Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
As ânforas pré-romanas do tipo Mañá-Pascual A4
do Castelo de Castro Marim.
Volume I
Daniel Alexandre da Silva Santos
Mestrado em Arqueologia
Lisboa, Setembro de 2009
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
As ânforas pré-romanas do tipo
Mañá-Pascual A4
do Castelo de Castro Marim.
Volume I
Daniel Alexandre da Silva Santos
Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentada à Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, sob orientação da Prof. Doutora Ana
Margarida Arruda.
Lisboa, Setembro de 2009
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Resumo
Esta dissertação tem por base o estudo dos contentores anfóricos do tipo MañáPascual A4 exumados nas escavações arqueológicas realizadas no Castelo de Castro
Marim.
Estas ânforas estão associadas ao transporte de preparados piscícolas, sobretudo
de origem gaditana. Embora apenas em modelos mais antigos, foram identificados em
exemplares desta tipologia indícios directos de conteúdo, com ânforas encontradas com
restos de peixe no seu interior.
Desenvolvendo-se os primeiros exemplares destas ânforas a partir dos finais do
século VI a.C., estas vão ganhar maior destaque ao longo da centúria seguinte. A
produção e comercialização desta tipologia anfórica perdurará durante a segunda
metade do 1º milénio a.C., estando presente em contextos do Período Romano
Republicano, até à segunda metade do século I a.C.
Apresentamos uma leitura do faseamento da importação destas ânforas para o
Castelo de Castro Marim e das suas principais áreas de proveniência, assim como dos
possíveis significados da sua importação.
Abstract
This paper objective is the study of the Mañá-Pascual A4 amphorae found in the
Castro Marim’s Castle archeological diggings.
These amphorae are associated with the transportation of fish products, mainly
from the Cádiz Bay area. It was identified in exemplars of this amphora type, although
only in older models, direct proves of content, with amphorae found with remaining
portions of fish in its interior.
Developing the early models of these amphorae from the ends of the 6th century
B.C., they will gain higher significance throughout the following century. This amphora
production and trading will last during the second half of the 1st millennia BC, being
present in Roman Republic levels, until the second half of the 1st century B.C.
We present a reading on the phases of the importation of these amphorae to
Castro Marim and of its main areas of origin, as well as the possible meanings of its
importation.
Palavras-chave: Ânforas, Mañá-Pascual A4, Preparados Piscícolas, Castro Marim,
Algarve, Idade do Ferro, Período Romano Republicano.
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
ÍNDICE
VOLUME I
AGRADECIMENTOS ....................................................................................................... p. 6
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ p. 7
1.
O CASTELO DE CASTRO MARIM E A COSTA ALGARVIA.
1.1 A costa algarvia na Idade do Ferro .................................................................... p. 9
1.2 O Castelo de Castro Marim.
1.2.1 Enquadramento geográfico e histórico ..................................................... p. 11
1.2.2 Trabalhos arqueológicos realizados e principais resultados ...................... p.13
2.
AS ÂNFORAS E O ESTUDO DA ECONOMIA ANTIGA................................................p. 18
3.
OS CONTEXTOS DE CASTRO MARIM.
3.1 Os contextos..................................................................................................... p. 19
3.1.1 Campanhas antigas ................................................................................... p. 19
3.1.2 Campanhas recentes.................................................................................. p. 21
3.2 Análise dos contextos ...................................................................................... p. 21
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Daniel Santos
4.
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
METODOLOGIA.
4.1 Composição e tratamento da amostra .............................................................. p. 24
4.2 Tratamento informático e análise estatística.................................................... p. 25
4.3 Identificação dos grupos de fabrico ................................................................. p. 25
5.
GRUPOS DE FABRICO.
5.1 Caracterização dos grupos de fabrico .............................................................. p. 27
5.1.1 Grupo I ...................................................................................................... p. 27
5.1.2 Grupo II .................................................................................................... p. 28
5.1.3 Grupo III ................................................................................................... p. 29
5.1.4 Grupo IV ................................................................................................... p. 30
5.1.5 Fabrico Raro 1 .......................................................................................... p. 31
5.1.6 Fabrico Raro 2 .......................................................................................... p. 31
5.1.7 Fabrico Raro 3 .......................................................................................... p. 32
5.2 Análise dos grupos de fabrico identificados .................................................... p. 32
6.
AS ÂNFORAS MAÑÁ-PASCUAL A4.
6.1 História da forma ............................................................................................. p. 36
6.2 Origem e evolução da forma............................................................................ p. 38
6.3 Centros produtores e distribuição dos achados ................................................ p. 41
7.
AS ÂNFORAS MAÑÁ-PASCUAL A4 DE CASTO MARIM.
7.1 Composição do conjunto de Castro Marim ..................................................... p. 45
7.1.1 Variante 11.2.1.2....................................................................................... p. 46
7.1.2 Variante 11.2.1.3....................................................................................... p. 46
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As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
7.1.3 Variante 11.2.1.4....................................................................................... p. 47
7.1.4 Variante 11.2.1.5....................................................................................... p. 48
7.1.5 Variante11.2.1.6........................................................................................ p. 49
7.1.6 Variante 12.1.1.1....................................................................................... p. 49
7.1.7 Variante 12.1.1.1/2 ................................................................................... p. 50
7.1.8 Variante 12.1.1.2....................................................................................... p. 51
7.2 Análise do conjunto de Castro Marim ............................................................. p. 51
8.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
8.1 As ânforas Mañá-Pascual A4 em Castro Marim: Leituras e significados ....... p. 54
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ p. 63
VOLUME II
ANEXOS
1. Plantas e Cortes ........................................................................................................ p.87
2. Estampas ................................................................................................................. p. 93
3. Fotografias ............................................................................................................. p.106
4. Tabela de contextos .............................................................................................. p. 108
5. Catalogo ................................................................................................................ p. 111
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As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
AGRADECIMENTOS
Antes de mais, gostaríamos de começar por expressar os nossos agradecimentos
a todos os que, de alguma forma, contribuíram para a concepção e desenvolvimento
deste trabalho.
Em primeiro lugar gostaríamos de agradecer à orientadora desta dissertação, a
Professora Doutora Ana Margarida Arruda, por ter disponibilizado o material estudado
e por todo o apoio, orientação e disponibilidade sempre prestados.
Á Dr.ª Patrícia Bargão e à Dr.ª Elisa de Sousa, por todo o auxílio, sugestões e
comentários, para alem constante disponibilidade.
Ao Filipe Fernandes, pelos comentários e discussões, que em muito
contribuíram para melhorar este trabalho.
Á Inês, por todo o apoio, paciência e ajuda, que com os seus comentários e
sugestões em muito contribuiu para melhorar este trabalho.
Por fim, mas não sem a mesma importância, a todos os amigos e familiares por
todo o incentivo e apoio sempre demonstrado, determinante no decorrer da elaboração
deste trabalho.
A todos um profundo agradecimento.
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve por base o interesse despertado pelo estudo de
contentores anfóricos da Idade do Ferro e Período Romano, desenvolvido ao longo de
vários trabalhos realizados no decurso da licenciatura.
A base desta dissertação é o conjunto das ânforas pré-romanas do tipo MañáPascual A4 exumadas nas escavações do Castelo de Castro Marim, tendo o material
sido disponibilizado estudo pela Professora Doutora Ana Margarida Arruda.
Trata-se de um conjunto relativamente numeroso, com 137 indivíduos, tendo
sido apenas parcialmente apresentado em diferentes estudos. Neste conjunto podemos
identificar diferentes variantes desta família anfórica, assim como fabricos de diferentes
proveniências.
Para além de interesses pessoais para a escolha do conjunto em análise, o facto
de o estudo de contentores anfóricos constituir uma fonte privilegiada e determinante
para o conhecimento das economias antigas também influenciou a decisão. Dada a
importância das ânforas no transporte, essencialmente, a media e longa de distância de
produtos alimentares, sólidos ou líquidos, através delas podemos aferir as relações
comerciais desenvolvidas e reconstruir ritmos de importação e/ou exportação.
Assim, com este estudo pretendemos analisar as presenças de ânforas desta
tipologia em Castro Marim, observando, também, os ritmos de importação destes
contentores para o sítio algarvio, assim como as principais áreas abastecedoras e a sua
evolução ao longo do período de utilização destas ânforas.
Por se tratar de ânforas de conteúdo piscícola, o seu estudo relaciona-se, assim,
com a importação e consumo de preparados piscícolas. Desta forma, podemos observar
a evolução da importação, e consequente consumo, deste produto alimentar através da
presença de exemplares destas ânforas. Já o estudo dos fabricos dos contentores
anfóricos pode indicar a área de proveniência do produto transportado.
Relativamente á organização deste trabalho, decidimos dividi-lo em dois
volumes. O primeiro corresponde à parte escrita e é composto por oito capítulos, e
respectivos subcapítulos. No segundo volume são apresentados cinco capítulos de
anexos.
O primeiro capítulo é introdutório e reporta-se ao espaço e tempo observados.
Assim, este encontra-se divido por subcapítulos onde se observam as principais
ocupações da Idade do Ferro no actual território algarvio, e se faz referência ao
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
enquadramento geográfico e histórico do sítio arqueológico do Castelo de Castro
Marim, dando-se a conhecer as características e evoluções da sua implantação,
seguindo-se uma breve descrição dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos no sítio e
os seus principais resultados.
De seguida apresentamos um segundo capítulo onde abordamos, de forma
sucinta, a importância dos contentores anfóricos para o estudo da economia antiga.
No terceiro capítulo apresentamos uma análise dos principais contextos de
proveniência dos materiais, organizando-os por etapas de escavação, isto é, a primeira
etapa de escavações durante os anos 80 do século XX, e a segunda etapa entre 2000 e
2003.
O quarto capítulo corresponde à exposição das questões metodológicas que estão
na base da elaboração deste trabalho, compondo-se o quinto capítulo com a
identificação e caracterização dos diferentes Grupos de Fabrico, e sua consequente
análise.
De seguida, os capítulos seis e sete são referentes a tipologia dos materiais
estudados. O sexto capítulo refere-se a questões gerais relacionadas com a tipologia,
como a história e evolução da forma, ou dispersão de achados e centros produtores
conhecidos. Já o sétimo capítulo está relacionado com a análise dos materiais de Castro
Marim enquadráveis nesta tipologia, tendo sido agrupados segundo as variantes
identificadas.
Por fim, no oitavo capítulo apresentamos uma visão geral sobre os dados
recolhidos, assim como as principais leituras e conclusões que se podem tirar da análise
deste conjunto, seguindo-se da apresentação da recolha bibliográfica realizada.
Num segundo volume optámos por incluir cinco capítulos anexos de informação
complementar aos dados apresentados. Nos três primeiros anexos apresentamos um
conjunto de imagens, fotografias e desenhos, que permitem ilustrar a realidade
documentada.
No quarto anexo apresentamos uma tabela que sintetiza os dados dos contextos
de proveniência dos materiais estudados, sendo o quinto anexo o catálogo desses
mesmos materiais.
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
1. – O CASTELO DE CASTRO MARIM E A COSTA ALGARVIA.
1.1 – A costa algarvia na Idade do Ferro.
Os últimos anos têm contribuído largamente para o conhecimento da ocupação
da costa algarvia durante a Idade do Ferro (Figura 1). Destes trabalhos são de destacar
escavações como, a do Cerro da Rocha Branca nos anos 80, em Castro Marim, nos anos
80 e inícios do século XXI, ou, mais recentemente, em sítios como Tavira, Faro ou
Monte Molião.
A região algarvia regista dois momentos de desenvolvimento na Idade do Ferro.
Em primeiro lugar desenvolvem-se, no Algarve Oriental, os núcleos urbanos de Castro
Marim e de Tavira, identificados, respectivamente, com a Baesuris e Balsa das fontes
Figura 1 – Principais pontos de povoamento do Algarve durante a Idade do Ferro
(adaptado de Arruda, 2007b).
clássicas, cujas ocupações que se terão desenvolvido entre finais do século VIII e inícios
do VII a. C., a partir de povoados com ocupação desde o Bronze Final. Ambos os sítios
se situam em pequenas elevações com um bom domínio visual da área envolvente e
próximo de linhas de água navegáveis. No caso de Castro Marim, sítio localizado junto
á foz de um grande rio, o rio Guadiana. Trata-se de uma área activamente ligada ao
comércio e interacção com o Mundo Mediterrâneo, em especial com as populações
orientais instaladas na região da actual Andaluzia, visível pelo vário espólio recolhido
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As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
ou pelas características de implantação e organização dos espaços (Arruda, 1997, 2005a,
2007a, 2007b).
Num segundo momento, em torno ao século V a. C., assistimos a alterações
significativas nos povoados algarvios, com uma significativa mudança na estrutura dos
aglomerados, sendo visível, como em Castro Marim, uma nova organização do espaço
ocupado. Os espólios cerâmicos revelam uma profunda ligação com a região gaditana,
com o incremento das importações de produtos manufacturados e alimentares envasados
em ânforas (ibidem). Dos artefactos cerâmicos recolhidos são de destacar, para além da
cerâmica ática, a cerâmica de tipo Kuass, ânforas do tipo Mañá-Pascual A4, Tiñosa ou
B/C, cerâmicas pintadas em bandas ou com engobe vermelho, entre outros.
É, também, neste momento que se desenvolvem novos núcleos urbanos ao longo
do restante litoral algarvio. Verifica-se em torno ao século IV a. C. a fundação de novos
sítios costeiros, na sua maioria também sobranceiros a cursos de água, cuja ligação ao
mundo gaditano está bem documentada, sobretudo pelo acervo cerâmico recolhido, com
a presença de cerâmicas áticas e de tipo Kuass, ou a importação de produtos alimentares
envasados em ânforas, como o azeite transportado em ânforas do tipo Tiñosa, ou os
preparados piscícolas comercializados em ânforas Mañá-Pascual A4. Assim,
caminhando para ocidente, regista-se a fundação de Ossonoba, em Faro, Cilpes, no
Cerro da Rocha Branca, Ipses, na Vila Velha de Alvor, e Laccobriga, no Monte Molião.
Á excepção de Faro, todos os sítios se implantam em pequenas elevações com amplo
domínio visual e próximos de cursos de água, possivelmente navegáveis durante a
antiguidade. No caso de Ossonoba, esta localiza-se numa pequena colina inserida num
ambiente lagunar, que durante a antiguidade poderá ter sido uma ilha dotada de bons
portos e ancoradouros. Todos estes núcleos urbanos não registam ocupações anteriores
ao século IV a.C., constituindo o século III a.C. o momento de maior esplendor e auge
destes sítios com numerosas importação, na sua maioria provenientes da área do
Estreito (ibidem; Arruda, et al. 2008).
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As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
1.2 – O Castelo de Castro Marim.
1.2.1 – Enquadramento geográfico e histórico.
O Castelo de Castro Marim localiza-se no distrito de Faro, concelho e freguesia
de Castro Marim. O sítio está implantado no cimo de uma colina com cerca de 42 m de
altura e uma forma de tendência circular, localizada na margem direita do rio Guadiana,
próximo da sua foz (Figura 2 e 3). Segundo a folha 600 da Carta Militar de Portugal
(1:2500), a sua longitude é de 7º 26’ 30” e a latitude é de 37º 12’ 50”.
