PROJECTOS NO ENSINO DAS CIÊNCIAS António José M. A. Ferreira UM GUIA PARA O PROFESSOR PROJECTOS NO ENSINO DAS CIÊNCIAS UM GUIA DO PROFESSOR COM SUGESTÃO DE TRABALHO PARA AS ÁREAS DE PROJECTO DOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO António José M. A. Ferreira Escola Secundária de Cantanhede Menção honrosa no Prémio Educação Hoje – Texto Editora, edição 2004. 2004 Índice Introdução ..................................................................................................................... 3 1. Um ensino com base em projectos ........................................................................... 7 2. A concepção e a condução de projectos ................................................................. 11 3. Perspectivas actuais no ensino das ciências............................................................ 15 4. Nível de iniciação - A participação num projecto .................................................. 21 4.1. Uma primeira abordagem ................................................................................ 21 4.2. A definição de situações-problema.................................................................. 24 4.3. Organização do projecto .................................................................................. 26 4.4. Os produtos concretos...................................................................................... 28 5. Nível de Desenvolvimento - A concepção de um projecto .................................... 31 5.1. O papel do aluno e do professor ...................................................................... 31 5.2. Maior envolvimento dos alunos....................................................................... 33 5.3. Passar à prática................................................................................................. 39 6. A Avaliação ............................................................................................................ 41 7. Formas de enriquecer um projecto.......................................................................... 43 7.1. A importância da história e filosofia da ciência .............................................. 44 7.2. Abordagens interdisciplinares.......................................................................... 47 7.3. Tarefas com base na resolução de problemas.................................................. 50 7.4. Tarefas com base em investigações experimentais ......................................... 56 7.5. Tarefas com base na abordagem de controvérsias........................................... 62 8. Um exemplo concreto ............................................................................................. 67 Conclusões .................................................................................................................. 95 Bibliografia ................................................................................................................. 97 «Qualquer projecto deve manter-se na ordem do exequível, comportar uma dose de sonho, de optimismo, mas dar a impressão de que não está fora do alcance» Perrenoud, 2001, p. 84 1 Introdução É comum os professores considerarem as práticas inovadoras como aplicáveis apenas em espaços não disciplinares ou extracurriculares. Rejeitam à priori propostas de inovação, não por as acharem inadequadas ou inoportunas, mas antes porque se sentem constrangidos perante um quadro legal cuja trave mestra assenta no cumprimento dos conteúdos programáticos. Mas, frequentemente, para cumprir os programas não se cumprem outras determinações legais tão ou mais importantes, como são, por exemplo, as finalidades do ciclo de ensino ou os objectivos gerais da disciplina. Os constrangimentos resultam muito mais de pressões sociais, condicionantes pessoais e posicionamentos profissionais do que da legislação existente. Somos da opinião que, dentro do quadro legal vigente, subsiste um espaço suficiente amplo para a implementação de práticas inovadoras, quer em áreas disciplinares não curriculares, quer mesmo em áreas disciplinas onde habitualmente os constrangimentos são maiores. Certamente, os jovens que estudam no ensino básico e secundário necessitam, cada vez mais, de uma formação que lhes permita enfrentar os complexos desafios e incertezas que se vislumbram em horizontes futuros. Mas estes jovens devem também preparar-se, e serem preparados, para uma actualidade já marcada por uma complexidade de questões sociais, culturais, éticas, científicas e tecnológicas. É neste sentido que a escola deve contemplar práticas mais consequentes, mais reflexivas, mais úteis, mais motivadoras, em resumo, mais formativas. Simultaneamente, a reflexão sobre o ensino e a aprendizagem das ciências tem vindo a propor modelos de ensino de tipo investigativo, mais próximos do empreendimento científico e tecnológico, em que se incluam também aspectos éticos, sociais e culturais da produção e utilização do conhecimento científico e tecnológico. 3 Julgamos que um dos caminhos de inovação passa pela incorporação de metodologias de ensino e de aprendizagem activas, ligadas à acção e à reflexão. Referimo-nos, nomeadamente, às práticas baseadas no desenvolvimento de projectos. A capacidade de conceber, desenvolver e acompanhar projectos ou simplesmente de neles participar é, sem dúvida, uma das mais importantes competências da actualidade e, será, previsivelmente, uma das mais importantes no futuro. Cabe, por isso, também à escola desenvolver tal aptidão. Este é um caminho que merece ser trilhado. Neste guia, procuramos estruturar um modelo de concepção e desenvolvimento de projectos para o ensino das Ciências. Trata-se um modelo de planificação de ensino de ciências com base em projectos, que desenvolvemos inicialmente para o ensino secundário (Ferreira, 2003; Ferreira e Paixão, 2003) mas, julgamos, poder ser aplicado, com adaptações menores, também no ensino básico. Tal modelo pode adaptar-se a áreas mais vocacionadas para o uso de abordagens por projectos (Área-Escola, áreas de projecto, clubes) e à concepção e desenvolvimento de unidades didácticas para disciplinas de Ciências. Referimo-nos a disciplinas da área da Física, Química, Biologia e Geologia. Importa referir que esta proposta corresponde a um dos muitos posicionamentos defensáveis, para a implementação de um ensino com base projectos. Optámos por aquele que se parece adequar melhor à realidade actual das nossas escolas. Fundamentámos as nossas opções em dois aspectos importantes: • experiência já existente, nomeadamente em projectos de carácter interdisciplinar envolvendo grupos de alunos (Área-Escola); • aumento crescente de recursos materiais, dos quais destacamos a crescente disponibilidade de acesso à Internet, e uma melhoria importante das condições para o ensino das ciências experimentais. No primeiro capítulo abordaremos as principais ideias respeitantes a um ensino com base em projectos. Tentaremos defini-lo de forma o tanto quanto possível rigorosa. No segundo capítulo aprofundaremos concepções relativas à implementação deste tipo de ensino. No terceiro capítulo apresentaremos, de forma breve, algumas propostas mais recentes para o ensino das ciências. No quarto capítulo desenvolvemos o nosso modelo para 4 um nível de iniciação e no quinto capítulo propomos o aprofundamento para um nível de desenvolvimento. No final apresentaremos algumas sugestões que permitem melhor a qualidade das actividades propostas e acabamos com uma proposta de trabalho completa a desenvolver numa Área de Projecto do ensino secundário. 5 1. Um ensino com base em projectos Vivemos mergulhados numa civilização de projectos. A importância do projecto como forma de actuar tem-se intensificado em todas as áreas da actividade humana, desde política à economia, passando pela ciência e pela engenharia. Saber conduzir projectos e saber participar em projectos tornou-se uma aprendizagem fundamental para viver e participar de pleno direito numa sociedade desenvolvida. Do ponto de vista educativo, a designação de projecto tende a adquirir significados múltiplos. Verifica-se até alguma confusão que deriva de lhe serem atribuídos sentidos muito variáveis, de acordo com os diversos níveis em que é utilizado (Boutinet, 1996). Pedagogia do projecto e projecto pedagógico não são sinónimos. O projecto pedagógico corresponde à descrição de uma intenção educativa, o que nos remete para o campo das finalidades. Já a pedagogia do projecto corresponde à utilização de projectos como dispositivos de intervenção (ou mediação) pedagógica, o que destaca o seu alcance educativo e formador (Cosme e Trindade, 2001a). A pedagogia do projecto - ou pedagogia de projecto (Figueiredo, 2000), ou ainda pedagogia pelo projecto - está, portanto, associada à aprendizagem, querendo isso significar que os alunos aprendem utilizando os seus próprios recursos, numa atitude activa perante o conhecimento. A pedagogia do projecto pode ser entendida como uma metodologia de trabalho, ou seja, um método, um processo de desenvolver tarefas para atingir determinados objectivos. Neste sentido, fala-se também de metodologia de projecto ou de trabalho de projecto (Abrantes, 1995). Outros autores utilizam a denominação ensino baseado em projectos (Blumenfeld et al., 1991; Singer et al., 2000; Moje, et al., 2001) ou educação baseada em projectos (Figueiredo, 1999), o que nos parece corresponder a uma perspectiva de ensino/aprendizagem por projectos (Mendonça, 2002). Para Perrenoud (2001), apontar a pedagogia de projecto como princípio geral de organização do ensino/aprendizagem, pode implicar o distanciamento daqueles que não 7 aderem a uma única orientação global e que suportam o seu ensino em várias propostas. Por outro lado, a designação «trabalho de projecto», corresponderá tão somente a uma maneira, entre outras, de orientar a acção educativa. O ensino baseado em projectos corresponde, portanto, a uma perspectiva segundo a qual as aprendizagens devem resultar do envolvimento do aluno em actividades de pesquisa e resolução de problemas, geralmente de modo cooperativo e com uma margem considerável de autonomia e responsabilidade. Podemos apontar as principais características de um ensino com base em projecto [adaptado com contributos de Figueiredo (2000), Abrantes (1995) e Blumenfeld, et al. (1991)]: • pressupõe objectivos com significado para os alunos, sustentados em problemáticas reais; • é desenvolvido tendo em conta os contextos, as condições existentes para a sua realização e os recursos disponíveis; • implica o envolvimento activo dos alunos, o trabalho cooperativo entre alunos, professores e, por vezes, a participação da comunidade; • tem um carácter prolongado (não se dá a designação de projecto a uma tarefa que possa ser executada rapidamente, ainda que possa ser um problema difícil); • implica uma antecipação das fases do seu desenvolvimento, ou seja, uma planificação dos trabalhos; • implica a concepção de um produto final que permita aplicar conceitos e desenvolvendo capacidades. O trabalho de projecto permite: • praticar competências sociais, tais como a comunicação, o trabalho em equipa, a gestão de conflitos, a tomada de decisões e a avaliação de processos; • relacionar a teoria com a prática e promover a interdisciplinaridade; • realizar aprendizagens e desenvolver múltiplas capacidades; • aprender a resolver problemas, partindo das situações e dos recursos existentes. Adaptado de Castro & Ricardo, 1992. 8 A importância das funções educativas do projecto tem sido acentuada, nomeadamente como meio adequado para estudar problemas à escala local e global. (Figueiredo, 2000). Projectos que implicam a abordagem de problemas reais e o recurso a parcerias com a comunidade são potenciadores do envolvimento cognitivo e afectivo dos alunos (Bouillion e Gomez, 2001). A possibilidade não só de interpretar, de compreender mas também de actuar de intervir no meio é pois uma característica enriquecedora do ensino baseado em projectos. No que se refere ao ensino/aprendizagem das ciências, a realização de projectos é, reconhecidamente, uma actividade da maior importância, pois proporciona a estudantes e professores oportunidades únicas para investigar, dialogar, ler e escrever sobre questões científicas e tecnológicas do seu interesse (Moje et al. 2001). Importa aqui referir que um estudo recente (Scheider et al., 2002) mostrou as boas prestações de alunos envolvidos em programas de ensino de ciências baseados em projectos quando sujeitos a avaliação aferida (National Assessement of Educational Progress - EUA), o que mostra que este tipo de ensino pode permitir integrar de forma efectiva a aprendizagem de conteúdos habitualmente contemplados em programas de ensino mais tradicionais. 9 2. A concepção e a condução de projectos Podemos definir dois momentos distintos num projecto: a planificação, ou concepção, que é a fase associada à escolha do tema, à planificação/programação das tarefas e actividades. Segue-se uma fase de execução ou realização que corresponde à implementação, ou seja, à mobilização de recursos e à tomada de decisões. Do ponto de vista educativo podemos falar nesta segunda fase como sendo de desenvolvimento curricular. A concepção do projecto passa, desde logo pela escolha de um tema. A temática do projecto, aqui entendida como um assunto ou um problema de contexto alargado, deve ser seleccionada de forma a contemplar, o tanto quanto possível, os aspectos que a seguir se descrevem. • real, isto é, ancorada em realidades do quotidiano valorizando contextos de interesse local, regional ou global (Castro & Ricardo, 1992; Cachapuz, Praia & Jorge, 2000; Moje et al., 2001); • autêntica, no sentido em que os alunos se apropriem do seu significado. A temática deverá ser relevante e útil dando resposta a uma necessidade (Castro & Ricardo, 1992; Abrantes, 1995); • exequível, ou seja, deve poder ser desenvolvida com os recursos disponíveis e planeada de acordo com as realidades locais (Castro & Ricardo, 1992). • alargada, de forma que possibilite abordagens diversificadas e de carácter mais prolongado. Deve permitir desenvolver um espectro amplo de capacidades (cognitivas, afectivas e psicomotoras). É comum referir a execução do projecto como um processo estruturado por fases, de acordo com uma sequência mais ou menos definida. Nestas fases é possível destacar a definição de problemas parcelares ou de sub-etapas (Polman, 2002). Este parece ser um ponto importante, já que também Singer et al. (2000) apontam para a necessidade de definir sub-questões nos projectos, que permitam ligar as aprendizagens à temática central. A 11 necessidade de definir tarefas parcelares, prende-se com a dificuldade que os alunos sentem na construção da resposta aos problema formulado, que deriva do carácter aberto e geral das temáticas abordadas. De acordo com Barbier (1993) as operações que compõem um projecto não são apenas descritas, são articuladas segundo uma lógica de conjunto. Entre as operações possíveis, só são retidas as que são susceptíveis de se ligarem entre si com o objectivo de permitirem a produção do resultado final. São habitualmente apresentadas sob a forma de fases ou etapas, e são sujeitas a uma ordenação temporal. Seguindo a mesma lógica, Figueiredo (2000) refere que, em geral, independentemente dos modelos seguidos, espera-se que a planificação contenha um conjunto de actividades concebidas para atingir um fim comum. Ou seja, as diferentes operações devem fazer sentido como um todo e aparecer articuladas de forma a produzir um resultado final. Assim, a concepção do projecto parece resultar não tanto uma sequência hierarquizada de etapas bem definidas e obrigatórias. Corresponde antes à articulação de um conjunto de actividades, que permitirão atingir determinado objectivo, de acordo com uma calendarização. É esta a ideia global na qual iremos sustentar o nosso modelo de desenvolvimento de projectos. No modelo que a seguir propomos, a definição do projecto resultará não tanto de um processo estruturado por fases, mas antes da articulação de um conjunto de situaçõesproblema (sub-questões) que permitem a abordagem da temática ou para a resolução do problema levantado. Podemos apontar outra característica importante do nosso modelo de ensino de ciências com base em projectos. Defendemos uma perspectiva de trabalho cooperativo envolvendo o grupo-turma, em oposição a perspectivas de trabalho de projecto de carácter mais individual, em que cada aluno desenvolve o seu tema sob a orientação do professor. No nosso entender, tais propostas acabam por resultar, frequentemente, em trabalhos de carácter monográfico com base sobretudo em pesquisa bibliográfica, situação que pretendemos evitar. Além disso, os projectos desenvolvidos em grupo permitem proporcionar determinado tipo de aprendizagens que não são possíveis individualmente. 