ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA RELAÇÃO ENTRE A IMPRUDÊNCIA DO CONDUTOR E OS ÍNDICES DE ACIDENTES Felipe Costa Bethonico Leise Kelli de Oliveira ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA RELAÇÃO ENTRE A IMPRUDÊNCIA DO CONDUTOR E OS ÍNDICES DE ACIDENTES Felipe Costa Bethonico Departamento de Engenharia de Transportes Universidade de São Paulo – Escola de Engenharia de São Carlos Leise Kelli de Oliveira Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia Universidade Federal de Minas Gerais RESUMO O comportamento inadequado de condutores é um fator presente na maioria dos acidentes de trânsito. O objetivo deste trabalho é avaliar a correlação entre a imprudência dos motoristas e os índices de acidentalidade. O estudo foi feito a partir de questionário online divulgado em redes sociais, utilizando escala psicométrica, contendo questões referentes a violações e a erro cometido por motoristas. Foram atribuídos pesos às respostas dos condutores de acordo com sua relevância. Em seguida, foi definido um índice percentual denominado “Índice de Imprudência”. O resultado da pesquisa foi comparado com os índices de acidentalidade no Brasil com a hipótese de que há correlação entre o número de acidentes e a agressividade. A comparação entre os índices mostra que há alguma correlação, e que o grupo de risco é formado por homens entre 18 e 40 anos. O estudo também apresenta uma tendência à diminuição da imprudência com o avanço da idade. ABSTRACT Inappropriate behaviour of drivers is a factor present in most traffic accidents. This work aims to evaluate a correlation between the imprudence of drivers and accident indexes. This study was done through a questionnaire distributed in an online social network using a psychometric scale, containing questions referring to violations and errors committed by drivers. Different attributions were assigned to the responses, according to their relevance. Then, a percentage index called ''Imprudence Index'' was defined. The research compares the Imprudence Index with the accidents indexes considering the hypothesis that there is a correlation between accidents and aggressiveness. The comparison between the indexes shows that this correlation exists, and that the risk group consists of men aged between 18 and 40 years. The study also shows a tendency of decrease of the imprudence with the advance of age. 1. INTRODUÇÃO A acidentalidade no trânsito, segundo diversos estudos, é apontada como uma das principais causas de mortalidade. De acordo com dados da WHO (World Health Organization), morrem aproximadamente 1,3 milhão de pessoas por ano no mundo e cerca de 50 milhões sofrem lesões de diversos níveis de gravidade. Estas lesões podem acarretar em sequelas físicas, mentais ou psicológicas (Ferraz, 2012). Em 2012, 43.885 vítimas fatais em acidentes rodoviários foram registradas no Brasil, sendo 35.791 homens, 8.060 mulheres e 34 não informaram (MS, 2012). Em comparação com alguns países desenvolvidos, o índice de mortes por bilhão de quilômetro percorrido pela frota de veículos rodoviários (IMBQ), o parâmetro mais adequado para medir a segurança no trânsito, é de 7 a 12 vezes maior no Brasil em relação a alguns países mais desenvolvidos (Ferraz, 2012). Os acidentes, em geral, ocorrem por uma convergência de fatores. A diversidade de causas pode dificultar na elaboração de um método para analisar o assunto (Groeger, 1990). É comum referir-se à “causa” de um acidente de trânsito, embora uma considerável parcela desses eventos não pode ser associada a um único evento casual, segundo Ferraz (2012). Os acidentes de trânsito podem ter como causa um ou mais dos seus quatro protagonistas: o motorista, o veículo, a estrada e o ambiente. Quanto à responsabilidade do motorista, as causas, em geral, são mais complexas e amplas. As razões de natureza humana podem ser inatas, congênitas, ou decorrentes do despreparo e da inexperiência do condutor ou de fatores, como a sua personalidade (Veiga et al., 2009). A presença do fator humano como causador de acidentes constitui cerca de 95% dos casos, segundo Sabey e Saughton (1975) e Treat et al. (1979). De Paula (2008) obteve no Brasil um percentual de cerca de 99% de presença de erro/falha humana em acidentes. Um dos fatores de risco fortemente relacionados ao comportamento humano é o emprego da velocidade inapropriada. Considera-se velocidade inapropriada tanto a velocidade alta como a baixa para as condições da via e do trânsito. A velocidade alta é um problema mais crítico. Qualquer