UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS COM ÊNFASE EM GÊNERO E RAÇA MULHERES E POLÍTICA: A ATUAÇÃO FEMININA NOS DIVERSOS ESPAÇOS DE PODER E DECISÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO SUELI DE FÁTIMA DA SILVA CONSELHEIRO LAFAIETE – MG 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS COM ÊNFASE EM GÊNERO E RAÇA SUELI DE FÁTIMA DA SILVA MULHERES E POLÍTCA: A ATUAÇÃO FEMININA NOS DIVERSOS ESPAÇOS DE PODER E DECISÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação para a Diversidade da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em Gestão de Políticas Públicas. Área de Concentração: Gênero e Raça. Orientador (a): Profª. Ms. Marileide LázaraCassoli Conselheiro Lafaiete - MG Instituto de Ciências Humanas e Sociais / UFOP 2012 MULHERES E POLÍTCA: A ATUAÇÃO FEMININA NOS DIVERSOS ESPAÇOS DE PODER E DECISÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO SUELI DE FÁTIMA DA SILVA Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação para a Diversidade da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em Gestão de Políticas Públicas (Área de Concentração: Gênero e Raça) e aprovada pela Banca Examinadora constituída pelos seguintes professores: Profa. Ms. Marileide Lázara Cassoli Orientadora Prof. Ms. Adriano Toledo Paiva Avaliador Prof. Ms. Diego Omar da Silveira Avaliador CONSELHEIRO LAFAIETE – MG 2012 A meus pais pelos ensinamentos e que hoje se encontram na morada eterna, e com certeza estão felizes por mais essa vitória. A meus irmãos, Ângela, Pe. Luiz e Mauro pelo apoio e incentivo em todos os momentos da minha vida. A Deus, que na grandeza de seu amor deu-me o dom da vida. Á direção e ao corpo técnico-administrativo da Universidade Federal de Ouro Preto, por ter possibilitado a realização deste curso. A orientadora Marileide Lázara Cassoli pela sua dedicação, atenção e carinho ao ler e corrigir os textos, respondendo as dúvidas que surgiram na elaboração do trabalho. A tutora online, Camila Diniz, e as tutoras presenciais Rita e Rosiney. A Thereza Christina, pela formatação deste trabalho. E aos colegas de estudo, com quem partilhei alguns conhecimentos nos encontros presenciais e nos fóruns. Vivemos numa sociedade historicamente marcada pelo preconceito de sexo ou gênero, tendo como vítima especialmente a mulher. Embora poucos afirmem que a mulher seja inferior ao homem, na prática, esse preconceito é mais comum do que possamos imaginar. Não é raro, em pleno século XXI , ouvimos expressões machistas e discriminadoras da mulher ou atitudes que confirmem essa posição: homens que ganham mais pelo mesmo serviço, mulheres sendo impedidas ou maltratadas em profissões antes reservadas somente para homens, discriminação legal da mulher banalização do feminino nos meios de comunicação. Mesmo dentro das nossas comunidades cristãs, que teoricamente ensinam a igualdade essencial de todas as pessoas, muitas vezes uma cultura machista se impõe, deixando as mulheres, que são a grande força da Igreja, em posição inferior nas decisões e atividades evangelizadoras. Sabemos que a Bíblia foi escrita por pessoas de uma cultura que privilegia o masculino. Embora Cristo tenha dado às mulheres um tratamento digno, sempre prevaleceu na história, a ideia da mulher como dependente e inferior ao homem. RESUMO No Brasil a história da participação da mulher no parlamento, tem como marco inicial a conquista do direito ao voto que se deu em 1932. Essa conquista é resultado da luta contínua do movimento sufragistas, que emergiu no Brasil em 1919 e culminou com a conquista do voto pelas mulheres, mas não foi suficiente para que estes contingentes humanos superassem o processo de exclusão. A mulher ainda enfrenta diversas barreiras e discriminações por longos dos séculos. O momento de elaboração da nova Constituição Brasileira foi fundamental para que as mulheres, a partir de sua atuação conquistassem os direitos legais e obtivessem legitimidade para suas reivindicações, inclusive na esfera política institucional. Nesse período foram criados os Conselhos Estaduais e Municipais. Porém, essas instâncias de representação e reconhecimento político, não determinam um equilíbrio entre homens e mulheres em termos de representação no legislativo. No que se refere ao espaço de participação política, é importante lembrar que esse ainda é um espaço muito restrito à participação das mulheres. Diante de uma sociedade com uma visão machista, muitos acham que para as mulheres, o espaço reservado a elas, são o da casa e o da família. Muitos são os atributos determinados à mulher e ao homem, como se fossem características específicas de cada gênero, isoladamente. Da mulher se diz que é emotiva, frágil, indecisa, passional, delicada, bela, pouco racional, feita para o lar e os filhos. Do homem se afirma ter um espírito teórico, abstrato, ser forte, independente, sincero, ativo, inteligente. Na verdade são rótulos que não correspondem à essência do “ser homem” ou “ser mulher”, mas acabam sendo aceitos sem questionamentos, gerando a dominação do homem sobre a mulher. Mesmo com tanta luta e organização das mulheres para mudar esses conceitos, desde a década de 70 do século passado, muitas dessas opiniões ainda estão enraizadas na mente de nosso povo. No entanto a participação de mulheres na política continua limitada. Embora a representação parlamentar ao longo da última década, tenha aumentado um pouco, estamos muito longe da paridade de gênero em todos os níveis da política. Em pleno século XXI, apesar de grandes avanços, as mulheres ainda são a minoria no Congresso. Palavras Chaves: Mulheres – Participação – Política – Poder LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Eleitorado por Sexo no Brasil ............................................................ 30 Figura 02 - Poder Legislativo no Brasil – Senado, Congresso, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais – Cargo e Sexo.................................................................. 33 Figura 3 - Estatísticas de Candidaturas nas Eleições 2010 - Candidatas a Deputadas Federais por Regiões - Candidaturas Aptas ................................................................................. 33 Figura 4 - Estatísticas de Candidaturas nas Eleições 2010 - Candidatas a Deputadas Estaduais/Distritais por Regiões - Candidaturas Aptas .......................................... 33 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................ 09 CAP 1. MULHER E PARTICIPAÇÃO ......................................................... 15 1.1 A mulher na sociedade e a conquista do voto feminino .......................... 15 1.2 As lutas feministas no Brasil ...................................................................... 17 1.3 O feminismo na redemocratização do Brasil e a atuação das mulheres 19 CAP 2 MULHER E PODER .......................................................................... 24 2.1 A atuação feminina nos mecanismos institucionais ................................. 24 2.2 As políticas públicas e o controle social pelos Conselhos ........................ 26 2.3 A mulher na política ................................................................................... 28 3. CONCLUSÃO............................................................................................... 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 42 9 INTRODUÇÃO A participação das mulheres nos diversos espaços de poder e decisão é sem dúvida, de suma importância. A partir do momento em que a presença da mulher se instala nos organismos1 sociais e políticos amplia o debate no que se refere às desigualdades de gênero e de raça etnia, significando assim em médio prazo grandes alterações nas relações de gênero no Brasil. A ocorrência referente a isso se deu quando as mulheres conquistaram seu espaço no campo público por meio de muitas lutas femininas, a partir do ano de 1970. As discussões políticas até então, por exemplo, eram reservadas ao mundo masculino. No Brasil pelo que se sabe a história da participação da mulher foi um marco principal pela conquista do direito ao voto no ano de 1932. Essa conquista é esforço de inúmeros resultados do movimento feministas, o qual emergiu no Brasil no ano de 1919, culminando assim com a conquista do voto pelas mulheres, como discutiremos à frente. Com a Constituição de 1988 ficou evidente que a inserção da mulher na política formal aumentou significativamente e várias questões passam a ser abordadas em relação à sua situação social. A partir da atuação feminina, os direitos legais foram conquistados e suas reivindicações foram legitimadas inclusive na esfera política institucional. São discutidos temas relativos aos direitos femininos e medidas são tomadas para garantir uma igualdade de fato. Diante disso, as mulheres procuraram se inserir em um campo até então masculino, possuidor de maior valor social. Lutaram pelo direito de expressar sua opinião quantos aos rumos da sociedade, atuando ainda timidamente no campo político. No entanto, em nenhum momento elas abdicaram de seu espaço privilegiado, assim como os homens não lutaram para inserir nele. Até hoje, temos conhecimentos de lutas femininas para exercer papéis socialmente reconhecidos como masculinos, mas de nenhuma luta masculina para exercer papéis femininos. Sendo assim, a mulher com sua competência é capaz de transformar a realidade devido o seu olhar afetivo e a sua sensibilidade para os problemas que 1 O destaque do gênero feminino é notório em relação ao masculino nos organismos (Conselhos, Associações, ONGs). (TOLEDO, 2001) 10 afetam a dignidade da vida. Segundo Dilza Franchin – Consultora da Associação de Mulheres e Negócios: “Hoje em dia vemos as mulheres em áreas estritamente masculinas. As mulheres vão conquistando seu espaço em ambientes masculinos pela sua forma de ver e estar no mundo. A mulher é