Geologicamente, o sítio implanta-se numa área de depósitos quaternários, entre
xistos do maciço antigo a norte e calcários lacustres do Oligoceno e rochas eruptivas da
orla a ocidente. Actualmente, o local encontra-se rodeado por terra seca, sobretudo solos
do tipo E, e alguns sapais, encontrando-se o rio já a alguma distância do sítio. Contudo,
é inegável o profundo assoreamento sofrido pelo rio Guadiana, assim como as marcadas
Figura 2 – Castro Marim no actual território português.
Figura 3 – Castro Marim na Carta Militar de Portugal, 1:25
000, Folha 600.
Figura 3
Figura 2
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As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
alterações da linha de costa. Desta situação são reveladoras gravuras de Duarte de
Armas, do século XVI, onde se pode observar como os barcos, aparentemente de grande
tonelagem, ainda chegavam próximo das muralhas do Castelo, ou, ainda no mesmo
século, descrições de 1577, do Frei João de S. José, que caracteriza a área do Castelo de
Castro Marim como uma pequena península, ligada a terra por um estreito istmo a oeste.
Podemos supor que a colina onde se implantou o Castelo de Castro Marim pudesse ter
sido, na Antiguidade, uma ilha no leito do rio Guadiana. Desta forma, as características
geográficas e topográficas dotam a implantação, um ponto bem destacado na paisagem,
de boas condições naturais de defesa e de um amplo domínio visual, que engloba a foz
do Guadiana e boa parte da área costeira, atribuindo-lhe um elevado potencial
estratégico no controlo da navegação e do comércio neste rio. (Arruda, 1997a, p. 109;
1997b, p. 244-245; 1999/2000, p. 36-37; Freitas, 2005, p. 9; Oliveira, 2006, p. 23-24).
O Castelo medieval de Castro Marim foi mandado edificar no decorrer da I
Dinastia, por D. Afonso III ou por D. Dinis, na sequência das guerras da Reconquista
Cristã. Dado o reconhecimento da importância estratégica e militar da região, D. João
IV procedeu à sua reconstrução, dificultando a preservação de elementos do original
castelo medieval e da sua área envolvente.
Castro Marim é conhecido desde os finais do século XIX (1887), pelos trabalhos
de Estácio da Veiga, como um sítio de grande interesse arqueológico, não se tendo, no
entanto, verificado contudo qualquer escavação arqueológica no local. Nos inícios do
século XX (1917), José Leite de Vasconcellos propôs a identificação do sítio com a
Baesuris referida no Itinerário de Antonino, tendo por base moedas por si encontradas
no local com a legenda de Baesuri. Desde há muito que investigadores tentavam
identificar Baesuris. André de Resende, no século XVI, propõe a sua identificação com
Jerez de Badajoz ou Los Caballeros, enquanto no século XVIII, Frei Vicente Salgado e
o Padre Flores localizavam-na em Aiamonte. Nas escavações dos anos 80 do século XX
em Castro Marim foi recolhida uma moeda com a inscrição BAE, proveniente de um
nível tardo-republicano. Este achado veio confirmar a proposta apresentada por José
Leite de Vasconcellos em 1917 e associar definitivamente o topónimo pré-romano com
o sítio algarvio (Arruda, 1997a, p. 111; 1999/2000, p. 37; Freitas, 2005, p. 9).
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
1.2.2 – Trabalhos arqueológicos realizados e principais resultados.
No sítio arqueológico do Castelo de Castro Marim realizaram-se um total de 10
campanhas de escavação, todas dirigidas pela Doutora Ana Margarida Arruda. Os
trabalhos, que decorreram entre os anos de 1983 e 2003, com interrupção entre 1989 e
1999, permitiram a abertura de uma ampla área com cerca de 500 m2. Achados de
superfície faziam esperar uma diacronia de ocupação entre a Idade do Bronze e a Época
Moderna, dados que foram comprovados com o decorrer das escavações, tendo-se
registado uma intensa ocupação durante a Idade do Ferro e Período Romano (Arruda,
1999/2000, p. 37; 2007a, p. 116; 2007b, p. 118-119).
As primeiras seis campanhas de escavação, que decorreram entre 1983 e 1988,
enquadraram-se no programa de investigação do então Centro de Arqueologia e
História, actual UNIARQ, “O povoamento do Baixo Guadiana das origens à Idade
Média”, sob orientação do Professor Doutor Victor Gonçalves. Neste contexto,
iniciaram-se os trabalhos de escavação em Castro Marim (Arruda, 1997a,). Nesta
primeira etapa a escavação desenvolveu-se segundo a metodologia de quadrículas
preconizada por Mortimer Wheeler, com as actualizações propostas por Ferdière. Estes
trabalhos tiveram como principal objectivo verificar a diacronia de ocupação do sítio,
posicionando estratigraficamente os dados recolhidos à superfície e aferir o estado de
conservação dos diferentes vestígios arqueológicos. Nestas campanhas foram abertas no
interior do actual recinto amuralhado, em diferentes momentos, quatro áreas de
escavação, o Corte 1, Corte 2, Corte 3 e Corte 4 (Figura 4), sendo posteriormente
marcados quadrados de 4x4 m, dos quais eram escavados apenas 3x3 m. Esta quadricula
utilizada no Castelo de Castro Marim seguiu uma orientação Noroeste/Sudoeste, sendo
a coordenada X a alfabética, e a coordenada Y a numérica.
Durante as campanhas de 1983 a 1986 foi aberto o Corte 1, localizado entre o
troço Este da muralha joanina e a fortificação afonsina, resultando na abertura de 14
quadrados, cuja escavação integral não foi possível devido ao bom estado de
conservação das estruturas identificadas do Período Romano e de Época Sidérica. Estes
quadrados encontravam-se, também, diferentemente conservados em função do impacto
das construções de Época Moderna.
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Figura 4 – Planta topográfica do Castelo de Castro Marim, com indicação das áreas escavadas
(adaptado de Arruda et al., 2006).
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As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
O Corte 2 é composto apenas por um quadrado, o A1, situado no interior da fortaleza
afonsina, escavado durante a campanha de 1987. Este quadrado situa-se no ponto mais
alto do cerro do castelo e, á semelhança do que aconteceu no Corte 1, não foi possível
prosseguir com os trabalhos em profundidade dado o bom estado de conservação e
sobreposição das estruturas encontradas.
Também durante a campanha de 1987 foi iniciada a escavação do Corte 3. Este
corte, composto por 12 quadrados, situa-se num espaço exterior da fortificação afonsina,
junto á porta Sul. Nesta área registaram-se importantes dados sobre a ocupação de
Época Romana, mais concretamente, do Período Republicano.
Por fim, o Corte 4, implantado na zona Sudeste do castelo, entre o paiol e a
muralha, foi escavado durante a campanha de 1988. Este é composto por quatro
quadrados, dos quais apenas no E10 foi concluída a escavação, tendo-se registado, sob
níveis de entulho de Época Moderna, níveis de ocupação do Período Romano e da Idade
do Ferro.
O segundo momento de intervenções realizadas no sítio entre 2000 e 2003 foi
desenvolvido ao abrigo de dois projectos de investigação. Entre 2000 e 2001 os
trabalhados inseriram-se no projecto MARCAS – “Castro Marim e o seu território
imediato durante a Antiguidade”, solicitados pela Câmara de Castro Marim e pela
delegação de Faro do IPPAR, no sentido de desenvolver acções de valorização da área
do Castelo. As campanhas de 2002 e 2003 desenvolveram-se no contexto do projecto
MARCAS-ERVA – “Castelo de Castro Marim: Estudo, recuperação e valorização do
património arqueológico”, promovidas pela CCR Algarve e pela Câmara Municipal de
Castro Marim. Estas novas escavações adoptaram o método de escavação e registo
proposto por Barker e Harris, optando-se por uma escavação em open área de maneira a
melhor se compreender a complexa estratigrafia e arquitectura do sítio. Estes trabalhos
prolongaram para Este e Sudeste o Corte 1, passando a designar-se de Sector 1.
A escavação do Sector 1, cujo processo se caracteriza pela remoção das camadas
naturais pela ordem inversa à sua deposição, permitiu a abertura de uma ampla área, que
se encontrava artificialmente dividida em dois por um muro de uma construção de
Época Moderna, cujas fundações cortaram na totalidade a sequência estratigráfica,
correspondendo a uma área interior e uma exterior da referida construção. A ampla área
escavada, associada á longa diacronia verificada, permitiu uma leitura horizontal dos
diferentes momentos registados, contribuindo para a elaboração de um faseamento das
diferentes etapas construtivas do sítio (Arruda, Freitas e Oliveira, 2007). Apesar das
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
perturbações de construções mais recentes, foi possível escavar no sítio diversas
unidades referentes às ocupações antigas do Castelo, mais concretamente, de Época
Romana e da Idade do Ferro.
Assim, os dados recolhidos permitem localizar o início da ocupação do cerro do
castelo no final da Idade do Bronze, parcamente representada. Os únicos vestígios
identificados limitam-se a duas fossas escavadas na rocha onde foram encontrados
materiais característicos deste período, como taças abertas e carenadas e vasos fechados
de carena alta em cerâmica manual (Arruda, 1997a, p. 113; 1999/2000, p. 40).
A ocupação humana da primeira metade do I milénio a.C., mais concretamente
do século VII a.C. (I Idade do Ferro), tornou-se desde cedo bastante evidente, sendo,
neste período, perceptível a introdução de um conjunto de novos materiais. Apesar de se
continuar a verificar a presença de cerâmica manual, surgem agora novas formas
importadas produzidas a torno, como a cerâmica de engobe vermelho ou a cerâmica
cinzenta fina polida. Associado a estas encontramos as importações alimentares
envasadas em contentores anfóricos. Estas novidades revelam uma profunda ligação de
Castro Marim com realidades mediterrânicas, sobretudo com as populações instaladas
na região gaditana. Regista-se neste período a construção de um conjunto de habitações
de planta rectangular, para além de uma espessa muralha que defendia o sítio. Assim, é
possível admitir a existência de contactos desde, pelo menos, o século VIII a.C., com
populações mediterrânicas que se encontravam na região gaditana, estando o Castelo de
Castro Marim situado numa área periférica do Reino de Tartesso (Arruda, 1997a, p.
113-114; 1999/2000, p. 40-41; Arruda, Freitas e Oliveira, 2007, p. 467-471).
A segunda metade do I milénio (II Idade do Ferro) é marcada por uma
renovação da malha urbana do sítio, com a construção de novos edifícios com
orientações distintas das ocupações anteriores. Parte destas novas construções mantémse em utilização até ao século III a.C., apenas com ligeiras modificações. Na II Idade do
Ferro os laços com a região do Estreito de Gibraltar intensificam-se, em especial com a
área gaditana. Neste momento assistimos ao intensificar dos contactos comerciais, com
a importação de objectos cerâmicos, como a cerâmica grega ou a cerâmica de tipo
Kuass (Sousa, 2005), e produtos alimentares transportados em ânforas, como o azeite
envasado em ânforas do tipo Tiñosa (Carretero Poblete, 2003/2004) ou as ânforas do
tipo Mañá-Pascual A4, que constituem o objecto deste estudo, que transportavam
preparados piscícolas. Este período florescente vai durar até ao século III a.C., momento
em que o povoado entra em crise. A realidade sidérica da II Idade do Ferro de Castro
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Marim apresenta grandes semelhanças com os sítios da Andaluzia ocidental, estando o
sítio inserido no vasto território que seria a Turdetânia, assim como, possivelmente, o
restante território da actual região algarvia (Arruda, 1997a, p. 114-115; 1999/2000, p.
42-43; Arruda, Freitas e Oliveira, 2007, p. 471-473).
Após um período de relativa estagnação entre o século III e o I a.C., o sítio volta
a registar uma intensa ocupação durante a Época Romana, sendo significativos os
registos de meados do século I a.C., mais concretamente entre 50 e 30 a.C. O espólio
recolhido é composto por um conjunto significativo de material importado, como
cerâmica campaniense, cerâmicas de paredes finas e várias tipologias de ânforas,
estando ainda presentes as ânforas de tradição “ibero-púnica”. De destacar a
importância que o sítio assume neste período, tornando-se em Época Republicana centro
emissor de moeda, o que permitiu justificar a sua associação com a Baesuris, como
atrás foi referido (Arruda, 1997a, p. 115-116; 1999/2000, p. 43; Arruda et al., 2006, p.
154).
Durante o Período Imperial continua a verificar-se as importações itálicas, norte
africanas, ibéricas e sud-gálicas, com a presença de ânforas e diversas cerâmicas finas.
Neste período regista-se também uma reestruturação do espaço, com a construção de
novas estruturas habitacionais e o alargamento da muralha. Contudo a partir dos finais
do século I d.C. verifica-se uma nova retracção, estando possivelmente relacionado com
a crescente importância da cidade de Balsa (Arruda 1997a, p. 116; 1999/2000, p. 43;
Arruda et al., 2006, p. 154).
É possível, assim, verificar a longa diacronia de ocupação do sítio, desde o final
da Idade do Bronze até ao século XVIII da nossa era, registando-se diferentes ritmos de
ocupação e desenvolvimento, distribuídos por sete fases de ocupação. A Fase I
corresponde ao final da Idade do Bronze, as Fases II a V correspondem às diversas
ocupações do sítio durante a Idade do Ferro, a Fase VI corresponde ao período da
ocupação romana do Castelo de Castro Marim e a Fase VII corresponde à ocupação de
Época Moderna do sito. Neste sentido, são de destacar as ocupações da segunda metade
do I milénio a.C., mais concretamente, entre o século V e III a.C., com as presenças da
II Idade do Ferro, assim como as ocupações romanas de Época Republicana e Alto
Imperial entre os meados do século I a.C. e os inícios de I d.C.
17
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
2. – AS ÂNFORAS E O ESTUDO DA ECONOMIA ANTIGA.
As ânforas constituem um dos elementos mais importantes para o estudo da
economia do mundo antigo. Este importante papel está relacionado com o facto de estas
constituirem uma fonte privilegiada para o conhecimento das relações e ritmos
comerciais, uma vez que estes contentores eram destinados ao transporte de diversos
produtos alimentares em larga escala. Desta forma, o estudo das ânforas permite, em
certa medida, reconstruir os ritmos de importação e/ou exportação de determinados
produtos alimentares a uma escala, por vezes, mediterrânica.
Os primeiros grandes estudos de ânforas incidiram sobre materiais do Período
Romano, dado o grande interesse que se verificava sobre a arqueologia clássica. Destes
são de destacar os importantes trabalhos de Dressel nos finais do século XIX (Pimenta,
2005, p. 26). Sobre materiais da Idade do Ferro verificam-se as primeiras tentativas de
catalogação nos inícios do século XX, embora com critérios pouco rigorosos. É nos
meados do mesmo século que se verificam o inicio de grandes e importantes trabalhos
relacionados com ânforas púnicas, como o trabalho de Cintas, de 1950, que embora se
debruce sobre a cerâmica púnica em geral, inclui uma parte onde se refere aos
contentores anfóricos. Um ano mais tarde, em 1951, Mañá dá a conhecer o seu
importante, embora breve, trabalho sobre ânforas púnicas, centrando-se nos materiais
frequentemente encontrados em Espanha (Mañá, 1951; Ramon Torres, 1995, p. 149150).