descontrole do veículo ou situação anormal (defeitos no pavimento, presença de água ou óleo na pista, entre outros) pode acarretar em um acidente, e a gravidade é proporcional à velocidade. Além disso, em velocidades menores há uma possibilidade maior de realizar uma manobra evasiva (freada ou desvio). Para minimizar a acidentalidade, deve-se investir no esforço legal e na educação no trânsito. O esforço legal compreende, basicamente, três componentes: legislação de trânsito, gestão do trânsito no âmbito legal e documentação dos acidentes. A legislação é o conjunto de leis e normas para regulamentar o trânsito. A gestão no âmbito legal corresponde à implementação da legislação, com atividades de fiscalização, administração e punição de infratores. A documentação dos acidentes é a coleta de informações, e o detalhamento preciso do evento auxilia na resolução de problemas e na caracterização dos condutores e do local onde ocorreu o acidente. As atividades de educação no trânsito orientam os condutores à conduta adequada para que o trânsito de veículos e pedestres ocorra de maneira segura e eficaz. A educação engloba não somente a transmissão de conhecimento teórico e prático, mas também o treinamento e a conscientização do motorista. A conscientização é uma ação contínua e deve envolver o governo, a mídia e a população, em todas as faixas etárias. Com base na literatura atual sobre o comportamento dos motoristas e nos índices de acidentalidade, desenvolveu-se este estudo com o intuito de traçar um perfil do condutor brasileiro e correlacionar a imprudência no trânsito e os índices de acidentalidade com mortes ou lesões graves. A estrutura do trabalho está organizada em: Introdução, revisão da literatura, método, resultados, considerações finais e referências bibliográficas. O item Introdução contém uma abordagem geral sobre os dados de acidentes e do comportamento humano no trânsito. A revisão da literatura contém alguns dos principais trabalhos relacionados à avaliação do comportamento de motoristas. As questões abordadas, o cálculo do Índice de Imprudência e a análise de correlação estão descritos no item Método. A seção Resultados apresenta os dados obtidos através da aplicação do método proposto. As considerações finais incluem observações e recomendações para a utilização do método e as limitações do trabalho. 2. REVISÃO DA LITERATURA Reason et al. (1990) desenvolveu um estudo aprofundado sobre o erro cometido por condutores. Neste estudo, elaborou-se um questionário de comportamento de motoristas (Driver Behaviour Questionnaire), em que classifica-se os atos inseguros dos motoristas como violações (violations), erros (errors) e lapsos (lapses). Segundo Veiga et al. (2009), nas violações existe a intenção deliberada de infringir uma norma e um planejamento dessa ação. Os erros, por outro lado, ocorrem devido a falhas no processamento da informação. Os lapsos, por sua vez, são pequenos deslizes com consequências apenas para o condutor que os cometeu. No estudo de Reason et al. (1990), o Driver Behaviour Questionnarie (DBQ) foi formado por cinquenta questões e respondido por 520 motoristas da Inglaterra. Os motoristas eram solicitados a julgar a frequência com que cometiam diversos tipos de erros e violações enquanto dirigiam. Nesta pesquisa, verificou-se que as violações diminuem com a idade, enquanto os erros não. Os homens de todas as idades relataram mais violações do que as mulheres. Veiga et al. (2009) aplicou o questionário de comportamento de motoristas (QCM) e corroborou a análise de Reason e colaboradores (1990) no que tange ao comportamento mais agressivo de homens em relação as mulheres, por assumirem cometer mais violações. Outros autores (Kontogiannis et al., 2002; Yinon e Levian, 1988), apontam em suas pesquisas que homens de todas as faixas etárias registraram mais violações no trânsito do que as mulheres. Andrade et al. (2003) constataram haver uma diferença estatística entre os jovens do sexo masculino e feminino: os homens admitiram dirigir após ingestão de bebida alcoólica com maior frequência que as mulheres pesquisadas. Os jovens do sexo masculino também admitiram realizar mais ultrapassagens perigosas em relação às mulheres da mesma faixa etária. Ferraz et al. (2012) elaboraram, junto ao Núcleo de Estudos de Segurança no Trânsito do Departamento de Transportes da Escola de Engenharia de São Carlos – USP, um livro com informações sobre segurança viária. O livro, de nome “Segurança no Trânsito”, aborda fundamentos sobre acidentes de trânsito, os fatores de risco associados, as diversas disciplinas ligadas à acidentalidade, etc. Ferraz e colaboradores consideram que a conduta perigosa, o emprego da velocidade inapropriada, a ingestão de álcool, drogas ou medicamentos, a falta de habilidade, entre outros atos, são fatores de risco de acidentes de trânsito relevantes. 