analítica, detalhista, organizada, tem uma visão mais abrangente, talvez pelas suas próprias funções, tão diferenciadas de tantos papéis sociais familiares e profissionais. Tem essa sensibilidade de olhar e de percepção mais aguçado,” afirma a consultora. (FRANCHIN. Portal Carreira & Sucesso). Possibilitar o maior acesso de participação das mulheres nos diversos espaços de poder e decisão, é uma das maneiras de democratizar o Estado e a sociedade. Pois nas últimas décadas, o Brasil passou por diversas transformações, transição democrática cultural, social, que tiveram grande impacto no trabalho da mulher. A partir de uma nova visão, a atuação da mulher na liderança vem desencadeando tendo influência na transformação e ampliando possibilidades de conquistas existentes como a sua participação no controle social e nos cargos eletivos. E também um dos instrumentos importantes para a construção democrática, são os movimentos feministas e de mulheres2, pois os mesmos reforçam e ampliam a participação popular. O presente estudo propõe-se a analisar a participação das mulheres na política nacional, com um olhar especial para as mulheres negras, diante da construção de uma sociedade democrática, justa e solidária. Sem a participação política das mulheres negras nos espaços de poder e decisão, e sem a implementação de políticas públicas com perspectiva de gênero para este grupo marginalizado, torna-se difícil construir uma sociedade efetivamente democrática e igualitária. É importante lembrar que as negras no Brasil tiveram um tratamento diferenciado das brancas. Se, às mulheres brancas foi negado o direito à voz ativa, às mulheres negras foi negado o direito à sexualidade, à identidade, à maternidade. Tirou-se muito da mulher africana que era trazida para ser escrava no Brasil: sua liberdade, sua cultura, a dignidade de ser mulher, de ser mãe, 2 * Movimento Feminista: é o movimento social, político e filosófico que defende a igualdade de direitos e status entre homens e mulheres. * Movimento de Mulheres: são organizações de mulheres com o objetivo de cobrar políticas públicas de gênero propondo mudanças na legislação discriminatória pressionando ações afirmativas como as entidades de: direito da mulher, as delegacias, abrigos, programas de saúde sexual e reprodutiva, cotas nos partidos políticos etc. 11 nunca foi reconhecida e nem respeitada. Tratadas como objeto, eram estupradas pelos senhores de engenho, serviam apenas para lhes dar prazer, enquanto que, a procriação era serviço da mulher branca. Eram obrigadas a amamentar os filhos dos seus senhores e cuidar deles. A situação da mulher negra hoje, se pensarmos em termos de dignidade, não é muito diferente. Findo o período escravista, permaneceu o preconceito. Sabe-se que as mulheres brancas possuem mais oportunidades do que as mulheres negras, seja no trabalho, seja na vida social. Muitas vezes as mulheres negras são quase sempre vista com má índole, prostitutas, ladras, serviços domésticos, por exemplo, em sua maioria, são realizados por mulheres negras, um reflexo de nossa herança escravista. A implementação de políticas públicas com perspectiva de gênero, é um dos caminhos mais eficientes para se enfrentar e eliminar as desigualdades vivenciadas pelas mulheres, e em especial pelas mulheres negras. Neste sentido é importante recuperar um pouco a história dos movimentos feministas e das políticas públicas para as mulheres no Brasil. Diante da importância da participação da mulher nos espaços de poder, destaco a presença da mulher negra. É preciso um olhar especial para este grupo social específico, ou seja, reconhecer a luta delas que clamam por justiça social. Elas correspondem a uma parcela grande da nossa sociedade e sua representatividade nestes espaços, ainda está aquém, é numericamente reduzida. Pensar na participação das mulheres negras, nos faz analisar as categorias de raça, gênero e classe tão importantes para a construção da realidade opressora em que elas se encontram. Para a mulher negra foi reservado um lugar mais depreciativo do que para a mulher branca, condicionamento que existe desde o Brasil colônia e que ainda se arrasta na sociedade brasileira contemporânea. Enquanto vemos que as mulheres brancas conseguem maior inserção, na política, no mercado de trabalho, tornam-se chefes de empresas, dominando lugares antes masculinos, a mulher negra continua ainda ocupando os mesmos postos subalternos, muitas vezes sem chances de melhorar sua condição social, como as mulheres brancas, em parte por toda essa herança de desigualdade colonial. Com o objetivo de discutir os aspectos acima referidos, apresentamos a divisão de nosso trabalho: No primeiro capítulo, Mulher e Participação: será abordada uma breve explanação sobre a participação da mulher na sociedade, suas conquistas através do voto feminino, como também a importância do feminismo 12 na redemocratização do Brasil, com a atuação da mulher. No segundo capítulo, Mulher e Poder: será apresentado a história das mulheres no mundo da política, como o foco especial para as mulheres negras e a sua participação nesses espaços. E também a participação das mulheres em outras instâncias de poder como os Conselhos, pois os Conselhos são canais de participação popular reconhecidos por lei que articulam representantes da sociedade civil, em composição paritária, eleito com caráter deliberativo. Será destacado o Conselho da Igualdade Racial e o Conselho dos Direitos da Mulher. Partimos assim do princípio de que é urgente que haja paridade entre homens e mulheres no que se refere à participação em alguns setores da sociedade como por exemplos: Associações, Instituições e Conselhos. Para isso, faz-se necessário identificar as barreiras para o ingresso das mulheres nas diversas instâncias de poder e ter como foco que as mulheres são sujeitos políticos, considerando que as categorias de gênero, de raça e de etnia, estão inseridas em uma estrutura de dominação que ainda impera na nossa sociedade. O PROBLEMA A presença da mulher nos diversos espaços de poder e decisão tem sido cada vez mais relevante para a consolidação da democracia do Brasil. Essa conquista da presença feminina no que se refere à participação se deu quando elas conquistaram o direito ao voto no ano de 1932. Mas isso não é suficiente para superar a exclusão feminina. Na nossa sociedade que se diz democrática, a questão da representação feminina nos espaços de poder e decisão, em especial no que se refere ao campo da política, ainda é bem restrito, pois esse espaço em sua grande maioria ainda é reservado aos homens. Vários estudos tem demonstrado os diversos mecanismos de exclusão política no que se refere às mulheres, como também a sua inserção nos processos de decisão e poder. Sendo assim o confronto político em relação a participação da mulher, nos espaços de poder é antigo. Existe um forte machismo, que leva à exclusão 13 feminina dos espaços de poder, operando sobre a nossa sociedade. Ainda persiste, aquela mentalidade de que a função da mulher é somente de ser a reprodutora da vida e da administração privada do lar. A exclusão da mulher da vida política é tão forte, que isto representa um marco histórico até os nossos dias, pois os estudos sobre gênero e política precisam abordar o processo histórico de exclusão da mulher no espaço público, este ainda considerado como lugar de homem, por ser o locus do poder e das decisões, que de fato interferem nos rumos de um país. Este aspecto recai fortemente sobre as mulheres e, apesar disso, as lutas femininas visam o resgate e o seu lugar natural da mulher na vida pública. Embora a Constituição Federal de 1988, tenha trazido grandes avanços para o fim da discriminação sofrida pelas mulheres, dando a elas a garantia e o direito e igualdade através do artigo 5 inciso I, ao assegurar a titularidade da plena cidadania, fazendo uma verdadeira revolução no que se refere à inserção da mulher nos espaços sociais. Hoje, há mulheres presidentes de associações de bairro, dirigentes de ONGs, integrantes de movimentos sociais. Ressalte-se entretanto, que a participação política das mulheres, tem como ponto de observação os espaços informais de poder. Isso significa que, embora muitas mulheres exerçam a direção de associações de bairro e de organizações civis em geral, essa participação não é refletida na mesma proporção, quando analisamos os poderes institucionais do Estado Brasileiro. As chefias de órgãos e entes públicos ainda são, em sua maioria, ocupadas por homens, assim como as Cadeiras do Congresso Nacional. Diante deste contexto, é preciso destacar que a maior consolidação das instituições de poder e representação é um dos legados positivos pós-constituinte no país, legado este construído também pela atuação política coletiva e ativa das mulheres. A livre organização partidária, o fim dos mecanismos e a realização de eleições regulares constituem indicadores que, no âmbito de representação política, a democracia se encontra em pleno processo de consolidação. Contudo esses avanços não foram suficientes para promover a efetiva inclusão e o acesso das mulheres em diversos setores das esferas decisórias e tampouco para alterar substancialmente as condições de participação política. A participação das mulheres na política constitui hoje um grande indicador do grau de democratização de uma sociedade justa e igualitária. Um dos traços pouco inclusivo da democracia brasileira se expressa no desequilíbrio quantitativo 14 entre o acesso de homens e mulheres no poder, particularmente à representação política. É certo que há uma crescente inserção nas esferas de representação e poder, evidenciando a disposição feminina para a participação. Mas o ritmo com que isto vem acontecendo nos últimos anos, está muito lento, e isto ainda revela que existem obstáculos e preconceitos diante de tal situação. Também existe um enfraquecimento geral das práticas associativas tradicionais no Brasil, gerando assim um impacto sobre a ação política e a renovação de pessoas com condições de disputar processos eleitorais, e em especial as mulheres não ficam fora deste contexto. 