O desenvolvimento das investigações arqueológicas e a crescente importância da
arqueologia subaquática conduziu ao aumento da quantidade e qualidade de informação
disponível, o que contribuiu para a expansão de estudos, de maior ou menor dimensão,
sobre este tipo de artefacto arqueológico. Assim, as ânforas surgem como um dos
factores de maior relevância no estudo da economia do mundo antigo, permitindo
observar, na grande maioria dos casos, os produtos comercializados, a intensidade dos
contactos comerciais e a distribuição desses mesmos contactos, essencialmente, pela
bacia do Mediterrâneo.
18
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
3. – OS CONTEXTOS DE CASTRO MARIM.
3.1 – Os contextos.
Em Castro Marim, os contextos de proveniência dos materiais estudados são, na
sua maioria, níveis revolvidos resultantes de aterros e derrubes, apresentando a
estratigrafia do sítio um reduzido número de contextos fiáveis Esta situação deve estar
relacionada com as intensas alterações dos espaços registadas durante a Época Medieval
e Moderna, bem como com a longa diacronia de ocupação registada no sítio, com inicio
no final da Idade do Bronze e especial intensidade durante a Idade do Ferro e o Período
Romano Republicano. Esta intensa ocupação, bem documentada pelo abundante espólio
arqueológico, é marcada por construções e momentos de reestruturação dos espaços
ocupados, o que contribuiu para a perturbação e destruição de níveis arqueológicos
anteriores. Também as construções de Época Medieval e Moderna contribuíram
decisivamente para o revolvimento dos contextos arqueológicos anteriores, com
frequentes destruições e intrusões em níveis inferiores.
Assim, de entre os contextos analisados foi-nos possível identificar sete
contextos fiáveis distribuídos pelas diferentes áreas da escavação. Destes, seis foram
identificados durante as primeiras campanhas de escavação, entre 1983 e 1988, e apenas
um foi identificado durante as campanhas recentes, que decorreram entre 2000 e 2003.
3.1.1 – Campanhas antigas.
Das campanhas antigas, realizadas entre 1983 e 1988, pudemos identificar seis
contextos seguros de proveniência dos materiais estudados, todos do Corte 3, balizados,
genericamente, entre os finais século V e o I a.C., que corresponde ao período em
estudo.
Do quadrado B5, o nível 1 corresponde a um estrato de terra acastanhada com
grande quantidade de fragmentos cerâmicos, como cerâmica campaniense, paredes
finas, ânforas, entre outros, do Período Romano Republicano. Deste contexto são
provenientes dois exemplares da variante 11.2.1.3, um exemplar da variante 11.2.1.4,
um exemplar da variante 11.2.1.6, 16 exemplares da variante 12.1.1.1 e um exemplar da
variante 12.1.1.2. As variantes 11.2.1.3, 11.2.1.4 e 11.2.1.6 podem ser consideradas
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
como material intrusivo neste contexto pois não se enquadram no seu horizonte
cronológico.
Do quadrado C5, o nível 1 corresponde a um estrato de terra acastanhada com
grande quantidade de materiais cerâmicos, como cerâmica campaniense, paredes finas,
ânforas, entre outros, e abundante fauna malacológica e mamalógica, do Período
Romano Republicano. Deste contexto são provenientes um exemplar da variante
11.2.1.3, três exemplares da variante 11.2.1.4, dois exemplares da variante 11.2.1.6, 22
exemplares da variante 12.1.1.1 e três exemplares da variante 12.1.1.2. As variantes
11.2.1.3, 11.2.1.4 e 11.2.1.6 podem ser consideradas como material intrusivo neste
contexto pois não se enquadram no seu horizonte cronológico.
Do quadrado C6, nível 1 do corresponde a um estrato de terras que, devido às
chuvas, não foi possível caracterizar, com abundantes fragmentos cerâmicos, como
cerâmica campaniense, paredes finas, ânforas, entre outros, do Período Romano
Republicano. Deste contexto são provenientes um exemplar da variante 11.2.1.6, seis
exemplares da variante 12.1.1.1, um exemplar da variante 12.1.1.1/2 e um exemplar da
variante 12.1.1.2. A variante 11.2.1.6 pode ser considerada como material intrusivo
neste contexto pois não se enquadra no seu horizonte cronológico.
Ainda do quadrado C6, o nível 2 corresponde a um estrato de terra amarelada e
arenosa com abundantes fragmentos cerâmicos, como cerâmica campaniense, paredes
finas e ânforas, do Período Romano Republicano. Deste contexto são provenientes um
exemplar da variante 11.2.1.3, cinco exemplares da variante 12.1.1.1 e um exemplar da
variante 12.1.1.1/2. A variante 11.2.1.3 pode ser considerada como material intrusivo
neste contexto pois não se enquadra no seu horizonte cronológico.
Do quadrado D5, o nível 3 corresponde a um estrato de terra queimada e com
muitas cinzas, localizada no vértice das banquetes Sul e Oeste, cujo escasso espólio é
composto por cerâmica manual, cerâmica comum, cerâmica pintada em bandas e
ânforas, da Idade do Ferro. Deste contexto é proveniente, apenas, um exemplar da
variante 11.2.1.3.
E, por fim, do quadrado D6, o nível 1 corresponde a um estrato de terra
avermelhada, semelhante às suas equivalentes nos quadrados B 6 e C 6, com abundantes
fragmentos cerâmicos, como cerâmica campaniense, paredes finas, ânforas, entre
outros, do Período Romano Republicano. Deste contexto são provenientes dois
exemplares da variante 12.1.1.1.
20
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
3.1.2 – Campanhas recentes.
Das campanhas recentes, decorridas entre 2000 e 2003, apenas identificamos um
contexto seguro de proveniência dos materiais estudados, composto por duas unidades
equivalentes, datado da segunda metade do século V a.C.
As U.E. [80] e [89], iguais à U.E. [78], constituem um depósito cerâmico com
abundante material, como cerâmica ática, cerâmica de engobe vermelho, cerâmica
pintada em bandas, ânforas, entre outros, da Idade do Ferro. Destas U.E. são
provenientes 12 exemplares da variante 11.2.1.3, sete exemplares da variante 11.2.1.4,
três exemplares da variante 11.2.1.5 e três exemplares da variante 11.2.1.6.
3.2 – Análise dos contextos.
As 10 campanhas de escavação realizadas no Castelo de Castro Marim, entre
1983 e 2003, permitiram a abertura de uma ampla área, com cerca de 500m2, repartida
por quatro áreas de escavação, o Corte 1, o Corte 2, o Corte 3 e o Corte 4, consistindo o
Sector 1 na continuação e alargamento do Corte 1.
Os materiais estudados no presente trabalho tem origem em apenas duas das
áreas de escavação, o Corte e Sector
1 e o Corte 3, sendo os contextos
maioritariamente oriundos do Corte
e Sector 1.
Dos
proveniência
contextos
dos
de
materiais
estudados, do Corte e Sector 1 são
oriundos a quase totalidade dos
níveis da Idade do Ferro, sendo nesta
área que se verificam os exemplares
mais antigos das ânforas MañáPascual A4 em Castro Marim. Nesta
Figura 5 – Distribuição dos contextos pelas áreas de
escavação.
área estão presentes exemplares de todas as variantes identificadas, das quais se
destacam os exemplares das variantes 11.2.1.3 e 11.2.1.4, com, respectivamente, 21 e
15 indivíduos. No Sector 1 possui especial destaque a U.E. [89] por se tratar de uma
unidade com abundante material, assim como por ser um contexto fiável, datado da
21
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
segunda metade do século V a.C. Deste contexto são provenientes 24 indivíduos, todos
das variantes mais antigas, isto é, das variantes 11.2.1.3, 11.2.1.4, 11.2.1.5 e 11.2.1.6,
das quais se destaca a primeira, com 11 exemplares.
Do Corte 3 provêem a maioria dos níveis do Período Romano identificados,
correspondendo aos últimos momentos de importação de ânforas Mañá-Pascual A4 em
Castro Marim. Nesta área estão presentes quase todas as variantes identificadas,
excepção feita à 11.2.1.2. De entre estas destaca-se a variante 12.1.1.1, com 54
exemplares. Esta é também a forma mais frequente em todo o conjunto, representando
41% do total. Nesta área são de destacar os níveis 1 dos quadrados B5 e C5, pois tratase de contextos fiáveis e com grande abundância de materiais, do Período Romano
Republicano, com cronologia do século I a.C. Do nível 1 do quadrado B5 são
provenientes 21 indivíduos, dos quais se destacam os 16 exemplares da variante
12.1.1.1. do nível 1 do quadrado C5 são provenientes 31 indivíduos, destacando-se
também a variante 12.1.1.1 com 22 exemplares. Em ambos os contextos estão presentes
exemplares das variantes 11.2.1.3, 11.2.14 e 11.2.1.6, que podem ser considerados
como material residual ou intrusivo.
Em termos gerais, predominam os contextos do Período Romano, que compõem
63 % dos níveis identificados, sendo estes, maioritariamente oriundos do Corte 3.
Associados a estes contextos estão a quase totalidade dos exemplares enquadráveis na
série 12, com especial destaque para a variante 12.1.1.1, com um total de 57 indivíduos.
Embora a maioria dos contextos seja da área do Corte e Sector 1, donde provêem a
quase totalidade dos níveis da Idade do Ferro, o Corte 3 é área que apresenta um maior
número de exemplares dos materiais estudados, representando 61 % do total.
Na estratigrafia do Castelo de Castro Marim as ânforas Mañá-Pascual A4
começam a surgir, ainda que timidamente, nos inícios ou primeira metade do século V
a.C., estando presente em contextos da Fase IV do referido sítio, mais concretamente,
nas unidades estratigráficas [186] e [785]. É na segunda metade do mesmo século, já na
Fase V, que estas ânforas ganham alguma importância aumentando consideravelmente
em número de exemplares, dos quais se destacam as variantes 11.2.1.3 e 11.2.1.4.
Nestes contextos as ânforas surgem associadas materiais como a cerâmica ática, a
cerâmica de engobe vermelho, a cerâmica pintada em bandas, ânforas do tipo B/C de
Pellicer, entre outros.
Após este momento de crescimento verifica-se um período algo indefinido, não
sendo claro como se terá desenvolvido a importação destes recipientes durante parte do
22
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
século IV e o século II a.C. Isto poderá estar relacionado com uma fase de menor
esplendor do sítio, que se reflecte no registo arqueológico.
Contudo, durante o século I a.C. a comercialização destas ânforas volta a ganhar
força, superando o volume de contentores importado anteriormente. Assim, é durante o
Período Romano Republicano, inserido na Fase VI de Castro Marim, que se atinge o
auge da importação das ânforas Mañá-Pascual A4 no referido sítio arqueológico,
representada por várias variantes da série 12. Nestes contextos surgem associadas
materiais como a cerâmica campaniense, a cerâmica de paredes finas, a cerâmica de tipo
Kuass, ânforas como a Castro Marim 1, a Classe 67 ou a Dressel 1, entre outros.
No que se refere aos fabricos registados, podemos observar um claro domínio
das importações oriundas da Baía de Cádis. Esta proveniência preferencial ganha
especial destaque durante Período Romano, face às características mais heterogéneas
das importações da Idade do Ferro, donde se destacam as importações do Sul da actual
Andaluzia Ocidental e da Campiña Gaditana.
23
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
4. – METODOLOGIA.
4.1 – Composição e tratamento da amostra.
Os materiais utilizados neste trabalho foram recolhidos ao longo das 10
campanhas de escavação arqueológica realizadas no Castelo de Castro Marim, sob a
direcção da Professora Doutora Ana Margarida Arruda, entre os anos de 1983 e 2003,
encontrando-se os materiais depositados no Centro de Arqueologia da Universidade de
Lisboa (UNIARQ).
O espólio em estudo corresponde á totalidade dos fragmentos classificáveis
como ânforas do tipo Mañá-Pascual A4, provenientes das intervenções arqueológicas
decorridas no Castelo de Castro Marim.
O processo de triagem foi facilitado pelo facto de todo o material se encontrar já
lavado, marcado e inventariado, para além de que, grande parte já se encontrava
separado por forma. Todos os artefactos se encontravam identificados com a designação
do sítio arqueológico, ano da intervenção, indicação de Sector/Corte, Quadrícula,
Camada/U.E. e respectivo número de inventário, com excepção de quatro indivíduos, os
números 60, 132, 133 e 134. O indivíduo número 60 trata-se de uma recolha de
superfície, os indivíduos 132 e 133 apenas indicam o sítio arqueológico, uma indicação
temporal referente às primeiras seis campanhas, e o número de inventário, e o indivíduo
134 apenas possui a designação do sítio arqueológico e o número de inventário.
O número total de indivíduos é de 137. Sendo alguns constituídos por mais do
que um fragmento, o critério de quantificação baseou-se na contabilização do número
mínimo de indivíduos identificados a partir dos fragmentos de bordo.
Os dados recolhidos serão abordados de forma sistemática através da realização
de uma análise quantitativa e qualitativa do conjunto. A análise quantitativa da
totalidade do conjunto, que conduziu à sua catalogação, teve por base a identificação de
diversas variantes formais assim como uma possível proveniência. Estes dados foram
uniformizados e catalogados de forma a possibilitar um tratamento estatístico dos
mesmos. A análise qualitativa incidiu, essencialmente, sobre material em contexto,
permitindo uma análise sincrónica das presenças, assim como da evolução diacrónica
destes artefactos em Castro Marim.
Os artefactos foram desenhados e tintados à escala 1/1, sendo agrupados em
estampas segundo a sua variante formal e proveniência contextual. Para a sua
24
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
representação gráfica, as tintagens foram reduzidas à escala de 1/4, apresentando todas
as estampas uma barra de referência em centímetros para leitura imediata. A numeração
dos materiais apresentados é contínua, correspondendo o número apresentado nas
estampas à numeração apresentada no catálogo. Todos os materiais foram desenhados à
excepção dos indivíduos 109 e 131, dado o seu elevado mau estado de conservação.
Como ilustração complementar são utilizadas fotografias de alguns materiais e
uma fotografia de pormenor das pastas de cada um dos grupos de fabrico.
A definição tipológica deste conjunto tem por base inicial o trabalho realizado
por Mañá (1951) sobre materiais levantinos e de Ibiza. Contudo a nomenclatura
tradicionalmente utilizada, a de Mañá-Pascual A4, foi proposta por Ramon Torres,
tendo por base tanto os trabalhos de Mañá como os posteriores estudos de Pascual (Sáez
Romero, 2008, p. 528). No que se refere às variantes formais, foi adoptada a tipologia
desenvolvida por Ramon Torres (1995), mais concretamente, as séries 11 e 12 do
referido autor. Como complemento a esta tipologia resolvemos adicionar a proposta de
variante formal apresentada por Sáez Romero (2002; 2008), isto é, a forma 12.1.1.1/2.
4.2 – Tratamento informático e análise estatística.
Todos os dados relativos ao espólio estudado foram inseridos numa base de
dados criada para o efeito, tendo sido utilizado o programa Microsoft Office Exel,
versão 2007. Nesta base de dados foi criada uma ficha individual para cada indivíduo,
identificado pelo número de catálogo, apresentando um conjunto de campos descritores,
como proveniência, fragmento, variante ou fabrico.
Para o tratamento de imagens foi utilizado o programa Adobe Photoshop CS3,
enquanto para as tintagens foi utilizado o programa de desenho vectorial Adobe
Illustrator CS3.
4.3 – Identificação dos grupos de fabrico.