3. MÉTODO Neste estudo, utilizou-se a aplicação de questionário para motoristas de diversas idades e ambos os gêneros. O formulário foi disponibilizado pela Internet, com divulgação pelas redes sociais e e-mail, entre os dias 7 de novembro de 2012 e 27 de dezembro de 2012. Para que houvesse uma amostragem maior de determinados grupos que não foram atingidos pela divulgação, foram feitas pesquisas em campo. Além das questões objetivando a distinção de faixa etária, gênero e frequência de uso do automóvel, foram elaboradas seis perguntas para avaliar o comportamento dos motoristas frente a situações de risco. Foi utilizada a Escala Likert de avaliação psicométrica, sendo equivalentes as seguintes respostas ao que é usual em questionários que utilizam o método: “Concordo plenamente” a “Sempre”; “Concordo parcialmente” a “Por diversas vezes”; “Não concordo nem discordo” a “De vez em quando”; “Discordo parcialmente” a “Quase nunca” e “Discordo totalmente” a “Nunca”. 3.1. Questões abordadas Foram elaboradas cinco questões referentes às violações cometidas por condutores, citadas a seguir: Costumo dirigir sem utilizar o cinto de segurança: Segundo Elvik e Vaa (2004), o índice de vítimas fatais entre condutores e passageiros pode reduzir, na melhor estimativa, de 25 a 50% com o uso do cinto de segurança e de 25 a 45% o número de vítimas com ferimentos graves. Costumo ultrapassar o semáforo quando este se encontra amarelo: A ultrapassagem pelo semáforo amarelo pode ocasionar acidentes como atropelamento ou colisões diversas ou o fechamento de um cruzamento. De acordo com Veiga et al. (2009), a questão pode ser considerada uma violação. Para evitar transtornos, alguns dispositivos podem auxiliar no tempo de reação do usuário, como informadores de tempo de verde ou vermelho, que segundo Elvik e Vaa (2004) podem reduzir o índice de acidentes em geral em 25%. Costumo dirigir acima da velocidade permitida para a via: De acordo com WHO (2009), o excesso de velocidade é o principal fator associado aos acidentes com vítimas fatais. Aproximadamente 30% das mortes no trânsito em países desenvolvidos e 50% em países em desenvolvimento são ocasionadas por veículos em alta velocidade. A cada 1 km/h de aumento de velocidade, a incidência de acidentes com vítimas cresce 3% e o risco de morte de 4 a 5%. Costumo utilizar o celular enquanto dirijo: O uso de celulares representa um risco de acidentes de trânsito devido à redução da atenção dos motoristas. Em alguns casos, pode reduzir a mobilidade do condutor quando este utiliza uma das mãos para manusear o aparelho. Tal questionamento é um problema contemporâneo dado o crescente uso do aparelho nos últimos anos e do desenvolvimento de sua tecnologia. Costumo ultrapassar pela faixa da direita quando há oportunidade: O ato de ultrapassar pela faixa da direita é considerado uma violação, segundo Veiga et al. (2009), e quase sempre ocorre quando o motorista fica impaciente com o condutor que dirige lentamente. Pode ocasionar colisões traseiras e laterais. Outra questão abordada é referente a um erro cometido por condutores. O condutor é questionado se ele muda bruscamente de sua faixa de tráfego para outra faixa, comportamento que pode acarretar em acidentes do tipo colisão lateral, colisão traseira, engavetamento, entre outros. 3.2. Cálculo do índice O índice foi calculado utilizando média ponderada conforme Equação 1 a seguir: 5 II = em que ( R ) P i 1 i i 5 R i 1 (1) i II = Índice de Imprudência ∑Ri = Somatório das respostas do condutor Pi = Peso da resposta do condutor Para cada uma das questões abordadas, as respostas dos condutores foram separadas por gênero ou faixa etária, e em seguida, fez-se o somatório de cada uma das respostas do grupo, aplicando o peso conforme apresentado na Tabela 1. Tabela 1: Peso da resposta do condutor Peso P Valor Descrição 0,00 Nunca P1 0,25 Quase nunca P2 0,50 De vez em quando P3 0,75 Por diversas vezes P4 1,00 Sempre P5 3.3. Análise de correlação Para avaliar se os índices de imprudência correlacionam-se com os índices de acidentalidade utilizou-se o cálculo do coeficiente de relação de Pearson, também conhecido como coeficiente de correlação linear. O coeficiente de correlação mede a intensidade de relação linear