Marcelo Maraschin Laboratório de Morfogênese e Bioquímica Vegetal, Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis/SC. [email protected] Engenharia do PESQUISA Robert Verpoorte Division of Pharmacognosy, Leiden/Amsterdam Center for Drug Research, Leiden University, Leiden, The Netherlands. [email protected] Foto cedida pelos autores METABOLISMO SECUNDÁRIO Otimização da produção de metabólitos secundários em culturas de células vegetais esde os tempos antigos as 12.000/g, respectivamente. Todavia, além alguns grupos taxonômicos, não sendo plantas vêm sendo utilizado alto valor agregado que algumas considerados essenciais ao metabolismo das nas sociedades humadrogas de origem vegetal apresentam, basal da célula vegetal, donde surge a nas com propósitos teraesta área demonstra um grande potencidenominação metabólitos secundários. pêuticos, sendo que suas al no que concerne ao desenvolvimento No âmbito da interação planta/ambiente propriedades tóxicas ou curativas foram de novos medicamentos, uma vez que a (efeito atrativo/repulsivo a microrganisdescobertas pelo homem principalmendiversidade química associada à diversimos, insetos, vertebrados, plantas, etc.), te enquanto este buscava por alimento. dade biológica encontrada em ecossistedesempenham um importante papel, De fato, o conhecimento etnobotânicomas terrestres e aquáticos, é um imporgarantindo a sobrevivência das espécies farmacológico acumulado ao longo de tante aspecto a ser considerado em no ecossistema. Adicionalmente, metagerações tem servido como base para o processos e diretrizes de desenvolvibólitos secundários são utilizados em desenvolvimento de fármacos escala industrial para a prode grande importância, tais dução de inseticidas, coranAjmalicina Quinina como : digoxina, quinina, mortes, flavorizantes, aromatizanfina, hiosciamina, ácido salicítes e medicamentos. Exemlico e artemisina. Neste conplos de metabólitos secundátexto, os metabólitos secundários de grande importância rios vegetais apresentam um na indústria farmacêutica são grande valor do ponto de vista mostrados na Figura 1. A dessocial e econômico e, como peito do alto valor econômiexemplo, na década de 80 foco de alguns destes biofármaram identificados 121 composcos, baixos níveis de produtitos de origem vegetal, provevidade têm sido usualmente nientes de 95 espécies, os quais encontrados nos sistemas de têm sido usualmente empregaprodução agrícola convencidos como terapêuticos nos paonais, decorrentes de uma íses ocidentais. Além disso, do série de motivos. Tal fato gera total de medicamentos aprovaa necessidade de desenvolMorfina Taxol dos no período 1983-1994, 6% ver sistemas alternativos de são obtidos diretamente de esprodução e, neste contexto, o Figura 1: Estrutura molecular de metabólitos secundápécies vegetais, sendo denocultivo de células e tecidos rios vegetais utilizados como biofármacos minados produtos naturais, 24% vegetais tem sido considerasão compostos derivados e 9% do como um sistema de alto foram desenvolvidos a partir de commento de novos biofármacos. Como potencial para a superação desse propostos vegetais cuja estrutura molecular estimativa, cerca de 110.000 compostos blema, embora algumas dificuldades conserviu como unidade precursora em têm sido identificados até o presente, cernentes à sua viabilidade econômica processos de síntese. sendo que deste total, os terpenóides ainda não tenham sido superadas. Do ponto de vista econômico, podeconstituem o maior grupo [~ 33.000 Em função disso, diversas estratégias se mencionar os alcalóides indólicos compostos], seguidos pelos alcalóides têm sido empregadas objetivando auterpenoídicos vincristina (utilizado no [~16.000 compostos] (1). Anualmente, mentar os valores de produtividade de tratamento de leucemia) e vinblastina 4000 novos compostos de origem vegecompostos bioativos em sistemas de (usado na terapia de corio-carcinomas e tal têm sido relatados, com uma tendêncultura de células e tecidos vegetais, na doença de Hodgkins) de Catharancia de crescimento para este valor. Como incluindo a manipulação epigenética, a thus roseus, os quais têm seus valores de característica geral, tais compostos moselucidação de vias biossintéticas e a mercado