PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DAS
MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
ATENDIDAS NO SERVIÇO DE APOIO À
MULHER, RECIFE-PE
INSTITUTO MATERNO-INFANTIL DE PERNAMBUCO
(IMIP)
PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DAS MULHERES
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ATENDIDAS NO SERVIÇO DE
APOIO À MULHER, RECIFE-PE
CLÁUDIA VIANA HENRIQUES
RECIFE
2004
CLÁUDIA VIANA HENRIQUES
PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DAS MULHERES VÍTIMAS
DE VIOLÊNCIA ATENDIDAS NO SERVIÇO DE APOIO À MULHER,
RECIFE-PE
DISSERTAÇÃO
APRESENTADA
AO
COLEGIADO DO CURSO DE MESTRADO EM
SAÚDE MATERNO-INFANTIL DO INSTITUTO
MATERNO-INFANTIL
DE
COMO
REQUISITOS
PARTE
DOS
PERNAMBUCO
PARA
OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM
SAÚDE MATERNO-INFANTIL
ORIENTADOR: GILLIATT FALBO
CO-ORIENTADORA: MELANIA AMORIM
RECIFE
2004
ESTA TESE É DEDICADA...
A todas as mulheres,
Participantes ou não deste estudo, violentadas ou
não, trabalhadoras, lutadoras, sonhadoras, felizes...
fontes de vida.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todas as pessoas que, de alguma forma estiveram presentes
na elaboração desta dissertação, mas em especial...
A Deus, força maior e comandante de todos nós, sem o qual nada seria possível.
Obrigada por todas vitórias alcançadas.
Aos meus pais Ronald e Salete, primeiros e maiores incentivadores de nossas
descobertas, guias de nossas trajetórias pessoais e acadêmicas, torcedores inveterados pelos
nossos sucessos. Obrigada por todo amor, carinho e compreensão.
A Bira, meu amado marido, companheiro de todas as horas, sempre disposto a
ajudar e oferecer carinho; minha salvação nas dificuldades com o mundo da informática.
A meu filho Mateus, pelo simples fato de existir, por ser tão compreensivo e se
conformar com as muitas privações da minha companhia, por me transmitir, mesmo que
involuntariamente, tanta força. Muito obrigada. Eu te amo!
Às minhas queridas irmãs, Juliana e Flávia, que estão sempre prontas a me socorrer
nos momentos de maior sufoco.
Ao Dr. Aurélio Costa, amigo e grande incentivador do meu ingresso no mestrado.
Meu guia metodológico e meu professor de Epi-Info 2002, que com sua alegria e
disposição para ajudar e nos animar nas piores dificuldades. Muito obrigada.
A Dr. Gilliatt Falbo, meu orientador, pela paciência e prestatividade com que
sempre me recebeu.
À Dra. Melania Amorim, pelo incentivo à pesquisa e total ajuda na elaboração de
nossos projetos de pesquisa.
À Dra. Adriana Scavuzzi, pelas preciosas dicas e total ajuda prestada no “abstract”.
Ao Dr. Luis Carlos Santos, eterno “chefe”, pelas oportunidades e incentivos desde a
época da Residência Médica.
À Dra. Sonia Figuerêdo, pela liberação das minhas atividades profissionais no IMIP
durante as aulas do mestrado.
Ao Dr. João Guilherme, coordenador do mestrado, em nome do qual agradeço a
todos os professores pelos ensinamentos a nós dedicados.
A Jocilene, pelos inúmeros ajustes de horários dos meus ambulatórios. Obrigada.
Sem a sua ajuda eu não conseguiria cumprir minha carga horária de aulas.
Aos meus colegas de mestrado, Lippo, Márcio, Ana, Cínthia, Liliane, Conciana,
Lúcia, Joaquim e Celso, por terem tornado mais amenas as longas horas de aulas.
À Sra Odimeres Oliveira, secretária do mestrado, pelas inúmeras ajudas e dicas, que
tornaram mais fáceis as atividades do mestrado.
À coordenação do SAM, por me ter permitido realizar este estudo.
SUMÁRIO
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
LISTA DE ABREVIATURAS
RESUMO
ABSTRACT
I. INTRODUÇÃO
01
II. OBJETIVOS
11
III. MÉTODOS
12
3.1 Local do estudo
3.2 Desenho do estudo
3.3 População estudada
3.4 Critérios e procedimentos para a seleção dos sujeitos
3.5 Variáveis pesquisadas
3.6 Definição de termos e categorização das variáveis
3.7 Procedimentos para a coleta dos dados
3.8 Processamento e análise dos dados
3.9 Revisão da literatura
3.10 Aspectos éticos
12
13
13
13
14
14
18
18
19
19
IV. RESULTADOS
21
V. DISCUSSÃO
36
VI. CONCLUSÃO
46
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
48
ANEXO
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Distribuição das mulheres atendidas no SAM segundo a faixa etária
21
GRÁFICO 2 - Distribuição das usuárias do SAM segundo a cor da pele
22
TABELA 1 - Distribuição das mulheres atendidas no SAM segundo o estado civil
23
TABELA 2 - Grau de escolaridade das usuárias do SAM
24
TABELA 3 - Renda familiar das mulheres atendidas no SAM
25
TABELA 4 - Principais tipos de agressões sofridas pelas usuárias do SAM
26
TABELA 5 - Localização das lesões
27
TABELA 6 - Principais tipos de lesões apresentadas
28
TABELA 7- Existência de gravidez no momento da agressão
29
TABELA 8 - Formas de intimidação
30
TABELA 9 - Distribuição do agressor por grau de conhecimento
31
TABELA 10 - Distribuição dos agressores por idade
32
TABELA 11 - Distribuição dos agressores segundo a escolaridade
33
TABELA 12 - Distribuição dos agressores por renda
34
TABELA 13 - Uso de álcool pelo agressor
35
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
IMIP – Instituto Materno-Infantil de Pernambuco
HAM – Hospital Agamenon Magalhães
SAM – Serviço de Apoio à Mulher
OMS – Organização Mundial de Saúde
OPS – Organização Panamericana de Saúde
EUA – Estados Unidos da América
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
RESUMO
OBJETIVOS: Determinar o perfil clínico-epidemiológico das mulheres vítimas de
violência atendidas no Serviço de Apoio à Mulher (SAM) no período de junho/2001 a
dezembro/2002.
MÉTODOS: Realizou-se um estudo descritivo, do tipo corte transversal, incluindo todas as
mulheres atendidas no SAM no referido período. Foram excluídas as pacientes menores de
20 anos de idade, pois estas apresentam características próprias e serão objeto de outro
estudo já em andamento. Foram avaliados as características biológicas, sócio-demográficas,
os tipos de violência e lesões sofridas, a existência de gravidez no momento da agressão, as
formas de intimidação sofridas e o perfil dos agressores. Para a coleta dos dados, adotou-se
um formulário padrão codificado para entrada dos dados em computador.
Processamento e análise dos dados: após a coleta, os dados foram digitados em banco de
dados específico gerado no programa Epi-Info 2002, de domínio público, sendo submetidos
a testes de consistência e validação. A análise dos dados foi feita pela própria pesquisadora
com auxilio dos orientadores utilizando o programa Epi-Info 2002.
Aspectos éticos: o presente estudo atende às recomendações da resolução 196/1996 do
Conselho Nacional de Saúde e foi submetido à aprovação da Comissão de Ética em
Pesquisa do Hospital Agamenon Magalhães. Neste estudo não foram utilizados dados
referentes aos nomes das pacientes nem quaisquer outras formas de identificá-las.
RESULTADOS: A mediana da idade das pacientes foi de 30,0 anos, com um mínimo de 20
e um máximo de 88 anos. Parda foi a cor da pele predominante, estando presente em 58,5%
dos casos. O estado civil predominante foi o solteira com 274 das 477 pacientes avaliadas.
O grau de escolaridade foi na maioria dos casos menor que oito anos de estudo. A renda
familiar das usuárias foi de até 1 salário mínimo em 31% das pacientes e de um a dois
salários mínimos em 27% das usuárias. O principal tipo de agressão sofrida foi a física,
estando presente em 78,4% dos casos. As principais áreas lesadas foram cabeça, face,
membros superiores e região genital e os principais tipos de lesões encontrados foram as
escoriações, equimoses/hematomas e as lesões de pele e tecido celular sub-cutâneo.