Na identificação dos grupos de fabrico procedemos a uma análise macroscópica
da totalidade do conjunto, com recurso a uma lupa de 10 aumentos. A descrição de cada
grupo teve por base um conjunto de descritores, como cozedura, textura, fractura,
dureza, elementos não plásticos (e.n.p.) e colorações das peças.
25
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Assim, efectuamos uma análise macroscópica dos constituintes petrográficos
segundo as características de cada indivíduo, tendo sido criados grupos e subgrupos,
sempre que se verificassem elementos diferenciadores que assim o permitissem. Para a
caracterização das pastas, seguimos, de modo geral, os critérios descritores propostos
por Stienstra (1986).
As cores dos diferentes exemplares foram descritas individualmente segundo o
código de Munsell (2000), indicando-se as variações cromáticas registadas nas pastas,
superfícies e aguadas.
Os fragmentos analisados macroscopicamente foram reunidos em quatro grupos
de fabrico distintos e três fabricos raros. No grupo III apresentamos uma subdivisão
identificada por A e B, que se reportam a diferentes produções de uma mesma área de
fabrico.
Tentámos, sempre que possível, relacionar os fabricos identificados com áreas
de produção conhecidas. De notar ainda o facto de se tratarem apenas de análises
macroscópicas, dada a impossibilidade de se realizarem outro tipo de análises, o que
introduz uma relativa subjectividade às conclusões alcançadas.
26
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
5. – GRUPOS DE FABRICO.
5.1 – Caracterização dos grupos de fabrico.
A análise macroscópica dos fabricos foi realizada com recurso a uma lupa de 10
aumentos sobre a totalidade do conjunto, baseando-se a descrição de cada grupo num
conjunto de descritores, como cozedura, textura, fractura, dureza, elementos não
plásticos (e.n.p.) e colorações das peças.
Assim, esta análise teve como objectivo a definição de diferentes grupos de
fabrico. Tentámos, sempre que possível, relacionar os grupos de fabrico identificados
com as áreas de produção conhecidas.
Desta forma, foi-nos possível estabelecer quatro Grupos de Fabrico distintos e
três Fabricos Raros, sendo que apenas para os Grupos de Fabrico foi possível apontar
uma possível área de proveniência, sendo mais fiáveis nos casos dos Grupos de Fabrico
I e III.
5.1.1 – Grupo de Fabrico I (Figura 6).
As pastas são relativamente duras, homogéneas, de textura fina e porosa,
polvorentas, com cozedura forte (modo A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são
raros (até 5 %) e de pequena dimensão, com a presença de micas brancas e prateadas,
feldspatos, calcites, elementos ferruginosos e/ou cerâmica moída, e raros minerais
negros opacos e quartzo. A cor da pasta varia entre o castanho (7.5 YR 5/4), o amarelo
avermelhado (5 YR 7/6) e o castanho muito pálido (10 YR 8/3), podendo ocorrer
situações com pastas bicolores ou com veios, de colorações semelhantes.
Apresentam superfícies lisas e polvorentas, com cores que oscilam entre o
castanho claro (7.5 YR 6/4), o rosa (7.5 YR 7/4) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/2) nas
faces externa e interna, surgindo 16 % do grupo com uma aguada clara, que oscila entre
o rosa (7.5 YR 7/3), o castanho muito pálido (10 YR 8/2) e o amarelo pálido (2.5 Y
8/2).
Este grupo é composto por um total de 69 indivíduos.
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Figura 6 – Fotografia macroscópica da pasta do Grupo I.
5.1.2 – Grupo de Fabrico II (Figura 7).
As pastas são pouco duras e pouco depuradas, homogéneas, de textura rugosa e
com cozedura média (modo A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são frequentes
(10 a 20 %) e de pequena e média dimensão, com a presença de micas brancas e
prateadas, feldspatos, calcites, quartzos, elementos ferruginosos, cerâmica moída e
minerais negros opacos. A cor da pasta varia entre o castanho forte (7.5 YR 5/6), o
vermelho claro (2.5 YR 6/8) e o amarelo pálido (5 YR 8/2), podendo ocorrer situações
com pastas bicolores, de colorações semelhantes.
Apresentam superfícies lisas e algo polvorentas, com cores que oscilam entre o
cinzento claro (10 YR 7/1), o rosa (7.5 YR 7/4) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/2) na face
externa, e entre o cinzento (2.5 Y 6/1), o rosa (7.5 YR 7/4) e o amarelo pálido (2.5 Y
8/2) na face interna, surgindo 38 % do grupo com uma aguada clara, que oscila entre o
castanho muito pálido (10 YR 8/3) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/2).
Este grupo é composto por um total de 39 indivíduos.
Figura 7 – Fotografia macroscópica da pasta do Grupo II.
28
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
5.1.3 – Grupo de Fabrico III.
Fabrico A (Figura 8)
As pastas são duras, algo compactas e com cozedura forte (modo A) e fractura
de tendência regular. Os e.n.p. são pouco frequentes (5 a 10 %) e de pequena dimensão,
com a presença de calcites, quartzos, feldspatos, elementos ferruginosos e/ou cerâmica
moída, e minerais negros opacos. A cor da pasta oscila entre o cinzento-escuro (10 YR
4/1), o castanho acinzentado (10 YR 5/2) e o cinzento claro acastanhado (2.5 Y 6/2).
Apresentam superfícies lisas, com cores que oscilam entre o cinzento-escuro (10
YR 4/1), o castanho (10 YR 5/3), o rosa (7.5 YR 7/4) e o castanho muito pálido (10 YR
8/4) na face externa, e entre o cinzento (10 YR 5/1), o castanho (7.5 YR 5/2), o rosa (7.5
YR 7/4) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/3) na face interna, surgindo 80 % do grupo com
uma aguada clara, que oscila entre o rosa (7.5 YR 7/4), o castanho muito pálido (10 YR
8/2) e o branco rosado (7.5 YR 8/2).
Este grupo é composto por um total de 15 indivíduos.
Figura 8 – Fotografia macroscópica da pasta do Grupo IIIa.
Fabrico B (Figura 9)
As pastas são duras, homogéneas, mal depuradas, de textura rugosa e com
cozedura forte (modo A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são frequentes (10 a
20 %) e de pequena dimensão, com a presença de calcites, quartzos, feldspatos,
elementos ferruginosos e/ou cerâmica moída, e minerais negros opacos. A cor da pasta
oscila entre o castanho acinzentado (2.5 Y 5/2), o castanho (10 YR 5/3) e o amarelo
avermelhado (7.5 YR 7/6), podendo ocorrer situações com pastas bicolores, de
colorações semelhantes.
Apresentam superfícies lisas, com cores que oscilam entre o castanho (10 YR
5/3), o rosa (7.5 YR 7/4) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/3) na face externa, e entre o
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Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
castanho acinzentado (10 YR 5/2), o vermelho claro (2.5 YR 6/6), e o castanho muito
pálido (10 YR 7/4) na face interna, surgindo 80 % do grupo com uma aguada clara, que
oscila entre o rosa (7.5 YR 8/4) e o castanho muito pálido (10 YR 8/2).
Este grupo é composto por um total de cinco indivíduos.
Figura 9 – Fotografia macroscópica da pasta do Grupo IIIb.
5.1.4 – Grupo de Fabrico IV (Figura 10).
As pastas são duras, compactas, homogéneas e com cozedura forte (modo A) e
fractura regular. Os e.n.p. são, de modo geral, pouco frequentes (5 a 10 %) e de pequena
dimensão, com a presença de micas brancas e prateadas, feldspatos, quartzo, minerais
negros opacos e muito raros fragmentos de cerâmica moída, com excepção da presença
abundante (30 %) de calcites. A cor da pasta oscila entre o castanho (10 YR 5/3) e o
amarelo avermelhado (5 YR 6/6).
Apresentam superfícies lisas, com cores que oscilam entre o cinzento rosado (5
YR 6/2), e o amarelo avermelhado (7.5 YR 7/6) na face externa, e entre o cinzento
avermelhado (5 YR 5/2) e o rosa (7.5 YR 7/4) na face interna, surgindo 60 % do grupo
com uma aguada clara, que oscila entre o amarelo pálido (2.5 Y 7/3) e o branco rosado
(7.5 YR 8/2).
Este grupo é composto por um total de cinco indivíduos.
Figura 10 – Fotografia macroscópica da pasta do Grupo IV.
30
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
5.1.5 – Fabrico Raro 1 (Figura 11).
A pasta é dura, relativamente compacta, homogénea e com cozedura forte (modo
A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são pouco frequentes (5 a 10 %) e de
pequena dimensão, com a presença de quartzo, calcites, elementos ferruginosos,
cerâmica moída, minerais negros opacos, e abundantes micas e feldspatos. A pasta é
castanha avermelhada (5 YR 5/4).
A superfície é lisa, de cor amarelo avermelhado (5 YR 6/6) na face externa e
castanho muito pálido (10 YR 7/4) na face interna, sem vestígios de aguada ou engobe.
Este grupo é composto apenas pelo indivíduo com o número de inventário 27.
Figura 11 – Fotografia macroscópica da pasta do Fabrico Raro 1.
5.1.6 – Fabrico Raro 2 (Figura 12).
A pasta é dura, compacta, homogénea e com cozedura forte (modo A) e fractura
de tendência regular. Os e.n.p. são pouco frequentes (5 a 10 %) e de pequena dimensão,
com a presença de quartzo, por vezes de média dimensão, calcites, elementos
ferruginosos, cerâmica moída, e abundantes minerais negros opacos, micas e feldspatos.
A pasta é amarela avermelhada (5 YR 6/6).
A superfície é lisa, de cor amarelo avermelhado (5 YR 7/6) na face externa e
castanho claro avermelhado (5 YR 6/4) na face interna, surgindo com uma aguada rosa
(7.5 YR 8/3).
Este grupo é composto apenas pelo indivíduo com o número de inventário 122.
31
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Figura 12 – Fotografia macroscópica da pasta do Fabrico Raro 2.
5.1.7 – Fabrico Raro 3 (Figura 13).
As pastas são duras, compactas, homogéneas e com cozedura forte (modo A) e
fractura de tendência regular. Os e.n.p. são frequentes (10 a 20 %) e de pequena
dimensão, com a presença de quartzo, calcites, micas e minerais negros opacos e
brilhantes. A pasta é castanha (10 YR 5/3).
A superfície é lisa, de cor castanho claro (7.5 YR 6/3) ou cinzento claro (10 YR
7/2) na face externa e castanho acinzentado (10 YR 5/2) ou castanho (7.5 YR 5/3) na
face interna, surgindo o individuo 49 uma aguada branca (10 YR 8/1).
Este grupo é composto apenas pelos indivíduos com os números de inventário
37 e 49.
Figura 13 – Fotografia macroscópica da pasta do Fabrico Raro 3.
5.2 – Análise dos grupos de fabrico identificados.
A análise macroscópica dos materiais permitiu identificar quatro grupos de
fabrico e três fabricos raros, com diferentes proveniências, das quais se destacam as
32
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
produções da Baía e Cádis e as da Campiña Gaditana. No Grupo IV pudemos observar
uma clara associação entre fabrico e forma.
O Grupo I, que representa 50 % do conjunto, é composto exemplares de todas as
variantes, com excepção da 11.2.1.2, sendo maioritária a variante 12.1.1.1 com 73 % do
grupo, com um total de 50 indivíduos. Trata-se de pastas amareladas, polvorentas e com
raros e.n.p. que podem ser enquadráveis nas produções da Baía de Cádis. Os materiais
deste grupo são, na sua quase totalidade, provenientes do Corte 3 (96 %),
maioritariamente de contextos Romanos (96 %).
Este grupo de fabrico, embora esteja presente entre as formas mais antigas, vai
adquirir especial destaque entre as variantes mais recentes, como as 12.1.1.1,
estabelecendo-se como o principal área abastecedora deste tipo anfórico de Castro
Marim durante a segunda metade do 1º milénio a.C., sobretudo entre o século II e o I
a.C.
O Grupo II, com pastas amareladas e com e.n.p. frequentes pode ter origem em
local indeterminado do Sul da Andaluzia Ocidental, possivelmente em área próxima da
região gaditana. Apresenta características similares ao Grupo I, com excepção dos e.n.p.
mais frequentes e de maiores dimensões. Este grupo representa 28 % do conjunto,
apresentando exemplares de todas as variantes, com destaque para as variantes 11.2.1.3
e 11.2.1.4, com 26 % e 23 % do grupo, respectivamente. Os exemplares deste grupo são
maioritariamente procedentes do Sector 1 (60 %), sobretudo de contextos da Idade do
Ferro (38 %).
O Grupo III corresponde a produções da área da Campiña Gaditana. As duas
variantes identificadas podem ser associadas aos dois grupos identificados por Carretero
Poblete (2004), equivalendo o Fabrico IIIa ao descrito pelo autor espanhol na alínea a),
produções de argilas verdes, e o Fabrico IIIb ao descrito na alínea b), produções com
argilas castanho-avermelhadas (Carretero Poblete, 2004, p. 90-91). Este grupo constitui
15 % do conjunto, correspondendo o Fabrico IIIa a 11 % e o Fabrico IIIb 4 %. O
Fabrico IIIa integra apenas exemplares das variantes 11.2.1.6 e, sobretudo, 11.2.1.3 (87
%), enquanto o Fabrico IIIb é composto apenas por exemplares das variantes 11.2.1.3 e
11.2.1.4, com 60 % e 40 % do grupo, respectivamente. Os exemplares deste grupo são
sobretudo do Sector 1 (87 %) no Fabrico IIIa, e exclusivos do mesmo sector no Fabrico
IIIb, dominando os contextos da Idade do Ferro, com 87 % no Fabrico IIIa, e com 80 %
no Fabrico IIIb.
33
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Embora se trate de um grupo relativamente pequeno, a sua constatação vem
revelar dados pouco conhecidos e igualmente pouco abordados. Uma vez que é tido
como seguro que as ânforas Mañá-Pascual A4 eram utilizadas para o transporte de
preparados piscícolas, pode colocar-se a questão do motivo da sua produção na área da
Campiña Gaditana. Dado que apenas se registaram exemplares das variantes mais
antigas, estas produções podem estar relacionadas com um momento inicial de fabrico
da forma, período em que se trataria, muito provavelmente, de um recipiente para
transporte de conteúdos diversos. Por se tratar de uma região interior propensa para a
agricultura, a sua utilização pode estar relacionada com o transporte de alguma
produção agrícola, que provavelmente seria vinho. Essa associação deve-se, para além
do carácter interior desta produção, ao facto de terem sido encontradas ânforas MañáPascual A4 de produção local em contextos de lagar na região do Castillo Doña Blanca,
como em San Cristobal (García Vargas, 1998, p. 203; Ruíz Mata, Niveu de Villedary y
Mariñas, 1999).
O Grupo IV é constituído exclusivamente por cinco exemplares da variante
11.2.1.4, representando 4 % do conjunto. Os exemplares deste grupo encontram-se
repartidos de forma homogénea entre o Corte 1 e o Corte 3, com dois indivíduos cada,
encontrando-se de forma semelhante entre contextos da Idade do Ferro e do período
Romano Republicano. Trata-se de pastas rosadas com e.n.p. pouco frequentes, com
excepção de abundantes calcites, sendo possível produção tenha origem no Norte de
África. Assim, esta produção apresenta algumas semelhanças com as produções de
Kuass (Alaoui, 2007, p. 68-69), dada a abundante presença de calcites. Associado a este
facto está também a existência de produções de várias variantes das ânforas MañáPascual A4 no actual território marroquino (López Pardo, 1990; Aranegui Gascó, 2001,
2007; Alaoui, 2007). Porém, dada a impossibilidade de realização de outros tipos de
análises às pastas, esta proposta deve ser considerada como uma mera hipótese a
necessitar de futura confirmação.
