OTITE MÉDIA POSICIONAL E SUA RELAÇÃO COM O ALEITAMENTO
MATERNO: PRÁTICAS MATERNAS
Amanda Breda (PIBIC/CNPq ICV-UNICENTRO), Cristina Ide Fujinaga (Orientador),
e-mail: [email protected]
Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Fonoaudiologia/Irati, PR.
Área da saúde, Fonoaudiologia
Palavras-chave: Aleitamento Materno, Otite Média e Amamentação
Resumo:
A otite posicional é descrita como a relação entre a otite e o posicionamento na alimentação.
Tal tema apresenta controvérsias na literatura, pois estudos defendem o fator de proteção
do leite materno e incentivam o aleitamento materno da maneira como as mães acharem
mais confortável e, por outro lado, estudos defendem a idéia de que deve-se amamentar os
bebês sentados. O objetivo desse estudo foi conhecer as práticas maternas relacionadas ao
posicionamento durante a amamentação. Para atender os objetivos foram realizados grupos
focais com mães. A análise dos discursos das mães demonstrou que as mães
desconhecem a relação entre otite e amamentação. Conclui-se que devemos repensar as
orientações dadas as mães pois não sabemos de que forma a orientação é usada por elas.
Destacamos também a realização de novos estudos sobre a temática otite média posicional.
Introdução
Otite média é a inflamação de mucosa que reveste a cavidade timpânica. Esse
quadro clínico é muito comum na primeira infância e possui relevância para a saúde
infantil, com implicações para o desenvolvimento e crescimento da criança,
especialmente no que se refere à linguagem e funções oro motoras.
Vários são os fatores de risco para o surgimento da otite média. Entre eles,
destaca-se estrutura da tuba auditiva ou sua função relacionada ao aleitamento na
posição verticalizada.
A “otite média posicional” é considerada um dos mecanismos implicados na
associação entre amamentação e otite média, segundo a qual crianças
amamentadas em posição inadequada (deitadas) estão sob risco maior de
desenvolverem otite média (DUNCAN, 1960; BEAUREGARD, 1971). Com base
nessa afirmação, a orientação comumente oferecida pelos profissionais de saúde é
de que a mãe amamente seu filho de forma que o mesmo fique na posição mais
elevada possível a fim de se prevenir a otite média.
Entretanto, os estudos mais recentes não são conclusivos em relação ao
aleitamento natural e a otite média posicional, especialmente pelo fato de
considerarem o leite materno como um fator de proteção à otite e as infecções de
vias áreas superiores (LUBIANCA NETO, CAMINHA e DALL'IGNA, 1993;
LUBIANCA NETO, HEMB, BRUNELLI e SILVA, 2006).
O Ministério da Saúde oferece a orientação de que as mães podem
amamentar seus bebês na posição deitada, sem mencionar riscos ou desvantagens
para os bebês (BRASIL, 2007). Consideramos que o aleitamento materno é um
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processo complexo, no qual estão imbricados componentes híbridos de natureza e
cultura. Assim, entendemos ser de grande valia conhecer as práticas realizadas
pelas mães que amamentam e sua percepção a cerca da relação entre otite média e
o aleitamento materno.
O objetivo da presente pesquisa foi conhecer as práticas realizadas pelas
mães que amamentam seus bebês no seio e investigar a percepção delas sobre a
relação entre a otite média e o aleitamento.
Materiais e métodos
Trata-se de estudo descritivo, de delineamento qualitativo. Foram realizadas
entrevistas abertas com as mães sobre as suas práticas do processo do aleitamento
materno e a otite média em grupo focal. O grupo focal é uma forma de entrevista
coletiva aberta, consistindo em debate acessível a todos os participantes, pois o
tema proposto é de interesse comum. Tal procedimento de coleta serviu para
propiciar a emergência de significados, valores e sentimentos das participantes. As
entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. A análise foi de conteúdo,
proposta por Minayo (2007).
As mães participantes foram as quais compareceram a realização da Triagem
Auditiva Infantil realizada na Clínica Escola de Fonoaudiologia (CEFONO) da
UNICENTRO em bebês com média de 30 dias após o nascimento.
Em respeito à resolução 196/96, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da UNICENTRO.
.