Quarenta e quatro (9,2%) pacientes encontravam-se grávidas no momento da agressão. A
principal forma de intimidação utilizada pelos agressores foi a força física, apresentando-se
em 83,5% dos casos. Os parceiros e ex-parceiros íntimos somados constituíram-se nos
principais agressores descritos. A idade da maioria dos agressores era desconhecida, bem
como a renda e a escolaridade dos mesmos. Encontrou-se uma forte associação entre o
consumo de álcool pelo agressor e a violência.
CONCLUSÃO: A maioria das pacientes avaliadas eram adultas jovens, solteiras, com
renda familiar de até dois salários mínimos e escolaridade de menos de oito anos de estudo
completos. Os agressores eram na sua maioria parceiros íntimos das usuárias e verificou-se
o uso de álcool por muitos dos agressores.
PALAVRAS-CHAVE: Corte transversal. Causas externas. Mulher. Violência.
ABSTRACT
OBJECTIVES: To detrmine the epidemiologic charecteristcs of women victm of violence
attended in the SAM of Agamenom Ma galhaes Hospital
SUBJECT AND METHODS: A retrospectiv cross seccional study was conducted enrolling
all women attended in the SAM during the period of June 2001 to December 2002. We
studied some epidemiologic factors of womem victm of violence such as biologic and
social demographic characteristic, the kind of violence used, type of body injury, presence
of pregnancy, type of intimidation used by the the aggressor and theirs charecteristics.
Data collection were obtained through standard formularies and anylised using the EpiInfo
2002 program of public domain by the researcher. The local Ethics Committee has
reviewed and approved the research protocol.
RESULTS: The mean age of women victm of violence was 30 years, varying from 20 to 88
years. Most women were fair on the skin (58,5%) and single. The great majority of the
victm of violence studied less than 8 years. The family income was less than a minimal
salary in 31% of women and between 1 and 2 in 27% of the cases. Physical aggression was
the most frequent kind of violence used (78,4%). The most frquent body area injured during
aggression was head, face, arms and the genital area. Wounds and brusies were the most
frequent kind of lesion observed in women victm of violence. In 9,2% of the cases women
were pregnant during the aggression. Physical force was used in 83% of the cases. Partner
and ex-partner were the aggressors in more than half of the cases. The aggressor age,
income and nivel escolaridade was unknown in a great part of the time. A strongly
association betweem alcholl use and violence as observed.
CONCLUSION: The great majority of women victm of violence were young, single, with
2 minimal salary income and studied less than 8 years. Regarding the aggressor
characteristics, most were close to the victm (partner and ex partner) and a strong
association between alcohol consumption and violence was found
1
I. INTRODUÇÃO
Violência (do latim violentia) pode ser definida, levando-se em consideração sua
origem etimológica, como “qualidade ou ação de violento; emprego abusivo da força;
constrangimento físico ou moral” (ALMEIDA, 2001). A Organização Mundial de Saúde
(OMS) define a violência como “uso da força física ou psicológica, ou a coação moral por
um indivíduo ou grupo, contra si, ou contra outra pessoa, ou grupo de pessoas, que resulta
em destruição ou danos ou que inflige ou viola os direitos da(s) vítima(s)” (OMS, 1997). O
Ministério da Saúde do Brasil define: “a violência é o evento representado por ações
realizadas por indivíduos, grupos, classes ou nações que ocasionam danos físicos,
emocionais, morais e/ou espirituais a si próprio ou a outros. Por exemplo, agressão física,
abuso sexual, violência psicológica, violência institucional” (MENDONÇA, 2001).
Pode-se dizer que existe uma violência estrutural, que se apóia sócio-econômica e
politicamente, nas desigualdades das classes e grupos sociais; uma violência cultural, que
se manifesta nas relações de dominações raciais, étnicas, dos grupos etários e familiares;
uma violência de delinqüência que se caracteriza por ações fora da lei socialmente
reconhecida; e uma violência de resistência, que se traduz nos diferentes modos de resposta
dos grupos, classes e nações submetidos e subjugados por outros de alguma maneira
(MINAYO, 1994).
A incorporação da alta tecnologia na vida cotidiana, a industrialização das
atividades do ser humano, as crises econômicas e a sobrepopulação das grandes cidades
constituem-se em uma fonte geradora de conflitos. Estes e outros fatores contribuem para o
2
incremento dos danos à saúde originados por acidentes e violências (VALENCIA et al.,
2000).
A violência representa atualmente um dos mais graves problemas das sociedades
mundiais. O impacto que as causas externas (homicídios, suicídios, acidentes de tráfego e
outras injúrias) têm provocado na mortalidade não se constitui em um fenômeno localizado:
ele encontra-se presente nas grandes metrópoles do mundo, desenvolvido ou não,
assumindo características de epidemia, constituindo-se em um problema de Saúde Pública
(BARROS, 1999).
Os comportamentos humanos violentos são fenômenos complexos, não só pela
multiplicidade de fatores envolvidos, mas pela pluralidade de formas que podem assumir.
Tomados em seu conjunto, os diversos tipos de violência têm impacto na conformação do
quadro de mortalidade e morbidade de um país ou região bem como na organização e
demanda dos serviços de saúde (NORONHA et al., 1999). A morbi-mortalidade ocasionada
pela violência afeta os sistemas de saúde aumentando as demandas aos serviços, saturandoos não somente com a atenção ao traumatismo, mas também com reabilitação física,
atendimento psicológico, recuperação das capacidades produtivas e adaptação às novas
limitações orgânicas (ORTEGA et al., 2001).
Embora não existam indicadores adequados para avaliar seu impacto total, a OMS e
o Banco Mundial têm estimado que os atos de violência constituem cerca de 15% da carga
mundial de enfermidades (ORTEGA et al., 2001).
Nos últimos 30 anos houve um aumento significativo da violência em todo o
mundo, refletindo nas taxas de mortalidade, chegando, em algumas regiões e faixas etárias,
a ultrapassar as doenças infecciosas, crônico-degenerativas e neoplasias (MENDONÇA,
2001).
3
Nos Estados Unidos da América (EUA), estima-se que por dia morrem 65 pessoas
devido a violência interpessoal e que até 6000 pessoas, por dia, sofrem alguma forma de
dano físico como resultado de um ato violento, provocando um gasto de aproximadamente
10 bilhões de dólares com cuidados médicos e até 23 bilhões de dólares em produção
perdida todos os anos. Dado o número de vítimas mortas ou prejudicadas por violência
intencional, este é sem dúvida um dos principais problemas de Saúde Pública dos EUA
(SCOTT, 2001).
Nos EUA o trauma é a mais freqüente causa de morte nas quatro primeiras
décadas de vida e a quarta mais freqüente causa de morte em todas as faixas etárias,
ultrapassado apenas pelas doenças cardíacas, neoplasias malignas e doenças cérebrovasculares (WRIGHT & LITAKER, 1998).
De acordo com MENDONÇA, 2001, o trauma tem sido a principal causa de morte e
deficiências em crianças e adultos no continente africano e em parte da Ásia.
A América Latina e o Caribe são consideradas as zonas mais violentas do mundo
com uma taxa regional de violência de aproximadamente 20 homicídios por cada 100.000
habitantes (ORTEGA et al., 2001). Apenas no ano de 1993, 465.000 óbitos devidos a atos
violentos foram relatados nesta região (MENDONÇA, 2001).
No Brasil, no ano de 1999, as causas externas foram a segunda causa mais freqüente
de morte na população geral, sendo ultrapassada apenas pelas doenças do aparelho
circulatório. Na faixa etária de 10 a 29 anos as causas externas foram a primeira causa de
morte (DATASUS, 2004).
Entre 1980 e 1988, Recife apresentou os maiores crescimentos na mortalidade por
causas externas dentre as capitais do país, passando estas causas de sexta à segunda causa
de mortalidade (MINAYO & SOUZA, 1993). No ano de 1999, as causas externas
4
mantiveram-se como a segunda causa mais freqüente de mortalidade no Recife, sendo a
primeira causa as doenças do aparelho circulatório, padrão este semelhante aos
apresentados pelo Brasil como um todo (DATASUS, 2004).
Violência Contra a Mulher
A Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1993, reconhece a violência contra a
mulher como “qualquer ato de violência de gênero que resulte, ou tenha possibilidade de
resultar, em prejuízo físico, sexual ou psicológico, ou ainda sofrimento para as mulheres,
incluindo também a ameaça de praticar tais atos, a coerção e a privação da liberdade,
ocorrendo tanto em público quanto na vida privada” (OMS, 1997).
A mulher é quem mais sofre, tanto a violência de comportamento como a violência
estrutural, em virtude das atribuições sociais que lhe atribuem um papel secundário,
limitando sua cidadania em todos os níveis de hierarquia social (DESLANDES et al.,
2000).
