1
Vol. 6 fevereiro-julho - 2015 - ISSN 2317-4838
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E HQS NO ENSINO FUNDAMENTAL
Daiane Aparecida Begname1
Priscila Paschoalino Ribeiro2
RESUMO
O presente trabalho de extensão visou incentivar o uso de Histórias em Quadrinhos
no ensino de Ciências e estimular a criatividade dos estudantes. Objetivou-se,
especificamente, aliar a prática pedagógica tradicional às tecnologias educacionais
lúdicas, como o uso de HQs, tendo como base o assunto Educação Ambiental, tema
transversal dos PCN’s. O projeto foi desenvolvido em duas etapas: 1ª: Levantamento
de dados, escolha da HQ, desenvolvimento do plano de aula e seleção das escolas;
2ª: atividade prática de extensão. O desenvolvimento do trabalho consistiu em uma
exposição inicial (palestras) sobre o tema degradação ambiental, em duas escolas do
município de Visconde do Rio Branco, sendo a Escola 1: Pública e a 2: Privada,
atingindo um público de 47 alunos. A HQ foi apresentada em dois momentos: primeiro,
com o objetivo de introduzir o tema e avaliar o conhecimento teórico-prático dos
alunos; ao final, para promover uma discussão entre eles. Após o trabalho, foi aplicado
um questionário cujo objetivo consistiu em avaliar a compreensão final dos alunos
sobre Educação Ambiental, após o uso da nova metodologia. Nas duas escolas, podese perceber que a HQ despertou o interesse dos alunos sobre o assunto a ser
trabalhado. Entretanto, os resultados apresentados foram diferentes, sendo que a
escola 2 apresentou maior rendimento e melhores resultados
Palavras-chave: educação ambiental, histórias em quadrinhos, metodologia.
INTRODUÇÃO
A educação ambiental vem ganhando espaço na sociedade, onde o consumo
desenfreado e a busca incessante pelo lucro são características dominantes e
principais responsáveis pela degradação do ambiente. Em meio aos avanços
tecnológicos e científicos, a preocupação com a conservação ambiental também se
faz presente no cotidiano, interferindo na vida de cada cidadão (Viecheneski &
Carletto, 2014).
A educação tem por finalidade a formação de cidadãos críticos capazes de
pensar uma sociedade melhor, criando soluções para os principais problemas que
1Graduanda
em Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Minas Gerais –
unidade de Ubá. [email protected].
2Professora
Doutora da Universidade Estadual de Minas Gerais – unidade de
Ubá[email protected].
2
Vol. 6 fevereiro-julho - 2015 - ISSN 2317-4838
assolam o espaço público. Conforme João Praia et al, “a alfabetização científica pode
contribuir para formar cidadãs e cidadãos com capacidade para participar na tomada
de decisões e intervir de forma responsável na sociedade em que vivem” (2007, p.
142).
Portanto, a educação ambiental surge como um instrumento capaz de
conscientizar, construir e reformular os conceitos individuais abordando propósitos
fundamentais como a correlação entre a economia, a política, o social, a cultura, as
relações interpessoais e o ambiente. Busca-se de tal modo apresentar à população
os riscos causados por inúmeros fatores presentes que resultam na degradação e que
podem, por sua vez, afetar a natureza e a humanidade, uma vez que os seres
humanos são natureza e não meros integrantes. Sendo assim, ela reorganiza a
educação tradicional levando em consideração a sua importância para o bem estar
social, já que segundo a Equipe da Embrapa Pantanal,
a Educação Ambiental é uma proposta que deveria alterar de forma
considerável o modelo tradicional de educação, não sendo
necessariamente uma prática pedagógica voltada para a transmissão
de conhecimentos sobre ecologia no sentido reduzido da palavra”
(apud AMÂNCIO, 2005, p.1).
Portanto, com o apoio devido, a E.A.3é capaz de transformar o modelo de
desenvolvimento podendo servir como instrumento para o avanço do desenvolvimento
sustentável.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), a E.A. se enquadra nos temas
transversais e corresponde a uma área de suma importância para os educandos, uma
vez que envolve questões não só acerca dos meios naturais, mas também dos
âmbitos socioeconômico e cultural. Sendo assim, ela deve se baseada na
interdisciplinaridade, uma vez que envolve diversas áreas do conhecimento humano,
e portanto sua discussão não pode ficar restrita apenas a algumas disciplinas como
ciências e geografia.
A introdução de novas metodologias de ensino como as HQ no ensino de E.A.
