma passadinha na loja porque sabe que encontrará peças novas”, diz. Outras empresas estão apostando na troca ou no aluguel de objetos mundo afora. A inglesa Stop Gap Sofas, por exemplo, aluga sofás por períodos de, no mínimo, três semanas. O objetivo é atender um público que está vivendo uma fase de mudança ou, simplesmente, deseja variar a decoração. Para embelezar a casa, vendê-la ou simplesmente diminuir o tédio do ambiente, o consumidor também pode alugar plantas ou um jardim completo da holandesa Rent a Garden. Já a alemã Lüette Leihen disponibiliza kits de roupas de bebê por uma taxa mensal de aluguel. Quando 48 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Tend• ncia_Trocar.indd 48 07/12/09 18:04 Paulo Al-Assal, da Voltage: “Essa moda pode ter vindo para ficar, pois, devido à crise, as pessoas pensarão duas vezes antes de comprar algum produto muito caro” a criança cresce, a Luette oferece roupas maiores. É um negócio prático e poupa os pais de gastarem fortunas investindo em peças que vão durar pouco tempo no guardaroupa devido ao crescimento acelerado das crianças. “As motivações para o consumo desses serviços são as mais diversas. Vai desde restrições econômicas, preocupação com o planeta e até mesmo estilo”, diz Soares, da Mandalah. Até mesmo gigantes do varejo, como a Amazon, já perceberam as vantagens de se trabalhar nesse mercado. A empresa, que já vende e compra livros usados, recentemente passou a comprar e vender jogos de videogame usados em bom estado. Quando o cliente envia o game para a empresa o produto é avaliado e, caso seja aceito, a Amazon disponibiliza créditos que podem ser gastos com itens vendidos pela empresa. O consumidor que optar por comprar outros jogos ou acessórios de videogame ganha mais um desconto de 10%. É o escambo do bem ganhando a web.v CONSUMO EFÊMERO PARA A CONSUMIDORA FUGAZ POR TICIANA WERNECK Lançado há alguns anos, o site americano Bag Borrow or Steal, especializado em alugar bolsas e acessórios de luxo a preços módicos – se comparado ao valor real –, teve na crise uma ótima oportunidade de conquistar novos clientes. Afinal, lá fora o consumo vem caindo, mas a vontade de consumir não cai nunca. E se não é possível comprar, alugar pode ser a saída mais segura. O modelo de negócio do site é simples e está ancorado na ideia puramente feminina de trocar peças e acessórios entre amigas. Lá, a cliente pode alugar um item – são mais de cem à disposição – por um preço fechado, pelo tempo que quiser, ou se tornar membro do site e pagar uma mensalidade. Enjoou? Ela pode trocar por outro item – é possível alugar até cinco itens simultaneamente. E se ela realmente se apaixonou pelo que alugou e quer comprar, é só clicar na opção “roubar” que a empresa calcula o preço considerando o tempo de uso. Tudo muito prático: o pedido é entregue e retirado pelo sistema de entrega rápida UPS (a taxa já está incluída na mensalidade). Na vitrine de bolsas do site, modelos aspiracionais, como Chanel e Louis Vuitton. Os preços são convidativos: enquanto a Babouska, da Gucci, não sai por menos de US$ 1.800 numa loja convencional, no site o aluguel pela semana é US$ 77,00, ou US$ 225 por mês. A legítima Chanel de couro East/West de US$ 4 mil pode ser carregada por aí durante um mês por US$ 325. Como toda proposta exclusivista que se preze, há a possibilidade de a cliente passar a aflição de ter de entrar numa lista de espera – a exemplo do que ocorre nas grifes de peso. Alguns itens já estão alugados e é preciso exercitar a paciência. Mas há uma vantagem que as grifes de peso não conseguem suplantar. Acabou a moda da bolsa grande? Ufa, ainda bem que eu não comprei. CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO NOV/DEZ 2009 | 49 CMNV08 Tend• ncia_Trocar.indd 49 07/12/09 18:04 tendência Iniciativas de lojas pop-up começam a aumentar no mercado brasileiro, trazendo surpresa e curiosidade ao consumidor, e resultados para a imagem das varejistas SurpreenDe e cauSa O s estudiosos da pós-modernidade apontam para uma experiência fragmentada nas relações sociais em geral. É nesse contexto em que um adolescente fala ao telefone, lê um livro on-line, assiste a uma série e troca mensagens instantâneas – tudo simultaneamente. Quando pensamos no consumo pósmoderno, então, essa característica pode ser levada ao extremo. Ainda mais quando se fala em varejo, uma experiência fragmentada por excelência. Se por um lado continua a ser importante para a marca manter os aspectos de imagem e relacionamento que estão baseados na constância e estabilidade, por outro lado vale a pena redimensionar estes conceitos em termos de agilidade, do inusitado e da proximidade. Pode-se pensar em termos de conexão com o público; e hoje, a conexão – no meio virtual – está em qualquer lugar. Ainda, se os novos produtos podem aparecer e sumir rapidamente do mercado, por que as lojas que os apresentam não podem fazer o mesmo? O raciocínio simples, formulado pela empresa de tendências de consumo Trendwatching, sintetiza uma iniciativa que o varejo vem utilizando como diferencial para se aproximar e surpreender o público. A ideia é abrir uma loja com data certa para fechar, combinando um local estratégico e uma linha de mercadorias definida. O formato não é novo – as primeiras experiências remontam a 2003. Naquele ano, a companhia aérea de luxo Song abriu uma loja por apenas nove semanas, para realçar suas opções de entretenimento durante os vôos. Já a Target, rede de roupas, acessórios e design, montou um espaço no Rockefeller Center, em Nova York, de setembro a outubro daquele ano, estrelando a coleção de roupas femininas do estilista Isaac Mizrahi. Uma manifestação que ficou famosa foi a da grife de moda de origem japonesa radicada em Paris, Comme des Garçons. Em 2004, a marca desembarcou em Berlim com a Guerrilla Store, para ficar por ali só um ano, em um galpão meio rústico localizado no lado oriental da cidade nos tempos do Muro. O conceito das lojas pop-up baseia-se na exclusividade, na descoberta e na surpresa. “A estratégia deve orientar-se para a percepção da marca como objeto de desejo”, comenta Heloísa Omine, professora da pós-graduação em comunicação com mercado e do núcleo de varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). No Brasil, começam a despontar algumas iniciativas. Entre maio e agosto deste ano, a Nike manteve uma loja pop-up na Galeria do Rock, em São Paulo, reduto de consumidores moderninhos e descolados, ligados à música e a esportes alternativos. A loja Fotos Divulgação Por Ligia SaNchez 50 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Tend• ncia.indd 50 07/12/09 17:44 Diferente do resto O caminhão da Lool ficou parado 25 dias na Oscar Freire. Curta temporada baseou-se no Movimento Canarinho, com uma coleção limitada e exclusiva de produtos remetendo à cultura nacional, tomando como referência a camisa amarela da seleção brasileira de futebol. Xavi Cortadellas, diretor de varejo da Nike Brasil, explica que o objetivo principal do Movimento Canarinho foi o de retomar a cultura do futebol junto aos jovens antenados. “Queríamos restabelecer uma conexão que julgamos perdida”, afirma. Heloísa, da ESPM, interpreta a estratégia da Nike como uma forma de se apresentar e aproximar de um público ainda não totalmente aderente à marca. Mas os objetivos de uma loja pop-up não param por aí. “Elas podem aumentar a capilaridade, marcar presença em um momento que ocorre uma ação diferenciada, testar mercado em determinada região para futura expansão”, elenca Heloísa. Nos relatórios da Trendwatching, benefícios, como customização e segmentação, além de visibilidade, também estão no escopo das manifestações pop-up. O conceito de lojas pop-up não se restringe e cristaliza em um modelo fechado. Pode-se defini-las como iniciativas que aparecem sem aviso, causam impacto e depois desaparecem ou se transformam em outra coisa. As temporárias podem acontecer em diferentes lugares e com um tempo de duração variado. A Vacant, por exemplo, abre lojas por apenas um mês, em espaços desocupados de grandes cidades, como Nova York, Londres, Tóquio, Xangai, Paris, Berlim, Estocolmo ou Los Angeles, com artigos raros e exclusivos, de marcas famosas ou designers emergentes. Mas também podem ser operações móveis, como o Fashion Bus que circulou em Londres com roupas e acessórios de 40 estilistas, ou as vans utilizadas pela brasileira Oceanic, de cosméticos, para Ponto provisório Lool fica no Shopping Iguatemi apenas até janeiro CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 51 CMNV08 Tend• ncia.indd 51 07/12/09 17:44 tendência Sorvetes apenas para convidados na Magnum Butique, aberta entre março e abril na rua Oscar Freire Em apenas um mês, de novembro a dezembro, a pop-up Magnum Hall quer reforçar o conceito de prazer à marca: decorações inspiradas em musicais da Broadway e pockets shows de dança atingir clientes em locais específicos, como universidades, escolas, hospitais, parques e eventos. Há também o caso das varejistas de comércio eletrônico em busca de marcar presença no mundo real, como a eBay e a Amazon.com. Outra opção é fechar a oportunidade a um círculo exclusivo e cativo de consumidores, como a Magnum Butique, que vendeu o sorvete apenas para convidados, em um espaço na rua Oscar Freire, em São Paulo, entre março e abril passados. A empreitada deu tão certo, que a marca acaba de abrir outra pop-up – de portas abertas de novembro a dezembro –, dessa vez em outro endereço ícone de São Paulo, a rua Amaury. Para reforçar o conceito de prazer que remete à marca, o espaço tem pocket shows de dança e ambientação de Hollywood. Enquanto estiver por ali, chefs dos renomados restaurantes da rua