12 No Esquema 1 evidenciamos, em linhas gerais, o modelo que aqui propomos para ensino baseado em projectos Esquema 1 - Uma visão geral do modelo proposto. TEMÁTICA Situação-problema A Situação-problema B Situação-problema C Resultados/produtos Resultados/produtos Resultados/produtos SÍNTESE Respostas ao problema inicial Antes de continuarmos a explicar o nosso modelo, faremos uma breve incursão pela Didáctica das Ciências, na qual encontrámos algumas peças basilares da nossa proposta. 13 3. Perspectivas actuais no ensino das ciências Vários autores têm vindo a apresentar nos últimos anos propostas de ensino/aprendizagem das ciências que, procurando a sua fundamentação em orientações da Didáctica das Ciências, se aproximam mais das representações epistemológicas actuais. Falamos concretamente de modelos de aprendizagem de ciências como investigação (Maiztegui, et al. 2002), como pesquisa orientada (Hodson e Hodson, 1999), de investigação a partir de situações-problema (Gil-Pérez e Carrascosa-Alis, 1994) ou de ensino por pesquisa (Cachapuz, 2000). Estes modelos consideram a Natureza da Ciência como uma importante componente do ensino das ciências, valorizando uma educação científica não só em «em ciência» mas também «sobre ciência». Para Gil-Pérez e Carrascosa-Alis (1994), o ensino/aprendizagem que parta do confronto entre as ideais prévias dos alunos e as ideias cientificamente aceites, conforme é defendido nos modelos por mudança conceptual, pode ser inibidor, tornando-se fonte de frustração para o aluno. A investigação científica não se faz para questionar ideias ou provocar a mudança conceptual, mas antes com o objectivo de lidar com problemas de interesse científico. Propõe-se então uma abordagem com base no tratamento de situações-problema. Para Gil-Pérez (1994), situações-problema (ou situações problemáticas) são questões de carácter científico, que permitam construir novas ideias a partir dos conhecimentos que já se possuem, através de um trabalho investigativo. As situações-problema são tarefas planeadas usando o currículo como fio condutor de tal forma que proporcionem sentido ao trabalho a realizar. Estes autores (Gil-Pérez, 1994; Gil-Pérez e Carrascosa-Alis, 1994) sugerem uma estratégia de ensino que se baseia na organização da aprendizagem como uma actividade de investigação (Quadro 1). 15 Quadro 1 - Estratégia de Ensino para organizar a aprendizagem como uma actividade de investigação In Gil-Pérez, 1994; Gil-Pérez e Carrascosa-Alis, 1994. 1. Conceber situações problemáticas que, tendo em conta as ideias, visões do mundo e competências e atitudes dos alunos, geram interesse e proporcionam uma primeira concepção da tarefa. 2. Propor um estudo qualitativo da situação-problema, tomando decisões - se necessário, com auxílio de pesquisa bibliográfica- para definir e delimitar problemas concretos (ocasião para que comecem a explicitar funcionalmente1 a suas ideias). 3. Orientar o tratamento científico dos problemas colocados, o que implica entre outras coisas: • A invenção de conceitos e emissão de hipóteses (ocasião para que as ideais prévias sejam utilizadas para fazer previsões). • Elaboração de estratégias de resolução (incluindo, quando necessário, planificações experimentais, para testar hipóteses à luz do corpo de conhecimentos que se dispõe). • A resolução e a análise dos resultados - comparando-os com os obtidos por outros grupos de alunos ou pela comunidade científica - o que pode produzir conflitos cognitivos entre diferentes concepções (tomadas todas elas como hipóteses) e obrigar a conceber novas hipóteses. 4. Propor a utilização dos novos conhecimentos em variadas situações para aprofundá-los e consolidá-los, colocando ênfase especial nas relações CTS que caracterizam o desenvolvimento científico e dirigindo todo este tratamento de forma a mostrar o carácter de corpo coerente de conhecimento que tem toda a ciência. Favorecer, em particular, as actividades de síntese (esquemas, memórias, mapas conceptuais), a elaboração de produtos, que ajudem a dar sentido à tarefa e a aumentar o interesse nela, e a concepção de novos problemas. Para Hodson e Hodson (1999), embora não haja um processo único e linear que permita, passo após passo, realizar uma pesquisa, poderá ser útil desenvolver uma pedagogia com base nas cinco fases seguintes: iniciação, planeamento, realização, interpretação e relato/comunicação. • Iniciação. É a fase de interesse, empenhamento e focagem para a pesquisa. Professor ou alunos podem colocar questões interessantes. Em muitos casos poderá ser necessário estimular o interesse e a curiosidade dos alunos. Nas fases seguintes, os alunos trabalham individualmente ou em grupo e acompanhados pelo(a) professor(a) para obter a informação que os conduzirá para os assuntos e questões levantadas nesta fase inicial. • Planeamento. Tomam-se as decisões sobre o objecto, fenómeno ou evento a estudar, as fontes de informação a consultar, o tipo de experimentação a realizar, etc. 1 “Educação funcional: a que toma a necessidade da criança como alavanca da actividade que nela se deseja despertar.” In Cuvillier, 1984. 16 • Realização. As decisões tomadas na fase anterior implicam agora um trabalho que podem exigir conhecimentos e capacidades que os estudantes já possuem, e outras vezes requerem a aquisição e desenvolvimento de novas formas de pensar e agir. Interessa aqui reter que a aprendizagem baseada na pesquisa fornece um estímulo para a aquisição e desenvolvimento de um amplo conjunto de novas competências e não somente a oportunidade de utilizar aquelas já aperfeiçoadas. • Relato e comunicação. O aluno aprende e utiliza distintos estilos de comunicação. Um grupo de mais de vinte reputados investigadores do ensino das ciências oriundos de vários países elaboraram uma proposta muito actual de aprendizagem das ciências (Maiztegui et al., 2002). Nesta proposta aprofundam uma concepção da aprendizagem das ciências como actividade de investigação, relevando uma dimensão habitualmente esquecida no ensino das ciências: a dimensão tecnologia. Consideram que a aprendizagem deve incorporar de forma mais efectiva a vertente tecnológica, não só como exemplo ou aplicação do conhecimento científico, mas aproximando os estudantes do trabalho que fazem os tecnólogos. Sugerem que a aprendizagem seja planeada como um trabalho de investigação e de inovação através do tratamento de situações problemáticas, relevantes para a construção de conhecimento cientifico-tecnológico. As actividades devem ser abertas e criativas, debilmente orientadas pelo professor, e inspirarem-se em trabalhos científicos e tecnológicos, incluindo toda uma série de aspectos que transcrevemos de seguida. • A discussão do possível interesse e relevância das situações propostas para que o aluno possa formar uma primeira ideia motivadora, contemplando a necessidade da tomada de decisão acerca da conveniência ou interesse do assunto (tal como sucede nas comunidades cientificas). • O estudo qualitativo, significativo, das situações problemáticas abordadas de forma a situá-las à luz dos conhecimentos disponíveis, dos objectivos perseguidos, formulando perguntas operativas sobre aquilo que se pesquisa. • A invenção de conceitos e a emissão de hipóteses susceptíveis de orientar o tratamento das situações, permitindo aos estudantes utilizarem as suas concepções alternativas, colocando-as à prova. 17 • A elaboração e execução de estratégias de resolução, incluindo, quando for o caso, a planificação de procedimentos experimentais, para pôr à prova as hipóteses à luz do corpo de conhecimentos que se possui. Isto implicará um trabalho de natureza tecnológica que resulta da necessidade de resolver os problemas práticos que se podem colocar. • A análise e comunicação dos resultados, comparando-os com os obtidos por outros grupos e pela comunidade científica. Isto implica que os estudantes se familiarizarão com a leitura e elaboração de memórias científicas e trabalhos de divulgação. • A consideração de diversas perspectivas: definição de novos problemas; ligação dos conhecimentos construídos a outros já conhecidos; aperfeiçoamento dos produtos tecnológicos que foram concebidos como resultado da investigação realizada. Importa dirigir esta actuação no sentido de mostrar o carácter de corpo coerente que tem toda a ciência, favorecendo, para isso, as actividades de síntese (esquemas, memórias, recapitulações, mapas conceptuais), elaboração de produtos (rompendo com posicionamentos excessivamente académicos) e a concepção de novos problemas. Ressalve-se, contudo, que esta intervenção não deve ser entendida no sentido da prescrição de um algoritmo que guie, passo a passo, o ensino/aprendizagem. Procura-se, tão só, alertar para aspectos que são essenciais ao trabalho científico e tecnológico que não tem sido suficientemente considerado no ensino das ciências. Por último, há que referir a perspectiva de Ensino por Pesquisa, uma proposta fundamentada na Nova Filosofia da Ciência que considera, além das dimensões conceptual e processual, as dimensões ética, social e cultural da produção e utilização do conhecimento científico (Cachapuz, Praia e Jorge, 2000; Cachapuz, Praia, Paixão e Martins, 2000). De acordo com estes autores, procura-se um distanciamento em relação a algumas das propostas de ensino investigativo anteriormente apresentadas, já que estas estão ainda demasiado centradas no trabalho científico, desvalorizando as dimensões éticas, sociais e culturais da ciência. • O Ensino por Pesquisa pressupõe a abordagem de situações-problema ligadas ao quotidiano dos alunos, que irão permitir reflectir sobre os processos da ciência e da tecnologia, bem como as suas inter-relações com a sociedade - Ciência-TecnologiaSociedade (CTS). O Ensino por Pesquisa propõe uma abordagem não só a partir de 18 questões científicas e técnicas, mas também a partir de problemáticas abertas, com raízes em questões sociais, culturais e éticas. • O Ensino por Pesquisa valoriza a inter e a transdisciplinaridade no ensino das ciências. Tal valorização decorre do facto de, cada vez mais, a resolução de problemas reais necessitar da intervenção de domínios variados e da necessidade de compreender o mundo na sua globalidade e complexidade, procurando conciliar as análise fragmentadas do saber disciplinar. • O Ensino por Pesquisa socorre-se de um pluralismo metodológico. Envolve, entre outros, trabalho experimental e trabalho de campo, a procura, selecção e organização de informação e o debate de situações dilemáticas. O trabalho experimental é um instrumento primordial para a educação científica. Mas isso implica o desenvolvimento de actividades mais abertas, valorizando contextos não estritamente académicos. Tais actividades tornam-se geradoras de situações em que os dados obtidos por via experimental alimentam a discussão conjuntamente com elementos vindos de outras fontes. Significa isto que os dados não são óbvios, não falam por si. Têm de ser lidos através dos quadros teóricos conhecidos. É importante não esquecer oportunidades para validar os resultados, nomeadamente pelo confronto com a informação fornecida pelo professor. O professor pode e deve desempenhar o papel de orientador da pesquisa, formulando também questões para a reflexão. Valoriza-se também a abordagem de assuntos controversos e de dilemas com base aspectos sociais, económicos e éticos da ciência. 19 4. Nível de iniciação – A participação num projecto Já vimos que podem existir dois momentos distintos num projecto, um envolvendo a concepção e outro relacionado com a realização do projecto. Embora se possam dar algumas orientações metodológicas, o essencial da aprendizagem sobre projectos permanece experimental, ou seja, aprende-se fazendo (Perrenoud, 2001). Por isso é importante começar por promover a participação em projectos. 4.1. Uma primeira abordagem Numa primeira abordagem de ensino com base em projectos preferimos não atribuir ao aluno um papel dominante na construção e orientação do projecto. Nesta primeira fase, achámos mais conveniente desenvolver competências, por ventura menos ambiciosas, relacionadas com a participação num projecto e não necessariamente com a sua definição ou condução. Sugerimos que alunos menos experientes e pouco familiarizados com um ensino com base em projectos, comecem por seleccionar o seu tema de projecto a partir de várias propostas apresentadas pelo professor. O professor deve escolher ideias para projectos e apresenta-las aos seus alunos de uma forma que seja potencialmente motivadora. Poderá seleccionar alguns temas (dois ou três) dos quais possua uma representação, tanto quanto possível, completa e coerente. O professor deve procurar: • ter a noção dos conhecimentos, competências, atitudes e valores que poderão ser desenvolvidos; • assegurar que dispõe dos recursos adequados necessários desenvolvimento do projecto. 21 • seleccionar e conceber um conjunto de actividades relevantes e realistas que, articuladas entre si, concorram para a clarificação do assunto ou para a abordagem de uma questão ou problema central. Consideram-se actividades realistas aquelas que são exequíveis, ou seja, aquelas que se podem realizar com os meios e recursos disponíveis. Entende-se por actividades relevantes as que são seleccionadas, ou concebidas, de forma a abordarem conceitos e trabalharem competências adequadas ao grau de desenvolvimento dos alunos. Os programas das disciplinas constituem um importante quadro de referência, já que, é neles que se definem não só as principais metas e finalidades, mas também os conceitos e competências (e respectivo grau de aprofundamento) mais adequadas para esse nível de ensino. O projecto terá o seu início numa temática que é, preferencialmente, apresentada através de um questão-guia ou de um problema a resolver. Será importante que o professor consiga esboçar um diagrama com sub-questões orientadoras que, articuladas entre si, suscitem as aprendizagens que darão resposta à questão-guia previamente colocada. Estas sub-questões dão origem às tais actividades realistas e relevantes de que falávamos atrás. Esquema 2 – Desenvolvimento de um projecto. Concebido com base em proposta de Singer et al. (2000). O que afecta a qualidade do ar na nossa região? Efeitos visíveis da poluição Saída de campo Qual é a constituição do ar? Como se formam poluentes? Pesquisa bibliográfica Comunicação oral Estrutura de moléculas Modelação computacional Estequiometria e equilíbrio Resolução de problemas Medir a qualidade do ar Trabalho experimental E nós? também poluímos? Debate 22 Uma forma conveniente de propor uma projecto aos alunos pode passar pela selecção, um texto introdutório, que permita contextualizar o projecto. Este texto, feito com base o mapeamento das ideias definido anteriormente, tem por finalidade despertar o interesse e a curiosidade dos alunos. A questão e o texto podem, e devem, de forma mais ou menos implícita, suscitar determinadas questões, ideias e abordagens. Para o projecto apresentado no Esquema 2 podemos sugerir a introdução que mostramos no exemplo seguinte: Exemplo: «O que afecta a qualidade do ar na nossa região? Se observarmos atentamente o local em que vivemos podemos detectar alguns efeitos da poluição atmosférica. O que polui? Como polui? Será que o conhecimento da estrutura e propriedades da matéria nos ajudará a perceber melhor a poluição na nossa região? A disponibilização de dados periódicos sobre a qualidade do ar na imprensa e na Internet permite compreender melhor as causas e estabelecer relações com os efeitos. Por fim, importa perguntar: Será que nós próprios também poluímos o ar?» Depois de apresentar aos alunos duas ou três temáticas seleccionadas pelo professor é necessário debater com a turma qual será a mais adequada e mais interessante. A metodologia a seguir pode ser a seguinte: • As temáticas são apresentadas a partir dos respectivos textos introdutórios. • O professor pode tecer alguns comentários e fazer sugestões sobre a pertinência, actualidade e potencialidades de cada uma das temáticas. • Decidir o tema com base num consenso. Embora se possam apresentar várias temáticas, é desejável (não obrigatório), que a turma escolha apenas uma. A escolha de duas ou mais temáticas poderá tornar-se incontornável face à polarização de interesses dentro da turma. 