MULHER 2000 Sessão Extraordinária da Assembleia Geral das Nações Unidas “Mulher 2000: Igualdade entre os Sexos, Desenvolvimento e Paz no Século XXI”, Nova Iorque, 5–9 de Junho As mulheres e os confitos armados Estima-se que cerca de 90% das actuais baixas de guerra sejam civis, na sua maioria mulheres e crianças, em comparação com a situação no século passado, em que 90% dos que perdiam a vida em circunstâncias idênticas eram militares. Apesar de comunidades inteiras sofrerem as consequências dos conflitos armados, as mulheres e raparigas são particularmente afectadas, devido ao seu sexo e à sua condição social. As partes envolvidas no conflito violam frequentemente as mulheres, utilizando, por vezes, a violação de forma sistemática como táctica de guerra. Outras formas de violência de que as mulheres são alvo em situação de conflito incluem o assassinato, o abuso sexual, a gravidez forçada e a esterilização forçada. Apesar disto, as mulheres não devem só ser vistas como vítimas da guerra. Elas assumem um papel essencial de garante do sustento familiar, no meio do caos e da destruição, são particularmente activas nos movimentos pela paz, ao nível das suas comunidades. No entanto, a ausência das mulheres nas mesas das negociações é um facto inegável. A Plataforma de Acção, aprovada na 40 Conferência Mundial sobre a Mulher, que teve lugar em Beijing em 1995, identificou os efeitos dos conflitos armados nas mulheres como sendo uma área especial de preocupação e que requer a acção dos governos e da comunidade internacional, e salientou a necessidade da promoção da igualdade de participação das mulheres na resolução de conflitos ao nível da tomada de decisões. Durante a 420 sessão, em 1998, a Comissão da Condição da Mulher discutiu a questão das mulheres nos conflitos armados e propôs acções futuras a desenvolver pelos Estados-Membros e pela comunidade internacional, a fim de acelerar a aplicação dos objectivos estratégicos da Plataforma nesta área, incluindo a integração de uma perspectiva que tenha em consideração as disparidades entre os sexos em todas as políticas e programas pertinentes. Entre as conclusões acordadas na sessão encontramse medidas que visam assegurar uma justiça que seja sensível às questões relacionadas com o género, que tentem satisfazer as necessidades e problemas específicos das mulheres refugiadas e de todas as pessoas deslocadas, e ainda que aumentem a participação das mulheres nas acções de manutenção da paz, consolidação da paz, na tomada de decisões em situações de pré e pós conflito e ainda na prevenção dos conflitos. Acção internacional Desde a Conferência de Beijing que houve uma importante evolução a nível internacional no que diz respeito ao tratamento dos crimes cometidos contra as mulheres em situações de conflito armado. ♦ A violação é explicitamente incorporada como crime contra a humanidade na lei orgânica dos tribunais internacionais Ad hoc criados pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, para se ocuparem de crimes cometidos na ex-Jugoslávia e no Ruanda. Ambos os tribunais proferiram diversas acusações referentes a violência sexual, e o tribunal do Ruanda condenou um individuo acusado de genocídio, entre outros motivos por violência sexual. ♦ Ao nível regional, órgãos inter-americanos e europeus de direitos humanos determinaram que a violência sexual e violação em situações de conflito constituem violações aos Tratados sobre Direitos Humanos. Muitos iniciaram acções civis e penais contra indivíduos que supostamente cometeram actos repetidos de violência com base no sexo contra as mulheres em situações de conflito. ♦ A Lei Orgânica Internacional que cria o Tribunal Criminal Internacional, o qual tem competência para julgar indivíduos responsáveis pelos crimes internacionais mais graves, foi aprovada em Junho de 1998. A definição dos crimes sob a jurisdição do tribunal toma em consideração questões relacionadas com as disparidades entre os sexos. ♦ O Genocídio é definido de modo a incluír medidas que visam evitar nascimentos dentro de um grupo nacional, étnico ou religioso. ♦ Nos Crimes Contra a Humanidade estão incluídos a violação, a escravidão sexual, a prostituição forçada e gravidez e esterilização forçadas. ♦ Os Crimes de Guerra incluem a violação, a escravidão sexual, a prostituição forçada, a gravidez e esterilização forçadas, e qualquer outra forma de violência sexual que constitua uma violação grave das Convenções de Genebra. Mulheres deslocadas e refugiadas O crescente número de conflitos armados e das violações que lhes estão associadas tiveram como consequência um aumento dos fluxos internos de deslocados e refugiados. Segundo nos diz a experiência, mais de 75% dos deslocados são mulheres e crianças e em algumas populações de refugiados estas chegam a atingir os 90%. A violência que mulheres e raparigas sofrem em conflitos armados podem assumir as mais diversas formas, como a violação, abuso sexual e prostituição forçada. As refugiadas são vulneráveis à violência e à exploração quando fogem, o mesmo acontecendo nos países de asilo e durante o processo de repatriamento. As respostas dos Estados-Membros e da comunidade internacional incluiram: não governamental de mulheres identifica crianças que se encontram prisioneiras e negoceia com os soldados rebeldes a sua libertação. A Bélgica apoiou a utilização de mulheres como mediadoras em situações de conflito e elaborou uma iniciativa em prol da consolidação da paz que envolvia as mulheres das duas partes em conflito. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), divulgou directrizes sobre a protecção das refugiadas, nomeadamente sobre a prevenção e resposta face à violência sexual de que são vítimas. A Georgia aprovou um Plano de Acção para Melhorar as Condições das Mulheres, o qual inclui a criação de um mecanismo capaz de garantir a participação activa das mulheres nos processos de decisão, no que diz respeito aos conflitos armados e aos processos de consolidação da paz. O ACNUR procurou garantir que as refugiadas tenham acesso à protecção adequada do direito internacional, especialmente em circunstâncias em que são vítimas de perseguição com base no sexo. O Reino Unido tomou medidas para garantir que as mulheres sejam incluídas no processo de paz na Irlanda do Norte. A Austrália, Canadá, França, Alemanha, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos da América fazem parte do grupo cada vez maior de países que concederam estatuto de refugiado, com origem na perseguição baseada na discriminação sexual, nomeadamente mutilação dos órgãos genitais, casamento forçado, aborto forçado, crimes de honra e violência doméstica. Muitos Estados-Membros reconheceram a importância de facultar apoio físico e psicológico às refugiadas, particularmente àquelas que foram alvo de abusos devido ao sexo. Resolução de conflitos, manutenção da paz e consolidação da paz Apesar de as mulheres terem assumido uma grande variedade de papéis durante a guerra e mesmo durante o processo de estabelecimento da paz, especialmente como pessoal médico e administrativo e cada vez mais como observadoras de processos eleitorais, têm estado geralmente ausentes das negociações de paz formais e do processo de formulação de políticas, sobretudo no que se refere a questões relacionadas com a guerra e com a paz. Existe, no entanto, uma noção crescente do papel das mulheres na resolução de conflitos e nos conhecimentos técnicos e capacidades específicas que elas podem trazer para o processo de tomada de decisões. Os Países Baixos criaram um programa chamado “Introduzir no processo de paz uma perspectiva que tenha em conta as disparidades entre os sexos”, que incentiva Israel e a Palestina a nomearem mais mulheres para as equipas de negociação e para postos com capacidade de tomada de decisões políticas, no contexto do processo de paz do Médio Oriente em curso. A região de África criou, em principios de 1997, a “Iniciativa das Primeiras Damas em prol da Paz”, que incluiu conferências para a paz e sobre questões humanitárias, tendo as suas resoluções sido apresentadas aos Chefes de Estado e de Governo africanos. Por outro lado, a Organização para a Unidade Africana e a ComissãoEconómica para África, criaram, em 1999, o Comité das Mulheres para a Paz e o Desenvolvimento. Em diversos países, entre os quais o Reino Unido e os Estados Unidos da América, as mulheres ocupam postos de alto nível no processo da tomada de decisões, entre outros os de Secretárias de Estado e Chefes de Departamento; tais postos têm importantes repercussões na prevenção de conflitos e nos processos de paz. Transformações ao nível das instituições militares Tradicionalmente, as mulheres não têm tido um papel activo nas Forças Armadas e, em alguns países, é-lhes mesmo negado o direito de se alistarem. Vários Estados tomaram medidas que visavam aumentar o número de mulheres nas suas forças armadas, em reconhecimento do direito das mulheres a participarem nas instituições militares do Estado. O novo papel dos militares nalguns países, em especial ao nível internacional, tende a abranger a prevenção de conflitos, a manutenção da segurança e da paz e a reconstrução de países afectados pelo flagelo da guerra ou por catástrofes naturais. Estas novas funções das forças militares e policiais permitem uma maior participação das mulheres. Entre os exemplos de medidas adoptadas podem salientarse as seguintes: Mulheres de diversos Estados-Membros e do Sistema das Nações Unidas participam nas acções de paz das Nações Unidas e na fiscalização de elições. Na Dinamarca, as mulheres chegaram a ocupar altos cargos nas forças militares. Foi promulgada legislação a fim de permitir que as mulheres fossem recrutadas em pé de igualdade com os homens, e estão a ser feitos mais esforços para que um maior número de mulheres possa ser promovida. Israel, onde o recrutamento das mulheres é obrigatório mas o serviço militar é diferenciado consoante o sexo, reviu os processos de admissão para a força aérea a fim de permitir que as mulheres façam o teste de admissão para treino de pilotos aviadores. A Noruega introduziu metas específicas no que se refere ao recrutamento de mulheres para as suas forças armadas. Por exemplo prevê-se que, até ao ano 2005, 7% dos oficiais e do pessoal alistado sejam mulheres. A Bélgica iniciou um projecto conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) por meio do qual uma organização Desde 1995 a Austrália já por duas vezes reviu as barreiras sociais e culturais à ascensão profissional das mulheres e à sua permanência nas forças de defesa. Publicado pelo Departamento de Informação das Nações Unidas DPI/2035/E, Maio de 2000 Este boletim informativo baseia-se no documento“Análise e Avaliação da Execução da Plataforma de Acção de Beijing: Relatório do Secretário-Geral”(E/CN.6/2000/PC/2).