farão sobremesas exclusivas com os picolés da marca. E a oferta de serviços adiciona diferencial a lojas pop-up. O importante é surpreender, experimentar e marcar. ESTRATÉGIA CONSOLIDADA Como a empreitada comporta custos e riscos operacionais, o segredo do sucesso está na consolidação da estratégia, segundo Heloisa. Trata-se de relacionar a localização, o momento, o posicionamento da marca, o público a ser atingido, a linha de produtos a promover ou testar, ensina ela. A pop-up store da Nike na Galeria do Rock envolveu uma série de elementos concatenados, no projeto mais amplo denominado Movimento Canarinho. A identidade da coleção vendida na loja foi dada pela cultura de rua, condensada no tema do futebol. “Escolhemos a Galeria do Rock por identificar que o público que queríamos atingir circula neste espaço”, justifica Cortadellas. E a loja temporária foi considerada como melhor formato para causar impacto, surpresa e novidade. Coerência também transparece na proposta da Lool, a multimarca de acessórios que incorporou o conceito pop-up em sua essência, definindo-se como The Non-Stop Store. Luiza Setúbal, proprietária do negócio, sentia falta de um espaço que agregasse marcas de designers descolados. Como diferencial combinou dois fatores: cuida pessoalmente da edição dos produtos escolhidos e organiza a venda em lojas temporárias. A primeira loja aconteceu em um trailer localizado no bairro dos Jardins, em São Paulo, de maio a junho deste ano. A segunda edição, em andamento no Shopping Iguatemi de São Paulo desde agosto, está prevista para encerrar em janeiro de 2010. LABORATÓRIO DE VAREJO Sejam quais forem a estratégia, os objetivos e o formato, as lojas pop-up estão sempre atreladas a um conceito de comunicação, marketing e relacionamento com 52 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Tend• ncia.indd 52 07/12/09 17:44 o cliente. “Contribuem para gerar a vontade de experimentar. Podem ser consideradas um grande laboratório de varejo”, afirma Heloísa. Mais do que giro de produtos, trata-se de imagem. É nesse sentido que os resultados são melhor avaliados. “Quando consideramos o retorno comercial meramente, seria deficitário; mas medimos também os resultados em relação à marca, e aí a conta fecha”, revela Xavi Cortadellas. A prova de que a experiência foi positiva está na empolgação com que ele fala sobre novas possibilidades. “Vamos explorar o mercado brasileiro nesse formato, oportunidades não faltam, temos verão e inverno muito marcados, e a Copa do Mundo de 2010 que se aproxima”, afirma. Eventos sazonais costumam dar espaço a lojas temporárias no Brasil. Alberto Serrentino, sóciosênior e diretor da GS&MD – Gouvêa de Souza, aponta como exemplos o Shopping Market Plaza, montado anualmente em Campos do Jordão (SP) por João Doria Jr. na temporada de inverno (apenas de junho a agosto), e a Super Casas Bahia, que aproveita as compras de Natal, apesar do consumo popular em alta escala ser o atrativo no caso dessa última. Inverno movimentado O Campos do Jordão Market Plaza, maior shopping sazonal do País, montado anualmente em Campos do Jordão, recebeu 338 mil pessoas na última temporada Se o que faz da loja pop-up um diferencial é sua novidade e frescor, tornar-se um costume não pode minar a estratégia? Heloísa acredita que sim, e tudo vai depender da consistência do projeto. Em sua opinião, o impor- tante é causar a surpresa, fazer o cliente pensar “eu nunca imaginei que esta loja tivesse uma coisa assim”. Alberto Serrentino concorda, apontando planejamento e critério como fatores de sucesso para a iniciativa.v Entre maio e agosto, a Nike manteve uma loja pop-up na Galeria do Rock, em São Paulo, reduto de consumidores moderninhos e descolados, ligados à música e a esportes alternativos CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 53 CMNV08 Tend• ncia.indd 53 07/12/09 17:45 case O gigante americano do varejo é reconhecido no mundo todo e ninguém duvida de sua capacidade de transformar o mercado onde se instala. Mas a rede criada por Sam Walton tem um clone chinês pouco conhecido. É o Wu Mart, o maior varejista da China, que tem muito mais semelhanças com o original do que apenas a marca POR GILBERTO PAVONI JUNIOR VIRÁ DA CHINA O varejo chinês Wu Mart economiza na criatividade da marca. O nome é isso mesmo que parece, uma referência ao maior varejista do mundo. Localmente, também é chamado de Walmart chinês por adotar política de preços e gestão semelhante à rede americana. Mas por trás dessa risível fotocópia da marca, o que realmente o clone chinês apresenta é um histórico de crescimento tão semelhante ao original americano que é quase impossível não pensar nele como o próximo gigante mundial. A origem geográfica ajuda muito. De acordo com analistas internacionais, o mercado chinês ultrapassa US$ 890 bilhões. O país é o quinto maior polo de consumo do mundo, ficando atrás de Estados Unidos, Japão, Inglaterra e Alemanha. E o crescimento nos próximos anos ainda pode ser maior. Somente 36% do Produto Interno Bruto (PIB) é destinado ao consumo. Nos Estados Unidos é o dobro. Apesar do nome parecido, os números atuais são diferentes. No entanto, eles escondem uma história que é para lá de parecida e deixa sempre uma pergunta no ar. Seria o Wu Mart o próximo Walmart? É um pouco cedo para responder, mas é bom já começar a se debruçar sobre o histórico de crescimento semelhante dos dois varejos. A primeira coincidência é que o nome Walmart vem do seu criador, Sam Walton. O Wu Mart também tem origem semelhante, vem do nome do fundador e atual chairman Wu Jianzhong. A rede americana teve vendas de US$ 401 bilhões no ano fiscal encerrado em janeiro de 2009 e está presente em 16 países com 7.800 lojas das quais 3.600 fora dos Estados Unidos. O clone chinês é bem mais modesto. O faturamento dos seis primeiros meses deste ano foi de US$ 835 milhões em suas 424 lojas (107 hipermercados e 317 lojas de conveniência), com crescimento de 22% em relação ao mesmo período de 2008. No entanto, o Walmart, criado em 1962, atingiu o primeiro bilhão próximo de 15 anos de vida. A marca chinesa existe desde 1994 e também comemorou o primeiro bilhão em período histórico semelhante. Localmente, as semelhanças impressionam ainda mais. O Walmart chegou à China no FOTO Folhaimagem O NOVO WALMART? 54 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Case Wu Mart.indd 54 07/12/09 18:06 início de 2000, com cerca de 500 empregados. A ideia era proporcionar uma experiência nova aos consumidores chineses que estavam acostumados a comprar em mercados de ruas com pouca organização e higiene. Os chamados “mercados molhados” estavam longe de qualquer padrão de limpeza e de gestão ocidental, e tinham esse nome justamente porque apresentavam sempre o piso encharcado. O Wu Mart também surgiu para modernizar esse amadorismo do varejo chinês, criando lojas nas quais era possível fazer compra sem se preocupar em levar um escorregão ou ficar perambulando por corredores abarrotados de gente e sem qualquer sinalização. Criado em Pequim e disposto a ser realmente uma cópia do maior varejista do mundo, a estratégia do Wu Mart foi se solidificar na sua província natal, o maior mercado chinês e, a partir daí, expandir-se em localidades adjacentes. O Walmart expandiu-se do Arkansas aos poucos, inicialmente para os Estados vizinhos. As lojas internacionais foram criadas somente na década de 90, iniciando com a do México, em 1991, e logo sendo seguidas por outras na América do Sul e Europa. Para conquistar o público, ambas as redes optam por uma política agressiva de preços baixos e adequação à cultura e cadeia de fornecedores de cada localidade. A expansão do Wu Mart é muito baseada em aquisições de concorrentes, como Chaoshifa e MerryMart – quarto e quinto maiores varejistas de Pequim respectivamente – Xinhua Stores, com presença forte no Norte e Oeste do país, e o Times Supermarkets, um dos líderes nas províncias do Leste. O crescimento geográfico introduziu rapidamente no Wu Mart uma cultura de gestão de processos e modernização baseada em tecnologia. Hoje, a rede é considerada um exemplo em termos chineses. A história do Walmart tem fato semelhante. Na década de 80, a rede integrou todas as lojas em redes privadas de dados e voz, usou satélites e começou a se tornar caso de sucesso de uso de tecnologia da informação. Esse histórico já conhecido do setor garantiu visibilidade ao Wu Mart. A marca não é mais uma curiosidade >>> Corredor de uma loja Wu Mart A rede que cresce galopante, está no quinto maior polo de consumo do mundo. O mercado chinês ultrapassa US$ 890 bilhões CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 55 CMNV08 Case Wu Mart.indd 55 07/12/09 18:06 case do “shanzhai” – estratégia típica chinesa de cópia de marcas famosas e que enche os luminosos das ruas do país com nomes como Haagon-Bozs, Pizza Huh, BucksStar Coffee, KFG e McDnoald’s. No início de 2009, a rede foi considerada o varejo emergente do ano no World Retail Awards, um dos mais importantes prêmios internacionais do segmento. A empresa superou concorrentes como o BreadTalk, de Cin- PERFIL DO GIGANTE CHINÊS Faturamento dos seis primeiros meses de 2009: US$ 835 milhões – crescimento de 22% em relação ao mesmo período de 2008. 