estimados em US$ 6.000 e tram um padrão de ocorrência restrito a aplicação de técnicas de biologia mole24 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento cular, segundo uma abordagem de engenharia de vias metabólicas. O presente artigo enfoca algumas estratégias frequentemente adotadas quando se busca a otimização da produção de metabólitos secundários em sistemas de culturas de células vegetais. (A) Manipulação epigenética Provavelmente, a primeira estratégia utilizada para otimizar a produção de metabólitos secundários em cultivos celulares vegetais foi a manipulação epigenética. Tal estratégia considera a identificação e seleção de linhagens celulares de maior potencial produtivo, otimização do meio de cultura, manipulação de fatores de ambiente (intensidade luminosa, fotoperíodo, temperatura, CO , 2 O , e.g.), a influência do nível de dife2 renciação celular, a adição de inibidores ou precursores ao meio de cultura e a elicitação. Identificação, seleção clonal e otimização do meio de cultura: Ao longo das últimas décadas, vários relatos têm sido feitos na literatura mostrando incrementos na produção de metabólitos secundários através da identificação e seleção de linhagens celulares com maior potencial de biossíntese/acúmulo de metabólitos secundários. A seleção de clones celulares pode ser feita através da adição de compostos tóxicos (ácido nicotínico, e.g.) ou seletivos ao meio de cultura, os quais atuam de modo a permitir apenas a sobrevivência de células com maior capacidade de metabolização do intermediário, ou ainda através de alterações nos fatores ambientais. Todavia, com relativa frequência e de modo espontâneo, observa-se a expressão de variação genética em linhagens selecionadas, de modo que o potencial de biossíntese do(s) composto(s) de interesse é uma característica instável. As razões que determinam tal fato não são claramente conhecidas até o presente momento. A hipótese baseada na variação genética e seleção celular (2) tem sido proposta com o intuito de explicar a heterogeneidade/instabilidade observada em culturas de células vegetais quanto à produção de metabólitos secundários. Buscando superar tal problema, a identificação de clones de maior produtividade tem sido feita através do cultivo de protoplastos (single cell), ou de pequenos agregados celulares (cell nursery culture) em programas de longa duração. Os resultados indicam que para algumas espécies esta abordagem possi- (B) Figura 2. Estruturas de fitoanticipinas constitutivas encontradas em células de (a) Sorghum bicolor e (b) Cicer arietinum. As antocianinas pelargonidina e cianidina têm ação protetora contra radiação UV, enquanto as isoflavonas formononetina (FGM) e biochanina A (BGM) são inibidores de infecção fúngica (Lo & Nicholson, 1998 e Barz & Mackenbrock, 1994) bilitou a obtenção de linhagens com alto potencial produtivo e estáveis, como no caso de berberina e antocianina em cultivos celulares de Coptis, Thalictrum e Euphorbia, respectivamente. A superação da instabilidade neste sistema é atribuída à redução da heterogeneidade genética nos cultivos ao longo dos sucessivos subcultivos. A otimização da composição do meio de cultura se mostra como uma estratégia efetiva para a obtenção de incrementos de produtividade de metabólitos secundários in vitro. A literatura disponível ilustra este aspecto enfocando a utilização de constituintes de natureza orgânica ou inorgânica. Contudo, um meio de cultura que ofereça condições ótimas ao incremento da biomassa celular é, via de regra, antagônico à síntese do(s) composto(s) de interesse. Em função disto, o estabelecimento de um meio de cultura adequado simultaneamente ao crescimento celular e à produção é bastante difícil. Um sistema de produção envolvendo dois estágios tem sido proposto (3) como estratégia para superar a condição de antagonismo entre o crescimento celular/biossíntese metabólitos secundários. Este sistema consiste no cultivo celular em meio de crescimento,inicialmente, de modo a favorecer o máximo acúmulo de biomassa, seguido pela transferência para o meio de produção, onde a biossíntese do(s) metabólito(s) de interesse é favorecida. Incrementos de produtividade de 84% e 47% para