é significativa, pois de acordo com Ribeiro, “é de suma importância propor métodos
E.A.(a partir deste ponto, usaremos a abreviação E.A. para nos referirmos ao termo
Educação Ambiental)
3
3
Vol. 6 fevereiro-julho - 2015 - ISSN 2317-4838
que auxiliem os professores a tornar o processo de ensino e aprendizagem mais
dinâmico, prazeroso e contextualizado (2013, p.3)”.
O estudo da disciplina Ciências há muito tempo tem sido considerada como de
difícil compreensão, principalmente quando se trata do aprendizado do aluno
(RIBEIRO, 2013). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN`s), “as
teorias científicas, por sua complexidade e alto nível de abstração, não são passíveis
de comunicação direta aos alunos de ensino fundamental” (PCN`s TERCEIRO E
QUARTO CICLOS, p. 26). Além disso, o ensino de Ciências Naturais tem sido
frequentemente conduzido de forma desinteressante e pouco compreensível.
A utilização de novas metodologias, tratadas nos PCN`s como “Métodos ativos”
(utilização de observações, experimentação, jogos, diferentes fontes textuais)
“despertam o interesse dos estudantes pelos conteúdos e conferem sentidos à
natureza e à ciência, que não são possíveis ao se estudar Ciências Naturais apenas
em um livro” (PCN’s TERCEIRO E QUARTO CICLOS, p. 27). Portanto, a ciência é
uma das disciplinas que mais requerem novas metodologias eficazes que possam
realmente servir como estímulo para a aprendizagem dos mesmos.
Neste contexto, as Histórias em Quadrinhos vêm ganhando destaque na área
da educação formal, principalmente por apresentar um caráter dinâmico, prático e de
fácil acesso. Sendo assim, possibilitam trabalhos com diferentes metodologias, uma
vez que “favorecem um ensino mais diversificado” (RIBEIRO, 2013, p.14).
Contudo, de acordo com Silvério e Rezende,
a exploração didática bem planejada pelo profissional docente no
trabalho com a leitura por meio da linguagem verbal atrelada à
linguagem não verbal presente no gênero HQs possibilita o uso
desses materiais nas salas de aula, com vistas à formação do leitor
competente, conforme é desejável e esperado (2013, p.231).
Os educandos, no nível de Ensino Fundamental I, são bastante curiosos pelo
saber e abertos ao conhecimento (Medeiros et al, 2011). Conforme Viviane Senna, na
revista Ambiente, líder do instituto Ayrton Senna, “o ensino fundamental é como a
largada na F1. Se bem feita, com o arranque necessário, no tempo perfeito, você pode
vencer a corrida” (2009, p. 6). Portanto vê- se a necessidade do desenvolvimento das
questões ambientais nesses anos iniciais do ensino fundamental, uma vez que nesta
fase as pessoas estão em processo de construção de identidade.
4
Vol. 6 fevereiro-julho - 2015 - ISSN 2317-4838
O presente trabalho surgiu com a finalidade de auxiliar os professores na tarefa
de propor novas metodologias de ensino-aprendizado, incentivando sua a utilização e
estimulando a criatividade dos estudantes quando em contato com elas, trabalhando
a educação ambiental na disciplina de ciências. Paralelo a este trabalho, pretendeuse analisar a eficácia da utilização das HQs4como método educacional e avaliar o
desempenho dos alunos comparando os resultados das escolas particular e pública
(estadual). Tal avaliação fundamenta-se na necessidade de observar o conhecimento
do público-alvo da ação extensionista acerca do tema e, assim, perceber como os
estudos sobre E.A. têm sido realmente conduzidos nas escolas de nível fundamental.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa prática, na qual
foram escolhidas duas escolas, aqui denominadas escolas A e B, sendo a primeira
particular e a segunda pública.
O trabalho contou com o apoio da direção das escolas e baseou-se na
apresentação de uma palestra que abordava o tema degradação ambiental, planejada
para um público na faixa etária de 9 a 10 anos, alunos dos 4os anos.
A utilização da HQ como nova metodologia de ensino visou a chamar a atenção
do público para o assunto referido, já que, o trabalho com os quadrinhos aproximam
alunos e professores de forma colaboracionista e facilitam o processo de ensino sem
qualquer investimento de alto custo (LOVETRO et al, 2011, p. 20). Deste modo, esta
metodologia tem por função motivar e estimular o estudante, fazendo com que ele
desenvolva habilidades.