424 lojas (107 hipermercados e 317 lojas de conveniência). O nome Wu Mart vem do nome do fundador e atual chairman Wu Jianzhong. Criada em Pequim em 1994, surgiu para modernizar o amadorismo do varejo chinês. O modelo de negócio está ancorado em uma política agressiva de preços baixos e adequação à cultura e cadeia de fornecedores de cada localidade. Após se solidificar na sua província natal, a rede expandiu-se em localidades adjacentes, fazendo aquisições de concorrentes. O crescimento geográfico introduziu rapidamente no Wu Mart uma cultura de gestão de processos e modernização baseada em tecnologia. Hoje, a rede é considerada um exemplo. A marca – uma alusão à global Walmart – não é mais uma curiosidade do “shanzhai” – estratégia típica chinesa de cópia de marcas famosas e que enche os luminosos das ruas do país com nomes como Haagon-Bozs, Pizza Huh e McDnoald’s. No começo do ano, a rede foi considerada o varejo emergente do ano no World Retail Awards, colocando-a ao lado de Zappos, Apple, Macy’s e Nike Town. gapura e com forte expansão na Ásia; SMYK, polonês, de nicho para o público infantil; Empik, um novo formato de livraria do Leste Europeu; Truworths, de moda da África do Sul; e o Fozzy Group, que opera outlets, hipermercados e pequenas lojas na Ucrânia. A lista final dos premiados colocou o nome do Wu Mart ao lado de Zappos, Apple, Macy’s e Nike Town. Em novembro, o Wu Mart conseguiu um empréstimo de US$ 4 bilhões do Banco de Comércio e Agricultura de Pequim para equilibrar as finanças ainda abaladas pela última crise financeira mundial, aumentar a informatização da cadeia de fornecedores e planejar futuras aquisições. Será que desta vez o Wu Mart conquista o ocidente? Para o consultor e sócio sênior da GS&MD – Gouvêa de Souza, Alberto Serrentino, o varejo chinês tem tudo para adotar essa estratégia, mas ainda pode tropeçar ao esquecer as diferenças de cultura. “Uma expansão em qualquer parte do mundo só pode ser feita com aquisições, o que não é um problema para eles, mas a diferença entre ocidente e oriente e regionalmente entre os paí- ses é algo que o Wu Mart pode encontrar dificuldade”, aponta. Mesmo assim, o especialista não descarta que a marca chegue a outros países. “É o mesmo movimento de outros segmentos da economia chinesa, como carros, motos e eletroeletrônicos”, diz. Por isso, é bom não esboçar tons jocosos ao se deparar com o Wu Mart no futuro.v Alberto Serrentino, da GS&MD “Uma expansão só pode ser feita com aquisições, o que não é um problema para eles. Mas a diferença entre ocidente e oriente pode ser um empecilho” 56 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Case Wu Mart.indd 56 07/12/09 18:06 AnunciosSimples.indd 11 08/12/09 17:44 supply chain VIVA E MUTÁVEL Assim deve ser a cadeia de valor no varejo, capaz de interagir com um cliente cada vez mais informado e sem fronteiras gestão de supply chain já obteve diversas definições entre experientes do mercado e estudiosos. O seu conceito, hoje, não foge da concepção dos grandes executivos tanto da indústria quanto do varejo, apesar de diversos erros conceituais. “A cadeia de abastecimento – o supply chain –, estende-se da origem até o destino, passando por todos os agentes que participaram do processo para a satisfação do consumidor final” afirma, criterioso, Altamiro Borges, diretor-presidente da ABGroup. O grande desafio é que o “produto” esteja sempre disponível quando o “consumidor” desejar, e que isso não implique grandes estoques, ao contrário, a regra é o menor estoque possível. Da colheita da matéria-prima ao produto exposto no pdv passamos por diversos processos cuja participação do homem junto à tecnologia é fator fundamental, pois nesse fluxo o chamado ganha-ganha adquire mais um reforço, pois são três os envolvidos que desejam ganhar: o fornecedor/indústria, o varejista e o consumidor. E todos se beneficiam quando se chega na resultante equação de um bom giro de estoque. Para que essa soma permaneça sempre em equilíbrio, André Ghignatti, diretor de produto da Neogrid, empresa especializada em soluções e consultoria de supply chain, sugere três etapas a serem cumpridas. A primeira é minimizar erros humanos: ao informatizar integrando sistemas, os erros se tornam menos comuns potencializando a efetiva execução e entendimento do que se compra e do que se vende. Com ferramentas on-line, os antigos relatórios manuais dos funcionários representam um passado que deve, ou ao menos deveria, estar bem distante. A segunda é executar um processo colaborativo: nele, fornecedores se sentem parceiros e parte integrante do fluxo. E, por último, inteligência de mercado: aplicar planejamentos para prever as ações futuras. Dicas como essas são sempre bem-vindas, mas a grande questão que o varejo brasileiro vive é realizar os fluxos e processos necessários para manter um FOTOS Stockxpert / Douglas Luccena A POR MARIANA VIEIRA 58 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Supply.indd 58 07/12/09 19:26 supply chain de qualidade. Alguns pontos ainda não são cumpridos. Segundo Adriano Pagnone, sócio-diretor da GS&MD – Gouvêa de Souza, o aspecto que precisa ser analisado com mais profundeza é o mesmo que pode provocar mudanças de atitudes dessa cadeia: o consumidor. O chamado neoconsumidor, reconhecido por uma pesquisa realizada em diversos países, inclusive o Brasil, é aquele que possui uma quantidade imensa de informações e, conseqüentemente, um maior poder de compra, não visto somente no aspecto financeiro, mas na decisão da escolha, pois ele pesquisa mais, compara mais e entende muito daquilo que deseja adquirir. Como a gestão de supply chain deriva da necessidade do consumidor, e ela é mutável, uma nova nomenclatura ganhou o mercado, agora batizada de cadeia de valor viva. Mas para tal vivacidade completar seu ciclo, o varejo deve andar no mesmo ritmo e para a mesma direção. “A empresa que não prestar atenção no neoconsumidor e não absorver esse conceito facilmente ficará para trás”, afirma, incisivo, Pagnone. Compreender uma cadeia de valor viva é também dominar todos os processos que envolvem o negócio da empresa. Como, por exemplo, não definir supply chain como simplesmente logística. A logística é um dos braços da cadeia, como são também as áreas de CMNV08 Supply.indd 59 compras e marketing. Esse vício de linguagem é demonstrado em algumas empresas cujo gerente de supply chain era o antigo gerente de logística que sem nenhum aperfeiçoamento de visão estratégica permanece na função executando de forma retrógrada algo que deveria ser inovador e direcionador da empresa. Alguns cases de adequação entre varejo e fornecedor e terceirizador merecem a citação. A operação de supply chain das lojas da rede Burger King no Brasil é terceirizada, tocada pela LAD – Latin America Distribution, empresa nacional que, segundo seu diretor, Marco Aurélio Soares, foi se aperfeiçoando para atender a norte-americana. O case foi apresentado em um seminário recente ocorrido em São Paulo para executivos que desejam se aperfeiçoar >>> Adriano Pagnone, da GS&MD “Cadeia viva parte do consumidor para chegar ao consumidor” 07/12/09 19:26 supply chain na gestão supply chain. Lá Soares apresentou o fluxo de ajuste de compra e demanda – incluindo importação, armazenamento, recebimento dos pedidos da loja e entrega. São 245 itens diferentes por loja, do hambúrguer ao canudo (sendo 18 deles importados), distribuídos para 70 lojas – 60 delas já atendidas e as outras dez do Nordeste iniciam o fluxo em fevereiro de 2010 a partir de dois centros de distribuição (um em Indaiatuba, interior de São Paulo e outro em Maceió). O projeto permanece a pleno vapor trazendo benefícios para as duas envolvidas. A exemplo da Burger King, o que muitas empresas vêm realizando é a terceirização desses serviços para se focarem exclusivamente no cliente. Foi o que fez o grupo M5 Têxtil, proprietário das griffes M.Oficcer; M.Officer Jeans, Miele e Carlos Miele, com a Celote. “Queríamos adotar processos avançados em logística e ampliarmos a operação. Os resultados mostraram significativo aumento da produtividade operacional em toda cadeia O QUE É UMA CADEIA DE VALOR VIVA? A definição mais tradicional foi a do livro “Living Supply Chains”, escrito por John Gattorna: “qualquer combinação de processos, funções, atividades, relacionamento e caminhos, ao longo dos quais produtos, serviços, informações e transações financeiras movimentam-se internamente e entre empresas. Isso inclui todas e quaisquer atividades, começando com a extração de matérias-primas e terminando com o consumo final”. Como definição, tudo bem. “Na prática, porém, a gestão e consequente geração de valor requerem um maior aprofundamento, tanto do seu funcionamento prático como das dinâmicas dos vários segmentos de mercado, que cada vez mais se alteram, se modificam”, ressalta Adriano Pagnone, sócio-diretor da GS&MD – Gouvêa de Souza. E por que se alteram tanto? “Porque têm vida. E essa vida nada mais é do que a vida do consumidor”, observa. Simples? Nem tanto. Acontece que a indústria em geral, talvez os maiores grupos empresariais, mesmo que entendam o significado de cadeia de valor, seus drivers e tenham iniciativas dentro desse escopo, ainda têm o forte DNA de desenvolver produtos, criar demanda e “empurrar” a cadeia. Uma visão voltada a produto. “Claro, existem grandes iniciativas voltadas a uma maior integração da cadeia de valor, principalmente com seus fornecedores estratégicos, e de colaboração com o elo seguinte, o varejo”, diz.. As cadeias nunca foram tão vivas e agora é uma questão de necessidade para a indústria e o varejo entender que fazem parte de cadeias dinâmicas, que se diferem por segmento, por grupos de consumidores dentro do segmento e que se alteram a todo o momento. “Enfim, cadeias que definitivamente partem do consumidor para chegar ao consumidor – talvez o c2b2c”, finaliza Pagnone. Marco Aurélio Soares, da LAD, Empresa nacional de terceirização que se aperfeiçoou para atender a norte-americana Burger King: ajuste de compra e demanda, incluindo importação, armazenamento, recebimento dos pedidos da loja e entrega