o triterpenóide velutinol A e seu derivado glicosilado MV8612 foram obtidos em cultivos celulares de Mandevilla velutina (4) com a utilização deste sistema. Entretanto, como regra geral, esta abordagem somente funciona se um nível basal do composto de interesse estiver presente no cultivo celular. Se as células não sintetizam o composto, como no caso de morfina, hiosciamina e vinblastina, tal estratégia, de fato, não poderá ser utilizada. Adição de precursores : Em diversos cultivos celulares a produção de metabólitos secundários pode ser positivamente afetada pela adição de intermediários da via biossintética. Como exemplo disto, culturas de células de Catharanthus roseus suplementadas com secologanina mostraram elevação nos teores de estrictosidina, o precursor comum na biossíntese de alcalóides indólicos monoterpenoídicos (5). Resultados similares foram encontrados com a adição de L-Triptofano, com uma resposta tempo-dependente, enquanto a produção de ajmalicina não foi afetada. É interessante mencionar três aspectos básicos ao se considerar esta metodologia como estratégia para a obtenção de incremen- (A) Brassilexina (B) Orizalexina A (C) Micosinol Figura 3. Estrutura química de fitoalexinas produzidas por células de (a) Brassica, (b) Oryza e (c) Coleostephus como resposta à infecção por microrganismos (Keen, 1990). Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento 25 tos de produtividade de metabólitos de interesse: a) a concentração do substrato; b) o metabólito de interesse é (ou não) um produto final da via biossintética; c) a capacidade celular de acúmulo do composto. No primeiro caso, a adição de precursor(es) pode induzir aumentos de produção do composto bioativo, na medida em que permite superar a pequena disponibilidade de substrato no meio de reação, especialmente quando a arquitetura da via biossintética é linear, como no caso da maioria das vias de biossíntese de metabólitos secundários conhecidas. Em segundo lugar, se o metabólito alvo não é um produto final da via biossintética, a taxa de seu catabolismo pode tornar inefetiva a adição de precursor(es). Neste contexto, tem sido demonstrado que a taxa de síntese e de degradação de ajmalicina são similares em culturas celulares de Catharanthus roseus, de modo que não foi observado acúmulo deste alcalóide em cultivos suplementados com precursor. A curta meia-vida de compostos na planta, como observado para nicotina (22 horas) e morfina (7,5 horas) reforça a importância deste aspecto. A capacidade celular de acúmulo de metabólitos secundários não tem sido estudada em profundidade até o presente momento. Contudo, é esperado haver um limite de acúmulo destes compostos, o que influencia a produtividade dos cultivos. Como exemplo, a produção de antocianinas em cultivos celulares de Catharanthus roseus é dependente da percentagem de células produtoras, quando todas as células têm similar conteúdo daquele composto. Células diferenciadas: Como regra geral, em plantas há uma grande correlação entre citodiferenciação e metabolismo secundário, Um aumento de 4-6 vezes no teor de alcalóides (voafilina, aparicina, and 3S-hidroxi-voacangina), concomitante a um incremento no nível de diferenciação celular foi observado em culturas celulares de Tabernaemontana pandacaqui (6). A ocorrência de estruturas compacto-globulares (agregados celulares exibindo um alto grau de diferenciação) foi observada em cultivos de Tabernaemontana and Cinchona, os quais produziram quantidades bastante superiores dos alcalóides aspidospermatanos valesamina e O-acetilvalesamina e de quinina, respectivamente, em relação ao controle. Ao longo da última década, o cultivo de meristemas e raízes recebeu grande atenção quanto ao seu potencial como sistema produtor 26 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento cas (biorreatores com nebulização, e.g.), dificultando a produção de biomassa em larga escala, com um consequente aumento nos custos de produção. Figura 4. Estrutura de oligossacarídeos elicitores isolados de parede celular de (a) plantas e fungos (b, c, e d). O grau de polimerização (n) varia de 11 a 14 (Hahn et al., 1992) de compostos bioativos. Os resultados têm demonstrado valores de