entre os valores quantitativos emparelhados x e y em uma amostra (Triola, 2005). A Equação 2 apresenta o cálculo do coeficiente. n xy ( x)( y ) r (2) n( x 2 ) ( x 2 ) n( y 2 ) ( y 2 ) em que, n = número de pares de dados presentes x,y = valores dos índices, ordenados por faixa etária r = coeficiente de correlação de produto de momentos de Pearson Calculados os coeficientes de Pearson, realizou-se o teste de hipóteses para avaliar se não há correlação linear (Ho: p = 0) ou se há correlação linear (H1: p ≠ 0). O teste consiste em rejeitar a hipótese nula Ho caso o valor absoluto de r exceda os valores críticos estabelecidos. Caso a hipótese nula seja rejeitada, há evidência suficiente para apoiar a afirmativa de uma correlação linear entre as duas variáveis (Triola, 2005). O índice de acidentalidade utilizado para correlacionar com os índices de imprudência foi calculado através de dados de estatísticas de acidentes de trânsito brasileiros. O DNIT (2008) fornece anualmente o número de condutores envolvidos em acidentes no Brasil, divididos por faixa etária e gênero. Através destes dados e do número de condutores habilitados (RENAEST, 2008), foram comparados os índices. Para melhor visualização dos valores, multiplicou-se a relação entre o número de condutores acidentados e o número de condutores habilitados por 10.000, conforme Figura 1. Figura 1: Número de mortos/feridos por condutor (multiplicado por 10.000) 4. RESULTADOS A partir da distribuição do questionário online e da coleta de dados em campo, foram obtidas 401 amostras, segundo distribuição mostrada na Tabela 2. Tabela 2: Número de amostras por grupo Grupo Feminino Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Masculino Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Total Nº de Amostras 152 59 33 31 16 13 249 109 48 53 21 18 401 A Tabela 3 apresenta os resultados do cálculo dos Índices de Imprudência para as seis questões abordadas. As Figuras 2 e 3 ilustram uma comparação do índice de imprudência entre as faixas etárias em cada gênero. Para efeito de comparação, o máximo valor para cada questão é colocado na extremidade externa, e os outros valores do índice são proporcionais a este máximo. Quanto menor o índice, mais próximo o ponto do centro do gráfico. Cada extremidade do polígono representa uma das questões abordadas na pesquisa. Os valores dos eixos não estão representados para facilitar o entendimento da figura. Figura 2: Comparação entre as faixas etárias dos respondentes do gênero feminino Tabela 3: Índice de Imprudência, por faixa etária e gênero Índice de Imprudência - Mulheres Ultrapassar a velocidade máxima permitida na via Utilizar o celular enquanto dirige Ultrapassar pela faixa da direita Dirigir sem cinto de segurança Mudança brusca de faixa Ultrapassar o semáforo amarelo Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Índice 51,7% 42,4% 46,0% 39,1% 26,9% Índice 30,5% 35,6% 39,5% 35,9% 9,6% Índice 26,7% 29,5% 34,7% 25,0% 3,8% Índice 6,4% 13,6% 3,2% 0,0% 19,2% Índice 19,49% 27,27% 25,00% 31,25% 15,38% Índice 55,9% 46,2% 50,0% 51,6% 38,5% Índice de Imprudência – Homens Ultrapassar a velocidade máxima permitida na via Utilizar o celular enquanto dirige Ultrapassar pela faixa da direita Dirigir sem cinto de segurança Mudança brusca de faixa Ultrapassar o semáforo amarelo Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Por faixa etária Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Mais de 50 anos Índice 57,1% 55,2% 55,2% 50,0% 45,8% Índice 38,3% 34,9% 39,2% 28,6% 33,3% Índice 34,2% 35,4% 30,7% 27,4% 19,4% Índice 12,4% 11,5% 11,3% 16,7% 5,6% Índice 26,8% 29,7% 23,6% 14,3% 18,1% Índice 61,5% 54,2% 60,4% 42,9% 38,9% Figura 3: Comparação entre as faixas etárias dos respondentes do gênero masculino A Tabela 4 mostra os valores calculados de correlação linear. Os maiores índices de correlação apresentam-se nos itens com referência à ultrapassagem pela faixa da direita, à direção acima do limite de velocidade da via e à ultrapassagem do semáforo amarelo. Considerando um erro amostral α = 0,05 e o número de pares de dados n = 5, o valor crítico do coeficiente de Pearson para descartar a hipótese nula é de r = 0,878 (Triola, 2005). Qualquer valor acima do crítico é suficiente para afirmar que há correlação linear. Tabela 4: Coeficientes de correlação linear Questão abordada Ultrapassar a velocidade máxima permitida na via Utilizar o celular enquanto dirige Ultrapassar pela faixa da direita Dirigir sem cinto de segurança Mudança brusca de faixa Ultrapassar o semáforo amarelo Fator r Mulheres Homens 