23 4.2. A definição de situações-problema De acordo com o modelo aqui proposto, um projecto deve organizar-se através do tratamento de sub-questões, definidas a partir de uma questão-guia relacionada com a temática central. Estas sub-questões são concebidas e estruturadas sob a forma de situaçõesproblema. As situações-problema são situações com relevância tecnológica e/ou social, que permitem colocar problemas pertinentes e interessantes, cuja resolução origina a construção de conhecimento conceptuais e o desenvolvimento de conhecimentos processuais (Gouveia, 1997). Na Tabela 1 damos alguns exemplos de situações-problema agrupadas de acordo com o tipo de tarefa que podem originar. Tabela 1 – Alguns exemplos de situações-problema. Tarefas relacionadas com: Exemplos de situações-problema Pesquisa, organização e produção de informação y Cartaz – “Como actuar em caso de incêndio?” y Autocolante – “Poupe energia.” y Vídeo – “A biodiversidade” Construção de artefactos y Como construir um sismógrafo? y Construir um poliedro. y Construir modelos moleculares Resolução de problemas y Como calcular o consumo de um computador? y Como medir a área de implantação de um parque infantil? y Qual a melhor planta para colocar no terraço? Investigações experimentais y Como medir a velocidade de um atleta? y Optimizar o rendimento na síntese do ácido acetilsalicílico. y Qual é o melhor detergente? Abordagem de controvérsias y A co-incineração. Vantagens e desvantagens. y Alimentos trangénicos, sim ou não? y Sondagens e inquéritos: Que verdade? Organização de eventos y Campanha de recolha de pilhas usadas. y Organizar um “almoço saudável” na cantina. y Simulação de um sismo. 24 As situações-problema contextualizadas em temáticas da actualidade, na experiência quotidiana dos alunos ou na História da Ciência, são particularmente adequadas para envolver e motivar os alunos (Stinner, 1995). Também as que despertam nos alunos um alto grau de curiosidade e mistério poderão constituir bons pontos de partida (Hadzigeorgiou, 1999). Exemplo: Alguns temas podem não estar relacionados com o quotidiano do aluno mas tendem a despertar o seu interesse. Situações como: “o pulo de um astronauta na lua” (forças, movimento, gravidade); “explorando o Titanic” (pressão hidrostática) ou “a escuridão do espaço e a invisibilidade da luz” (dispersão e reflexão da luz, cor dos objectos) poderão estimular a curiosidade dos alunos (adaptado de Hadzigeorgiou, 1999). As situações-problema devem ser construídas de tal forma que se encontrem dentro da zona de desenvolvimento próximo2 do aluno. Isto significa que o aluno pode não as conseguir ultrapassar sozinho, mas que será capaz de encontrar respostas se tiver a ajuda e a colaboração do professor ou de um colega mais preparado. Para conceber situações-problema criativas sugere-se : • A correspondência entre as situações-problema e os conceitos que se pretendem ensinar, de tal forma que a resolução do problema permita a construção do conceito. • Utilização de questões técnicas e tecnológicas, de situações da história da Ciência e de fenómenos respeitantes à natureza e ao meio ambiente, cultural ou social, relacionados com os conceitos a ensinar. • Concepção e resolução inicial de problemas qualitativos cuja solução exija a elaboração de modelos e explicações, para logo se passar a problemas quantitativos concebendo a ciência como um processo de constante construção de modelos com diferentes poderes explicativos. • Carácter criativo, lúdico, imaginativo e contextualizado dos problemas. Para cumprir este último ponto os problemas devem estar relacionados com o meio natural, social e tecnológico em que vivem os alunos. Adaptado de García-García, 2000. 2 De acordo com o conceito do psicólogo russo L. Vigotsky. 25 4.3. Organização do projecto Uma marca importante na nossa proposta reside na escolha criteriosa do tipo de actividades a realizar. Seguindo a tipologia atrás proposta é possível criar projectos com base em actividades criativas. É conveniente que as actividades sejam também diversificadas, uma vez que isso tem implicações imediatas na motivação dos alunos. Na proposta de projecto que a seguir mostramos, sugerem-se implicitamente um conjunto diversificado de actividades. Exemplo: « Bebidas Alcoólicas: caracterizar e conhecer A ingestão de bebidas alcoólicas é uma prática enraizada na nossa sociedade que é aceite em algumas circunstâncias e criticada noutras. Mas o que sabemos nós sobre bebidas alcoólicas? São todas iguais? Quais são os seus efeitos? O teor alcoólico é um dos parâmetros físico-químicos mais importantes na caracterização de uma bebida alcoólica. Conseguiremos determinar o teor alcoólico de uma bebida no nosso laboratório? Ingerir bebidas alcoólicas em doses moderadas fará bem à saúde? A polémica instalou-se recentemente e este é um assunto muito pertinente. Há, no entanto, que distinguir claramente o consumo moderado do abuso. O abuso de bebidas alcoólicas é um problema grave na nossa sociedade, particularmente entre os jovens. Conheceremos as verdadeiras consequências deste fenómeno? Poderemos informar e sensibilizar os outros?» O projecto anterior pode incluir, por exemplo, pesquisa de informação (tipos de bebidas alcoólicas, consequências da ingestão), a resolução de problemas (calculo do volume de álcool contido numa bebida), abordagem de controvérsia (benefícios das bebidas alcoólicas), organização de evento (campanha de sensibilização). 26 Para melhor estruturar todo o projecto achamos importante prever actividades que permitam o envolvimento dos alunos a diferentes níveis. É conveniente existirem actividades de carácter individual. Podem ser actividades de pesquisa de informação (bibliográfica, na Internet, etc.). É útil que existam também actividades de grupo como por exemplo actividades de carácter prático-experiemental. Por fim, para dar unidade ao projecto e integrar contributos individuais e de pequenos grupos, é útil que exista uma actividade dirigida à turma. Trata-se, geralmente, de uma actividade de divulgação ou de conclusão do projecto. Exemplo: «Perfumes: a arte de usar a natureza. Perfumes para mulheres e águas de colónia para homens. Desde a antiguidade que enfeitamos os nossos odores com aromas e essências. A ciência e a tecnologia evoluíram e com elas a perfumaria. Haverá histórias interessantes a contar e curiosidades a revelar? Antigamente as essências obtinham-se por extracção e purificação a partir de matérias vegetais e animais. Quais são as espécies vegetais mais utilizadas? Poderemos fazer um herbário com plantas aromáticas? Por fim, há que testar o perfume obtido. Mas os testes em animais são motivo de debate e controvérsia. Qual é a nossa opinião? Note-se a sugestão de trabalho individual (pesquisa sobre a história dos perfumes), a actividade de grupo (construção de um herbário) e a sugestão de um trabalho para a turma (debate sobre testes em animais). Interessa proporcionar oportunidades para a elaboração de produtos concretos. A definição e elaboração de produtos concretos têm uma importância fulcral na concepção e avaliação do projecto. 27 4.4. Os produtos concretos A execução de um projecto deve implicar a elaboração de produtos concretos. A concepção e produtos concretos permitem promover a aprendizagem porque implica uma organização e estruturação de informação. A divulgação dos produtos obtidos é um aspecto fundamental a ter em conta, pois a comunicação é um dos principais factores de reformulação e reorganização das ideias (Singer et al. 2000). Figura 1 - Cartaz realizado no âmbito do programa PROSEPE. Sugerimos, na Tabela 2, um conjunto diversificado de produtos que podem ser obtidos no final do projecto, ou então resultar da concretização actividades parcelares. Figura 2 - Página Web realizado no âmbito do concurso «Jovem Consumidor Europeu». 28 Tabela 2 – Produtos concretos. • relatório Pode ser elaborado de acordo com o formato mais tradicional ou de forma mais livre (simples relato). • Comunicação oral A verbalização de ideias é uma poderosa ferramenta na construção de conceitos. A comunicação oral poderá ser mais espontânea ou mais formal (com limite de tempo, suportes audiovisuais, etc.) • Página Internet/apresentação De efeito espectacular. A interactividade é um ponto a valorizar. Há que não descurar a qualidade da mensagem. • Artefacto Objectos tridimensionais: modelos (por ex. modelo molecular), mecanismos (campainha) ou modelo (vulcão). • Memória descritiva Descrição das especificações (finalidades, características e modo de funcionamento) de um artefacto. • Material audiovisual Pode ser do tipo “evento” (vídeo do trabalho de campo, gravação do debate, etc.) ou do tipo “documentário”. Este último implica trabalho suplementar na construção do guião e na montagem. • Artigo/notícia Se for um artigo de carácter científico tem a estrutura de um relatório científico. Uma notícia de divulgação tem um carácter mais jornalístico. • Poster/cartaz/desdobrável Os materiais utilizados, as imagens, a concepção gráfica, as ideias chave a transmitir, constituem os pontos fulcrais. Se for um poster de carácter científico é desenvolvido de acordo com a estrutura de um relatório. • Dossier Trabalho escrito de carácter mais esquemático (por exemplo, organizado por folhas ou fichas, com tópicos) com concepção mais imaginativa (estrutura, grafismo, imagem, etc.). • Monografia Trabalho escrito original que resulta essencialmente de pesquisa documental. 29 5. Nível de Desenvolvimento - A concepção de um projecto As teorias construtivistas fornecem-nos algumas pistas importantes sobre a forma como se devem orientar as práticas de ensino. Sabemos que o aluno interpreta o que está a aprender à luz dos conhecimentos e crenças que já possui. As perspectivas social-construtivistas acentuam a importância das interacções sociais como factor mediador do processo de aprendizagem. Um dos aspectos mais importantes destas teorias, é o facto de implicarem a responsabilização de quem aprende. Este aspecto é muito importante porque atribui aos alunos um papel mais activo do que aquele que lhe é reservado no ensino tradicional. Eles devem ser chamados a construir o seu próprio conhecimento num contexto social e em inter-relação com a comunidade educativa. Mas isto não significa que, num ensino com base em projectos, os alunos sejam os únicos responsáveis pela definição de percursos a trilhar e de produtos a conceber. Tal posição assenta num equívoco, que confunde autonomia e criatividade com a execução imediata dos seus impulsos e caprichos do aluno. Discutiremos esta ideia a seguir. 5.1. O papel do aluno e do professor O papel atribuído ao professor na definição e orientação do projecto pode situar-se em duas posições estremas: a total ausência de intervenção do professor na definição e na condução dos trabalhos ou então uma intervenção constante na organização do trabalho dos alunos e por vezes até a realização de actividades necessárias à consecução do projecto. Alguns autores têm reflectido acerca do papel a atribuir a professores e alunos na implementação de um ensino com base em projectos. Referem-se, com frequência, à importância do papel do professor. 31 O papel do professor consiste em ajudar os alunos a converter os seus interesses e desejos em projectos, no sentido de acções reflectidas e planeadas. Este tipo de intervenção da parte do professor – que não só admite, como implica, a apresentação de sugestões e mesmo propostas de trabalho – não restringe a liberdade dos alunos, pelo contrário ajuda-os a exercê-la. De resto, as ideias dos alunos sobre as actividades que gostariam de realizar têm alguma origem e não se compreende por que razão uma sugestão vinda do professor (que tem mais experiência e um horizonte mais amplo) não seria, no mínimo, tão válida como uma sugestão vinda de uma outra fonte que pode mesmo ser mais ou menos acidental. Adaptado de Abrantes, 1995. Um projecto pedagógico deve ser criado a partir das intenções educativas dos intervenientes, o que pressupõe uma troca em torno das concepções de cada um sobre a realidade abrangida pelo projecto. O objecto de estudo - preferencialmente um problema - é assumido e partilhado pelos professores e alunos, isso não significa que o projecto tenha necessariamente a sua origem no próprio aluno sendo, contudo, fundamental o seu empenhamento. Adaptado de Figueiredo, 2000. Apesar do interesse não excluir o esforço voluntário, nem a disciplina livremente aceite, há uma tendência para, a pretexto de preservar a “espontaneidade natural” e a liberdade do jovem, não se estruturarem actividades curriculares estimulantes com o receio de que venham a contrariar interesses pessoais dos alunos. Tal perspectiva vai no sentido de uma rotina intuitiva, de um individualismo anárquico, de uma hipertrofia de interesses individuais, de uma tendência de cada um se situar independentemente dos outros e a afastar-se de uma pedagogia de cooperação. Adaptado de Santos, 1994. É importante evitar algumas situações comuns no desenvolvimento de projectos que podem contribuir para a sua ineficácia educativa (Cosme & Trindade, 2001b): • concepção espontaneísta, que se caracteriza pela ausência ou definição ambígua de objectivos. O projecto tende a desenvolver-se ao sabor dos acontecimentos sob pretexto da liberdade de iniciativa. • obsessão produtivista, que se caracteriza pela valorização dos produtos em detrimento das aprendizagens. • obsessão tecnocrática, que se manifesta pelo cuidado excessivo na elaboração dos instrumentos e pelo perfeccionismo dos processos que, muitas vezes tendem a subvalorizar o papel do aluno. 32 Resta saber de que modo pode se envolver os alunos na definição do projecto, de forma a torná-lo mais próximo das suas expectativas e desejos mas, simultaneamente, relevante do ponto de vista educativo e útil para a comunidade onde se desenvolve. 5.2. Maior envolvimento dos alunos A definição e a concepção de projectos por parte dos alunos (ou em colaboração com eles) requerem que tenham uma visão estratégica que geralmente é atribuída ao gestor de um projecto. Propomos por isso uma abordagem diferente daquela que é sugerida no capítulo anterior. O aprofundamento da nossa proposta que aí fizemos integra agora, e de forma mais consistente, o modo de problematização veiculada pela perspectiva de Ensino por Pesquisa. Pretende-se com tal problematização envolver os alunos na definição do tema a abordar e da forma como o projecto se pode desenvolver. A problematização constitui uma marca fundamental da perspectiva de Ensino por Pesquisa e nele se encontram três pólos em interacção. Temas CTS Currículo Ciência Tecnologia Sociedade Saberes do Aluno Pessoais Académicos Culturais Sociais Estes três pólos estão permanentemente em interacção podendo “aproximar-se” ou “afastar-se” entre si formando um triângulo de tensões que procuraremos reduzir. Adaptado de: Cachapuz, 2000. A problematização inicia-se com uma discussão prévia na aula, na qual os aluno são convidados a definir um tema para o projecto com base em três questões orientadoras. Estas questões não precisão ter respostas explicitas, mas conferem uma primeira orientação que 33 baliza as escolhas e decisões dos alunos. O Esquema 3 evidencia a articulação entre as questões. Esta discussão prévia pode ser precedida de pesquisa exploratória acerca de temas de interesse ou tópicos sobre o tema do projecto. A escolha do tema pode ficar em suspenso até se obter informações adicionais. Esquema 3 – Definição de um tema para o projecto. O que é importante fazermos? O que podemos fazer? Conteúdos programáticos Relevância CTSA Condições materiais Impacto na comunidade Tempo disponível O que queremos fazer? Experiência/competências Motivação Nos pontos seguintes desenvolveremos as principais ideias subjacentes à definição destas três dimensões, procurando clarificar as iniciativas que permitirão organizar a concepção de um projecto por parte dos alunos. «O que podemos fazer?» A resposta a esta questão remete-nos para a concepção de projectos que sejam executáveis, tendo em consideração constrangimentos inerentes ao próprio sistema educativo. O Projecto a desenvolver deve estar enquadrado na matriz da disciplina ou área curricular no âmbito da qual está a ser realizado. Obviamente não se defende aqui uma visão estreita de currículo, presa a conteúdos e objectos de ensino específicos. Contudo, tratandose de um projecto de ciências, a desenvolver numa determinada disciplina ou área curricular, interessa que se mantenha dentro das orientações curriculares. 34 É importante que, alunos e professores, analisem o programa procurando definir referenciais para as aprendizagens, tais como as são as metas de ensino para a disciplina, área curricular ou ciclo de estudos. Uma forma prática gerar ideias pode passar pela análise de manuais escolares, pois estes são os principais veículos do currículo junto dos alunos e são particularmente adaptados ao seu grau de desenvolvimento. A análise de vários manuais escolares permitirá encontrar tarefas, actividades, problemas, trabalhos práticos e laboratoriais passíveis de se transformarem em situações-problema motivadoras e exequíveis. Podem, elas próprias, ser geradoras de ideias e propostas de projectos. Exemplo: A pesquisa em manuais escolares permite encontrar actividades interessantes, exequíveis e motivadoras. Apresentamos a seguir alguns exemplos. • Ajudar animais - Comedouros para pássaros. • Construir um periscópio. • Separação de corantes alimentares por cromatografia. • Capacidade de neutralização de um comprimido antiácido. • Como pode o solo ser destruído? Barreiras contra a erosão. • Fotografar pedras cintilantes. • Determinação do pH de um solo. • Observação do céu nocturno. • Como fazer um aquário. Por vezes, é a possibilidade de realizar determinado tipo de actividade que suscita a abordagem de uma temática. Se existe um fotómetro de campo é possível, por exemplo, integrar análise de águas num projecto e desenvolver um projecto sobre a qualidade da água. É fundamental que professores e alunos estejam atentos aos recursos disponíveis na escola e no meio envolvente. Em níveis mais avançados as situações-problema podem ser concebidas em colaboração com os alunos. Esta cooperação permitirá encontrar propostas mais interessantes e motivadoras tanto para os alunos como para os professores. 