produtividade nos cultivos semelhantes aqueles observados na planta ex vitro, ou mesmo valores mais elevados, via manipulação epigenética. Uma metodologia que tem despertado grande interesse neste contexto é a transformação genética de (A) (B) Figura 5. Aspectos estruturais de moléculas sinalizadoras em células vegetais: [A] ergosterol e [B] ácido jasmônico (R = H), ou seu metil éster (metil jasmonato, R = CH3) plantas com Agrobacterium rhizogenes, uma bactéria de solo capaz de infectar células vegetais, causando a proliferação do crescimento radicular (hairy roots). O cultivo de raízes (ou pêlos radiculares) transformados pode ser realizado em meio de cultura desprovido de reguladores de crescimento, apresentando estabilidade genética e bioquímica, e produção similar àquela observada em raízes não-transformadas (3). No entanto, este sistema requer a utilização de biorreatores com características específi- Elicitação : Elicitores bióticos são compostos que induzem respostas de defesa em células vegetais contra infecções microbianas, em particular a produção de fitoalexinas, ou ainda induzem aumentos no nível de fitoanticipinas constitutivas (Fig. 2) Fitoalexinas são compostos com atividade antibiótica, de baixo peso molecular, formados e acumulados em células vegetais em resposta à infecções por microrganismos (Fig. 3). Elicitores de natureza abiótica (radiação UV e íons de metais pesados) também têm sido utilizados neste contexto. Este princípio tem sido aplicado em estudos de biossíntese de fitoalexinas, como também para aumentar a produtividade de metabólitos secundários em cultivos celulares vegetais. Em geral, a elicitação de uma cultura celular resulta na síntese de novo de compostos, algumas vezes não encontrados na planta intacta (dihidropiranocumarina, e.g.), ou no aumento da produção de metabólitos secundários nos cultivos in vitro (antraquinonas, e.g.). Todavia, a eficiência do tratamento com um dado elicitor, no que concerne à indução de produtividade de um composto, depende de vários fatores, sendo a resposta de indução restrita a certas vias biossintéticas. Em função disto, a escolha correta do elicitor é fundamental, não havendo regras indicadoras de uma combinação adequada para o sistema célula/elicitor. Além disto, a concentração do elicitor, a densidade de inóculo, o momento de adição do elicitor, o período de contato entre as células e o agente de elicitação e o teor de nutrientes do meio de cultura são fatores importantes a se considerar, quando se busca a otimização da produção de biofármacos através desta abordagem. Na prática, poli/oligossacarídeos (oligossacarinas Fig. 4) de parede celular de plantas ou microrganismos, enzimas (celulases, hemicelulases e pectinases, e.g.), peptídeos, glicopeptídeos e lipídios têm sido usados como elicitores. Da mesma forma, compostos sinalizadores envolvidos em vias de transdução, como o ácido jasmônico e seu metil éster, ou ainda o ergosterol (Fig. 5) podem induzir respostas de estresse celular, levando ao aumento da síntese/ acúmulo de metabólitos secundários. Provavelmente, cada espécie vegetal tem uma classe de compostos que são sintetizados após o estímulo causado pelo elicitor, os quais não são gene(s), o(s) qual(is) encontrados na planta na poderá(ão) ser oriundo(s) ausência deste estímulo. Asda planta em si, de outra sim, muitos compostos de espécie vegetal, ou ainda interesse, constitutivamende outro organismo (bactéte formados na planta, não ria, e.g.). Independente do são passíveis de indução objetivo, a engenharia mepor elicitores em cultivos tabólica tem como pressucelulares, como observado posto básico o conhecimenpara quinina, morfina e vinto de todos os passos consblastina. Por outro lado, tituintes da via biossintética compostos outros como ⇒ Velutinol A [(15R, 16R, 20S)-14,16:15,20:16,21-triepoxi-15-16do metabólito de interesse, ácidos fenólicos (Catharan- seco-14β,17α-pregn-5-ene-3β,15-diol] (Bento et al., 1995). aspecto que limita a aplicathus roseus), triterpenos ção desta abordagem, visto (Tabernaemontana divarique a maioria destas vias cata), velutinol A e seu são conhecidas apenas a derivado glicosilado (Mannível de seus intermediáridevilla velutina Fig. 6) os. Com