Violência física e sexual expõem as mulheres a riscos, a curto prazo, e a
seqüelas, a longo prazo, envolvendo o bem estar psicológico, físico, econômico e social
delas (BRAND , 2003).
O problema da violência contra a mulher é um fenômeno mundial, que, através do
movimento feminista, no final dos anos 60 começa a ganhar corpo e visibilidade
(TAVARES, 2000), mas somente a partir da década de 90 (1993) foi declarada pela
Organização Panamericana de Saúde (OPS) como sendo um problema de saúde pública
(MAIRA, 1999). Em 1996, uma resolução da OMS declarou a violência contra a mulher
5
como uma prioridade em saúde e em 1999 o Fundo da População das Nações Unidas
assinalou este tipo de violência como uma prioridade da agenda de saúde pública
(VIZCARRA et al., 2001).
As causas externas foram a terceira causa mais freqüente de morte entre mulheres
no Recife, nos anos de 1992-1993, sendo que nas faixas etárias de 10 a 29 anos estas causas
foram a mais freqüente causa de morte (ALBUQUERQUE et al., 1998).
Calcula-se que uma em cada quatro mulheres será agredida pelo menos uma vez
durante a sua vida (DATNER & FERROGGIARO, 1999). Nos Estados Unidos, um estudo
envolvendo 1952 mulheres, que procuravam um serviço de cuidados primários de saúde,
mostrou que uma em cada 20 mulheres tinham experimentado algum tipo de violência
doméstica no último ano; uma em cada cinco tinham experimentado alguma violência
quando adultas; e uma em cada três tinham experimentado uma violência em toda a sua
vida (BRAND, 2003).
A mais comum forma de violência contra a mulher é a violência doméstica ou a
violência na família. Segundo estimativas do Banco Mundial, uma mulher tem maior
probabilidade de ser espancada, violada ou assassinada pelo seu parceiro atual ou anterior,
que por um estranho (OMS, 1997). As diferenças entre os cônjuges, as dificuldades de
comunicação, o desequilíbrio do poder e as dificuldades no desempenho dos papéis são
elementos básicos de conflitos entre os casais e fontes de possíveis reações violentas
(MARTIN, 1999).
A função primária da violência de parceiro é dominar, controlar ou castigar a
vítima (HAMBERGER & PATEL, 2001). A masculinidade é um elemento chave de poder;
ser homem significa ter que exercer o poder, controlar sentimentos, emoções e necessidades
6
afetivas, para evitar a perda do domínio sobre os outros e também pelo temor que lhe
atribuam características femininas. Estas características lhes outorgam um domínio sobre a
mulher (HARDY & JIMÉNEZ, 2001).
Um elemento que permite compreender a manutenção da relação de violência
conjugal foi descrito por Lenore Walker em 1979 que assinalou que existia um ciclo de
violência entendido como um processo interativo que ocorre em fases sucessivas. A
primeira fase denominada “estado de acúmulo de tensões” que se caracteriza por agressões
menores as quais vão aumentando e a mulher minimiza ou nega, como uma forma de
controlar a violência. Esta atitude passiva aparentemente reforça no homem a idéia de seu
direito a “disciplinar” a mulher. A segunda etapa caracteriza-se pela descarga incontrolável
das tensões nas quais se produzem graves episódios de maltratos. A terceira etapa chamada
“lua de mel” se caracteriza por arrependimento e demonstração de afeto do homem, que
sente-se culpado e está convencido que não voltará a fazer. A mulher tende a acreditar e
está disposta a ajudá-lo, recebe pressões por parte de conhecidos e familiares e sente-se
culpada por desejar abandoná-lo, aceitando desta forma manter a relação (VIZCARRA et
al., 2001).
A violência intra-familiar é uma enfermidade silenciosa, oculta, que se apresenta
tanto nos países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento e cujas conseqüências
são uma pesada carga de morbidades, que requerem um alto gasto em saúde e interferem no
desenvolvimento social e econômico dos países (VIZCARRA et al., 2001).
A violência doméstica apresenta-se de muitas formas, desde o homicídio, violação e
maltrato, agressão verbal e outras formas de intimidação (ARCOS et al., 1999).
7
Estima-se que no mundo mais de 5.000.000 mulheres por ano são vítimas de abusos
físicos severos por parte de seus esposos, assinalando-se que 75% dos casos de violência
intrafamiliar são contra a mulher (ZALDÍVAR et al., 1998).
Em recentes anos, as conseqüências da violência doméstica expandiram-se da esfera
exclusiva do sistema de justiça criminal para incluir o sistema de cuidados médicos,
caracterizando-se em um problema de saúde pública (BROKAW et al., 2002).
O Departamento de Polícia do Kansas, EUA, documentou, entre 139 mulheres
vítimas de homicídio, 34 casos (24,5%) relacionados à violência doméstica; o marido atual
da vítima cometeu o assassinato em 23 (67,7%) casos, o parceiro íntimo responderam por 8
(23,5%) e em 3 casos o assassino foi o marido anterior (WADMAN & MUELLEMAN,
1999). Homicídio executado por parceiro íntimo é a causa de morte entre 1200 e 2000
mulheres americanas a cada ano (CAMPBELL et al., 2003).
Nos EUA a violência doméstica afeta 12% a 25% das mulheres que procuram os
serviços primários de saúde (HAMBERGER & PATEL, 2001). Estima-se que naquele país,
a cada ano, cerca de 1,8 milhões de mulheres são agredidas fisicamente pelo seu parceiro
(RICKERT et al., 2002). Nas duas últimas décadas a violência doméstica foi também
reconhecida como um problema de Saúde Pública naquele país (YEAGER & SEID, 2002).
Pesquisa realizada no Canadá mostrou que a violência de gênero atinge quase um
quarto da população feminina daquele país (FONTANA, 1999).
Estatísticas mostram que, pelo menos uma vez ao ano, 50% das mulheres árabes são
espancadas por seus maridos e 25% uma vez a cada seis meses (FONTANA, 1999).
No Brasil, dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios de 1990, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que de todas as agressões
8
físicas cometidas no âmbito da residência, 63% das vítimas foram mulheres (DESLANDES
et al., 2000).
Outra forma comum de violência contra mulher é a violência sexual, cuja
experiência tem um forte efeito na saúde subseqüente da vítima, tornando-se também um
assunto de Saúde Pública (LINDEN, 1999).
As agressões sexuais manifestam-se de diversas formas (estupro, atentado violento
ao pudor, abuso sexual entre outras), porém três elementos são requeridos: ameaça ou uso
da força, evidência de contato sexual e falta de consentimento (PATEL & MINSHALL,
2001).
Nos EUA, o Federal Bureau of Investigation, em 1994, calculou que uma em cada
três mulheres sofrerá agressão sexual em algum momento das suas vidas (RIGGS et al.,
2000).
Na América Latina os estudos de prevalência de violência na comunidade são quase
inexistentes. Resultados obtidos na Argentina, Brasil e Costa Rica mostraram que entre 7 e
15% das mulheres entrevistadas haviam sido atacadas sexualmente por desconhecidos nos
últimos cinco anos (LIRA et al., 2001).
Ao contrário do que acredita-se, a maioria das agressões sexuais é praticada por
conhecidos e familiares das vítimas. Nos EUA, segundo o National Women’s Study, 29%
das mulheres foram estupradas por conhecidos, 9% por ex-maridos, 11% por padrastos,
10% por namorados e 16% por outros parentes; somente 22% das mulheres foram
estupradas por estranhos (LINDEN, 1999). Desta forma, a violência sexual constitui-se
muitas vezes em uma forma de violência doméstica.
9
A violência sexual contra a mulher tem sido, nos últimos tempos, uma preocupação
por parte dos profissionais de saúde e da própria comunidade (ANDRADE et al., 2001). As
mulheres que sofreram violência sexual precisam, além do apoio psicológico para superar o
trauma, receber prevenção para doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada,
assim como tratamento das lesões físicas, ratificando a importância deste tipo de violência
ser considerada como um problema de Saúde Pública (FAÚNDES, 2000). Questões a
respeito de essas mulheres adquirirem doenças sexualmente transmissíveis (DST’s),
incluindo o risco de transmissão de HIV, bem como as profilaxias para se evitar as DST’s e
gravidez decorrente da violência ratificam a importância desta entidade como um problema
de saúde pública (ANDRADE et al., 2001).