35 «O que é importante fazermos?» Procuramos aqui questionar a utilidade ao nosso projecto, não tanto do ponto de vista das aprendizagens individuais, mas mais do ponto de vista da relevância para a comunidade envolvente. Trata-se agora de saber como podemos tornar o nosso projecto interessante para outros (comunidade escolar ou local). É fundamental que o projecto inclua actividades de comunicação e de divulgação, de preferência dirigidas para a comunidade envolvente e não apenas para aqueles que participam no projecto. Actividades tais como, palestras, debates, exposições, campanhas, uso da comunicação social, etc. tornarão o projecto mais visível. Tratando-se de um projecto na área das ciências, parece-nos útil usar uma temática de carácter CTSA, isto é, uma temática na qual se realcem múltiplas relações entre a ciência, a tecnologia a sociedade e o ambiente. Considera-se, hoje em dia, que a educação em ciência deverá preocupar-se não só com a aprendizagem de um corpo de conhecimentos ou de processos da ciência, mas também garantir que tais aprendizagens se tornem úteis no dia a dia, no sentido de contribuírem para o desenvolvimento pessoal e social dos jovens. Apesar da controvérsia à volta das propostas de mudança curricular com tais intenções, há já algumas pistas de investigação que vão ganhando relevância. É assim cada vez maior o apelo à abordagem de temas/problemas do quotidiano que irão permitir reflectir sobre os processos da ciência e da tecnologia, bem como as suas interrelações com a sociedade e ambiente – Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente. Adaptado de Cachapuz, Praia & Jorge, 2000. Uma das maiores vantagens da abordagem CTSA é a de conseguir fortalecer os laços entre a escola e a comunidade envolvente. O envolvimento com a comunidade permite não só o estudo de problemas ou temáticas reais (locais, regionais ou globais) mas, em algumas situações, intervir directamente na própria comunidade. Assim, as perspectivas CTSA apontam no sentido não apenas de compreender as realidades envolventes, mas também de actuar sobre ela. 36 O Quadro 2 mostra algumas temáticas de grande interesse educativo de acordo com a perspectiva CTSA. Este quadro pode ser apresentado, a título de exemplo, aos alunos. Quadro 2 – Temáticas CTSA. ♦ Uso do solo. ♦ Substâncias perigosas. ♦ Qualidade do ar e da atmosfera. ♦ Tecnologias de guerra. ♦ Recursos energéticos. ♦ Higiene e limpeza. ♦ Reservas alimentares. ♦ Biodiversidade. ♦ Saúde e doenças humanas. ♦ Reactores nucleares. ♦ Exploração do espaço. ♦ Recursos minerais. Podemos usar outras tipologias. No Quadro 3 definem-se cinco grandes áreas de intervenção, de reconhecido interesse educativo. Também elas podem orientar a escolha do tema a desenvolver em projectos de ciências. Quadro 3 – Finalidades de projectos. Temas Gerais Indicador Educação científica Projectos que procuram desenvolver competências científicas e/ou cultura científica. Educação tecnológica Projectos que procuram desenvolver competências relacionadas com a tecnologia e/ou cultura tecnológica. Educação para a saúde Projectos que procuram promover estilos de vida que proporcionem atitudes e comportamentos desejáveis e saudáveis (Pestana, 1994). Educação do consumidor Projectos que procuram educar consumidores capazes de efectuar escolhas esclarecidas de bens e serviços e adquirir consciência dos seus direitos e das suas responsabilidades (Correia e Santos, 1997). Educação para a segurança rodoviária Projectos que procuram sensibilizar para a prevenção rodoviária. Educação para a segurança e protecção civil Projectos que procuram sensibilizar para a prevenção de riscos colectivos inerentes a situações de acidente grave, catástrofes ou calamidades, de origem natural ou tecnológica, e para os modos de atenuar os seus efeitos e socorrer pessoas em perigo, quando tais situações ocorrem (Nova, 1997). Educação para o ambiente Projectos que procuram formar uma população consciente e preocupada com o ambiente e em relação a problemas com ele relacionados (Nova, 1994). 37 O que queremos fazer? Interessa, por fim, equacionar não só os aspectos ligados à motivação, à vontade, mas também os aspectos relacionados com as capacidades individuais ou de grupo. Um projecto demasiado ambicioso pode resultar em desmotivação quando não é possível atingir algumas das metas inicialmente definidas. Tal como refere Perrenoud na citação inicial, o projecto deve comportar uma dose de sonho, que alimente a motivação, mas, ao mesmo tempo, de realismo, que o torne exequível. Como também já vimos, os projectos que implicam a abordagem de problemas reais e o recurso a parcerias com a comunidade são potenciadores do envolvimento cognitivo e afectivo dos alunos. Projectos relevantes para a comunidade tornam-se mais interessantes e mais motivadores para os alunos. Num estudo por nós efectuado (Ferreira, 2003), verificámos que programas e concursos propostos por entidades exteriores à escola (por exemplo, Ciência Viva, Prosepe, etc.) geram uma maior qualidade dos projectos propostos. Esses programas e concursos implicam uma dinâmica muito própria, nomeadamente no que se refere à reflexão sobre problemáticas educativas da actualidade e à afectação de recursos humanos e materiais. Apontamos, nesse trabalho, para a inclusão de projectos nestes programas ou noutros eventos de organização exterior à escola, pois eles mostraram potenciadores da qualidade e visibilidade dos projectos. 38 5.3. Passar à prática As orientações dadas até aqui podem ser ainda demasiado genéricas e teóricas para organizar as escolhas e decisões dos alunos. Por isso vamos sugerir uma intervenção mais pragmática, que, não dispensando a discussão proposta com base nas três questões anteriores, permite concretizar a concepção de um projecto. Podemos propor aos alunos que escolham três actividades relacionadas entre si e que possam ser articuladas na realização do projecto: • Actividade de investigação experimental, seleccionada a partir de um manual escolar de ciências - a realizar em grupo. • Actividade de pesquisa e produção de informação, relacionada com o tema da actividade anterior - a realizar individualmente. • Actividade de divulgação que pode usar os resultados/produtos obtidos nas duas actividades anteriores- a realizar pela turma. Afinal a definição do projecto pode seguir caminhos muito menos lineares do que aquele que inicialmente poderíamos admitir. Neste caso o que define o tema do projecto é a possibilidade de realizar uma determinada actividade, potencialmente motivadora ou potencialmente relevante. É a partir dela que se escolhe um tema geral para o projecto. Podemos então definir outras actividades, eventualmente motivadoras, ou menos exigentes do ponto de vista da necessidade de condições materiais, mas que permitem aprofundar a temática geral. Esquema 4 – Organização de um projecto partindo de uma actividade motivadora e exequível. Actividade motivadora e exequível Temática Actividade A Actividade B 39 Actividade C No exemplo seguinte estruturamos um projecto a partir da disponibilidade de um kit de análise de plásticos, um equipamento que permite identificar os plásticos mais comuns usados em embalagem. É assim possível construir uma actividade prática potencialmente motivadora que permita dar algumas respostas a questões úteis tais como: Que tipos de plástico podemos encontrar no nosso lixo doméstico? Em que quantidades relativas? São, todos eles, plásticos recicláveis? Poderão ser incinerados? Estas questões sugerem o desenvolvimento de um projecto de educação ambiental sobre utilização racional de recursos. No Esquema 5 damos conta de como este projecto pode ser construído. Esquema 5 – Organização do projecto «Plásticos: depois de os usar que destino lhes dar?» Análise de Plásticos Conhecero os RSU Plásticos: Depois de usar que destino lhes dar? Que tipos de plástico existem? PVC PS PP PP PET PET Política dos 3 R’s ... Reduzir Reduzir Reutilizar Reutilizar Reciclar Reciclar Campanha de sensibilização A proposta não é muito elaborada mas contempla, em linhas gerais, as nossas exigências relativamente à qualidade de um projecto. 40 6. A Avaliação Alguns autores, defendem que se a motivação provier apenas da necessidade de obter boas notas, o aluno tenderá a assumir uma postura mais defensiva, evitando tarefas complexas ou abordagens que possam levar à detecção de erros por parte do professor (Abrantes, 1995). Contudo, do nosso ponto de vista, desligar o projecto da avaliação pode ser um primeiro passo para a desmotivação e o insucesso. Se a avaliação deve reflectir as várias dimensões do processo educativo e do trabalho escolar, o projecto é também uma actividade escolar à qual decidimos dar um estatuto de relevo. Se é importante do ponto de vista educativo, deve sê-lo também na hora da avaliação. O aluno que realiza um bom trabalho, de forma consciente e empenhada, deve ser avaliado e obter uma classificação compatível com o seu esforço e dedicação e com as aprendizagens que realizou. A avaliação do projecto não pode simplesmente ser remetida para avaliação informal, diluindo-se com outras componentes, perdendo peso e significado. A avaliação de projectos deve considerar duas vertentes, uma relativa aos produtos - aqui entendidos como resultados concretos, partilháveis, produzidos pelos alunos e outra relativa aos resultados da aprendizagem - que dizem não só respeito aos conceitos construídos mas também às competências desenvolvidas. «No trabalho de projecto, os produtos finais desempenham um papel dominante. Ao materializarem a resposta ao problema em estudo dão sentido e unidade às tarefas de vários tipos que se vão realizando ao longo do desenvolvimento do projecto. Além disso, estes produtos são a face visível do trabalho dos alunos, aquilo que pode ser apreciado e discutido por outros, abrindo novas possibilidades de reflexão dos autores sobre o seu próprio trabalho. Por isso, não parece aceitável que os produtos criados pelos alunos sejam considerados secundários, sob o argumento de que aquilo que se importa é o que se aprendeu durante o processo. Os produtos de um projecto não são um mero pretexto para se aprender alguns tópicos do programa; a sua criação pelos alunos e as aprendizagens são aspectos intimamente ligados.» Abrantes, 1995, p. 100. 41 A avaliação pode estar associada a produtos concretos, produzidos no âmbito do projecto. O peso relativo dos trabalhos realizados pode, e deve, ser negociado com os alunos, de forma que fique totalmente clara a intenção de os valorizar. O peso da avaliação do projecto, relativamente à nota final de uma disciplina ou área disciplinar, deve espelhar o trabalho realizado e o tempo despendido, que nas aulas, quer fora delas. A avaliação formativa reveste-se de particular importância, pois o professor deve ter uma disponibilidade acrescida, ver e a rever os rascunhos dos trabalhos, dando sugestões e orientações, até se chegar a um trabalho final de qualidade. É esta intervenção que funciona como avaliação formativa e é, talvez, uma das diferenças mais importantes em relação à avaliação e classificação de outro tipo de trabalhos escolares, nos quais se avalia apenas um produto acabado. A avaliação de um projecto não pode ficar-se pelos conceitos e competências, esquecendo as atitudes e os valores. Mas as dificuldades inerentes à avaliação de atitudes e valores não podem ser negligenciadas, em particular quando se procura individualizar para cada aluno. Uma sugestão para ultrapassar esta dificuldade consiste em realizar a avaliação de grupos de alunos, ou mesmo de toda a turma. Interessará saber se o grupo está a evoluir em determinado sentido. Se não for esse o caso, então poderão definir-se estratégias que promovam atitudes mais positivas (Dawson, 1997). Exemplo: Se os alunos demonstram desmotivação geral face à evolução do projecto, o professor poderá fazer uma pausa e mostrar um filme com argumento que relate determinação e persistência (por exemplo, “Apollo XIII”). 42 7. Formas de enriquecer um projecto Didáctica das Ciências constitui um domínio especializado de investigação e conhecimento ainda emergente. Contudo fornece já um útil contributo no que respeita à inovação e formação, relacionadas com o ensino e a aprendizagem de ciências. Refira-se que este contributo é inovador, no sentido em que preconiza um distanciamento em relação às práticas mais tradicionais levadas a cabo nas nossas escolas. Não significa isso que este ideal de inovação constitua uma perspectiva actual pois estas ideais há muito são preconizadas pela Didáctica das Ciências. O desafio, hoje em dia, parece estar no reforço, organização e ampliação de estudos e experiências, cujo valor é largamente reconhecido no âmbito das comunidades académicas mas que não estão ainda suficientemente divulgados junto dos professores. Nesta secção procuraremos apontar algumas formas mais concretas de promover um ensino das ciências de qualidade. Procuraremos enriquecer a construção das situações problema, isto é, das tarefas a desenvolver no âmbito dos projectos, com diversos contributos da Didáctica das Ciências. Valorizaremos aspectos tais como: • a interacção entre Ciência, Tecnologia e Sociedade; • a História e a Filosofia da Ciência; • a interdisciplinaridade dos saberes • as tarefas com base na resolução de problemas • as tarefas com base em investigações experimentais • as tarefas com base na abordagem de controvérsias. 43 7.1. A importância da história e filosofia da ciência A educação em ciência não deve resumir-se à aprendizagem dos conteúdos e dos processos mas incluir também a aprendizagem de aspectos vários relacionados com a Natureza da Ciência. “É por vezes conveniente pensar na educação em ciências como tendo três aspectos relevantes: Aprender ciência - Adquirir uma larga variedade de conceitos e tornar-se familiar com algumas das teorias científicas mais importantes. Aprender sobre ciência – Ganhar alguma compreensão da natureza da ciência e da prática científica, e uma apreciação do relacionamento complexo entre ciência, tecnologia e sociedade. Fazer ciência – Adquirir os conhecimentos e competências necessárias para empreender pesquisas científicas e utilizar essa perícia para conduzir pesquisas reais, umas vezes autonomamente, outras sob direcção do professor.” Hodson, 1992, p. 65. Entende-se, hoje em dia, que a História e a Filosofia da Ciência podem dar um contributo importante para uma compreensão mais completa do que é o conhecimento científico e o conhecimento sobre a Ciência. Uma concepção de Ciência segundo a qual as leis e teorias são representações fiéis do mundo, construídas de forma indutiva a partir de observações tidas como neutras, seguras e certas, tem sido fortemente contestada pela chamada Nova Filosofia das Ciências. Este novo olhar sobre a filosofia da ciência implica uma inevitável reflexão dos professores acerca da forma como organizam o seu ensino (Cachapuz & Praia, 1998). No texto seguinte enumeram-se alguns princípios relativos à Nova Filosófica das Ciências 44 A perspectiva actualmente considerada desejável para o entendimento da ciência pode, em diferentes mas convergentes aspectos do ensino, passar para os alunos. A imagem da ciência organizada pela Nova Filosofia da Ciência segue princípios consensuais que a seguir resumimos: 1. As observações não dão acesso imediato e directo a conhecimento factual seguro, mas são dependentes da teoria e devem ser interpretados à luz dos pressupostos das teorias aceites. 2. Os conceitos e as teorias são produzidos por actos criativos de abstracção e invenção e não provêm directamente da observação por processo de generalização indutiva. 3. O conhecimento científico não pode ser confundido com verdade absoluta, ou seja, tem um estatuto temporário e os erros devem ser objecto de reflexão. 4. As descobertas têm contexto e estrutura que a história da ciência ajuda a compreender. 5. Não existe um método único de produção de conhecimento científico. 