15 CAP 1. MULHER E PARTICIPAÇÃO 1.1 A mulher na sociedade e a conquista do voto feminino A situação de submissão das mulheres é um fenômeno histórico. Esta constatação nos faz entender que não existe uma predestinação na qual a mulher é inferior ao homem. No início da sociedade humana, a organização se dava de maneira tal que as mulheres possuíam uma importância ímpar na consolidação do grupo, tendo lugar de destaque sem que fosse necessária a exclusão ou submissão do papel dos homens. Foi com o desenvolvimento da sociedade humana, e mais precisamente com o surgimento da propriedade privada na sociedade e com ela a disputa pelo direito da herança que se estabeleceu a hierarquia entre os seres humanos. Nesta estrutura hierárquica as mulheres foram subjugadas ao poder dos homens. Com o passar dos tempos a condição feminina foi se alterando. O século XIX foi um período no qual despertou em algumas mulheres o desejo de sair de suas vidas rotineiras, isto é, de serem donas de casa, serem submissas aos homens. As mesmas foram em busca de sua inserção na sociedade lutando por seus direitos e alterando seus destinos traçados: serem rainhas do lar, por meio do casamento e do trabalho doméstico. Estas primeiras manifestações desafiaram as ordens machistas conservadoras que percebiam a mulher como subordinada do lar. A ela cabia reproduzir, criar, educar e cuidar do marido, elas eram postas como inferiores aos homens, não tinham poder de escolha ou de decisão em nada em suas vidas. A Igreja Católica exercia forte pressão sobre o comportamento da sociedade, principalmente da mulher, e como forma de repressão cabia ao homem exercer o domínio sobre a mesma. Ressaltando que a mulher era posta como indivíduo sem direito e apenas com deveres a serem cumpridos. A partir do século XIX, a “Revolução Industrial marcou a introdução da maquinaria no processo de produção de mercadorias e de concentração de grandes contingentes de trabalhadores nas fábricas” (TOLEDO, 2001). Nesse contexto, já inserida no mercado de trabalho, a mulher operária oprimida em seus direitos fundamentais, provoca grandes manifestações em busca dos direitos femininos e salários igualitários, redução de horas de trabalho e direitos de votar e serem 16 votadas, isto vindo de encontro com o capitalismo vigente, conquistando espaço, até então, usufruído pelos homens. Com o crescimento da indústria, as unidades produtivas cada vez mais necessitadas de mão de obra para as fábricas, fez com que mais mulheres trabalhassem fora de seus domicílios em atividade remunerada. Por outro lado, com a economia baseada no emprego de equipamentos mecânicos cada vez mais aperfeiçoados, exigiu-se força física e músculos fortes, o que limitou o espaço da mulher na indústria. Diante dessa imposição, a mulher foi gradativamente afastada da atividade produtiva, ora pelo fato de ser considerado sexo frágil, incapaz de produzir melhor que o homem, ora pelo trabalho nas indústrias automatizadas, começa-se a substituir o trabalho humano pelas máquinas e, consequentemente, a mão de obra feminina. Com o mito de que a mulher é sexo frágil, essa expressão surgiu devido à fragilidade física e emocional atribuída à mulher. Antigamente as mulheres eram submissas, consideradas como um ser inferior ao homem, não demonstravam o que queriam e gostavam, apenas limitavam-se a uma inclinação estritamente voltada para o lar, e sua função era procriar, ser mãe e esposa, zeladora do lar, educadora dos filhos. Qualificações dadas pela sociedade competitiva a fim de poder manipular a mão de obra feminina de acordo com suas conveniências. Há dois séculos a mulher luta pela igualdade, uma igualdade ainda discutível. A história faz da mulher um sexo frágil, mas ela está cada dia mais forte e imponente ocupando seu espaço nas universidades, na política e no mercado de trabalho. À medida que a opressão aumentava, em vários lugares do mundo, a mulher começou a conscientizar-se da sua situação social e iniciou uma luta por uma participação ativa na sociedade. Nos anos 60, o movimento feminista insurge com o objetivo da consolidação da participação da mulher no mercado de trabalho e sua inserção na sociedade e na política, bem como a reivindicação dos mesmos direitos assegurados pela Constituição existente em seu país, lutando pela igualdade de salários e a conquista do direito de cidadania, combatendo o preconceito e os valores tradicionais. A luta pela equidade e igualdade de direitos das mulheres interviram na política ativa e, sobretudo, o direito ao voto, o qual foi designado como movimento sufragista. A raiz desta luta pela igualdade de oportunidades políticas 17 entre homens e mulheres permitiu que grandes tensões se instaurassem na sociedade capitalista, pois muitos homens se viam confrontados com inúmeros impedimentos que travavam o direito de voto da maioria da população mesmo da masculina quando estes não eram alfabetizados. 1.2 As lutas feministas no Brasil Por volta de 1918, as ações das feministas intensificaram-se, quando Berta Lutz e um grupo de colaboradoras criaram no Rio de Janeiro, uma organização chamada Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que posteriormente, passou a denominar-se Liga para o Progresso Feminino. Apenas em 1932, com o Decreto nº 21.076, no entanto que as mulheres tornaram-se eleitoras efetivas no Brasil. Em 1932, o movimento sufragista de 1919 no Brasil, culminou com a conquista do direito ao voto pelas mulheres, mas, não foi suficiente para que elas superassem o processo de exclusão. As restrições ao pleno exercício do voto feminino só foram eliminados com o Código Eleitoral de 1934 e tornou-se obrigatório em 1946. A década de 70 a 90 é um período em que as mulheres irão se reunir em diversos setores seja estadual, municipal, para a estruturação de seus ideários que difundem proposições de equidade entre os sexos, no entanto, em 1986 foi criada a Comissão da Questão da Mulher no nível Nacional de Central Única dos Trabalhadores, e em 1992 foi instituída a Secretaria Nacional da Mulher, fortalecendo o sufrágio feminista alcançando a equidade social. No Brasil, o direito ao sufrágio universal e secreto veio a ser conquistado tardiamente, em 1932, através do Decreto Lei no Governo Vargas. As mulheres vieram a exercê-lo, de forma plena na eleição de maio de 1933, em que deveriam ser escolhidos os representantes dos vários segmentos da sociedade para compor a Assembléia Nacional Constituinte, de 1934, aumentando o número de votantes no Brasil. Regulamentando assim o alistamento e o processo eleitoral no país, nos âmbitos: federal, estadual, municipal, trazendo uma série de inovações, dentre as quais destaca o estabelecimento do sufrágio universal e secreto. Mas ainda, o novo código ampliava o corpo político da nação, concedendo o direito de voto a 18 todos os brasileiros maiores de vinte e um anos, alfabetizados e sem distinção de sexo. As mulheres brasileiras adquiriram assim, pela primeira vez e após árdua luta, cidadania política. A mulher foi se desvinculando gradativamente dos afazeres domésticos, que a absorviam por completo, sendo atraída e seduzida por atividades situadas na esfera de vida coletiva pública. A passagem da vida doméstica, privada e familiar, para a coletiva pública e social, processara-se mediante o ingresso das mulheres em Associações e Movimentos, onde discutiam idéias de melhores condições da vida social e política. Pode-se notar que no Brasil o direito ao voto para as mulheres em 1932, chegou com a necessidade que era imposta para defesa dos direitos e participação nas questões de interesses gerais, já que a questão da universalização do voto, direto e secreto, tinha sido compromisso de campanha da Aliança Liberal. A reforma eleitoral que era um compromisso do candidato Vargas, tornouse ao momento de sua chegada ao governo provisório como algo inadiável, foi em meio a este aspecto que se foi elaborado o novo Código Eleitoral em 1932. Porém, a discriminação foi se tornando algo inconstitucional, uma vez que a Constituição Federal de 1891, em seu art. 70, parágrafo primeiro, excluía do direito do voto somente os mendigos, os analfabetos, os soldados e os religiosos. Dessa forma, como cidadã brasileira, a mulher tinha o mesmo direito de votar e ser votada tanto quanto os homens. (GUERRA, 2008). A mulher mostra ser compatível às atividades do mundo privado com as do mundo público sem por em risco a sua moral, conquistando aos poucos seu espaço no mundo e nacionalizando a cidadania, sendo a verdadeira cidadã ativa eleitora, candidata, numa sociedade extremamente patriarcal. Após 80 anos de luta e conquista pelo voto feminino, a mulher brasileira vai conquistando aos poucos seu espaço. Desde o século XX até os dias de hoje, as conquistas não pararam, tivemos uma série de conquistas a partir do voto feminino. A busca por uma vida digna e por direitos respeitados é o que move as mulheres a participarem de movimentos sociais. É importante ressaltar que nos últimos 80 anos, o mundo passou por grandes mudanças no que se refere a condição da mulher. De coadjuvante, as mulheres passaram a ser protagonistas dos seus desejos e dos seus destinos. 