Resultados e Discussão
Foram realizados dois grupos focais, nos quais foram utilizadas perguntas
disparadoras sendo as seguintes: “Como é alimentar o bebê de vocês”; “Como é por
o bebê para mamar?” “Vocês já prestaram atenção em como fica a cabeça do bebê
quando vocês dão de mamar?” “Como é mais confortável dar de mamar?” e “Vocês
acham que a forma como o bebê mama tem relação com dor de ouvido?”. Diante
das perguntas apresentadas houveram ramificações a depender da resposta
apresentada pelas mães.
Na primeira pergunta disparadora o tipo de discurso obtido pelas mães era
voltado a forma como alimentavam os bebês, nota-se que as mães revelavam se
estavam apenas amamentando em seio ou se utilizavam algum tipo de
complemento, no primeiro grupo focal das quatro mães participantes apenas uma
realizava aleitamento materno exclusivo, as demais realizavam algum tipo de
complemento, quando diziam que davam mamadeira logo já se justificavam o
porque da prática sendo que nesse grupo as justificativas eram: “A minha no
começo machucou bastante e aí tive que dar mamadeira...”, “ a minha no começo
não queria pegar no seio porque meu bico é invertido...” e “ acabou meu leite”.
Durante o segundo grupo das quatro mães duas realizam aleitamento materno
exclusivo e duas realizavam complemento sob as justificativas “Eu amamento no
seio mas as vezes dói um pouquinho aí dou mamadeira” e “Eu comecei a dar
mamadeira porque logo vou começar a trabalhar” a importância dessa resposta está
no fato de que a composição do leite materno apresenta grandes diferenças se
comparado a composição de outro leite industrial. E essa diferença de composição
pode ser determinante ao aparecimento de infecções de modo geral, isso é
evidenciado em inúmeros estudos tais como Almeida (1999) e Lubianca Neto;
Hemb; Brunelli e Silva (2006), que evidenciam o fator protetor e benéfico do
aleitamento materno exclusivo frente a patologias e infecções. Especificamente a
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condição de orelha média de lactentes há o estudo de Garcia; Azevedo; Testa;
Laureano Luiz (2012) que evidenciou que lactentes que faziam uso de mamadeira
apresentavam alterações na situação de orelha média, podendo ser indicativo de
otite média, enquanto lactentes com uso de aleitamento materno exclusivo tiveram
maior índice de normalidade audiológica.
Na segunda pergunta disparadora as mães participantes acabaram relatando
um pouco da rotina e do comportamento dos bebês, uma mãe em particular relatou
“a minha não tem mania, acordou chorou quis mamar”, outra ainda relatou ”quando
ela ta braba ela não pega. Mas, quando ela ta calminha ela pega”. Esse relato nos
faz pensar que o mecanismo pelo qual o bebê faz uso para mamar em seio é
diferente do usado para a mamadeira. O aleitamento materno promove harmonia e
sincronia dos órgãos fonoarticulatórios trazendo maiores benefícios ao
desenvolvimento de tais estruturas (SIQUEIRA, 1998). Mamar na mamadeira é um
mecanismo mais simples que não exige movimentos musculares de esforço como
no aleitamento materno o que pode também causar essa alteração de
comportamento descrita por essas mães (ALBUQUERQUE, 1998). Aqui ainda é
importante ressaltar o fenômeno descrito como confusão de bicos comumente citado
por pesquisadores da área em que a criança que entra em contato com outros bicos
artificiais além do seio da mãe acaba preferindo o aleitamento artificial, podendo
causar um desmame precoce (NEIFERT; LAWRENCE; SEACAT; 1995).
Na terceira pergunta disparadora houveram respostas como “deitada na cama
barriga com barriga”, “deitadinha”, “mais sentadinho um pouco ou deitadinho se ela
estiver muito brava ai ela deita” e demonstrações em que o bebê estava deitado.