6. A ciência não é neutra e aproblemática mas nutre uma inter-relação estreita com a tecnologia e com dimensões sociológicas, nomeadamente económica, política e ética. Adaptado de Paixão, 1998. A valorização da história da ciência no ensino pode permitir entre outros aspectos (Paixão, 1998): • aumentar o interesse e a motivação; • demonstrar que a ciência é mutável e alterável; • desenvolver uma melhor atitude pública face à ciência; • humanizar a ciência. No entanto, a História da Ciência não pode ficar-se apenas pela referência a figuras ilustres ou pelo registo de episódios heróicos e/ou anedóticos. Deve incorporar elementos tecnológicos, políticos e sócio-culturais, que ajudarão a inserir a construção do conhecimento científico num quadro de referência mais alargado. A vertente histórica do ensino das Ciências tem sido considerada de forma inadequada. Algumas das deformações mais comuns estão presentes nas tendências seguintes: 1. apontar o passado como um antecedente crescente e linear do presente, sem ter em conta os contextos culturais da época; 2. avaliar a construção do conhecimento científico de uma determinada época com os princípios epistemológicos do nosso tempo e transportando para o “julgamento” do passado os valores culturais da sociedade ocidental; 3. sobrevalorizar a ideia de história como resultante da acção de “grandes homens”, em detrimento das equipas de investigadores e esquecendo a importância dos contextos históricos, sociais e culturais; 4. referir apenas os sucessos, ignorando os debates e os conflitos; 5. salientar o papel das individualidades masculinas e se possível do mundo ocidental, desvalorizando e ignorando o carácter colectivo do empreendimento da ciência. Adaptado de Cachapuz, Praia, Paixão & Martins, 2000. 45 A possibilidade de utilizar a História da Ciência em projectos ao nível do ensino básico e secundário pode passar pelo recurso a livros de divulgação científica. Muitas vezes, estes livros apresentam narrativas que mostram o cientista como pessoa que articula as suas ideias com o pensamento científico e a cultura dominante da época em que viveram. Exemplo: Qualquer um dos seguintes livros de divulgação científica relata episódios interessantes da história da ciência, por vezes narrados pelos próprios intervenientes: • Cinco equações que mudaram o mundo, Michael Guillen; • O cérebro de Broca, Carl Sagan; • O polegar do panda, Sthephan Jay Gould; • Nos bastidores da ciência, Sebastião Formosinho. Algumas publicações periódicas, tais como a Gazeta da Física ou o boletim Química (da Sociedade Portuguesa de Química), têm por hábito publicar artigos interessantes sobre história da Ciência. Estes artigos podem ser bons pontos de partida para abordagem de determinadas temáticas. Quando falamos em história da ciência não nos referimos apenas a história relativa aos primórdios da ciência, mas também a episódios históricos mais recentes, que pela proximidade temporal podem representar uma riqueza acrescida. Interessa, sobretudo, que o projecto incorpore abordagens históricas de temas relativos à ciência e tecnologia, pois tais abordagens podem ser potenciadoras de aprendizagens importantes, relativamente à natureza da ciência, nomeadamente sobre a evolução e construção do conhecimento científico e as múltiplas relações entre ciência tecnologia e sociedade. 46 7.2. Abordagens interdisciplinares A valorização da interdisciplinaridade no ensino das ciências decorre do facto de, cada vez mais, a resolução de problemas reais implicar, quase sempre, uma visão não compartimentada do conhecimento. Os termos interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, aos quais se juntam pluridisciplinaridade e multidisciplinaridade, são usados na terminologia pedagógica sem que para eles se defina um significado inequívoco. As definições atribuídas a cada uma destas designações não são consensuais. Seguimos, por isso, um acordo terminológico e conceptual (Pombo, Guimarães & Levy, 1994: 10) no qual se considere a pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade como conceitos que reflectem um processo progressivo de integração disciplinar, sem que se possam estabelecer fronteiras claras entre eles3. Assim, a pluridisciplinaridade encontrar-se-á no extremo de integração mínima e corresponderá a uma justaposição de disciplinas. Exemplo: Os professores de matemática e química fazem uma simples articulação quando combinam que a função logarítimica seja abordada antes do conceito de pH. A transdisciplinaridade encontrar-se-á no extremo de integração máxima correspondendo à unificação de duas ou mais disciplinas tendo por base a construção de uma linguagem comum. Isto implicaria não só uma sobreposição das áreas de interesse, mas também uma troca de processos e métodos . 3 Os termos multidisciplinaridade e pluridisciplinaridade tem um significado próximo. 47 Exemplo: Num projecto pretende-se abordar a temática “alimentação equilibrada”. Este projecto poderá integrar, entre outros, vários conceitos da biologia (valor energético dos alimentos, metabolismo, etc.), da química (compostos, reacções químicas, entalpia de reacção, etc.), da física (conservação, transferência, degradação, unidades de energia, etc.) e da matemática (equações, proporções, percentagens, etc.). Esta abordagem envolverá a mobilização de métodos e processos transversais às várias disciplinas, tais como a pesquisa de informação, a resolução de problemas, etc. A interdisciplinaridade situar-se-ia, entre os dois extremos atrás referidos e corresponderá à combinação possível entre disciplinas. Figura 3 - Diversos graus de integração disciplinar. Adaptado de Pombo, Guimarães & Levy (1994). Integração mínima Integração máxima pluridisciplinaridade interdisciplinaridade coordenação combinação transdisciplinaridade fusão A propósito da interdisciplinaridade, Figueiredo (2001) refere que alguns especialistas a entendem como um fim em si mesmo, enquanto outros a consideram um modo de organizar os conteúdos de ensino. Concordamos com Cosme e Trindade (2001b) para quem a interdisciplinaridade não deve ser entendia como um constrangimento curricular. Santos (1994) destaca duas abordagens de interdisciplinaridade: a interdisciplinaridade em abstracto e a interdisciplinaridade em acção. A primeira, concebe uma espécie de super ciência, isto é, um discurso que estaria para além das disciplinas particulares. Na segunda, entende-a como uma prática específica no sentido da abordagem de problemas da existência quotidiana. Desmistifique-se, portanto, uma perspectiva única de interdisciplinaridade, como objectivo per si, sem outras funções para além da unificação de saberes disciplinares. A interdisciplinaridade pode ser um meio para atingir um fim (a resolução de um problema concreto), e não necessariamente um fim em si mesmo. 48 Se situarmos esta análise no âmbito do ensino secundário, onde a complexidade do conhecimento é crescente, interessa também considerar as situações onde se configura a existência de áreas disciplinares mais ou menos autónomas dentro de uma mesma disciplina. Surge então o conceito de intradisciplinaridade para designar as integrações possíveis entre áreas distintas dentro de uma disciplina (Pombo, Guimarães & Levy, 1994). Exemplo: A integração entre a cinemática e a dinâmica permite abordar determinados problemas de física. O mais importante é que a interdisciplinaridade não constitua um constrangimento na concepção e implementação do projecto (Cosme e Trindade, 2000a). Provavelmente, ela decorrerá da natureza da própria problemática a abordar. O trabalho de cooperação entre professores de diferentes disciplinas constitui, no nosso entender, a melhor forma de promover a interdisciplinaridade no âmbito da realização de projectos. 49 7.3. Tarefas com base na resolução de problemas A resolução de problemas é uma actividade central no ensino das Ciências porque permite desenvolver, além de conhecimento conceptual, conhecimento processual e competências tais como: recolher informação, planear, formular hipóteses, controlar variáveis, etc. Permite também desenvolver diversas competências sociais e de comunicação, e ainda capacidades mais complexas como a metacognição4, a criatividade, a persistência e a autoconfiança (Martins & Veiga, 1999; Lopes, 1994). A resolução de problemas tem também um importante papel na motivação já que, na sua maioria, os alunos gostam de experimentar desafios, enfrentar dificuldades, ultrapassar obstáculos. A resolução de problemas constitui uma forma de aproveitar esta potencialidade para uma aprendizagem mais eficiente (Lopes, 1994). Muitas vezes confunde-se a resolução de problemas com a resolução de meros exercícios. Embora não existam fronteiras bem definidas entre exercícios e problemas, há certas características que os destinguem. A Tabela 3 seguinte sintetiza algumas dessas diferenças. Tabela 3 - Características de exercícios e problemas (adaptado de Gouveia, 2000) Exercícios Problemas • Dados são explícitos e em número necessário e suficiente. • Dados estão implícitos na situação ou descrição. • Caminho de resolução é único. • Existem vários caminhos de resolução. • Solução é única. • Podem ter várias soluções. • O obstáculo é reduzido; são dadas questões de orientação. • Grande obstáculo. Não se consegue ver uma resposta imediata. • Podem ser resolvidos através da memorização e • Envolve capacidades cognitivas, reprodução ou aplicação de um algoritmo. metacognitivas, afectivas e psicomotoras. 4 Metacognição – conhecimento da forma como se pensa. “Pensar sobre o pensar”. 50 Os problemas abertos, ou seja, aqueles para os quais existe mais do que um caminho de resolução e/ou com mais do que uma solução, requerem que os alunos façam escolhas e tomem decisões. Isso é uma garantia de que terão de pensar pela sua cabeça para resolver o problema. Sendo assim, é importante considerar algumas alterações na formulação dos problemas que podem passar por (Campanario, 2000): • eliminar dos enunciados tudo o que fomenta as abordagens mecânicas e repetitivas, nomeadamente os dados numéricos; • eliminar dos enunciados todas as possíveis referências explícitas ou implícitas a algoritmos estereotipados de resolução. Nos pontos seguintes sugerem-se algumas ideias para a formulação de problemas: 1. Os problemas podem ser formulados tendo por base situações reais. As situações reais permitem contextualizações mais consistentes. Exemplo: As duas questões seguintes envolvem fundamentalmente os mesmos conceitos mas a segunda está contextualizada e fornece um conjunto alargado de informação que é necessário seleccionar e analisar criticamente. Um Porsche 911 Turbo atinge a velocidade de 100 km/h, a partir do repouso, em 4,9 s. Supõe que o movimento é rectilíneo e calcula, para o intervalo de tempo referido: a) a aceleração média; b) o espaço percorrido, supondo a aceleração constante. Um condutor, que mora a 150 m de uma via rápida, sai de casa no seu SEAT AROSA 1.0 e, ao entrar na via rápida é autuado por conduzir a uma velocidade superior à permitida na referida via. Em tribunal é ilibado, tendo os argumentos da defesa incidido fundamentalmente em características do automóvel. Quais terão sido os argumentos da defesa? CARACTERÍSTICAS DO SEAT AREOSA 1.0 Peso: 864 kg Dimensões: comprimento – 3,536 m; largura – 1,460 m; altura – 2,323 m Velocidade máxima: 150 km/h Aceleração (0-100 km/h): 16,9 s Consumo (litros aos 100 km): estrada - 4,5 auto-estrada - 6,3 Cidade - 5,8 Adaptado da Revista ACP, nº12, Dezembro de 1997 (Gouveia, 2000: 25) 2. Os problemas podem ser formulados a partir de exercícios, através de uma ou várias das seguintes alterações (Lopes, 1994): • aumentar o número de dados incluindo alguns não necessários à resolução do problema; 51 • diminuir ou anular dados explícitos; • retirar algumas ou todas as questões (alíneas) de orientação; • acrescentar informação à situação física para a tornar mais complexa . Exemplo: O enunciado de um exercício tradicional que se segue pode ser modificado para se tornar numa tarefa mais aberta, isto é, num verdadeiro problema: Sobre um móvel de 5000 kg, que se desloca com uma velocidade de 20 m/s, actua uma força de travagem de 10 000 N. Que velocidade terá a 75 m do local onde começou a travar? pode ficar: Um automóvel começa a travar ao ver a luz amarela, que velocidade terá quando chegar ao semáforo? ou ainda: Chocará o comboio contra uma rocha caída na linha? (Gil-Pérez et al. , 1992). O quadro seguinte mostra a forma como modificações sucessivas de um exercício permitem obter enunciados progressivamente mais complicados. Tabela 4 – Enunciados modificados Versão tradicional Versão modificada Comentário . Que massa de Na2SO4, é necessário medir para preparar 500,0 cm3 de uma solução aquosa desta substância com a concentração 0,250 mol dm−3 ? Não fornecer informação tabelada. (massa molar). . Como se pode preparar 500,0 cm3 de uma solução aquosa de Na2SO4, com concentração 0,250 mol dm−3? Não explicitar a grandeza que é necessário determinar (massa de soluto). . Que massa de Na2SO4, é necessário medir para preparar . Como se pode preparar uma solução 500,0 cm3 de uma solução aquosa de Na2SO4 com concentração aquosa desta substância com 0,250 mol dm−3? concentração 0,250 mol dm−3 ? M(Na2SO4) = 142 g mol−1 . Como se pode preparar uma solução aquosa de Na2SO4 com uma determinada concentração? . Explicar, com um sal conhecido, como se pode preparar uma solução aquosa de determinada concentração. 52 Retirar o dado numérico (volume da solução a preparar). Retirar dado numérico (concentração da solução). Retirar a informação (não é indicado o soluto). 3. Os problemas podem ser formulados tendo por base materiais do quotidiano, nomeadamente: • recortes de jornais, revistas, folhetos informativos e publicitários, etc; • aparelhos, objectos ou partes deles; • rótulos ou instruções; • material audiovisual. Exemplo: O uso de rótulos de produtos de limpeza permite conceber um problema de química em torno do conceito de incompatibilidade química. Nas figuras seguintes mostram-se os rótulos de dois produtos de limpeza comuns. Procure fundamentar a seguinte afirmação: “Os dois produtos são incompatíveis”. A resolução de problemas em contextos educativos terá um carácter mais formativo se for feita de uma forma semelhante à que os cientistas utilizam na abordagem dos seus problemas. Ou seja, o problema deve ser resolvido através de um processo investigativo. Isto implica que sejam realçados os processos de pensamento e análise. Assim, mais importante do que «resolver problemas» é «abordar problemas» (Campanario, 2000). 53 A abordagem de problemas numa perspectiva investigativa, ou de trabalho científico, tem sustentado a apresentação de diversos modelos de resolução de problemas. Um modelo referido por Campanario (2000), materializa-se por uma série de componentes (e não uma sequência de passos!), a saber: • estudo qualitativo da situação; • formulação de hipóteses fundamentadas nos factores de que depende a grandeza em estudo; • elaboração e discussão de possíveis estratégias de resolução; • procura de soluções e análise dos resultados de acordo com as hipóteses iniciais. Na figura seguinte esquematiza-se um modelo, adaptado de Lally (1994), que se caracteriza por apresentar uma estrutura mais ou menos livre sem instruções detalhadas. Esquema 6 – Modelo de resolução de problemas. Adaptado de Lally (1994). Formular e interpretar o problema Gerar ideias, opções, percursos de acção e tomar decisões Planear a acção e Implementá-la Avaliar e rever as respostas/soluções Repare-se como as fases seguintes informam as anteriores, sem que seja possível predefinir uma sequência linear e generalizável. 54 Exemplo: Vamos procurar aplicar o modelo referido anteriormente à resolução do seguinte problema: Numa festa de aniversário dispomos de gelo para arrefecer as bebidas. As misturas de sal e gelo atingem temperaturas inferiores a 0 ºC (misturas refrigerantes). Mas no local onde decorre a festa não existe sal! Será que podemos utilizar outros produtos de uso comum para obter o mesmo efeito? 1- FORMULAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DO PROBLEMA É um problema real de reconhecida importância prática em situações onde há necessidade de obter temperaturas baixas, nomeadamente: arrefecimento de alimentos e bebidas, tratamento de lesões, etc. Se misturarmos determinadas substâncias ao gelo fundente (gelo+água), então a temperatura de fusão da mistura diminuirá, ou seja, fundirá a uma temperatura inferior a 0 ºC. Uma breve pesquisa bibliográfica utilizando palavras-chave como “congelação”, “fusão” ou “mistura refrigerante” permitem relacionar esta situação com as propriedades coligativas, ou seja, propriedades que dependem apenas do número de partículas (moléculas, iões) em solução e não da sua natureza. Neste caso, a propriedade coligativa é o abaixamento crioscópico - diminuição da temperatura de congelação da mistura. Reconhecemos estão que o arrefecimento pretendido depende, essencialmente, do facto da substância misturada ao gelo se dissolver, lançando na fase líquida um elevado número de moléculas ou iões. 2- GERAR IDEIAS E TOMAR DECISÕES Interessa-nos procurar produtos de uso corrente, solúveis em água e que originem partículas (moléculas ou iões) em solução. Seleccionámos o açúcar(sacarose), álcool (álcool etílico). Além de serem solúveis em água, são fáceis de obter e não são perigosos. 