19 Mesmo assim, vivemos numa sociedade dividida em classes sociais, estruturada em desigualdades de gênero e raça, determinada por uma cultura política carregada de discriminações e preconceitos. Nesse contexto está a mulher, e para equiparar esta situação em uma representação justa das mulheres, é necessário ainda muita luta de um sistema político existente que assegure a participação democrática de todos. Diante desta conquista do voto feminino, o século XXI coloca-nos um grande desafio: que as mulheres ultrapassem a sua conquista, ou seja, que elas conquistem sua posição de candidatas e que as mesmas sejam indicadas para ocuparem instâncias de poder e decisão. A conquista das mulheres de votar e ser votada é sem dúvida, um grande avanço para a nossa sociedade. Hoje apesar das vitórias alcançadas a mulher ainda encontra barreiras que tentam impedi-las de conquistar novos horizontes, ser mulher e mãe nos colocam como um grande desafios a serem enfrentados dia-a-dia, o machismo que ainda encontra-se mascarado na sociedade, vem tentando dar lugar e oportunidade para a mulher mostrar sua competência em setores ainda predominados pelos homens. Assim sendo aos pouco as mulheres vão ampliando seus espaços conquistados, entretanto o grande desafio ainda está em transformar o quadro de desigualdades entre homens e mulheres. 1.3 O feminismo na redemocratização do Brasil e a atuação das mulheres O movimento feminista brasileiro enquanto um novo movimento social extrapolou os limites do seu status e do próprio conceito. Foi mais além da demanda e da pressão política na defesa de seus interesses. Entrou no Estado, interagiu com ele e ao mesmo tempo conseguiu permanecer como movimento autônomo. Através de espaços conquistados como: Conselhos, Secretarias, Coordenadorias e Ministérios elaborou e executou políticas. No espaço do movimento, reivindicava, propunha, pressionava, monitorava a atuação do Estado, não só com vista a garantir o atendimento de suas demandas, mas para acompanhar a forma como as mesmas estão sendo atendidas. A presença das mulheres no cenário brasileiro nas últimas décadas tem sido inquestionável. Durante 21 anos o Brasil esteve sob o regime militar, e as 20 mulheres estiveram frente nos movimentos, criando sua forma própria de organização, lutando pelos seus direitos sociais. Foi durante a ditadura militar, quando existiam as torturas, que o movimento feminista foi capaz de proteger uma série de argumentos contra as mulheres na esfera doméstica, e também proteger a vida delas desde o momento da concepção. O movimento feminista que reapareceu no Brasil a partir de meados dos anos 70, e os primeiros grupos criados nesta data, nasceram com o compromisso de lutar pela igualdade das mulheres. Os grupos feministas e os movimentos de mulheres surgiram durante os anos de 70 e início dos anos 80. As comemorações do Dia Internacional da Mulher aconteciam em momentos especiais para a organização de fóruns de mulheres, com propostas públicas contra a discriminação de sexo, e algumas reivindicações. Segundo Sueli Carneiro: A cada novo 8 de março, Dia Internacional da Mulher celebrase o contínuo crescimento da presença feminina no mundo dos negócios, nas esferas de poder, e atividades secularmente privatizadas pelos homens (CARNEIRO, 2011. p. 119). Até os dias de hoje essas comemorações são momentos privilegiados de encontro com as mulheres. Os movimentos de mulheres tinham como finalidade a construção de uma sociedade mais igualitária para homens e mulheres. No início dos anos 80 chegavam a quase uma centena de grupos feministas espalhados pelo país. No Brasil, como também na América Latina, as mulheres se fizeram e fazem visíveis por meio de suas expressões organizativas. Uma das principais contribuições do grupo de mulheres nos anos 70 e 80 no Brasil nasceu dos grupos de vizinhos dos grandes centros urbanos. As mulheres dos bairros conseguem se organizar em pequenos grupos, e são consideradas novas protagonistas, ao transcender seu cotidiano doméstico, fazer aparecer um novo sujeito social, ou seja, as mulheres que então eram anuladas, emergem como inteiras e reivindicam seus direitos. Com esta organização feminina, percebe-se que a vida das mulheres, modifica-se a partir do movimento que elas são inseridas, com isto o espaço social de participação da mulher na comunidade é ampliado, através dos grupos sociais existentes, como: associações de bairros, grupos de mulheres, movimentos religiosos, etc. Assim sendo, as 21 mulheres participam de atividades para melhorar suas vidas e a de seus familiares. Redefinem-se como legítima e modificam as normas tradicionais que limitam a mulher ao âmbito exclusivo do lar. Segundo Vera Soares: “Pode-se dizer que, no Brasil a estratégia do feminismo em tornar visível a questão da mulher, sua exclusão e desigualdades, foi vitoriosa. Agora são necessárias outras estratégias capazes de enfrentar as questões colocadas pelos processos de democratização, globalização e implementação das políticas neoliberais. Diferentes motivos levam a apontar o feminismo como um projeto que teve êxito em tornar visível uma problemática que antes não estava nos movimentos sociais, nem nos políticos. O feminismo identificou o Estado como a concretização material e simbólica do poder político central, aquele que sintetiza e globaliza as relações de exclusão,dando uma dimensão institucional e uma generalidade ao conjunto da sociedade. Mas mostrou que o poder se estende e está presente em todas as instâncias do cotidiano. Trouxe reflexões à política, no sentido de sua ampliação e da incorporação de novos sujeitos portadores de reivindicações e direitos.” (SOARES, 1977. p. 48). A reforma constitucional de 1988, marco histórico da redemocratização do país, consolidou a cidadania das mulheres, removendo obstáculos à igualdade de direitos. Isto só se tornou possível graças à atuação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, dos movimentos de mulheres e dos blocos dos parlamentares através do conhecido Lobby do Batom, que empreendeu uma aguerrida mobilização nacional e provocou uma forte transformação no campo políticoideológico. Segundo Sueli Carneiro: Cerca de 80% das propostas enviadas pelos movimentos de mulheres foram acatadas, entre elas, a mudança do estado jurídico das mulheres, a destituição do pátrio poder e a transformação do racismo em crime inafiançável. (Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça, caderno nº 3, 2003, p. 199). Já na década de 1990, as transformações profundas já haviam sido introduzidas pelo movimento feminista na sociedade brasileira, ou seja, nesse processo, novas concepções sobre gênero, participação feminina nas esferas públicas foram produzidas e legitimadas. A ação do movimento feminista em todo o mundo derrubou tabus e modificou costumes, abrindo espaço para o fortalecimento ou a maior visibilidade de outros movimentos identitários. Mas, apesar dos avanços, havia lucidez quanto às distâncias para que as mulheres alcançassem a tão almejada equidade de gênero. Na visão de Vera Soares: 22 Os anos 90 demonstram que o feminismo multiplicou os espaços e lugares em que atua e, consequentemente, onde circula o discurso feminista. As fronteiras entre o movimento de mulheres e o feminista têm sido sistematicamente ofuscadas, com um número crescente de mulheres pobres, trabalhadoras, negras, lésbicas, sindicalistas, ativistas católicas e de outros setores dos movimentos de mulheres incorporando elementos centrais do ideário e do imaginário feministas, reelaborados de acordo com suas posições, preferências ideológicas e identidades particulares. As mulheres dos movimentos pertencem a grupos e classes sociais muito diversos, a raças e etnias diferentes, com sexualidades e trajetórias políticas distintas. (SOARES, 1977. p. 46). Na metade do século XX, com a intensificação dos movimentos feministas pela ampliação dos direitos das mulheres, as mulheres negras encontraram dificuldades de incluir sua pauta política nestes espaços que, liderado por mulheres brancas tinham como referências o feminismo europeu e realizavam práticas racistas, se negavam a reconhecer as diferenças intra-gênero e tratavam a categoria mulher como homogênea e universal. Esta prática de anular a existência da mulher negra como grupo social com identidade e necessidades peculiares se estende até os dias de hoje, porém com menor impacto, pois desde o final dos anos 90 as organizações feministas tem avançado nessas discussões e assumindo as reivindicações desses segmentos. Na década de 70 surgem novos movimentos sociais negros, com o Movimento Negro Unificado (MNU) dentro dos quais as mulheres negras também tinham dificuldade em discutir as relações de gênero e realizavam enfretamento constante contra as ações machista. Porém, foi no seio do movimento negro que os movimentos de mulheres negras do século XX tiveram possibilidade de se articular e incluir sua pauta política. Lélia Gonzales em seu texto “Por um Feminismo Afro-Latino-Americano” (1988) afirma que a conscientização das mulheres negras em relação às opressões sociais ocorre antes de qualquer coisa pela via racial, e que as raízes e experiência histórico cultural comum entre nós e os homens negros acabam por fortalecer nossos laços políticos” (...) foi dentro da comunidade escravizada que se desenvolveram formas de políticas-culturais de resistência que hoje nos permitem continuar uma luta plurissecular de libertação. Neste contexto, começam a aparecer algumas organizações negras com o objetivo de dar voz e articular politicamente as mulheres negras. As organizações 23 de mulheres negras surgem em todo o mundo, e são responsáveis por criar aquilo que chamamos de feminismo negro. O feminismo negro traz para o centro do debate a articulação das categorias raça, gênero e classe que atuam como operadores ideológicos na configuração da realidade da mulher negra. Além disso, ele cria um elo de solidariedade internacional entre as mulheres negras, que embora estejam inseridas em diferentes lugares e contextos sociais no mundo, são atingidas por formas de opressão comuns: raça, gênero e classe, e se encontram na base da pirâmide social. Segundo Sueli Carneiro “a questão de gênero passou a ser vista a partir da raça, com foco na reprodução de identidades masculinas e femininas subalternas”. (Gestão de Políticas em Gênero e Raça. Caderno nº 2. p. 198, 2003). 