Para os Fabricos Raros 1, 2 e 3 não nos foi possível determinar uma possível
área de proveniência, podendo, contudo, ser integrados no vasto grupo do “Extremo
Ocidente Indeterminado” (Ramon Torres, 1995, p. 257). Estes fabricos são compostos
por indivíduos que não nos foi possível enquadrar em nenhum dos grupos estabelecidos,
dadas as suas características, representando cada um dos fabricos raros 1 % do conjunto.
34
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Assim, das diferentes proveniências
verificadas destacam-se expressivamente
as
produções
da
actual
Andaluzia,
especialmente as oriundas da Baía de
Cádis. O factor da proximidade geográfica
surge como o mais determinante para
justificar a presença destas importações no
Castelo de Castro Marim, importações
essas também bem documentadas ao longo
do território algarvio, como em Tavira
Figura 14 – Gráfico da distribuição percentual
(Maia, 2006), Faro (Arruda, Bragão, de
pelos grupos de fabrico
Sousa, 2005) ou Monte Molião (Arruda, et al., 2008).
35
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
6. – AS ÂNFORAS MAÑÁ-PASCUAL A4.
6.1 – História da investigação.
A origem da nomenclatura desta forma tem por base primordial os estudos de J.
M. Mañá, onde o autor agrupa, numa tipologia esquemática, um conjunto de tipos de
ânforas púnicas que podem ser encontradas em Espanha, no qual esta forma
corresponde ao subtipo A4 (Mañá, 1951). Contudo, a primeira real definição deste tipo
anfórico foi elaborada por Pascual, onde este criou uma base de informação com
exemplares bem conservados passível de ser comparado com os achados muito
fragmentados de diversos sítios arqueológicos (Sáez Romero, 2002, p. 290; 2008b, p.
527-528). Paralelamente, nas escavações de Kuass, Ponsich identifica a produção deste
tipo de ânfora no centro
oleiro
do
sítio
marroquino, definindoa nos seus tipos II e III,
que correspondem
a
série 12 de Ramon
Torres, tratando-se por
isso
de
mais
exemplares
tardios
desta
forma (López Pardo,
1990; Sáez Romero,
2002, p. 290; 2008b, p.
528).
Passados
estes
momentos iniciais, os
estudos
de
Ramon
Torres permitiram dar
um importante salto na
investigação.
com
estas
Assim,
suas
investigações
Ramon
Torres
definiu
Figura 15 – Mapa da Baía de Cádiz.
36
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
formalmente este tipo anfórico, denominando-o de Mañá-Pascual A4, com base no
nome dos dois principais impulsionadores do estudo destas ânforas, tendo contribuído
também com algumas precisões ao nível da cronologia, assim como a sua associação
com o transporte comercial na área do Estreito (Sáez Romero, 2002, p. 290-291; 2008b,
p. 528). Passado pouco tempo, Florido Navarro (1984), na sua tipologia de ânforas préromanas do Sul peninsular inclui exemplares de ânforas Mañá-Pascual A4 no seu tipo
VI, nas variantes 1 a 4, datando-as, de um modo geral, entre o século V e o III a.C. Á
semelhança de Ramon Torres, identifica este tipo anfórico com o transporte de
preparados piscícolas, enfatizando a sua abundante presença em lugares costeiros
(Florido Navarro, 1984, p. 426; Sáez Romero, 2002, p. 291; 2008b, p. 528). Há que
destacar, também, as investigações de Muñoz Vicente sobre as ânforas pré-romanas de
Cádiz, onde procede a uma organização tipológica do registo anfórico gaditano, do qual
faz parte as ânforas Mañá-Pascual A4. Estas ânforas, definidas como Cádis A4
(variantes a-f), são associadas a diversos contextos gaditanos, tendo sido identificada a
sua produção local (Muñoz Vicente, 1985). Para tal muito contribuíram os trabalhos
realizados no centro oleiro de Torre Alta (Perdigones Moreno e Muñoz Vicente, 1988;
Muñoz Vicente, 2006).
Posteriormente, a tipologia das ânforas fenício-púnicas do Mediterrâneo Central
e Ocidental, de Ramon Torres (1995), veio marcar decisivamente uma nova etapa nas
investigações destes contentores anfóricos, especialmente no Extremo Ocidente
Mediterrâneo. Esta tipologia veio introduzir uma nomenclatura mais universal, utilizada
internacionalmente, para além da sua contribuição com novas precisões em termos
cronológicos e tipológicos, estando as ânforas Mañá-Pascual A4 representadas pelas
séries 11 e 12.
A identificação e estudo de vários centros oleiros produtores destas ânforas, tal
como das fábricas de produção de preparados piscícolas têm contribuído
significativamente para o apurar das cronologias, assim como para o conhecimento das
evoluções e alterações formais. Neste sentido têm particular importância os diversos
projectos desenvolvidos em torno da área Estreito, em especial da região gaditana.
Nesta área verificamos um aumento considerável de centros oleiros e fábricas de
preparados piscícolas conhecidos. De um modo geral, estas duas áreas funcionais
apresentam-se em diferentes áreas da região gaditana. Pois, enquanto a maioria dos
centros oleiros se localiza na zona de San Fernando, numa área mais interior da Baía de
Cádis, grande parte das fábricas de preparados piscícolas estão situadas na zona do
37
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Puerto de Santa Maria, numa área próxima da entrada da mesma baía. Assim de entre
estas áreas oleiras podemos destacar o importante centro oleiro de Torre Alta, grande
produtor de ânforas Mañá-Pascual A4 (Perdigones Moreno e Muñoz Vicente, 1988;
Frutos Reyes e Muñoz Vicente, 1994; Castañeda Fernández e Herrero Lapaz, 1998;
Sáez Romero, et al., 2002; Sáez Romero, 2004; 2007; 2008b; Muñoz Vicente, 2006).
Na zona do Puerto de Santa Maria verifica-se uma grande concentração de fábricas de
produção de preparados piscícolas, de entre as quais se pode destacar, por exemplo, a
fábrica de Las Redes ou a de Pinar Hondo ou Puerto 19. Nestas fábricas as ânforas
seriam envasadas com os preparados piscícolas, que depois seriem comercializados, em
alguns casos a média e longa distância (Frutos Reyes, Chic e Berriatua, 1988; Frutos
Reyes e Muñoz Vicente, 1996; Gutiérrez López, 1997; 2004; Vallejo Sánchez, Córdoba
Alonso e Niveau de Villedary y Mariñas, 1999; Muñoz Vicente e Frutos Reyes, 2004;
García Vargas e Ferrer Albelada, 2006).
De notar também a importância que os achados subaquáticos podem ter,
sobretudo por se tratarem, na grande maioria, dos casos de fragmentos de ânforas muito
bem conservados, ou até mesmo peças completas. Este facto pode contribuir
decisivamente para o estudo e melhor definição das variações formais dentro dos tipos
anfóricos, em especial a evolução formal dos corpos das ânforas, e a associação de
determinadas formas de bordo às formas do corpo das ânforas.
Recentemente, Sáez Romero apresentou uma proposta para a identificação de
exemplar intermédio entre a variante 12.1.1.1 e a 12.1.1.2, que designou de 12.1.1.1/2.
Esta forma é referida como um modelo de transição entre as outras duas referidas.
Trata-se de uma ânfora que apresenta um misto de características das variantes 12.1.1.1
e 12.1.1.2, contribuindo, assim, para uma melhor definição de ambos as formas,
remetendo para esta variante, a 12.1.1.1/2, o que se pode situar num ponto intermédio
(Sáez Romero, 2002; 2008b).
6.2 – Origem e evolução da forma.
A grande família que compõe o tipo anfórico Mañá-Pascual A4 parece ter
origem nas ânforas do tipo Vuillemot R1, sobretudo nos seus modelos mais evoluídos,
com cronologias entre o século VII e o VI a.C. Estas ânforas, que correspondem á série
10 de Ramon Torres, apresentam uma dispersão muito semelhante à das Mañá-Pascual
A4, sobretudo na região do Mediterrâneo Ocidental. Para além de estarem presentes nas
38
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Figura 16 – Evolução das ânforas Maña-Pascual A4 (segundo Sáez Romero 2008b, p. 531).
mesmas áreas, as características da sua evolução formal apontam para que se trate de
uma evolução de uma longa família de ânforas. Nos exemplares mais tardios das
ânforas R1 podemos observar um desenvolvimento da parte superior do corpo que se
39
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
aproxima bastante das características típicas das Mañá-Pascual A4, que registam um
maior acentuar da carena ao nível do ombro e um estreitamento da metade superior do
corpo (Ramon Torres, 1995, p. 233-239; García Vargas, 1998, p. 59-60; Sáez Romero,
2002, p. 291-293; 2008b, p. 529-530). Assim, será a partir destes modelos tardios de R1
que se formaram, nos finais do século VI a.C., os primeiros exemplares das ânforas
Mañá-Pascual A4, correspondendo á série 11 de Ramon Torres, com especial destaque
para a variante 11.2.1.3.
Estes contentores são entendidos como produções típicas da região gaditana,
embora não sejam aí exclusivamente produzidas, pois trata-se de material muito bem
documentado na referida região. Os modelos iniciais apresentam, face aos seus
antecessores, um acentuar da carena da parte inferior do corpo, um estreitamento
considerável da sua parte superior e uma tendência para o aumento do cumprimento
total da ânfora. A sua produção, em termos genéricos, pode ser balizada entre os finais
do século VI e a primeira metade do século I a.C. A transição para os modelos mais
recentes, série 12, fica marcada por uma acentuada tendência para formas mais
cilíndricas e mais estreitas. A carena que marca o ombro torna-se cada vez mais ténue,
tendendo a quase desaparecer, á medida que os bordos se tornam mais verticais e por
vezes espessados pelo interior (Ramon Torres, 1995, p. 233-239).
Ao nível dos bordos, os exemplares mais antigos, que correspondem às
diferentes variantes da série 11, apresentam morfologias de tendência triangular,
evoluindo para exemplares com arestas menos marcadas, com tendência para formas
arredondadas. Esta série 11 é produzida, de um modo geral, entre os finais do século VI
a.C., com os primeiros exemplares das formas 11.2.1.1 e 11.2.1.3, prolongando-se até
aos inícios do século IV a.C. (Ramon Torres, 1995, p. 233-237).
Na transição para os modelos mais recentes, compostos pelas diferentes
variantes da série 12, as ânforas apresentam bordos de tendência mais circular, podendo
por vezes apresentar espessamento interno e/ou uma ligeira canelura junto ao lábio,
sobretudo nos exemplares mais recentes das variantes 12.1.1.1/2 e 12.1.1.2. A produção
da série 12, de um modo global, inicia-se em meados do século IV a.C. com
desenvolvimento dos primeiros exemplares da variante 12.1.1.1, que substituíram os
anteriores modelos da série 11. A sua produção estende-se até, pelo menos, a primeira
metade do século I a.C. (Ramon Torres, 1995, p. 237-239; Sáez Romero, 2008b).
As ânforas Mañá-Pascual A4 têm sido interpretadas como contentores para o
transporte de preparados piscícolas. O registo de ânforas desta tipologia associadas a
40
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
restos de peixe, sobretudo atum, reforça esta ligação ao transporte de preparados
piscícolas. Mais concretamente, foram encontrados exemplares da variante 11.2.1.3 a
diferentes vestígios de peixe durante as intervenções na Plaza Asdrúbal, em Cádiz, e no
“edifício das ânforas púnicas” em Corinto (Ramon Torres, 1995, p. 264, 266; Juan
Tresserras e Carlos Matamala, 2004). Para além destas importantes evidências de
conteúdo, o facto de se tratar de um tipo anfórico repetidamente documentado em áreas
costeiras, assim como a sua abundante presença em contextos de fábricas de preparados
piscícolas, leva a que se aceite como seguro que as ânforas Mañá-Pascual A4, nas suas
diferentes variantes, sejam utilizadas no transporte destes produtos (Ramon Torres,
1995).
6.3 – Centros produtores e distribuição dos achados.
Tratando-se de uma típica ânfora da área do Estreito de Gibraltar, as MañáPascual A4 têm como origem principal a área a Baía Gaditana. Nesta região verificamos
a existência de uma grande quantidade de centros oleiros produtores deste tipo anfórico,
concentrados, essencialmente, na área de San Fernando. De entre os inúmeros centros
oleiros podemos destacar o de Villa Maruja, o de Pery Junquera, o de Torre Alta ou o de
Camposoto. Estes centros oleiros, que terão iniciado a sua produção entre os finais do
século VI e o século V a.C., com destaque para a forma 11.2.1.3, vão atingir o seu auge
durante o século III a.C., com as produções da série 12 (Sáez Romero, Diaz Rodriguez e
Sáez Espligares, 2004, p. 38-41; Sáez Romero, 2008b).
Para além deste concentrado sector de produção oleira, podemos encontrar
centros produtores desta tipologia na área de Cádis, correspondendo apenas a produções
mais tardias, centradas em modelos evolucionados, com cronologias a partir do século
III a.C. O aparecimento de centros oleiros durante este período está relacionado com o
grande incremento da produção e exportação dos preparados piscícolas gaditanos (Sáez
Romero, 2008b, p. 480-500).
Ainda dentro da região gaditana é de destacar o sítio do Castillo Doña Blanca.
Localizado numa área um pouco interior da Baía de Cádis, este sítio de formação
fenícia, para além de importar produtos costeiros, foi produtor de matérias cerâmicos,
de entre eles ânforas Mañá-Pascual A4 (Ramon Torres, 1995, p. 87-88; Niveu de
Villedary y Mariñas, 1999).
41
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Ainda em contexto peninsular, estas ânforas parecem também ter sido
produzidas, ainda que de forma minoritária, na região de Málaga, possivelmente em
sítios como Cerro del Mar ou Cerro del Villar (Ramon Torres, 1995, p. 256-257; Sáez
Romero, Diaz Rodriguez e Sáez Espligares, 2004, p. 46-53; Arruda, Bargão e Sousa,
2005, p. 195; Arruda, et al., 2006, p. 156;).
Para além destas produções Sul peninsulares, maioritariamente gaditanas,
podemos encontramos indícios de que ânforas Mañá-Pascual A4 foram também
produzidas no Norte de África, mais concretamente, em Kuass e Banasa, na área
costeira atlântica marroquina.
No centro oleiro de Kuass, identificado durante os trabalhos de Ponsich,
registou-se a produção de ânforas Mañá-Pascual A4, desde os seus modelos mais
antigos, como as 11.2.1.3, até às últimas variantes produzidas, da forma 12.1.1.1 (Lopez
Pardo, 1990; Ramon Torres, 1995, p. 98-99; Aranegui Gascó, Alaoui e Vives
Fernandiz, 2004; Sáez Romero, Diaz Rodriguez e Sáez Espligares, 2004, p. 42-45;
Alaoui, 2007, p. 67-76, 217-226;). Já em Banasa, a produção de Mañá-Pascual A4
limita-se aos modelos mais tardios, série 12, datando-se a produção entre finais do
século IV ou inícios do III e os inícios de século II a.C. (Ramon Torres, 1995, p. 97-98;
Aranegui Gascó, Alaoui e Vives Fernandiz, 2004).