Apesar da freqüência com que as mulheres são agredidas muitas vezes elas não
procuram atendimento médico e quando o fazem, não raramente, a agressão não é
identificada, ou porque elas “escondem” o ocorrido ou porque os médicos estão
desavisados sobre a prevalência da violência contra a mulher e simplesmente não a
pesquisam (YEAGER & SEID, 2002). Estudos mostram que os médicos não pesquisam
suas pacientes para violência por treinamento insuficiente, curto tempo do atendimento ou
por perceberem uma falta de intervenção efetiva (KRASNOFF & MOSCATI, 2002).
Como a violência contra as mulheres configura-se em um problema de Saúde
Pública, vários estudos vêm sugerindo protocolos de investigação sistemática destas
violências, principalmente nos serviços de emergência médica, principal local de
atendimento destas vítimas (CHEZ & HORAN, 1999; HAMBERGER & PATEL, 2001;
YEAGER & SEID, 2002).
10
A violência contra a mulher exige que os médicos e profissionais da área de saúde
tenham uma compreensão das relações agressivas e do estado psicológico das vítimas,
permitindo que seja feito o diagnóstico deste tipo de violência para que se tomem medidas
eficazes de tratamento e prevenção (FRANK & RODOWSKI, 1999). Os médicos deveriam
manter um grau de consciência sobre o assunto violência e deveriam ser sensíveis a sinais e
sintomas associados a abuso (MACMILLAN & WATHEN, 2003)
Nosso estudo propõe-se a descrever um perfil clínico-epidemiológico das mulheres
atendidas em um serviço específico para violência contra a mulher, a fim de melhorar o
diagnóstico, prestar um atendimento adequado e humanizado e possibilitar medidas de
prevenção.
É bastante evidente que a violência contra a mulher constitui-se em um importante
problema de Saúde Pública, de modo que estudos descritivos como este tornam-se
necessários a fim de que se possa reconhecer as características das mulheres em situação de
violência, possibilitando adequação dos serviços de saúde para o atendimento e
acolhimento destas pacientes. Além disto, sabe-se que principalmente através do
conhecimento da dinâmica da violência podem ser propostas e tomadas as medidas
preventivas para redução da mesma.
11
II. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Determinar o perfil clínico-epidemiológico das mulheres vítimas de violência
atendidas no Serviço de Apoio à Mulher (SAM) da Secretaria de Saúde do Estado de
Pernambuco no período de junho/2001 a dezembro/2002, assim como o perfil dos
agressores.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1) Determinar algumas características biológicas das usuárias
2) Determinar algumas características sócio-demográficas
3) Determinar os principais tipos de violências e lesões sofridas
4) Determinar a existência de gravidez no momento da agressão
5) Determinar as formas de intimidações sofridas
6) Descrever o perfil dos agressores
12
III. MÉTODOS
3.1 LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi realizado no Serviço de Apoio à Mulher (SAM) da Secretaria de Saúde
do Estado de Pernambuco, que funciona nas dependências do Hospital Agamenon
Magalhães (HAM) na cidade do Recife/PE.
O HAM é um hospital público administrado pelo estado de Pernambuco e presta
atendimento eletivo e emergencial, dentre os quais encontra-se o SAM.
O SAM dispõe de sete Médicos, seis Enfermeiras, quatro Psicólogas e duas
Assistentes Sociais, contando ainda com a colaboração de uma Defensora Pública. O
atendimento médico e de enfermagem é oferecido 24 horas por dia, em regime de plantões,
todos os dias da semana. A psicologia e a assistência social funcionam regularmente 12
horas por dia (07:00 às 19:00h) de 2ª a 6ª feiras e em regime de sobreaviso durante a noite,
finais de semana e feriados, sendo acionadas as profissionais em caso de necessidade.
O SAM funciona como centro de referência na assistência de mulheres vítimas de
violência no Estado de Pernambuco, recebendo pacientes oriundas da região metropolitana
do Recife e também de cidades do interior do estado, funcionando em parceria com as
Secretarias estaduais de Defesa Social, Educação e Justiça, contando ainda com o apoio do
Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP).
13
3.2.DESENHO DO ESTUDO
Realizou-se um estudo descritivo, tipo corte transversal, através da análise dos
prontuários das pacientes atendidas no Serviço de Apoio à Mulher no período de
junho/2001 a dezembro/2002.
3.3 POPULAÇÃO ESTUDADA
No período de junho/2001 a dezembro/2002 foram atendidas no SAM 647 pacientes
das quais foram selecionadas 477 que foram incluídas neste estudo.
3.4 CRITÉRIOS E PROCEDIMENTOS PARA SELEÇÃO DOS SUJEITOS
3.4.1. Critérios de inclusão
- mulheres vítimas de violência
- atendimento no Serviço de Apoio à Mulher no período de junho/2001 a dezembro/2002
3.4.2. Critérios de exclusão
- idade menor que 20 anos
As pacientes menores de 20 anos foram excluídas deste estudo por apresentarem
características próprias. As mesmas farão parte de outro estudo descritivo já em andamento.
14
3.4.3. Procedimentos para seleção das pacientes
Os prontuários foram selecionados a partir do registro geral de atendimento
existente no SAM, que consta do nome da paciente, idade, endereço e data do atendimento.
Os prontuários encontravam-se arquivados no próprio SAM, não necessitando de
busca no Serviço de Arquivo Médico (SAME) do Hospital Agamenon Magalhães.
3.5. VARIÁVEIS PESQUISADAS
- Características biológicas
- Características sócio-demográficas
- Tipos de violências e lesões sofridas
- Existência de gravidez no momento da agressão
- Formas de intimidações sofridas
- Perfil do agressor
3.6. DEFINIÇÃO DE TERMOS E CATEGORIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS
Características biológicas – foram descritas as seguintes características: idade (em anos
completos) e cor da pele
Características sócio-demográficas – foram descritas as seguintes características: estado
civil, escolaridade e renda familiar
15
Estado civil – foram consideradas as seguintes possibilidades:
- Solteira
- Casada – união civil legalizada
- Desquitada/Divorciada – que esteve casada legalmente e apresenta-se em processo
de separação ou separada oficialmente
- Viúva – cujo cônjuge legal tenha falecido
- União consensual – convivência marital com parceiro fixo, porém sem
oficialização legal.
Escolaridade – foi adotada a seguinte classificação:
- Analfabeta – aquela que não tenha cursado nenhum ano escolar
- Fundamental – Completo – 8 anos completados
Incompleto – 1 < anos completados < 8
- Médio – Completo – 11 anos completados
Incompleto – 9 < anos completados < 11
- Superior – Completo – curso completo
Incompleto – não conclusão do curso
Renda familiar – foram considerados os valores em salários mínimos, atualmente
correspondendo a R$ 240,00 (duzentos e quarenta reais), correspondentes ao somatório das
rendas de todos os familiares residentes no domicílio da paciente.
Tipos de agressões sofridas – foram anotados todos os tipos de agressões apresentadas
pelas pacientes agrupando-as em um dos seguintes grupos:
16
- Físicas – foram consideradas qualquer tipo de violência contra o corpo físico,
excetuando-se as agressões sexuais.
- Sexuais – foram consideradas todas as formas de violência sexual
- Moral – foram consideradas as ofensas, ameaças ou outras agressões, porém sem a
configuração de violência física ou sexual. Esta variável foi categorizada de acordo com a
forma encontrada no prontuário e descrita no protocolo de atendimento do serviço.
Os tipos de agressões sofridas não são excludentes, podendo a mesma vítima
sofrer uma ou mais formas de agressões.
Localização das lesões – foram anotados as principais áreas do corpo atingidas pelas
agressões e agrupadas da seguinte forma:
- cabeça
- pescoço
- face
- tórax
- abdome
- região genital
- membros superiores
- membros inferiores
- outras
A mesma paciente poderá apresentar uma ou mais áreas atingidas
Tipos de lesões – foram anotados segundo o exame médico e agrupados em:
- escoriações
17
- hematomas/equimoses
- ferimentos de pele e tecido celular sub-cutâneo
- fraturas
- queimaduras
- outros
Pode-se encontrar mais de um tipo de lesão na mesma paciente
Existência de gravidez no momento da agressão – presença de gestação confirmada por
exame laboratorial ou clínico no momento da agressão sofrida.
Formas de intimidações sofridas – foram anotadas os instrumentos utilizados pelos
agressores para intimidar a paciente:
Arma branca – qualquer objeto utilizado para agredir fisicamente a paciente
Arma de fogo
Força física
Ameaças
Outros
Grau de conhecimento do agressor:
Estranho
Parceiro íntimo – cônjuge legal, companheiro, noivo, namorado ou amante
Ex-parceiro íntimo
Parente ou agregado – pais, irmãos, primos, filhos, tios, sogros, cunhados, etc.