24 CAP 2 MULHER E PODER 2.1 A atuação feminina nos mecanismos institucionais Reconhecemos que a atuação do Estado, especialmente por meio da formulação e implantação de políticas públicas, interfere na vida das mulheres, ao determinar, reproduzir ou alterar as relações de gênero, raça e etnia e o exercício da sexualidade. A Política Nacional para as Mulheres tem como compromisso e desafio interferir nas ações do Estado, de forma a promover a equidade de gênero, com respeito às diversidades. A Política Nacional para as Mulheres parte da certeza de que o maior acesso e participação das mulheres nos espaços de poder é um instrumento essencial para democratizar o Estado e a sociedade. Desta forma, é uma estratégia de longo alcance, no sentido de democratização do Estado, sendo de responsabilidade do conjunto do governo, e não de uma área específica. Sua implementação requer uma ação coordenada e articulada de vários órgãos, secretárias e ministérios. Para tanto, faz-se necessário a criação de uma rede institucional entre Governo Federal, Estado e Municípios para a implementação da Política, com vistas a garantir o alcance de seus resultados e a superação da desigualdade de gênero no país. Além disso, apresentam-se como importantes instrumentos para a construção de relações democráticas com os movimentos feministas e de mulheres a criação e o fortalecimento de mecanismos institucionais que ampliem a participação popular. Alguns exemplos desses mecanismos são: o controle social, as conferências, os conselhos de direitos das mulheres, os processos de orçamentos participativos que garantam a participação das mulheres, contemplando assim a representação de mulheres negras, idosas, lésbicas, portadoras de deficiência entre outras. A Constituição Federal de 1988 apresenta grandes avanços em relação aos direitos sociais, ao introduzir instrumentos de democracia direta plebiscito, 25 referendo e iniciativa popular, instituiu a democracia participativa e abriu a possibilidade de criação de mecanismos de controle social. Com o retorno do exercício dos direitos civis e políticos os conselhos, como esferas públicas, entram em cena na institucionalidade democrática, como canais de participação e decisão da sociedade organizada. A Constituição de 1988 determinou as condições jurídico políticas para a criação e a funcionalidade de órgãos de natureza plurirepresentativa com função de controle social e de participação social na gestão da coisa pública. Neste sentido, destaco como uma das formas de alcançar a democracia de forma justa e igualitária na gestão pública, o incentivo à participação popular através dos conselhos, entendo-os como uma das maneiras de exercer o poder. Os conselhos são inovações institucionais que se estruturam de modo a incorporar representantes da sociedade civil organizada. Nessas instituições, as mulheres participam ativamente, discutem e reivindicam os seus direitos. Percebese que as mulheres estão ocupando seus espaços nessas instâncias de poder, em especial nos conselhos de direitos, como por exemplo, no Conselho dos direitos da Mulher e no conselho de promoção da igualdade racial. Os Conselhos de Promoção da Igualdade Racial são órgãos de consulta e deliberação e fiscalização da política da promoção da igualdade racial, que funcionam como instrumento de participação popular. Com o objetivo de formular políticas públicas, decidir e atuar junto ao poder executivo, contribuindo na administração do município, para a promoção e inserção da população por questões etno/raciais. O Conselho Municipal dos Direitos da Mulher é um órgão de caráter permanente com competência propositiva, consultiva, normativa, deliberativa, para garantir uma esfera pública com representantes da comunidade local e dos órgãos governamentais, para monitorar o impacto das políticas públicas na efetivação dos direitos das mulheres e também para investigar as votações de direitos no território municipal. Neste sentido, a participação popular nesses mecanismos é essencial para a elaboração e cobranças das políticas públicas, para estes grupos sociais. O protagonismo feminino possibilita ações e teorias a fim de modificar as desigualdades pautadas nas diferenças anatômicas. 26 2.2 As políticas públicas e o controle social pelos Conselhos Todas às vezes que se fala em políticas públicas, nos vem à mente o governo. Mas, não é bem assim. Políticas Públicas diz respeito às políticas básicas essenciais à vida do cidadão: saúde, educação, lazer, profissionalização, dignidade, convívio familiar etc. É dever do Poder (Município, Estado e União) garantir a todas as pessoas o acesso a estas políticas. Mas, público não quer dizer governo. Público quer dizer o que é de todos, o que é de todo cidadão. Quando a Constituição Federal garante educação pública e gratuita em todos os níveis (do pré-escolar ao ensino médio e até mesmo a universidade) ela quer dizer que a educação é um direito de todo cidadão brasileiro, qualquer pessoa seja qual for a sua idade, etnia, credo ou status econômico, tem direito ao estudo. Foi pensando nisto que muitos órgãos governamentais e não governamentais, se reuniram e exigiram do governo, que o povo pudesse participar nas políticas públicas. Em 1988, a nossa Constituição Federal nos garantiu este ganho, e mais, não vamos somente participar das políticas públicas, nós vamos deliberar, determinar o que será feito neste âmbito. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, adotou-se no Brasil uma perspectiva de democracia participativa, incorporando a participação da comunidade na gestão das políticas públicas. E ainda a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 204, assegura que o povo participe diretamente na elaboração e controle social das políticas públicas em todas as esferas, nacional, estadual e municipal. O controle social pode ser feito individualmente, por qualquer cidadão, ou por um grupo de pessoas. Os Conselhos gestores de políticas públicas são canais efetivos de participação, que permitem estabelecer uma sociedade na qual a cidadania deixe de ser apenas um direito, mas uma realidade. A importância dos Conselhos está no seu papel de fortalecimento da participação democrática da população na formulação e implementação das políticas públicas. As Políticas Públicas são decisões e ações que utilizam recursos públicos, recolhidos dos nossos impostos e taxas, e que são executados pelo governo. Elas devem ser realizadas para atender as necessidades básicas da população e produzir benefícios para a comunidade. Além do governo a sociedade civil organizada, propõe, 27 elabora e fiscaliza a execução das políticas públicas, através dos canais de participação. Um deles, reconhecido por Lei, são os Conselhos. Os Conselhos são órgãos constituídos e formalizados mediante leis, oriundos do poder executivo, (presidente da república, governador e/ou prefeito) aprovados pelo poder legislativo correspondente; têm caráter permanente. Alguns são deliberativos (analisam,discutem, decidem); outros são consultivos (não tem caráter de decisão). O Conselho é um órgão colegiado e sua composição é feita por representantes do governo e de entidades não governamentais, prestadores de serviço, profissionais da área de usuários, sendo a representação paritária, isto é a metade dos membros é indicada pelo executivo, a outra metade pela sociedade civil (entidades organizadas, pastorais sociais, associações, etc). Os conselhos realizam suas reuniões pelo menos uma vez por mês e extraordinariamente, sempre que necessário. Possuem uma secretaria executiva que é responsável pela organização e administração de rotinas, como elaboração de atas, manutenção de arquivos, convocações e encaminhamentos de demandas. Destaques em alguns conselhos: Conselho da Criança e do Adolescente: a lei 8069 de 13/07/90 cria o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Esta lei revogou o antigo “Código de Menores” e é a Norma de direitos humanos da criança e do adolescente. Traz os casos específicos a respeito dos direitos da criança e do adolescente (guarda tutelar, adoção, educação, lazer...). Cria os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, os Conselhos Tutelares, e o Fundo da Infância e da Adolescência. Conselho da Saúde – lei federal 8080/90 e 8142/90 deliberam sobre o Plano Municipal de Saúde, em consonância com os Planos Estadual e Federal e de acordo com as diretrizes e estratégias estabelecidas pela Conferência Municipal da Saúde. Entre elas, a fiscalização e movimentação dos recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS). Conselho da Educação – previsto por Lei 9394/96, é responsável pela definição da política educacional, incluindo a supervisão e administração dos recursos financeiros. É de suma importância o Conselho conhecer a lei de Diretrizes e Base, empenhar-se pela educação integral (aspectos físicos, psíquico e espiritual do educando), gratuita e de qualidade para todos, inclusive adultos e excepcionais. Cabe ainda ao Conselho propor gerenciamento democrático das agências educacionais (eleição do diretor, do colegiado) e apoiar os professores em suas 28 justas demandas por condições de trabalho, qualificação e salário. Conselho da Assistência Social – é constituído através de lei específica em conformidade com a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS, lei nº 8.742/93). Esta lei beneficia quem não tem acesso à alimentação adequada, moradia, lazer, entre outras necessidades. Cabe ao Conselho ainda aprovar a Política Municipal de Assistência Social, acompanhar e controlar a atuação das entidades e organizações assistenciais inscritas, zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo de assistência social. Existem outros Conselhos previstos na nossa Constituição Federal como: Pessoa com Deficiência, Habitação, Idoso, Emprego e Renda, Segurança Alimentar e Nutricional, Desenvolvimento Rural e Sustentável, Meio Ambiente, Patrimônio Histórico e Cultural e outros. Os Conselhos como mecanismos de participação social e de legitimidade social, iniciam-se no Brasil, como fruto da organização e das lutas sociais. A mediação povo–poder por meio dos Conselhos como esferas públicas de exercício no poder no Brasil, surge nas décadas de 1970 a 1993. Segundo GONH, “Os conselhos constituem no início deste novo milênio, a principal novidade em termos de políticas públicas” (2011, p. 7). Compreender o processo de ampliação dos canais de participação e sua presença na construção das políticas públicas é perceber o movimento de democratização do país, reconhecendo as lutas dos movimentos sociais no alcance dos direitos sociais e cidadania. 