logística, redução de custos e despesas com pessoal, diminuição do tempo de recebimento dos fornecedores e entrega aos clientes, maior confiabilidade nos processos, além de agilidade nas tomadas de decisões”, afirma Jair Lorenzetti, CEO e CIO da M5. A empresa é atendida pela Celote em um Centro de Distribuição de mil metros quadrados para armazenagem das peças da griffe, de onde é contabilizada a emissão de três notas fiscais por mês. A gestão do estoque, movimentação e entrega das peças – nas 85 lojas próprias e centenas de franquias e multimarcas – envolve desde o recebimento até a conferência, controle de qualidade, armazenagem, separação, embalagem, expedição e inventários. A operação rendeu à M5 25% de economia em redução de custo. A área acadêmica também vem acompanhando esse momento de mudança e oferece especializações. Entre eles o Senac–SP, que disponibiliza nas unidades da capital, Campinas e Ribeirão Preto a pós-graduação em logística – o nome se dá pelo próprio entendimento e receptividade dos alunos, apesar de atender todos os aspectos do supply chain visando ao consumidor. “Temos a preocupação do profissional ver a cadeia como um todo e não somente um aspecto dela”, explica Diogo Teixeira, gerente de desenvolvimento da área de logística e comércio exterior do Senac–SP. “E quem não visar ao consumidor está completamente fora do mercado”, reforça.v 60 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Supply.indd 60 07/12/09 19:27 Untitled-1 4 07/12/09 19:59 zzz entrevista “O que seria o ciclo de vida do cliente como conhecíamos vira o ciclo de vida do cliente junto com a empresa. Será a união desses dois que comandará as estratégias futuras” 62 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Entrevista .indd 62 07/12/09 18:23 zzz O nOvO CRM é O CRM sOCial Consultor especializado da Deloitte e autor do livro “Blog Corporativo”, Fabio Cipriani defende que vivemos numa nova etapa do relacionamento entre consumidor e empresa. A criação de múltiplos canais de comunicação digital deve transformar o CRM que conhecemos hoje para algo ainda mais poderoso e trará definitivamente o consumidor para dentro dos processos das empresas Por Gilberto PavoNi JuNior O Foto Douglas luccena consultor-sênior de estratégia de mercado e de consumidor da Deloitte, Fabio Cipriani, escreveu o livro “Blog Corporativo” em 2006. Foi o primeiro apanhado consistente sobre o movimento da internet que, já naquela época, dava mostras de como as relações entre consumidores e empresas iriam mudar radicalmente. Prestes a publicar um segundo livro, ainda sem título definido, Cipriani conversou com a Consumidor Moderno NOVAREJO sobre o novo CRM, agora modificado por tudo que surgiu em termos de novas mídias. Ele mesmo é um apaixonado pelas novas mídias. Possui os blogs www.serendipidade.com e www. blogcorporativo.net, além de estar de forma ativa em várias redes sociais. NOVAREJO Como surgiu o conceito de CRM social e o que ele significa? FábIO CIpRIANI O fenômeno das mídias sociais trouxe outras transformações, principalmente no marketing, em que o uso de sites de relacionamento tem se consolidado em diversas estratégias que promovem a marca de uma forma mais efetiva junto ao consumidor. Isso tem, de uma forma muito justa, até ganhado grande destaque na mídia. Mas não é só o marketing que pode se beneficiar da internet social. Se o marketing é 2.0, agora é hora de pensar como vendas, atendimento e outros processos internos podem ser 2.0 também. Esse é o princípio do termo CRM social. O CRM é pensado como uma estratégia horizontal da empresa que agora pode contar com as mídias sociais para se desenvolver. O termo não tem um dono específico. Ele foi sendo construído em conversas que o Paul Grimberg, autor de “CRM at Speed of Light”, mantinha pela internet com outros especialistas, especialmente em seu wiki CRM 2.0. Eu estava no meio dessas conversas e pude ver o CRM social nascendo dessa troca de ideias e rapidamente várias empresas startups de CRM começaram a utilizá-lo. Seja CRM social ou CRM 2.0, ele define um novo modelo de gestão do consumidor, com apoio das mídias sociais. Mas é algo amplo e que atravessa várias áreas de uma empresa. Hoje, vemos muitas notícias sobre o uso de Facebook, Orkut e Twitter nas estratégias de marketing. São boas ações, sem dúvida. Mas o que propomos no CRM social é que essas vantagens percebidas no marketing sejam também utilizadas em atendimento, vendas, pós-vendas etc. NOVAREJO O CRM social é algo completamente diferente do que se conhece ou é um aprimoramento do CRM? >>> CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 63 CMNV08 Entrevista .indd 63 07/12/09 18:23 entrevista FábIO CIpRIANI Não é uma nova tecnologia ou algo assim. Ele envolve uma nova visão nas estratégias das empresas e a criação de novos processos que permitam que ela converse e entenda os consumidores que antes não faziam parte do seu foco. A popularização do que chamamos mídia social foi extremamente importante nisso. Creio que chegará um momento no qual toda a empresa terá ao menos uma citação na internet. Nem sempre serão pessoas que estão em sua base de dados, mas, de alguma forma, elas tiveram contato com a marca, produtos ou serviços e estão se manifestando. O sucesso dos blogs, wikis e sites de relacionamento só ajudou a impulsionar tudo isso. Embora não seja uma novidade completa, o CRM social não pode ser desconsiderado. Eu gosto de imaginá-lo como um plug in. Você adapta novas funções ao que já existe e melhora a produtividade e os resultados. Ele não veio para substituir o CRM tradicional, mas, sim, para melhorá-lo. Se uma empresa tem um sistema bom e faz vendas e atendimento de uma forma ideal, o CRM social vai ajudá-la a trazer as mídias sociais para outros processos, como o customer service e marketing. Pode até ajudá-la em políticas e produtos. NOVAREJO Até aí parece simples, mas parece que existe uma dificuldade que não está tão aparente. Qual é essa dificuldade? FábIO CIpRIANI É que agora não são somente dados que trafegam pelo sistema. São informações que são geradas por pessoas e não se encaixam exatamente nos bancos de dados que conhecemos hoje. São dados conversasionais, algo muito diferente dos dados transacionais que conhecemos. É fácil de entender porque somos pessoas também. Mas a captura e o uso disso nos modelos tecnológicos que conhecemos são mais complicados. Não é por acaso que empresas como Oracle e SalesForce se dedicaram muito para lançar produtos específicos para o CRM social. E outras, como SAP e Microsoft, já preparam seus lançamentos. São tecnologias que fazem essa ligação com redes sociais e trazem informações para dentro da empresa, encaminhando-as para os diversos processos que precisam disso para funcionar melhor. NOVAREJO Muitas empresas, principalmente de varejo, ainda não assimilaram a necessidade de compreender o consumidor. E agora elas precisam colocar o consumidor dentro de seus processos... FábIO CIpRIANI A curva de aprendizado não termina nunca. As empresas que já tiveram contato com o CRM tradicional devem ter percebido que o potencial de entender o consumidor é muito maior do que se falava até então. Isso foi muito ampliado pelas mídias sociais. Com elas, o consumidor consegue interagir melhor com a empresa e essa com ele. A possibilidade de coletar necessidades e sentimentos no mercado se dá em uma forma muito mais dinâmica agora. As mídias sociais nos dão a chance de criar um novo tipo de ciclo de vida do consumidor, com todas as opiniões dele e contatos com a marca. Isso tudo que antes era só verbal passará a ser dado e documentação dentro da empresa. De outra forma, a companhia também terá todo o histórico de sua relação com o consumidor e com a opinião manifestada por ele. Na verdade, a opinião que está publicada on-line é apenas um reflexo do que o consumidor viveu fora da rede. Só que a web social amplia aquela informação por conta dos contatos do próprio consumidor, que estão mais acessíveis e abertos a repercutir. Então, o que seria o ciclo de vida do cliente como conhecíamos vira o ciclo de vida do cliente junto com a empresa. Será a união desses dois que comandará as estratégias futuras. Não é algo tão complicado, mas exige muitos cuidados. O CRM social é mais estratégico do que tecnológico. É mais sobre pessoas do que sistemas. É claro que os dados que vêm de fora devem entrar no sistema e ficarem acessíveis a vários departamentos, e tem de necessariamente entrar num funil de oportunidades. Mas se aproveitar das mídias sociais para facilitar a captura e o tráfego dessas informações é algo que depende do entendimento que os funcionários tem do CRM social. Tudo tem de ser encontrado e bem usado. Não pode haver desperdício dessa informação tão rica.v 64 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Entrevista .indd 64 07/12/09 18:23 Untitled-1 5 07/12/09 19:59 inovação O MUNDO COMPLICOU? USE A INOVAÇÃO ABERTA Q POR GILBERTO PAVONI JUNIOR ue o mundo está mais dinâmico e isso tem afetado o modo como as empresas precisam se posicionar no mercado, isso ninguém duvida. A rapidez das transformações das relações de consumo, o fácil acesso a INOVAÇÃO FECHADA X ABERTA Aberta Fechada Temos os melhores profissionais para inovar Sabemos onde encontrar e como interagir com os melhores profissionais para inovar Criamos por nossa própria conta e risco Temos um desafio que outros podem ajudar Temos de inventar Podemos fazer o melhor uso das ideias de todos Manter o core business Gerar receita com a inovação Nossas ideias são nossas A troca de ideias gera novas ideias Cadeia produtiva Rede produtiva informações pelos clientes e as dificuldades de lidar com concorrência