0,952 0,790 0,903 -0,474 0,308 0,740 0,990 0,690 0,926 0,423 0,746 0,968 Os resultados da pesquisa mostram que os motoristas homens e com faixa etária entre 18 e 40 anos compõem o grupo de maior índice. Em duas das seis questões avaliadas, o grupo de condutores com idade entre 18 e 25 anos apresentou uma maior tendência a cometer atos que colocam em risco a segurança viária. Na comparação entre gêneros, os homens admitiram cometer mais violações do que as mulheres, o que também ocorre na questão referente ao erro de condução do veículo. Observou-se também uma redução gradativa, tanto no índice de imprudência, como no número de vitimados dos condutores acima de 40 anos, o que pode indicar uma tendência do motorista a ter mais cautela com o avanço da idade. A tendência de variação de acordo com a faixa etária da imprudência observada nas questões abordadas na pesquisa destoa no ato de dirigir sem o cinto de segurança. O uso do cinto de segurança pode estar associado ao local em que o condutor tem o hábito de dirigir e também à escolaridade, fatores que não foram considerados na pesquisa. Dados do DNIT (2011) apontam que há relação entre o grau de escolaridade e o uso do dispositivo. Outra questão que apresentou uma tendência diferente das demais é a que aborda o erro do condutor. O ato de mudar bruscamente de faixa não apresentou uma correlação considerável quando comparado ao índice de acidentalidade. Todavia, deve-se ressaltar que o índice de acidentalidade leva em consideração apenas mortos e acidentados com lesões graves. Os acidentes com lesões leves ou sem lesionados não foram considerados. Para os demais itens, a correlação linear mostra uma forte ligação entre os índices de acidentalidade, o excesso de velocidade e a ultrapassagem pela direita em ambos os gêneros. Nos demais itens, não é possível afirmar, com embasamento estatístico, que há correlação entre os índices, embora saiba-se que as questões citadas representam riscos associados, inclusive, à severidade dos acidentes. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo teve como objetivo reiterar a correlação entre imprudência no trânsito e acidentalidade, já consolidada na literatura, agora com viés estatístico. Procurou-se relacionar, da melhor maneira possível, as situações de risco e principais causas de acidente aos condutores, agrupados por faixa etária e gênero. O índice de acidentalidade considerado foi proporcional à quantidade de motoristas habilitados de cada grupo. A importância da pesquisa deve-se ao fato de que o país apresenta índices elevados de acidentes de trânsito quando comparado a países desenvolvidos. Daí surge a necessidade de caracterização dos condutores para que as medidas de segurança sejam focadas nos grupos de risco. As medidas de segurança envolvem o esforço legal, a educação e a psicologia no trânsito. É recomendável aplicar o método a populações menores e elevar o tamanho da amostra e a quantidade de questões abordadas. Não foi possível, nessa pesquisa, subdividir grupos maiores na faixa etária acima de 50 anos devido à quantidade de condutores entrevistados. Sugere-se avaliar, especialmente, a correlação entre acidentalidade e a ingestão de bebidas alcoólicas, uso de drogas ou medicamentos. Quanto à classificação do motorista, recomenda-se discernir o condutor pelo local onde costuma dirigir e o seu grau de instrução. Outra recomendação é correlacionar as questões a índices de acidentalidade subdivididos por gênero. Até a conclusão desta pesquisa, não foi possível obter dados sobre a emissão de carteiras de habilitação com a subdivisão de gênero por faixa etária, e o índice de acidentalidade foi correlacionado da mesma forma para homens e mulheres. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPEMIG pelo auxílio coletivo para participação neste Congresso e, ao CNPq, CAPES e UFMG, pelo suporte à pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrade, S.M et al. (2003) Comportamentos de risco para acidentes de trânsito. Um inquérito de Estudantes de Medicina na Região Sul do País. São Paulo. Revista Associação Medica Brasileira. v.49, n. 4, p. 439-444. 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Felipe Costa Bethonico ([email protected]), Departamento de Transportes, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo Av. Trabalhador São-carlense, 400 – São Carlos, SP Leise Kelli de Oliveira ([email protected]) Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia, Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antonio Carlos, 6627 - Belo Horizonte, MG