2.3 Mulher na Política O século XXI coloca-nos um grande desafio: que as mulheres ultrapassem a sua condição de eleitoras, ou seja, que elas conquistem sua posição de candidatas e que sejam indicadas para ocuparem instâncias de poder e que contribuam para as definições dos rumos do nosso país. Uma das conquistas das mulheres é poder votar e ser votada. Foi sem dúvida um grande avanço para a nossa sociedade. Fruto de muita luta este direito foi conquistado no Brasil no século XX. O direito do voto das brasileiras data do ano de 1932 e foi estabelecido pelo Código Eleitoral Provisório, mesmo assim houve algumas restrições: para as mulheres casadas exigia-se a autorização de 29 seus maridos e para as solteiras e viúvas exigia-se a comprovação de renda própria. Por ocasião da aprovação da Nova Constituição de 1934, as restrições foram eliminadas e o voto considerado obrigatório apenas para as mulheres que ocupassem cargos públicos. Somente a partir de 1946, é que a obrigatoriedade do voto foi estendida para todas as mulheres. É importante lembrar que nos últimos 80 anos o mundo passou por grandes mudanças no que se refere à mulher. De coadjuvantes as mulheres passaram a ser protagonistas de seus destinos e lutam pelos seus direitos. Mesmo assim, vivemos em uma sociedade dividida em classes sociais, ou seja, ainda estruturada nas desigualdades de gênero, raça, determinada por uma cultura política carregada de discriminações e preconceitos. Nesse contexto está a mulher, e para reverter esta situação em uma representação justa das mulheres é necessário ainda muita luta por um sistema político que assegure a participação democrática de todos e todas. A participação da mulher na vida pública, em especial nos espaços políticos, tem sido alvo de estudo nos últimos anos. Trata-se de um contexto em que a participação feminina, no decorrer de toda a construção da história do Brasil, teve um papel significativo. A mulher na política é capaz de mudar determinada realidade como de redesenhar as bases da estrutura do poder político. O II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, no que se refere às mulheres diz: “esta participação torna-se ainda mais fundamental pela situação desigual e discriminatória para a implementação de políticas públicas que promovam a igualdade e a equidade de gênero” (p. 115) Hoje no Brasil as mulheres participam ativamente das organizações políticas nas suas várias formas de expressão e participam majoritariamente nas organizações populares e movimentos sociais. No entanto, a democracia representativa continua sendo vista como a esfera legítima da política e com os partidos políticos são detentores do acesso aos postos de poder. As mulheres têm um passado de luta e participação que as faz legítimas protagonistas da história e da sociedade. Os partidos políticos precisam estar atentos à estrutura da sociedade, às suas aspirações para avançar em sua organização. A democracia se concretiza na medida em que caminhamos em direção à proposta de um poder mais expressivamente partilhado, em que homens e mulheres tenham voz e voto. 30 Isso se concretiza quando conseguimos colocar na agenda do país políticas públicas que privilegiem a eliminação das desigualdades de raça e gênero. O reconhecimento dos direitos entre mulheres e homens avançou do ponto de vista legal, mas na prática sabemos que as mulheres, ainda são a minoria nos espaços de poder e decisão. Quantitativamente as mulheres representam 52% do eleitorado brasileiro. Quando o assunto é política, percebe-se ainda a exclusão da força feminina no cenário nacional, há uma discrepância significativa da presença de homens e mulheres nos espaços legislativo e executivo no Brasil. Brasil 135.804.433 Mulheres 70.373.971 Homens 65.282.009 % de % de Mulheres Homens 51,82% 48,07% Figura 1 - Eleitorado por Sexo no Brasil. Fonte: Tribunal Superior Eleitoral – Julho de 2010 * Os percentuais não incluem os eleitores que não informaram o sexo. A conquista do voto feminino resultou de um processo iniciado antes mesmo da proclamação da República. Embora a Constituição de 1891 vetasse o direito de voto aos analfabetos, mendigos, religioso, sem mencionar as mulheres elas ainda tiveram que lutar por mais de 40 anos para conquistar esse direito. É importante ressaltar sobre a conquista do voto feminino, dois fatos são ilustrativos referente a resistência usada pelas mulheres: o primeiro deles aconteceu quando em 1885 uma gaúcha Isabel de Souza Matos, requereu o alistamento eleitoral. O seu pedido estava amparado pela Lei Saraiva3 que garantia o direito do voto aos portadores de títulos científicos. A gaúcha conseguiu ganhar a demanda judicial em segunda instância. Com o advento da República e a convocação de eleições para a Assembleia Constituinte, a gaúcha Isabel estava morando no Rio de Janeiro e a mesma procurou a Comissão de Alistamento Eleitoral para fazer valer a sua conquista. Diante deste fato de uma mulher pleitear o direito de se alistar, a Comissão pediu um parecer ao Ministro do Interior que julgou improcedente a reivindicação. 3 Lei Saraiva: A Reforma Eleitoral conhecida como Lei Saraiva proposta por Rui Barbosa e promulgada em janeiro de 1881, constitui uma das medidas importantes do Império naquela década. Numa tentativa de atender aos anseios de mudança, a reforma estabeleceu o voto direto para as eleições legislativas, acabando com a eleição em dois graus distintos “votantes” e “eleitores” existentes até então. 31 O segundo fato foi a tentativa de outra Isabel, só que baiana, apresentou como candidata na Constituinte de 1891. Argumentou que a Lei Eleitoral não excluía mulheres, uma vez que a mesma assegurava o direito do voto aos maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever. Sua candidatura teve como tônica eleitoral a defesa e a opção religiosa, a ampla liberdade de pensamento, e a aprovação de leis que protegessem a mulher, e o operariado nascente. Não conseguiu se alistar para votar. Há apenas 80 anos que a mulher adquiriu o direito ao voto. Na década de 80 a participação feminina foi ampliada nas diversas esferas da sociedade. Isto se deu com o avanço da industrialização, que levou a mulher para o mercado de trabalho, a redemocratização e a Constituição de 1988, que também foram preponderantes para esta participação mais expressiva. Assegurar a participação feminina no processo político é fundamental, difundindo os princípios da democracia, e incentivando a efetivação e formação de futuras lideranças políticas. A II Conferência Nacional de Políticas para Mulheres diz: “Na frente mais adversa à participação das mulheres, a da representação política no Estado (governantes e parlamentares) é importante destacar que a sub-representação das mulheres se agrava com o racismo e preconceitos de toda ordem. Assim, mulheres negras, indígenas, jovens, lésbicas, com deficiência, trabalhadoras rurais, trabalhadoras domésticas e mulheres dos setores populares são ainda menos presentes nos espaços de poder.” (II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, p. 116). Neste sentido percebe-se que as mulheres negras tem sido parte importante da sociedade como um grupo social específico em defesa de seus interesses ou como parte de um amplo contingente negro que luta por justiça social, sua atuação pode ser vista desde a instituição escravista até os dias de hoje. As lutas das mulheres negras por equidade se desenvolve ao longo dos séculos e é preciso reconhecer que têm sido parte fundamental dos amplos segmentos que constroem o Brasil como nação. Sendo muitas vezes violentada e invisibilizada, pois as mesmas atuam num contexto de racismo e sexismo. É a partir do confronto ao racismo e suas expressões generificadas, ou seja, com formas de incidência diferenciada sobre homens e mulheres, que as mulheres negras 32 desenvolveram suas lutas. (Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Caderno 2. p. 205). Somente nas últimas décadas do século XX as mulheres emergiram como sujeitos sociais, históricos e econômicos. Porém a invisibilidade social, política e econômica dada às mulheres, ainda é um fator a ser vencido. Esse fator se torna mais complexo, quando se trata das mulheres negras, que carregam consigo a marca do cotidiano dos reflexos do sistema político escravocrata que vigeu no Brasil por mais de três séculos. A situação da mulher negra no Brasil de hoje manifesta um prolongamento da sua realidade vivida no período da escravidão com poucas mudanças, pois elas continuam em último lugar na escala social e é aquela que carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do país, tem um passado de exclusão na sociedade, pois já foi escrava, mucama, prostituta. “Ser negra e mulher no Brasil, é ser objeto de tripla discriminação, uma vez que os estereótipos gerados pelo racismo e sexismo a colocam no mais baixo nível de opressão.” (Leila Gonzáles, 1982:97). Pensar a participação das mulheres negras na política é importante, pois elas têm um passado de exclusão na sociedade, já foi escrava, mucama, prostituta. E também nos faz analisar as categorias de raça, gênero e classe tão importantes para a construção da realidade opressora em que se encontra uma grande parcela das mulheres negras. A participação política comporta várias frentes: desde a participação em organizações na sociedade, passando pelos partidos políticos, até a ocupação de cargos e mandatos eletivos no Estado, especialmente nos poderes legislativo, executivo. Percebe-se que a participação das mulheres na tomada de decisões políticas é extremamente limitada, uma vez que a proporção de deputadas, ao longo de oitenta anos de conquista de direito de voto, não tem correspondido ao peso relativo da população brasileira. 