Para a escolha da história em quadrinhos utilizada, houve discussões prévias
sobre assunto a ser tratado na palestra, assim como sobre as atividades que seriam
propostas aos alunos no final da apresentação. A atividade consistiu na realização de
uma avaliação do conhecimento dos alunos acerca de alguns aspectos visando o
melhor direcionamento da aula.
Segundo Ribeiro (2013), a análise de alguns aspectos deve ser realizada, na
leitura das HQ’s, para obtenção de melhores resultados. São eles: imagens; aspectos
gráfico-editoriais e textuais; linguagem; aspectos relacionados à construção do
HQs (a partir deste ponto, usaremos a abreviação HQs para nos referirmos ao
termo Histórias em Quadrinhos)
4
5
Vol. 6 fevereiro-julho - 2015 - ISSN 2317-4838
conhecimento; abordagem de aspectos sociais; contextualização dos conceitos e
abordagem do conteúdo.
O plano de aula, elaborado para direcionar a palestra, consistiu na
sistematização de tópicos que organizaram e conduziram a palestra, que teve o
compromisso de ressaltar a importância do tema E.A. e contextualizá-lo por meio de
exemplos do dia-a-dia.
O objetivo proposto no plano de aula consistiu em: Introduzir o pensamento
consciente nas crianças sobre degradação ambiental, de forma clara e objetiva; usar
uma história em quadrinho com o tema escolhido inserido para verificar a sua eficácia
como recurso didático; e desenvolver o espírito crítico dos educando perante
problemáticas.
A estratégia utilizada para a apresentação da HQ selecionada consistiu em
expô-la no início do trabalho de extensão, a fim de gerar interesse por parte dos alunos
presentes acerca do assunto a ser explanado. Logo após, objetivando-se
contextualizar o tema proposto, fez-se uma breve discussão para explorar o
conhecimento prévio dos alunos. Ao final da palestra, a HQ foi reapresentada aos
estudantes. Buscou-se levar em consideração a simplicidade da fala junto aos
exemplos do dia a dia, para aproximá-los do real objetivo que é assimilação,
reformulação e construção do saber.
A avaliação proposta no plano consistiu em questionários que continham cinco
perguntas discursivas. O intuito foi de identificar o que os alunos compreenderam da
palestra apresentada e assim obter dados que possam comprovar a eficácia da HQ
como metodologia alternativa de ensino.
O tempo proposto no cronograma do plano de aula foi de 25 minutos para
apresentação e discussão acerta da palestra e 25 minutos para a aplicação dos
questionários, sendo assim totalizou-se 50 minutos para o desenvolvimento do
trabalho nas escolas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise dos questionários consistiu na distribuição de três formas de dados
que foram avaliados por aluno. Foram elas: Acertos, meio termos e erros. O acerto
corresponde às questões que foram respondidas corretamente; o meio termo
6
Vol. 6 fevereiro-julho - 2015 - ISSN 2317-4838
corresponde às questões que não estão totalmente incorretas; e o erro corresponde
às questões que estão incorretas.
Posterior a análise dos dados obtidos pela avaliação realizada pelos 47 alunos
das escolas A e B foi feito um gráfico comparativo das duas escolas que relaciona o
número de alunos e os respectivos desempenhos deles por escola, não havendo a
exposição do desempenho individual de cada aluno. O gráfico pode ser visualizado
abaixo:
120
100
80
60
40
20
Erros
Meio
Termo
Acerto
Escola 1
Alunos
Erros
Meio
Termo
Acerto
Alunos
0
Escola 2
Gráfico1 – Representa os dados comparados entre as duas escolas.
O gráfico presente ilustra os desenvolvimentos diferentes das escolas, apesar
do interesse despertado no grupo alvo ter sido semelhante. Contudo, a HQ foi de
extrema importância para promover o interesse dos alunos. Pode-se afirmar que
atingiu-se o objetivo do uso de HQ quanto ao resultado esperado sobre sua eficácia.
Apesar do menor número de alunos, a escola B apresentou maior rendimento
e resultados, quando comparados com a escola A. O número de acertos da escola B
é maior que o número de acertos da escola A, enquanto que os erros e meio termos
encontram-se reduzidos perante a ela.