global cada vez mais agressiva, tem dificultado a vida de companhias ao redor do mundo, sejam grandes, médias ou pequenas. Nesse ambiente altamente volátil, qualquer teoria nova que se mostre útil acaba ganhando destaque. Uma das que mais têm conseguido adeptos é a inovação aberta. Mas o modelo, teorizado pelo professor da Universidade de Berkeley, Henry Chesbrough, vai além de um modismo. O modelo de inovação aberta consegue juntar todas as grandes mudanças pelas quais passam as empresas em um container de teorias e processos para promover a criatividade, além de qualquer fronteira física que tem cercado as companhias desde a Revolução Industrial. E é com essa virtude que a teoria de Chesbrough tem ganhado destaque nas estratégias corporativas. Apesar de recente, o livro “Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology” é de 2003, os cases pelo mundo já são inúmeros. FOTOS Stockxpert / Douglas Luccena Os competidores estão mais rápidos, o mercado está mais competitivo, os consumidores estão mais informados e as empresas estão criando da mesma maneira que criavam antes. Tem algo errado aí 66 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Inova•‹ o.indd 66 07/12/09 18:26 Lucas Aquino, da Allagi Varejo ainda distante da inovação aberta, mas não há limitação. “Qualquer empresa pode usá-la” A cafeteria Starbucks criou o site My Starbucks Idea para coletar insights de consumidores e fãs. O canal aberto foi destinado a promover a interação entre a empresa e demais pessoas ao redor do mundo que poderiam se interessar em transformar os produtos e serviços da marca. A ação surgiu após o McDonald’s anunciar que iria incluir café no cardápio. Pressionada pelo concorrente ágil e poderoso, a Starbucks apelou para o modelo de inovação aberta para conseguir se renovar. A montadora Fiat tem um caso exemplar de inovação aberta. O modelo Mio foi desenhado de acordo com a sugestão de milhares de pessoas que acessaram o site http://www.fiatmio.cc em diversos países. A empresa diz que em quatro meses, dez mil colaboradores enviaram sete mil ideias para ajudar no projeto que será apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo, em 2010. Por enquanto, o novo carro tem aspecto urbano, é compacto, ecológico e integra sistemas de telefonia à tecnologia embarcada para ser uma plataforma de serviços e entretenimento. Tudo desejado e solicitado pelos consumidores. No Brasil, a construtora Tecnisa utilizou conceito semelhante para um empreendimento exclusivamente voltado à terceira idade. O condomínio, construído no bairro da Água Rasa (região de classe média em São Paulo), surgiu após a empresa detectar a oportunidade de mercado. Para definir os atrativos e diferenciais que comporiam a >>> CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 67 CMNV08 Inova•‹ o.indd 67 10/12/09 16:28 inovação Coleta de insights A Starbucks foi uma das primeiras a abrir espaço para inovação aberta O criador é você Em 4 meses, a Fiat recebeu 7 mil ideias para o novo Mio a ser lançado em 2010 oferta, a Tecnisa apelou para suas plataformas de troca de ideias pela internet. As sugestões foram captadas pelo time de engenharia e se transformaram em um novo conceito de prédios com consciência geriátrica. “A inovação aberta está muito relacionada à redução de custos e a rapidez do atendimento às novas demandas no mercado altamente competitivo”, ensina o professor de inovação da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda. Para o especialista, embora as grandes empresas consigam se beneficiar facilmente, são as pequenas e médias que não têm condições de arcar com a contratação de cientistas e a criação de laboratórios de pesquisa que podem conseguir melhores resultados com esse novo modelo. baixo custo, se transformar em desperdício de tempo e dinheiro”, alerta o sócio-consultor da Allagi, empresa especializada em inovação aberta, Lucas Aquino. Para fugir desse paradigma, as companhias devem construir processos transparentes e alinhados de filtragem e transformação das ideias em produtos ou serviços. “Essa é a parte mais difícil do conceito e onde surgem as principais falhas”, argumenta Aquino. Para o especialista, o principal problema é transformar as ideias em algo que gere receita. “A inovação aberta envolve também a participação efetiva de áreas internas, como o recursos humanos e o financeiro. O conceito de rede não termina quando a ideia entra na empresa”, aponta. AjudA dA internet VArejistAs longe dA noVidAde O conceito foi facilitado pela popularização da internet, a adoção massiva das redes de relacionamento como novo paradigma tecnológico e a globalização. “É uma forma atrativa de unir o conhecimento disperso pelo mundo”, comenta Arruda. Os processos inovadores das empresas se transformam em redes dispersas e receptivas. Vem daí o termo. É o contrário da inovação fechada que antes se dava somente dentro de centros especializados das companhias e não diziam respeito a mais ninguém além delas. Mas a inovação aberta não é só captação de criatividade. Esse é apenas uma das estruturas que compõem o conceito. Essencialmente, além dessa primeira etapa, as empresas precisam filtrar as informações que chegam e encaminhá-las para o mercado. “Há sempre o risco de o modelo, que foi criado para ser ágil e de O conceito de inovação aberta ainda não tem grande contribuição do varejo e tem sido muito usado por manufaturas, farmacêuticas e indústrias de bens de consumo não-duráveis. Mas, em sua definição, não há essa limitação. “A inovação aberta pode ser usada por qualquer empresa”, diz Aquino. Mesmo porque o conceito de cadeia produtiva fica meio fora de moda com as teorias novas. Como todas as empresas podem agir em rede, ou mais de uma rede, um varejista pode pedir ajuda em outra vertical da economia ou participar da inovação de um ramo no qual não tem negócios ainda. A inovação aberta tem evoluído. Mas, para o professor Arruda, da FDC, ainda vivemos os primeiros estágios. “Há muito o que ser feito, o que temos hoje são casos pontuais e o melhor vai ser quando esses pioneiros começarem a se cruzar nas redes de inovação”, diz. v 68 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Inova•‹ o.indd 68 07/12/09 18:26 Untitled-1 2 07/12/09 19:58 pesquisa 10 tendênciAs do consumidor emergente As classes C, D e E respondem por 85% da população brasileira, 69% dos cartões de crédito e 70% de tudo que se compra no supermercado. Para entender os rumos do mercado que mais cresce no Brasil, o Data Popular, empresa de pesquisa e consultoria especializada na baixa renda, e o Instituto de Pesquisa Datafolha identificaram dez tendências de comportamento desse consumidor Diferentemente do cliente tradicional, a descoberta do consumo faz com que o mercado emergente desenvolva um jeito próprio e inclusivo de comprar. As marcas que forem didáticas e apresentarem esse novo universo de consumo terão a fidelidade das classes C, D e E. “AgorA, eu escolho” 2 3 identidade e autoestima A base da pirâmide está mais consciente da sua importância na sociedade e valorizará cada vez mais as suas conquistas, enaltecendo a relação com as suas origens, sua história e suas características. “AgorA, eu tenho orgulho” aCesso e qualidade Com maior poder de consumo, essas classes exigirão cada vez mais: melhores produtos, melhores governos, melhor qualidade de vida. As marcas que souberem conjugar a melhor relação custo–benefício serão recompensadas com sua fidelidade. “AgorA, eu posso” 4 eduCação Como investimento As famílias de baixa renda se conscientizaram que por meio da educação podem mais. De maneira muito funcional investirão cada vez mais na educação dos filhos pensando no próprio futuro. “AgorA, eu sei, fAço e Aconteço” Foto stockxpert 1 Consumo de inClusão 70 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Pesquisa.indd 70 07/12/09 19:30 As clAsses c,d e e formAm um mercAdo de R$ 760 bilhões 5 JUVENTUDE E GERAÇÃO C Os atuais jovens da baixa renda são mais escolarizados, mais informados e mais economicamente ativos que seus pais. Formarão um novo perfil de cidadãos e consumidores que serão a maioria da população brasileira. O Brasil de amanhã será marcado pelas características dos jovens da atual baixa renda. “AgorA, tudo é do meu jeito” 6 VAiDADE E bElEzA COmO iNClUsÃO Estar bem arrumada diminui as barreiras sociais que dificultam a inclusão da base da pirâmide. Com maior acesso a produtos de beleza e tratamentos estéticos, novos padrões de beleza serão mais abrangentes e as marcas deverão estar atentas às novas tendências dessa maioria. “AgorA, eu sou mAis eu” 7 NOVOs pApéis, NOVA fAmíliA 8 REDEs, DiCAs E bOCA-A-bOCA As classes baixas sempre dependeram mais uns dos outros para viver, ou seja, cresceram e aprenderam a conviver em um ambiente colaborativo. Aliada às novas tecnologias e à disseminação das redes sociais, a baixa renda potencializará as suas já extensas relações sociais. Os papéis dos homens e mulheres já não são mais os mesmos. Com o crescimento do poder (consciência, status e renda) as mulheres da baixa renda estarão mais independentes e construirão uma outra relação familiar. Isso implicará desenho de uma nova família, cada vez menor e com uma renda per capita maior. “AgorA eu não dependo de ninguém” “AgorA, eu tenho mAis meus Amigos” 9 CApilARiDADE E sEGmENTAÇÃO A geografia dos bairros e os diferentes tipos sociais das pessoas de baixa renda exigem diferentes formatos de produtos e distribuição das empresas. Os canais de venda deverão ter maior capilaridade e as marcas trabalharão produtos segmentados para uma grande massa de consumidores. “AgorA, tem mAis do jeito que eu quero” 10 TECNOlOGiA COmO iNVEsTimENTO A penetração de