33 Poder Total Número de Número de Percentual Legislativo Mulheres Homens Feminino 81 11 70 13,58% Senado 513 45 468 8,77% Congresso Nacional 1.059 123 936 11,61% Assembleias Legislativas 51.974 6.511 45.463 12,53% Câmaras Municipais Figura 02 - Poder Legislativo no Brasil – Senado, Congresso, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais – Cargo e Sexo. Fonte: Dados da Câmara dos Deputados, Senado, Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) – Outubro de 2010. Pela primeira vez na história do país, uma mulher na Presidência, e no último pleito um número expressivo de mulheres eleitas para diversos cargos eletivos. Nas eleições de 2010, foram eleitas 45 deputadas federais (de um total de 513 vagas), no Senado foram 12 senadoras (de um total de 81 vagas). Contudo, considerando que hoje compomos mais da metade do eleitorado brasileiro, o número de mulheres em cargos eletivos ainda é pequeno, menos que 10%. Apesar das resistências, as mulheres participam ativamente da construção da sociedade brasileira, mesmo que essa participação não seja contada e comemorada pela maioria dos livros de História. Regiões Mulheres % de Mulheres Homens % de Homens Total 158 22,443% 546 77,557% 704 Sul Norte 108 22,883% 365 77,167% 473 Centro Oeste 76 20,708% 291 79,292% 367 Sudeste 505 19,781% 2.048 80, 219% 2.553 Nordeste 153 14,393% 910 85,607% 1.063 Figura 3 - Estatísticas de Candidaturas nas Eleições 2010 - Candidatas a Deputadas Federais por Regiões - Candidaturas Aptas Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – Atualizado em 04/10/2010 Regiões Mulheres % de Mulheres Homens % de Homens Total 340 24.079% 1.072 75.921% 1.412 Sul Norte 564 23.373% 1.849 76.627% 2.413 Centro Oeste 436 23.440% 1.424 76.559% 1.860 Sudeste 905 19.325% 3.778 80.675% 4.683 Nordeste 536 18.643% 2.339 81.357% 2.875 Figura 4 - Estatísticas de Candidaturas nas Eleições 2010 - Candidatas a Deputadas Estaduais/Distritais por Regiões - Candidaturas Aptas Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – Atualizado em 04/10/2010 Sobre a participação das mulheres na política, ainda é um grande desafio esse espaço. Referente a isso, algumas mulheres que exercem cargos eletivos ou já exerceram , falam de seus trabalhos, dos projetos defendidos ou implantados. São 34 elas: Zilda Helena dos Santos Vieira, negra, professora, bacharel em Direito, pela Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete, Pós-Graduada em Violência Doméstica, assessora parlamentar. Ocupou o cargo de vereadora por dois mandatos de 2001 a 2004, 2005 a 2008, pelo Partido dos Trabalhadores. Defendeu vários projetos de políticas afirmativas para as mulheres são eles: Lei nº 4.620/2004 – suplementar à Lei Federal nº 9029/95, que proíbe a exigência de atestados de gravidez e esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos ou de permanência da relação jurídica de trabalho, estabelecendo punição para os estabelecimentos localizados no Município de Conselheiro Lafaiete que descumprirem a lei. Lei nº 4.708/2005 – dispõe sobre a autorização da Jornada Escolar de Tempo Integral no Ensino Fundamental, em Instituição Municipal de Ensino. Os desafios que encontrei nesses espaços foram muitos, valendo-se destacar a perseguição, o machismo, o autoritarismo e a busca de muitos pelo poder somente de forma desenfreada. Pouco, pelo contrário o que vejo são atitudes cada vez mais voltadas para o afastamento nesse espaço. Vejo que é lamentável ter cotas que confirmam que nós mulheres ainda não ocupamos o espaço político de direito. Porém já é um sinal desta dívida conosco, mas precisa-se avançar mais e passá-la para 50% (cinquenta por cento). Quando exerci a vereança, éramos três negros, sendo dois homens, e eu a única mulher negra. A ex-vereadora termina seu depoimento dizendo: Para mim a política é fundamental para as nossas vidas, porém infelizmente para muitos é um meio de ficar rico, ter influência e status. Minhas ações poderiam ser realizadas em favor da vida, mas o individualismo ainda impera no meio político, deixando o coletivo em segundo plano. Vejo o meio político com pessimismo, pois as lideranças populares que estavam na luta, atualmente estão no espaço de poder e na sua maioria coniventes com os absurdos que acontecem em nome da manutenção da sobrevivência. Aida Ribeiro Anacleto, negra, Historiadora, Licenciada e Bacharel em História pela UFOP, Universidade Federal de Ouro Preto, relata um pouco de seu trabalho como legisladora na Câmara Municipal de Mariana, e os projetos defendidos de Políticas Afirmativas para as mulheres. 35 Em Mariana a implementação de Políticas Públicas para as mulheres ainda está muito atrasada, devido ao não investimento necessário por parte do Executivo. Algumas proposituras apresentadas que foram aprovadas e sancionadas pelos prefeitos, diversos passaram pelo Executivo, que vem de encontro à esta deficiência e devido a sete troca de prefeitos neste mandato. A cidade e as suas mulheres perderam por isto. São elas: cria o Conselho Municipal da Mulher – 2235/10, Cria a semana da mamografia 2334/10, Institui o programa municipal de apoio a mulher em situação de violência – 2483/11, Institui meia entrada para professores da rede pública de ensino de Mariana 2794/11, Institui a semana da saúde da mulher servidora 2492/12 . Como desafio encontrado nesse espaço no meu caso é mais complicado devido a instabilidade política da cidade de Mariana, mas o primeiro desafio, é ser mulher e negra na Câmara Municipal de Mariana, primeira capital mineira. Mas acho que valeu a pena, pois passamos a ser respeitada e abriu um grande diálogo com os diversos segmentos de nossa cidade. Minha opinião sobre as cotas partidárias, e na sua visão não concorda, mas há necessidade de proporcionar aos negros e negras a oportunidade de através da educação alcançarem os espaços garantidos na Constituição Federal, e a dívida do Brasil é que nos permite acreditar que com esta política, alcançaremos estes espaços, mas não podemos nos esquecer de que somos iguais e em maior número pobres, mas o curriculum escolar é o mesmo. A minha preocupação é se não gerará preconceito por alcançar os espaços através das cotas e serem discriminados (as). Mas é notável o grande alcance destes e destas nas universidades públicas. Termino o meu depoimento dizendo, que é um grande desafio para nós negros e negras que conseguimos alcançar o poder, avançar nas discussões e buscar a aplicabilidade das leis que propomos, mas a luta é diária, mesmo porque não existe estas discussões nas Câmaras, principalmente nas cidades pequenas. Em Mariana, conseguimos avançar, mesmo que precariamente, pois não é hábito dos prefeitos aplicarem as leis criadas. Estou muito feliz por que neste período estamos preparando para o lançamento da lei que cria a semana da saúde da mulher servidora, que envolverá a todas. No dia a dia, é uma luta constante, por eu ser a única mulher e negra na primeira Câmara de Minas Gerais e na primeira Vila, não é fácil, o coronelismo ainda impera, mas acredito que fizemos a diferença, por haver o reconhecimento da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com homenagens pelas nossas conquistas. Outro depoimento é da vereadora Sandra de Assis Reis, professora, formada em História e Filosofia pela UFSJ, Universidade Federal de São João, vereadora da Câmara Municipal da cidade de Entre Rios de Minas, pelo Partido dos Trabalhadores, onde milita desde o ano de 1988. 36 Nas cidades pequenas as discussões sobre questões de gênero não tem muita força, neste sentido os projetos que defendi no sentido de políticas afirmativas para as mulheres, foi em relação à linguagem nas questões de gênero no documento da Câmara, a lei da licença a maternidade para funcionárias públicas ser de seis meses, fato antes era facultativo e a mesma acaba sendo pressionada a voltar. Nos títulos e medalhas que a Câmara oferece a alguns cidadãos, logo defendia o nome de mulheres, alguns temas importantes como questões ambientais, participação das crianças na Câmara Itinerante, recebiam vaias dos vereadores homens, dizendo que isso era apenas poesia, enchimento de linguiça e etc. Nas votações sobre o Plano Diretor, quando defendia a preservação de áreas verdes, de ruas largas, de afastamento frontais para que as casas fossem ventiladas, que os passeios fossem largos e outras modificações para que a cidade fosse mais arejada, com qualidade de vida, com preservações das partes históricas, muitos me criticaram dizendo que o importante era dar oportunidade para o comércio, para o povo construir, que ninguém hoje está ligando para estas coisas, o povo precisa é de dinheiro. Riam entre eles, dizendo que mulher não entende nada dessas coisas de construções. Penso que as cotas partidárias são ultimato para que algum grupo excluído seja pela força de lei incluído no sistema. Assim existem cotas para mulheres, para negros e negras etc.. Porém, junto com as cotas, ou antes das mesmas, deverá vir todo um trabalho de conscientização e formação da opinião sobre estes temas, pois com as leis jurídicas, deveriam vir também outras formas de discussão do tema. O que acontece é que a participação da mulher na política ainda continua sendo um desafio, ela nunca consegue dedicar por inteira, como os homens, pois elas tem filhos, casa, trabalho e, muitas das vezes, servem apenas para puxar votos para algum homem que tem todo tempo do mundo para sair, pedir votos, enquanto as mulheres também candidatas estão em casa, cuidando dos filhos, resultado mesmo com as cotas as mulheres sempre saem perdendo. A Política é um campo muito difícil, onde se misturam muitos interesses. Alguns altruístas, democráticos participativos, outros apenas pessoas, financeiros e tipo (vaquinha de presépio) para grandes grupos econômicos. Mas se nós cristãos, mulheres e homens, pessoas de bem, que temos compromisso com o Reino de Deus, e com a Vida em todas as suas dimensões não entramos, outros cheios de más intenções entram, ganham e transformam a Política em politicagem cheia de corrupção e falsos interesses. Então, a solução é participar, ir para a luta como diz o apóstolo Paulo: “acima de tudo deve estar a caridade” e na opinião do Papa João XXIII, “a política é a melhor forma de fazer caridade.” 