3- PLANO DE ACÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO Vamos comparar o efeito na diminuição do ponto de congelação provocado por massas idênticas de açúcar e álcool. Como as propriedades coligativas dependem do número de partículas em solução, então o efeito será maior na substância que, para a mesma massa, tiver mais moléculas. Isto pode ser avaliado por comparação das respectivas massas molares: M(CH3CH2OH) = 46 g/mol, M(C12H22O11) = 177 g/mol. A comparação das massas molares permite concluir que as moléculas de álcool etílico têm menor massa. Logo, para massas iguais, o álcool etílico apresentará maior número de moléculas que a sacarose. Então será o álcool etílico a substância escolhida. 4- AVALIAÇÃO E REVISÃO Concluímos que a substância mais adequada para obter um mistura refrigerante é o álcool etílico. Há, ainda, que considerar outros aspectos tais como a solubilidade e a velocidade da dissolução da substância. O mais solúvel é o álcool etílico, já que é miscível em água. Além disso a sua dissolução é imediata. Este aspecto vem reforçar as nossas conclusões. Na resolução deste problema, há a preocupação em fundamentar devidamente a resposta. Consideram-se diversos aspectos qualitativos que, geralmente, são ignorados. Repare-se que esta é apenas uma análise possível do problema. A abordagem poderia ter um carácter mais quantitativo (utilizando a expressão ∆Tc = Kc m), envolver o custo das substâncias, etc. 55 7.4. Tarefas com base em investigações experimentais Investigações experimentais, são aquelas que, embora possam incluir pesquisa documental, envolvem sempre trabalho prático laboratorial, oficinal ou de campo, do qual resultem actividades tais como planear, observar, medir, analisar dados e avaliar procedimentos. “O maior objectivo do trabalho experimental deve ser o envolvimento dos alunos em investigações holísticas5 nas quais usem os processos da ciência, explorando e desenvolvendo a sua compreensão conceptual e adquirindo um conhecimento mais profundo da (e incrementando a competência na) prática científica.” Hodson, 1992, p. 77. As formas mais tradicionais de trabalho experimental têm sido amplamente criticadas no seu alcance e utilidade. Referimo-nos a: • actividades de descoberta em que os alunos, seguindo o método científico e por observações, supostamente neutras e objectivas, dos dados chegam aos resultados (leis, princípios). • execução de procedimentos do tipo “receita”, muito estruturados que os alunos seguem sem perceber bem o que fazem. Como alternativa a este tipo de actividades propõe-se um trabalho experimental do tipo investigativo, no qual os alunos têm que tomar as suas próprias decisões, quer individualmente quer em grupo. É-lhes, portanto, dado um certo grau de autonomia na o planeamento e desenvolvimento da tarefa (Watson, Goldsworthy & Wood-Robinson, 1999). 5 holístico – referente a um todo com propriedades que faltam aos seus elementos constituintes. 56 Ao contrário do trabalho experimental mais tradicional, as investigações experimentais apresenta uma maior proximidade com o trabalho científico. Deve-se, contudo, ressalvar que nem a escola é um instituto de investigação, nem o aluno é um investigador, pelo que deverão ser feitas as devidas transposições didácticas. Podemos indicar um conjunto de exemplos de investigações (adaptado de Wellington, 1994): • Quais são as melhores condições para as sementes germinarem? • O que fará o açúcar dissolver-se mais rapidamente? • Como varia o tempo de reacção das pessoas em diferentes condições, por exemplo, depois de beber café? • Investigar a composição e estrutura de um solo. • Que factores determinam a rapidez com que um carro pode viajar? • O que acontece ao ponto de ebulição da água quando se adicionam solventes? • Separar uma mistura de limalha de ferro, sal, terra e esferovite. • O que afecta a velocidade à qual diferentes materiais secam? • Que combustível (de uma selecção segura!) produz mais calor? • Que isolamento é melhor para manter água quente? Na concepção de investigações experimentais é necessário ter em conta o grau de abertura da investigação. Embora devam apresentar um grau de abertura considerável, será fundamental a inclusão de directrizes que permitam definir claramente o objectivo da tarefa. Os alunos dificilmente conseguem levar a cabo uma investigação mais exigente se não lhes forem facultadas algumas orientações. Estas orientações podem ser: • sugestões sobre as variáveis a considerar; • sugestões para a planificação da experiência; • indicação do material disponível. 57 No Quadro 4 apresentam-se um exemplo de investigação experimental. Quadro 4 - Exemplo de investigação experimental (Kempa, 1987) Imagina que estás numa montanha com tempo frio, seco e ventoso. Podes escolher um casaco feito com um dos tecidos que estão à tua frente. Isto é o que terás que descobrir: Que tecido te manterá mais quente? Poderás usar qualquer do material disponível. Escolhe todo o que precisares para responder à questão. . Usa uma lata em vez duma pessoa! . Coloca água no seu interior para fazer com que fique mais parecido com um ser vivo. . Faz-lhe um “casaco” a partir do material disponível. . Usa um secador de cabelo para produzir uma imitação do vento (sem o aquecimento ligado, claro!). Faz um registo claro dos teus resultados, de tal modo que outra pessoa possa entender aquilo que descobriste. A dificuldade da investigação pode ser graduada por alteração da tarefa proposta em função dos objectivos que se pretendem atingir. No Quadro 5 mostra-se um exemplo que permite elucidar esta gradualidade. Quadro 5 – Modificação do grau de abertura da tarefa (Gott & Duggan, 1995). A1 – Coloque uma porção de sementes numa zona escura, coloque outra porção à luz. Controle todos os outros factores. Quais produzem os rebentos mais verdes passado uma semana? A2 – Descubra qual dos seguintes factores afecta o crescimento das plantas: luz e temperatura? A3 – Descubra os factores que afectam o crescimento das plantas B1 – Descubra se a luz afecta a produção de amido numa folha desta planta. B2 – Descubra como a luz afecta o processo da fotossíntese B3 – Investigue os factores que afectam o processo de fotossíntese. A abertura das tarefas aumenta progressivamente nas duas listas. A abertura modifica as oportunidades para desenvolver diferentes competências e procedimentos. A actividade A1 trata a luz como variável de duas categorias (luz ou escuridão) e assim limita o tipo de dados a recolher e, consequentemente, a oportunidade para interpretar dados. O conjunto B é diferente do A na medida em que todas as propostas incluem uma exigência conceptual mais elevada. 58 A Tabela 5 propõe uma classificação para as investigações experimentais de acordo com seis categorias que pode ser útil para gerar ideias e construir actividades laboratoriais de acordo com uma perspectiva investigativa. Tabela 5 - Características de diferentes categorias de investigação experimental (Watson, Goldsworthy & Wood-Robinson, 1999). Classificação e Identificação 1. Reconhece características para identificar ou classificar. Trabalho experimental6 1. Identifica variáveis independentes, dependentes e de controlo. Exemplos Etapas no processo de investigação 2. Selecciona 2. Decide como características que observar e medir permitem discriminar e variáveis. desenvolve estratégias. 3. Aplica testes que permitem evidenciar as características. 3. Muda os valores da variável independente e leva a cabo observações/ medidas sob condições controladas . 4. Esboça conclusões por um processo de sucessiva discriminação. 4. Interpreta e avalia os dados para identificar, descrever e interpretar relações entre variáveis. 5. Usa a identificação para aceder a informação em fontes secundárias. A classificação pode ser utilizada para prever em novas situações. Que produto químico é este? Como se podem agrupar estes invertebrados? O que afecta a velocidade à qual o açúcar se dissolve? O que afecta o tempo que leva um avião de papel cair? Que condições preferem os bichos da madeira? Pesquisa de Padrões Exploração 1. Identifica variável dependente e possível factor causal. 1. Observar fenómenos para efeitos científicos. 2. Planeia como medir variáveis em ambiente natural. Selecciona uma amostra suficientemente alargada para produzir dados fidedignos. 3. Leva a cabo observações e medições. Nota qualquer condição não controlada que possa ser importante, ou faz uma análise estatística para verificar a importância das relações entre variáveis. 4. Interpreta e avalia os dados recolhidos com a finalidade de descobrir padrões de relacionamento. 5. Se possível, identifica, através de testes laboratoriais, relações causais entre as variáveis correlacionadas. 2. Seleccionar as observações a efectuar e a frequência de observação. Onde se podem encontrar mais cobras? As pessoas com pernas compridas saltam mais? O que causou uma intoxicação alimentar? Como se desenvolve um girino ao longo do tempo? O que acontece quando se juntam dois líquidos? 3. Usa as observações para levantar questões científicas. Modelação Construção de artefactos 1. Identificar quais os dados importantes para modelar. 1. Identificar artefactos ou sistemas importante para serem desenvolvidos. 2. Recolher dados. 2. Planear projectos Pode ser por e seleccionar a classificação, melhor opção para identificação, teste de as especificações. variáveis, ou pesquisa de padrões. 3. Avaliar criticamente à luz de um ou mais modelos. 3. Fazer o artefacto ou sistema. 4. Usar o modelo para fazer previsões. Recolher dados para testar essas previsões. 4. Testar o artefacto ou sistema e avaliar a adequação às suas finalidades. Como pode o arrefecimento de um corpo quente, isolado por camadas de material, ser modelado? Como se pode modelar o movimento de um autocarro? Podes descobrir um modo de conceber um sensor de pressão para um alarme? Como se pode fazer um dinamómetro sem usar elásticos? Os conhecimentos processuais e conceptuais usados numa investigação experimental não se podem separar porque eles estão intimamente interligados. Os processos em Ciência não podem ser empregues sem utilizar conceitos e os conceitos não podem ser aplicados sem processos. Contudo, podemos realçar a necessidade de uns ou outros para a abordagem do 6 De acordo com a definição de Leite (2001) segundo a qual trabalho experimental é aquele em que existe a necessidade de controlar ou manipular variáveis. 59 problema em estudo se modificarmos criteriosamente a estrutura da questão de investigação (Gott & Duggan, 1995). Na Tabela 6 mostram-se alguns exemplos. Tabela 6 – Modificação da incidência da investigação (Gott & Duggan, 1995). Pouco conhecimento processual Pouco conhecimento conceptual Descubra se o açúcar se dissolve mais depressa em água quente ou fria. Descubra como a distância percorrida por um carrinho depende da tensão do elástico. Descubra se as plantas crescem mais, quando são regadas com solução fertilizante ou com água normal. Muito conhecimento processual Pouco conhecimento conceptual Descubra se a velocidade de dissolução do açúcar depende: (a) do tipo de açúcar, e (b) da temperatura da solução. Descubra como a distância percorrida por um carrinho depende: (a) do seu peso, e (b) da força usada para o por em movimento. Descubra como o crescimento de uma planta depende: (a) da quantidade de luz que nela incide, e (b) da temperatura ambiente. Pouco conhecimento processual Muito conhecimento conceptual Descubra qual destes produtos químicos aumenta a dureza da água. Descubra se a velocidade de um carrinho depende da energia armazenada na banda elástica. Descubra se a velocidade a que se dá a fermentação depende da temperatura da solução Muito conhecimento processual Muito conhecimento conceptual Descubra como a velocidade da reacção do tiossulfato depende : (a) da concentração da solução, e (b) da temperatura. Descubra se a eficiência de um motor eléctrico depende: (a) da carga a ser elevada, e (b) da velocidade à qual é operado. Descubra como a velocidade à qual a fotossíntese ocorre depende: (a) da intensidade da luz, e (b) da temperatura. Uma forma simples de estruturar a investigação consiste em apresentar um conjunto de passos de acordo com a sequência Planear, Realizar e Relatar, descrita no Quadro 6. Quadro 6 – Passos de investigação Planear, Realizar e Relatar (Wellington, 1994). Planear • Pensa na questão que procuras responder. • O que prevês que possa acontecer? • Quais as razões ou hipóteses para fazeres essa previsão? Realizar • É necessário olhar de perto (observar) o que acontece. • Faz medições cuidadosas utilizando o equipamento adequado. • Diz o que deve ser mudado e o que se deve manter inalterado – as variáveis. Relatar • Diz o que significam os teus resultados. • Tenta explicá-los ou interpretá-los. • Poderias ter feito melhor? • O que poderias alterar no teu plano? • Avalia o teu trabalho. Na proposta anterior, sugere-se a realização de previsões relativamente aos resultados a obter. Este trabalho pré-laboratorial de previsão tende a criar expectativa no aluno em relação à actividade laboratorial. Quer as previsões estejam certas ou erradas, o confronto 60 com os resultados obtidos será um momento privilegiado na construção do conhecimento do aluno (DEB, 1995). Na parte referente à planificação da investigação, deve considerar-se a inclusão de uma avaliação de risco que permita considerar as situações de perigos que possam resultar da realização da actividade experimental. Importa ainda considerar que a experiência prévia, capacidades e competências dos alunos determinam fortemente o tipo de investigação que é possível desenvolver, o que sugere a realização de módulos de formação que permitam aos alunos dominar determinadas conhecimentos, técnicas e processos. Da nossa experiência, sabemos que os alunos estão mais preparados para lidar com uma investigação se, numa fase prévia do trabalho, tiverem a oportunidade de manipular o equipamento necessário. Numa investigação pode-se pedir aos alunos que testem a inflamabilidade de um material. Mas eles só serão capazes de formular um bom plano de investigação depois de terem observado que alguns materiais incendeiam e outros fundem quando sujeitos à chama de um bico de Bunsen e que é necessário escolher a zona mais quente da chama. Adaptado de Watson & Fairbrother, 1993. 61 7.5. Tarefas com base na abordagem de controvérsias A Ciência é frequentemente mostrada aos alunos como algo despojado de qualquer dúvida, dilema ou controvérsia. O ensino das ciências raramente conduz os alunos à exploração das limitações da ciência ou à análise crítica das suas implicações sociais, económicas e éticas. Nos pontos seguintes, indicam-se alguns tópicos susceptíveis de sofrerem um tratamento que aborde aspectos éticos e sociais da ciência: A. relacionados com energia: Fontes, resíduos, conservação, uso e qualidade de vida. B. relacionados com a população: Produção e distribuição de alimentos, planeamento familiar, impacto tecnológico, impacto do crescimento populacional. C. relacionados com a vida humana: Aborto, transplantes de órgão, clonagem, engenharia genética, modificação de comportamentos, controlo de vida/morte, bancos de órgãos, conselhos de ética, problemas éticos. D. relacionados com qualidade ambiental e utilização de recursos naturais: Industrialização, uso de produtos químicos, fontes renováveis e não-renováveis de recursos, consumo de recursos naturais, aumento da qualidade ambiental. E. relacionados com pesquisa espacial e defesa nacional: Produtos da investigação em pesquisa espacial e defesa (pacemaker para o coração, biotelemetria, novos materiais, transístores), benefícios/problemas para a sociedade e indivíduos, relação custos/benefícios das decisões (comunicações, satélites), problemas de armazenamento/eliminação relacionados com projectos militares e espaciais (armas nucleares, reentrada de satélites, resíduos nucleares). F. relacionados com a sociologia da ciência: Efeitos da ciência e tecnologia no desenvolvimento da sociedade, interacções ciência/sociedade/tecnologia, pressões societais na pesquisa científica e tecnológica. G. relacionados com os efeitos do desenvolvimento tecnológico: Forças e debilidades na abordagem de sistemas, desenvolvimento adequado ou perigoso (medicamentos, pesticidas, dietas), eficácia dos produtos de consumo, incremento das capacidades humanas. Adaptado de Chiang-Soong & Yager, 1993. A análise de aspectos sociais, económicos e éticos da Ciência implica, muitas vezes, a abordagem de assuntos controversos e mesmo de situações dilemáticas. A diferença entre um problema e um dilema é que o primeiro pode ter uma solução enquanto o segundo obriga a escolher entre alternativas que se excluem mutuamente, implicando um juízo de valor. 