Resumo e análise da obra
A noite das mulheres cantoras – Lídia Jorge
Quanto valem os nossos objetivos? Qual o limite do valor, que nos dispomos pagar,
para os concretizarmos? Para Gisela Batista o fim justificava quaisquer meios e a
pujança da sua convicção enleou, irremediavelmente, quatro companheiras num
sonho comum: alcançar a fama com um conjunto de mulheres cantoras. Nani e Maria
Luísa Alcides, Madalena Micaia e Solange de Matos subjugaram-se às vontades da
obstinada mulher. Importava que as ApósCalipso gravassem um vinil, invadindo a
banda sonora da vida das pessoas com as suas canções. Toadas que deveriam tornarse êxitos inolvidáveis, destinadas a marcarem décadas. É Solange, num monólogo,
quem nos dá conta do sucedido, no final dos anos 80 do século vinte. Entre o
16/11/2009 e o 23/11/2009 escrever-nos-á sobre o que recordou ao participar, três
meses antes, num programa de televisão em que Gisela Batista fora protagonista. “A
Noite Perfeita”. Nessa reencontrou-a, às antigas colegas e ao seu primeiro desmedido
amor, João de Lucena, o coreógrafo.
Vinte e um anos atrás, Solange era uma estudante de 19 anos na Universidade Nova.
Vivia num quarto alugado, perto do Campo Pequeno, deslocada do Sobradinho - Onde
viveu com os pais depois de regressarem do Gurué (Moçambique) - e dos outros. Fazia
rimas. Questionava. Sonhava. Quando as irmãs Alcides, a quem idolatrava em silêncio,
a desafiaram para participar num projeto musical, escrevendo-lhes as “lyrics”, ficou
incrédula e embarcou na aventura mais por curiosidade, do que por fé.
Assim conheceu a maestrin (Gisela) e o rumo da sua existência alterou-se. A ambição
incrustou-se-lhe à pele. A obsessão pelo estrelato cresceu. A expectativa, como a
fome, comprimia-lhe(s) o estômago.
Não se tratava de quatro inocentes e um algoz. Todas se comprometeram até à alma.
Todavia, Gisela detinha os meios financeiros, o que a colocava em vantagem, perante
as demais. Pelo sucesso sacrificaram amores, o corpo, a maternidade, até uma vida.
Neste romance (Dom Quixote, 2011) Lídia Jorge (1946) transporta-nos ao âmago do(s)
«império(s) minuto» - Expressão sua. Brilhante. - Momento(s) com tanto de
esplendoroso, como de efêmero. Trata-se de enredo que situaríamos, sem dificuldade,
no presente. Haja vontade, dinheiro, contactos e “milagres” acontecem, mesmo se
num grupo de cinco a única com reconhecível talento para o canto fosse Madalena
Micaia. Revelou-se suprível.
Quando as luzes da ribalta ofuscam e sair do anonimato é mais importante do que
respirar afigura-se árduo discernir se o que parece o é deveras e se há mérito no que
se alcança.
Afortunada? Título do single em que Solange depositava maior esperança, era a sua
mãe que entendia que “Somos apenas o bem que fizermos aos outros, o resto não vale
coisa nenhuma…”
Fonte:
http://www.geracao-c.com/conteudo.aspx?lang=pt&id_object=7337&name=A-noitedas-mulheres-cantoras-%E2%80%93-Lidia-Jorge,-por-Andreia-Moreira
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Resumo da obra: A noite das mulheres cantoras