Embora este seja um tipo anfórico característico da área do Estreito de Gibraltar,
estas ânforas apresentam uma dispersão, ainda que de forma desigual, por quase toda a
extensão costeira do Mediterrâneo, especialmente os modelos mais antigos. A maior
concentração situa-se no Sul e Sudeste peninsular e parte Norte africana do Estreito de
Gibraltar (Ramon Torres, 1995, p. 650-653). Esta concentração, como seria de esperar,
deve-se à proximidade dos centros oleiros produtores destas ânforas, localizados na
região gaditana e costa atlântica marroquina. Nesta região destaca-se a sua presença
abundante nos contextos das fábricas de produção de preparados piscícolas, como em
Las Redes (Frutos Reyes, Chic e Berriatua, 1988) ou em Pinar Hondo, também
conhecida como Puerto 19 (Gutiérrez Lopez, 1997; 2004)
À medida que nos afastamos para o Mediterrâneo central e oriental vão-se
rarefazendo o número de achados de ânforas Mañá-Pascual A4, donde se destacam as
presenças nas Ilhas Baleares, em especial em Ibiza. Nesta região, há que destacar os
achados subaquáticos de Tagomago 1, um naufrágio onde se recuperaram várias
exemplares de diferentes variantes de Mañá-Pascual A4, todas inseridas nos modelos
mais antigos, com destaque para as 11.2.1.3 e 11.2.1.6. Trata-se de um importante
42
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
achado que contribuiu muito significativamente para o conhecimento das formas mais
antigas desta grande família anfórica que são as Mañá-Pascual A4 (Ramon Torres,
1995, p. 72). Mais para oriente surgem raros achados no Sul de França, Sardenha,
Sicília e costa italiana, sendo quase inexistentes ao longo da costa Norte africana,
destacando-se, apenas, a sua presença em Cartago. O ponto mais oriental onde se
identificaram ânforas desta tipologia situa-se na Grécia, mais concretamente em Corinto
e Olímpia (Ramon Torres, 1995, p. 650-653).
As ânforas identificadas nas áreas mais afastadas dos centros produtores,
situados na região do Estreito de Gibraltar, integram-se nos modelos mais antigos desta
extensa família anfórica, dentro da série 11, em especial a variante 11.2.1.3. As formas
mais recentes, da qual se destaca a 12.1.1.1, apresentam uma dispersão geográfica mais
reduzida, limitando-se, de um modo geral, à área mais ocidental do Mediterrâneo, em
especial o Sul da Península Ibérica (Ramon Torres, 1995, p. 650-653).
No actual território português as ânforas Mañá-Pascual A4, ainda que pouco
abundantes, apresentam uma dispersão essencialmente litoral. Ao longo da costa
ocidental portuguesa podemos encontrar exemplares em Lisboa, com formas mais
tardias (Pimenta, 2004, p. 89-90; 2005, p. 325-326), na Quinta da Torre, em Almada
(segundo Pimenta, 2005), em Setúbal (segundo Arruda, 1999/2000, p. 91-96) em
Alcácer do Sal (Silva, et al., 1980/1981) e na Ilha do Pessegueiro (segundo Pimenta,
2005). De referir também achados subaquáticos registados ao largo do Cabo Sardão
(Dias Diogo, 1999; Alves, Dias Diogo, Cardoso, 2001; Cardoso, 2001) e na foz do rio
Arade (segundo Pimenta, 2005). Na área do estuário do Mondego encontram-se os
pontos mais a Norte onde se identificaram exemplares de ânforas Mañá-Pascual A4,
apenas nas suas variantes mais antigas, dentro da série 11. Nesta região podemos
encontrar destas ânforas em Santa Olaia e no Castro de Taverede (segundo Arruda,
1999/2000, p. 227-244). Na área do estuário do Tejo, para além de Lisboa, só se
identificaram Mañá-Pascual A4 em Santarém, correspondendo a exemplares de
variantes da série 11 (Arruda, 1999-2000, p. 205-212).
É no Algarve que concentram as presenças mais significativas destes contentores
anfóricos no território português. Aqui a sua distribuição estende-se, de um modo geral,
ao longo de toda a região costeira algarvia, estando presente, de ocidente para oriente,
no Monte Molião (Arruda et al., 2008, p. 137-168; Bargão, 2008, p. 168-189), no Cerro
da Rocha Branca (Gomes, 1993), em Faro (Arruda, Bargão e Sousa, 2005; Sousa, 2006,
43
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
p. 92-93), em Tavira (Maia, 2006) e na área do Baixo Guadiana, numa zona interior do
Concelho de Castro Marim, como no Moinho do Carvão (Freitas e Oliveira, 2007).
Assim, á semelhança do que acontece no Mediterrâneo, no actual território
português a dispersão dos achados localiza-se essencialmente na região costeira, ou em
área com relativa facilidade de acesso à costa. Todos os achados situados a Norte da
região algarvia são constituídos por exemplares de variantes mais antigas, dentro da
série 11, com excepção de Lisboa. No Algarve verifica-se uma presença de MañáPascual A4 durante todo o tempo em que esta tipologia foi produzida e comercializada,
estando presentes variantes das séries 11 e 12. Esta situação de maior presença deve
estar relacionada com a proximidade da região algarvia às áreas produtoras gaditanas, o
que reforça a ideia da profunda e intensa ligação socioeconómica entre estas áreas,
conduzindo à hipótese da inclusão da região algarvia na extensa área que compunha o
território turdetano.
44
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
7. – AS ÂNFORAS MAÑÁ-PASCUAL A4 DE CASTO MARIM
7.1 – Composição do conjunto de Castro Marim
Consideradas como ânforas típicas da área do estreito, estes contentores terão
evoluído a partir de modelos anfóricos fenícios anteriores, conhecidos ânforas do tipo
R1, com paralelos em diversos exemplares da série 10 de Ramon Torres (1995, p. 229233).
Em Castro Marim foi possível identificar um conjunto algo volumoso de ânforas
do tipo Mañá-Pascual A4, que correspondem a um grupo de 137 indivíduos
desigualmente distribuídos por oito variantes. Trata-se de um conjunto representativo de
todo o período de produção, comercialização e utilização deste tipo anfórico, desde os
modelos mais antigos, como a variante 11.2.1.3, aos exemplares mais tardios da
variante 12.1.1.1, englobando, de um modo geral, toda a segunda metade do 1º milénio
a.C. Os exemplares mais antigos estão representados pelas variantes 11.2.1.2, 11.2.1.3,
11.2.1.4, 11.2.1.5 e 11.2.1.6, que, em Castro Marim, apresentam cronologias entre o
século V e o IV a.C. Já as formas mais recentes estão representadas pelas variantes
112.1.1.1, 12.1.1.1/2 e 12.1.1.2, cujas cronologias, no sítio algarvio, se centram no
século I a.C.
Á semelhança do que acontece com a maior parte dos materiais pré-romanos de
Castro Marim, as ânforas Mañá-Pascual A4 revelam uma profunda ligação do sítio
algarvio com a área do Estreito de Gibraltar, mais concretamente com a região gaditana.
Desta área são oriundas a quase totalidade das ânforas estudas, repartindo-se entre as
produções da Campiña Gaditana e as da Baía de Cádis, esta últimas melhor
representadas. Paralelamente, as produções que propomos situar no Sul da actual
Andaluzia poderão ter origem numa área próxima da parte continental da referida baia,
possivelmente nas proximidades do rio Guadalete, dado que as características do
referido fabrico apresentam algumas características, segundo análises macroscópicas,
muito similares às produções da Baia de Cádis. Assim, podemos observar que os
fabricos I, II e III, nas suas duas variantes, compõem 93% do conjunto, tornando claro a
profunda ligação de Castro Marim com o mundo gaditano.
45
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
7.1.1 – Variante 11.2.1.2 (Estampa 1)
A variante 11.2.1.2 encontra-se escassamente representada em Castro Marim,
tendo sido apenas identificado um único exemplar desta forma.
Trata-se de uma forma cujo bordo apresenta perfis variáveis, surgindo
maioritariamente com características arredondadas. O corpo, de perfil tendencialmente
bicónico, apresenta características algo rectilíneas e angulares, estando o ombro e a
parte inferior do corpo marcados por uma carena acentuada. As asas, circulares ou
ovaladas, desenvolvem-se ao nível da carena do ombro. A sua cronologia centra-se em
torno ao século V a.C., possivelmente na sua primeira metade, sendo produzida na
região do Estreito de Gibraltar (Ramon Torres, 1995, p. 234-235).
O pequeno exemplar de Castro Marim, um fragmento do bordo, insere-se no
Grupo de Fabrico II, uma produção andaluza. Este surge na fase IV deste sítio algarvio,
num contexto, possivelmente, da primeira metade do século V a.C., proveniente do
Sector 1.
7.1.2 – Variante 11.2.1.3 (Estampa 1, 2, 11 e 12)
A variante 11.2.1.3 encontra-se bem documentada em Castro Marim, com um
total de 28 indivíduos.
Constitui, dentro da ampla família das ânforas Mañá-Pascual A4, variante com a
maior dispersão comercial, podendo ser encontrada praticamente por toda a área
mediterrânica, sendo frequente nos contextos do edifício das ânforas púnicas, em
Corinto, na Grécia (Ibidem, p. 145-146). Foi em exemplares desta variante que foi
possível identificar vestígios directos do conteúdo transportado. Em Corinto foram
associadas ânforas desta variante a diversos restos de peixe, sobretudo atum. Na Plaza
de Asdrúbal, em Cádis, pode-se registar, num contexto de fábrica de produção de
preparados piscícolas, a existência de restos de atum no interior de uma ânfora desta
forma (Ibidem, p. 264).
Nesta forma, os bordos assumem um perfil de tendência triangular. O corpo, na
sua parte superior assume um perfil cónico, apresentando a parte inferior um perfil de
tendência ogival. A região onde se unem as duas partes da ânfora, o ponto de maior
diâmetro, é marcada por uma carena, que por vezes tende a ser pouco acentuada. As
asas, que se desenvolvem a partir da carena do ombro, apresentam-se arredondadas ou
46
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
ligeiramente ovaladas. A sua produção centra-se em ambas as margens da área do
Estreito de Gibraltar, com cronologia que podem oscilar entre os momentos finais do
século VI a.C. e os inícios do século IV a.C. (Ibidem, p. 235-236).
Os
exemplares
de
Castro
Marim
apresentam
uma
produção
quase
exclusivamente gaditana, excepção feita a um exemplar enquadrado no Fabrico Raro I.
Das produções gaditanas, embora estejam todas representadas, destaca-se o Grupo de
Fabrico III, sobretudo na sua variante A, com origem na área da Campiña Gaditana. A
maioria dos seus exemplares encontra-se revestida por uma aguada externa.
Estas ânforas surgem, essencialmente durante a Fase V de Castro Marim, em
contextos balizados entre os inícios do século V e os finais do século IV a.C.,
documentando-se
apenas
um
exemplar num
contexto
da Fase
IV,
sendo
maioritariamente oriundas do Sector 1.
Desta variante pudemos registar no sítio algarvio dois exemplares bem
conservados, os indivíduos 135 e 136, tendo sido possível reconstituir os seus perfis
completos, faltando apenas um pequeno pedaço do fundo do indivíduo 135.
7.1.3 – Variante 11.2.1.4 (Estampa 2, 3 e 4)
A variante 11.2.1.4 encontra-se relativamente bem documentada em Castro
Marim, totalizando 22 exemplares.
Esta forma apresenta um bordo de perfil tendencialmente rectangular, com os
ângulos algo arredondados, marcado na sua parte externa por uma ligeira canelura que o
separa da parede. O corpo, na sua parte superior assume um perfil normalmente cónico,
apresentando a parte inferior um perfil também de tendência cónica. A área onde se
unem as duas partes da ânfora, onde a ânfora possui o maior diâmetro, é marcada por
uma carena, que por vezes tende a ser pouco acentuada. As asas, desenvolvem-se a
partir da acentuada carena do ombro, apresentando-se arredondadas ou de tendência
ovalada. A sua produção centra-se na área do Estreito de Gibraltar, apresentando
cronologias que podem oscilar entre o último terço do século V a.C. e os inícios do
século IV a.C. (Ibidem, p. 236).
Em Castro Marim esta variante apresenta uma produção maioritariamente
oriunda da região gaditana, destacando-se o Grupo de Fabrico II. De notar ainda que o
Grupo de Fabrico IV, com origem Norte africana, provavelmente em Kuass, é apenas
constituído por elementos desta variante, sendo que apenas dois exemplares provêm de
47
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
contextos da Idade do Ferro. Esta variante compõe também o Fabrico Raro 3. Os
exemplares deste modelo apresentam-se igualmente distribuídos entre os que
apresentam uma aguada externa e os que não apresentam qualquer revestimento.
No Castelo de Castro Marim estas ânforas surgem durante a Fase V do referido
sítio, em contextos datados entre a segunda metade do século V e os finais do século IV
a.C., sendo maioritariamente oriundas do Corte e Sector 1.
Neste sítio verificamos a existência de um exemplar do Grupo de Fabrico II, o
individuo 41, que apresenta sinais e deformações relacionadas com uma sobrecozedura.
7.1.4 – Variante 11.2.1.5 (Estampa 4)
A variante 11.2.1.5 encontra-se mal documentada em Castro Marim, tendo sido
identificados apenas quatro exemplares desta forma.
Trata-se de uma forma que apresenta bordos tendencialmente verticais,
geralmente com características triangulares, apresentando uma canelura, quase sempre
ligeira, que os separa da parede. O corpo, na sua parte superior assume um perfil
normalmente cónico, apresentando a parte inferior um perfil de tendência ogival. A área
onde se juntam as duas partes da ânfora, onde a ânfora possui o maior diâmetro, é
marcada por uma carena, que por vezes tende a ser pouco acentuada. As asas
desenvolvem-se a partir da acentuada carena do ombro, apresentando-se arredondadas
ou de tendência ovalada. A sua produção centra-se na área do Estreito de Gibraltar,
apresentando cronologias centradas no último terço do século V a.C. (Ibidem, p. 236237).
Os exemplares de Castro Marim inserem-se nos Grupos de Fabrico I e,
sobretudo, II, produções entorno á região gaditana. Estes exemplares encontram-se
igualmente divididos entre os que apresentam uma aguada externa e os que não
apresentam qualquer revestimento.
Esta variante surge na Fase V deste sítio algarvio, num contexto da segunda
metade do século V a.C., a UE [89] do Sector 1, verificando-se apenas um exemplar
num contexto revolvido de Época Romana.
48
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
7.1.5 – Variante 11.2.1.6 (Estampa 4, 5 e 13)
A variante 11.2.1.6 está representada, em Castro Marim, por um total de oito
indivíduos.
Esta forma apresenta um bordo geralmente com características triangulares,
apresentando uma canelura que o separa da parede. A parte superior corpo apresenta um
perfil normalmente cónico, assumindo a parte inferior um perfil de tendência ogival. A
área onde se unem as duas partes da ânfora, zona de maior diâmetro da ânfora, é
marcada por uma carena, que por vezes tende a ser pouco acentuada. As asas
desenvolvem-se a partir da carena do ombro, apresentando-se arredondadas ou de
tendência ovalada. A carena do ombro apresenta-se pouco acentuada ou, por vezes,
quase inexistente. A sua produção centra-se na área do Estreito de Gibraltar,
apresentando cronologias centradas entre o último quarto do século V a.C. e os inícios
do século IV a.C. (Ibidem, p. 237).