o conhecimento tiveram suas concentrações da via biossintética a nível aumentadas em culturas de dos intermediários envolvicélulas. Metabólitos cuja bidos, o passo seguinte é a ossíntese é induzida são identificação das enzimas usualmente produzidos em envolvidas e a determinaaltos níveis, podendo alção de quais destas aprecançar valores de 3 a 10%, sentam função regulatória. com base em peso seco. A Além disto, é importante utilização desta estratégia considerar outros aspectos possibilita a indução de inintrínsecos ao processo de cremento de produtividasíntese, como a arquitetura Figura 6. Mandevilla velutina de em momento específico da via biossintética, a exis(Apocynaceae), planta nativa de do processo produtivo. No tência de etapas regulatóriecossistemas de restinga e entanto, o maior problema verificado até as, o transporte do produto final e a cerrado no Brasil, fonte de o presente momento reside no número compartimentalização. A arquitetura da velutinol A, um antagonista de limitado de compostos que tem sua via biossintética poderá ser linear, ou bradicinina (BK) biossíntese aumentada, os quais, em mesmo apresentar-se como uma rede alguns casos, não são o produto final de complexa. No primeiro caso, a situação interesse. é mais simples no que concerne à sua ca de células transformadas e também manipulação, contudo, em sendo o perEngenharia Metabólica sobre os mecanismos de regulação de fil da via biossintética uma rede complevias biossintéticas de metabólitos secunxa de etapas (terpenóides, e.g.), a posA introdução de genes em plantas ou dários são fatores limitantes nesta aborsibilidade de manipulação no contexto células vegetais através de técnicas de dagem. Entretanto, os progressos que da engenharia metabólica é tarefa que engenharia genética (sistema Agrobactêm sido alcançados na tecnologia gêniencontrará maior grau de dificuldade. A terium e o bombardeamento com partíca permitirão um aumento no número existência de mecanismos de regulação culas metálicas coloidais, e.g.) permite a de genes clonados, bem como um maior a nível enzimático é bastante comum alteração da expressão de genes envolentendimento das vias biossintéticas em (retro-inibição), como observado na bividos em vias biossintéticas de interesse seus aspectos estruturais e regulatórios, ossíntese de triptofano em culturas de e assim modificar a produção de metade modo que perspectivas interessantes células de C. roseus. Nesta via, a superbólitos secundários. Agrobacterium tude aplicação da engenharia metabólica expressão da antranilato sintetase (AS) mefaciens tem sido amplamente utilizasurgem no que se refere à otimização da não apresentou efeito positivo, porque a da para a transformação de plantas, produção de compostos de interesse. mesma é inibida pelo produto final da apresentando como maior restrição o Num contexto mais amplo, a engenharia via biossintética (7). Adicionalmente, é número limitado de hospedeiros, princimetabólica objetiva o incremento do importante considerar o efeito que a palmente dicotiledôneas, ainda que nem fluxo de carbono em direção ao produto compartimentalização exerce sobre a todas as espécies deste grupo. O bomfinal de interesse. Neste sentido, diverbiossíntese de metabólitos secundários, bardeamento com partículas é, em prinsas estratégias têm sido utilizadas busindicando que o transporte do produto cípio, aplicável a qualquer espécie, mas cando superar o(s) evento(s) limitante(s), final e/ou de intermediários da via biosainda que a transformação seja viável, a bloqueando vias metabólicas competitisintética atuam como agentes de regularegeneração da planta a partir da célula vas ou do catabolismo pela utilização de ção desta. A biossíntese de alcalóides transformada tem se mostrado uma taregenes com transcrição no sentido inverindólicos terpenoídicos requer no mínifa difícil. Além disso, a reduzida disponiso (anti-sense), ou ainda pelo uso de mo três compartimentos : os plastídios bilidade de genes e promotores especíanticorpos. O aumento da atividade de [produção de triptofano e a porção terficos ao objetivo em tela, o pouco couma determinada enzima poderá ser penoídica do produto final], o citosol nhecimento sobre a estabilidade