Rival – amante ou cônjuge do parceiro íntimo
18
Outros – qualquer agressor que não se enquadre em um dos descritos acima
3.7. PROCEDIMENTOS PARA COLETA DOS DADOS
3.7.1. Instrumento de coleta
Os dados foram coletados através da utilização de um formulário padronizado, précodificado para entrada dos dados no computador (ANEXO I).
3.7.2. Coleta dos dados
A coleta dos dados e o preenchimento adequado do formulário padrão foram
realizados pela autora do estudo.
3.8. PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS
3.8.1 Processamento dos dados
Os dados foram coletados no próprio Serviço de Apoio à Mulher com
preenchimento dos formulários e revisão dos mesmos realizados pela pesquisadora.
A digitação no banco de dados específico criado no programa Epi-Info 2002 foi
realizada duas vezes, em épocas distintas, obtendo-se ao final uma listagem para correção
de eventuais erros de digitação, com revisão da própria pesquisadora, formulário a
formulário.
Constatando-se ausência ou inconsistência de dados por ocasião da revisão das
listagens, foram consultados os formulários correspondentes, de acordo com o número do
19
registro das pacientes. Nos casos em que os formulários não foram elucidativos, recorreu-se
aos prontuários para retificação ou obtenção dos dados.
Ao término da entrada de todos os formulários nos dois bancos de dados, foi
realizada a revisão final, comparando-se as duas listagens e completando-se os dados ou
corrigindo-se as incongruências acaso existentes, pelos processos acima descritos. O banco
de dados definitivo foi então transferido para os pacotes de análises estatísticas.
3.8.2.Análise dos dados
A análise dos dados foi realizada pela própria pesquisadora (supervisionada pelos
orientadores e pelo professor de estatística), utilizando-se o software de domínio público
Epi-Info 2002.
3.9. REVISÃO DA LITERATURA
Foi realizada através da busca em bancos de dados disponíveis na Internet. Foram
consultados os seguintes bancos de dados: MEDLINE, LILACS, Biblioteca Cochrane e
MD Consult, selecionando-se os trabalhos referidos no estudo.
3.10. ASPECTOS ÉTICOS
Os dados foram obtidos a partir do prontuário de atendimento das pacientes do
Serviço de Apoio à Mulher respeitando-se as orientações da resolução 196/96 do Conselho
20
Nacional de Saúde.Em nenhum momento foram descritas informações relativas aos nomes
ou quaisquer formas de se identificarem as participantes do estudo.
O projeto deste trabalho foi submetido ao Conselho de Ética em Pesquisa do
Hospital Agamenon Magalhães e o estudo somente teve início após aprovação pelo mesmo.
Como o estudo foi realizado através da busca em prontuário não houve a
necessidade de Termo de Livre Consentimento assinado pelas pacientes. Este fato foi de
conhecimento do Conselho de Ética do HAM e aprovado pelo mesmo.
21
IV. RESULTADOS
4.1. AVALIAÇÃO DO PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DAS MULHERES
VÍTIMAS DE VIOLENCIA ATENDIDAS NO SAM DE ACORDO COM AS
CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS
4.1.1 AVALIAÇÃO DA FAIXA ETÁRIA DAS PACIENTES
A mediana de idade das mulheres atendidas no SAM foi de 30,0 anos com um
mínimo de 20 e um máximo de 88 anos. A distribuição das mulheres atendidas no SAM
encontra-se descrita no gráfico 1.
Gráfico 1. Distribuição das mulheres atendidas no SAM segundo a faixa etária
22
4.1.2. AVALIAÇÃO DAS USUÁRIAS DO SAM SEGUNDO A COR DA PELE
Das 477 pacientes avaliadas 279 (58,5%) foram descritas como de cor parda e 147
(30,8%) de cor branca (Gráfico 2).
Gráfico 2. Distribuição das usuárias do SAM segundo a cor da pele
23
4.2. AVALIAÇÃO DO PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DAS MULHERES
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ATENDIDAS NO SAM DE ACORDO COM AS
CARACTERÍSTICAS SÓCIO DEMOGRÁFICAS
4.2.1. ESTADO CIVIL DAS MULHERES ATENDIDAS NO SAM
A maioria das pacientes (57,4%) declararam-se solteiras no momento do
atendimento (Tabela 1)
Tabela 1. Distribuição das mulheres atendidas no SAM segundo o estado civil
ESTADO CIVIL
n
%
274
57,4
UNIÃO
164
34,4
DESQUITADA/DIVORCIADA
20
4,2
VIÚVA
13
2,7
SEM INFORMAÇÃO
06
1,3
TOTAL
477
100
SOLTEIRA
CASADA
OU
CONSENSUAL
24
4.2.2. AVALIAÇÃO DO GRAU DE ESCOLARIDADE DAS USUÁRIAS DO SAM
A escolaridade das mulheres atendidas no SAM foi em 202 (42,4%) casos o
fundamental incompleto que corresponde a menos de oito anos completos de estudo
(Tabela 2).
Tabela 2. Grau de escolaridade das usuárias do SAM
ESCOLARIDADE
n
%
ANALFABETA
29
6,1
INCOMP
FUNDAMENTAL
COMP
202
42,3
61
12,8
INCOMP
53
11,1
82
17,2
INCOMP
11
2,3
COMP
15
3,2
SEM INFORMAÇÃO
24
5,0
TOTAL
477
100
MÉDIO
COMP
SUPERIOR
25
4.2.3. RENDA FAMILIAR DAS MULHERES ATENDIDAS NO SAM
A renda familiar foi de até um salário mínimo em 148 (31%) das pacientes e de um
a dois salários mínimos em 129 (27%) das mulheres. Somando-se estas duas categorias
verificamos que 277 (58%) das usuárias tinham renda familiar de no máximo dois salários
mínimos (Tabela 3).
Tabela 3. Renda familiar das mulheres atendidas no SAM
RENDA (Salários mínimos)
n
%
ATÉ 1 sm
148
31,0
1 a 2 sm
129
27,0
2 a 5 sm
100
21,0
> 5 sm
41
8,6
SEM INFORMAÇÃO
59
12,4
TOTAL
477
100
26
4.3 AVALIAÇÃO DO PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DAS MULHERES
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ATENDIDAS NO SAM DE ACORDO COM OS TIPOS DE
VIOLÊNCIA E LESÕES SOFRIDAS
4.3.1. TIPOS DE AGRESSÕES SOFRIDAS
A agressão física foi a principal queixa das usuárias do SAM, estando presente em
374 (78,4%) dos casos. 117 (24,5%) pacientes referiram agressão sexual e apenas 44
(9,2%) mulheres queixaram-se de agressão moral (Tabela 4).
Tabela 4. Principais tipos de agressões sofridas pelas usuárias do SAM
TIPO DE AGRESSÃO
n
%
FÍSICA
374
78,4
SEXUAL
117
24,5
MORAL
44
9,2
OBS: As variáveis não são mutuamente excludentes, podendo a mesma paciente ter sofrido
mais de um tipo de agressão.
27
4.3.2. PRINCIPAIS LOCALIZAÇÕES DAS LESÕES
Das 477 pacientes registradas, 169 (35,4%) apresentavam lesões na face e 45 (9,4%)
na cabeça. Tomando-se a cabeça como um todo (face e calota craniana) verifica-se que 214
(45,1%) sofreram lesões nesta parte do corpo. Outra localização de lesões muito importante
foram os membros superiores com 107 (22,4%) dos registros (Tabela 5).
Tabela 5. Localização das lesões
LOCALIZAÇÃO
n
%
FACE
169
35,4
CABEÇA
45
9,4
PESCOÇO
19
4,0
TÓRAX
26
5,4
ABDOME
16
3,4
REGIÃO GENITAL
87
18,2
MEMBROS SUPERIORES
107
22,4
MEMBROS INFERIORES
48
10,0
OUTROS
87
18,2
SEM INFORMAÇÃO
52
10,9
OBS: As variáveis não são mutuamente excludentes, podendo a mesma paciente ter
apresentado mais de um local lesionado.
28
4.3.3. PRINCIPAIS TIPOS DE LESÕES APRESENTADAS PELAS PACIENTES
ATENDIDAS NO SAM
Os hematomas/equimoses corresponderam aos principais tipos de lesões
apresentadas pelas pacientes, sendo registrados em 161(33,7%) dos casos. As escoriações e
os ferimentos de pele e tecido celular subcutâneo apareceram respectivamente em 101
(21,2%) e 105 (22,0%) dos casos (Tabela 6).