62 A não inclusão destes elementos no ensino das Ciências é responsável pela transmissão de ideias distorcidas, que frequentemente descrevem a Ciência como não controversa, neutra, desinteressada e altruísta (Reis, 1999). Por outro lado, a abordagem de situações controversas e dilemáticas permite proporcionar aos alunos uma imagem mais realista da Ciência. Estudos recentes (Zeidler et al., 2002) mostram que as crenças e convicções acerca de situações sociocientíficas dilemáticas, ainda que persistentes, podem ser influenciados por estratégias cuidadosamente planeadas. Um assunto é considerado controverso se as pessoas se encontram divididas sobre ele e se envolve juízos de valor que impossibilitam a sua resolução apenas através da análise das evidências ou da experiência. Um assunto controverso não pode ser resolvido apenas recorrendo a factos, dados empíricos ou vivências, na medida em que envolve tanto factos como questões de valor. Há várias razões para defender a inclusão de actividades de discussão de assuntos controversos no ensino das ciências. Sendo a controvérsia um facto da vida, como se pode pretender desenvolver cidadãos capazes de decidirem perante questões morais complexas da sua vida, se não forem ensinados a pensar criticamente sobre assuntos controversos? Estas actividades justificam-se tanto pelos conteúdos como pelas capacidades que promovem. A pesquisa de informação, a detecção de incoerências, a avaliação da idoneidade das fontes, a comunicação de informação recolhida e/ou de pontos de vista, a fundamentação de opiniões, o poder de argumentação e o trabalho cooperativo constituem exemplos de capacidades que podem ser desenvolvidas através da discussão de assuntos controversos Adaptado de Reis, 1999. Muitos professores evitam discutir assuntos controversos relacionados com ciência por vários motivos (Lock & Tatcliffe, 1998; Reis, 1999): • receiam os eventuais protestos dos encarregados de educação; • receiam uma possível falta de controlo durante discussões, onde podem não existir respostas correctas mas antes uma diversidade de juízos de valor; • desconhecem estratégias adequadas para abordar este tipo de assuntos. A discussão de um assunto controverso pode ser feita com vários propósitos hierarquizadas do seguinte modo: • partilhar diferentes perspectivas (como um fim em si mesmo); • alcançar uma melhor compreensão da variedade de respostas possíveis; 63 • fazer uma escolha entre diferentes valores; • encontrar uma solução racional para a controvérsia . • despertar o interesse pela actualidade científica . Seguidamente, indicam-se algumas estratégias possíveis para a abordagem de temas controversos e de situações dilemáticas. Elas incluem: • mapas de consequências; • debate estruturado; • dramatização; • análise estruturada de custos-benefícios. Estas estratégias foram, em grande parte, adaptadas a partir de sugestões de Lock & Tatcliffe (1998). 1. Mapas de consequências - Para construir um mapa de consequências é colocada uma questão do tipo “E se ...?” e a partir daí procura-se deduzir as respectivas consequências. Esquema 7 - Mapa de consequência simples. Adaptado de Lock & Tatcliffe (1998). fazíamos mais exercício físico poupávamos dinheiro Víamos menos televisão poupávamos recursos energéticos E se todos usássemos menos energia eléctrica passávamos mais frio Tínhamos que usar comida pré-cozinhada procurávamos fontes alternativas de energia Consequências positivas Consequências negativas Exemplos: E se todos nos tornássemos vegetarianos? 64 2. Debate estruturado - Para introduzir um tópico de discussão pode estruturar-se um debate em torno de uma determinada questão. Frequentemente a discussão transforma-se numa disputa de pontos de vista sem uma clara avaliação dos argumentos. Para evitar isso sugere-se: • disponibilizar informação adequada e diversificada sobre o tema evitando as simples “explorações conjuntas de ignorância” (Reis, 1999: 109). Note-se, no entanto, que nestes debates nem sempre é frequente o recurso a conhecimento científico relevante, sobretudo quando se discutem aspectos que afectam as pessoas, ou relacionados com avanços teóricos e/ou tecnológicos incertos. Neste caso, ainda que a discussão seja racional, a “lógica científica” nem sempre funciona, o que não quer dizer que o debate não seja útil (Solomon, 1998); • o envolvimento de todos os presentes através de moderação do debate. Todos devem ter a oportunidade de expressar o seu ponto de vista. O professor deve decidir que regras adoptar durante o debate, particularmente se as opiniões dos alunos colidirem com perspectivas mais informadas. O professor pode divulgar o seu ponto de vista explicando as suas razões, actuar como um moderador imparcial ou como “advogado do diabo”. Isso não significa que se devam forçar posições consensuais. Os consensos podem não ser desejáveis, ou podem nem sequer existir. Exemplo: Deve adicionar-se flúor à água de abastecimento público? 3. Dramatização - Consiste numa peça em que os alunos interpretam uma situação controversa no lugar dos diversos intervenientes. Para muitos alunos esta estratégia é particularmente motivadora. No entanto, a dramatização tem inconvenientes que podem impedir uma boa análise do assunto. Nomeadamente: • o objectivo principal e os aspectos científicos da problemática podem desvanecer-se perante outros aspectos; • os desempenhos pessoais podem prevalecer sobre a qualidade da argumentação; • a interpretação de um dado papel pode afectar o ponto de vista do próprio actor. 65 Para evitar estas desvantagens é importante fazer um resumo das principais ideias no final. O alunos devem então ser convidados a exprimir os seus pontos de vista independentemente dos papéis que desempenharam. Exemplo: As crianças devem ser vacinadas contra a gripe? Papeis: médico, pais, crianças. Argumento: Confronto de diferentes pontos de vista em relação à vacinação. É legítimo utilizar animais em pesquisas científicas? Papeis: investigadores, defensores dos direitos dos animais. 4. Análise estruturada de custos-benefício - Uma análise de custos-benefícios pode ser estruturada de várias formas. Qualquer delas considera a análise das vantagens e inconvenientes de uma determinada decisão ou solução para um problema. A forma mais simples de proceder consiste em fazer uma lista com dois parâmetros: vantagens e desvantagens. Em formas mais sofisticadas envolve outros aspectos importantes incluindo a avaliação de informação, análise do processo de tomada de decisão, etc. No quadro seguinte, mostra-se um esquema destinado a seleccionar o material mais adequado para embalagem de alimentos. Quadro 7 – Análise de custos/benefícios para embalagem de alimentos. Adaptado de Lock & Tatcliffe (1998). Opções – Listar as possíveis alternativas a considerar no acontecimento (ex: plástico, papel, alumínio). Critério – Identificar critérios convenientes para comparar estas alternativas (custos, resistência, impermeabilidade, etc.) Informação – Clarificar a informação disponível em relação às possíveis opções, atendendo aos critérios definidos. Exame - Avaliar as vantagens e desvantagens de cada opção em função dos critérios (material laminado contra os custos, resistência, etc.) Escolha - Dar uma resposta reflectida e informada, com base na análise. Revisão – Avaliar o processo de tomada de decisão e examinar os diferentes pontos de vista alcançados. Um elemento crucial deste processo é a adequação e pertinência da informação disponível. O contacto com especialistas na área abordada poderá tornar-se bastante útil. Exemplo: Os correctores que destroem a camada de ozono devem se banidos? Os veículos privados devem ser proibidos de circular nas cidades? 66 8. Um exemplo concreto Para concretizar de forma mais clara as nossas propostas de ensino com base em projectos, propomos agora um exemplo concreto. Trata-se de um projecto intitulado Aspirina: como promover uma utilização racional? destinado a Áreas de Projecto do ensino secundário. Através dele, os alunos poderão adquirir uma visão mais alargada da importância da ciência na definição e construção de resposta a problemas relevantes do seu quotidiano. Referimo-nos, nomeadamente, àqueles que se relacionam com o uso de medicamentos. A riqueza da temática e a quantidade e qualidade da informação disponível, permitem estruturar um projecto em que se desenvolvem competências laboratoriais, de resolução de problemas, de pesquisa documental, de comunicação e ligadas ao debate e confronto de ideias. As situações-problema propostas estão organizadas em onze fichas de actividades. Estão incluem um texto e/ou imagem introdutória, a partir da qual se faz uma problematização. No final, incluem sempre propostas para a elaboração de um produto concreto. O Esquema 8 aponta alguns percursos possíveis, mas outros poderão ser equacionados em função do âmbito de realização do projecto e de finalidades mais específicas. Os conteúdos abordados são, principalmente, no domínio da química e da biologia: • Compostos orgânicos - fórmulas de estrutura - grupos funcionais. • Equilíbrio ácido-base. • Forças intermoléculares. • Reacções químicas - estequiometria. • Operações laboratoriais básicas. • Técnicas laboratoriais de separação e purificação. • Síntese química. • Compostos hidrofílicos e hidrofóbicos. 67 • Células - membrana plasmática – lípidos. • Enzimas. • Acção dos fármacos. Esquema 8 - Alguns percursos possíveis 1. Aspirina: Como utilizar? Discussão II I 1. Aspirina: Como utilizar? Discussão 2. O que é o ác. acetils.? Pesquisa documental 2. O que é o ác. acetils.? Pesquisa documental 4. Um pouco de história Pesquisa documental I 7. No laboratório ... Módulos de formação 8. Síntese e análise Investigação experimental 4. Um pouco de história Pesquisa documental II 7. No laboratório ... Módulos de formação 9.Medicamento fora de uso Organização de evento 8. Síntese e análise Investigação experimental I 8. Análise e Purificação Investigação experimental II 11. No final ... Conclusões 10.Prós e contras... Debate III 4. Um pouco de história Pesquisa documental III 1. Aspirina: Como utilizar? Discussão 11. No final ... Conclusões 3. Porque é acida ...? Módulo de formação Construção de artefacto 5. Efeitos terapêuticos Pesquisa documental 6. Os efeitos secundários Resolução de problema I 6. Os efeitos secundários Resolução de problema II 11. No final ... Conclusões 68 1. Aspirina: como promover uma utilização racional? “Considerado o medicamento mais popular em todo o mundo, há mais de um século que a aspirina é usada para aliviar as dores, baixar a febre ou acalmar as inflamações. Mais recentemente foi descoberta a sua capacidade protectora dos enfartes e há mesmo estudos científicos que revelaram os seus aspectos protectores do cancro e da doença de Alzheimer. Mas nem todas as pessoas se atrevem a tomar aspirinas, especialmente as que têm estômagos mais sensíveis sabem quão agressivo este medicamento pode ser. ” http://primeirasedicoes.expresso.pt/ed1347/v251.asp O princípio activo da aspirina é o ácido acetilsalicílico, um composto orgânico que pode ser preparado e purificado no laboratorio da escola. Mas hoje em dia, mais importante do que saber preparar e purificar é saber utilizar e ... eliminar! Discute ... Quais são os aspectos desta temática que te despertam maior curiosidade e interesse? O texto sugere o aprofundamento de certas ideias. Pesquisa mais informação na biblioteca ou na Internet. Debate com o(a) professor(a) aquilo que gostarias de aprender. 69 Faz o plano de um projecto ... Elabora o plano para um projecto que procure dar resposta à questão inicial. Este plano deverá incluir os seguintes itens: • actividades a desenvolver. • recursos previsíveis. • calendarização das actividades. • produtos esperados. • formas de divulgar os resultados. 70 2. O que é o ácido acetilsalicílico? Aspirina é o nome e a marca registada de um medicamento comercializado pela Bayer cujo constituinte principal é o ácido acetilsalicílico. O ácido acetilsalicílico é um composto orgânico aromático com um grupo carboxílico. Pesquisa ... Procura responder às seguintes questões pesquisando em livros de química: O que são compostos orgânicos? O que são grupos funcionais? O que são ácidos carboxílicos? O que são compostos aromáticos? E alcoóis? E fenois? E ésteres? Qual é a fórmula de estrutura do ácido acetilsalicílico? E do ácido salicílico? Que grupos funcionais existem no ácido acetilsalicílico? Porque se chama “ácido”? Faz um resumo ... Sugestão: Faz um resumo escrito onde sintetizes o que aprendeste nesta actividade. Junta-o ao teu portfolio. 71 3. Porque é ácida a aspirina? ”A aspirina da Bayer foi utilizada pela equipa da Mir, em Agosto de 1997, para reparar o gerador de oxigénio avariado há já duas semanas. Os cosmonautas concluíram que a avaria foi causada pela obstrução de um filtro provocada por uma substância alcalina. A solução da aspirina dissolvida na água acabou por resolver o problema.” http://dossiers.publico.pt/mir/html/curiosidades.html Módulo de formação ... O(A) professor(a) irá fazer uma comunicação oral em que procurará responder às seguintes questões: Como se escrevem fórmulas de estrutura de compostos orgânicos? Qual a massa molar do ácido acetilsalicílico? E do ácido salicílico? Como pode a ionização do grupo carboxílico originar soluções ácidas? Porque se diz que os ácidos carboxílicos são ácidos fracos? O que é a constante de ionização de um ácido? Como pode um ácido neutralizar uma base? Resolve um problema ... Procura resolver o seguinte problema. Qual será o pH de uma solução de aspirina? Constrói modelos moleculares ... Sugestão: Constrói um modelo molecular do ácido acetilsalcílico utilizando bolas de esferovite a simular os átomos e palitos a simular as ligações químicas. Consulta o sítio: http://www.edunau.net/oficina/oficinageral.asp?page=casa_quimicamodmol_home Elabora também uma memória descritiva na qual expliques como se pode utilizar o modelo para dar resposta a questões formuladas nesta actividade. Junta-a ao portfolio. 73 4. Um pouco de história “A história da aspirina remonta a 1763, quando Edward Stone observou que a casca do salgueiro, quando mastigada, ajudava a aliviar os sintomas da malária. Em 1838 Raffaele Pavia isolou o ácido salicílico da casca do salgueiro, que se verificou ser o composto responsável pelas propriedades analgésicas e antipiréticas atribuídas à casca daquela árvore. Tentativas de administrar o ácido salicílico aos seus pais e pacientes não tiveram sucesso devido ao seu sabor desagradável. Em 1893, Felix Hofmann, um químico da Bayer, na Alemanha, preparou ácido acetilsalicílico (a Aspirina), a partir do ácido salicílico; o grupo acetilo torna a molécula relativamente insípida e reduz a acidez de modo a permitir a sua administração oral” Química e Sociedade, 1992, p. 40 A eficácia da aspirina era comprovada na prática, mas ninguém sabia como actuava. Nos anos 70 o grupo de investigação de John Vane, do Real Colégio de Cirurgiões de Inglaterra, descobriu que o ácido acetilsalicílico inibe o funcionamento de hormonas desencadeadores da dor, as prostaglandinas, que podem ser produzidas por quase todas as células do corpo. Ainda nos anos 70 sugeriu-se, pela primeira vez, que a ingestão de aspirina podia diminuir o risco de enfartes. Adaptado de: Dossier 100 anos, Bayer Pesquisa ... Fazer uma pesquisa (em grupo) de um dos seguintes temas: 1. Antes da aspirina ... 2. A síntese do ácido acetilsalicílico ... 3. A descoberta do mecanismo de acção ... Durante esta pesquisa notarás que as descobertas científicas não se fazem a partir do nada! não são isoladas das pessoas, da sua cultura, da sociedade, dos locais, das normas e valores de cada época. A ciência não avança sem rupturas e descontinuidades, controvérsias e influências de natureza muito diversa. 75 Alguma sugestões para a pesquisa: Livros: Tito & Canto (1998) Química na Abordagem do Quotidiano 3, 2º Ed., São Paulo, Ed. Moderna, p. 35. Internet: Aspirina http://pessoal.bridge.com.br/alquimia/alq1/Aspirina.htm História da Aspirina http://www.uol.com.br/cienciahoje/chmais/pass/ch153/memoria.pdf How Aspirin Works http://www.howstuffworks.com/aspirin.htm A partir destes e de outros documentos, seleccionar alguns aspectos e/ou episódios que ajudem a compreender o tema abordado (1., 2. ou 3.) no seu tempo e contexto. Expõe oralmente ... Sugestão: Cada grupo deve preparar uma apresentação oral para a turma (duração: 15 minutos + 5 minutos para debate). 76 5. Efeitos terapêuticos... A aspirina é um fármaco cujo princípio activo é o ácido acetilsalicílico. Como excipiente pode ter amido e celulose. O ácido acetilsalicílico é um analgésico, anti-inflamatório, antipirético e inibidor da agregação plaquetária. Exerce efeitos benéficos sobre o reumatismo, cefaleiras, e nevralgites. O que significa tudo isto? Terá, além destas, outras indicações terapêuticas? Pesquisar ... Procura encontrar respostas a estas questões pesquisando no folheto de informação da aspirina, na biblioteca e na Internet. Efectua a pesquisa com base em palavras-chave seleccionadas a partir do texto. Poderás também fazer uma entrevista a um farmacêutico ou a um médico. Faz uma notícia ... Sugestão: A partir da informação recolhida, elabora uma notícia para o jornal da escola. Junta-a ao portfolio. 