genéticonseguido com a clonagem de seu(s) [descarboxilação do triptofano] e o vaBiotecnologia Ciência & Desenvolvimento 27 cúolo [ligação entre triptamina e secologanina] (8). A clonagem de genes de plantas relacionados à vias biossintéticas foi primeiramente realizada, em escala comercial, com o intuito de alterar a coloração de flores. Outra aplicação diz respeito à introdução do gene tdc (triptamina descarboxilase) em plantas de tabaco, resultando no aumento da produção de triptamina em níveis que atingem 1% com base em peso seco. No entanto, a instabilidade dos cultivos celulares transgênicos em relação à produção de metabólitos secundários têm sido mais recentemente observada, ainda que estes apresentem níveis superiores de expressão do produto gênico (enzima). Por outro lado, alguns estudos têm demonstrado que a despeito da expressão de estabilidade de clones celulares transgênicos, o fluxo total através da via biossintética de alcalóides indólicos apresenta um comportamento de instabilidade, como observado em linhagens selvagens de C. roseus. Outra importante e óbvia conclusão refere-se ao fato de que a superação de uma etapa limitante da via biossintética remete, automaticamente, ao encontro da próxima etapa com esta característica. discutido anteriormente. Na tentativa de superar essas dificuldades, estratégias para otimizar a produção in vitro de compostos bioativos têm sido continuamente desenvolvidas e revistas, com resultados promissores, sendo que para o atual momento, maior atenção vem sendo dada à utilização combinada das abordagens anteriormente discutidas. Os avanços em estudos de engenharia metabólica permitirão incrementos de produtividade de metabólitos secundários nos cultivos in vitro, contribuindo para a redução dos custos de produção, ou mesmo viabilizando a produção de novos compostos. É importante considerar que nos casos em que a produção de um biofármaco não é possível por métodos agrícolas convencionais ou químicos, ou Conclusões Muitos metabólitos secundários de grande importância econômica são produzidos em quantidades muito baixas, ou ainda não são produzidos (e.g. morfina, vinblastina, vincristina) em cultivos de células vegetais até o presente momento. Em decorrência disto, somente uns poucos produtos gerados a partir desta tecnologia alcançaram uma escala comercial (e.g. chiconina e misturas de polissacarídeos). A produção industrial de biofármacos a partir da biotecnologia vegetal sugere à análise duas questões básicas : a) a viabilidade da tecnologia disponível b) a competitividade econômica desta tecnologia em relação aos métodos de produção existentes. Em muitos casos, a tecnologia disponível se mostra viável, ainda que cálculos do custo de produção indiquem a necessidade de incrementos de produtividade, para que tais processos sejam adequados do ponto de vista econômico. As razões que concorrem para este quadro são o alto investimento necessário, principalmente devido ao custo de depreciação do biorreator e também a baixa produtividade de metabólitos secundários dos cultivos celulares, como 28 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento Figura 7. Exemplos de mecanismos de regulação de vias biossintéticas considerados na engenharia de metabolismo secundário. A concentração do produto final (PF) é dependente de alguns fatores: a) nível de inibição da atividade enzimática pelo produto (retro-inibição A⇒E1); b) disponibilidade do substrato (B) em via não linear; c) transporte e compartimentalização. A engenharia metabólica requer a identificação de todos os constituintes da via biossintética (intermediários e enzimas - E1→E7) mesmo quando sua demanda não é totalmente suprida, a biotecnologia vegetal poderá ser o sistema final de pro- dução. Referências Bibliográficas 1) Hegnauer, R.; Hegnauer M. (1992). Chemotaxonomie der Pflanzen. Generalregister, Birkhäuser Verlag, Basel. 2) Ohta, S.; Verpoorte, R. (1992). Ann. Rep. Nat. Sci. Home Econ., 32:923. 3) Schlatmann, JE. (1995). Ajmalicine production by Catharanthus roseus. Process operation and modelling. Ph.D thesis, Delft University of Technology, The Netherlands. 4) Maraschin, M. (1998). 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