tecnologia da informação está em plena expansão nas classes baixas, principalmente com os jovens. Tecnologia é vista como investimento no futuro profissional e como canal de acesso às informações antes restritas à minoria da população brasileira. “AgorA, eu me conecto”v CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 71 CMNV08 Pesquisa.indd 71 07/12/09 19:30 debate Uma tarde para debater Debate promovido por Consumidor Moderno NOVAREJO e Senac discute os desafios da comunicação e do marketing dentro do ambiente varejista R Por Érika ramos efletir sobre oportunidades, analisar novos formatos e a inserção das classes D e E no mercado consumidor são missões do setor varejista. Reforçando a importância da disseminação das informações, a revista Consumidor Moderno NOVAREJO realizou o debate “A gestão moderna de marketing no varejo”, que contou com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). No encontro, Claudio Correra, coordenador do curso de pós-graduação em marketing no varejo do Senac–SP, comentou o quanto hoje o varejo está focado na mudança do comportamento do cliente, no ponto de venda e oS partICIpaNteS Carlos Gouveia, do Walmart denise Gasparino, do bradesco Claudio Correa, do Senac–Sp antonio augusto de almeida Leite (pancho), da acrefi Ivone araújo, do Grupo pão de açúcar Flavia Sampaio, da Cereja prN 72 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Debate.indd 72 07/12/09 18:40 nas novas formas de comunicação que influenciam a decisão de compra. A mudança de curso visa melhorar a experiência do consumidor dentro da loja. Carlos Gouvêa, da área de inteligência de mercado do Walmart, concorda. “O segmento tem investido pesado em experiência de compra e relacionamento com o consumidor, inclusive em áreas como o Nordeste do País, que antes não recebiam tanta atenção”, apontou. Flavia Sampaio, gerente da agência Cereja PRN, comentou sobre a necessidade de criar a experiência de compra em todos os níveis de renda a partir da comunicação digital. “Quando o hipermercado, que é o shopping center da classe C, torna-se atraente, ele agrada a toda a família do consumidor”, explica. A presença cada vez maior de mídia digital nos ambientes de varejo é inexorável, segundo ela. “O varejo já percebe isso, não só porque tem resultado efetivo no aumento da venda, mas porque a informação veiculada pela mídia pode influenciar na decisão de compra do cliente final”, afirma. Foto Douglas Luccena Desafios Da comunicação Correra, do Senac, questionou se as agências de publicidade estão preparadas para as transformações que vêm ocorrendo em relação à comunicação com os clientes no ponto de venda. “No geral, as agências concentram experiência em televisão e desconhecem ações em outras mídias”, comentou. Ele citou como exemplo a comunicação com os consumidores da periferia e o quanto as estratégias de comunicação precisam ser reposicionadas para atingir esse público. “A comunicação longe dos grandes centros comerciais é feita no ponto de ônibus. Nesses locais, as lojas costumam abrir às 5 horas da manhã para pegar o consumidor quando ele está indo para o trabalho”. CMNV08 Debate.indd 73 Ainda em relação à comunicação do varejo, Flavia observou que diversos anunciantes criaram o fenômeno de internalizar diretores de mídia, com visão única da comunicação para atingir o consumidor com mais foco. “A decisão de compra de mídia está cada vez mais nas mãos do próprio anunciante”. E estar em sintonia com o público pode fazer toda a diferença. Denise Gasparino, da área de marketing do Bradesco, comentou sobre os desafios em lidar com o nicho dos idosos. “Promovemos uma mudança do site e no ponto de venda, com informações voltadas para esse público, que já sabe o quanto quer financiar e não se endivida além do que pode. Na maioria das vezes, usa o crédito consignado para realizar um sonho ou pagar uma dívida”, esclarece Denise. O ambiente digital também foi mencionado por outra debatedora. Em relação às solicitações e demandas do consumidor por meio de canais on-line, Ivone Araújo, da ouvidoria do Grupo Pão de Açúcar e responsável pelos contatos por e-mail e chat, explicou que a mídia eletrônica é constantemente utilizada pelo consumidor de classe C e D da rede Compre Bem de supermercados. “É um consumidor difícil de lidar, pois não aceita as explicações legais. Lidar com esse cliente, que tem dificuldade de se expressar, gera impaciência nos atendentes”, fala. A preocupação com o excesso da oferta de crédito foi outro aspecto discutido, uma vez que pode levar ao endividamento do cliente. “Cada instituição e associação tem o papel de conscientizar o consumidor, com cursos, eventos e informações. Há até uma proposta do Banco Central para ensinar consumo consciente na escola”, verificou Antonio Augusto de Almeida Leite (Pancho), diretor-superintendente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).v J 07/12/09 18:40 educação ConheCimento para vender Losango incrementa o projeto “Escola Losango de Varejo” com o intuito de levar informação para pequenos e médios varejistas, e aumentar suas vendas. Em 2010, a intenção é expandir a iniciativa pelo País 2 Por Júlia zillig 1 de outubro, em Campinas (SP). Cerca de 150 varejistas assistem a uma palestra ministrada por Denise von Poser, professora de pós-graduação e especialista em atendimento. Pauta: Como é possível fidelizar e encantar o cliente? Profissionais levantam dúvidas e relatam situações vividas no dia a dia da empresa. Ao final, em um coquetel trocam experiências e contatos. A ação descrita acima faz parte do projeto “Escola Losango de Varejo”, criada em 2000 pela Losango, empresa do grupo HSBC, com o intuito de compartilhar informação para a evolução dos negócios de seus clientes varejistas. Segundo Hilgo Gonçalves, executivo-chefe da Losango, “a Escola de Varejo é muito importante para reforçar o relacionamento com os lojistas, mas principalmente para apoiálos em suas estratégias de varejo e incremento de vendas”. Segundo Janaina Souza, gerentesênior de marketing da empresa, a ideia é ajudar os pequenos e médios lojistas a vender mais e muni-los com ferramentas para movimentar seu ponto de venda. “O conteúdo oferecido pela escola nada tem a ver com nosso conhecimento operacional. Dividimos informações gerais que podem ser úteis para alavancar os negócios. O crescimento do nosso cliente significa o nosso crescimento”. A preocupação da Losango é não tornar a ação uma iniciativa puramente institucional. Desde a concepção do projeto, a empresa busca parceiros capacitados no mercado que possam trazer novos conhecimentos para os pequenos e médios varejistas, 74 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Educacao.indd 74 07/12/09 18:44 Hilgo Gonçalves, da Losango “A nossa preocupação é ajudar o lojista a preparar sua equipe e não perder venda” Fotos Douglas Luccena perfil dos clientes da Losango. Para a palestra de outubro, a empresa firmou uma parceria com o Grupo Padrão, que trouxe a especialista Denise von Poser para falar sobre a importância do bom atendimento. “Há uma preocupação por parte dos varejistas em crescer e em melhorar o atendimento. É um mercado muito carente em termos de acesso à informação. Os pequenos varejistas não têm consultoria e nem agência de publicidade para orientá-los”, diz Janaina. Antes da palestra, a Losango foi a campo para saber quais eram os assuntos de maior interesse dos clientes. “Cerca de 70% deles responderam que gostariam de ouvir um especialista sobre vendas e clientes”, enfatiza Janaina. A reação dos lojistas foi bastante positiva. “O índice de satisfação beirou os 90%. Os clientes participaram ativamente, fazendo perguntas, contando experiências e até deram sugestões para os próximos encontros”. Absorver esse tipo de informação para definir os temas das próximas palestras virou padrão. “É uma forma de manter o projeto atualizado”, enfatiza Janaina. Dias após o evento, a companhia publicou o conteúdo das apresentações, fotos, agenda de palestras, entre outros, em seu site. “Alguns varejistas me pediram a apresentação da professora para levar para sua empresa”, conta Janaina. Relacionamento Aberta para os clientes e futuros clientes da rede, a Escola Losango de Varejo também traz benefícios para a própria empresa. “Aproveitamos o encontro informal para estreitar o nosso relacionamento comercial e nos aproximar daqueles com quem estamos ‘de namoro’”, explica a gerente. É o que a empresa chama de conceito de ativação e de prospecção. “Queremos que a produção dele cresça junto com a Losango”. Até o momento, as ações da Escola Losango de Varejo já atingiram mais de três mil lojistas de vários locais do Brasil. Em média, foram feitas quatro palestras por ano. De acordo com Janaina, não existe um projeto semelhante no mercado. “A maioria das ações tem cunho técnico. A nossa preocupação é ajudar o lojista a preparar sua equipe e não perder venda. Nosso conceito é bem mais abrangente. Queremos ensinar, compartilhar experiências trazendo pessoas com amplo conhecimento para ajudá-los nessa missão”. Para divulgar os encontros, a Losango conta com sua força de vendas, que envia e-mails e vai até o varejista apresentar o projeto e convidá-lo a participar. Para 2010, a Losango pretende reforçar as ações da escola. “Queremos fazer duas ou três palestras por cidades como Recife, Goiânia, Porto Alegre e retornar em praças que já estivemos anteriormente”, diz a gerente. Um dos mercados-alvo será o de material de construção. A empresa tem trabalhado firme em seu objetivo de ampliar presença no varejo em 30%. Até o final do ano, a previsão é estar presente em oito mil novas lojas nas áreas de material de construção, móveis e