Tabela 6. Principais tipos de lesões apresentadas.
TIPOS DE LESÕES
n
%
EQUIMOSES/HEMATOMAS
161
33,7
FERIMENTOS DA PELE E
TECIDO
CELULAR
SUBCUTÂNEO
105
22,0
ESCORIAÇÕES
101
21,2
FRATURAS
07
1,4
QUEIMADURAS
02
0,4
OUTROS
151
31,6
SEM INFORMAÇÃO
55
11,5
OBS: As variáveis não são mutuamente excludentes, podendo a mesma paciente ter
apresentado mais de um tipo de lesão.
29
4.4. AVALIAÇÃO DO PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DAS PACIENTES
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ATENDIDAS NO SAM DE ACORDO COM A
EXISTÊNCIA DE GRAVIDEZ NO MOMENTO DA AGRESSÃO
Quarenta e quatro (9,2%) tiveram gravidez confirmada durante o atendimento
(Tabela 7).
Tabela 7. Existência de gravidez no momento da agressão.
GRAVIDEZ
n
%
SIM
44
9,2
NÃO
353
74,1
DESCONHECIDO
5
1,0
SEM INFORMAÇÃO
75
15,7
TOTAL
477
100
30
4.5. AVALIAÇÃO DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ATENDIDAS NO
SAM DE ACORDO COM AS FORMAS DE INTIMIDAÇÃO SOFRIDAS
Na maioria absoluta dos casos, 475 (83,5%) os agressores utilizaram a força física
como forma de intimidar a paciente (Tabela 8).
Tabela 8. Formas de intimidação
INTIMIDAÇÃO
n
%
FORÇA FÍSICA
475
83,5
AMEAÇAS
213
37,4
BRANCA
81
14,2
DE FOGO
74
13,0
OUTROS
11
1,9
SEM INFORMAÇÃO
21
3,7
ARMA
OBS: As variáveis não são mutuamente excludentes, podendo a mesma paciente ter sofrido
mais de um tipo de intimidação.
31
4.6. AVALIAÇÃO DO PERFIL DOS AGRESSORES
4.6.1. AVALIAÇÃO DO NÚMERO DE AGRESSORES POR PACIENTE
Um único agressor foi relatado em 410 (86%) das agressões. Dois agressores em 34
casos (7,1%). Em 6,9% a agressão foi perpetrada por 3 ou mais agressores.
4.6.2. GRAU DO CONHECIMENTO DO AGRESSOR PELA USUÁRIA
O agressor era desconhecido da paciente em apenas 26,2% dos casos. Dentre os
conhecidos destacam-se os parceiros íntimos, que foram apontados em 191 (33,6%) dos
casos (Tabela 9).
Tabela 9. Distribuição do agressor por grau de conhecimento
AGRESSOR
n
%
ESTRANHO
149
26,2
PARCEIRO ÍNTIMO
191
33,6
EX-PARCEIRO ÍNTIMO
40
7,0
PARENTE
40
7,0
RIVAL
07
1,2
VIZINHO
69
12,1
OUTROS
56
9,9
SEM INFORMAÇÃO
17
3,0
TOTAL
569
100
32
4.6.3. AVALIAÇÃO DA IDADE DOS AGRESSORES
A maior parte dos agressores cuja idade era conhecida encontravam-se na faixa
etária de adulto jovem ( 20 – 35 anos). Muitos agressores embora fossem conhecidos das
pacientes tinham suas idades desconhecidas pelas mesmas (43,9%) (Tabela 10).
Tabela 10. Distribuição dos agressores por idade
IDADE
n
%
10 ----- 19
14
2,5
20 ----- 35
156
27,4
26 ----- 49
85
14,9
50 -----65
21
3,7
> 65
02
0,4
IDADE DESCONHECIDA
250
43,9
SEM INFORMAÇÃO
41
7,2
TOTAL
569
100
33
4.6.4. ESCOLARIDADE DOS AGRESSORES
Assim como as pacientes a escolaridade dos agressores foi na maioria dos casos
menor que oito anos de estudo, correspondendo ao ensino fundamental incompleto. Como
aconteceu com a idade, também a escolaridade dos agressores conhecidos era ignorada
pelas usuárias (Tabela 11).
Tabela 11. Distribuição dos agressores segundo a escolaridade
ESCOLARIDADE
n
%
ANALFABETO
25
4,4
COMP
FUNDAMENTAL
INCOMP
18
3,2
103
18,1
COMP
26
4,6
INCOMP
17
3,0
COMP
08
1,4
INCOMP
04
0,7
ESCOLARIDADE
DESCONHECIDA
297
52,2
SEM INFORMAÇÃO
71
12,5
TOTAL
569
100
MÉDIO
SUPERIOR
34
4.6.5. AVALIAÇÃO DA RENDA DOS AGRESSORES
Na maioria dos casos (53,6%) a renda do agressor era desconhecia, embora muitos
deles fossem conhecidos pelas pacientes. Dentre os que tinham renda conhecida, 104
(18,3%) tinham renda de até dois salários mínimos (Tabela 12).
Tabela 12. Distribuição dos agressores por renda
RENDA (Salários mínimos)
n
%
ATÉ 1 sm
40
7,3
1 a 2 sm
64
11,0
2 a 5 sm
33
5,8
> 5 sm
11
1,9
RENDA DESCONHECIDA
305
53,6
SEM INFORMAÇÃO
116
20,4
TOTAL
569
100
35
4.6.6. AVALIAÇÃO DO USO DE ÁLCOOL PELO AGRESSOR NO MOMENTO DA
AGRESSÃO
As pacientes referiram uso de álcool pelos agressores em 264 (46,4%) dos casos
(Tabela 13).
Tabela 13. Uso de álcool pelo agressor.
USO DE ÁLCOOL
n
%
SIM
264
46,4
NÃO
158
27,8
DESCONHECIDO
52
9,1
SEM INFORMAÇÃO
95
16,7
TOTAL
569
100
36
V. DISCUSSÃO
Foram avaliadas no nosso estudo 477 pacientes. A mediana de idade encontrada foi
de 30,0 anos, com um mínimo de 20 e um máximo de 88 anos. A cor da pele
predominantemente encontrada foi a parda, presente em 58,5% dos casos. Em 274 das 477
pacientes avaliadas o estado civil foi solteira. O grau de escolaridade foi na maioria dos
casos menor que oito anos de estudo. A renda familiar foi de até um salário mínimo em
31% das pacientes e de um a dois salários mínimos em 27% das usuárias. As principais
áreas lesadas foram cabeça, face, membros superiores e região genital, enquanto que os
principais tipos de lesões foram as escoriações, equimoses/hematomas e as lesões de pele e
tecido celular sub-cutâneo. Quarenta e quatro (9,2%) das pacientes encontravam-se
grávidas no momento da agressão. A principal forma de intimidação utilizada pelos
agressores foi a força física, presente em 83,5% dos casos. Parceiros e ex-parceiros íntimos
somados constituíram-se nos principais agressores descritos. A idade da maioria dos
agressores não era conhecida, assim como a renda e o seu grau de escolaridade. Cerca de
45% das vítimas informaram que seus agressores demonstravam sinais de consumo de
álcool no momento da violência.
Em relação à idade das pacientes encontramos uma mediana de 30,0 anos, com um
mínimo de 20 e um máximo de 88 anos. É importante ressaltar que as pacientes menores de
20 anos foram excluídas deste estudo, pois apresentam características biológicas e sóciodemográficas específicas e farão parte de um outro trabalho já em andamento. Analisandose a distribuição das idades das usuárias atendidas verifica-se que 354 (74,2%) tinham
37
idade entre 20 e 35 anos, refletindo que a violência contra a mulher atinge principalmente a
faixa etária de adulto jovem.
Os resultados encontrados por alguns autores vêm corroborar nossos achados, como
foi demonstrado por RIGGS et al. em 2000, quando elaboraram um estudo em Denver –
EUA, envolvendo 112 pacientes vítimas de agressão sexual e obtiveram uma mediana de
idade de 25 anos. Em um outro estudo, realizado em Washington – EUA, ECKERT et al.