77 6. Os efeitos secundários “ O ácido acetilsalicílico é moderadamente fraco: CH3 CH3 O O O O O OH + H + O O ácido acetilsalicílico ião acetilsalicilato Como a concentração de ião H+ no estômago é elevada, este ácido mantém-se maioritariamente na forma não ionizada. O ácido acetilsalicílico é uma molécula relativamente pouco polar e, como tal, tem a capacidade de penetrar nas membranas que são também constituídas por moléculas não polares. Contudo, dentro da membrana há muitas pequenas bolsas de água. Quando uma molécula de ácido acetilsalicílico entra numa dessas bolsas, ioniza-se em H+ e ião acetilsalicilato. Estas espécies iónicas ficam presas nas regiões interiores da membrana. A acumulação gradual de iões resultantes deste processo enfraquece a estrutura da membrana e eventualmente pode provocar a perda de sangue. Cada comprimido de ácido acetilsalicílico ingerido causa perda de cerca de 2 mL de sangue, quantidade que é geralmente considerada inofensiva. Contudo, a acção da aspirina pode dar origem a hemorragias sérias em algumas pessoas. É interessante notar que a presença de álcool torna o ácido acetilsalicílico ainda mais solúvel na membrana aumentando as hipóteses de hemorragia.” Chang, 1994, p. 692 79 Resolve um problema (I)... Poder-se-ia dizer que o ácido acetilsalicílico possui na sua estrutura uma parte hidrofílica e uma parte hidrofóbica. Como se pode relacionar isso com a estrutura das membranas celulares? O ácido acetilsalicílico é solúvel em álcool etílico. Terá isso a ver com forças intermoleculares? Explica. Resolve um problema (II)... Como se relaciona a ionização do ácido acetilsalicílico no estômago com o princípio de Le chatelier ? O ácido acetilsalicílico é moderadamente fraco. Será possível calcular o grau de dissociação do ácido acetilsalicílico no estômago? Faz um relatório ... Sugestão: Elabora um relatório propondo soluções para estes problemas. Junta-o ao portefólio. 80 7. No laboratório... O ácido acetilsalicílico pode ser preparado em laboratório mas para isso é necessário conhecer e dominar várias técnicas. A segurança, quer na manipulação de substâncias quer de equipamentos, é um aspecto a ter em conta. Não é possível fazer investigações rigorosas sem saber medir massas e volumes. Será ainda necessário aprender as técnicas adequadas à purificação e identificação de substâncias. Para ter um controlo adequado sobre uma síntese laboratorial é preciso dominar os cálculos estequiométricos. Será necessário identificar o reagente limitante e o reagente em excesso, considerar a presença de impurezas e determinar o rendimento de reacções. Módulos de formação... Segurança no laboratório Sugestão: consulta o guia interactivo sobre segurança em laboratórios de química: http://www.edunau.net/oficina/oficinageral.asp Operações laboratoriais básicas Sugestão: visiona o vídeo Técnicas Laboratoriais de Química - Núcleo de Audiovisuais do IST - Distribuição: Sociedade Portuguesa de Química. Módulo de formação... O(A) professor(a) fará uma apresentação oral para abordar os seguintes tópicos: • Estequiometria. Resolução de alguns problemas. • Reagente limitante. Resolução de alguns problemas. • Rendimento de uma reacção química. Resolução de alguns problemas. 81 8. Sintetizar, analisar e purificar O ácido acetilsalicílico pode ser sintetizado a partir do ácido salicílico e do anidrido acético. A reacção envolvida é representada pela seguinte equação química: CH3 OH O OH O ácido salicílico + CH3 C O O O OH CH3 C O anidrído acético + O ácido acetilsalicílico O CH3 C OH ácido acético Conjuntamente com o ácido acetilsalicílico obtém-se o ácido acético. O ácido acetilsalicílico obtido pode ser purificado por recristalização. Investigação Experimental (I)... Planeia um trabalho laboratorial guiado pelas seguintes questões de investigação: Como sintetizar ácido acetilsalicílico? Como identificá-lo? Como optimizar o rendimento da síntese? Sugestões: A preparação do ácido acetilsalicílico é um trabalho clássico em síntese orgânica. Pesquisa em manuais escolares de química do ensino secundário procedimentos para síntese do ácido acetilsalicílico. Investigação Experimental (II)... Planeia um trabalho laboratorial guiado pelas seguintes questões de investigação: Como purificar o ácido acetilsalicílico? Como optimizar a purificação? Como avaliar o grau de pureza do produto obtido? Sugestões: Pesquisa em manuais escolares de química do ensino secundário procedimentos para a purificação e análise do ácido acetilsalicílico 83 NOTA IMPORTANTE: É absolutamente necessário submeter todos os procedimentos à aprovação do(a) professor(a) antes da realização de qualquer actividade laboratorial. O procedimento deve incluir uma avaliação de risco. Faz um relatório... Sugestão: Elabora um relatório científico com as respostas possíveis às questões de investigação e em que dês conta dos processos desenvolvidos e das dificuldades enfrentadas. 84 9. Medicamentos fora de uso: que destino? Organiza uma campanha... Tal como a aspirina, também outros medicamentos têm prazo de validade. Os medicamentos fora de uso devem ser eliminados de forma adequada. A turma poderá dinamizar uma campanha de recolha de medicamentos fora de uso. 85 10. Prós e contras do ácido acetilsalicílico “O ácido acetilsalicílico é uma substância que traz importantes benefícios para a saúde. Em pequenas doses - geralmente um comprimido por dia - pode ajudar a prevenir ataques cardíacos. Doses normais de dois ou mais comprimidos reduzem a dor e a febre. Na maior parte das situações o ácido acetilsalicílico é tido como completamente segura, contudo, apresenta alguns efeitos colaterais. Pode provocar perturbações gástricas, induzir úlceras e provocar retenção de fluídos pelos rins. Doses elevadas e prolongadas podem provocar a perda de equilíbrio e ligeira perda de audição. Vários estudos sugeriram uma associação – não uma relação causa efeito, mas uma possível ligação – entre o ácido acetilsalicílico e o síndroma de Reye. Esta doença rara mas por vezes fatal pode afectar crianças e adolescentes em convalescença da gripe ou da varicela. Os médicos podem prescrever doses diárias de ácido acetilsalicílico para quem sofre de arterite. Imagina que as tuas articulações doíam constantemente limitando a tua actividade. O ácido acetilsalicílico poderia aliviar a dor. 1. Tomarias o ácido acetilsalicílico? Ou seja, preferias suportar a dor ou sofrer os possíveis efeitos colaterais? 2. Se tomasses ácido acetilsalicílico, como poderias evitar alguns dos efeitos colaterais a longo prazo? 3. Medicamentos com outros princípios activos que não o ácido acetilsalicílico estão também disponíveis sem prescrição, por exemplo iboprofene e acetaminofene. a) Que informação obterias para decidir qual destes medicamentos seria preferível para a arterite em vez da aspirina? b) Onde obterias essa informação? 4. Porque deves tomar medicação apenas quando ela é realmente precisa?” Adaptado de ChemCom, 1993 87 Pesquisa... Obtém mais informação relevante sobre esta problemática. Procura fundamentar as tuas opiniões para o debate que se segue. Debate... Organizar um debate com base nas questões colocadas no texto. 88 11. No final... Recorda a questão inicial deste projecto: Como fazer uma utilização adequada da aspirina? Discute... Troca impressões com os teus colegas e professor(a) sobre a questão atrás enunciada. Elabora um relatório final... Sugestões: 1. Revê os documentos que integram o teu portfolio. 2. Elabora um mapa de ideias que articule e sintetize os tópicos que abordaste. 3. Elabora um relatório onde expliques de que forma os trabalhos realizados contribuíram para a clarificação de ideias sobre a questão inicial. Elabora um cartaz... Elabora um cartaz para divulgar junto da comunidade escolar os aspectos mais relevantes deste projecto. 89 Notas para o professor 1. Aspirina: como promover uma utilização racional? A finalidade desta actividade é dar ao conhecer aos alunos a temática através de uma questão-guia. O texto introdutório, sugere algumas abordagens preconizadas nas actividades seguintes. Alguns sítios úteis sobre a aspirina são: http://www.chemheritage.org/EducationalServices/pharm/asp/asp00.htm http://www.aspirin-foundation.com http://www.wellesley.edu/Chemistry/Chem101/aspirin/proteins.html http://www.aspirina.com 2. O que é o ácido acetilsalicílico? A pesquisa dos alunos incidirá nos conteúdos básicos da química orgânica que são mais acessíveis. O(A) professor(a) poderá sugerir a pesquisa em determinados livros. Por exemplo: Chang, R. (1994) Química – 5º Ed., Lisboa, Mc Graw Hill Morrison, R. & Boyd, R. (1990) Química orgânica – 9º Ed., Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. 3. Porque é ácida a aspirina? Procura reforçar-se os conceitos de fórmula molecular e de estrutura e ainda abordar o equilíbrio de ácido-base. Estes aspectos são necessários a uma boa compreensão das propriedades químicas do ácido acetilsalicílico. Como estes conteúdos são conceptualmente mais exigentes, sugere-se uma abordagem por módulos de formação. Propõe-se a resolução de um problema a resolver de acordo com uma perspectiva investigativa (ver secção “A concepção de situações-problema - Resolução de problemas”). Como é o primeiro problema poderá ser necessária uma maior colaboração do professor. O pKa do ácido acetilsalicílico é 3,49. 4. Um pouco de história Os sub-temas podem ser adequadamente articulados com as diferentes investigações experimentais propostas na actividade 8. Esta actividade constitui uma boa oportunidade para construir representações da evolução da ciência mais concordantes com a Nova Filosofia das Ciências. Alguns sítios procuram explorar esta perspectiva. Por exemplo: http://www.chemheritage.org/EducationalServices/pharm/asp/asp60.htm 91 http://www.mjm.mcgill.ca/issues/v02n02/aspirin.html http://www.mec.gov.br/semtec/ensmed/comofaz.shtm 5. Efeitos terapêuticos Esta situação-problema permitirá explorar vários conteúdos como por exemplo: fármacos, acção terapêutica, mecanismo de coagulação do sangue, sensação de dor, actividade enzimática, etc. 6. Os efeitos secundários Ainda que as soluções de acetilsalicilato de sódio sejam alcalinas (dado que o acetilsalicilato de sódio é par conjugado de um ácido fraco) o acetilsalicilato de sódio estará sempre em equilíbrio com o ácido acetilsalicílico, predominando esta última espécie, devido à elevada acidez do estômago. CH3 O CH3 O O O Na + + + H O OH O + Na + O As questões devem ser abordadas através de um processo investigativo (ver secção “A concepção de situações-problema - Resolução de problemas”) As duas questões podem ser distribuídas pelos vários grupos em função do grau de dificuldade. É recomendável que no final se produza uma síntese para toda a turma. 7. No laboratório... Neste módulo de formação, procura-se desenvolver um conjunto de competências que serão necessárias nos trabalhos laboratoriais da actividade seguinte. No final desta actividade, o aluno deverá ser capaz de: • cumprir regras gerais e específicas de segurança. • medir massas e volumes (com proveta, pipeta). • filtrar por gravidade (a quente) e a pressão reduzida. • determinar pontos de fusão. • efectuar cálculos estequiométricos (impurezas, reagente limitante, rendimento). O primeiro módulo de formação deverá terminar com a execução prática de algumas actividades laboratoriais simples: por exemplo, pipetar, medir massas, determinar o ponto de fusão, etc. Os problemas de estequiometria – a seleccionar pelo professor – devem ser resolvido através de um processo investigativo (ver secção “A concepção de situaçõesproblema - Resolução de problemas”). 92 8. Sintetizar, analisar e purificar... Procurámos adaptar alguns trabalhos laboratoriais bem conhecidos (síntese, purificação, análise de ac. acetilsalicílico) de forma a conceber investigações experimentais. Algumas referências fundamentais para preparar este trabalho são: • Simões T., Queirós M. & Simões, M. (2000) Técnicas laboratoriais de Química – Bloco II, Porto, Porto Editora. • Domingues, L., Abreu, M. (1997) Técnicas Laboratoriais de Química – Bloco II, Amadora, Raiz Editora. • http://thechalkboard.com/Corporations/Dow/Programs/NSTA_Lessons/Aspirin.html As seguintes sub-questões poderão guiar as investigações experimentais: Como sintetizar ácido acetilsalicílico? Como identificá-lo. Como optimizar o rendimento da síntese? • Qual é a razão de ser de cada um dos passos indicados nos procedimentos consultados? • Como saber qual é o reagente limitante? • Como podemos identificar a presença de ácido acetilsalicílico? (cromatografia) • Como se pode calcular o rendimento da síntese? Como se pode melhorar o rendimento? Como purificar o ácido acetilsalicílico? Como optimizar a purificação? Como avaliar o grau de pureza? • Qual é a razão de ser de cada um dos passos indicados nos procedimentos consultados? • Como podemos avaliar o grau de pureza do ácido acetilsalicílico? (ponto de fusão, titulação) • Como se pode calcular o rendimento da purificação? Para relacionar estas investigações experimentais com a questão-guia do projecto, pode perguntar-se aos alunos se acham razoável utilizar como medicamento o ácido acetilsalicílico por eles produzido. Podem ser questionados sobre o rendimento deste processo e sobre a qualidade do produto final. 9. Medicamentos fora de uso: que destino? Algumas sugestões: • Pedir folhetos informativos nas farmácias para distribuir na escola. • Elaborar cartazes de informação. • Conceber outras acções mais imaginativas. 10. Prós e contras do ácido acetilsalicílico Esta é uma actividade central na concretização do projecto, já que confronta os alunos com um conjunto de situações dilemáticas relacionadas com a questão-guia para a qual se procuram respostas. 11. No final... Na elaboração do relatório, os alunos poderão socorrer-se de todos os trabalhos existentes no seu portfolio. 93 Conclusões A capacidade de conceber, conduzir ou participar em projectos é, sem dúvida, uma competência da maior importância e deve constituir uma dimensão essencial na formação dos alunos de todos os níveis de ensino. Na nossa perspectiva, o ensino com base em projectos pode desenvolver nos alunos competências essenciais para a vida profissional, social, e mesmo pessoal. Permite lidar com a diversidade e individualidade e integrar importantes vertentes da educação em ciências. Constitui, quanto a nós, um modo privilegiado para alcançar metas educacionais mais relevantes. A participação em projectos permite desenvolver capacidades de trabalho tais como a persistência, a responsabilidade e o espírito de equipa, que são muito úteis à completa construção da personalidade do indivíduo. Trabalhar em projectos permite envolver os alunos na abordagem de temas e problemáticas locais, regionais ou globais, com relevância para a sua educação científica, implicando quase sempre uma motivação elevada para a aprendizagem. Um ensino com base em projectos implica a adopção de metodologias adequadas. A pesquisa, selecção, tratamento e divulgação de informação são, sem dúvida, tarefas importantes em qualquer projecto. Também a organização de eventos lhes pode conferir um maior dinamismo. Mas, tratando-se de projectos de ensino/aprendizagem de ciências, eles podem, e devem, envolver o trabalho laboratorial (preferencialmente de carácter investigativo), a resolução de problemas e mesmo a abordagem de assuntos científicos controversos. 95 O Esquema 9 esboçam-se as principais linhas orientadoras do modelo de ensino por projectos que temos vindo a defender. Esquema 9 - Desenvolvimento do projecto. PROJECTO parte de Temática de carácter CTS desenvolve-se através de Situações-problema com base numa permitem obter Questão-guia Resultados que são de natureza Sub-questões que são Interdisciplinar que podem envolver produtos concretos produção de informação, construção de artefactos, resolução de problemas, investigações experimentais, discussão de controvérsias e organização de eventos tais como que concorrem para a resposta relatório, artefacto, comunicação oral, póster, artigo, etc. Esperamos que a proposta aqui desenvolvida possa ser um instrumento de trabalho gerador de estratégias úteis para educação em Ciência em todos os níveis de ensino e que este guia didáctico se revele um documento útil no que respeita à planificação de actividades de ensino com base em projectos. 96 Bibliografia Abrantes, P. (1995) O Trabalho de Projecto e a Relação dos Alunos com a Matemática, Associação de Professores de Matemática. Barbier, J-M. 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