eletroeletrônicos. v CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 75 CMNV08 Educacao.indd 75 07/12/09 18:44 perspectivas Super e hipermercados impulsionam crescimento do comércio varejista em setembro Por Marcelo WaiDeMaN ApertAndo o pAsso no finAl do Ano 76 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Perspectivas.indd 76 07/12/09 19:33 D CRESCIMENTO MENSAL X DESEMPENHO NO ANO DOS SETORES DO VAREJO e acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados em 13 de novembro, o comércio varejista cresceu 5% em setembro ante 2008. Em relação a agosto, o crescimento foi de 0,3%, excluindo-se os efeitos sazonais. O comércio varejista ampliado, que também inclui vendas do atacado e varejo de materiais de construção, veículos e peças, cresceu 9,1% sobre setembro do ano passado e 3,0% sobre o mês imediatamente anterior. O setor de hiper/supermercados, alimentos, bebidas e fumo continua sendo o maior alavancador do crescimento no setor, enquanto a maior taxa de crescimento setorial foi do setor de veículos e motos, partes e peças. Com os resultados de setembro, o crescimento no semestre foi de 5,3%, em relação ao mesmo trimestre de 2008. Esse avanço foi semelhante ao trimestre anterior (+5,2%) e maior que nos primeiros três meses (+3,7%). O último trimestre de 2009 deve ser o melhor trimestre do ano, tanto pela melhora na conjuntura econômica ocorrida ao longo 1 20% FÁRMACOS E PERFUMARIA 15% INFORMÁTICA E COMUNICAÇÃO OUTROS E LOJAS % JAN–SET/09 10% LIVROS E PAPELARIA DE DEPARTAMENTO 5% COMBUSTÍVEIS HIPER/ SUPERMERCADOS 0% VESTUÁRIO -5% -10% VEÍCULOS MÓVEIS E ELETRODOMÉSTICOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO -15% -15% -10% -5% 0% 5% 10% 15% 20% 25% % SET-09/SET-08 * O tamanho das bolhas indica a participação dos setores no varejo total. Fonte: IBGE. Adaptação: NE&PE/GS&MD do ano, quanto pela base de comparação, já que o último trimestre foi o pior trimestre do ano passado. CENÁRIO ECONÔMICO Variáveis importantes, como a confiança do consumidor, o crédito e a massa salarial passam por um momento bastante favorável. Gráfico 1 VOLUME DE VENDAS DO COMÉRCIO VAREJISTA SEGUNDO GRUPOS DE ATIVIDADE – SETEMBRO Atividades COMÉRCIO VAREJISTA COMBUSTÍVEIS E LUBRIFICANTES HIPER/SUPERMERCADOS, PRODUTOS ALIMENTÍCIOS, BEBIDAS E FUMO INDICADOR MÊS/MÊS % ACUMULADO % INDICADOR MENSAL % JUNHO JULHO AGOSTO JUNHO JULHO AGOSTO NO ANO 12 MESES 0,5 0,6 0,3 6,0 4,8 5,0 4,7 5,0 -1,3 -0,3 0,5 -3,9 -4,5 -4,3 -0,1 1,8 1,0 1,4 -0,5 10,1 8,5 9,7 7,7 7,1 0,8 1,7 -0,4 10,0 8,4 9,5 7,5 6,9 -4,4 -2,1 0,9 -2,2 -5,8 -6,6 -6,2 -6,0 MÓVEIS E ELETRODOMÉSTICOS 2,4 0,8 1,8 0,5 0,6 1,5 -1,2 1,2 ARTIGOS FARMACÊUTICOS, MÉDICOS, ORTOPÉDICOS E DE PERFUMARIA 4,5 -0,2 -1,1 14,2 14,0 8,1 11,9 12,4 LIVROS, JORNAIS, REVISTAS E PAPELARIA SUPER E HIPERMERCADOS TECIDOS, VESTUÁRIO E CALÇADOS 4,4 -0,7 1,4 12,1 11,1 9,7 9,3 9,9 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS DE ESCRITÓRIO, INFORMÁTICA E COMUNICAÇÃO -5,7 -5,6 8,8 9,7 -0,2 3,2 11,9 17,1 OUTROS ARTIGOS DE USO PESSOAL E DOMÉSTICO -1,2 -0,7 0,5 7,9 7,3 6,6 8,7 8,1 COMÉRCIO VAREJISTA AMPLIADO -6,3 4,7 3,0 0,9 5,6 9,1 4,4 3,3 VEÍCULOS E MOTOS, PARTES E PEÇAS -9,2 2,1 9,1 -5,0 9,3 18,9 6,2 2,0 0 1,3 -1,5 -12,5 -6,0 -8,2 -9,5 -7,6 MATERIAL DE CONSTRUÇÃO CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO NOV/DEZ 2009 | 77 CMNV08 Perspectivas.indd 77 07/12/09 19:33 perspectivas = 100) 120 116 112 108 104 100 96 SET 05 NOV 05 JAN 06 MAR 06 MAI 06 JUL 06 SET 06 NOV 06 JAN 07 MAR 07 MAI 07 JUL 07 SET 07 NOV 07 JAN 08 MAR 08 MAI 08 JUL 08 SET 08 NOV 08 JAN 09 MAR 09 MAI 09 JUL 09 SET 09 NOV 09 92 3 EVOLUÇÃO DA TAXA DE JUROS – PESSOA FÍSICA 44,2 43.6 33.4 33,5 8.75 8.75 35.2 44,1 34,3 34.3 43,6 33,4 9.10 OUT 09 8,75 44.9 44.1 35.8 44,9 35,2 9.58 AGO 09 8,75 SET 09 8,75 47.3 45.6 38.5 47,3 37,4 37.4 45,6 35,8 11.18 10.25 JUN 09 9,58 JUL 09 9,10 50.1 48.8 39.8 48,8 38,5 12.75 11.73 MAR 09 11,73 ABR 09 11,18 MAI 09 10,25 55 41.4 50,1 39,8 12,75 FEV 09 55,0 13.43 13,75 13,43 JAN 09 52.6 SPREAD PESSOA FÍSICA DEZ 08 43.2 45,0 13.75 39.7 43,2 13.75 45.0 43,5 13,75 43.5 52,6 41,4 13,75 OUT 08 NOV 08 13.75 54,8 13.50 13,50 SET 08 58,3 53,1 52.1 38.6 39,7 13.00 57,9 52,1 51.4 37.6 38,6 13,00 12.44 AGO 08 51,449 36.6 37,6 34.7 36,6 12.18 33.5 34,7 12,44 SELIC (META) JUL 08 48 47,4 34.6 33,5 11.25 49 48 47,8 47,7 36.9 35,3 35.3 34,6 11.25 MAI 08 11,75 11.48 JUN 08 12,18 11.75 0,0 - MAR 08 11,25 ABR 08 11,48 10,0 49 48,8 20,0 49,0 30,0 36,6 40,0 36.6 36,9 50,0 49,147 TAXA DE JUROS PESSOA FÍSICA 60,0 11.25 Desde o início do ano as taxas de juros recuaram mais de 11 pontos porcentuais em função da redução da taxa Selic (que impacta no custo captação dos bancos) e do spread (diferença entre custo de captação e aplicação de recursos) praticado pelas instituições financeiras. Gráfico 3 Sem previsão de novos cortes da Selic este ano, a taxa de juros deve recuar em função da queda da inadimplência. Em setembro, a taxa de inadimplência voltou a cair, fato que se repetiu em outubro, quando essa taxa alcançou seu menor nível no ano. No que concerne ao mercado de trabalho, em setembro a taxa de desemprego ficou, pela primeira vez no ano, abaixo de 8%. Gráfico 4 A taxa verificada de 7,7% é exatamente igual ao número observado no mesmo mês do ano passado, quando os efeitos da crise internacional ainda não se refletiam sobre o mercado de trabalho. Em outubro, a taxa apresentou novo recuo, foi a 7,5% da população economicamen- 2 ICC SITUAÇÃO PRESENTE EXPECTATIVAS 124 JAN 08 11,25 FEV 08 11,25 EVOLUÇÃO DA TAXA DE JUROS (% AO ANO) 128 ÍNDICE (SET/05 Em setembro, a confiança do consumidor esteve em seu nível mais alto desde o início do ano e semelhante há um ano antes, período prévio à crise. Foi a sensação de confiança no presente que puxou o crescimento do indicador no mês. Em outubro, e depois novamente em novembro, a confiança do consumidor tornou a se elevar, alcançando seu melhor momento desde março do ano passado, quando se registrou o ponto mais alto de toda a série histórica do indicador, medido pela Fundação Getúlio Vargas desde setembro de 2005. Gráfico 2 Em termos de crédito, um ano após a quebra do banco Lehmann Brothers detonar uma crise mundial, as condições de crédito no Brasil eram as melhores de sua história em aspectos como volume, prazo e taxas de juros. Segundo dados preliminares, em setembro a taxa média de juros à pessoa física foi de 43,6% ao ano, alcançando o menor nível de toda a série histórica medida pelo Banco Central do Brasil. Em novembro, houve pequeno aumento na taxa, sinalizando que esse pode ter sido o piso para a taxa de juros no médio prazo. ÍNDICE DE CONFIANÇA DO CONSUMIDOR – SITUAÇÃO ATUAL E EXPECTATIVAS Dados medidos em porcentual ao ano, exceto spread, medido em pontos porcentuais. Fonte: BCB. Adaptação: NE&PE/GS&MD. te ativa, alcançando também seu melhor momento em 2009. A recuperação do mercado de trabalho permitiu que a massa de salários circulando pela economia continue em expansão, com perspectivas de aceleração do ritmo à medida que mais pessoas são absorvidas pelo mercado de trabalho no futuro Gráfico 5 . Em setembro, a massa de salários cresceu 2,5% sobre 2008, com contribuição tanto do aumento de número de pessoas ocupadas (+0,6%) 78 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Perspectivas.indd 78 07/12/09 19:33 INADIMPLÊNCIA – PESSOA FÍSICA 8,2% 8,1% 8,5% JUN 09 8,4% 8,6% 8,6% MAI 09 8,4% 8,4% ABR 09 8,3% MAR 09 8,2% 8,0% 7,8% 7,6% 7,5% 7,3% 7,3% 7,4% 7,0% 7,1% 7,1% 6,9% 7,0% 7,1% 7,5% FEV 08 8,0% JAN 08 6,5% SET 09 NOV 09 JUL 09 AGO 09 FEV 09 JAN 09 DEZ 08 OUT 08 NOV 08 SET 08 JUL 08 AGO 08 JUN 08 ABR 08 MAI 08 6,0% MAR 08 As vendas do setor hiper/supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo continuam impulsionando as vendas no varejo. Com o resultado de setembro, o setor acumula no ano crescimento de 7,7%, porcentual superior ao melhor ano do varejo medido pela Pesquisa Mensal do Comércio (7,5% em 2006). Com o crescimento da massa salarial, o segmento deve continuar a se expandir de forma contínua e sem sobressaltos. O segmento de artigos farmacêuticos, médicos, ortopedia e perfumaria segue trajetória de crescimento acentuado experimentado ao longo de todo o ano de 2009. O maior acesso a medicamentos e o aumento da massa salarial resultam diretamente na expansão desse setor. Com o resultado de setembro, passou a ser um dos setores do varejo que mais cresceram no ano, junto com as lojas de informática e telefonia. O varejo de móveis e eletrodomésticos consolida sua recuperação com o crescimento das vendas pelo terceiro mês consecutivo sobre 2008. A redução do IPI para produtos da linha branca reforçou a decisão de compra em um momento de confiança do consumidor alta e taxas de juros em baixa. No ano, no entanto, o setor continua amargando queda no volume de vendas (-1,2%), mas com o processo de recuperação em andamento, o setor deve igualar o resultado de 2008. O segmento de materiais para escritório, informática e comunicação ainda apresenta o maior crescimento setorial acumulado no ano (+11,9%), porém o ritmo de expansão das vendas é praticamente um terço do crescimento do ano passado (+33,2%). A maior penetração em domicílios desses produtos elevou a base para comparação estabelecida, como também indica que o crescimento do potencial de vendas é grande, mas menor do que em anos anteriores. O notável crescimento do varejo e atacado de veículos, motos, partes e peças (18,9%) em setembro continuou mesmo após o retorno gradual às antigas 8,5% Fonte: Banco Central do Brasil. Adaptação: NE&PE/GS&MD TAXA DE DESEMPREGO 5 % MENSAL DE PESSOAS DESOCUPADAS 14% 13% 12,4% 12% 11,8% 11,5% 11% 10% 9,9% 10,0% 9,3% 9% 8% 7,9% 8,2% 7,5% 7% 