(2002), avaliando 819 mulheres vítimas de violência sexual foi encontrada uma mediana de
idade de 32,76 anos. BROKAW et al. (2002), avaliando 56 pacientes vítimas de violência
conjugal na Cidade do Novo México – México, obtiveram uma mediana de idade de 22
anos para pacientes com história de violência aguda e de 34 anos para mulheres com
história de agressão física conjugal pregressa. VIZCARRA et al. (2001), em um estudo
realizado na Cidade de Temuco – Chile, que envolveu 422 mulheres vítimas de violência
doméstica, encontraram uma mediana de idade de 34 anos. Ainda estudando violência
doméstica, KRASNOFF & MOSCATI em Nova York, no ano de 2002, obtiveram uma
mediana de idade de cerca de 32 anos entre 528 mulheres avaliadas. Apesar das visíveis
variações das medianas de idade encontradas nestes estudos, percebemos que em todos
eles, assim como no nosso, a violência atingiu principalmente mulheres adultas jovens.
Os nossos resultados pertinentes à idade das mulheres vítimas de violência são
concordantes com a literatura supra-citada. Em todos estes estudos assim como no nosso
optou-se por utilizar a mediana na avaliação desta variável, pois a mesma não apresenta
uma distribuição normal, havendo uma maior concentração de pacientes adultas jovens.
Em se tratando de cor da pele, mais da metade (58,5%) das pacientes avaliadas no
nosso estudo eram de cor parda. Este fato é facilmente justificado pela grande miscigenação
racial presente no nosso país e, principalmente de nossa região, fazendo com que a maioria
38
da nossa população se enquadre neta característica de cor de pele. Estudos americanos que
avaliam as características biológicas das pacientes vítimas de violência mostram uma
predominância da cor branca entre as mulheres violentadas (ECKERT, 2002; BROKAW,
2002). Tal fato deve-se às características étnicas da referida população.
Encontramos em nossa pesquisa uma freqüência de pacientes solteiras (57,4%) bem
maior do que a relatada nos estudos pesquisados, nos quais as principais vítimas de
violência são as mulheres casadas. ZALDÍVAR et al. (1998), avaliando mulheres vítimas
de violência na cidade de Durango - México, encontrou que 83% das vítimas eram casadas.
ARCOS et al. (1999), em um estudo que envolveu 63 mulheres vítimas de violência
doméstica em Santiago do Chile, encontrou que 74,6% das mesmas eram casadas.
RICKERT et al. (2002), na Universidade do Texas – EUA, também avaliando mulheres
vítimas de violência doméstica, encontraram uma predominância de pacientes casadas.
BROKAW et al. (2002), ainda estudando vítimas de violência doméstica, Também em
Santiago do Chile, encontraram que 76,4% das pacientes informavam ser casadas. Em
contrapartida, um estudo brasileiro, realizado em Curitiba (ANDRADE et al., 2001), que
envolveu 117 pacientes vítimas de violência sexual, obtiveram que 82 (82%) das mulheres
eram solteiras, dado semelhante ao encontrado em nosso estudo. Ainda no Brasil, outro
estudo, realizado no Rio de Janeiro, mostrou que 45,7% das mulheres vítimas de violência,
atendidas em dois hospitais públicos daquela cidade, eram solteiras (DESLANDES et al. ,
2000). Este fato provavelmente deve ocorrer devido a uma característica nacional de
muitos casais não oficializarem sua união.
39
Avaliando o grau de escolaridade das usuárias do SAM, encontramos que o mesmo
foi menor que oito anos de estudo em 61,2% dos casos. Assim como o estado civil, este
dado também difere dos estudos realizados em outros países, nos quais as mulheres vítimas
de violência apresentavam escolaridade básica completa ou mais, o que corresponde a oito
anos ou mais completos de estudo (ZALDÍVAR et al., 1998; RICKERT et al., 2002;
BROKAW et al., 2002). Este fato pode ser entendido pelo altos índices de analfabetismo e
abandono escolar existentes em nosso país.
Assim como as pacientes avaliadas em nosso estudo, os agressores também
pareciam ser, na sua maioria, de baixa escolaridade, segundo informações fornecidas pelas
vítimas de agressão. Entretanto a avaliação desta variável ficou comprometida devido ao
fato de muitas pacientes desconhecerem o grau de escolaridade dos agressores, mesmo que
estes fossem seus conhecidos.
Ainda em relação às características sócio-demográficas, a renda familiar foi de até
dois salários mínimos em 58% das pacientes avaliadas, sendo que 31% das mesmas tinham
renda de até um salário mínimo. Vários estudos (BROKAW et al., 2002; ARCOS et al.,
1999; KRASNOFF & MOSCATI, 2002) apresentam dados semelhantes, apesar das
relevantes diferenças econômicas entre o Brasil e os países desenvolvidos e da
superioridade da moeda americana, comumente utilizada para avaliar renda nestes
trabalhos. DESLANDES et al. (2000), em estudo na cidade do Rio de Janeiro mostraram
que as mulheres vítimas de violência tinham renda familiar media de três salários mínimos.
O importante é observar-se que a violência doméstica é identificada principalmente nas
classes sociais menos favorecidas.
40
Observamos em nosso estudo que a renda dos agressores também foi na sua maioria
de até dois salários mínimos. Vale aqui salientar que tanto algumas pacientes quanto alguns
agressores aparecem como tendo renda de até um salário mínimo quando na verdade não
possuem renda alguma. Tal fato deve-se ao motivo de no prontuário do SAM não existir a
opção “sem renda”. Esta falha foi detectada durante a coleta de dados deste estudo
sugerindo-se, portanto, a devida modificação no prontuário de atendimento daquela
instituição.
Ainda com relação à renda das pacientes e agressores podemos discutir que apesar
de muitos estudos, assim como o nosso, apontarem uma forte ligação entre pobreza e
violência, devemos levar em consideração que a baixa renda encontrada no nosso trabalho
também pode ser explicada pela característica da população que procura o SAM, visto que
este estabelecimento trata-se de um serviço público onde talvez não seja tão freqüentado
por pacientes de classes sociais mais abastardas. Somando-se a isso, o próprio local onde o
SAM foi alocado representa uma das localidades mais populosas do Recife e onde se
encontram situações de maior diferença social.
No que concerne os tipos de lesões sofridas, as agressões físicas constituirão-se na
principal queixa das usuárias do SAM, estando presente em 78,4% dos casos. Agressão
sexual foi referida em 24,5% das pacientes e agressão moral esteve presente em apenas
9,2% dos casos. É importante salientar que uma mesma paciente pode ter sofrido mais de
um tipo de agressão. Estes dados são compatíveis com aqueles encontrados na literatura
pesquisada. ZALDÍVAR et al. (1998), encontraram, entre mulheres vítimas de violência
doméstica uma prevalência de agressão física em 40% dos casos e de 39% de agressão
moral. ARCOS et al. (1999), avaliando pacientes vítimas de violência, encontraram que
41
63,5% das mesmas referiam agressão física. ORTEGA et al. (2001), em estudo envolvendo
mulheres vítimas de violência atendidas em um serviço de atenção primária à saúde,
encontraram que 58,6% das pacientes eram vítimas de agressão física e que o abuso sexual
representou 15,3% dos casos. Com fins meramente metodológicos, foi segregada a
violência sexual da física e moral, entretanto, em momento algum, a sensibilidade em
reconhecer que toda violência sexual é antes de tudo uma grande agressão moral além de
física, foi esquecida.
Quanto às lesões físicas apresentadas, estas se localizaram principalmente na
cabeça, face e membros superiores. WADMAN & MUELLEMAN (1999), avaliando 34
mulheres vítimas de homicídio relacionado à violência doméstica, encontraram que 53,3%
apresentavam danos na cabeça. DESLANDES et al. (2000), em estudo realizado no Rio de
Janeiro encontraram que, das 72 pacientes vítimas de violência, 22 apresentavam lesões na
face, cinco tiveram a cabeça lesionada e 21 delas apresentavam lesões de membros
superiores. YEAGER & SEID (2002), encontraram que 25% das mulheres vítimas de
violência doméstica tinham hematomas peri-orbitários, 8% tinham dentes quebrados e 4%
tinham lesão de tímpano. As agressões na cabeça e face decorrem principalmente de socos
e ferimentos provocados por objetos, armas brancas e projeteis de arma de fogo
(WADMAN & MUELLEMAN, 1999). Os membros superiores são atingidos
principalmente durante as tentativas das pacientes em defenderem-se dos golpes proferidos
contra a face, cabeça, tórax e abdome (DESLANDES et al., 2000). Devemos aqui ressaltar
que muitas pacientes tiveram múltiplos locais lesionados.
Ainda com relação às lesões, estas se apresentaram principalmente como
equimoses/hematomas (33,7%), ferimentos de pele e tecido celular subcutâneo (22%) e
42
escoriações (21,2%). Porém, as fraturas e queimaduras embora em número menor também
estiveram presentes nas lesões apresentadas (sete e dois casos respectivamente) e como
tratam-se de lesões graves valem ser ressaltadas. Na literatura pesquisada não encontramos
estudos que abordassem os tipos de lesões apresentadas por pacientes em situação de
violência, demonstrando a necessidade de se fomentar pesquisas neste sentido.