Os indivíduos identificados em Castro Marim inserem-se nas produções da
região gaditana, destacando-se o Grupo de Fabrico I, oriundo da Baia de Cádis. Estes
exemplares encontram-se na sua maioria sem qualquer revestimento.
Esta variante surge na Fase V de Castro Marim, na UE [89], com cronologia da
segunda metade do século V a.C., surgindo por vezes de forma descontextualizada em
níveis romanos.
7.1.6 – Variante 12.1.1.1 (Estampa 5, 6, 7, 8 e 9)
Em Castro Marim, a variante das ânforas Mañá-Pascual A4 melhor documentada
é a 12.1.1.1, representada por um total de 57 exemplares.
Nesta variante, os bordos apresentam-se normalmente com perfis arredondados,
representado, na maioria dos casos, um ligeiro espessamento da parede. O corpo
apresenta uma parte superior troncocónica, revelando a parte inferior um perfil de
tendência ogival. A área onde se juntam as duas partes da ânfora, zona de maior
diâmetro, é marcada por uma carena angular, frequentemente bem marcada. As asas,
que se apresentam arredondadas ou de tendência ovalada, desenvolvem-se a partir da
carena do ombro. A sua produção centra-se na área do Estreito de Gibraltar, mais
concretamente, em regiões do litoral da Andaluzia e de Marrocos. Esta é a variante que
apresenta uma maior diacronia de produção e distribuição, cujas cronologias se situam
49
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
entre os meados do século IV a.C. e, pelo menos, a primeira metade do século I a.C.
(Ibidem, p. 237-238).
Os exemplares identificados em Castro Marim inserem-se exclusivamente nas
produções da região gaditana, sobressaindo expressivamente o Grupo de Fabrico I,
oriundo da Baia de Cádis, sendo que apenas sete indivíduos se inserem no Grupo de
Fabrico II. Dos exemplares desta variante apenas seis apresentam uma aguada externa
de tons claros, representando, na sua totalidade, produções do Grupo de Fabrico I.
Esta variante surge no Castelo Castro Marim em contextos de Época Romana,
com cronologias do século I a.C., que podem ser associados à Fase VI do sítio algarvio,
provindo, na sua quase totalidade da área do Corte 3.
7.1.7 – Variante 12.1.1.1/2 (Estampa 9)
A variante 12.1.1.1/2 está documentada em Castro Marim apenas por um total de
cinco exemplares.
Esta variante, identificada e caracterizada recentemente por Sáez Romero (2002;
2008b) sobretudo com base nos dados de Torre Alta, situa-se num ponto intermédio
entre a variante 12.1.1.1 e a 12.1.1.2, uma vez que reúne características de ambas as
formas. Esta forma apresenta um bordo de um modo geral arredondado, por vezes
ligeiramente espessado internamente, separado da parede por uma canelura junto ao
lábio, característica típica desta variante. O corpo apresenta uma parte superior de
tendência cilíndrica, revelando a parte inferior um perfil ogival. A área onde se juntam
as duas partes da ânfora, zona de maior diâmetro, é marcada por uma carena pouco
acentuada. As asas, que se apresentam arredondadas ou de tendência ovalada,
desenvolvem-se a partir da carena do ombro. A sua produção centra-se na área do
Estreito de Gibraltar, apresentando cronologias centradas entre a segunda metade do
século III a.C. e os inícios do século II a.C. (Sáez Romero, 2002; 2008b).
Em Castro Marim, os indivíduos identificados são maioritariamente oriundos da
região gaditana, estando igualmente distribuídos entre o Grupo de Fabrico I e o II, com
dois exemplares cada. Nesta forma documentou-se ainda um exemplar que constitui o
Fabrico Raro 2. Destes exemplares a maioria não apresenta qualquer revestimento das
superfícies.
No Castelo de Castro Marim os exemplares desta variante surgem
essencialmente em contextos de Época Romana, com cronologias do século I a.C.
50
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Assim, este modelo encontra-se associado à Fase VI da ocupação do sítio, sendo
maioritariamente oriundo do Corte e Sector 1.
7.1.8 – Variante 12.1.1.2 (Estampa 9 e 10)
Em Castro Marim, a variante 12.1.1.2 está documentada por um total de 12
indivíduos.
Nesta variante, os bordos apresentam-se normalmente com perfis arredondados,
apresentado, na maioria dos casos, uma canelura junto ao lábio e um ligeiro
espessamento interno. O corpo apresenta uma parte superior de tendência cilíndrica,
revelando a parte inferior um perfil ogival. A área onde se juntam as duas partes da
ânfora, zona de maior diâmetro, é marcada por uma carena angular, frequentemente
bem marcada. As asas, que se apresentam arredondadas ou de tendência ovalada,
desenvolvem-se a partir de uma zona inferior a uma carena pouco pronunciada que
marca o ombro. A sua produção centra-se na área do Estreito de Gibraltar, tanto na parte
europeia como na Norte africana, surgindo com cronologias entre o último terço do
século III a.C. e a primeira metade do século II a.C. (Ramon Torres, 1995, p. 238-239).
Os exemplares identificados em Castro Marim inserem-se exclusivamente nas
produções da região gaditana, nos Grupos de Fabrico I e II, com destaque para o
primeiro com sete indivíduos. Destes exemplares, a maioria apresenta-se sem qualquer
revestimento das superfícies.
No Castelo Castro Marim, esta variante aparece em contextos de Época Romana,
com cronologias do I a.C. Estes exemplares podem, assim, ser associados à Fase VI do
sítio algarvio, sendo provenientes, na sua quase totalidade, da área do Corte 3.
7.2 – Análise do conjunto de Castro Marim
No Castelo de Castro Marim podemos observar, de um modo geral, a evolução
da extensa família das ânforas Mañá-Pascual A4, desde os primeiros exemplares, que
chegam ao sítio algarvio durante a primeira metade do século V a.C., até aos modelos
mais evoluídos, que aí chegam já em Época Romana, em momento avançado do século
I a.C. Assim, podemos dividir em dois momentos, ou fases, a importação de ânforas
Mañá-Pascual A4 para Castro Marim. Um primeiro momento, centrado no século V
a.C., onde chegam os primeiros exemplares dos modelos mais antigos, e uma segunda
51
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
fase, no século I a.C., quando Castro Marim recebe os exemplares mais evoluídos desta
família anfórica, já associados a materiais de tipologia romana.
Nesta primeira fase, a importação de ânforas Maña-Pascual A4 é composta pelas
cinco variantes da série 11 identificadas, que surgem em Castro Marim entre os séculos
V e o IV a.C., das quais se destacam as variantes 11.2.1.3 e 11.2.1.4. Estas importações
são marcadas por uma relativa variedade quer ao nível das formas, quer ao nível dos
fabricos importados, estando presentes cinco variantes formais e todos os quatro Grupos
de Fabrico identificados e os Fabricos Raros 1 e 3. Apesar da variedade de variantes e
fabricos identificados não foi possível identificar uma associação entre forma e fabrico,
com excepção do Grupo de Fabrico IV, exclusivamente representado por exemplares da
variante 11.2.1.4.
Apesar de serem associadas ao transporte de preparados piscícolas, neste
momento podemos verificar alguns exemplares possivelmente relacionados com o
transporte de produções agrícolas, que muito provavelmente se trataria de vinho. Esta
hipótese está relacionada com a existência de exemplares das variantes 11.2.1.3,
11.2.1.4 e 11.2.1.6 produzidos na Campiña Gaditana. Estes exemplares, ligados com os
momentos iniciais da produção desta tipologia anfórica, devem estar relacionados com
uma etapa de alguma indefinição da função da forma, resultando, assim, numa
utilização bivalente.
A semelhança do que acontece com outros materiais, as ânforas Mañá-Pascual
A4 deste primeiro momento revelam uma importante ligação com a região gaditana,
estando melhor documentados os Grupos de Fabrico I, II e III, que correspondem a
produções da Baía de Cádis, do Sul da actual Andaluzia e da Campiña Gaditana,
respectivamente.
Entre, possivelmente, os finais do século IV a.C. e o século II a.C. não foi
possível verificar, em Castro Marim, a importação de contentores anfóricos desta
tipologia. Esta ausência poderá estar relacionada, mais do que com um abandono, com
uma retracção do povoado em termos populacionais e/ou económicos, ou com uma
deslocação da implantação do povoado na área do cerro do castelo. Associado a esta
hipótese apresenta-se a aparente deslocação da ocupação romana para uma área mais
central do cerro, sendo os seus vestígios maioritariamente oriundos da área do Corte 3,
enquanto a presença da Idade do Ferro está maioritariamente documentada na área do
Corte e Sector 1.
52
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Na passagem para a segunda fase de importação de ânforas Mañá-Pascual A4
para Castro Marim, no século I a.C., assistimos a uma certa especialização quer das
formas comercializadas, quer dos fabricos identificados. Neste momento regista-se a
importação de três variantes da série 12, a variante 12.1.1.1, a 12.1.1.1/2 e a 12.1.1.2,
estando as duas últimas relativamente mal documentadas. No que se refere aos fabricos
identificados, eles provêm, com excepção do exemplar do Fabrico Raro 2,
exclusivamente da região gaditana, estando representados os Grupos de Fabrico I e II,
destacando-se expressivamente o primeiro. Desta forma, verificamos nesta fase a
importação maioritária da variante 12.1.1.1, que domina, também, o conjunto das
ânforas estudadas, sendo sobretudo provenientes dos centros oleiros da Baía de Cádis.
Reforçando o que se tinha verificado anteriormente, durante este momento
verificamos um intensificar das relações comerciais com a região de Cádis,
documentando-se durante o Período Romano Republicano o auge da importação de
contentores anfóricos a partir desta área. O que documenta a profunda ligação do sítio
algarvio com o Mundo Turdetano, em especial com a Baía de Cádis, que se inicia
durante a Idade do Ferro, para não mais esmorecer, antes intensificar-se durante o
Período Romano, como acontece com as ânforas Mañá-Pascual A4.
Assim, esta longa família anfórica vai evoluir ao longo de, praticamente, toda a
segunda metade do 1º milénio a.C. Isto conduziu ao desenvolvimento de nove variantes,
marcadas por alguma heterogeneidade dos perfis dos bordos, especialmente visível nos
modelos mais evolucionados da série 12, estando, neste caso, possivelmente relacionado
com o desenvolvimento de um maior número de centros oleiros produtores destas
ânforas.
53
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
8. – CONSIDERAÇÕES FINAIS
8.1 – As ânforas Mañá-Pascual A4 em Castro Marim: Leituras e significados
No Castelo de Castro Marim, as ânforas Mañá-Pascual A4 surgem em torno ao
século V a.C., estando bem representadas pelas várias variantes da série 11, em especial
as variantes 11.2.1.3 e 11.2.1.4. Neste sítio encontra-se bem documentado todo o
período de produção e utilização desta família anfórica, desde os referidos modelos
iniciais, até aos modelos mais tardios, que surgem ainda durante a segunda metade do
século I a.C.
Este sítio algarvio apresenta uma ocupação da Idade do Ferro que remonta ao
século VII a.C., destacando-se, contudo, o esplendor alcançado durante o século V a.C.
Neste momento podemos observar a chegada a Castro Marim de um abundante
conjunto de material importado, dos quais se destacam as cerâmicas áticas (Arruda,
1997a) e os produtos envasados em ânforas, onde se incluem as Mañá-Pascual A4. É
durante este período que se inserem os exemplares mais antigos desta forma em Castro
Marim. Podendo estender-se a meados do século IV a.C., estes surgem, de um modo
geral, associados contextualmente a materiais como cerâmica ática, cerâmica de engobe
vermelho, cerâmica pintada ou ânforas como as B/C de Pellicer.
Entre os finais do século IV e século II a.C. a informação sobre as ânforas MañáPascual A4, mais concretamente os exemplares iniciais da série 12, é pouco clara, sendo
também pouco expressivos os exemplares que possivelmente se enquadram dentro do
século IV a.C. Estas ânforas, da série 12, apenas surgem em contextos Romanos
Republicanos, associadas, de modo geral, a materiais como cerâmica campaniense ou
cerâmica de paredes finas. Esta aparente ausência pode relacionar-se com o
conhecimento pouco claro do sítio durante este período. Aparentemente, durante o
século III a.C. o povoado parece ter sido abandonado, para voltar a ser ocupado apenas
durante o período tardo-republicano (Arruda, 1999/2000, p. 42-43). Este momento de
abandono pode ter sido provocado por uma deslocação do povoado para uma área
diferente do topo do castelo. Tal deslocação pode observar-se na diferença entre a
ocupação do Corte e Sector 1, maioritariamente da Idade do Ferro, e a do Corte 3,
donde provêm a maioria dos dados do Período Romano. Esta diferenciação parece fazer
supor que na transição da Idade do Ferro para o Período Romano o povoado mudou o
seu posicionamento na topografia do Castelo de Castro Marim. Assim, esta falta de
54
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
informação pode estar relacionada
com uma provável deslocação do
ponto de povoamento, assim como
uma
possível
volume
de
contentores
diminuição
importação
anfóricos
do
destes
face
à
continua comercialização de outros
recipientes,
Pellicer,
como
por
as
B/C
exemplo,
de
cujos
modelos mais tardios poderão ter
circulado durante este período,
sendo possível que transportassem
conteúdos semelhantes.
Figura 17 – Distribuição cronológica dos materiais.
Mas, é durante o Período Romano que se verifica o auge da importação destes
contentores anfóricos, mais concretamente em Época Romana Republicana. Neste
período surgem, de forma abundante, em contextos datados da segunda metade do
século I a.C., com especial destaque para os exemplares da variante 12.1.1.1,
maioritários no conjunto. Nestes contextos assite-se á chegada a Castro Marim de
materiais como a cerâmica campaniense ou a cerâmica de paredes finas, ás quais
surgem associados os exemplares mais tardios das ânforas Mañá-Pascual A4.
Esta presença mais significativa deve estar relacionada com um novo incremento
da capacidade económica de Castro Marim, assim como da sua aproximação com a
região gaditana. Pois, embora a produção, e consequente exportação, de preparados
piscícolas da Baía de Cádis verifique, entre o século II e I a.C., um período de
diminuição, com o abandono de um número considerável de fábricas de preparados
piscícolas púnicas, tal como acontece com os centros oleiros (Garcia Vargas e Ferrer
Albelda, 2006), neste período regista-se em Castro Marim um considerável aumento da
presença de ânforas Mañá-Pascual A4, associados a materiais de tipologia romana,
possivelmente redistribuídos a partir da Baía Gaditana.