37 Maria do Carmo Lara, Psicóloga, Prefeita da cidade de Betim – Minas Gerais, pelo Partido dos Trabalhadores. Desenvolvi algumas políticas para mulheres como: Educação – Ensino Fundamental, todas as crianças de Betim de 7 a 14 anos estão matriculadas e estudando; Creches: 78 creches atendendo 13.000 crianças de 0 a 6 anos, 6 creches em construção e mais sete em projeto para construir ano que vem. A secretaria de educação está municipalizando a educação infantil (no governo anterior esta política foi entregue aos vereadores; Programa Escola da Gente – mais de 10 mil crianças atendidas; 2000 vagas em cursos profissionalizantes (2011) mais de 50% ocupadas por mulheres; Programa AGENDE/SINE – capacitação de mulheres para o trabalho doméstico e encaminhamento ao mercado, 90% de mulheres; Saúde: Hospital e Maternidade do Embiruçu reformada – 1ª reforma em quase 20 anos de funcionamento; Serviço de Hemodiálise/transporte sanitário (fim das ambulâncias de vereador sem as devidas condições), Duas UBS inauguradas (Alvorada e J. Petrópolis); todos os equipamentos construídos entre 93/96 estão sendo reformados pela primeira vez (UAIs UBS); 6.000 atendimentos e acompanhamentos a viciados em álcool e drogas pela superintendência anti drogas (familiares à maioria mulheres). Atendimento e acompanhamento as mulheres vítimas de violência pelo CREAS (cerca de 1000 atendimentos por ano; Funcionalismo: ampliação da licença maternidade para 6 meses; cartão cesta servidor (150,00); ampliação do Programa Bolsa Família: 17.000 famílias atendidas (Governo Federal) e acompanhadas pela prefeitura, aumento no valor do cartão; Programa Minha Casa Minha Vida – 2275 no PTB e Norte – Mulheres têm preferência (parceria com Governo Federal); Esporte na Praça, (academias), telecentros. A prefeita Maria do Carmo Lara termina seu depoimento dizendo: O espaço de poder é um espaço genuinamente machista e racista devido às questões históricas nas quais nossa sociedade foi formada, por isso os desafios são imensos, pois você tem que provar o tempo todo que é competente além da falta de credibilidade das próprias mulheres de reconhecerem a sua força. Devido a trajetória de lutas a participação política das mulheres em nosso país tem sido intensa e contributiva. Estivemos e estamos na liderança de muitas das lutas sociais. Somos a maioria do eleitorado e estamos em grande número na base social de todos os partidos, mas sempre sub-representadas em relação ao potencial de nossa atuação política. É preciso continuar lutando para romper com todos os mecanismos que bloqueiam o direito a participação de amplos setores populacionais, entre eles, nós mulheres, e a população afrodescendente, também sub-representada e ausência dos povos indígenas. Sou favorável as cotas pois nossa representação está 38 aquém da nossa participação por falta de oportunidades e incentivos. No meu mandato de mulheres são 6 secretárias e uma administradora regional e 9 negros e negras no secretariado, além da implantação da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial, que é coordenada por uma mulher negra. Para Câmara Municipal não foi eleita nenhuma mulher. 39 3. CONCLUSÃO O estudo deste trabalho demonstrou que a história de luta das mulheres nos espaços de participação social cresceu a partir do final do século XIX, podendo-se dizer, que nos últimos anos, houve uma verdadeira “revolução” feminina. Apesar das conquistas obtidas pelos movimentos de mulheres nas últimas décadas, o número de mulheres ocupando espaços de poder (Executivo – Legislativo), ainda apresenta-se em níveis aquém do desejado, não correspondendo proporcionalmente ao peso da população feminina. No Brasil o número de eleitoras é maior do que de eleitores masculinos, mas o número de ocupantes femininos em cargos eletivos é proporcionalmente inferior ao de eleitoras. Acredito que isso ocorra devido à um histórico de submissão das mulheres e do mito do sexo frágil. Essas condições históricas contribuíram significativamente para que as mulheres relutassem em transferir o seu direito de representação nos espaços de poder para outras mulheres, pois têm-se dificuldades em aceitar os iguais. Iguais em fragilidade. Segundo a prefeita Maria do Carmo Lara: “estamos em grande número na base social de todos os partidos políticos, mas sempre subrepresentadas em relação ao potencial de nossa atuação política.” Hoje vemos grandes avanços no que se refere à participação feminina. As mulheres ocupam vários cargos políticos: nas associações de moradores, nas coordenações de movimentos sociais, nas Igrejas, algumas são pastoras ou ministras da eucaristia. Em alguns Conselhos as mulheres deliberam políticas públicas, as mulheres atuam no poder judiciário ou no ministério público, e mesmo assim a mulher ainda é discriminada socialmente, politicamente e economicamente. Neste contexto, percebe-se a necessidade urgente de mudar globalmente a forma de participação da mulher. A mulher tem uma sensibilidade diferente, tem um olhar diferente, contemplar o diferente é fundamental, somos 52% do eleitorado brasileiro. Vale ressaltar que no século XX, graças ao movimento das sufragistas, culminado com a conquista do voto, pelas mulheres, estas passaram a ter, uma participação política mais ativa na sociedade, encontrando seu espaço através de muita luta para adquirir seus direitos como cidadã, como trabalhadora, como mulher e como mãe. Neste sentido, a contribuição dos movimentos feministas e 40 de mulheres foi valorosa, com o intuito de mitigar as desigualdades entre homens e mulheres no espaço público e privado. Mas diante de tantos avanços, ainda persiste uma ótica sexista, machista e discriminatória no que se refere à participação da mulher nos espaços de poder, em especial a mulher negra. A mulher negra sofre discriminação: primeiro por ser mulher, segundo por ser negra, terceiro por ser pobre. A pobreza a que a mulher negra está submetida reforça o preconceito existente. Ainda é um grande desafio para a mulher negra alcançar o poder e quando consegue, tem que comprovar o tempo todo a sua competência, além de lidar com o preconceito e a discriminação racial que lhes exigem maiores esforços para a conquista do ideal pretendido. Diante dessa constatação a vereadora Aida Anacleto diz: “que ser mulher e negra na Câmara Municipal de Mariana, é mostrar um jeito petista de legislar. Mas está valendo a pena.” Uma alternativa para isso, é a organização das mulheres negras, para tentar reverter esse quadro tão gritante em nossa sociedade, pois o preconceito é muito forte ainda. Incluir a mulher negra nos espaços de poder e decisão é um grande desafio, pois nesses espaços há uma lacuna de negros e negras. Temos que avançar mais nessas discussões, e buscar alternativas que possibilitem a transformação da realidade atual e a reconstrução de nova história política e social em nosso país. Uma conquista diante de tantas lutas foi a obrigatoriedade dos partidos políticos em ter no mínimo 30% para gênero. Isso vem contribuindo para uma maior participação da mulher nos espaços políticos, por ser um espaço ainda ocupado pela maioria de homens. Diante disso a vereadora Zilda Helena diz que: “ter cotas confirma que nós mulheres ainda não ocupamos o espaço político de direito. Porem já é um sinal desta dívida conosco, mas precisa-se avançar mais e passá-la para 50%.” Esse espaço político é também um espaço de mulheres. Lutar para garantirmos a metade da composição dos órgãos políticos é fundamental, temos que pressupor uma participação democrática, inclusive de gênero, para juntos conquistarmos um mundo mais justo e solidário. Diante disto, um dos caminhos que podemos apontar e o qual acreditamos possa ser uma solução, é a participação das mulheres nos Conselhos, pois os mesmos são mecanismos de poder e decisão. E nesses mecanismos as mulheres conquistarão seu espaço, como também contribuirão para a realização de uma 41 sociedade democrática e igualitária. Nesses espaços, as mulheres têm voz e vez, reivindicam seus direitos e cobram a implementação de políticas públicas. Contudo, é preciso lembrar que a democracia tem contribuído para o aumento da participação das mulheres nos cargos políticos, bem como em processos de tomada de decisão. Neste sentido, a contribuição dos movimentos feministas e dos movimentos de mulheres, foi fundamental com vista a mitigar as desigualdades entre homens e mulheres, no espaço público e privado e abrir caminhos para novas conquistas. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Branca Moreira. Ideologia e Feminismo: a luta da mulher pelo voto no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1980. 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