Muitos estudos estimam que entre 4% e 17% das mulheres grávidas sejam vítimas
de violência doméstica (DATNER & FERROGGIARO, 1999). No nosso estudo
encontramos que quarenta e quatro das 477 pacientes avaliadas encontravam-se gestantes
no momento da agressão. CANTERINO et al. (1999), em estudo realizado em New Jersey
(EUA), verificaram que 36% de mulheres gestantes que procuravam o pré-natal eram
vítimas de abuso doméstico.
A gravidez vem sendo descrita como um fator de risco para violência e, por sua vez,
a violência neste período da vida da mulher define um contexto multifatorial de situações
adversas como gestação não desejada, inadequado acesso ao pré-natal, maior consumo de
cigarros, álcool e drogas, uma má história obstétrica, abortos espontâneos, nutrição materna
deficiente, infecções, anemia, parto prematuro e crescimento intra-uterino retardado, entre
outras (ARCOS et al., 1999). Violência durante a gravidez atinge duas gerações, causando
danos à mulher grávida e ao concepto e nos piores casos mãe ou criança é morta
(HAMBERGER & AMBUEL, 2001).
No que se refere às formas de intimidação, a força física foi utilizada pelos
agressores como forma de intimidar as pacientes em 83,5% dos casos. Dados semelhantes
43
foram descritos por DESLANDES et al. (2000), em estudo realizado no Rio de janeiro, no
qual o espancamento foi a forma utilizada pelos agressores em 70,4% dos casos.
A maioria dos estudos que abordam o número de agressores encontrou dados
semelhantes ao presente estudo, demonstrando que cerca de 85% das pacientes sofreram
agressão mediadas por um único agressor.
Assim como outros autores (DATNER & FERROGGIARO, 1999; ARCOS et al.,
1999; DESLANDES et al., 2000 e KRASNOFF & MOSCATI, 2002) relataram, o nosso
estudo mostrou uma grande freqüência de agressões cometidas por parceiros e ex-parceiros
íntimos. Em apenas 26,2% dos casos o agressor era um estranho. Estes achados reforçam a
violência doméstica como sendo uma das principais formas de violência contra a mulher,
um verdadeiro problema de saúde pública.
Outro ponto importante a ser discutido é o uso de álcool pelo agressor no momento
da violência. No nosso estudo verificamos que 46,4% destes estavam sob o efeito do álcool
no momento da agressão, somando-se a estes dados ocorreram casos em que a paciente
tinha dúvidas e foi catalogado como desconhecido, podendo esta estatística ser ainda maior.
Vários estudos encontraram uma forte associação entre consumo de álcool e violência,
principalmente violência doméstica. ZALDÍVAR et al. (1998), em estudo avaliando
pacientes vítimas de violência doméstica na Cidade de Durango - México, encontraram que
57,1% dos agressores tinham problemas com álcool. ARCOS et al. (1999), em Santiago do
Chile, também avaliando vítimas de violência doméstica, obtiveram que 76,2% dos
agressores faziam uso de álcool. VIZCARRA et al. (2001), também no chile, ainda
avaliando vítimas de violência doméstica, encontraram que 38,1% dos agressores estavam
sob efeito do álcool no momento da agressão. ORTEGA et al. (2001), no México, em
44
estudo que avaliou pacientes vítimas de violência de uma maneira geral, obtiveram um uso
de álcool durante a violência em 15,4% dos casos.
Devemos ainda discutir algumas limitações metodológicas do nosso trabalho. Como
se trata de um estudo descritivo com busca em prontuário, algumas variáveis apresentaram
dados sem informação, que não puderam ser resgatados, pois não houve contato com as
participantes. Principalmente na avaliação do perfil do agressor, muitos dados eram
desconhecidos pelas pacientes dificultando a análise das referidas variáveis.
Embora algumas limitações sejam evidentes, estudos como o nosso são
extremamente válidos para que seja possível o reconhecimento das características das
mulheres vítimas de violência. Este fato é importante para que se possam adequar os
serviços de saúde ao atendimento destas vítimas, bem como possam ser propostas e
tomadas medidas preventivas para redução da violência contra a mulher.
Baseados em nossas observações e nos dados encontrados na literatura pesquisada,
podemos sugerir que protocolos de atendimento a mulheres vítimas de violência, declarada
ou suspeita, sejam implantados nas emergências médicas, com o intuito de reconhecer as
vítimas, tratá-las adequadamente e protegê-las das possíveis recorrências. Para que isto
ocorra, faz-se necessário o adequado treinamento dos profissionais de saúde. Assim como
nas emergências gerais, os profissionais que prestam atendimento a mulheres
ambulatorialmente devem ser treinados para o reconhecimento de pacientes em situação de
violência. Faz-se também necessária a criação de novos serviços especializados no
atendimento à mulher vítima de violência, nos quais, as equipes, treinadas especialmente
para lidar com estas pacientes, estão mais aptos no manejo da usuária agredida.
45
Portanto, novos estudos devem ser realizados para que se mantenham sempre
atualizados dados sobre a violência contra a mulher, com o intuito maior de acolhê-la, tratála e protegê-la.
46
VI. CONCLUSÃO
Baseados nos dados obtidos verificamos que a maioria das mulheres atendidas no
Serviço de Apoio à Mulher durante o estudo tinham as seguintes características principais:
•
Mediana de idade de 30,0 anos
•
Cor parda
•
Solteiras
•
Grau de escolaridade menor que 8 anos
•
Renda familiar de até 2 salários mínimos
Os principais locais atingidos pelas lesões foram:
•
Cabeça
•
Face
•
Membros superiores
•
Região genital
As principais lesões apresentadas foram:
•
Escoriações
•
Equimoses/Hematomas
•
Ferimentos de pele e tecido celular subcutâneo
Em 9,2% dos casos as pacientes encontravam-se gestantes no momento da agressão
47
As formas de intimidação mais usadas foram
•
Força física
•
Ameaças verbais
A maioria dos agressores tinham as seguintes características:
•
Eram parceiros íntimos ou conhecidos das pacientes
•
Idade variando entre 20 e 35 anos ou tinham idade desconhecida
•
Renda de até 2 salários mínimos
•
Escolaridade de menos de 8 anos completos de estudo
•
Uso de álcool no momento da agressão
48
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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40(6): 481-6, 1998.
ANEXO I
PESQUISA PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DAS MULHERES VÍTIMAS DE
VIOLÊNCIA ATENDIDAS NO SERVIÇO DE APOIO À MULHER
Formulário nº
IDENTIFICAÇÃO
Iniciais: ________________________ Idade ______ Prontuário _____________________
Cor da pele: Branca
Parda
Amarela
Preta
Sem informação
Estado civil: Solteira
Casada
Separada
União consensual
Sem informação
Escolaridade: Analfabeta
Fundamental - incompleto
Médio - incompleto
Superior - incompleto
completo
completo
completo
Sem informação
Renda familiar: Até 1 salário mínimo
2 a 5 salários mínimos
Sem informação
1 a 2 salários mínimos
> 5 salários mínimos
Viúva
ASPECTOS CLÍNICOS
Tipos de agressões sofridas: Física
Sexual
Localização da lesão: Cabeça
Pescoço
Região genital
Outras
Tipo da lesão: Escoriações
Moral
Face
Membros superiores
Hematomas/Equimoses
Fraturas
Queimaduras
Sem informação
Gravidez no momento da agressão: Sim
Não
Sem informação
Abdome
Membros inferiores
Sem informação
Lesão de pele e tecido celular subcutâneo
Outras
Tórax
Desconhecido
PERFIL DO AGRESSOR
Intimidação: Arma branca
Outras
Arma de fogo
2
3
4
Conhecimento do agressor: Desconhecido
>4
Parceiro íntimo
Rival
Parente
Outros
Sem informação
Desconhecido
Sem informação
Escolaridade: Analfabeto
completo
Fundamental - incompleto
Médio incompleto Superior incompleto Desconhecido
completo
completo
Sem informação
Renda: Até 1 salário mínimo
1 a 2 salários mínimos
2 a 5 salários mínimos
Desconhecido
Ameaças
Sem informação
Número de agressores: 1
Idade: ______________
Força física
> 5 salários mínimos
Sem informação
Sem informação
Ex-parceiro íntimo
Vizinho
Download

perfil clínico-epidemiológico das mulheres