Isso evidencia que mesmo que elas tenham recebido qualquer tipo de orientação
quanto ao posicionamento durante a amamentação elas não praticam ou não
recordam. Há alguns estudos como Duncan (1960) e Beauregard (1971) que
defendem que um posicionamento inadequado durante a amamentação aumenta os
riscos de desenvolver otite, porem tais estudos são antigos, assim evidenciamos que
se tais mães receberam qualquer tipo de orientação baseada em tais estudos esta
orientação não está sendo levada para a prática. Ressalta-se também a
necessidade de realização de novas pesquisas sobre o tema já que existem vários
estudos que argumentam sobre o fator protetor do aleitamento materno exclusivo
contra infecções (LUBIANCA NETO, CAMINHA e DALL'IGNA, 1993; LUBIANCA
NETO, HEMB, BRUNELLI e SILVA, 2006). É importante ainda ressaltar que nos dois
grupos focais houve o questionamento da prática durante a noite em conjunto com a
quarta pergunta disparadora. Das oito mães participantes, sete realizam deitadas em
suas camas e as justificativas usadas por elas foram: “ela dorme comigo aí pego ela
na cama mesmo e dou de mama” “eu fico deitadinha, coloco ela do lado e aí ela
mama” esse padrão de resposta foi o mais presente e pode ser resultado do fato do
estado do Paraná ser caracterizado por temperaturas baixas durante o inverno o que
faz com que estar deitada na própria cama seja mais confortável para a mãe.
A quinta pergunta disparadora objetiva saber se as mães sabiam ou já tinham
ouvido falar sobre a relação de posicionamento no aleitamento materno e otite. No
primeiro grupo realizado três mães negaram saber de qualquer relação e uma mãe
fez o seguinte relato: “Geralmente como pra amanhecer hoje ela tava com dor de
ouvido. E a única forma que eu achei para ela acalmar é mamar, porque dói muito
ela fica chorando, foi coloca ela bem de ladinho deitadinha e aí acalmou e conseguiu
mamar”. Esse relato reforça novamente que a prática da mãe é baseada no que ela
experimentou e deu certo e não apenas em orientações profissionais. No outro
grupo apenas uma mãe relatou que durante um episódio de dor de ouvido do bebê
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“ele queria mama, mais ficava chorando se batendo e não mamava, mas eu não
acho que tenha relação”.
Conclusões
Observa-se que através dos grupos focais foi obtida uma gama de informações as
quais envolvem as práticas realizadas pelas mães. Através desses dados deve-se
refletir sobre como as orientações dos diversos profissionais da saúde são
interpretadas pelas mães que muitas vezes nem recordam ou praticam. No caso
especifico da otite média posicional observou-se que a prática das mães foi baseada
no que achavam mais confortáveis a elas. Há a necessidade da realização de novas
pesquisas sobre a temática enfatizando as diferenças do uso de leite materno e
artificial para que assim se possa realizar orientações mais homogêneas baseadas
em pesquisas atuais.
Agradecimentos
Agradeço grupo de pesquisa Práticas Fonoaudiológicas em Saúde Coletiva,
subgrupo Fonoaudiologia Neonatal por todas as discussões e contribuições feitas
por cada uma, pois foram de grande valia para o feitio deste trabalho.
Referências
Almeida, JAG. Amamentação: um híbrido natureza-cultura. Rio de Janeiro: Editora
FIOCRUZ, 1999.
Albuquerque, R.C.V de; Fonoaudiologia X Alimentação do bebê. CEFAC. Recife,
1998.
Beauregard, R.B. Positional otitis media. Journal of Pediatrics. 1971, n.79, p.294-6.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Promovendo o
Aleitamento materno. Álbum seriado. 2ª edição. Brasília: 2007. 18p.
Duncan, R.B. Positional otitis media. Archives Otorhinolaryngology. 1960, n.72,
p.454-63.
Garcia, M. V; Azevedo M; F de; Testa, J.R.G; Laureano Luiz, C.B. Influência do tipo
de amamentação nas condições de orelha média de lactentes. Braz. j.
otorhinolaryngol. 2012, vol.78, n.1.
Lubianca Neto, J.F.; Caminha, G.P.; Dall'Igna, C. Fatores de risco para otite média.
Braz. j. otorhinolaryngol. 1993, p.90-8.
Lubianca Neto, J.F; Hemb, L.; Brunelli e Silva, B. Systematic literature review of
modifiable risk factors for recurrent acute otitis media in childhood. Jornal de
Pediatria. 2006, v.82, n.2, p.87-96.
Minayo, C.M.S. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. Petrópolis: Editora
Vozes, 2007.
Neifert, M.; Lawrence, R.; Seacat, J.; Nipple confusion: toward a formal definition.
Journal of Pediatrics. 1995
Siqueira, A.T. Aleitamento Materno - Influencias no desenvolvimento miofuncional
oral. CEFAC. São Paulo, 1998.
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