6% OUT 02 JAN 03 ABR 03 JUL 03 OUT 03 JAN 04 ABR 04 AGO 04 OUT 04 JAN 05 ABR 05 AGO 05 OUT 05 JAN 06 ABR 06 AGO 06 OUT 06 JAN 07 ABR 07 AGO 07 OUT 07 JAN 08 ABR 08 AGO 08 OUT 08 JAN 09 ABR 09 AGO 09 OUT 09 DESEMPENHO SETORIAL DO VAREJO 4 PORCENTUAL DE ATRASOS SUPERIORES A 90 DIAS 9,0% % AO MÊS e de ganhos reais do trabalhador (+1,9%). Em outubro, o crescimento da massa salarial voltou a se acelerar, chegando a 2,9% sobre outubro de 2008. Fonte: IBGE. Adaptação: NE&PE/GS&MD alíquotas de IPI. Nesse mês foi registrado o maior número de unidades vendidas em toda a história do setor. Gráfico 6 O varejo de tecidos, vestuários e calçados acumulou recuo de 6,2% em termos reais até setembro. A drenagem de recursos para bens essenciais e de bens duráveis com isenção impostos fizeram as vendas do setor recuarem. As vendas do varejo e o atacado de materiais de construção apresentaram nova queda em setembro, CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO NOV/DEZ 2009 | 79 CMNV08 Perspectivas.indd 79 07/12/09 19:33 perspectivas COMÉRCIO VAREJISTA: CRESCIMENTO ACUMULADO NO ANO VARIAÇÃO PORCENTUAL ACUMULADA SOBRE 11,9% CONSTRUÇÃO -9,5% -6,2% VESTUÁRIO MATERIAL DE -8,2% -0,1% -6,6% -4,3% COMBUSTÍVEL MÓVEIS E ELETRODOMÉSTICOS COMUNICAÇÃO INFORMÁTICA E VAREJO OUTROS PERFUMARIA FÁRMACOS E LIVROS E PAPELARIA HIPER/ SUPER, ALIMENTOS, BEBIDAS E FUMO MOTOS VEÍCULOS E -1,2% 1,5% 3,2% 5,0% 4,7% 6,6% 8,7% 9,7% 9,3% 9,7% 7,7% 18,9% 6,2% 8,1% 11,9% SET 09 X SET 08 JAN–SET 09 X JAN–SET 08 O MESMO PERÍODO DO ANO ANTERIOR CRESCIMENTO ACUMULADO NEGATIVO ABAIXO DA MÉDIA ACIMA DA MÉDIA MUITO ACIMA DA MÉDIA 6 COMÉRCIO VAREJISTA SETORIAL Fonte: IBGE. Adaptação: NE&PE/GS&MD VAREJO – PAÍSES SELECIONADOS 7 % ACUMULADO ATÉ SETEMBRO DE 2009 15,1% Fonte: IBGE. Adaptação: NE&PE/GS&MD deteriorando o resultado do setor no ano (-9,5%). O setor detém a maior queda setorial nesse ano, apesar dos estímulos ao consumo como linhas de financiamento e redução de IPI, que não foram suficientes para estimular essas vendas. 5,8% 4,7% 0,2% 0% -1,4% -1,4% -1,7% -2,1% -2,7% -5,8% ANÁLISE REGIONAL Em 2009, até setembro: ✓ Na região Norte, o Tocantins apresentou crescimento negativo, enquanto Roraima, Rondônia e Amapá cresceram de forma acentuada. ✓ No Nordeste, a Paraíba apresentou recuo nas vendas reais, mas Sergipe, Piauí e Ceará apresentam crescimento muito acima da média. ✓ O Centro-Oeste cresceu abaixo da média, sendo que as vendas no Distrito Federal recuaram. ✓ No Sudeste, São Paulo cresceu acima da média, enquanto o varejo do Espírito Santo recua. ✓ No Sul, todos os Estados têm crescido, com destaque para Santa Catarina, que supera a média nacional. REINO CHINA AUSTRÁLIA BRASIL UNIDO UNIÃO ÁREA DO EUROPEIA EURO CHILE FRANÇA ITÁLIA ALEMANHA -7,8% JAPÃO EUA Nota: Os dados do varejo italiano referem-se ao crescimento até o mês de agosto; os dados chineses contabilizam atacado e varejo; não estão incluídas vendas de automóveis/ motocicletas e materiais de construção. Fonte: IBGE. Adaptação: NE&PE/GS&MD. VAREJO PELO MUNDO O varejo brasileiro continua entre os destaques mundiais, com crescimento de 4,7% até o mês de setembro, em relação à grande parte das grandes potências. Gráfico 7 v Marcelo Waideman é coordenador do NE&PE (Núcleo de Estudos & Projeções Econômicas) da Gouvêa de Souza & MD 80 | NOV/DEZ 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 Perspectivas.indd 80 07/12/09 19:34 ( falando nisso Copa 2014 + Olimpíadas 2016: e o varejo? Por Alberto SerreNtiNo O anúncio da escolha do Rio de Janeiro como sede para os Jogos Olímpicos de 2016 consolidará um ciclo para o Brasil de realização dos dois maiores eventos esportivos globais no intervalo de dois anos. O porte e a complexidade dos acontecimentos farão com que o impacto comece e ser sentido já em 2010, prolongandose por quase sete anos. Muito tem sido dito e escrito sobre o tema e os benefícios para o País. Saindo do lugar comum, pode-se começar a pensar no impacto que esse ciclo terá para o varejo brasileiro. A economia brasileira vive um momento de conjunção positiva de fatores favoráveis ao negócio do varejo. A expansão simultânea de PIB, emprego, renda, massa salarial, crédi- te, deixemos de ser o País do futuro para transformarmo-nos em realidade presente, em condições de iniciar o resgate da enorme dívida social. É possível projetar diversos reflexos positivos dos dois megaeventos esportivos para o varejo. O aumento no fluxo de turismo antes, durante e depois dos eventos criará demanda por serviços e também consumo nas várias cidades envolvidas; a melhoria anunciada na infraestrutura (aeroportos, estradas, portos, transporte coletivo) pode aumentar a eficiência das cadeias de abastecimento e transporte; investimentos em infraestrutura direta e indireta (que também envolve hotéis, estádios e instalações) gerarão emprego, renda, consumo e vendas para o varejo; catego- O varejo brasileiro ficará aquecido e com maior gás para a expansão internacional rias e linhas de produtos sintonizadas com os eventos, ações promocionais com uso da sazonalidade como estímulo a compras por impulso; e finalmente, o crescimento da marca Brasil, que tornará produtos, conceitos e lojas brasileiras mais atraentes, tanto para turistas que virão como para abrir portas para expansão internacional do varejo brasileiro. Se vierem o hexa e medalhas, poderá ficar ainda melhor. O varejo brasileiro deverá movimentar neste ano cerca de R$ 500 bilhões. Cada 1% de aumento de vendas equivale a R$ 5 bilhões de oportunidades para serem apropriadas. É planejar, inovar e colher os frutos que virão.v ( Alberto Serrentino é sócio-sênior e diretor da GS&MD to e confiança, somados à redução nos juros, cria um ambiente positivo para uma vigorosa expansão do varejo a partir de 2010. O crescimento a taxas “chinesas” do varejo brasileiro em 2007 (+9,7%) e em 2008 (+9,2%) foi interrompido por uma desaceleração em 2009, que, apesar do cenário global de crise, marcará crescimento próximo a 4%, mas tem tudo para voltar com mais força no próximo ano. O momento mágico do Brasil extrapola o desempenho econômico. Pré-sal, etanol, agronegócio e as maiores reservas naturais estratégicas no mundo projetam o País e atraem investimentos para os mais diversos setores. Copa do Mundo e Olimpíadas vêm coroar a percepção de que talvez, finalmen- CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO Nov/Dez 2009 | 81 CMNV08 Falando Nisso.indd 81 10/12/09 16:29 ( no ponto O ponto de venda já Por LuciaNa Barreto Agora é a vez de um novo ponto, o ponto de soluções, de encontro, de experiência, de aproximação com a realidade de vida, aliás ainda vendemos para seres humanos. Chega de pensar em apenas vender, esvaziar as prateleiras e desovar o estoque, precisamos começar a pensar mais no “ser” que frequenta a nossa loja e não apenas nos produtos que lá estão. Às vezes parece que o varejo está mais preocupado em ser um distribuidor de produtos do que um gerador de relacionamento. Quem é o seu consumidor e o que ele precisa? Talvez até saibamos quem é ele, já foi traçado um perfil há dez anos e as coisas por aqui continuam iguais, não é? Então ele ainda deve ser o mesmo. Será? As pesquisas do Popai Brasil, por exemplo, mostram comportamentos de compra totalmente diferentes. era seriam “solutos” (produtos + soluções) que foi buscar naquele momento. A propaganda fez o seu papel e o varejo precisa continuar fazendo o dele. Quem já não escutou a frase: a propaganda promete e o pdv entrega? É exatamente isso, precisamos entregar a “promessa” foi isso que a propaganda entregou, seja ele o consumidor final ou não, ambos foram impactados pela mídia e terão que buscar a “promessa” feita em algum lugar, e para nossa felicidade ele irá ao varejo. Roupas mais brancas, boas noites de sono, segurança, conforto e status, onde você quer estar daqui a dez anos? São todas estas promessas que foram entregues pelas marcas por meio dos meios de comunicação, e aqui está o desafio do varejo: entregar o que o consumidor foi buscar. Lembre-se disso, não quebre a pro- Precisamos oferecer e expor melhor os “solutos” (produtos + soluções) 82 | Nov/Dez 2009 CONSUMIDOR MODERNO NOVAREJO CMNV08 No Ponto.indd 82 messa, não deixe mais o consumidor enxergar o produto frio na prateleira, pois produto custa caro, emoção não tem preço... Para todas as outras coisas existe a paixão, se apaixone pelo seu consumidor, entenda o que ele foi buscar e entregue a ele. Mais uma vez, não deixe o sonho acabar na entrada de sua loja. Agindo assim todos teremos resultados positivos e conseguiremos extrair do próprio ponto de venda um resultado das ações feitas in loco. Ao longo do tempo, a mensuração isolada poderá ficar mais eficaz, uma vez que os atributos da emoção e promessa serão facilmente identificados no novo varejo, canal de distribuição de sonhos e entrega de soluções de consumo. v ( Luciana Barreto é diretoraexecutiva do Popai Brasil Em dias da semana numa farmácia vendem-se mais tintas para cabelo depois de quinta feira; as barrinhas de cereais são mais vendidas na parte da tarde e medicamentos para aliviar dores musculares vendem consideravelmente após os finais de semanas – aqui estão os atletas aventureiros. Percebe-se então que esse consumidor não é o mesmo que dez, cinco e um ano atrás, ele muda de acordo com as suas necessidades e demandas, ou seja, ele pode ser vários em horários e dias diferenciados, tudo dependerá da emoção, da ação em movimento que a vida está proporcionando a ele. E é com esse ser humano que estamos falando no varejo, é para ele que precisamos expor e oferecer os “produtos” ou 07/12/09 18:53 AnunciosSimples.indd 12 08/12/09 17:46 AnunciosSimples.indd 9 07/12/09 20:05