A profunda ligação à região gaditana é bem visível durante vários momentos da
ocupação de Castro Marim, que podem ser bem documentados pelas ânforas MañáPascual A4, presentes no sítio algarvio desde o século V a.C. As produções oriundas da
Baía de Cádis constituem 50 % do conjunto. Se a estas produções juntarmos os fabricos
que provêm da área da região gaditana, concretamente os Grupos de Fabrico II e III,
55
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
estes totalizam 93 % do conjunto estudado, sendo que, o Grupo de Fabrico I é dominado
expressivamente por exemplares de modelos mais recentes, o Grupo de Fabrico II
apresenta uma maioria de exemplares de modelos mais antigos, e o Grupo de Fabrico III
é apenas constituído por exemplares das variantes 11.2.1.3, 11.2.1.4 e 11.2.1.6. Esta
relação de grande proximidade pode ser observada ao nível dos espólios cerâmicos, que
se apresentam muito semelhantes, não só nas várias produções gaditanas, como em
materiais de origens mais longínquas, como a cerâmica ática, que terá chegado ao sítio
algarvio possivelmente através de uma redistribuição a partir de Cádis. Factores como
os critérios de implantação dos povoados e as características arquitectónicas desses
mesmos povoados, associadas à cultura material encontrada, aproximam a região
algarvia do horizonte cultural e económico do território gaditano, podendo estender-se a
área da Turdetânia também ao actual território algarvio, e não apenas às margens do
Guadiana.
Para além destas produções da região gaditana, pudemos identificar um fabrico,
o Grupo de Fabrico IV, possivelmente oriundo do Norte de África, muito
provavelmente de Kuass. Trata-se de uma produção cuja característica principal é a
abundante presença de calcites, característica que se pode encontrar nos materiais
produzidos em Kuass, para além de se ter identificado a produção nesse sítio
marroquino de diferentes variantes das ânforas Maña-Pascual A4, tanto modelos antigos
como variantes mais recentes (Alaoui, 2007, p. 65-100). Em Castro Marim, este Grupo
de Fabrico é constituído apenas por exemplares da variante 11.2.1.4. Estes apresentam
uma cronologia centrada entre a segunda metade do século V e os finais do século IV
a.C., embora também surjam, descontextualizadas, em níveis de Época Romana e
Moderna, estando, assim, associados aos primeiros momentos de importação desta
forma no sítio algarvio.
A identificação de três Fabricos Raros não permitiu a aferição de grandes
conclusões, pois trata-se de materiais representativos de diferentes variantes, surgindo
descontextualizados, ou em contextos pouco claros. Assim como a presença de engobe,
que embora minoritária no conjunto, está presente em todos os Grupos de Fabrico,
sendo, contudo, maioritária nos Grupos de Fabrico III e IV.
No que se refere às variantes encontradas, em Castro Marim regista-se, de um
modo geral, todo o desenvolvimento da família anfórica Mañá-Pascual A4, desde os
modelos mais antigos, a partir dos inícios do século V a.C., às variantes mais tardias, já
em Época Romana, dentro da segunda metade do século I a.C.
56
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Embora não domine o conjunto, a série 11 encontra-se bem documentada, em
especial pelas variantes 11.2.1.3 e 11.2.1.4. São estes contentores mais antigos que
marcam o inicio da importação, em Castro Marim, dos preparados piscícolas envasados
nestas ânforas. Esta primeira fase de importação de ânforas Mañá-Pascual A4 para
Castro Marim está balizada entre os inícios do século V e os finais do século IV a.C.
Este período é marcado por um maior número de variantes formais, sempre dentro da
série 11, assim como uma maior dispersão pelos vários Grupos de Fabrico identificados,
não se registando, com excepção do Grupo de Fabrico IV, uma associação entre
variante e fabrico. Assim, durante este período, Castro Marim é abastecido de
preparados piscícolas com uma origem variada, embora predominem as produções
provenientes da região gaditana.
Neste período foi possível identificar um Grupo de Fabrico cuja proveniência se
deve situar na região da Campiña Gaditana. Trata-se de um registo pouco frequente,
não abundando as referências a este acontecimento. Esta produção é constituída
exclusivamente por elementos da série 11, mais concretamente as variantes 11.2.1.3,
11.2.1.4 e 11.2.1.6, com cronologias dentro do século V a.C., estando, por isso,
associado a um momento inicial da produção desta tipologia anfórica. Uma vez que tem
origem numa zona interior da região gaditana, a sua produção não deve estar
relacionada com a produção e exportação de preparados piscícolas, pois parece pouco
provável que estas ânforas fossem produzidas numa zona interior para apenas serem,
posteriormente, utilizadas numa área costeira para o envase e transporte de produções
piscícolas. Assim, a produção destas ânforas deve estar relacionada com o transporte de
alguma produção agrícola das férteis terras da Campiña Gaditana, que muito
provavelmente seria o vinho. Para tal parecem apontar os dados do povoado do Castillo
Doña Blanca e sua área envolvente, uma vez que aí se registou a produção de ânforas
Mañá-Pascual A4, para além de se ter verificado a associação de exemplares desta
tipologia associados a lagares, possivelmente utilizados na produção de vinho (García
Vargas, 1998, p. 203; Ruíz Mata e Niveu de Villedary y Mariñas, 1999). Assim, ao se
tratar de um momento inicial da produção destas ânforas, estes fabricos interiores
permitem identificar uma fase de alguma indefinição desta tioplogia anfórica, prévia a
sua definição como caracterisitico contentor para o transporte de preparados piscicolas.
Nesta fase as ânforas Mañá-Pascual A4 apresentam-se como um recipiente bivalente,
utilizado no transporte de preparados piscicolas e, ainda que de forma minorítaria, no
transporte de vinho produzido na Campiña Gaditana.
57
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Durante o século IV a.C., a importação de ânforas Mañá-Pascual A4 diminui
consideravelmente, tornando-se escassos os exemplares desta tipologia anfórica, vindo a
desaparecer no século seguinte. Esta diminuição de importações deve estar relacionada
com um período de menor esplendor de Castro Marim, cuja capacidade económica
poderia não ser suficiente para manter os níveis anteriormente conhecidos. Durante o
século III a.C. o povoado parece ter sido abandonado, ou, possivelmente, deslocado no
área do cerro do castelo.
A partir do século I a.C., sobretudo já na sua segunda metade, volta a verificarse a chegada de exemplares de ânforas Mañá-Pascual A4 ao Castelo de Castro Marim.
Estes novos contentores vão revelar uma menor dispersão dos centros oleiros de origem,
centrando-se, essencialmente, nas produções da Baía de Cádis, caracterizadas no Grupo
de Fabrico I, verificando-se ainda a presença de exemplares do Grupo de Fabrico II,
com origem, possivelmente, numa área próxima da baía gaditana. Esta segunda fase de
importação de ânforas Mañá-Pascual A4 em Castro Marim está relacionada com um
novo momento de esplendor, marcado pela grande quantidade de material importado.
Neste período, já dentro da Época Romana Republicana, assistimos à frequente
presença de materiais claramente romanos, como a cerâmica campaniense ou a cerâmica
de paredes finas, assim como a existência de materiais que mantém tradições anteriores,
como as ânforas Mañá C2 ou a cerâmica de tipo Kuass (Arruda, 1999/2000, p. 43;
Figura 18 – Distribuição dos Grupos de Fabrico pelas variantes formais.
58
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Arruda, et al., 2006; Sousa, 2006). É neste contexto de materiais de tradição púnica que
se inserem os modelos mais tardios das Mañá-Pascual A4, incluindo-se nas diferentes
variantes da série 12. Estes exemplares surgem, assim, em contextos do Período
Romano Republicano, possivelmente desde meados do século I a.C. Tal cronologia
pode relacionar-se com a escassa presença de exemplares das variantes 12.1.1.1/2 e
12.1.1.2, cuja cronologia de produção se centra entre o século III e II a.C. (Ramon
Torres, 1995, p. 238-239; Sáez Romero, 2002; 2008b). É neste segundo momento, em
que se intensifica a importação de Mañá-Pascual A4 para Castro Marim, atingindo-se,
assim, o auge da presença destes contentores anfóricos no sítio algarvio. Este momento
de maior actividade é representado pelas formas mais evoluídas desta família anfórica,
que correspondem a 54 % do conjunto, com especial destaque para a variante 12.1.1.1.
Os preparados piscícolas, assim como produções agrícolas como o azeite, o
vinho e os cereais, constituiriam a base da alimentação das populações de características
mediterrânicas, onde se inclui a população de Castro Marim, durante a antiguidade.
Assim, verificamos que ao longo da segunda metade do 1º milénio a.C., ainda que com
um ritmo irregular, Castro Marim foi receptor de preparados piscícolas envasados em
ânforas Mañá-Pascual A4. Este facto parece contrastar com a possibilidade de uma
produção local de preparados piscícolas. Embora não se registe durante o período préromano indícios directos de produção de preparados piscícolas, como estruturas
destinadas a essas actividades, os vestígios indirectos que apontam para essa existência
são algo frequentes. Verifica-se, em Castro Marim, a presença frequente de restos
ictiológicos de diferentes espécies de peixe, com destaque para espécies de grandes
dimensões, como o atum, o golfinho ou o tubarão (Arruda, 2006, p. 393). Associados a
estes restos faunísticos foram encontrados utensílios relacionados com a prática
piscatória, com destaque para os pesos de rede e anzóis que, aparentemente, se
destinavam à pesca de animais de grande porte. Assim, é de supor que a exploração dos
recursos marinhos obteve um importante papel na economia de Castro Marim na
antiguidade, sendo provável que parte do fruto desta actividade piscatória,
nomeadamente a pesca de espécies de grande porte, como o golfinho ou o atum, se
destinariam a uma possível indústria conserveira. Esta possível actividade produtora de
preparados piscícolas necessitaria, para além de quantidades significativas de peixe, de
um abundante abastecimento de sal, imprescindível para a elaboração dos diversos
preparados à base de peixe. Embora seja muito difícil de documentar, é provável que o
sal marinho tenha sido explorado na área de Castro Marim desde momentos muito
59
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
recuados, cuja área envolvente se apresenta propicia para o desenvolvimento desta
actividade, que pode, ainda actualmente, ser observada (Figura 19). Desta forma estão
reunidas as condições necessárias para a existência de uma actividade relacionada com a
produção de preparados piscícolas, estando Castro Marim bem servido das matérias
primas necessárias para essa indústria, o peixe e o sal. Até ao momento não foi, ainda,
possível identificar os vestígios arquitectónicos dessa unidade conserveira.
Figura 19 – Salina em Castro Marim.
Apesar de, provavelmente, terem sido produzidos preparados piscícolas na área
de Castro Marim durante a Idade do Ferro, as ânforas destinadas ao transporte destes
produtos dominam no conjunto dos contentores anfóricos, tanto durante a Idade do
Ferro como em Época Romana, sendo maioritariamente provenientes da região
gaditana, sobretudo produções de costeiras. (Arruda, 2006; Arruda, et al., 2006). Esta
ligação com área de Cádis visível pelo menos desde o inicio da ocupação da Idade do
Ferro em Castro Marim, no século VII a.C., perdurou durante a ocupação do sítio na
antiguidade, sendo mais expressiva na II Idade do Ferro e em Época Romana
Republicana.
Esta ligação com o território da actual Andaluzia Ocidental é sobretudo visível
pela abundante importação de produtos oriundos dessa região, destacando-se o
relacionamento com a Baía de Cádis. Desta área provêm diferentes materiais de
produção local, como a cerâmica de tipo Kuass, assim como materiais redistribuídos a
partir de Cádis, como a cerâmica ática. Para além disso chegam também a Castro Marim
produtos alimentares envasados em ânforas, com especial destaque para os preparados
piscícolas, onde se inserem as ânforas Mañá-Pascual A4. Para além de apresentar uma
mesma cultura material, Castro Marim e o restante território algarvio apresentam fortes
semelhanças ao nível do tipo de implantações, características arquitectónicas e
economia, permitindo supor que o Algarve corresponderá, durante a Idade do Ferro, a
uma extensão para ocidente do território a Este do Guadiana, inserindo-se, assim, no
espaço da Turdetânia (Arruda, 1999/2000; 2001; 2006; Sousa, 2006; Arruda, Freitas e
Oliveira, 2007).
60
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
A barreira formada pela serra, de difícil passagem, conduziu a um isolamento e
individualização do actual território algarvio. Inserido no que Orlando Ribeiro (19987)
designou de «Portugal Mediterrânico», o Algarve revelou-se propenso a contactos por
via marítima. Assim, dadas as suas características e posição geográfica, a fachada litoral
algarvia potenciou os contactos marítimos, sobretudo de carácter comercial, com a
região andaluza, especialmente com a Baía de Cádis, e, em menor escala, com o
território norte africano a ocidente do Estreito de Gibraltar. Contactos bem
documentados pelo abundante espólio arqueológico registado ao longo do território
algarvio, como é o caso do Castelo de Castro Marim.
Já durante o Período Romano, mais concretamente em Época Tardo
Republicana, continuam a chegar a Castro Marim, com bastante frequência, materiais
importados, sobretudo da região gaditana, que continuam tradições púnicas anteriores.
Esta persistência pode ser observada ao nível da importação de cerâmica de tipo Kuass
(de Sousa, 2006), mas sobretudo no conjunto dos contentores anfóricos, onde
continuam a sobressair os recipientes destinados ao transporte de preparados piscícolas,
como as ânforas Maña C2, as 9.1.1.1 ou os exemplares das Mañá-Pascual A4 evoluídas,
da série 12 (Arruda, et al., 2006). Esta persistência de formas de tradição anterior,
maioritariamente oriundas da Baía de Cádis, pode estar relacionada com a longa
tradição de produção oleira da região, cujas formas foram evoluindo até serem
substituídas por modelos totalmente romanizados.
Estes modelos mais evoluídos compõem, ainda que forma pouco expressiva, a
maioria dos exemplares desta longa família anfórica, revelando neste momento final da
sua produção e distribuição uma tentativa de especialização ao nível formal, assim
como também uma relativa especialização ao nível dos centros produtores. Assim,
verifica-se um menor número de variantes formais, com destaque para a variante
12.1.1.1, ainda que os exemplares apresentem uma relativa heterogeneidade ao nível da
forma dos bordos.
Desta forma, as ânforas Mañá-Pascual A4 vão caracterizar genericamente, ainda
que não em exclusivo, a importação de preparados piscícolas para o Castelo de Castro
Marim durante a segunda metade do 1º milénio. Estas ânforas demonstram, à
semelhança do que aconteceu com outros materiais importados, a profunda ligação de
Castro Marim com a Baía de Cádiz, revelando-se um importante centro receptor das
produções e redistribuições provenientes de Cádis.
61
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
Deste modo, a capacidade económica de Castro Marim deveria ser elevada para
sustentar um ritmo tão acentuado de importação de bens alimentares e materiais. Como
já foi referido a actividade piscatória deverá ter ocupado um papel importante na
economia de Castro Marim, ao qual se pode associar a recolecção de moluscos, bem
documentada pela presença de fauna malacológica. Também a tecelagem deve ter
adquirido uma relativa importância, uma vez que esta actividade se encontra bem
documentada por diversos pesos de tear, cossoiros e agulhas. Mas a principal fonte de
riqueza de Castro Marim deve ter provido do interior alentejano, rico em minérios. Esta
importância pode também relacionar-se com as características da sua implantação, que,
simultaneamente com Mértola, controlariam o acesso e o escoamento comercial das
riquezas minerais do interior, assim como redistribuiriam por essa mesma região
interior diferentes produtos importados, na sua maioria de Cádiz, assim como,
possivelmente, algumas das suas produções (Sousa, 2006, p. 119-120).
62
Daniel Santos
As ânforas pré-romanas do tipo Maña-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim.
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As ânforas pré-romanas do tipo Mañá