Neste contexto, é interessante ressaltar também que os alunos avaliados nas
duas escolas estão no mesmo ano, quarto, e, portanto possuem praticamente a
mesma idade. A diferença entre os resultados podem ser atribuídos a diversos fatores
como: infraestrutura das escolas; disponibilidade e atualidade de materiais didáticos;
recursos tecnológicos; condições financeiras dos alunos; acesso à cultura formal;
dentre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
7
Vol. 6 fevereiro-julho - 2015 - ISSN 2317-4838
Por ser o principal meio de construção e modificação da realidade social, a
educação deve ser encarada como elemento base para uma sociedade desenvolvida
e bem estruturada.
Sendo assim, a educação ambiental pode ser vista como a principal, e mais
viável, forma de minimizar os problemas ambientais, já que tem a capacidade de
sensibilizar e gerar mudanças no comportamento dos indivíduos.
Portanto a escola, assim como a família, está dotada de um papel formação de
personalidade moral-cultural e, contudo o englobamento do trabalho responsável com
a
Educação
Ambiental
criará,
nos
futuros
adultos,
a
conscientização
e
responsabilidade com o ambiente onde se encontram.
As novas metodologias também se fazem necessária no processo de
construção do conhecimento, uma vez que despertam o interesse dos alunos
facilitando a compreensão do assunto abordado em sala, portanto a escolha da
metodologia adequada pode ser feita pelo educador avaliando as disponibilidades e
recursos do ambiente de trabalho.
Após análises dos dados obtidos, por meio dos questionários, e de
observações realizadas durante o desenvolvimento das atividades, conclui-se que
este trabalho comprova que a utilização da HQ é uma metodologia eficaz no ensino
fundamental, pois possui grande valor como método atrativo e alternativo para o
conhecimento e é um dos métodos de mais fácil acesso e trabalho, principalmente na
área de ciências, que de acordo com o PCN constitui uma área de difícil compreensão.
REFERÊNCIAS
AMÂNCIO, C. O porque da educação ambiental? Corumbá, MS: Embrapa
Pantanal, 2005. 3p. ADM – Artigo de Divulgação na Mídia, n.109. Disponível em:
<http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/ADM83>. Acesso em: 17 de janeiro
de 2014.
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
Ciências Naturais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC / SEF,
1998.
LOVETRO .A. J.; LUYTEN M. B. S., História em quadrinhos:um recurso de
aprendizagem, Salto para o Futuro\ Ano XXI Boletim, 2011. Disponível em:
<http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/181213historiaemquadrinhos.pdf>. Acesso
em: 16 de abril de 2014.
8
Vol. 6 fevereiro-julho - 2015 - ISSN 2317-4838
MEDEIROS, Monalisa Cristina Silva; RIBEIRO, Maria da Conceição Marcolino;
FERREIRA, Catyelle Maria de Arruda. Meio ambiente e educação ambiental nas
escolas públicas. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 92, set 2011. Disponível
em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10267&revista_cadern
o=5>. Acesso em 16 de abril de 2014.
PRAIA, J.; GIL-PÉREZ, D.; VILCHES, A. O papel da natureza da ciência na
educação para a cidadania. In: Ciência & Educação, v. 13, n. 2, p. 141-156, 2007.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v13n2/v13n2a01.pdf>. Acesso em: 17
de janeiro de 2014.
RIBEIRO, L. R. B. Levantamento de possibilidades do uso das histórias em
quadrinhos como recurso no Ensino de Ciências. 2013. 16f. Trabalho de
conclusão de curso (Licenciatura em Ciências Naturais)- Universidade de Brasília.
Faculdade UnB Planaltina, Brasília, 2013.
SENNA, Viviane. É preciso atuar no atacado. In: Revista Ambiente. Ano 5 – no13.
Janeiro de 2009. p.6.
SILVÉRIO, L. B. R.; REZENDE, L. A. O Valor Pedagógico Das Histórias Em
Quadrinhos No Percurso Do Docente De Língua Portuguesa. In:
I fórum de professores de didática do estado do Paraná. Paraná: UEL, 2012, p. 217
– 234.Disponível
em:<http://www.uel.br/eventos/jornadadidatica/pages/arquivos/O%20VALOR%20PE
DAGOGICO%20DAS%20HISTORIAS%20EM%20QUADRINHOS.pdf>. Acesso em:
16 de abril de 2014.
VIECHENESKI, J. P; CARLETTO, M.R.Ensino de Ciências e Alfabetização
Científica nos anos iniciais do Ensino Fundamental: um olhar sobre as escolas
públicas de Carambeí. Disponível em:
<http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R0741-1.pdf>. Acesso em: 16
de abril de 2014.
Download

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E HQS NO ENSINO FUNDAMENTAL